O movimento das entradas e das bandeiras marcaram um ciclo importante da história colonial brasileira, pois tantos as bandeiras como as entradas foram responsáveis por moldar geograficamente o Brasil, parecido com a atual forma geográfica que ele possui hoje nos mapas. Não obstante, além do intuito desbravador e expansionista, as entradas e bandeiras foram expedições belicosas, onde se infiltravam nos sertões atrás de caçar índios para serem escravizados, como também de ir confrontar povos invasores, ou se tornarem os próprios invasores, como foi visto principalmente entre as bandeiras do século XVII, no sul da colônia.
As entradas e bandeiras também adentravam os sertões atrás de riquezas minerais, no que resultou na descobertas de minas de ouro no final do século XVII. Tais expedições também foram responsáveis pela defesa de vilas, cidades e das terras das colônias; e no caso das entradas, estas também foram incumbidas de fundarem vilas, fortes, fortalezas e cidades, no sentido de iniciar a ocupação de áreas desertas da colônia. Limitar tais expedições meramente ao intuito expansionista, é um engano, pois suas funções foram além disso, e suas contribuições foram profundas, embora que em alguns casos foram terríveis e sangrentas.
Devido a brevidade deste texto, não pude citar outras entradas e bandeiras, mas procurei construir um enredo que desse atenção aos principais acontecimentos.
As entradas e bandeiras também adentravam os sertões atrás de riquezas minerais, no que resultou na descobertas de minas de ouro no final do século XVII. Tais expedições também foram responsáveis pela defesa de vilas, cidades e das terras das colônias; e no caso das entradas, estas também foram incumbidas de fundarem vilas, fortes, fortalezas e cidades, no sentido de iniciar a ocupação de áreas desertas da colônia. Limitar tais expedições meramente ao intuito expansionista, é um engano, pois suas funções foram além disso, e suas contribuições foram profundas, embora que em alguns casos foram terríveis e sangrentas.
Devido a brevidade deste texto, não pude citar outras entradas e bandeiras, mas procurei construir um enredo que desse atenção aos principais acontecimentos.
O CICLO DAS ENTRADAS
(1504?-1696)
As entradas foram expedições organizadas e preparadas por autoridades vinculadas ao governo colonial ou diretamente pela própria Coroa portuguesa, e no caso, também a Coroa espanhola, durante o período da União Ibérica (1580-1640), onde as duas nações foram regidas pelo mesmo soberano. Como foi salientado na breve introdução, a proposta inicial das entradas era explorar os sertões, termo que designava as terras interioranas que estivessem longe da costa, onde tais expedições iam no intuito de mapear a região e descobrir a evidência de metais preciosos e joias.
Posteriormente as entradas receberam a missão de irem caçar ou prear indígenas para o trabalho escravo, como também fundar fortalezas, vilas e cidades, no intuito colonizador, e também foram organizadas entradas paramilitares para defender as terras coloniais de invasões ou da ameaça dos próprios indígenas. Neste caso, como será visto mais a frente, as bandeiras se tornaram expedições mais bélicas do que as entradas em si.
Posteriormente as entradas receberam a missão de irem caçar ou prear indígenas para o trabalho escravo, como também fundar fortalezas, vilas e cidades, no intuito colonizador, e também foram organizadas entradas paramilitares para defender as terras coloniais de invasões ou da ameaça dos próprios indígenas. Neste caso, como será visto mais a frente, as bandeiras se tornaram expedições mais bélicas do que as entradas em si.
Estudar a história das entradas é um pouco trabalhoso, pois muitas entradas não deixaram registros históricos, relatórios ou diários de viagem, por outro lado, alguns relatos são contraditórios ou de veracidade duvidosa; e, num terceiro aspecto, alguns destes relatórios acabaram se perdendo ao longo do tempo.
O relato mais antigo conhecido de uma entrada que se tem notícia, como afirmava Magalhães (1978), advêm de dois historiadores brasileiros, Capistrano de Abreu (1853-1927) e de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), onde Varnhagen descobriu uma carta escrita pelo navegador, mercador, geógrafo e explorador italiano Américo Vespúcio (1454-1512), o qual no ano de 1504 a serviço a Coroa portuguesa, teria realizado a primeira entrada conhecida, como atestara Capistrano de Abreu em sua tese Descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI, escrita para um concurso em 1883, onde ele falou o seguinte:
"A primeira entrada de que há notícia deu-se em 1504, ano em que Vespucci, acompanhado de uns trinta homens, penetrou umas 40 léguas pelo sertão do Cabo Frio, provavelmente para os lados do rio São João ou de qualquer dos seus afluentes. Gonçalo Coelho é bem possível que, no tempo que demorou no Rio de Janeiro, houvesse tentado empresa semelhante; não está porém, isto provado". (MAGALHÃES, 1978, p. 16-17 apud ABREU, 1883, p. 703).
Sabe-se que desde 1502, Américo Vespúcio vinha participando de viagens navais ao longo da costa do Brasil, e sua entrada em Cabo Frio no Rio de Janeiro, foi real. A respeito dessa entrada, a podemos hoje ler ao seu respeito, graças a tradução feita por Varnhagen. Sobre esta carta, menciono trechos no qual Américo refere-se a sua estadia na costa do Cabo Frio.
"Achámos com effeito a terra populosa e habitada por uma nação peior que féras, como ouvirá. E V. Magnificencia entenderá que ao principio não vimos ninguem; mas concluimos que havia homens por muitos signaes que observámos. Tomámos posse do paiz em nome do d'este Serenissimo rei de Portugal, e o achámos muito ameno, viçoso, de boa apparencia, e situado além da equinocial cinco para o sul; isto feito voltámos para as náos; e porque tinhamos grande necessidade de agua e lenha, nos resolvemos, no dia seguinte, a tornar á terra para fazer nosso provimento". (RIHGB, 1878, p. 9 apud VESPÚCIO, 1504).
Vespúcio narrou que nos dias que eles permaneceram ancorados na costa, mais e mais indígenas iam visitar os navios, mas jamais chegavam perto, olhavam com olhares de curiosidade e receio. Alguns tripulantes chegaram a trocarem mercadorias com os índios, e até foram apalpados, tiveram os cabelos puxados, foram cutucados, por mulheres e homens, pois como Vespúcio escreveu: para os índios, os brancos eram um "animal estranho e curioso". No dia seguinte a este contato, Vespúcio narrou:
"Na manhã seguinte vimos das náos que a gente da terra fazia muitos fumos, e pensando que seria para chamar-nos desembarcámos, e conhecemos que se tinha ajuntado em grande numero, mas conservaram-se todavia a distancia, accenando-nos para que fossemos a elles por terra adentro. Em consequencia d'isto dois dos nossos se animaram a pedir licença ao capitão, para expôrem ao perigo de ir á terra vêr que gente era, e se tinha alguma riqueza ou especiaria, ou outras drogas; e tanto instaram até que o capitão o houve por bem. Apromptaram-se, pois, com muitas fazendas de resgate, e partiram com regimento de não porém mais de cinco dias para voltar; porque tanto era o tempo que deviamos esperar por elles. Tomaram caminho por terra, e nós para náos, das quaes viamos vir todos os dias gente á praia, mas sem quererem nunca fallar-nos". (RIHGB, 1878, p. 9 apud VESPÚCIO, 1504).
Cinco dias se passaram e a expedição retornou, no entanto dois dias depois, quando alguns tripulantes foram falar com as índias que estavam na costa, um deles foi golpeado na cabeça e capturado, logo, os homens apareceram e dispararam flechas contra os demais, assim como narra Vespúcio. Segundo ele, o homem capturado foi esquartejado e devorado pelas índias, a tripulação queria descer a terra e matar aqueles selvagens, mas o capitão preferiu ir embora, voltando a seguir viagem para o norte. Talvez tenha sido exagero de Vespúcio a questão do canibalismo, pois embora esse fosse uma prática comum entre algumas tribos, o canibalismo era feito no intuito ritualístico, a chamada antropofagia, e não consistindo num hábito alimentar como os europeus imaginavam.
Todavia, alguns historiadores não aceitam plenamente o relato de Vespúcio como tendo sido uma entrada, mas apenas uma expedição de mera curiosidade. Porém, depois deste relato, não se conhece nenhum outro relato de entrada até pelo menos o ano de 1530, quando ocorreram as três entradas lideradas por Martim Afonso de Sousa.
As entradas de Martim Afonso de Sousa (1530-1532)
"As primeiras expedições lusitanas, baseadas em provas incontrastáveis, na fase inicial de nossa História, e em demanda do interior, com o fito de descobrimento de minas ou com outro intuito, devem-se à arma de Martim Afonso de Sousa, e foram em número de três". (MAGALHÃES, 1978, p. 17).
Martim Afonso de Sousa (1490/1500-1571) embora fosse de descendência bastarda do rei Afonso III de Portugal, Martim se tornara um respeitado nobre e militar do reino. Atuou em expedições em África, nas Índias e no Brasil. Assumiu cargos importantes, incluindo o cargo de Governador da Índia, entre 1542 e 1545. Em 1530, Martim foi enviado ao Brasil no comando de quatro naus e cerca de quatrocentos homens, no intuito de realizar entradas, a fim de procurar por sinais de riquezas minerais. Os relatos de sua missão foram escritos pelo seu irmão Pero Lopes de Sousa (1497-1539), o qual escreveu o Diário da navegação da Armada que foi à terra do Brasil em 1530. Pelos relatos dados por Pero, em 30 de abril de 1531 a expedição aportou na baía de Guanabara, onde Martim ordenou que quatro marujos fossem explorar a região; os mesmos num prazo de 60 dias, percorreram 23 léguas. Porém, o relato de Pero aponta o contrário, e de certa forma um tanto exagerado. Pero Lopes diz que os quatro marujos teriam percorrido 230 léguas em dois meses, onde teriam encontrado um "rei indígena" o qual os acompanhou na viagem de volta, entregando para o capitão, cristais, e dizendo que havia ouro e prata no rio de nome Paraguai.
O problema desta história como aponta Magalhães é que ela pouco provável. O historiador Derby chegou a dizer que, se essa distância tenha sido realmente percorrida que é pouco provável, os quatro portugueses teriam chegado no que hoje é o estado de Minas Gerais. Acerca dos cristais, estes provavelmente foram cristais de quartzo, mas o problema reside acerca do rio Paraguai, pois essa região ainda estava sendo explorada pelos espanhóis e os portugueses, e naquela época sabiam muito pouco a respeito. Provavelmente Pero Lopes ou se equivocou com o nome do rio, ou apenas mencionou um suposto boato.
"Duvidamos muito de que quatro portugueses, sem guias indígenas (exceto na volta) e sem intérprete, se houvessem aventurado a um embrenhamento tão profundo em nosso hinterland. Não é brincadeira palmilhar no curto espaço de 60 dias, 130 léguas sobre serras matagosas e 100 em região campestre, logo após a estação das águas". (MAGALHÃES, 1978, p. 17).
A segunda entrada partiu em 1 de setembro, a partir dos boatos que Francisco de Chaves um dos membros da tripulação, o qual havia contado ao capitão Martim Afonso. O capitão Afonso acabou acreditando na história de Francisco, o qual dissera que havia numa entrada anterior, conseguido encontrar ouro numa localidade próxima a costa. Martim designou Pero Lobo, o responsável por comandar um grupo de 80 homens, os quais seriam guiados por Francisco de Chaves.
Um mês e meio depois, nenhuma notícia tiveram da entrada de Pero Lobo. Meses se passaram e nada a respeito sabiam sobre a entrada enviada, constatou-se que eles ou se perderam ou morreram. Até hoje não se sabe ao certo o que aconteceu, mas sabe-se que dos oitenta integrantes nenhum retornou vivo. Acredita-se que eles foram mortos pela tribo dos Carijós, tribo que vivia na região para onde eles se dirigiram.
A terceira entrada partiu no final de 1531, da região de Cananeia, hoje município de São Paulo, por via marítima, onde Pero Lopes liderou uma nau em direção ao estuário do rio da Prata, pois sabia-se que havia notícias que em 1515, um português de nome Solis, a serviço de Espanha, encontrara prata naquele rio. Porém, a expedição de Pero Lopes adentrou o rio e o seguiu por algumas léguas, mas nenhum vestígio do metal foi encontrado, e Pero constatou que aquelas terras estavam fora dos limites do Tratado de Tordesilhas, o que significava uma invasão dos domínios espanhóis. O mesmo, abortou a entrada e retornou para se encontrar com seu irmão.
Em 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso de Sousa fundou a primeira vila do Brasil, chamada de Vila de São Vicente, na ilha homônima. A vila viria em 1534 se tornar capital da Capitania de São Vicente, quando no mesmo ano, o rei D. João III criou as Capitanias Hereditárias. Martim Afonso foi nomeado capitão donatário de São Vicente.
Com início do pequeno núcleo urbano de São Vicente, Martim Afonso de Sousa começou a dar início a construção de um engenho, ao cultivo da cana de açúcar, a criação de gado e o assentamento dos colonos. Martim Afonso retornou para Portugal em 1533, e no ano seguinte, seguiu para a Índia. No entanto, oficialmente era o proprietário da capitania, devido ao contrato vitalício decretado por D. João III.
Em 1536, Brás Cubas um dos responsáveis pela administração da vila, criou na mesma ilha o povoado de Santos (em 1546, o povoado foi reconhecido como vila). No continente em 1539, Pero de Góis, às margens do rio Itabapuana fundou a Vila da Rainha.
João Ramalho (1493-1580) havia formado um povoado por volta de 1531, no planalto onde vivia com os indígenas da tribo dos Guainases e seus filhos mestiços, pois desde 1513, Ramalho habitava a região, pois acabou naufragando naquelas terras. O povoado em 1553, foi elevado a categoria de vila, passando a se chamar Vila de Santo André do Campo da Borda do Piratininga, na ocasião, Brás Cubas e Antonio de Oliveira realizaram uma entrada até a região, a qual ficava no planalto do Piratininga algumas léguas de distância da capital da capitania. Com ordens dadas pelo capitão Martim Afonso, eles fundaram a vila mencionada. Antonio de Oliveira se mudou para a vila com a família e levou outros colonos para povoá-la.
Em 25 de janeiro de 1554, foi fundado pelos jesuítas padre Manuel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta, com o apoio da entrada de Brás Cubas e Antonio de Oliveira, e o apoio de João Ramalho e o cacique Tibiriça (sogro de Ramalho), o Colégio de São Paulo do Piratininga.
Entradas pela Bahia (1538-1592)
Como a proposta deste trabalho é fazer uma breve história das entradas e das bandeiras, não poderei me reter a relatar cada entrada a qual tive fonte, pois algumas necessariamente não tiveram muitos dados acerca de sua missão, ou apenas foram mencionadas por cronistas.
