"É meu dever, com a ajuda de Deus, defender à mão armada a santa Igreja de Cristo contra as incursões de pagãos e as devastações dos infiéis".
Carlos Magno
Carlos Magno ou Carlos I, o Grande foi um notório rei medieval conhecido por sua devoção a Igreja Católica, sua energia, bravura, força, sua alta estatura e seu pensamento político a frente de seu tempo. Seu apego a família e aos filhos, sua nobreza e cavalheirismo (músicas, poemas e lendas foram criadas para exaltar o rei), sua decisão de livrar a Europa da ameaça dos muçulmanos (chamados de infiéis) e de povos pagãos. Carlos Magno, expandiu os domínios do reino de seu pai, firmou uma aliança profunda com o Vaticano, tornado-se guardião deste; combateu os Saxões e o Ávaros e impôs o Cristianismo a estes. Atento a cultura e preocupado com a ordem, as leis e a educação, empreendeu reformas administrativas que seriam consideradas um ponta-pé para reformas educacionais medievais vistas nos séculos seguintes. Carlos reinou por longos anos, e chegou mesmo a tentar reviver o Império Romano, através do Sacro Império Romano-Germânico que ficaria conhecido como o Primeiro Reich. Carlos Magno fora um verdadeiro rei ainda no início do feudalismo europeu da Idade Média. O historiador inglês Edward Gibbon (1737-1794) chegou a dizer que dos homens que receberam a alcunha de "Grande", Carlos Magno realmente fora um dos que merecera esta alcunha.
Antecedentes: O "Martelo" e o "Breve"
Carlos Martel |
Mapa do Reino Franco dividido entre Nêustria e Austrásia. A Aquitânia e a Baviera foram conquistadas por Pepino, o Breve e depois por Carlos Magno. |
Carlos Martel como um católico devoto, reuniu o exército franco e combateu os mouros. A estratégia franca subjugou o poderio mouro, al-Gafiqi e mais de dez mil de seus homens foram mortos na ocasião, e Carlos Martel e seu exército impediu que os infiéis se apossassem de mais terras. Depois disso, Carlos Martel expandiria sua influência sobre a Aquitânia e a Provença e outros territórios, o mesmo chegou a cogitar realizar um ataque ao califado, para libertar aquelas terras anteriormente cristãs, mas acabou morrendo antes de fazer isso. A vitória franca em 732 interrompeu a expansão moura na Europa quase que definitivamente, pois algumas regiões da Itália seriam atacadas nos séculos seguintes.
Pepino, o Breve |
Em 751, Pepino com o apoio da Corte, do povo e do Papa, destronou Childerico III, os longos cabelos do rei, que simbolizavam a Dinastia Merovíngia, foram cortados, e o ex-rei e seu filho foram enviados para mosteiros, onde passariam o resto de suas vidas. Pepino fora coroado por um bispo, reconhecido oficialmente pelo papa Zacarias. Pepino fundou a Dinastia Carolíngia.
A infância de Carlos e o legado de seu pai
Carlos Magno nasceu em 742, sendo filho de Pepino III e Berta de Laon (720-783). Quando seu pai fora coroado rei dos francos em 751, Carlos contava apenas com nove anos de idade, mas já assistira a coroação do pai, e via que seu pai agora era rei de fato. Em 754, o Papa Estêvão II querendo manter a aliança com Pepino, aliança essa forjada com o papa Zacarias, viajou para se encontrar com o rei dos francos. Fora um acontecimento sem precedentes, pois nunca um papa havia ido para aquela região.
"Pela primeira vez na história, um papa deixava Roma e cruzava os Alpes. E a Carlos, filho de Pepino, o Breve, rei dos francos, fora confiada a missão de dar as boas-vindas ao pontífice e de ser seu guia na última etapa da viagem". (BANFIELD, 1988, p. 7).
O papa acabaria aceitando o pedido de Pepino para se tornar padrinho de seus dois filhos, Carlomano e Carlos. Os dois irmãos cresceriam como sendo afilhados do papa, algo raro de se ver, principalmente para pessoas de outros países (na realidade, alguns papas eram padrinhos de parentes ou de filhos de amigos).
"Desde a mais tenra idade, o jovem príncipe aprendera a amar intensamente a Igreja, Sua mãe, rainha Bertrada, era uma mulher profundamente religiosa. E seu preceptor era o responsável por um dos maiores mosteiros da Europa. Assim, Carlos crescera cerca pelas atenções de seus padrinho e pelo alto conceito em que seu pai tinha o pontífice. Antes mesmo de lhe ser confiada a missão de receber o papa Estêvão, o príncipe já demonstrava a piedade, a dedicação e o respeito religioso que conservaria durante toda a vida. Carlos também aprendera com o pai que apoiar a Igreja significava mais do que uma simples troca de cartas e presentes. Se necessário, o rei teria de arriscar a própria vida e a de seus súditos em defesa do papa e da Igreja". (BANFIELD, 1988, p. 9).
O papa havia ido encontrar o rei dos francos, não apenas para estreitar as alianças, mas solicitar ajuda. Os lombardos, povo de origem germânica que havia ocupado o norte da Itália, fundando um reino, passou a ameaçar as terras papais, e Roma se sentia ameaçada. O papa temia que os lombardos embora fossem cristãos, ousassem conquistar Roma e suas terras. Pepino como amigo do papa e legalmente defensor da Igreja, decidiu ajudar Roma a combater os lombardos. Depois de dois anos de conflitos, os lombardos se renderam ao rei franco, mas mantiveram sua autonomia, se comprometendo a não voltar a invadir as terras papais.
Entre 752 a 768, Pepino coordenou várias batalhas para assegurar o controle da Aquitânia e da Provença, chegando a expulsar os mouros que viviam na região e consolidando seu controle sobre tais regiões, como também expandiu os domínios em outras regiões, etc. Carlos e Carlomano já durante a adolescência acompanharam os pais nestas campanhas, chegando até mesmo a participar dos conflitos. Desde os 19 anos Carlos Magno já comandava tropas. Carlos e seu irmão foram educados a serem líderes militares, homens devotos a família, ao país, a Igreja e a Deus.
Quando Pepino, o Breve faleceu em 768 aos 54 anos, ele já havia legado em testamento que seu reino fosse dividido entre os seus dois filhos mais velhos, Carlos e Carlomano, algo tradicional, pois era costume dos reis merovíngios e dos "mordomos de palácio" dividir as terras entre os filhos e não apenas ao primogênito, o problema era que nem sempre os irmãos se entendiam, e isso resultava em guerras. Carlos e Carlomano acabariam se desentendo entre si, mas antes de chegarmos nesta parte, falarei um pouco da pessoa de Carlos Magno, para depois retomar a questão de seu governo.
O rei, o pai e o homem
"Para ser um grande rei é necessário ter enorme energia e entusiamos, e sentir prazer no exercício do poder. Carlos possuía todas essas qualidades desde criança; e, às vezes, elas se manisfestavam de forma exagerada". (BANFIELD, 1988, p. 13).
Embora tenha sido príncipe, curiosamente Carlos não aprendeu a ler e nem a escrever na infância e na juventude, o mesmo começou a ser alfabetizado já na fase adulta depois que se tornou rei, pois começou a mostrar grande interesse pelo ensino. Mesmo assim, Eginardo, seu amigo e biógrafo, alega que Carlos teve dificuldades em aprender a ler e escrever.
Carlos Magno cresceu com saúde e vigor, era um homem alto tinha entre 1,90 e 1,95 de altura. Era robusto, forte e cheio de energia, o mesmo gostava de se exercitar diariamente, e tinha grande apresso para cavalgar, caçar e nadar. De fato, depois que se tornou soberano, Carlos quase todas as manhãs quando era possível, reunia a família, amigos e outros membros da Corte e saía para caçar, a fim de pegar a comida para o almoço. Sua esposa e filhas lhe acompanhavam na caçada, algo curioso, pois em grande parte da História, a caça real, era tarefa apenas dos homens, até mesmo as mulheres em alguns casos eram proibidas de assistir.
Acerca da natação, o rei gostava bastante disso, ao ponto que ordenou que construíssem piscinas em vários de seus palácios, como também incentivava sua família e amigos a nadar. Seus biógrafos contam que o rei possuía um grande apetite, gostava muito de comer carne de caça, todavia nunca fora de beber muito. Nos banquetes que fazia, ele sempre ordenava que o vinho fosse servido de forma moderada, pois não gostava da embriaguez e cobrava isso de seus familiares, amigos e súditos. Era um homem bem devoto, costumava ir a igreja todos os dias, quando não o fazia era porque estava em viagem ou no campo de guerra. Carlos acabaria se tornando amigo do Papa Adriano I.