Sabe-se que desde 1538 houve algumas entradas naquele ano pelos sertões da Bahia, muitas haviam partido de Porto Seguro, e um dos motivos para a partida de algumas destas entradas foram os boatos sobre a existência de esmeraldas no interior da capitania. Duarte Coelho, capitão donatário de Pernambuco, tentou pedir autorização ao rei para liderar uma entrada aos sertões, atrás de esmeraldas, em 1542, ele mandou uma carta para o rei D. João III, mas este recusou em decretar a entrada, o rei tinha outras preocupações no momento.
Anos depois, o governo-geral foi criado em 1548, por D. João III, o qual nomeou o nobre Tomé de Sousa (1503-1579) para se tornar o primeiro governador-geral, e fundar a primeira cidade e capital da colônia, a qual veio a ser Salvador, na Capitania da Bahia de Todos os Santos. Salvador foi fundada em 1549. Junto com Tomé de Sousa, vieram vários trabalhadores, oficiais para assumir os cargos criados para a capital, famílias, escravos, cabeças de gado e missionários jesuítas, os primeiros a chegarem na colônia.
Em 1550, o governador enviou Miguel Henriques numa entrada para se adentrar o rio São Francisco pela foz, porém o navio que a expedição seguia, acabou naufragando e a entrada foi cancelada. O governador cogitou pedir que Filipe de Guilhem que já havia participado de entradas anteriores, lidera-se uma nova entrada, mas este devido a idade, disse que não tinha forças para realizar tal viagem, logo em 1553, Tomé de Sousa escolheu o espanhol Francisco Bruza Espinosa para liderar uma entrada pelos sertões da Bahia.
Tomé de Sousa deixou o cargo no mesmo ano, pois chegou ao fim de seu mandato, porém seu sucessor Duarte da Costa manteve a ideia da entrada, e em março de 1554, a pequena expedição de Espinosa, composta de 13 europeus, incluindo o padre João de Azpilcueta Navarro (o qual relatou a viagem posteriormente) e mais alguns índios, partiu de Porto Seguro indo percorrer 350 léguas, levando meses de viagem. Sobre o itinerário da viagem, Calógeras nos apresenta uma das melhores versões:
"Entrou pelo rio das Caravelas, margeou além o Jequitinhonha, e, das cercanias da Diamantina, a que atingira, chegou provavelmente ao São Francisco, seguindo um dos seus afluentes da margem direita, quiçá o Jequitaí, alcançando uma aldeia indígena junto ao Mangaí, e pelo rio Pardo, explorado desde as suas margens por essa entrada, foi presumivelmente feito o retorno dela, em 1555". (MAGALHÃES, 1978, p. 31-32 apud CALÓGERAS, p. 549).
Todavia não se sabe ao certo todo o trecho da viagem desta entrada, pois alguns historiadores têm dúvida acerca do nome dado aos afluentes por qual a entrada seguiu viagem, mas sabe-se que Francisco Bruza acabou fundando um povoado, o qual nomeou de Espinosa, hoje localizado no norte de Minas Gerais. Sua entrada não encontrou vestígios de ouro e nem de esmeraldas.
Em 1561, o vereador da Bahia, Vasco Rodrigues Caldas conseguiu autorização do governador-geral Mem de Sá para realizar uma entrada atrás de riquezas, mas depois de percorrerem algumas léguas pelo vale do Paraguaçu, sua entrada foi abortada devido a um ataque que sofreram dos Tupinaés. Outra entrada que falhou, foi a de 1567, liderada por Martim Carvalho, o qual com cerca de 60 homens, percorreu em oito meses, 220 léguas como relatou o padre Pero de Magalhães Gandavo. A entrada retornou sem sucesso, porém, por pouco não descobriram esmeraldas como seria atestado anos depois, em uma outra entrada que se dirigiu para o mesmo percurso.
Em 1572 ou 1573, ocorreu a entrada de Sebastião Fernandes Tourinho, conhecida por ter descoberto esmeraldas. Partindo com 400 membros, a entrada partiu de Porto Seguro, percorreu o interior do sul da Capitania de Porto Seguro, indo em direção ao que hoje é o norte de Minas Gerais, e em um dado momento da jornada, eles encontraram algumas pedras verdes, retornando para Porto Seguro, foi avisado ao governador-geral Luís de Brito, a descoberta de tais gemas, assim o governador ordenou outra entrada para confirmar se haveria uma mina de esmeraldas no local onde as pedras foram encontradas. Antônio Dias Adorno foi incumbido de liderar essa entrada.
"Entrou pelo rio de Caravelas, e, ganhando o vale do Mucuri, foi buscar as vertentes do Araçuí, onde achou os sinais deixados por Tourinho, assim como amostras de minerais preciosos; das cabeceiras do último rio citado, alguns membros da expedição retrocederam, vindo sair no Atlântico, pela foz do Jequitinhonha, cujo leito desceram em canoas; Adorno, porém, com o resto de seu bando, transmudou a missão exploradora em caçadora de índios, tomando para tal fim o rumo do norte, donde regressou para o litoral com 7.000 selvagens reduzido a cativeiro". (MAGALHÃES, 1978, p. 34 apud CALÓGERAS, p. 389-390).
Antonio Dias Adorno acabou não encontrado as tão sonhadas minas de esmeraldas, mas encontrou indícios de outros minérios como ferro, cobre e estanho, a preação dos índios foi uma solução para ganhar dinheiro, pois embora já houvesse o comércio de escravos negros na colônia, estes eram mercadorias caras e nem todo mundo tinha dinheiro para comprá-los, por sua vez os índios eram mercadorias mais baratas. Muitas bandeiras se especializaram em caçar índios.
No ano de 1580, o rei de Espanha Filipe II assumiu o trono português, pois o último rei português, o cardeal D. Henrique I não tinha filhos, e devido a idade avançada governou apenas por dois anos. Seis pretendentes ao trono apareceram, mas pelo o fato de Filipe II contar com um exército e ser o mais rico e poderoso do que os outros, conseguiu convencer os lordes portugueses da Corte de Tomar, em elegê-lo rei de Portugal, assim iniciava-se o período conhecido como União Ibérica, que se estenderia por 60 anos, sendo governado por Filipe II, depois o seu filho e neto. Durante esse período, Portugal e seu império ultramarítimo ficou sob o domínio espanhol, e de certa forma isso gerou problemas para os antigos domínios espanhóis, como será visto na parte que falo a respeito das bandeiras.
Em 1590, Gabriel Soares voltava de Lisboa para Porto Seguro, tendo sido incumbido pelo rei espanhol de comandar uma nova entrada. Soares trouxera consigo 364 pessoas entre mulheres e homens, o que incluía quatro carmelitas. Todavia, a entrada ocorreu apenas dois anos depois, em maio de 1592. Gabriel Soares partiu com sua entrada contendo mais de 200 índios auxiliares, se dirigindo a Serra do Gariru (hoje Quareru), lá eles levantaram um forte, para servir de apoio a outras entradas e dar início a uma povoação no local, porém Soares acabou adoecendo e veio a falecer. D. Francisco de Sousa, capitão-mor de Porto Seguro, ordenou que a entrada fosse cancelada e o forte abandonado. Mais uma entrada entre tantas outras que haviam partido nos últimos anos, fracassou em se descobrir ouro e esmeraldas.
Em busca de ouro e prata em São Paulo (1560-1562/1601-1602)
Das várias entradas que aconteceram na Capitania de São Vicente, posteriormente batizada de Capitania de São Vicente e São Paulo, e finalmente Capitania de São Paulo, por mais de cinquenta anos muitos se aventuraram a procura de ouro na região, de fato conseguiram encontrar ouro em pouca quantidade, mas conseguiram. Todavia, as descobertas de ouro em São Paulo se deram principalmente pelas bandeiras em si, e não pelas entradas, porém farei menção a três entradas em especial.
A primeira entrada conhecida em São Paulo para ir descobrir ouro, data de 1560, onde o governador-geral Mem de Sá, ordenou que Brás Cubas fosse procurar ouro. Segundo consta o relato acerca de sua expedição, Cubas teria adentrado cerca de 300 léguas, todavia há contestações acerca desta distância. Em 1561 ele acabou adoecendo, e teve que cancelar a entrada, retornado no ano seguinte para São Vicente. Cubas ainda conseguiu trazer consigo amostras de minerais encontrados, uma supunha-se ser ouro, mas não era ouro, e as pedras verdes que encontrou não eram esmeraldas, mas turmalinas.
Na mesma época que Brás Cubas partiu, Luís Martins o qual também foi incumbido de procurar por ouro e joias, seguiu cerca de 30 léguas ao norte de Santos, onde o mesmo atestava que havia encontrado ouro, todavia o suposto ouro de "boa qualidade" que ele atestava, não era ouro, provavelmente deveria ser perita, o chamado "ouro dos tolos", minério parecido com ouro na coloração.
Nos anos seguintes outras entradas foram enviadas para procurar ouro, e boatos começaram a surgir da existência do mesmo, como será atestado na parte acerca das bandeiras. Em 1601, André de Leão foi incumbido pelo governador-geral D. Francisco de Sousa, de viajar para o norte da capitania em busca de prata, pois por essa época corriam nas capitanias da Bahia, Sergipe e Espírito Santo a história da Sabarabuçu, a qual seria supostamente uma serra feita de prata.
Além de Sabarabuçu havia também a história do Reino de Payati, o qual seria rico em ouro e prata, e ficaria localizado em algum lugar no centro do continente. A viagem de Leão durou nove meses, como atesta o holandês Wilhelm Joost ten Glimmer o qual viajou junto a bandeira. Glimmer relata que chegando numa região cheia de serras, Leão teria dito que naquele lugar ficaria a tal serra de Sabarabuçu, todavia, nenhum sinal de prata foi encontrado, e a entrada retornou sem êxito. Sete décadas depois, o bandeirante Fernão Dias Paes passaria pela região atrás de esmeraldas.
A entrada de Cristóvão de Barros (1574-1575)
Em 1565, foi fundada a segunda cidade do Brasil, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Estácio de Sá. Em 1572, a Coroa decidiu fazer uma experiência, nomeou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro co-capital administrativa da colônia, a incumbido de cuidar da administração das capitanias do Sul, enquanto Salvador faria o mesmo com as capitanias do Norte.
No ano de 1573, o então governador do Rio de Janeiro Antônio Salema, ordenou Cristóvão de Barros para organizar uma entrada punitiva, a fim de atacar os tupinambás. A entrada mencionada é uma das primeiras que se tem notícia onde o objetivo não era desbravar, mas sim exterminar os gentios. De acordo com o relato do Tratado descritivo do Brasil em 1587, escrito por Pero de Magalhães Gandavo (1540-1580), publicado postumamente, o cronista português relatou que a entrada de Cristóvão de Barros, contou com 400 homens e 700 índios, e realizaram uma verdadeira razia (incursão rápida e violenta), tendo matado centenas de índios e capturado de oito a dez mil destes. Não se tem certeza da veracidade do número de indígenas feitos cativos e mortos, mas sabe-se que a entrada foi uma das mais violentas que aconteceu.
Entradas relatadas por frei Vicente de Salvador no ano de 1578
Frei Vicente de Salvador (1564-1636) em sua História do Brasil, nos deixou relatado algumas entradas. O frei nos conta que em 1578 partiu de Ilhéus na Bahia, a entrada de Luís Álvares Espinha que se meteu pelo sertão, e nunca mais se soube a respeito. De Pernambuco partiram Francisco de Caldas e Gaspar Dias de Taíde com uma entrada que seguiu o curso do rio São Francisco, sertão adentro. No entanto, depois de dias de viagem e léguas percorridas, um dos indígenas que era guia da expedição, chamado de "Braço de Peixe", traiu os colonos, e uma rebelião se instaurou e a entrada teve que ser abandonada.
Ainda de Pernambuco, partiu a entrada de Francisco Barbosa da Silva com cerca de 70 homens, liderada por Diogo de Castro. Depois de dias de viagem, a entrada alcançou o rio Cotinguiba, na Capitania de Sergipe, após ter sobrevivido a ataque de índios pelo caminho, os quais mataram parte dos membros da expedição.
"O temor de uma possível invasão de indígenas e a necessidade de uma via terrestre de comunicação entre a Bahia e Pernambuco determinaram a conquista definitiva da orla marítima de Sergipe, missão de que galhardamente desempenhou Cristóvão de Barros". (MAGALHÃES, 1978, p. 24).
Tais entradas citadas pelo frei, tinham como objetivo procurar riquezas e estabelecer povoados, como também reconhecer o território. Pois de Olinda a Salvador, muitas daquelas terras estavam desocupadas, e o medo de que tribos indígenas que ali viviam pudessem atacar as vilas e os canaviais, era grande como Magalhães apontou.
Além disso, havia o fato de que os franceses aproveitavam estas brechas na ocupação do território brasileiro, para irem roubar pau-brasil. Tal fato foi um dos motivos que levou o governo-geral a criar a Capitania Real da Paraíba (1585), pois naquelas terras que antes pertenciam a Capitania de Itamaracá, várias vezes foram avistados navios franceses os quais partiam carregados com pau-brasil.
Fundação da Paraíba e ocupação do Rio Grande do Norte
Antes de 1574, duas entradas lideradas por Diogo Dias e Fernão da Silva, falharam em se estabelecer a ocupação da região norte da Capitania de Itamaracá, mais precisamente na desembocadura do rio Sanhauá, um dos afluentes do rio Paraíba. Grande parte da capitania itamaraquense estava desocupada e não era explorada, isso permitiu que os franceses fossem ali realizar contatos com os indígenas, especialmente os Potiguaras, como também extrair pau-brasil.
Em 1574, a situação piorou quando o Engenho de Tracunhaém foi incendiado pelos potiguaras, devido a uma confusão gerada entre os colonos e um grupo de potiguaras que ali passou a noite, onde uma índia acabou sendo sequestrada, sendo que esta era filha do cacique. Os índios foram embora e retornaram com reforços e massacraram a população local, destruindo o engenho e resgatando a índia.
O governador-geral Luís de Brito enviou uma carta ao rei D. Sebastião I avisando sobre o ocorrido, o rei ordenou que o governador-geral fundasse um forte na foz do rio Sanhuá, e de-se início a ocupação daquela região, fundando uma vila. Alguns historiadores não consideram que as cinco expedições enviadas para se conquistar a Paraíba tivessem sido entradas, todavia, dez anos transcorreriam de duras derrotas aos portugueses onde Frutuoso Barbosa, responsável por liderar duas das expedições (entradas) quase morreu e enlouqueceu, pois embora tenha se fundado um forte na margem norte do rio Paraíba, chamado de Forte de São Filipe e Santiago (1584), o mesmo foi duramente atacado pelos potiguaras e os franceses.