Como pai, Carlos era um homem adorável e um pai atencioso, supervisionava a educação dos filhos e das filhas, desde a educação de boas maneiras ao que os mesmos estavam aprendendo na escola. Ele também gostava de que os filhos participassem de conversas que ele fazia com os mestres sobre diversos assuntos como: teologia, filosofia, história, política, artes, direito, astronomia, retórica, cotidiano, etc. A educação fora uma questão importante no governo de Carlos Magno como será visto mais a frente.
Além de ser um bom pai, amoroso e amigável, era descrito como um homem simples (em geral não gostava de vestir as pomposas roupas reais), enérgico e de conversa agradável, embora que as vezes se tornava temperamental, orgulhoso e enraivecido. Carlos fora um rei amado pelo seu povo, pois mostrava confiança, bom caráter, complacência e amizade. Ele gostava de conversar com seus soldados, oficiais, servos, empregados, etc. No entanto, em dados momentos era frio, severo e vingativo.
Como rei, além de ser amado pelo seu povo, era um homem que transpassava confiança e atenção para as questões políticas. Gostava de comandar seus exércitos no campo de batalha; marchava a frente das tropas, chegou mesmo a lutar ao lado de seus soldados. Sua bravura e vigor motivava os homens sempre a segui-lo, embora tenha sido derrotado algumas vezes. Carlos também procurava conter suas tropas, para que não cometessem crimes e barbaridades no ataque à cidades, vilas, fazendas, etc. Todavia, se fosse necessário usar a força, ele permitia seu uso.
Era um rei que se preocupava com a gerência do país, estava atento as questões políticas, econômicas, sociais e legais. O mesmo reformulou o sistema monetário, judiciário, legislativo, educacional, etc. Carlos costumava viajar pelo império a fim de averiguar as cidades, vilas, feudos, as fazendas, a produção de alimentos, manufaturas e riquezas; chegou a reformular a divisão do trabalho nas terras, algo que fora adotado pelo sistema feudal, que ainda surgia na Europa. Ordenou a construção de escolas em mosteiros e abadias; a construção de igrejas, a reforma de outras; construção de estradas, pontes, monumentos, etc. Carlos contava com o apoio de seus inspetores ou fiscais, chamados de missi dominici ("emissários do rei" em latim), os quais percorriam as províncias, cidades, vilas e feudos fiscalizando a situação local, e depois reportavam ao rei. Carlos exigia disciplina, dedicação e boa conduta de seus missi dominici.
"O rei também aprimorou também o sistema de comunicação e o comércio. Abriu muitas estradas e construiu pontes, além de manter as antigas em bom estado de conservação. Chegou até mesmo a tentar construir, embora sem sucesso, um canal ligando o Danúbio ao Reno. À medida que os vários povos componentes do reino franco entraram em contato com os outros, começaram a surgir desavenças por causa das diferentes moedas, pesos e medidas usados no comércio. Carlos estabeleceu então um sistema único de moedas e medidas, válido para todo o reino". (BANFIELD, 1988, . 49).
Carlos se casou cinco vezes. Sua primeira esposa fora Himiltrude, com quem tivera apenas um filho, chamado Pepino, o Corcunda (767-813), devido ao fato de ter nascido com uma deficiência corporal que lhe deixou corcunda. Carlos não gostava muito do filho por causa disso, e pela pessoa que se tornaria (Pepino tentaria destronar o pai posteriormente).
Carlos acabou se separando de Himiltrude, esposa que lhe fora prometida em casamento quando ainda era criança, pois era tradição dos francos os pais arranjarem os casamentos. Dois anos depois de ter casado com Himiltrude e ter se separado em 768, Carlos se casou com a princesa lombarda Desidéria, a qual também havia sido sugerida para ele, na infância por motivos políticos, no intuito de se aproximar os dois reinos. Todavia, o temperamento de Desidéria, levou Carlos a pedir divórcio em 771. O casal não tivera filhos.
"O próprio rei queria escolher uma esposa que lhe agradasse. Finalmente Carlos Pôde realizar esse desejo: sua terceira esposa, Hildegarde, era uma mulher a quem amaria de verdade. Tinha ela apenas 13 anos quando se casou com o rei, e manteve sempre o seu jeito tranquilo e manso da meninice. A maior felicidade da jovem era cuidar da família e acompanhar o marido em suas frequentes viagens. Hildegarde nunca interferia nos assuntos de Estado, contentando-se em deixá-los nas mãos do rei. E possuía uma outra qualidade que deixava o marido satisfeito: era tão sadia e vigorosa quanto ele. Deu-lhe quatro filhos e cinco filhas". (BANFIELD, 1988, p. 14).
Quando Carlos Magno casou-se com Hildegarde ela tinha 13 anos e ele já era um homem com seus trinta anos, no entanto, antigamente era comum que as mulheres casassem cedo. Todavia, Carlos se casou com Hildergade que era uma princesa da Alemanha em 771, e permaneceram casados até 784, quando a mesma falecera. Os filhos que ele tivera com Hildegarde se tornariam seus herdeiros ao trono, pois Pepino, o Corcunda embora fosse o primogênito, fora lhe renegado o trono depois de sua tentativa de usurpar o poder.
Os nove filhos que tivera com Hildegarde foram:
Os anos de regência ao lado do irmão Carlomano I (768-771)
Até aqui apresentei brevemente alguns aspectos da pessoa de Carlos Magno, mas para melhor entendermos seu comportamento e caráter devemos analisar seus feitos e seu governo.
Com a morte de Pepino, o Breve em 768, o Reino Franco fora dividido como de costume entre os herdeiros, logo, Carlos e seu irmão Carlomano. Carlos possuía interesse em governar, porém seu irmão não era muito chegado ao governo, a política, e isso gerou atrito e desentendimento entre os dois governantes, pois, Carlos acusava que o relapso do irmão era a causa de problemas políticos, econômicos, e sociais que tomavam parte do reino.
Ainda no mesmo ano da morte de seu pai, a Aquitânia se rebelou contra o domínios dos dois irmãos, Carlos tratou de imediatamente conter a rebelião, o mesmo esperou a ajuda do irmão, mas está nunca chegou, pois Carlomano nunca enviou tropas para auxiliar o irmão.
"Mas Carlomano era um jovem de caráter fraco e vacilante, que invejava a capacidade de liderança do irmãos mais velho. Não mandou auxílio algum, e Carlos se viu forçado a enfrentar os rebeldes sozinho. Apesar das condições adversas, o jovem e corajoso rei, cheio de audácia, debelou a revolta em apenas dois meses". (BANFIELD, 1988, p. 13-14).
Esperava-se que uma briga entre os irmãos se iniciassem, mas isso felizmente não ocorreu. Quatro anos depois, subitamente Carlomano morrera em 771. Tradicionalmente, suas terras deveriam ser repartidas para seus dois filhos que tivera com sua esposa Gerberge, porém, Carlos Magno neste momento fora orgulho e impetuoso. Usurpou as terras do irmão para si. Gerberge fugiu com seus dois filhos, indo se exilar na Lombardia. Carlos Magno se tornara senhor de todo o Reino Franco, não possuía o fraco irmão para dividir o trono e se afastara de seus sobrinhos que eram apenas crianças.
O início do reinado solo: Anos de luta
"Aos 30 anos, feliz no casamento e dominando todo o reino franco, Carlos começou a cuidar dos problemas fronteiriços com os saxões. Também um povo germânico como os francos, os saxões eram altos, louros e fortes. Mas, ao contrário da maioria de outras tribos germânicas, os saxões quase não tiveram contato com os romanos e não sofreram, portanto, sua influência cultural. Eram conhecidos por seu caráter pagão e guerreiro, e por sua coragem em combate. As terras dos saxões faziam fronteira com o reino dos francos ao lestem, e os dois povos lutavam entre si havia séculos". (BANFIELD, 1988, p. 15).
Durante o governo de Pepino, o Breve o mesmo conseguira manter a paz com a Saxônia por longos anos, algo que Carlos e seu irmão também aproveitaram por algum tempo, mas em 772, os saxões voltaram a se rebelar, e nos anos seguintes, Carlos teria que enfrentá-los várias vezes, para assegurar a paz com a Saxônia como também impor o cristianismo a força, e a vassalagem aos nobres saxões.