Apenas em 1585 com o apoio da tribo dos Tabajaras, inimigos de longa data dos Potiguaras, é que Portugal teve chance de subjugar os potiguaras. O acordo foi feito em 5 de agosto daquele ano, entre João Tavares, escrivão da Câmara e Juiz de órfãos de Olinda e o cacique Piragibe. Assim foi fundada a Capitania da Paraíba e a cidade de Nossa Senhora das Neves (atualmente João Pessoa), a terceira cidade mais antiga do Brasil.
Com a nova capitania estabelecida e a capitania de Itamaracá reduzida a ilha de mesmo nome, o governo-geral constatou que isso não seria o suficiente, pois o território da Capitania do Rio Grande (do Norte) que anteriormente compreendia parte da Capitania da Paraíba antes de sua criação, era praticamente despovoado pelos colonos, e isso facilitava a ida de navios franceses para explorarem o pau-brasil. A solução veio dez anos depois da fundação da Paraíba.
"A ocupação do Rio Grande do Norte efetuou-se em fins do século XVI, com a expedição chefada por Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor de Pernambuco, e da qual fizeram parte Feliciano Coelho, capitã-mor da Paraíba, e Jerônimo de Albuquerque. Auxiliado por estes, aquele, a 6 de janeiro de 1596, lançou os fundamentos do forte dos Santos Reis Magos; e Jerônimo de Albuquerque 25 de dezembro de 1599, demarcou, junto à dita fortaleza, da qual ficara como comandante, o local onde surgiu a cidade de Natal. A conquista daquele trato de terras foi devida ao temor de incursões francesas, e o seu desenvolvimento posterior está ligado também à segunda grande invasão batava. (MAGALHÃES, 1978, p. 25).
Com a fundação de Belém do Pará, em 1616, a vila serviria de ponto de apoio e partida para várias entradas que iriam explorar a Floresta Amazônica, no que hoje seriam os territórios do Pará, Amazonas e Amapá. O sertanista e militar Bento Maciel Parente (1567-1642) foi um dos mais notáveis sertanistas que realizou entradas pela Amazônia. Veterano de guerra da Paraíba e Rio Grande do Norte, e que posteriormente confrontou os holandeses e ingleses, foi eleito vereador de Belém em 1619, e em 1621, com a criação do Estado do Maranhão, foi nomeado Capitão-Mor do Grão-Pará.
Fundou alguns fortes ao longo do rio Xingu, como os fortes de Mariocai e Santo Antônio de Gurupá. Ao longo do rio Xingu, confrontou forças holandesas que haviam montado fortes ali, saindo vitorioso no final. Com a invasão de Pernambuco pelos holandeses, Bento Maciel seguiu para lá, para enfrentar os holandeses, onde por alguns anos dedicou-se as lutas, deixando de lado sua vida nas entradas.
Mas, se por um lado Bento Maciel se afastou das entradas, outros ainda continuaram nelas; Francisco de Azevedo foi o primeiro a liderar entradas aos sertões em Turi e Gurupi, hoje correspondendo a áreas de Tocantins. Entre 1622 e 1624, Luís Aranha de Vasconcelos viajou pela Guiana Brasileira, hoje o estado do Amapá.
Pedro Teixeira em sua entrada (1637-1639), liderou uma expedição de 1000 homens, sendo a maioria índios, através do Rio Amazonas, chegando a região da Cordilheira dos Andes, de onde seguiram viagem até Quito (atual capital do Equador), na época a cidade pertencia a Real Audiência de Quito, um território administrativo, na época parte do Vice-Reino do Peru. Na viagem de volta a Belém do Pará, Pedro Teixeira decretou que todas as terras ao longo das margens do rio Amazonas, pertenceriam ao Estado do Maranhão.
Ainda no sul, pela região de Sabará, na chamada região de Caeté, devido ao rio homônimo que passa por lá, novas jazidas foram descobertas, o que levou ao surgimento de novos arraiais, como o de Vila Nova da Rainha, erigido em 1702 por Leonardo Nardes de Arzão. Uma leva de paulistas, capixabas e baianos se estabeleceram na região, onde começaram a surgir outros núcleos populacionais e posteriormente isso contribuiria para aumentar conflitos pela posse e exploração do ouro, entre os paulistas e os demais membros de outras capitanias, que por eles eram chamados de emboabas.
Martim Afonso de Sousa |
O problema desta história como aponta Magalhães é que ela pouco provável. O historiador Derby chegou a dizer que, se essa distância tenha sido realmente percorrida que é pouco provável, os quatro portugueses teriam chegado no que hoje é o estado de Minas Gerais. Acerca dos cristais, estes provavelmente foram cristais de quartzo, mas o problema reside acerca do rio Paraguai, pois essa região ainda estava sendo explorada pelos espanhóis e os portugueses, e naquela época sabiam muito pouco a respeito. Provavelmente Pero Lopes ou se equivocou com o nome do rio, ou apenas mencionou um suposto boato.
"Duvidamos muito de que quatro portugueses, sem guias indígenas (exceto na volta) e sem intérprete, se houvessem aventurado a um embrenhamento tão profundo em nosso hinterland. Não é brincadeira palmilhar no curto espaço de 60 dias, 130 léguas sobre serras matagosas e 100 em região campestre, logo após a estação das águas". (MAGALHÃES, 1978, p. 17).
A segunda entrada partiu em 1 de setembro, a partir dos boatos que Francisco de Chaves um dos membros da tripulação, o qual havia contado ao capitão Martim Afonso. O capitão Afonso acabou acreditando na história de Francisco, o qual dissera que havia numa entrada anterior, conseguido encontrar ouro numa localidade próxima a costa. Martim designou Pero Lobo, o responsável por comandar um grupo de 80 homens, os quais seriam guiados por Francisco de Chaves.
Um mês e meio depois, nenhuma notícia tiveram da entrada de Pero Lobo. Meses se passaram e nada a respeito sabiam sobre a entrada enviada, constatou-se que eles ou se perderam ou morreram. Até hoje não se sabe ao certo o que aconteceu, mas sabe-se que dos oitenta integrantes nenhum retornou vivo. Acredita-se que eles foram mortos pela tribo dos Carijós, tribo que vivia na região para onde eles se dirigiram.
A terceira entrada partiu no final de 1531, da região de Cananeia, hoje município de São Paulo, por via marítima, onde Pero Lopes liderou uma nau em direção ao estuário do rio da Prata, pois sabia-se que havia notícias que em 1515, um português de nome Solis, a serviço de Espanha, encontrara prata naquele rio. Porém, a expedição de Pero Lopes adentrou o rio e o seguiu por algumas léguas, mas nenhum vestígio do metal foi encontrado, e Pero constatou que aquelas terras estavam fora dos limites do Tratado de Tordesilhas, o que significava uma invasão dos domínios espanhóis. O mesmo, abortou a entrada e retornou para se encontrar com seu irmão.
Em 22 de janeiro de 1532, Martim Afonso de Sousa fundou a primeira vila do Brasil, chamada de Vila de São Vicente, na ilha homônima. A vila viria em 1534 se tornar capital da Capitania de São Vicente, quando no mesmo ano, o rei D. João III criou as Capitanias Hereditárias. Martim Afonso foi nomeado capitão donatário de São Vicente.
Fundação de São Vicente, Benedito Calixto, 1900. |
Em 1536, Brás Cubas um dos responsáveis pela administração da vila, criou na mesma ilha o povoado de Santos (em 1546, o povoado foi reconhecido como vila). No continente em 1539, Pero de Góis, às margens do rio Itabapuana fundou a Vila da Rainha.
João Ramalho (1493-1580) havia formado um povoado por volta de 1531, no planalto onde vivia com os indígenas da tribo dos Guainases e seus filhos mestiços, pois desde 1513, Ramalho habitava a região, pois acabou naufragando naquelas terras. O povoado em 1553, foi elevado a categoria de vila, passando a se chamar Vila de Santo André do Campo da Borda do Piratininga, na ocasião, Brás Cubas e Antonio de Oliveira realizaram uma entrada até a região, a qual ficava no planalto do Piratininga algumas léguas de distância da capital da capitania. Com ordens dadas pelo capitão Martim Afonso, eles fundaram a vila mencionada. Antonio de Oliveira se mudou para a vila com a família e levou outros colonos para povoá-la.
Em 25 de janeiro de 1554, foi fundado pelos jesuítas padre Manuel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta, com o apoio da entrada de Brás Cubas e Antonio de Oliveira, e o apoio de João Ramalho e o cacique Tibiriça (sogro de Ramalho), o Colégio de São Paulo do Piratininga.
Vista atual do Pátio do Colégio de São Paulo do Piratininga, fundado em 1554. Consistindo na primeira construção do que viria a ser a vila de São Paulo, a atual cidade de São Paulo. |
Como a proposta deste trabalho é fazer uma breve história das entradas e das bandeiras, não poderei me reter a relatar cada entrada a qual tive fonte, pois algumas necessariamente não tiveram muitos dados acerca de sua missão, ou apenas foram mencionadas por cronistas.
Sabe-se que desde 1538 houve algumas entradas naquele ano pelos sertões da Bahia, muitas haviam partido de Porto Seguro, e um dos motivos para a partida de algumas destas entradas foram os boatos sobre a existência de esmeraldas no interior da capitania. Duarte Coelho, capitão donatário de Pernambuco, tentou pedir autorização ao rei para liderar uma entrada aos sertões, atrás de esmeraldas, em 1542, ele mandou uma carta para o rei D. João III, mas este recusou em decretar a entrada, o rei tinha outras preocupações no momento.
Anos depois, o governo-geral foi criado em 1548, por D. João III, o qual nomeou o nobre Tomé de Sousa (1503-1579) para se tornar o primeiro governador-geral, e fundar a primeira cidade e capital da colônia, a qual veio a ser Salvador, na Capitania da Bahia de Todos os Santos. Salvador foi fundada em 1549. Junto com Tomé de Sousa, vieram vários trabalhadores, oficiais para assumir os cargos criados para a capital, famílias, escravos, cabeças de gado e missionários jesuítas, os primeiros a chegarem na colônia.
Em 1550, o governador enviou Miguel Henriques numa entrada para se adentrar o rio São Francisco pela foz, porém o navio que a expedição seguia, acabou naufragando e a entrada foi cancelada. O governador cogitou pedir que Filipe de Guilhem que já havia participado de entradas anteriores, lidera-se uma nova entrada, mas este devido a idade, disse que não tinha forças para realizar tal viagem, logo em 1553, Tomé de Sousa escolheu o espanhol Francisco Bruza Espinosa para liderar uma entrada pelos sertões da Bahia.
Tomé de Sousa deixou o cargo no mesmo ano, pois chegou ao fim de seu mandato, porém seu sucessor Duarte da Costa manteve a ideia da entrada, e em março de 1554, a pequena expedição de Espinosa, composta de 13 europeus, incluindo o padre João de Azpilcueta Navarro (o qual relatou a viagem posteriormente) e mais alguns índios, partiu de Porto Seguro indo percorrer 350 léguas, levando meses de viagem. Sobre o itinerário da viagem, Calógeras nos apresenta uma das melhores versões:
"Entrou pelo rio das Caravelas, margeou além o Jequitinhonha, e, das cercanias da Diamantina, a que atingira, chegou provavelmente ao São Francisco, seguindo um dos seus afluentes da margem direita, quiçá o Jequitaí, alcançando uma aldeia indígena junto ao Mangaí, e pelo rio Pardo, explorado desde as suas margens por essa entrada, foi presumivelmente feito o retorno dela, em 1555". (MAGALHÃES, 1978, p. 31-32 apud CALÓGERAS, p. 549).
Todavia não se sabe ao certo todo o trecho da viagem desta entrada, pois alguns historiadores têm dúvida acerca do nome dado aos afluentes por qual a entrada seguiu viagem, mas sabe-se que Francisco Bruza acabou fundando um povoado, o qual nomeou de Espinosa, hoje localizado no norte de Minas Gerais. Sua entrada não encontrou vestígios de ouro e nem de esmeraldas.
Em 1561, o vereador da Bahia, Vasco Rodrigues Caldas conseguiu autorização do governador-geral Mem de Sá para realizar uma entrada atrás de riquezas, mas depois de percorrerem algumas léguas pelo vale do Paraguaçu, sua entrada foi abortada devido a um ataque que sofreram dos Tupinaés. Outra entrada que falhou, foi a de 1567, liderada por Martim Carvalho, o qual com cerca de 60 homens, percorreu em oito meses, 220 léguas como relatou o padre Pero de Magalhães Gandavo. A entrada retornou sem sucesso, porém, por pouco não descobriram esmeraldas como seria atestado anos depois, em uma outra entrada que se dirigiu para o mesmo percurso.
Em 1572 ou 1573, ocorreu a entrada de Sebastião Fernandes Tourinho, conhecida por ter descoberto esmeraldas. Partindo com 400 membros, a entrada partiu de Porto Seguro, percorreu o interior do sul da Capitania de Porto Seguro, indo em direção ao que hoje é o norte de Minas Gerais, e em um dado momento da jornada, eles encontraram algumas pedras verdes, retornando para Porto Seguro, foi avisado ao governador-geral Luís de Brito, a descoberta de tais gemas, assim o governador ordenou outra entrada para confirmar se haveria uma mina de esmeraldas no local onde as pedras foram encontradas. Antônio Dias Adorno foi incumbido de liderar essa entrada.
Esmeralda em estado bruto. Para olhos distraídos ou inexperientes, tal pedra pode passar despercebida ou ser confundida com outras pedras, como a turmalina. |
Antonio Dias Adorno acabou não encontrado as tão sonhadas minas de esmeraldas, mas encontrou indícios de outros minérios como ferro, cobre e estanho, a preação dos índios foi uma solução para ganhar dinheiro, pois embora já houvesse o comércio de escravos negros na colônia, estes eram mercadorias caras e nem todo mundo tinha dinheiro para comprá-los, por sua vez os índios eram mercadorias mais baratas. Muitas bandeiras se especializaram em caçar índios.