"A primeira campanha contra os saxões ocorreu quando estes incendiaram uma igreja franca. Era o pretexto que Carlos esperava: estava ansioso para mostrar a qualidade de seus soldados e sabia que só um grande desafio faria nascer entre seus homens um forte sentimento de união e orgulho. O aspecto religioso do conflito que se avizinhava era igualmente importante, pois o rei sonhava converter os saxões ao cristianismo". (BANFIELD, 1988, p. 15).
Naquele primeiro momento, Carlos liderou um pequeno exército em direção ao norte, em direção a fronteira com a Saxônia. Deve-se lembrar que nesta época os francos não possuíam um exército profissional e fixo, fora com Carlos Magno, que o exército começou a se profissionalizar e se tornar regular, pois ao longo de seu reinado de 45 anos, Carlos Magno empreendeu 53 expedições militares.
O primeiro ataque a Saxônia (a qual ficava localizada no que hoje e parte da Alemanha) fora rápido e mais para causar impacto. A tropa de saxões que era pequena fora eliminada, e Carlos ordenou que o Irminsur, um grande tronco de árvore utilizado como um totem na veneração de um dos deuses pagãos dos saxões fora destruído. Carlos meio que realizou uma vingança neste ponto. Os saxões havia incendiado uma igreja, agora ele se vingava destruindo o totem deles. A tribo rebelde se rendeu naquele momento, mas devemos ter em mente que a Saxônia era povoada por várias tribos, governadas por clãs, logo, os ataques que ocorreram, foram mobilizados por certas tribos e não por toda a nação. Com a vitória sobre os saxões, Carlos retornou para casa a tempo de ver seu filho Carlos, o Jovem nascer, porém, o momento de paz e felicidade seria em breve nublado por uma nova ameaça, agora vinda do sul. O então rei da Lombardia Desidério, decidira vingar a afronta causada por Carlos, ao se separar de sua filha, a princesa Desidéria, a qual havia sido a segunda esposa do rei franco. Além disso, Desidério havia proposto o casamento de Carlos e Desidéria, ainda com Pepino, como forma de fomentar uma aliança entre os dois reinos, mas com este divórcio, o rei lombardo considerou isso uma ofensa.
"Logo a seguir, porém, surgiram novos problemas provocados em parte por um dos casamentos anteriores do rei. Sua união com a princesa lombarda fazia parte do projeto do rei Desidério de controlar o poder de Pepino. Tanto quanto seus antecessores, Desidério era um homem ambicioso. Jamais entregara ao papa a totalidade das terras que os lombardos prometeram devolver e pretendia não só manter intacto o seu território, mas também aumentá-lo". (BANFIELD, 1988, p. 15).
Além disso, havia o fato de que sua cunhada e seus dois sobrinhos estavam exilados na Lombardia, e a mesma teria incentivado o rei Desidério a se rebelar, pois considerava Carlos um usurpador do direito de seus filhos. Porém, a grande questão que levou Carlos a atacar o Reino Lombardo, não fora por ressentimentos de sua ex-esposa e de sua cunhada, mas sim, a pedido do papa, pois os lombardo ameaçavam tomar algumas das terras papais, e Carlos como se considerava um defensor da Igreja, partiu para ajudar o papa.
Em poucos meses ele conseguiu tomar grande parte do Reino Lombardo. Seu exército forte e disciplinado fora conquistando uma a uma as cidades inimigas, até cercar a capital, Pavia, onde o rei se encontrava. Pavia fora bem guarnecida de soldados e bem abastecida de suprimentos, Carlos optou em não forçar o cerco, mas manter a cidade sitiada, até que os suprimentos se esgotassem o o rei se rende-se. Era o ano de 773, então enquanto Pavia continuava a ser sitiada, Carlo reuniu parte de suas tropas e marchou para Roma, cidade que ansiava em conhecer, pois havia caravanas de peregrinos que partiam de vários cantos da Europa para visitar a Cidade Eterna de Roma.
Adriano havia subido ao trono papal em 772, era membro de uma antiga e tradicional família da aristocracia romana (muito papas foram romanos, e vieram das importantes famílias romanas e italianas). Era descrito como um homem atencioso, cortês; tinha um caráter forte e correto; gostava de artes, de cultura, de história, era clemente e disciplinado, e um homem inteligente. Características que o rei admirava e que levaram ambos a se tornarem amigos.
Depois de passar alguns dias em Roma, usufruindo da amigável companhia do papa e conhecendo a antiga capital do Império Romano, Carlos retornou para Pavia, a qual após nove meses de cerco, se rendera. No passado os lombardos juraram paz ao rei Pepino, o Breve, mas Carlos não estava interessado nesta trégua, ele queria uma paz duradoura, então exilou o rei Desidério e sua família, e proclamou-se rei dos lombardos em 774. A Lombardia agora fazia parte permanentemente do Reino Franco. Futuramente, Carlos nomearia seu filho Pepino, como rei da Itália, pois o mesmo ficaria responsável por governar os domínios na península.
"Após a conquista, o papa Adriano manifestou o desejo de anexar a seus domínios algumas terras dos lombardos. Carlos atendeu ao pedido generosamente, ansioso por agradar o novo amigo, o que fez com que os laços entre a Igreja e o rei franco se tornassem ainda mais fortes". (BANFIELD, 1988, p. 18).
Terminada a conquista da Lombardia, Carlos retornou para casa, naquele momento sua filha Adelaide que ainda era um bebê, havia falecido. E o rei estava triste e queria reencontrar sua esposa Hildegarde. Porém, o luto duraria pouco. Na mesma época que lhe chegaram notícias que os saxões voltaram a atacar. Dessa vez, algumas tribos haviam se unido, e estavam sendo lideradas por um homem chamado Widukind. Widukind causaria problemas para Carlos por vários anos.
"Carlos resolveu agir imediatamente. No início de 775, reuniu um poderoso exército e partiu para a Saxônia. A velocidade do exército franco pegou o inimigo de surpresa: os soldados de Carlos tomaram o forte de Sigiburgo em um único assalto. Os saxões utilizavam a tática de guerrilha, não se comparando nas batalhas convencionais ao exército bem organizado dos francos: a cavalaria partia para cima dos inimigos, seguida por uma muralha humana de arqueiros e pela infantaria, armada com lanças. Os francos obtiveram vitórias sucessivas, e perseguiram os saxões durante dois anos seguidos. A cada vitória se seguia uma conversão em massa dos vencidos. Muitos foram forçados ao batismo - nesta fase de sua vida, Carlos ainda não aprendera que não é a força que promove a verdadeira conversão religiosa". (BANFIELD, 1988, p. 18).
Carlos não era um homem cruel como outros soberanos da História, mas sua convicção de espalhar a fé cristã, o levou a agir de forma impetuosa e arrogante. Ao longo dos anos ele ordenou o batismo a força de milhares de saxões, chegando os ameaçar de morte. Apenas anos depois, é que ele viria que seus atos foram um erro.
Em 777, Widikund após ter sido derrotado várias vezes, desistiu de continuar a luta e partiu para a Dinamarca onde ganhou asilo do rei dinamarquês. Carlos tornou a Saxônia um Estado vassalo do Reino Franco, fazendo vários senhores saxões jurarem vassalagem, embora que o mesmo não conseguira convencer todas as tribos saxãs a reconhecer sua autoridade. Ainda no mesmo ano, ele ordenou a construção de uma grande fortaleza próxima a cidade de Paderborn na Saxônia, hoje na Alemanha. No mesmo ano, ele realizou a assembleia anual dos francos.
"Para Carlos, esse foi um momento de grande triunfo. Parecia que nada poderia detê-lo. Acabara definitivamente com a ameaça lombarda ao papa, algo que nem seu pai conseguira fazer, e conquistara para Igreja imensos territórios e milhares de almas, dentre as mais persistentes pagãs da Europa. Tudo parecia indicar que seus feitos agradavam a Deus". (BANFIELD, 1988, p. 19).
Um proposta tentadora: uma derrota amarga (777-778)
Ainda no ano de 777 durante a assembleia, o rei recebeu uma comitiva de mouros enviados pelo governador de Barcelona, o qual era fiel ao califa de Bagdá, o soberano oficial dos Estados árabes. O governador de Barcelona era contra a ideia do emir de Córdoba de romper com a autoridade do califa, logo, o mesmo partira para o Reino Franco, a fim de pedir ajuda do poderoso rei franco. Motivado pelo orgulho e a vaidade de empreender novas conquistas, sob a ideia de que em caso de vitória, o governador de Barcelona lhe cederia cidades e terras, e ao mesmo tempo, tendo em mente tentar libertar a Ibéria da influência da fé islâmica, Carlos ordenou que seu exército voltasse a ser reunido e partiu para a Espanha. Carlos pretendia se igualar ou superar seu avô Carlos Martel que em 732 havia derrotado os mouros em Poitiers, mas dessa vez, as possibilidades assim como as dificuldades eram maiores, mas ele não deixara se assustar. Seu caráter forte e determinado, o impeliu a aceitar a proposta de aliança com os mouros, para ironicamente ir derrotar outros mouros.
Durante vários meses do ano de 778, Carlos Magno liderou suas campanhas pela Espanha tendo conquistado várias cidades, mas para isso perdera muitos de seus homens, pois o apoio que aguardara de seus aliados mouros não veio, e o mesmo acreditava que os cristãos que ali viviam iriam ajudá-lo, mas muitos temeram fazer parte deste conflito. Para completar, as tropas do emir era poderosas e os bascos, habitantes do norte da Espanha eram contrários aos francos, Carlo chegou a se indignar com os bascos e ordenou a destruição das muralhas da cidade de Pamplona, famosa por suas touradas.
Vendo que as chances de prosseguir com a campanha dificultavam cada vez mais, Carlos começou a cogitar abandonar a campanha, e isso se concretizou quando chegaram notícias que novos ataque dos saxões voltaram a ocorrer. Não havia nem passado um ano desde a vitória na Saxônia e uma nova rebelião eclodira pelo país. Carlos decidiu abandonar de vez a frustrada campanha na Espanha e retornar para combater os saxões. Em agosto daquele ano, enquanto o exército franco atravessava a região montanhosa de Roncesvalles, na noite de 15 de agosto, a retaguarda do exército franco fora pega de surpresa. Enormes pedras foram arremessadas morro abaixo, esmagando os soldados desavisados assim como flechas caíram sobre eles. Em meio ao caos noturno, os bascos atacaram a retaguarda, causando grande dano aos francos.
Rolando ou Hruodland como é mencionado por Eginardo, fora um cavaleiro do rei Carlos Magno, possivelmente como título de conde. O mesmo também fora prefeito da marca (território vassalo) da Bretanha (neste caso a Bretanha aqui referida não é a ilha da Grã-Bretanha), o qual na Batalha de Roncesvalles fora morto em combate. Muitos homens morreram naquela emboscada, isso obrigou Carlos a se retirar as pressas da Espanha. Rolando se tornaria um personagem lendário, pois canções e lendas seriam compostas em sua homenagem.
Retornando para o Reino Franco, Carlos soube que seu filho Lotário, irmão gêmeo de Luís, os quais haviam nascido no período que ele estava em campanha militar na Espanha, havia falecido, isso desanimou ainda mais o rei. Alguns nobres queriam que o rei trata-se imediatamente de marchar para a Saxônia para punir os saxões, pois souberam que Widikund havia regressado da Dinamarca, e voltara a incitar a rebelião contra os francos. Mas o rei, cabisbaixo pela perda do filho, pela derrota na Espanha, e por outros problemas políticos, decidiu adiar o confronto contra os saxões. Ele permitiu que os soldados voltassem para casa, para suas família, e tratou de reunir recursos para uma nova campanha, como também cuidar da administração do reino.
A vingança contra os saxões (782-785)
No ano de 782, quatro anos depois das derrotas na Espanha, Carlos havia organizado um novo e poderoso exército e agora seguia novamente a frente deste em direção ao norte, a Saxônia. Estava decidido a por um fim a estes constantes problemas. Carlos agora transpunha profunda seriedade e uma frieza nunca vista anteriormente. Seu biógrafo e amigo Eginardo, conta que Carlos havia ficado profundamente magoado com a perda de seus exército em Roncesvalles, mas aquele homem triste de quatro anos atrás, agora era um homem frio e com sede de vingança.
O primeiro confronto com o saxões se deu no monte Suntel, onde os francos foram derrotados, pois embora estivessem em maior número e mais preparados e equipados, o ego os levou a derrota. Carlos não pretendia atacar o monte naquele momento, mas seus generais ansiando por vingança, desacataram suas ordens e partiram a luta. Milhares morreram na batalha, o que levou Carlos a abandonar o campo e recuar até seu acampamento em Verden. Lá, o rei ordenou a convocação de todos os nobres saxões que lhe haviam jurado vassalagem, quando os senhores se reuniram, Carlos exigiu que os traidores e responsáveis pelos crimes cometidos nestes últimos anos fossem delatados. Os nobres se recusaram a entregar os compatriotas, isso revoltou ainda mais o rei, o qual os ameaçou de morte. Logo, nomes começaram a surgir. Todos aqueles que foram delatados, foram reunidos em Verden, para serem executados. Os registros históricos apontam que pelo menos 4500 homens foram executados naquele dia, isso incluía o senhores, soldados e servos. A vingança de Carlos Magno traria um gosto amargo para ambos os lados: os saxões se rebelariam contra o massacre e por sua vez, os francos ficaram surpresos com a barbaridade cometida pelo rei. Os três anos seguintes seriam marcados por mais conflitos entre francos e saxões, deixando um saldo de milhares de mortos, vilas destruídas e terras arrasadas.
"Finalmente, após três anos de luta encarniçada que ceifou milhares de vidas e devastou os campos saxões, esgotando os recursos de ambos os lados envolvidos no conflito, veio a oportunidade de uma solução totalmente nova: Widukind ofereceu a sua rendição incondicional e declarou-se disposto a aceitar a fé cristã. Foi um acontecimento memorável, pois tanto os francos quanto os saxões admiravam a coragem, a determinação e a habilidade do chefe saxão. A fim de evitar mais sofrimento para o seu povo, o grande líder guerreiro concordava em entregar suas armas e renunciar aos deuses pagãos. Carlos preparou uma grande cerimônia e foi ele próprio o padrinho de Widikund, cobrindo o afilhado de presentes". (BANFIELD, 1988, p. 29).
Mas a rendição e o batismo de Widikund não foram suficientes para o rei, o mesmo exigiu uma nova leva de batismos em massa, como impôs que os saxões seguissem a arrisca a doutrina cristã católica. O dizimo seria obrigatório, o jejum na Quaresma se fosse quebrado, deveria ser punido, o não pagamento do dízimo também era causa de punição; a desobediência ao rei, fora incluindo nesta quesito; assistir as missas nos domingos se tornou obrigatório, etc. Para completar, Carlos mobilizou algumas tribos para outras regiões do reino, a fim de evitar que se unissem para iniciar novas revoltas, e as antigas terras foram confiscadas, algumas sendo doadas a Igreja e outras para seus vassalos.
Ainda no ano de 785, Carlos descobrira que já era tão amado assim pelo seu povo. Hadrad um dos nobres de sua corte, tramou um complô para matá-lo. Os grandes gastos com a guerra contra os saxões, e a grande perda de recursos e homens, levou parte da nobreza e da plebe a se revoltar com o rei, o qual estava cego pela sua cobiça e vingança. Hadrad e seus comparsas foram executados, mas isso servira de alerta para Carlos Magno, que suas atitudes estavam indo longe de mais, todavia, isso não bastou para que ele mudasse seu comportamento e caráter naquele momento.
O complô na Lombardia e a conquista da Baviera (786-788)
Era o ano de 786, quando os filhos do rei lombardo Desidério tentaram promover uma rebelião na Lombardia, a fim de recuperaram o reino de seu pai. Aldargis e sua irmão Aldaperga, chegaram a preparar o início da revolta, mas Carlos fora avisado sobre o complô e enviou um exército para a Itália. Diante da ameaça do exército franco, os dois desistiram de iniciar a revolta. Aldargis morava em Constantinopla, e Aldaperga era esposa do Duque de Benevento. No entanto, a irmã deles, Liutperga, que era esposa de Tassilo III, Duque da Baviera, incentivara o marido a se rebelar contra o rei franco, pois o Ducado da Baviera era um Estado independente, e ficava nas fronteiras do grande Reino Franco. Para completar, Tassilo era primo de Carlos.
"O duque descendia de uma das mais poderosas e nobres famílias bávaras e, com Carlos, nutria um fervor religioso e um respeito pela justiça que o tornavam muito querido por seus súditos. Quando jovem, Tassilo se entendia bem com os parentes. Prestara um juramento a Pepino, o Breve, de que seria fiel aos reis francos durante toda a sua vida. No entanto, nos anos que se seguiram, um espírito de independência, alimentado pela mulher, crescera em seu coração". (BANFIELD, 1988, p. 31).