Rei Filipe II de Espanha |
Em 1590, Gabriel Soares voltava de Lisboa para Porto Seguro, tendo sido incumbido pelo rei espanhol de comandar uma nova entrada. Soares trouxera consigo 364 pessoas entre mulheres e homens, o que incluía quatro carmelitas. Todavia, a entrada ocorreu apenas dois anos depois, em maio de 1592. Gabriel Soares partiu com sua entrada contendo mais de 200 índios auxiliares, se dirigindo a Serra do Gariru (hoje Quareru), lá eles levantaram um forte, para servir de apoio a outras entradas e dar início a uma povoação no local, porém Soares acabou adoecendo e veio a falecer. D. Francisco de Sousa, capitão-mor de Porto Seguro, ordenou que a entrada fosse cancelada e o forte abandonado. Mais uma entrada entre tantas outras que haviam partido nos últimos anos, fracassou em se descobrir ouro e esmeraldas.
Em busca de ouro e prata em São Paulo (1560-1562/1601-1602)
Das várias entradas que aconteceram na Capitania de São Vicente, posteriormente batizada de Capitania de São Vicente e São Paulo, e finalmente Capitania de São Paulo, por mais de cinquenta anos muitos se aventuraram a procura de ouro na região, de fato conseguiram encontrar ouro em pouca quantidade, mas conseguiram. Todavia, as descobertas de ouro em São Paulo se deram principalmente pelas bandeiras em si, e não pelas entradas, porém farei menção a três entradas em especial.
A primeira entrada conhecida em São Paulo para ir descobrir ouro, data de 1560, onde o governador-geral Mem de Sá, ordenou que Brás Cubas fosse procurar ouro. Segundo consta o relato acerca de sua expedição, Cubas teria adentrado cerca de 300 léguas, todavia há contestações acerca desta distância. Em 1561 ele acabou adoecendo, e teve que cancelar a entrada, retornado no ano seguinte para São Vicente. Cubas ainda conseguiu trazer consigo amostras de minerais encontrados, uma supunha-se ser ouro, mas não era ouro, e as pedras verdes que encontrou não eram esmeraldas, mas turmalinas.
Na mesma época que Brás Cubas partiu, Luís Martins o qual também foi incumbido de procurar por ouro e joias, seguiu cerca de 30 léguas ao norte de Santos, onde o mesmo atestava que havia encontrado ouro, todavia o suposto ouro de "boa qualidade" que ele atestava, não era ouro, provavelmente deveria ser perita, o chamado "ouro dos tolos", minério parecido com ouro na coloração.
Nos anos seguintes outras entradas foram enviadas para procurar ouro, e boatos começaram a surgir da existência do mesmo, como será atestado na parte acerca das bandeiras. Em 1601, André de Leão foi incumbido pelo governador-geral D. Francisco de Sousa, de viajar para o norte da capitania em busca de prata, pois por essa época corriam nas capitanias da Bahia, Sergipe e Espírito Santo a história da Sabarabuçu, a qual seria supostamente uma serra feita de prata.
Além de Sabarabuçu havia também a história do Reino de Payati, o qual seria rico em ouro e prata, e ficaria localizado em algum lugar no centro do continente. A viagem de Leão durou nove meses, como atesta o holandês Wilhelm Joost ten Glimmer o qual viajou junto a bandeira. Glimmer relata que chegando numa região cheia de serras, Leão teria dito que naquele lugar ficaria a tal serra de Sabarabuçu, todavia, nenhum sinal de prata foi encontrado, e a entrada retornou sem êxito. Sete décadas depois, o bandeirante Fernão Dias Paes passaria pela região atrás de esmeraldas.
A entrada de Cristóvão de Barros (1574-1575)
Em 1565, foi fundada a segunda cidade do Brasil, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Estácio de Sá. Em 1572, a Coroa decidiu fazer uma experiência, nomeou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro co-capital administrativa da colônia, a incumbido de cuidar da administração das capitanias do Sul, enquanto Salvador faria o mesmo com as capitanias do Norte.
No ano de 1573, o então governador do Rio de Janeiro Antônio Salema, ordenou Cristóvão de Barros para organizar uma entrada punitiva, a fim de atacar os tupinambás. A entrada mencionada é uma das primeiras que se tem notícia onde o objetivo não era desbravar, mas sim exterminar os gentios. De acordo com o relato do Tratado descritivo do Brasil em 1587, escrito por Pero de Magalhães Gandavo (1540-1580), publicado postumamente, o cronista português relatou que a entrada de Cristóvão de Barros, contou com 400 homens e 700 índios, e realizaram uma verdadeira razia (incursão rápida e violenta), tendo matado centenas de índios e capturado de oito a dez mil destes. Não se tem certeza da veracidade do número de indígenas feitos cativos e mortos, mas sabe-se que a entrada foi uma das mais violentas que aconteceu.
Entradas relatadas por frei Vicente de Salvador no ano de 1578
Frei Vicente de Salvador (1564-1636) em sua História do Brasil, nos deixou relatado algumas entradas. O frei nos conta que em 1578 partiu de Ilhéus na Bahia, a entrada de Luís Álvares Espinha que se meteu pelo sertão, e nunca mais se soube a respeito. De Pernambuco partiram Francisco de Caldas e Gaspar Dias de Taíde com uma entrada que seguiu o curso do rio São Francisco, sertão adentro. No entanto, depois de dias de viagem e léguas percorridas, um dos indígenas que era guia da expedição, chamado de "Braço de Peixe", traiu os colonos, e uma rebelião se instaurou e a entrada teve que ser abandonada.
Ainda de Pernambuco, partiu a entrada de Francisco Barbosa da Silva com cerca de 70 homens, liderada por Diogo de Castro. Depois de dias de viagem, a entrada alcançou o rio Cotinguiba, na Capitania de Sergipe, após ter sobrevivido a ataque de índios pelo caminho, os quais mataram parte dos membros da expedição.
"O temor de uma possível invasão de indígenas e a necessidade de uma via terrestre de comunicação entre a Bahia e Pernambuco determinaram a conquista definitiva da orla marítima de Sergipe, missão de que galhardamente desempenhou Cristóvão de Barros". (MAGALHÃES, 1978, p. 24).
Tais entradas citadas pelo frei, tinham como objetivo procurar riquezas e estabelecer povoados, como também reconhecer o território. Pois de Olinda a Salvador, muitas daquelas terras estavam desocupadas, e o medo de que tribos indígenas que ali viviam pudessem atacar as vilas e os canaviais, era grande como Magalhães apontou.
Além disso, havia o fato de que os franceses aproveitavam estas brechas na ocupação do território brasileiro, para irem roubar pau-brasil. Tal fato foi um dos motivos que levou o governo-geral a criar a Capitania Real da Paraíba (1585), pois naquelas terras que antes pertenciam a Capitania de Itamaracá, várias vezes foram avistados navios franceses os quais partiam carregados com pau-brasil.
Fundação da Paraíba e ocupação do Rio Grande do Norte
Antes de 1574, duas entradas lideradas por Diogo Dias e Fernão da Silva, falharam em se estabelecer a ocupação da região norte da Capitania de Itamaracá, mais precisamente na desembocadura do rio Sanhauá, um dos afluentes do rio Paraíba. Grande parte da capitania itamaraquense estava desocupada e não era explorada, isso permitiu que os franceses fossem ali realizar contatos com os indígenas, especialmente os Potiguaras, como também extrair pau-brasil.
Em 1574, a situação piorou quando o Engenho de Tracunhaém foi incendiado pelos potiguaras, devido a uma confusão gerada entre os colonos e um grupo de potiguaras que ali passou a noite, onde uma índia acabou sendo sequestrada, sendo que esta era filha do cacique. Os índios foram embora e retornaram com reforços e massacraram a população local, destruindo o engenho e resgatando a índia.
O governador-geral Luís de Brito enviou uma carta ao rei D. Sebastião I avisando sobre o ocorrido, o rei ordenou que o governador-geral fundasse um forte na foz do rio Sanhuá, e de-se início a ocupação daquela região, fundando uma vila. Alguns historiadores não consideram que as cinco expedições enviadas para se conquistar a Paraíba tivessem sido entradas, todavia, dez anos transcorreriam de duras derrotas aos portugueses onde Frutuoso Barbosa, responsável por liderar duas das expedições (entradas) quase morreu e enlouqueceu, pois embora tenha se fundado um forte na margem norte do rio Paraíba, chamado de Forte de São Filipe e Santiago (1584), o mesmo foi duramente atacado pelos potiguaras e os franceses.
Apenas em 1585 com o apoio da tribo dos Tabajaras, inimigos de longa data dos Potiguaras, é que Portugal teve chance de subjugar os potiguaras. O acordo foi feito em 5 de agosto daquele ano, entre João Tavares, escrivão da Câmara e Juiz de órfãos de Olinda e o cacique Piragibe. Assim foi fundada a Capitania da Paraíba e a cidade de Nossa Senhora das Neves (atualmente João Pessoa), a terceira cidade mais antiga do Brasil.
Com a nova capitania estabelecida e a capitania de Itamaracá reduzida a ilha de mesmo nome, o governo-geral constatou que isso não seria o suficiente, pois o território da Capitania do Rio Grande (do Norte) que anteriormente compreendia parte da Capitania da Paraíba antes de sua criação, era praticamente despovoado pelos colonos, e isso facilitava a ida de navios franceses para explorarem o pau-brasil. A solução veio dez anos depois da fundação da Paraíba.
"A ocupação do Rio Grande do Norte efetuou-se em fins do século XVI, com a expedição chefada por Manuel Mascarenhas Homem, capitão-mor de Pernambuco, e da qual fizeram parte Feliciano Coelho, capitã-mor da Paraíba, e Jerônimo de Albuquerque. Auxiliado por estes, aquele, a 6 de janeiro de 1596, lançou os fundamentos do forte dos Santos Reis Magos; e Jerônimo de Albuquerque 25 de dezembro de 1599, demarcou, junto à dita fortaleza, da qual ficara como comandante, o local onde surgiu a cidade de Natal. A conquista daquele trato de terras foi devida ao temor de incursões francesas, e o seu desenvolvimento posterior está ligado também à segunda grande invasão batava. (MAGALHÃES, 1978, p. 25).
Com a fundação de Belém do Pará, em 1616, a vila serviria de ponto de apoio e partida para várias entradas que iriam explorar a Floresta Amazônica, no que hoje seriam os territórios do Pará, Amazonas e Amapá. O sertanista e militar Bento Maciel Parente (1567-1642) foi um dos mais notáveis sertanistas que realizou entradas pela Amazônia. Veterano de guerra da Paraíba e Rio Grande do Norte, e que posteriormente confrontou os holandeses e ingleses, foi eleito vereador de Belém em 1619, e em 1621, com a criação do Estado do Maranhão, foi nomeado Capitão-Mor do Grão-Pará.
Fundou alguns fortes ao longo do rio Xingu, como os fortes de Mariocai e Santo Antônio de Gurupá. Ao longo do rio Xingu, confrontou forças holandesas que haviam montado fortes ali, saindo vitorioso no final. Com a invasão de Pernambuco pelos holandeses, Bento Maciel seguiu para lá, para enfrentar os holandeses, onde por alguns anos dedicou-se as lutas, deixando de lado sua vida nas entradas.
Mas, se por um lado Bento Maciel se afastou das entradas, outros ainda continuaram nelas; Francisco de Azevedo foi o primeiro a liderar entradas aos sertões em Turi e Gurupi, hoje correspondendo a áreas de Tocantins. Entre 1622 e 1624, Luís Aranha de Vasconcelos viajou pela Guiana Brasileira, hoje o estado do Amapá.
Pedro Teixeira em sua entrada (1637-1639), liderou uma expedição de 1000 homens, sendo a maioria índios, através do Rio Amazonas, chegando a região da Cordilheira dos Andes, de onde seguiram viagem até Quito (atual capital do Equador), na época a cidade pertencia a Real Audiência de Quito, um território administrativo, na época parte do Vice-Reino do Peru. Na viagem de volta a Belém do Pará, Pedro Teixeira decretou que todas as terras ao longo das margens do rio Amazonas, pertenceriam ao Estado do Maranhão.
As primeiras bandeiras
Não se tem um consenso de quando realmente começaram as bandeiras, de fato por algum tempo creditou-se que a expedição de Brás Cubas e Luís Martins, em busca de ouro teriam sido bandeiras, mas como apontam os relatos de Magalhães e Volpato (1986), a expedição dos dois, foi uma entrada, pois foi delegada pelo governador-geral Mem de Sá. Outro relatos apontados por Maglhahães, sugerem que as expedições de Aleixo Garcia (1524/1526?) e do notório Cabeza de Vaca (1541-1542) deveriam ser consideradas bandeiras, porém, hoje essa tese de Magalhães não é mais considerada por muitos historiadores, devido ao fato de que praticamente nada se sabe sobre a expedição do português Aleixo Garcia, pois dos relatos exigentes que alegam relatar sua expedição, muitos são duvidosos e até mesmo romanceados.
No caso de Cabeza de Vaca, sabe-se que este realmente empreendeu sua expedição, chegando até mesmo a descobrir a Cataratas de Foz de Iguaçu, o problema, é o fato que Cabeza de Vaca era um espanhol, e estava a serviço da Espanha, pois o mesmo na ocasião era governador da Província do Rio da Prata, logo, sua viagem não teve nada a ver com as bandeiras da Capitania de São Vicente.
Quando retornamos ao ano de 1562, onde Brás Cubas e Luís Martins retornavam de suas entradas, a Vila de São Paulo do Piratininga foi atacada pela Confederação dos Tamoios (1557-1567), formada pelos Tupinambás, Guaianazes, Aimorés e Temiminós, que durante alguns anos causaram vários problemas aos colonos de São Paulo, sendo o ano de 1562 onde ocorreram uma das maiores batalhas.
Nesta época, como não havia exército na colônia, os próprios colonos tinham que se defender de alguma forma, assim foram criados grupos paramilitares, que eram chamados popularmente de "bandeiras". Na ocasião de 1562, algumas destas "bandeiras" se uniram para combater a confederação indígena, resultando na vitória dos colonos. Em 1561, registra-se uma bandeira contra os índios do Anhembi, e no ano seguinte a bandeira de João Ramalho contra tribos que viviam nas proximidades do rio Paraíba do Sul.
A bandeira de 1561, que na ocasião participou o padre São José de Anchieta, como capelão, é considerada a mais antiga bandeira de que se tem registro, pois diferente de muitas entradas que possuíam registros de sua atuação, as bandeiras por serem de caráter particular, muitas não deixaram registros algum. De certo, alguns historiadores brasileiros sugerem que as bandeiras se iniciaram por essa época, possivelmente mesmo antes, mas as mesmas atuavam como grupos de defesa e não de exploração e apreensão, algo que viria ocorrer posteriormente, principalmente a partir das décadas de 1570 e 1580.
Assim como no caso das entradas, pouco relatos se tem principalmente acerca de bandeiras ocorridas no século XVI, a maioria das fontes referem-se as bandeiras do século XVII, principalmente ocorridas em São Paulo, no sul da colônia e no chamado "velho oeste brasileiro", que compreenderiam os sertões que hoje são Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Existem também relatos de bandeiras que atacaram quilombos no Nordeste ou participaram de expedições ao Piauí, Maranhão e Ceará, ou combateram os holandeses, mas devido a grande quantidade de relatos que geram livros sobre o assunto, assim como fiz com as entradas, falarei de algumas das principais bandeiras que ocorreram, algumas ficaram famosas em si, não por sua façanha, mas pelos bandeirantes que foram seus líderes.
"Do ponto de vista geográfico, as bandeiras paulistas foram possíveis em grande medida devido à posição de São Paulo, centro de circulação fluvial e terrestre à 'boca do sertão'. Capistrano de Abreu, numa forma bem sintética, resume as facilidades geográficas da região: 'O Tietê corria perto; bastava seguir-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, apontando o Caminho do Norte". (DAVIDOFF, 1984, p. 28-29).
Descoberta de ouro na Capitania de São Vicente
Diferente do que aprendemos nas escolas, onde dizem que apenas as Capitanias de Pernambuco e São Vicente obtiveram êxito, na realidade a história não foi bem assim. Apenas as vilas de São Vicente e Santos é que prosperavam de forma razoável, porém, o restante da capitania, não compartilhava desta prosperidade e era constantemente ameaçada pelas tribos indígenas que não aceitavam os colonizadores, a saída para esse problema que os colonos encontraram, foi exterminar os indígenas, escravizá-los, e ir procurar ouro e joias.
Entre 1570 e 1584, Heliodoro Eobanos empreendeu algumas bandeiras pela capitania, indo prear índios e procurar por ouro. Eobanos partiu de São Sebastião do Rio de Janeiro para a vila de São Paulo do Piratininga, para realizar suas bandeiras, diz-se que ele teria encontrado ouro de aluvião ou ouro de lavagem (termo dado ao ouro encontrado nos leitos de rios), em Iguape, Paranaguá e Curitiba. Sabe-se que em Paranaguá e Curitiba ouro foi encontrado, embora não se tem certeza se Eobanos foi o responsável por tal descoberta. Todavia, tal fato é interessante, pois geralmente nas escolas, aprendemos que ouro no Brasil só foi descoberto em Minas Gerais, no final do século XVII.
Em 1590, de acordo com os relatos do historiador e militar Pedro Taques, contido em seu livro Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica, ele atesta que Afonso Sardinha, Afonso Sardinha Filho e Clemente Álvares, teriam encontrado ouro de lavagem nas Serras Jaguamimbaba em Jaraguá, e na de Ibiturana, próximo a Vila de Parnaíba. Quando Afonso Sardinha Filho veio a falecer em 1604, também deixou registrado no testamento, uma quantia em ouro, o qual o mesmo alegava ser de 80 mil cruzados em ouro em pó.
Todavia o historiador Capistrano de Abreu questionou se tal quantia realmente era verídica, ou um exagero da parte de Afonso Sardinha Filho. Para Capistrano, foi um exagero tal quantia apresentada, e provavelmente ele teria confundido o ouro em pó com "areia de Oçó", uma areia amarelada que lembra ser ouro em pó. Entretanto, sabe-se que realmente ouro foi descoberto em Jaraguá e Ibiturana.
"Durante o século XVI, algumas jazidas foram descobertas na Capitania de São Vicente. Eram as jazidas do Jaraguá, próximas da vila de São Paulo, Ibiturana, na Vila de Parnaíba, e as jazidas de Curitiba e Paranaguá. Apesar da grande dificuldade encontrada para sua exploração, estas duas últimas chegaram a produzir algumas arrobas de ouro. Nenhuma destas descobertas chegou, no enanto, a ter uma produção significativa". (VOLPATO, 1986, p. 90).
O governador-geral D. Francisco de Sousa sabendo da descoberta de ouro de lavagem em São Paulo, incentivou entradas e os bandeirantes a irem explorar tais locais, o mesmo chegou a visitar a capitania entre 1598 e 1601, chegando a levar consigo um minerador inglês chamado Jacques Oalte, e dois engenheiros, Geraldo Beting e Bácio de Filicaia, os quais chegaram a visitar a jazida de Biraçoiaba, a qual possuía muito pouco ouro, mas o possuía. No mesmo ano como foi visto, ele organizou a entrada de André de Leão para procurar prata no norte da capitania.
Pelo século XVII, algumas destas jazidas ainda continuaram a serem exploradas, mas rapidamente se esgotavam, mesmo assim muitos bandeirantes ficaram ainda mais motivados em saber que havia ouro na capitania, e várias outras bandeiras se seguiram pelo restante do século, mas se nenhum êxito. Então as mesmas começaram a irem para mais longe, adentrando cada vez mais os sertões do que viriam a ser Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Campanhas de conquista do Guairá e das "províncias do Tape e do Uruguai"
A medida que as bandeiras de preação de índios cresciam em número e retornavam as principais vilas da capitania, com centenas e as vezes milhares de cativos para serem vendidos, algumas tribos começaram a ir cada vez mais sertão adentro, e outras simplesmente foram sendo dizimadas pela ganância cruel dos bandeirantes em se apossar destas "pessoas-mercadorias" e de suas terras.
"Estas guerras, chamadas assaltos ou 'saltos' adquiriram enorme importância para a obtenção de escravos, a ponto de o padre Manuel da Nóbrega afirmar que 'de maravilha se acha cá escravo que não fosse tomado de salto". (DAVIDOFF, 1984, p. 32).
No começo do século XVII, as bandeiras começaram a seguir cada vez mais para o sul da capitania, chegando a sair de seus domínios e adentrar o domínio da Província de Guairá, antiga colônia espanhola desenvolvida por missionários jesuítas. Todavia, como ainda estavam no período da União Ibérica, tecnicamente, os bandeirantes não estariam invadindo aquele território, pois tudo aquilo pertencia a Coroa espanhola, e de fato como apontaram algumas cartas de jesuítas espanhóis, isso se revelou um problema, pois os reis Filipe III e Filipe IV, meio que "fecharam os olhos" para as atrocidades que os bandeirantes andaram cometendo naquelas terras.
A Província de Guairá ou de Vera, ou também chamada em espanhol de La Piñeria, compreendeu em grande parte o atual território do Paraná. A região foi principalmente ocupada a partir das missões jesuíticas começadas ainda em fins do século XVI, mas que se estabeleceram mesmo apenas nos primeiros vinte anos do século XVII. A província por volta desta época estava ligada ao governo do Paraguai, com que fazia fronteira.
Porém, sabe-se através de relatos e cartas de jesuítas, que alguns missionários já haviam viajado do Guairá para a vila de São Paulo, e alguns missionários já haviam partido de São Paulo para a cidade de Nossa Senhora de Assunção, capital do Paraguai. Todavia, embora tais rotas já fossem razoavelmente conhecidas, apenas no século XVII é que as bandeiras começaram a adentrar o Guairá atrás de índios.
Quando os paulistas chegaram ao Gauirá, apenas existia uma missão estabelecida, de nome Nossa Senhora do Loreto do Pirapó, estabelecida em 1610, no entanto, as vilas e cidades da província já existiam desde o século anterior: Ciudad Real del Guayra (1556), Ontiveros (1554) e Vila Rica do Espiritu Santu (1570).
Em 1611, o bandeirante Fernão Pais de Barros atingiu o rio Paranapanema em fins de outubro daquele ano, onde atacou os Tambiú, porém, na ocasião o governador do Guairá, D. Antônio Anasco, sabendo do ataque dos bandeirantes partiu para confrontá-los, e Fernão Pais partiu em retirada levando consigo algumas centenas de índios. O cônego João Pedro Gay, disse em sua História da República Jesuítica do Paraguai, que Fernão Pais de Barros teria capturado 800 indígenas.
No ano seguinte, Sebastião Preto adentrou o Guairá e capturou cerca de 900 índios, embora muios acabaram fugindo. Entretanto, foi o irmão de Sebastião, Manuel Preto quem se tornaria mais conhecido na região pelas bandeiras de preação dos indígenas. Os irmãos Preto, por vários anos atacaram o Guairá, sendo que Manuel ficou conhecido como "herói do Guairá", entre os paulistas, devido ao seus feitos na província espanhola. De acordo com os relatos do padre Pablo Pastells, autor de Historia de la Compañia de Jesús en la provincia del Paraguay, no ano de 1619, Manuel Preto com sua bandeira saqueou as missões de Jesus-Maria e Santo Inácio, e anos depois entre 1623 e 1624, ele teria capturado pelo menos mil índios, os quais levou de volta a São Paulo e suas fazendas.
A situação começou a piorar no final da década, quando outros bandeirantes vendo que era proveitoso saquear as missões jesuíticas do Guairá, que na época contavam em número de 12, começaram cada vez mais a partirem para a região. Em 1628 e 1629, Antonio Raposo Tavares um dos mais famosos bandeirantes, junto com Manuel Preto, João Pedro de Morais, conhecido como o "Terror dos Índios", entre outros, devastaram a região.
Volpato (1986) nos informa que apenas a bandeira de Manuel Preto que partira de São Paulo em 1628 para o Guairá, contava com mais de três mil integrantes, sendo na maioria indígenas. Três mil homens era o contingente de algumas das menores legiões romanas da época do império, assim, nota-se que os bandeirantes quando adentraram o Guairá entre os anos de 1628 até 1633, foram com o intuito de conquistá-lo.
Os irmãos Fernandes, André, Baltasar e Domingos, ambos empreenderam várias bandeiras no Guairá e no Tape, até os anos de 1660, tendo ficado famosos entre os bandeirantes na região, e principalmente por terem capturados milhares de indígenas, como terem promovido a fundação de povoados e a construção de igrejas.
"Os bandeirantes avançavam promovendo razias, ateando fogo, efetivando uma ação destruidora. Ignorados pelas autoridades coloniais tanto espanholas como portuguesas, desfalcados, inseguros e ameaçados de novos ataques, os padres decidiram abandonar a região com os seus catecúmenos". (VOLPATO, 1986, p. 83).
Das doze missões, dez foram destruídas entre 1628 e 1632. As cidades de Ciudad Real del Guayra e Vila Rica do Espiritu Santu foram destruídas em 1631, embora que foi permitido a população local fugir. Além disso, a cidade de Santiago do Xerez que não ficava localizada no Guairá, mas no norte da Província do Paraguai, no que hoje é território do Mato Grosso do Sul no Brasil, chamado na época de Itatim, foi alvo de algumas bandeiras. A cidade de Santiago do Xerez teria sido destruída em fins de 1632 ou no começo de 1633.
"Em 1632, os paulistas, transpondo o alto Paraná, não só tomaram Santiago-do-Xerez, estabelecimento espanhol, sito perto das nascentes do Aquidauana, como também destruíram as três reduções de San-José, Ángeles e San-Pedro-y-San-Pablo, que os jesuítas tinham acabado de formar, com índios itatines, a oeste do rio Pardo, no atual Estado de Mato Grosso. Alguns castelhanos, moradores em Xerez, e que estavam de boa avença com os bandeirantes, passaram-se nessa ocasião para São Paulo". (MAGALHÃES, 1978, p. 101).
As autoridades paraguaias e o vice-rei do Peru, temeram que os bandeirantes que atacavam o Itatim tentassem conquistar Assunção e o Paraguai, para depois seguir para o Vice-Reino do Peru atrás das minas de prata de Potosi (atualmente na Bolívia). No entanto, isso não aconteceu, mas os ataques não terminaram por aí, as bandeiras continuaram a seguir para o sul, adentrando o que hoje são os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e a República do Uruguai. No século XVII, tais terras estavam divididas entre as "províncias do Tape e do Uruguai".
"Várias foram as expedições que atacaram as reduções no Tape, algumas comandadas por bandeirantes famosos como Antônio Raposo Tavares, André Fernandes e Fernão Dias Pais". (VOLPATO, 1986, p. 83).
Em 1636, Antonio Raposo Tavares que tinha Diogo Coutinho de Melo como imediato (segundo no comando), partiram de São Paulo com rumo ao Tape, levando consigo milhares de homens para a empreitada. Em fins de 1637, o Tape praticamente já havia sido conquistado. As reduções de Jesús-Maria-de-Yequi e Santa-Teresa-de-Ibiturana foram ocupadas por eles, e os jesuítas das demais missões (São Cristóvão, São Joaquim, Santa-Ana e Natividade de Araricá) foram abandonadas no mesmo ano, todavia, o padre Romero não querendo abandonar aquelas terras, incentivou os indígenas a lutarem contra os bandeirantes, e as lutas prosseguiram pelo ano seguintes, até que novas levas de bandeiras foram subjugando os indígenas e conquistado o Tape. Porém, os bandeirantes não pararam por aí, eles pretendia seguir para a Província do Uruguai e chegar ao Rio da Prata, onde acreditavam haver minas de prata ao longo de seu curso (o que não era bem verdade). No ano de 1638, novas bandeiras adentraram o Uruguai e começaram a devastar as missões jesuíticas. Caaró, Caazapámini e São Nicolau foram conquistadas, os jesuítas foram expulsos, os índios ou foram mortos ou escravizados.
Em 1639, Pascoal Leite de Paes um dos irmãos do famoso bandeirante Fernão Dias Paes, liderou uma bandeira contra a redução em Caasapaguaçu, porém os mesmos foram derrotados, marcando a primeira grande derrota dos bandeirantes no Tape. Pascoal entre outros foram mortos na ocasião. Dois anos depois da derrota em Caasapaguçu, Jerônimo Pedroso de Barros, irmão dos bandeirantes Luís e Sebastião, reuniu um exército de 2500 a 3000 mil homens e marchou de São Paulo em direção ao Tape, indo de encontro as reduções ocidentais que ainda resistiam aos bandeirantes.
Dessa vez os padres e missionários deram armas aos indígenas e incentivaram que os mesmos fabricassem lanças, arcos e flechas, até mesmo um canhão improvisado foi feito. As lutas ocorreram principalmente no rio Mbororé, um dos afluentes do rio Uruguai. Jerônimo estava confiante em exterminar aqueles índios e poucos jesuítas, mas segundo consta os relatos dos jesuítas, haveria pelo menos 4 mil indígenas ao lado dos missionários, depois de poucos dias de conflitos, a bandeira de Jerônimo foi derrotada, marcando uma derrota ainda maior do que a de Caasapaguaçu. Isso resultou num retardo da colonização do Tape e do Uruguai pelos bandeirantes.