Carlos ordenou que os duque voltasse a prestar seus juramentos para ele, no entanto, notou relutância de Tassilo ter feito aquilo de bom grado, Carlos começou a desconfiar que o primo realmente tivesse caído na conversa de sua esposa, e tramasse atacá-lo, assim, Carlos ameaçou invadir a Baviera, e em 787, Tassilo fora preso e condenado por traição. Em 788, ele permitiu que Tassilo escolhe-se sua própria sentença, o mesmo escolhera exílio em um mosteiro pelo resto da vida, Carlos consentiu e enviou o primo para o mosteiro e se apoderou do Ducado da Baviera o anexando ao Reino Franco. O ato fora um tanto pernicioso, pois embora sofresse chantagem por parte de sua esposa, Tassilo III nunca chegou mesmo a tramar algo contra seu primo, porém a ameaça de ter suas terras invadidas, e a debandada de nobres bávaros para o lado de Carlos, o levaram a se preparar para uma batalha, e quando o fizera, veio sua prisão. A frieza de Carlos com seu primo é um exemplo do caráter frio que o rei adotara desde 778.
A conquista dos Ávaros (788-795)
Se não basta-se a conquista da Saxônia e da Baviera, Carlos estava interessado em subjugar os Eslavos ao seu controle, ele não pretendia conquistar as suas terras, mas torná-los seus vassalos. Assim, ele havia criado algumas "marcas", como a Marca da Espanha e a Marca da Bretanha, o próximo passou era criar "marcas" nas fronteiras leste do reino. Porém, entre os eslavos o seu maior inimigo seriam os ávaros, que viviam a leste da Baviera.
Os ávaros eram um povo asiático de origem mongol (assim como os turcos e os hunos), os mesmos eram descendentes das tribos hunas reunidas por Átila, o Huno (406-453), logo passaram a ocupar a parte central da Europa, se estendendo em direção ao sudeste, aos Bálcãs. Os ávaros ainda preservavam alguns dos costumes de seus antepassados, como o grande apresso pela cavalaria, o uso do arco e flecha, o uso de peles de animais como roupas, e uma vida seminômade. Mesmo assim, muitas cidades dos ávaros eram prósperas, devido ao comércio e a saques. Carlos estava decidido que eles eram uma grande ameaça, embora que hoje os historiadores questionem se realmente os ávaros foram uma ameaça ao poderoso reino franco, ou apenas um pretexto para que Carlos conquista-se suas terras e usurpasse suas grandes riquezas.
A guerra contra os ávaros fora longa, cara tanto para as finanças do Estado como para a população, pois milhares morreram nos campos de batalha. A guerra contra os ávaros fora a segunda guerra mais cara do governo de Carlos Franco, ficando atrás da guerra contra os saxões. A habilidosa, ágil e exímia cavalaria ávara, munida de seus arcos letais e arqueiros precisos, causou grandes problemas para os francos, o que levou a guerra ter durado vários anos.
Em 792, Carlos Magno descobrira um novo complô contra a sua vida, embora os culpados foram presos e sentenciados por seu crime, o mesmo acabou ficando alerta a crescente desaprovação dos nobres a sua guerra contra os ávaros, e até mesmo descobriu que seu filho mais velho, Carlos, o Corcunda se encontrava entre estes descontentes e que tramavam sua morte. Carlos, não querendo cometer a mesma crueldade do passado, sentenciou seu filho a exílio em um mosteiro pelo resto da vida, ordenou que seu primo Tassilo III fosse trazido a Corte, onde o rei publicamente pediu desculpas e revogou sua sentença contra ele. Tassilo perdera o título de duque, mas retornou para casa.
Carlos convenceu os nobres e o povo a terminar a guerra contra os ávaros e três anos depois veio a rendição. No entanto, alguns historiadores possuem outra opinião: eles sugerem que os ávaros não se rendeiro, mas foram quase que aniquilados, daí o ditado medieval "desaparecido como um ávaro". A Ávaria não fora anexada ao reino, mas fora feita uma "marca", e parte da população ávara fora encaminhada para outras terras do reino franco, ou fugiram para terras vizinhas fora do domínio dos francos. Para compensar os grandes gastos com a guerra, Carlos ordenou que as cidades fossem saqueadas (as vezes ele inibia seus homens ao saque).
"Carlos, no entanto, foi bem recompensado. O imenso tesouro dos ávaros - pedras preciosas, , objetos de ouro e prata, sedas ricamente trabalhadas - foi tomado pelos francos, que precisaram de dezenas de carroças para transportá-lo para a corte de Carlos". (BANFIELD, 1988, p. 38).
Na tentativa de se redimir de alguns de seus pecados, Carlos agiu de forma mais branda com os ávaros. Ele não impôs os decretos que fez aos saxões de forma tão severa aos ávaros. O dízimo não seria obrigatório, a conversão e o batismo não seria forçado; as multas e punições para o descumprimento dos dogmas cristãos seria amenizados, pois anteriormente alguns eram passíveis de pena de morte. Posteriormente, Carlos fizera o mesmo com o saxões, abrandando as imposições que ele os havia sujeitado.
Carlos depois da guerra contra os ávaros, iria procurar a paz no reino e com os vizinhos, embora conflitos ainda voltariam a ocorrer nos anos seguintes, ele já não iria se dedicar mais as campanhas militares e a travar novas guerras, estava mais interessado em administrar seu vasto reino.
Uma nova capital: o amante da cultura
Após a guerra contra os ávaros, Carlos Magno começou a deixar de ser um homem profundamente sério e severo, para retomar sua simpatia e cordialidade do passado. Ele dedicaria-se o restante do seu reinado a dar maior atenção as questões de Estado e da Igreja. Carlos passaria a viajar com mais frequência pelo seu reino, a fim de avaliar os problemas e a produção alimentícia e manufatureira, assim como o comércio; daria especial atenção a educação e a cultura, algo que será foco nesta parte do texto.
Inicialmente como eu havia dito, Carlos só aprendeu a ler e escrever na fase adulta, embora acredita-se que ele já soubesse ler um pouco, mas fora já por volta de seus 30 e 40 anos, que despertou o interesse pelo conhecimento e pela cultura, e procurou incentivar isso nos filhos e filhas, na Corte e no povo em si.
"O rei começava a planejar o futuro dos filhos quando estes ainda eram pequenos. Observava atentamente cada aspecto de sua educação para se certificar de que se mostrariam dignos das coroas que um dia usariam. Para ele, um rei digno do nome precisava ser civilizado e audacioso. Seus três filhos - Carlos, Carlomano e Luís - tiveram como preceptores os maiores sábios da época". (BANFIELD, 1988, p. 44-45).
Em 791 Carlos decidiu criar uma nova capital, ele estava cansado dos ares do sul e decidiu se mudar para o norte do seu reino. O local escolhido for a antiga cidade romana de Aquisgrano, conhecida por suas fontes termais (supostamente medicinais), a qual seria reformada para se tornar a nova capital do Reino Franco. Depois das reformas e das novas construções, a cidade se tornou capital oficial do Reino Franco e posteriormente do Sacro Império, como será visto mais adiante. Atualmente a cidade se chama Aachen e se encontra na Alemanha, bem próxima com a fronteira da Bélgica.
"E Aquisgrano realmente foi uma grande cidade, com a marca indiscutível do homem que a criou. Logo após o início das construções os francos se apossaram do tesouro dos ávaros e não mediram despesas. O núcleo da nova capital era formado pelo palácio e pela capela, símbolo perfeito da igualdade e da união entre Estado e Igreja. Cada um destes edifícios era absolutamente soberbo. O palácio tinha inúmero aposentos especiais - a sala do tesouro, a biblioteca, sala de armas, os aposentos privados. Na área de lazer, o monarca fez construir uma grande piscina de mármore, com capacidade para mais de cem pessoas, que recebia água quente diretamente das fontes termais". (BANFIELD, 1988, p. 48).
"Mas foi na capela que empenhou sua maior atenção, decorando-a com antigos mosaicos romanos - um presente do papa - mármore italiano, ourivesaria em ouro e prata, e portais de bronze. Os melhores artesãos da Europa foram convocados para adorná-la. Uma passarela coberta ligava-a ao palácio, para facilitar o acesso da família real. Em pouco tempo, uma cidade movimentada desenvolveu-se ao redor da residência real". (BANFIELD, 1988, p. 49).
Fora em Aquisgrano que o rei passou a viver e a dar maior atenção a educação e a cultura de seu país. Carlos ordenou a construção de uma escola no palácio que atendia principalmente os filhos da nobreza, mas em alguns casos, algumas crianças da plebe, pois o grande sonho do rei era proporcionar acesso a educação a todos os súditos do reino, uma ideia ousada e a frente de seu tempo: educação para todos. Embora não tenha conseguido realizar tal sonho, ele tentou mesmo assim; ordenou a construção de várias escolas nas grandes cidades, em abadias e mosteiros, e até mesmo permitiu que as mulheres tivesse acesso as escolas e ao mesmo tipo de ensino, algo inédito na época, pois em geral as mulheres eram educadas em casa e em muitos casos não aprendiam nem a metade do que os homens aprendiam, pois as mulheres eram educadas para se tornarem donas de casa, esposas e mães.
"A reputação da escola do palácio logo se espalhou, atraindo professores de toda a Europa. Entre eles, havia um que chamou a atenção do rei: era um monge inglês chamado Alcuíno, de inteligência extraordinária. Carlos fez-lhe uma proposta irrecusável para morar no palácio e coordenar seu programa educacional. Sob a direção do monge erudito, o sonho de Carlos de elevar o padrão educacional dos francos começou a se tornar realidade". (BANFIELD, 1988, p. 51).
Alcuíno (735-804) deixou a pequena cidade de York na Grã-Bretanha e mudou-se para Aquisgrano para se tornar um dos principais professores do Reino Franco. em 781, o monge que se encontrava na Itália conhecera o rei Carlos Magno em Parma, Carlos se interessou pela inteligência e dedicação do monge e o convidou para se tornar professor de seu reino, posteriormente Alcuíno aceitou e se tornou um dos mais notórios educadores do reino.
"Alcuíno escreveu livros escolares, em substituição a outros, repletos de erros, usados anteriormente pelos francos. E usou a própria escola do palácio para treinar professores, que iriam se estabelecer nas escolas fundadas nas muitas abadias que havia pelo reino. Essas abadias, residência e lugar de oração dos monges, eram também centros de cultura e conhecimento". (BANFIELD, 1988, p. 51).
Na época de seu governo os estudos escolares eram divididos nas chamadas sete artes liberais, disciplinas básicas ensinadas nas escolas, divididas em duas categorias o trivium (gramática, lógica e retórica) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). Além destas disciplinas havia aulas de pintura, história, geografia e filosofia, mas vale ressaltar que nesta época, tais disciplinas ensinavam o básico, e as artes liberais eram as disciplinas principais do currículo escolar daquela época, sendo as demais, disciplinas complementares. Tal modelo se mantivera pelo restante da Idade Média, vindo a mudar com o surgimento das universidades, que passaram a oferecer cursos de Direito, Medicina, Teologia e Engenharia.
Carlos ordenou que os clérigos que eram os professores, melhorassem sua instrução; ordenou a copilação de vários livros, incluindo livros de autores gregos e romanos; a vinda de livros de outros cantos do reino para a capital, a reforma de mosteiros e abadias para abrigar escolas, como também a reforma de bibliotecas. Alcuíno se tornou um grande amigo do rei, ambos e outros nobres que gostavam do conhecimento e da cultura se reuniam após as refeições para conversarem. As reuniões cresceram e o rei passou a designar aquele grupo de "A Academia" em referência a Academia criada pelo filósofo Platão, vários séculos antes.
O rei também incentivou as artes, fosse na pintura, mosaico, escultura, música e poesia; como também recuperou os festejos cristãos e as missas, pois muitas igrejas e capelas haviam sido abandonadas ou eram usadas como depósitos, indignado com isso, ele ordenou que as capelas e igrejas fossem limpas, arrumadas e reformadas, retomando as missas e celebrações ecumênicas, pois sendo um bom cristão como ele buscava ser, ele considerava necessário proporcionar a doutrinação de seu povo. Carlos considerava o conhecimento como o "alimento" do espírito, e por sua vez a fé seria o seu "guia".
Carlos passou a se interessar pelos debates teológicos, incentivando seus clérigos a estudarem para resolver tais debates. Em 794 ele escreveu uma carta ao Papa Adriano I, criticando a decisão do imperador bizantino Constantino VI, de defender a adoração das imagens de Jesus, Maria e dos santos, Carlos alegava que as imagens eram apenas representações mas não deveriam ser o centro de adorações como os pagãos faziam. Naquele ano em Frankfurt (hoje na Alemanha) ele publicou os Livros Carolíngios, em resposta a não intervenção do papa, e como uma crítica a este fato e outros fatos ligados a questões doutrinárias da Igreja Romana. Todavia, no ano de 795, Carlos receberia uma triste notícia, o papa Adriano falecera, o rei ficou muito triste, pois foram amigos por vinte anos.
O novo papa (795-799)
A morte de Adriano separou Aquisgrano de Roma, pois o novo papa eleito, de nome Leão III (ca. 750-816) era um homem de origem humilde e incerta. Na época, as grandes famílias aristocráticas e nobres de Roma foram contra a eleição de Leão III (por vários séculos, houve um embate entre a nobreza romana para controlar a eleição papal e dos cardeais). No primeiro ano de seu mandato, Leão era acusado de adultério, mesmo assim conseguiu permanecer no governo. Roma nesta época estava decadente, abandonada, pois embora a sede da Igreja ficasse lá, a Igreja não ajudava a cidade de forma justa: havia muitos mendigos, prostitutas, trapaceiros, ladrões, agiotas, miseráveis, etc. Roma era um misto de elegância e antiguidade, legados do Império Romano, com a decadência do presente. Carlos proibiu que os filhos fossem para Roma enquanto ainda eram jovens. Em 799, quando o papa seguia para a igreja de São Lourenço realizar a missa matinal, fora capturado por um grupo de conspiradores e brutalmente espancado quase até a morte. O mesmo fora sequestrado e escondido em um mosteiro, porém os membros do mosteiro que eram fiéis a vossa santidade, o ajudaram a fugir do cativeiro, Leão buscou ajuda dos embaixadores francos. Embora Carlos Magno não simpatizasse com o novo papa, que não possuía as mesmas virtudes de seu antecessor, ele não aceitava que tal atrocidade houvesse acontecido, pois Carlos nutria respeito pelos pontífices.
"Carlos então ordenou a seus embaixadores em Roma que levassem Leão III a Paderborn. Lá, o papa passou os meses de verão em longas confabulações com o rei. No início do outono, Carlos estava convencido de que deveria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para recolocar o papa em seu trono". (BANFIELD, 1988, p. 62).
Ainda em 799, o papa retornou para Roma, acompanhado por uma guarda franca e dois bispos que iriam investigar as acusações contra o papa a fim de prová-las que eram falsas e caluniosas. No ano de 800, a enquanto Carlos viajava pelo reino fiscalizando seus domínios, sua quinta esposa a adorável Liutgarda faleceu, o rei ficou muito triste e depois não voltaria a se casar mais. No entanto, ele decidiu ir à Roma, a fim de coroar seu filho Carlos como rei dos francos, pois era costume da monarquia franca coroar os príncipes ainda em vida de seu pai, como forma de legitimar sua herança. O papa iria realizar a cerimônia de coroação.
O Sacro Império Romano Germânico (800-814)
Carlos chegou em Roma em dezembro de 800, fora aclamado pelo povo nas ruas como herói e seu soberano, pois tecnicamente Carlos Magno também era rei de metade da Itália. O entusiasmo do povo era singular, pois por muito tempo, os romanos foram desconfiados acerca de governantes estrangeiros, mas Carlos embora tenha sido severo e cruel por alguns anos, isso era visto como normal, pelo menos no que ele fez, pois sua severidade e vilania fora contra os inimigos, neste caso os saxões, ávaros e mouros, os quais era pagãos e infiéis. No entendimento da época, o rei não fizera mais do que sua obrigação. Carlos possuía mais renome e prestígio do que o próprio papa Leão III (os papas por longos séculos habitualmente foram os governantes de Roma e dos Estados papais).
A coroação do príncipe fora marcada para o dia 25 de dezembro, dia de Natal. Era manhã de Natal, e a Catedral de São Pedro, na época diferente do que hoje conhecemos, estava abarrotada de gente para ver a coroação do jovem príncipe, e as próprias figuras do rei e do papa. Carlos vestiu-se com seu traje real e adentrou por último na catedral. Todos estavam luxuosamente vestidos, havia gente de todos os cantos do reino e até de terras estrangeiras, como a Grécia. A medida que Carlos seguia em direção ao papa teria notado uma segunda coroa, maior do que a primeira. O papa fizera sinal que Carlos se ajoelha-se então pegou a grande coroa e o corou dizendo:
"Carlos, Sereníssimo Augusto, coroado por Deus, grande e pacífico imperador, governante do Império Romano e, pela graça de Deus, rei dos lombardos e francos". Carlos se levantou e o povo bradou três vezes em seguida, saudando o novo imperador dizendo: "Longa vida e vitória a Carlos Augusto, coroado por Deus, poderoso imperador e amante da paz!".