Em 1640, o bandeirante Emilinho junto com sua família, fundou um povoado próximo do rio São Francisco em Santa Catarina, que em 1660, foi elevado a vila, passando a se chamar Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco. Outros bandeirantes também tentaram colonizar a região que ficava entre o Guairá e o Tape, a qual praticamente eram habitadas apenas pelos indígenas. Em 1675, Francisco Dias Velho na antiga Ilha dos Patos, posteriormente rebatizada para Ilha de Santa Catarina (hoje Florianópolis), fundou um povoado e a igreja de Nossa Senhora do Desterro. Por volta desta época, Domingo de Brito Peixoto fundou a Vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna.
A região do Tape e do Uruguai ainda voltariam causar problemas entre os bandeirantes e os jesuítas espanhóis, pois a partir do final do século XVII, embora os bandeirantes tenham tomado a região, eles não investiram em uma colonização rápida, logo, os jesuítas retornaram e começaram a fundar novas missões e povoados, no que ficou conhecido inicialmente como Sete Povos das Missões. Além disso, para contrabalancear esse problema, a Coroa Portuguesa não querendo perder a influência que tinha sobre o Uruguai, ordenou que D. Manuel Lobo então capitão-mor do Rio de Janeiro, fosse fundar uma colônia no sul do Uruguai, próximo a cidade de Buenos Aires, que ficava do outro lado da foz do rio da Prata, assim a partir de 1680, começou a ser construída a Colônia do Santíssimo Sacramento, que asseguraria a ocupação luso-brasileira daquela região.
O velho oeste brasileiro
O chamado velho oeste ou faroeste brasileiro, uma alusão ao período histórico do Velho Oeste dos Estados Unidos ocorrido entre 1850 a 1890, neste caso o nosso faroeste ocorreu no século XVII, porém, não é um termo um tanto usável nos dias de hoje, embora que em alguns livros dos anos 70 e 80, ainda podemos encontrar o termo far west, aludindo as bandeiras do século XVII. Foi um período onde dezenas de bandeiras devassaram os sertões de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, principalmente em busca de minas de ouro, prata, diamantes e esmeraldas.
No caso de Cabeza de Vaca, sabe-se que este realmente empreendeu sua expedição, chegando até mesmo a descobrir a Cataratas de Foz de Iguaçu, o problema, é o fato que Cabeza de Vaca era um espanhol, e estava a serviço da Espanha, pois o mesmo na ocasião era governador da Província do Rio da Prata, logo, sua viagem não teve nada a ver com as bandeiras da Capitania de São Vicente.
Quando retornamos ao ano de 1562, onde Brás Cubas e Luís Martins retornavam de suas entradas, a Vila de São Paulo do Piratininga foi atacada pela Confederação dos Tamoios (1557-1567), formada pelos Tupinambás, Guaianazes, Aimorés e Temiminós, que durante alguns anos causaram vários problemas aos colonos de São Paulo, sendo o ano de 1562 onde ocorreram uma das maiores batalhas.
Nesta época, como não havia exército na colônia, os próprios colonos tinham que se defender de alguma forma, assim foram criados grupos paramilitares, que eram chamados popularmente de "bandeiras". Na ocasião de 1562, algumas destas "bandeiras" se uniram para combater a confederação indígena, resultando na vitória dos colonos. Em 1561, registra-se uma bandeira contra os índios do Anhembi, e no ano seguinte a bandeira de João Ramalho contra tribos que viviam nas proximidades do rio Paraíba do Sul.
A bandeira de 1561, que na ocasião participou o padre São José de Anchieta, como capelão, é considerada a mais antiga bandeira de que se tem registro, pois diferente de muitas entradas que possuíam registros de sua atuação, as bandeiras por serem de caráter particular, muitas não deixaram registros algum. De certo, alguns historiadores brasileiros sugerem que as bandeiras se iniciaram por essa época, possivelmente mesmo antes, mas as mesmas atuavam como grupos de defesa e não de exploração e apreensão, algo que viria ocorrer posteriormente, principalmente a partir das décadas de 1570 e 1580.
Assim como no caso das entradas, pouco relatos se tem principalmente acerca de bandeiras ocorridas no século XVI, a maioria das fontes referem-se as bandeiras do século XVII, principalmente ocorridas em São Paulo, no sul da colônia e no chamado "velho oeste brasileiro", que compreenderiam os sertões que hoje são Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Existem também relatos de bandeiras que atacaram quilombos no Nordeste ou participaram de expedições ao Piauí, Maranhão e Ceará, ou combateram os holandeses, mas devido a grande quantidade de relatos que geram livros sobre o assunto, assim como fiz com as entradas, falarei de algumas das principais bandeiras que ocorreram, algumas ficaram famosas em si, não por sua façanha, mas pelos bandeirantes que foram seus líderes.
"Do ponto de vista geográfico, as bandeiras paulistas foram possíveis em grande medida devido à posição de São Paulo, centro de circulação fluvial e terrestre à 'boca do sertão'. Capistrano de Abreu, numa forma bem sintética, resume as facilidades geográficas da região: 'O Tietê corria perto; bastava seguir-lhe o curso para alcançar a bacia do Prata. Transpunha-se uma garganta fácil e encontrava-se o Paraíba, encaixado entre a serra do Mar e a da Mantiqueira, apontando o Caminho do Norte". (DAVIDOFF, 1984, p. 28-29).
Descoberta de ouro na Capitania de São Vicente
Diferente do que aprendemos nas escolas, onde dizem que apenas as Capitanias de Pernambuco e São Vicente obtiveram êxito, na realidade a história não foi bem assim. Apenas as vilas de São Vicente e Santos é que prosperavam de forma razoável, porém, o restante da capitania, não compartilhava desta prosperidade e era constantemente ameaçada pelas tribos indígenas que não aceitavam os colonizadores, a saída para esse problema que os colonos encontraram, foi exterminar os indígenas, escravizá-los, e ir procurar ouro e joias.
Entre 1570 e 1584, Heliodoro Eobanos empreendeu algumas bandeiras pela capitania, indo prear índios e procurar por ouro. Eobanos partiu de São Sebastião do Rio de Janeiro para a vila de São Paulo do Piratininga, para realizar suas bandeiras, diz-se que ele teria encontrado ouro de aluvião ou ouro de lavagem (termo dado ao ouro encontrado nos leitos de rios), em Iguape, Paranaguá e Curitiba. Sabe-se que em Paranaguá e Curitiba ouro foi encontrado, embora não se tem certeza se Eobanos foi o responsável por tal descoberta. Todavia, tal fato é interessante, pois geralmente nas escolas, aprendemos que ouro no Brasil só foi descoberto em Minas Gerais, no final do século XVII.
Em 1590, de acordo com os relatos do historiador e militar Pedro Taques, contido em seu livro Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica, ele atesta que Afonso Sardinha, Afonso Sardinha Filho e Clemente Álvares, teriam encontrado ouro de lavagem nas Serras Jaguamimbaba em Jaraguá, e na de Ibiturana, próximo a Vila de Parnaíba. Quando Afonso Sardinha Filho veio a falecer em 1604, também deixou registrado no testamento, uma quantia em ouro, o qual o mesmo alegava ser de 80 mil cruzados em ouro em pó.
Todavia o historiador Capistrano de Abreu questionou se tal quantia realmente era verídica, ou um exagero da parte de Afonso Sardinha Filho. Para Capistrano, foi um exagero tal quantia apresentada, e provavelmente ele teria confundido o ouro em pó com "areia de Oçó", uma areia amarelada que lembra ser ouro em pó. Entretanto, sabe-se que realmente ouro foi descoberto em Jaraguá e Ibiturana.
"Durante o século XVI, algumas jazidas foram descobertas na Capitania de São Vicente. Eram as jazidas do Jaraguá, próximas da vila de São Paulo, Ibiturana, na Vila de Parnaíba, e as jazidas de Curitiba e Paranaguá. Apesar da grande dificuldade encontrada para sua exploração, estas duas últimas chegaram a produzir algumas arrobas de ouro. Nenhuma destas descobertas chegou, no enanto, a ter uma produção significativa". (VOLPATO, 1986, p. 90).
O governador-geral D. Francisco de Sousa sabendo da descoberta de ouro de lavagem em São Paulo, incentivou entradas e os bandeirantes a irem explorar tais locais, o mesmo chegou a visitar a capitania entre 1598 e 1601, chegando a levar consigo um minerador inglês chamado Jacques Oalte, e dois engenheiros, Geraldo Beting e Bácio de Filicaia, os quais chegaram a visitar a jazida de Biraçoiaba, a qual possuía muito pouco ouro, mas o possuía. No mesmo ano como foi visto, ele organizou a entrada de André de Leão para procurar prata no norte da capitania.
Pelo século XVII, algumas destas jazidas ainda continuaram a serem exploradas, mas rapidamente se esgotavam, mesmo assim muitos bandeirantes ficaram ainda mais motivados em saber que havia ouro na capitania, e várias outras bandeiras se seguiram pelo restante do século, mas se nenhum êxito. Então as mesmas começaram a irem para mais longe, adentrando cada vez mais os sertões do que viriam a ser Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Rotas de algumas bandeiras realizadas por famosos bandeirantes. |
A medida que as bandeiras de preação de índios cresciam em número e retornavam as principais vilas da capitania, com centenas e as vezes milhares de cativos para serem vendidos, algumas tribos começaram a ir cada vez mais sertão adentro, e outras simplesmente foram sendo dizimadas pela ganância cruel dos bandeirantes em se apossar destas "pessoas-mercadorias" e de suas terras.
"Estas guerras, chamadas assaltos ou 'saltos' adquiriram enorme importância para a obtenção de escravos, a ponto de o padre Manuel da Nóbrega afirmar que 'de maravilha se acha cá escravo que não fosse tomado de salto". (DAVIDOFF, 1984, p. 32).
No começo do século XVII, as bandeiras começaram a seguir cada vez mais para o sul da capitania, chegando a sair de seus domínios e adentrar o domínio da Província de Guairá, antiga colônia espanhola desenvolvida por missionários jesuítas. Todavia, como ainda estavam no período da União Ibérica, tecnicamente, os bandeirantes não estariam invadindo aquele território, pois tudo aquilo pertencia a Coroa espanhola, e de fato como apontaram algumas cartas de jesuítas espanhóis, isso se revelou um problema, pois os reis Filipe III e Filipe IV, meio que "fecharam os olhos" para as atrocidades que os bandeirantes andaram cometendo naquelas terras.
A Província de Guairá ou de Vera, ou também chamada em espanhol de La Piñeria, compreendeu em grande parte o atual território do Paraná. A região foi principalmente ocupada a partir das missões jesuíticas começadas ainda em fins do século XVI, mas que se estabeleceram mesmo apenas nos primeiros vinte anos do século XVII. A província por volta desta época estava ligada ao governo do Paraguai, com que fazia fronteira.
Mapa da Província do Guairá no século XVII. |
Quando os paulistas chegaram ao Gauirá, apenas existia uma missão estabelecida, de nome Nossa Senhora do Loreto do Pirapó, estabelecida em 1610, no entanto, as vilas e cidades da província já existiam desde o século anterior: Ciudad Real del Guayra (1556), Ontiveros (1554) e Vila Rica do Espiritu Santu (1570).
Em 1611, o bandeirante Fernão Pais de Barros atingiu o rio Paranapanema em fins de outubro daquele ano, onde atacou os Tambiú, porém, na ocasião o governador do Guairá, D. Antônio Anasco, sabendo do ataque dos bandeirantes partiu para confrontá-los, e Fernão Pais partiu em retirada levando consigo algumas centenas de índios. O cônego João Pedro Gay, disse em sua História da República Jesuítica do Paraguai, que Fernão Pais de Barros teria capturado 800 indígenas.
No ano seguinte, Sebastião Preto adentrou o Guairá e capturou cerca de 900 índios, embora muios acabaram fugindo. Entretanto, foi o irmão de Sebastião, Manuel Preto quem se tornaria mais conhecido na região pelas bandeiras de preação dos indígenas. Os irmãos Preto, por vários anos atacaram o Guairá, sendo que Manuel ficou conhecido como "herói do Guairá", entre os paulistas, devido ao seus feitos na província espanhola. De acordo com os relatos do padre Pablo Pastells, autor de Historia de la Compañia de Jesús en la provincia del Paraguay, no ano de 1619, Manuel Preto com sua bandeira saqueou as missões de Jesus-Maria e Santo Inácio, e anos depois entre 1623 e 1624, ele teria capturado pelo menos mil índios, os quais levou de volta a São Paulo e suas fazendas.
A situação começou a piorar no final da década, quando outros bandeirantes vendo que era proveitoso saquear as missões jesuíticas do Guairá, que na época contavam em número de 12, começaram cada vez mais a partirem para a região. Em 1628 e 1629, Antonio Raposo Tavares um dos mais famosos bandeirantes, junto com Manuel Preto, João Pedro de Morais, conhecido como o "Terror dos Índios", entre outros, devastaram a região.
Volpato (1986) nos informa que apenas a bandeira de Manuel Preto que partira de São Paulo em 1628 para o Guairá, contava com mais de três mil integrantes, sendo na maioria indígenas. Três mil homens era o contingente de algumas das menores legiões romanas da época do império, assim, nota-se que os bandeirantes quando adentraram o Guairá entre os anos de 1628 até 1633, foram com o intuito de conquistá-lo.
Os irmãos Fernandes, André, Baltasar e Domingos, ambos empreenderam várias bandeiras no Guairá e no Tape, até os anos de 1660, tendo ficado famosos entre os bandeirantes na região, e principalmente por terem capturados milhares de indígenas, como terem promovido a fundação de povoados e a construção de igrejas.
"Os bandeirantes avançavam promovendo razias, ateando fogo, efetivando uma ação destruidora. Ignorados pelas autoridades coloniais tanto espanholas como portuguesas, desfalcados, inseguros e ameaçados de novos ataques, os padres decidiram abandonar a região com os seus catecúmenos". (VOLPATO, 1986, p. 83).
Das doze missões, dez foram destruídas entre 1628 e 1632. As cidades de Ciudad Real del Guayra e Vila Rica do Espiritu Santu foram destruídas em 1631, embora que foi permitido a população local fugir. Além disso, a cidade de Santiago do Xerez que não ficava localizada no Guairá, mas no norte da Província do Paraguai, no que hoje é território do Mato Grosso do Sul no Brasil, chamado na época de Itatim, foi alvo de algumas bandeiras. A cidade de Santiago do Xerez teria sido destruída em fins de 1632 ou no começo de 1633.
"Em 1632, os paulistas, transpondo o alto Paraná, não só tomaram Santiago-do-Xerez, estabelecimento espanhol, sito perto das nascentes do Aquidauana, como também destruíram as três reduções de San-José, Ángeles e San-Pedro-y-San-Pablo, que os jesuítas tinham acabado de formar, com índios itatines, a oeste do rio Pardo, no atual Estado de Mato Grosso. Alguns castelhanos, moradores em Xerez, e que estavam de boa avença com os bandeirantes, passaram-se nessa ocasião para São Paulo". (MAGALHÃES, 1978, p. 101).
As autoridades paraguaias e o vice-rei do Peru, temeram que os bandeirantes que atacavam o Itatim tentassem conquistar Assunção e o Paraguai, para depois seguir para o Vice-Reino do Peru atrás das minas de prata de Potosi (atualmente na Bolívia). No entanto, isso não aconteceu, mas os ataques não terminaram por aí, as bandeiras continuaram a seguir para o sul, adentrando o que hoje são os estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e a República do Uruguai. No século XVII, tais terras estavam divididas entre as "províncias do Tape e do Uruguai".
Província do Tape com a localização das missões jesuíticas. Atualmente a região compreende o estado do Rio Grande do Sul no Brasil. |
Antonio Raposo Tavares |
Em 1639, Pascoal Leite de Paes um dos irmãos do famoso bandeirante Fernão Dias Paes, liderou uma bandeira contra a redução em Caasapaguaçu, porém os mesmos foram derrotados, marcando a primeira grande derrota dos bandeirantes no Tape. Pascoal entre outros foram mortos na ocasião. Dois anos depois da derrota em Caasapaguçu, Jerônimo Pedroso de Barros, irmão dos bandeirantes Luís e Sebastião, reuniu um exército de 2500 a 3000 mil homens e marchou de São Paulo em direção ao Tape, indo de encontro as reduções ocidentais que ainda resistiam aos bandeirantes.
Dessa vez os padres e missionários deram armas aos indígenas e incentivaram que os mesmos fabricassem lanças, arcos e flechas, até mesmo um canhão improvisado foi feito. As lutas ocorreram principalmente no rio Mbororé, um dos afluentes do rio Uruguai. Jerônimo estava confiante em exterminar aqueles índios e poucos jesuítas, mas segundo consta os relatos dos jesuítas, haveria pelo menos 4 mil indígenas ao lado dos missionários, depois de poucos dias de conflitos, a bandeira de Jerônimo foi derrotada, marcando uma derrota ainda maior do que a de Caasapaguaçu. Isso resultou num retardo da colonização do Tape e do Uruguai pelos bandeirantes.
Em 1640, o bandeirante Emilinho junto com sua família, fundou um povoado próximo do rio São Francisco em Santa Catarina, que em 1660, foi elevado a vila, passando a se chamar Vila de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco. Outros bandeirantes também tentaram colonizar a região que ficava entre o Guairá e o Tape, a qual praticamente eram habitadas apenas pelos indígenas. Em 1675, Francisco Dias Velho na antiga Ilha dos Patos, posteriormente rebatizada para Ilha de Santa Catarina (hoje Florianópolis), fundou um povoado e a igreja de Nossa Senhora do Desterro. Por volta desta época, Domingo de Brito Peixoto fundou a Vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna.
Painel em azulejos, representando a fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento em 1680 pelo brasileiros no sul do Uruguai. |
O chamado velho oeste ou faroeste brasileiro, uma alusão ao período histórico do Velho Oeste dos Estados Unidos ocorrido entre 1850 a 1890, neste caso o nosso faroeste ocorreu no século XVII, porém, não é um termo um tanto usável nos dias de hoje, embora que em alguns livros dos anos 70 e 80, ainda podemos encontrar o termo far west, aludindo as bandeiras do século XVII. Foi um período onde dezenas de bandeiras devassaram os sertões de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins, principalmente em busca de minas de ouro, prata, diamantes e esmeraldas.
Para encerrar este relato sobre as bandeiras, o encerrarei com "chave de ouro", ironicamente falando a respeito da descoberta das tão sonhadas e procuradas minas de ouro, que portugueses, espanhóis, holandeses e colonos se aventuraram por mais de um século a sua procura.
Todavia, assim como há lacunas sobre quem realmente descobriu ouro em São Paulo, embora alguns historiadores creditem a Afonso Sardinha tendo sido seu descobridor, as jazidas em Minas Gerais, também vivenciam a mesma questão, não se sabe ao certo quem foi ou foram os primeiros a descobrir ouro em grande quantidade, para ter proporcionado uma corrida do ouro para aquela região.
Segundo Magalhães (1978) em alguns documentos avulsos localizados no Arquivo Nacional no Rio de Janeiro, data que no ano de 1683, Garcia Rodrigues Pais, filho mais velho de Fernão Dias Pais, teria descoberto esmeraldas, após voltar a visitar os locais que seu pai teria visitado anteriormente, e neste caso teria também encontrado ouro, todavia, não existem mais fontes que corroborem a descoberta de grandes jazidas por Garcia.
Orville Derby a partir de documentos encontrados na Biblioteca Nacional, aponta que a bandeira do padre João de Faria, acompanhado de seu cunhado Antônio Gonçalves Viana, o capitão Manuel Borba Gato e Pedro de Avos, realizada por volta de 1693 ou 1694, teriam encontrado nos ribeirões do rio Grande, rio das Mortes e do Sapucaí, ouro. O problema disto é que Borba Gato estava foragido por essa época, pois havia matado D. Rodrigo Castel Branco, e não se sabe ao certo quando teria retornado, pois era procurado pela justiça, então fica a dúvida se os outros teriam aceito a ajuda de Borba Gato e encoberto seu crime?
No livro Cultura e opulência do Brasil, por suas drogas e minas, escrito por Antonil no século XVIII, diz que foi um mulato que em 1697 teria descoberto grandes jazidas de ouro. Outro relato, aponta que foi na bandeira de Antônio Rodrigues de Arzão em 1693, a qual partiu de Taubaté em São Paulo, com cerca de 50 brancos e alguns índios, adentrou o sertão, indo descobrir ouro no rio da Casca, porém ele e seus homens foram atacados por índios, e tiveram que se retirar para Vitória no Espírito Santo. Arzão teria mostrado ao capitão-mor da província o ouro que descobrira, então retornou para Taubaté onde veio a falecer pouco tempo depois, mas segundo consta os relatos, ele teria dito para o seu concunhado Bartolomeu Bueno de Siqueira, a localização das jazidas.
"A tradição em parta amparada por provas oficiais, evidencia Bartolomeu Bueno de Siqueira, acompanhado, entre outros, por seu cunhado Manuel Camargo, por seu sobrinho João Lopes de Camargo, por Miguel de Almeida e Antônio de Almeida, seus imediatos e auxiliares na bandeira, retomou, em meados de 1694, a trilha que lhe indigitara o concunhado, encontrando indícios de ouro na Itaverava e depois chegando até à margem do rio da Velhas, donde retornou à serra aurífera. Pela mesma época, ainda partira de Taubaté, com a capitão Manuel Garcia, o Velho, e outros sertanistas, o coronel Fernandes Furtado de Mendonça, que também se dirigiu para as bandas do rio Doce, para a chamada 'Casa da Casca', sendo esta leva mais destinada à procura de índio do que de metais". (MAGALHÃES, 1978, p. 133).
Embora Antônio Rodrigues de Arzão tenha descoberto ouro em 1693, a história concede a seu concunhado a oficialização desta descoberta, pois ainda em 1694, o governador da repartição sul (aquele que administrava questões gerais das capitanias do sul: Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul), na época Artur de Sá e Meneses, que também era capitão-mor do Rio de Janeiro, foi avisado da descoberta da bandeira de Siqueira.
Artur de Sá e Meneses enviou uma carta para o rei D. Pedro II, avisando da descoberta de várias jazidas de ouro pelo sertões de Catagueses, como era conhecida a região que viria a ser parte de Minas Gerais. Em novas cartas enviadas em 1697 e em 1698, avisava-se ao monarca que novas jazidas de ouro haviam sido encontradas. A corrida do ouro havia se iniciado. Em 1697, Artur de Sá e Meneses foi visitar pessoalmente as minas de ouro, que já contavam com acampamentos improvisados e pequenos povoados desengonçados que se formavam nos arredores. No ano seguinte ele enviou uma nova carta ao rei, dizendo o seguinte:
Artur de Sá e Meneses enviou uma carta para o rei D. Pedro II, avisando da descoberta de várias jazidas de ouro pelo sertões de Catagueses, como era conhecida a região que viria a ser parte de Minas Gerais. Em novas cartas enviadas em 1697 e em 1698, avisava-se ao monarca que novas jazidas de ouro haviam sido encontradas. A corrida do ouro havia se iniciado. Em 1697, Artur de Sá e Meneses foi visitar pessoalmente as minas de ouro, que já contavam com acampamentos improvisados e pequenos povoados desengonçados que se formavam nos arredores. No ano seguinte ele enviou uma nova carta ao rei, dizendo o seguinte:
"Minas de Taubaté são as chamadas dos Cathaguazes, q. distão de Taubaté mais de sem legoas, continuanmte. se vão descobrindo novos ribeiros de grandissimo valimto, como já tenho dado conta a V. Magde...; o ouro he excellentissimo, e dizem os ourives qe. he de vinte e tres quilates". (MAGALHÃES, 1978, p. 136).
Em 24 de junho de 1698, a bandeira de Antônio Dias de Oliveira descobriu uma grande jazida aurífera, a qual ele batizou de "Ouro Preto", pois o mineral ali encontrado, estava coberto por uma fina camada de paládio, que o enegrecia. Em 1711, o povoado que se formou ao redor destas jazidas foi elevado a condição de vila, passando a se chamar Vila Rica, depois rebatizada para Vila Rica do Ouro Preto, e hoje Ouro Preto.
A bandeira do padre João Faria chegou a localidade no ano seguinte e descobriu novas jazidas. Ouro Preto em pouco tempo se tornava um dos principais polos auríferos. Ainda neste ano, Manuel da Borba Gato para receber o salvo-conduto de seu crime, foi nomeado pelo governador Artur Sá e Meneses, "tenente-general das jornada de descobrimento da prata de Sabarabuasu", como ouro havia sido encontrado, o governador acreditava que a prata também deveria existir, embora Borba Gato nunca chegou a descobri-la.
A bandeira do padre João Faria chegou a localidade no ano seguinte e descobriu novas jazidas. Ouro Preto em pouco tempo se tornava um dos principais polos auríferos. Ainda neste ano, Manuel da Borba Gato para receber o salvo-conduto de seu crime, foi nomeado pelo governador Artur Sá e Meneses, "tenente-general das jornada de descobrimento da prata de Sabarabuasu", como ouro havia sido encontrado, o governador acreditava que a prata também deveria existir, embora Borba Gato nunca chegou a descobri-la.
Fotografia da rua dos Paulistas em Ouro Preto, Minas Gerais. |
A medida que novas bandeiras descobriam jazidas pelos sertões de cataquases, mais e mais pessoas iam chegando para explorar a região. Em 1695 e 1696, houvera um surto de fome, algo que se repetiu em 1700 e 1701, pois naquelas terras não haviam cidades, vilas, fazendas de gado ou plantações, logo muitas pessoas simplesmente se arriscaram a chegar ali, e algumas acabaram morrendo no caminho; além disso, a escassez de alimentos gerou brigas nos acampamentos, povoados e arraiais que se formavam, levando a vários conflitos, ao ponto que em 1701, o governador Artur Sá e Meneses proibiu que rotas entre as minas fossem feitas para se ligar a Salvador, como forma de inibir a grande leva de pessoas que para lá se dirigiam e geravam tumultos. No entanto, o governador não proibiu que fazendeiros levassem suas cabeças de gado para serem vendidas na região mineira.
"Cada ano, vêm nas frotas quantidade de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas recôncavas e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa". (VOLPATO, 1986, p. 93 apud ANTONIL).
"Cada ano, vêm nas frotas quantidade de portugueses e de estrangeiros, para passarem às minas. Das cidades, vilas recôncavas e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento nem casa". (VOLPATO, 1986, p. 93 apud ANTONIL).
O problema é que como aponta Taunay (1975), o gado que era vendido na região mineradora, era vendido a um preço extorsivo e as vezes chegava a ser dez vezes mais caro do que fosse vendido em qualquer outra região. Além disso, os fazendeiros e outros mercadores só aceitavam pagamento em ouro, ele não aceitavam o dinheiro normal, os réis. Daí muitos mercadores enriquecerem, ao ponto de montar mercados na região, e ao mesmo tempo garantirem o monopólio sobre aquelas terras.
Mas enquanto esse problemas de abastecimento iam sendo resolvidos por ações do governo colonial ou por interesse de particulares, pois rotas comerciais foram abertas pela Bahia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, e posteriormente do Rio Grande do Sul (neste caso, a província de mesmo nome, compreendia o que hoje é o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul).
Por volta de 1701, Manuel da Borba Gato pensou ter encontrado Sabarabuaçu, embora não tenha encontrado prata ou esmeraldas, descobriu ouro, numa região quase no centro de Minas Gerais, que os indígenas chamavam de Sabará, a qual deu o nome a um arraial na localidade que originou uma vila de mesmo nome. Naquela região, posteriormente o Anhaguera II, e seus futuros genros João Leite da Silva Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado, levantaram o arraial chamado São João do Pará, depois batizado de Curral del Rei, o qual em 1815 se tornou a cidade de Belo Horizonte, atual capital de Minas Gerais. É creditado a João Leite, a fundação do Curral del Rei que originou Belo Horizonte.
João Leite da Silva Ortiz, bandeirante que fundou o arraial de Curral del Rei, núcleo que originaria Belo Horizonte. |
No sul de Minas nas redondezas do rio das Mortes, Tomé Portes-del-Rei deu início a ocupação daquela localidade por volta de 1701, anos depois surgiu o Arraial Novo do Rio das Mortes, erigido por exploradores paulistas entre 1704 ou 1705. O local foi palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709) como será visto logo a frente. Em 1713, o arraial se tornou a Vila de São João del-Rei, a qual viria a ser uma das mais importantes vilas de Minas Gerais durante o ciclo do ouro, junto com Vila Rica e Sabará.
Ainda no sul, pela região de Sabará, na chamada região de Caeté, devido ao rio homônimo que passa por lá, novas jazidas foram descobertas, o que levou ao surgimento de novos arraiais, como o de Vila Nova da Rainha, erigido em 1702 por Leonardo Nardes de Arzão. Uma leva de paulistas, capixabas e baianos se estabeleceram na região, onde começaram a surgir outros núcleos populacionais e posteriormente isso contribuiria para aumentar conflitos pela posse e exploração do ouro, entre os paulistas e os demais membros de outras capitanias, que por eles eram chamados de emboabas.