A última vez que alguém havia sido coroado imperador dos romanos ocorrera em 475, quando o jovem Rômulo Augustulo havia sido coroado imperador romano, porém Rômulo governou por menos de um ano, sendo destituído do cargo e banido para exílio pelo rei Odoacro, o qual pusera fim ao Império Romano. Carlos Magno, agora depois de quase três séculos e meio, recebia o título do homem mais poderoso da Europa antiga, o imperador romano.
Não se sabe se Carlos sabia que seria coroado, seu biógrafo e amigo, Eginardo disse que o rei fora pego de surpresa, manteve-se em silêncio durante a sua coroação e a coroação de seu filho que fora em seguida. Carlos também não renunciou ao título, manteve para si, e decidiu criar um novo reino, um novo império cristão, revivendo a tradição romana, a mesclando com a tradição germânica da qual provinha os francos. Nascia o Sacro Império Romano Germânico.
Não me reterei a falar muito do Sacro Império, pois minhas fontes são poucas acerca deste período, mas Carlos governaria como imperador dos romanos por quase quatorze anos, tendo realizado nestes anos um reinado pacífico e benevolente, voltado para administração de seu império, a consolidação e reformulação de leis, direitos, estatutos, impostos; o incentivo a educação, cultura, artes, etc.
Carlos retornou em 801 para Aquisgrano, a capital de seu império, onde viveria até o fim da vida. Lá ele começou a planejar novas mudanças para seu vasto império, o maior de toda a Europa em seu tempo. Carlos não se via apenas como imperador dos romanos, mas como um imperador dos cristãos. Mesmo assim, não adotou as vestimentas pomposas dos imperadores romanos, preferiu manter suas vestes simples e habituais, e nem mesmo adotou o título de césar, o qual alguns imperadores romanos utilizaram para referir-se a sua pessoa.
Sentido-se como tendo responsabilidade em proteger os cristãos da Europa e do mundo conhecido, Carlos enviou em 801 uma embaixada para Bagdá (hoje capital do Iraque), para tratar com o califa um termo de paz entre os cristãos e muçulmanos acerca da Terra Santa, a qual estava sob o domínio do califa. Carlos não pretendia fazer uma guerra para reconquistar Jerusalém e as outras cidades da Terra Santa, isso só viria acontecer dois séculos depois com o início das Cruzadas, naquele momento, o imperador queria manter a paz entre as duas religiões.
O califa Harum al-Rashid acabou aceitando a proposta de amizade do imperador Carlos Magno, e em 802 enviou uma embaixada dando sua resposta e enviando presentes pela união e para homenageá-lo como imperador. Um dos presentes enviados pelo califa Harum, fora um elefante chamado Abul Abbas.
"A chegada do elefante a Aquisgrano marcou um dia de festa, pois povo franco desconhecia esse animal. O elefante passou a viver no palácio, onde divertia os membros da corte, balançando sua tromba. E o próprio imperador gostou tanto do animal que o tratava como a um amigo". (BANFIELD, 1988, p. 70).
Carlos passou alguns anos dedicando-se a reescrever e atualizar as leis de seu império, pois como haviam vários povos sob seu domínio, Carlos sabia que seria difícil arrumar um consenso entre os mesmos, além disso haviam as "marcas" que também estavam associadas a juridição do império, assim, Carlos procurou que seus juristas realizassem um código de leis que fosse aplicável de forma coerente entre os povos súditos e vassalos, de forma que resgata-se antigas leis romanas que foram atualizadas para o contexto da época, e ao mesmo tempo tivesse influência cristã, pois algumas penas era dadas mediante ao fato de serem consideradas acusações graves a moral cristã, mas também não perdesse as características das leis francas.
Carlos também passou a designar padres e bispos, e até mesmo a permitir que estes ocupassem cargos públicos, algo que não era comum. Sua intervenção em assuntos religiosos cresceu consideravelmente, a ponto do mesmo se considerar detentor do poder temporal cristão, enquanto o papa representava o poder espiritual. Carlos também expandiu seu número de missi dominici, os quais fiscalizavam e governavam, os enviando para as terras distantes do império, e para as "marcas". Em 804, os saxões se rebelaram novamente, o imperador indignado, ordenou a deportação de várias famílias que foram retiradas a força de suas terras e enviadas para outros lugares do reino, algo que já tinha feito anteriormente. Após este fato incidentes do tipo não voltaram a ocorrer na Saxônia.
Em 805 para evitar problemas com os bizantinos que governavam a porção sul da Itália, Carlos cedeu Veneza para os mesmos, pois Veneza era simpatizante do Império Bizantino. O basileu Nicéforo I Focas, agradeceu a iniciativa do imperador Carlos. Tendo amenizado os problemas fronteiriços com os bizantinos, duas novas ameaças surgiram: piratas mouros começaram a atacar portos na Provença e na Itália, e vindo do norte um novo inimigo chegou a costa atlântica do império, eram homens habilidosos na navegação e guerreiros ferozes, eram os vikings.
A marinha franca era fraca, isso permitiu que os vikings que possuíam eficientes navios e marinheiros, pudessem fazer seus ataques relâmpagos, saqueando, matando e destruindo, portos, mosteiros, vilas e vilarejos. Os vikings causaram vários problemas para o imperador, embora que Carlos sabia que numa batalha em terra, eles não teria a miníma chance.
"No ano de 810, as más notícias se multiplicaram: primeiro, morreu Gisla, uma irmã que Carlos amava muito; depois foi a vez do elefante Abul Abbas, o inseparável companheiro do imperador; a seguir, o Império Franco foi assolado por uma peste que atacou o gado; e, para terminar, faleceram a filha favorita de Carlos, Hrodrud, e o filho Pepino. Esta séries de mortes fez que o imperador mergulhasse num período de profunda depressão". (BANFIELD, 1988, p. 72).
Carlos com seus 68 anos passou a dar maior atenção ao seu testamento e ao seu lado espiritual, pois o mesmo se culpava das ações e decisões que havia feito no passado e procurava uma forma de se redimir. Carlos pensou até mesmo em abdicar do trono e se tornar monge, vivendo em um mosteiro o resto de sua vida. Em seu testamento ele já havia designado as porções territoriais que caberiam a cada um de seus filhos, como também determinou que 11/12 avos de seu tesouro seria doado para a Igreja. Carlos também passou a se afastar mais dos assuntos públicos e a se dedicar mais a família e a si mesmo; gostava de escrever sermões os quais os proclamava para o povo, exaltando a humildade, a obediência a Igreja, a obediência ao imperador, o amor a família, a pátria, etc.
Em 811, seu filho Carlos, o Jovem faleceu misteriosamente. Carlos era considerado entre os filhos os quais mais se parecia com seu pai em questão de caráter e virtudes. Pepino, o Corcunda havia sido exilado, Pepino da Itália havia morrido, agora restava Luís, o filho rebelde.
"Agora só existia um filho a quem Carlos poderia passar o grande império que construíra. Dentre todos os seus filhos, Luís era o que menos parecia ter o caráter e a coragem que caracterizavam a família imperial. As deficiências de Luís eram tão sérias que os membros da corte achavam que as leis de sucessão deveriam ser desconsideradas e a coroa entregue a um dos netos do imperador. Mas Carlos, profundamente conservador, insistia em seguir a tradição. Embora duvidasse da competência do filho, acreditava que Deus deveria ter algum bom motivo para fazer de Luís o imperador". (BANFIELD, 1988, p. 73).
A morte do imperador
Em 813, Carlos chamou seu filho Luís a corte para ter um longo período de conversas a fim de instruir o filho para se tornar um homem de bem, honesto, justo, cordial, firme e honrado. Carlos e seus conselheiros deram vários conselhos ao príncipe de como governar, administrar, agir, se comportar, etc. Em setembro daquele ano, pai e filho oficializaram a sucessão de Luís. Carlos já com seus 70 anos de idade, ajoelhou-se na capela ao lado do filho e orou, então levantou-se e proclamou um discurso para o filho e o povo que o assistia.
"As palavras que proferiu eram destinadas a Luís, mas a mensagem que transmitiam se perpetuou através dos tempos. Carlos Magno exortou o filho a amar e temer a Deus, a defender a Igreja, a ser bondoso com toda a família e a tratar o povo como a um filho. O discurso mais parecia um resumo de sua própria vida e dos ideais que sempre o inspiraram". (BANFIELD, 1988, p. 74).