A chamada Guerra dos Emboabas travada pelo controle de Minas, entre 1707 e 1709, tendo Manuel da Borba Gato um dos principais representantes dos paulistas contra os emboabas (termo depreciativo que os paulistas usavam para se referir aos demais colonos de outras capitanias, aos portugueses e outros estrangeiros), se desenrolou pelo simples motivo que os paulistas queriam que o rei reconhecesse que devido a árduo trabalho que eles realizaram com suas bandeiras, detivessem monopólio da exploração aurífera, não permitindo que outros ali fossem explorar as minas de ouro.
Os paulistas acabaram perdendo a causa, e a Coroa decidiu criar uma nova capitania, batizando de Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, criada em 3 de dezembro de 1709, embora o nome de São Paulo não significava que os paulistas passaram a controlá-la, pelo contrário, a Capitania de São Vicente é que foi englobada a nova capitania.
Os paulistas acabaram perdendo a causa, e a Coroa decidiu criar uma nova capitania, batizando de Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, criada em 3 de dezembro de 1709, embora o nome de São Paulo não significava que os paulistas passaram a controlá-la, pelo contrário, a Capitania de São Vicente é que foi englobada a nova capitania.
Com o surgimento da nova capitania, o governo começou a reconhecer arraiais e povoados como vilas, e escolheu Vila Rica (hoje Ouro Preto) para ser sua capital. Um corpo administrativo foi sendo imposto a região para ajudar a evitar conflitos, fiscalizar os problemas, evitar contrabando de ouro, mercados foram estruturados; prefeitos, juízes, ouvidores, etc., foram designados para assumir a administração das vilas; casas de fundição começaram a serem erguidas, para transformar o outro bruto em barras e levá-los para Portugal. Em 1720, o rei decidiu fazer uma nova mudança, criou a Capitania de Minas Gerais e a Capitania de São Paulo, a fim de se evitar problemas entre as duas capitanias.
Por volta de 1725 ou 1728, o bandeirante Sebastião Leme do Prado teria descoberto perto do rio Jequitinhonha, jazidas de diamantes. Todavia, alguns relatos dizem que foi um cônego que descobriu os diamantes, outros apontam que foi o português Bernado da Fonseca Lobo quem descobrira as pedras, tendo enviado amostras em 1728 ou 1729 ao rei, o qual reconheceu seu feito em uma carta em 1730, lhe dando os parabéns pela descoberta das joias na região do Serro, que mais tarde ficaria conhecida como Diamantina. Até o final do século outras minas seriam descobertas por Minas Gerais, incluindo minas de esmeraldas. Além disso, alguns bandeirantes partiram para Goiás e Mato Grosso em busca de índios para trabalhar nas minas e descobrir novas jazidas, como vimos no caso de Anhaguera II.
Mapa mostrando as principais áreas de mineração no século XVIII. |
De acordo com Magalhães (1978) as bandeiras que pertenciam ao movimento do bandeirismo surgido na segunda metade do século XVI, haviam se findado no final do século XVII. Volpato (1986) diz que embora ocorreram bandeiras durante o século XVIII, essas já não tinham a mesma organização propriamente do que as bandeiras dos dois séculos anteriores, que o século XVII foi o auge do bandeirismo, o qual lentamente foi ofuscado pela descoberta do ouro. Além disso, ela lembra que nem todos as expedições que ocorreram durante o século XVIII merecem ser chamadas de bandeiras, pois as bandeiras foram um movimento puramente de origem paulista, logo, alguns cronistas chegaram a chamar de bandeira expedições particulares organizadas por habitantes de outras capitanias.
Para Diogo de Vasconcelos autor de História média de Minas Gerais, ele diz que as últimas bandeiras realizadas ocorreram nos sertões do rio Doce, em Minas, onde em 1746 os bandeirantes Manuel Chassim Monteiro e Sebastião Pinto Cabral descobriram algumas pepitas de ouro. Por fim, a última bandeira que ele considera oficial, foi a do guarda-mor João Pessanha Falcão ocorrida em 1758, onde na companhia de poucos, exploraram o rio Vermelho, o Saçuí Grande, o Saçuí Pequeno e o rio Doce, e nas fraldas da Serra das Correntes ele fundou o povoado de Pessanha, hoje cidade de mesmo nome. Assim se findava o ciclo das bandeiras que durou quase um século e meio.
"A partir da segunda metade do século XVIII, a Capitania de São Paulo através de lavoura canavieira conseguiu superar sua condição de deficiência econômica e inserir-se definitivamente na economia de mercado. Por essa época, o movimento bandeirista já estava desativado. O ápice da sociedade paulista era então composto por comerciantes e latifundiários. O grande cabo-de-tropa, senhor de milhares de índios flecheiros, já tinha ficado para trás, era personagem do passado". (VOLPATO, 1986, p. 98).
NOTA: Sabará, hoje cidade de Minas, no passado ficou sendo conhecida algum tempo pelo nome de Sabarabuçu, em referência ao equívoco de Manuel da Borba Gato acreditar que as lendárias minas de prata e esmeraldas estariam ali.
NOTA 2: Domingos Jorge Velho não conseguiu ganhar parte da recompensa acordada em seu contrato para destruir Palmares, no entanto, ele conseguiu terras na Paraíba, cedidas pelo capitão-mor paraibano. Domingos passou seus últimos anos morando em Piancó, onde veio a falecer.
NOTA 3: Hoje a Colônia do Santíssimo Sacramento, é uma cidade uruguaia, no entanto entre 1817 a 1828, o Uruguai era a província Cisplatina, tendo sido anexada pelo rei D. João VI ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e mantido por D. Pedro I como parte do Império do Brasil.
NOTA 4: O ciclo do ouro começou a frear sua pujança de riquezas a partir de 1770, embora jazidas ainda foram descobertas em Minas até o final do século, e em 1821 ou 1822 foi descoberto diamantes na Bahia, como algumas jazidas auríferas também, embora efêmeras.
NOTA 5: Taubaté foi durante o ciclo mineiro, uma das mais importantes vilas de São Paulo, pois muitos bandeirantes haviam partido dali para explorar Minas Gerais, além disso, foi a primeira vila paulistana a receber uma casa de fundição.
NOTA 6: A Vila do Serro de quem fazia parte a futura cidade de Diamantina, foi um local que ficou famoso, pois foi onde morou Chica da Silva (ca. 1732-1796), ex-escrava que se tornou esposa do rico comerciante João Fernandes de Oliveira.
NOTA 7: Não foi mencionado aqui, mas alguns bandeirantes chegaram a lutar contra os holandeses em 1624, quando estes invadiram Salvador, e depois entre 1630-1637 e 1644-1654, na tentativa de expulsar os holandeses.
NOTA 8: Para quem tiver mais interesse acerca da bandeiras, sugiro procurar o vasto trabalho de Afonso E. Taunay, História Geral das Bandeiras Paulistas, do qual tive apenas acesso a um dos onze volumes.
NOTA 9: O Tratado de Madrid de 1750, tivera como objetivo Portugal e Espanha assegurarem os limites de seus territórios, os portugueses alegaram que as terras antes pertencentes aos espanhóis, já haviam sendo ocupadas há vários pelos seus colonos, logo, reivindicando o direito de "uti possidetis" (a terra é de quem a ocupa), o Brasil alcançou naquela época uma forma bem parecida a de hoje, graças as entradas e as bandeiras.
NOTA 10: Manuel da Borba Gato embora tenha ficado alguns anos foragido e ter participado ativamente da Guerra dos Emboabas, mesmo assim mantivera prestígio entre os políticos, recebendo até mesmo sesmarias, e criando fazendas de gado em Minas.
NOTA 11: O epíteto de "Anhanguera" compartilhado por Bartolomeu Bueno da Silva, pai e filho, é uma palavra de origem tupi, que referia-se a um espírito guardião que vagava pelas florestas sobre muitas formas, protegendo os animais. Neste caso, por sua ligação a caça e a exploração, os dois bandeirantes receberam tal epíteto, embora que os jesuítas identificaram o anhangá ou anhanguera com o demônio.
NOTA 12: Taunay conta que no século XVII houveram cinco Antonio Raposo, logo por muito tempo confundiu-se estes quatro com Antonio Raposo Tavares, apenas no século XX é que conseguiu separar suas viagens das bandeiras de Tavares.
NOTA 13: Martim Afonso de Sousa é mencionado em Os Lusíadas, onde Camões o elogia pelo seu governo na Índia e pelo seus feitos no Brasil.
Referências Bibliográficas:
Links relacionados:
Os Bandeirantes
A União Ibérica
A fortaleza negra
O Conde Maurício de Nassau
Para Diogo de Vasconcelos autor de História média de Minas Gerais, ele diz que as últimas bandeiras realizadas ocorreram nos sertões do rio Doce, em Minas, onde em 1746 os bandeirantes Manuel Chassim Monteiro e Sebastião Pinto Cabral descobriram algumas pepitas de ouro. Por fim, a última bandeira que ele considera oficial, foi a do guarda-mor João Pessanha Falcão ocorrida em 1758, onde na companhia de poucos, exploraram o rio Vermelho, o Saçuí Grande, o Saçuí Pequeno e o rio Doce, e nas fraldas da Serra das Correntes ele fundou o povoado de Pessanha, hoje cidade de mesmo nome. Assim se findava o ciclo das bandeiras que durou quase um século e meio.
"A partir da segunda metade do século XVIII, a Capitania de São Paulo através de lavoura canavieira conseguiu superar sua condição de deficiência econômica e inserir-se definitivamente na economia de mercado. Por essa época, o movimento bandeirista já estava desativado. O ápice da sociedade paulista era então composto por comerciantes e latifundiários. O grande cabo-de-tropa, senhor de milhares de índios flecheiros, já tinha ficado para trás, era personagem do passado". (VOLPATO, 1986, p. 98).
NOTA: Sabará, hoje cidade de Minas, no passado ficou sendo conhecida algum tempo pelo nome de Sabarabuçu, em referência ao equívoco de Manuel da Borba Gato acreditar que as lendárias minas de prata e esmeraldas estariam ali.
NOTA 2: Domingos Jorge Velho não conseguiu ganhar parte da recompensa acordada em seu contrato para destruir Palmares, no entanto, ele conseguiu terras na Paraíba, cedidas pelo capitão-mor paraibano. Domingos passou seus últimos anos morando em Piancó, onde veio a falecer.
NOTA 3: Hoje a Colônia do Santíssimo Sacramento, é uma cidade uruguaia, no entanto entre 1817 a 1828, o Uruguai era a província Cisplatina, tendo sido anexada pelo rei D. João VI ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e mantido por D. Pedro I como parte do Império do Brasil.
NOTA 4: O ciclo do ouro começou a frear sua pujança de riquezas a partir de 1770, embora jazidas ainda foram descobertas em Minas até o final do século, e em 1821 ou 1822 foi descoberto diamantes na Bahia, como algumas jazidas auríferas também, embora efêmeras.
NOTA 5: Taubaté foi durante o ciclo mineiro, uma das mais importantes vilas de São Paulo, pois muitos bandeirantes haviam partido dali para explorar Minas Gerais, além disso, foi a primeira vila paulistana a receber uma casa de fundição.
NOTA 6: A Vila do Serro de quem fazia parte a futura cidade de Diamantina, foi um local que ficou famoso, pois foi onde morou Chica da Silva (ca. 1732-1796), ex-escrava que se tornou esposa do rico comerciante João Fernandes de Oliveira.
NOTA 7: Não foi mencionado aqui, mas alguns bandeirantes chegaram a lutar contra os holandeses em 1624, quando estes invadiram Salvador, e depois entre 1630-1637 e 1644-1654, na tentativa de expulsar os holandeses.
NOTA 8: Para quem tiver mais interesse acerca da bandeiras, sugiro procurar o vasto trabalho de Afonso E. Taunay, História Geral das Bandeiras Paulistas, do qual tive apenas acesso a um dos onze volumes.
NOTA 9: O Tratado de Madrid de 1750, tivera como objetivo Portugal e Espanha assegurarem os limites de seus territórios, os portugueses alegaram que as terras antes pertencentes aos espanhóis, já haviam sendo ocupadas há vários pelos seus colonos, logo, reivindicando o direito de "uti possidetis" (a terra é de quem a ocupa), o Brasil alcançou naquela época uma forma bem parecida a de hoje, graças as entradas e as bandeiras.
NOTA 10: Manuel da Borba Gato embora tenha ficado alguns anos foragido e ter participado ativamente da Guerra dos Emboabas, mesmo assim mantivera prestígio entre os políticos, recebendo até mesmo sesmarias, e criando fazendas de gado em Minas.
NOTA 11: O epíteto de "Anhanguera" compartilhado por Bartolomeu Bueno da Silva, pai e filho, é uma palavra de origem tupi, que referia-se a um espírito guardião que vagava pelas florestas sobre muitas formas, protegendo os animais. Neste caso, por sua ligação a caça e a exploração, os dois bandeirantes receberam tal epíteto, embora que os jesuítas identificaram o anhangá ou anhanguera com o demônio.
NOTA 12: Taunay conta que no século XVII houveram cinco Antonio Raposo, logo por muito tempo confundiu-se estes quatro com Antonio Raposo Tavares, apenas no século XX é que conseguiu separar suas viagens das bandeiras de Tavares.
NOTA 13: Martim Afonso de Sousa é mencionado em Os Lusíadas, onde Camões o elogia pelo seu governo na Índia e pelo seus feitos no Brasil.
Referências Bibliográficas:
MAGALHÃES, Basílio de. Expansão geográfica do Brasil colonial. 4a edição, São Paulo, Nacional, 1978. (Coleção Brasiliana - volume 45).
TAUNAY, Affonso de E. História das Bandeiras Paulistas - tomo I. 3a edição, São Paulo, Melhoramentos, 1975.
VOLPATO, Luiza. Entradas e Bandeiras. 2a
edição, São Paulo, Global, 1986. (Coleção História Popular - 2).
DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo:
verso e reverso. 2a edição, São Paulo, Brasiliense, 1984.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo. Cartas de Américo Vespúcio, na parte que respeita as suas três viagens ao Brasil. Revista do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil, Rio de Janeiro, tomo LXI, p. 9, 1878).
Os Bandeirantes
A União Ibérica
A fortaleza negra
O Conde Maurício de Nassau
Conteúdo ótimo e escrito com bastante clareza. Muito obrigada por compartilhar. Mesmo.
ResponderExcluirObrigado, Marina Gomes. Ganhei um livro sobre o assunto, mais ainda não tive tempo para me dedicar a sua leitura, para poder atualizar o texto. De qualquer forma, fico contente que ele dessa forma esteja agradando os leitores.
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