No ano seguinte, em 28 de janeiro, Carlos saiu de manhã para caçar como gostava de fazer costumeiramente, no entanto, quando retornou para o palácio se sentia um tanto fraco, então se retirou para seus aposentos não indo almoçar no salão. Carlos acabou adoecendo, ficando gravemente febril, vindo a falecer no começo de fevereiro aos 71 anos, vitimado por pleurisia. Segundo seu biógrafo, Eginardo, o imperador estava em seu quarto cerca por monges que se preparavam para fazer o sacramento. As últimas palavras que Carlos teria dito, de acordo com Eginardo foram: "Em Vossas mãos, Senhor, entrego minha alma".
A morte do rei dos francos e lombardos, do imperador dos romanos, do imperador dos cristãos e protetor da Sagrada Igreja de Cristo, fora comunicada em toda a Europa. Carlos fora sepultado na Catedral de Aquisgrano num grande funeral. Uma mortalha confeccionada em Constantinopla fora trazida para cobrir o corpo do imperador. Naquele mesmo ano, um bispo de Aquisgrano beatificou o rei, e a beatificação fora reconhecida pelo Papa Bento XIV (1745-1758). Em 1165, o Antipapa Pascoal III canonizou Carlos Magno, porém a Igreja Católica não reconhece o valor desta canonização. Carlos nos séculos seguinte se tornaria tema de lendas, poemas e canções, todas exaltando suas virtudes. Carlos se tornou um símbolo do cavalheirismo e do bom monarca.
NOTA: Eginardo (c.770-814) amigo e biógrafo de Carlos Magno escreveu sua biografia intitulada Vita Caroli Magni (A Vida de Carlos Magno).
NOTA 2: Alguns aspectos do reinado e da pessoa de Carlos são descritos nos Os Anais Francos e nas Crônicas Saxãs, ambas mostram visões diferentes sobre o rei, neste caso nas crônicas, o rei é mostrado como um homem severo e violento, por sua vez nos anais, ele é um homem justo e cordial.
NOTA 3: O cavaleiro Rolando, morto em Roncesvalles se tornou tema de uma canção chamada A Canção de Rolando, que na realidade é um poema, escrito no século XI.
NOTA 4: O Sacro Império Romano Germânico começou com Carlos Magno, porém só se tornou um reinado contínuo a partir de Otão I, o Grande o qual fora proclamado imperador em 962. Antes dele, os descendentes de Luís, o Pio se digladiaram ao ponto de terem fragmentado o império e o diminuído consideravelmente. Alguns historiadores sugerem que o Sacro Império, terminou com Luís, o Pio e ressurgiu com Otão, o Grande, pois os anos entre 840 a 962, foram anos de fragmentação e discórdia, os imperadores eram depostos ou assassinados.
NOTA 5: Quando Otão, o Grande assumiu o governo do império, a linhagem imperial passaria a ser alemã e não mais franca, daí o Sacro Império Romano Germânico ser considerado o Primeiro Reich.
NOTA 6: Pepino, o Breve recebera esta alcunha pois fora um homem baixo. Isso significa que Carlos Magno puxou a altura de seus avôs, que eram descritos como homens com a altura acima da média.
NOTA 7: A mãe de Carlos, Berta ou Bertrada, era chamada de forma desdenhosa de "Berta a de pés grandes", pois tinha os pés ligeiramente grandes para uma mulher.
Referências Bibliográficas:
BANFIELD, Susan. Carlos Magno. São Paulo, Nova Cultural, 1988. (Coleção Os Grandes Líderes - vol. 10).
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 19, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
Links relacionados:
A história dos Reich
Barba-roxa
A Era Feudal na Europa
A Saga Viking
A infância de Carlos e o legado de seu pai
Carlos Magno nasceu em 742, sendo filho de Pepino III e Berta de Laon (720-783). Quando seu pai fora coroado rei dos francos em 751, Carlos contava apenas com nove anos de idade, mas já assistira a coroação do pai, e via que seu pai agora era rei de fato. Em 754, o Papa Estêvão II querendo manter a aliança com Pepino, aliança essa forjada com o papa Zacarias, viajou para se encontrar com o rei dos francos. Fora um acontecimento sem precedentes, pois nunca um papa havia ido para aquela região.
Carlos Magno |
O papa acabaria aceitando o pedido de Pepino para se tornar padrinho de seus dois filhos, Carlomano e Carlos. Os dois irmãos cresceriam como sendo afilhados do papa, algo raro de se ver, principalmente para pessoas de outros países (na realidade, alguns papas eram padrinhos de parentes ou de filhos de amigos).
"Desde a mais tenra idade, o jovem príncipe aprendera a amar intensamente a Igreja, Sua mãe, rainha Bertrada, era uma mulher profundamente religiosa. E seu preceptor era o responsável por um dos maiores mosteiros da Europa. Assim, Carlos crescera cerca pelas atenções de seus padrinho e pelo alto conceito em que seu pai tinha o pontífice. Antes mesmo de lhe ser confiada a missão de receber o papa Estêvão, o príncipe já demonstrava a piedade, a dedicação e o respeito religioso que conservaria durante toda a vida. Carlos também aprendera com o pai que apoiar a Igreja significava mais do que uma simples troca de cartas e presentes. Se necessário, o rei teria de arriscar a própria vida e a de seus súditos em defesa do papa e da Igreja". (BANFIELD, 1988, p. 9).
O papa havia ido encontrar o rei dos francos, não apenas para estreitar as alianças, mas solicitar ajuda. Os lombardos, povo de origem germânica que havia ocupado o norte da Itália, fundando um reino, passou a ameaçar as terras papais, e Roma se sentia ameaçada. O papa temia que os lombardos embora fossem cristãos, ousassem conquistar Roma e suas terras. Pepino como amigo do papa e legalmente defensor da Igreja, decidiu ajudar Roma a combater os lombardos. Depois de dois anos de conflitos, os lombardos se renderam ao rei franco, mas mantiveram sua autonomia, se comprometendo a não voltar a invadir as terras papais.
Entre 752 a 768, Pepino coordenou várias batalhas para assegurar o controle da Aquitânia e da Provença, chegando a expulsar os mouros que viviam na região e consolidando seu controle sobre tais regiões, como também expandiu os domínios em outras regiões, etc. Carlos e Carlomano já durante a adolescência acompanharam os pais nestas campanhas, chegando até mesmo a participar dos conflitos. Desde os 19 anos Carlos Magno já comandava tropas. Carlos e seu irmão foram educados a serem líderes militares, homens devotos a família, ao país, a Igreja e a Deus.
Quando Pepino, o Breve faleceu em 768 aos 54 anos, ele já havia legado em testamento que seu reino fosse dividido entre os seus dois filhos mais velhos, Carlos e Carlomano, algo tradicional, pois era costume dos reis merovíngios e dos "mordomos de palácio" dividir as terras entre os filhos e não apenas ao primogênito, o problema era que nem sempre os irmãos se entendiam, e isso resultava em guerras. Carlos e Carlomano acabariam se desentendo entre si, mas antes de chegarmos nesta parte, falarei um pouco da pessoa de Carlos Magno, para depois retomar a questão de seu governo.
O rei, o pai e o homem
"Para ser um grande rei é necessário ter enorme energia e entusiamos, e sentir prazer no exercício do poder. Carlos possuía todas essas qualidades desde criança; e, às vezes, elas se manisfestavam de forma exagerada". (BANFIELD, 1988, p. 13).
Embora tenha sido príncipe, curiosamente Carlos não aprendeu a ler e nem a escrever na infância e na juventude, o mesmo começou a ser alfabetizado já na fase adulta depois que se tornou rei, pois começou a mostrar grande interesse pelo ensino. Mesmo assim, Eginardo, seu amigo e biógrafo, alega que Carlos teve dificuldades em aprender a ler e escrever.
Carlos Magno cresceu com saúde e vigor, era um homem alto tinha entre 1,90 e 1,95 de altura. Era robusto, forte e cheio de energia, o mesmo gostava de se exercitar diariamente, e tinha grande apresso para cavalgar, caçar e nadar. De fato, depois que se tornou soberano, Carlos quase todas as manhãs quando era possível, reunia a família, amigos e outros membros da Corte e saía para caçar, a fim de pegar a comida para o almoço. Sua esposa e filhas lhe acompanhavam na caçada, algo curioso, pois em grande parte da História, a caça real, era tarefa apenas dos homens, até mesmo as mulheres em alguns casos eram proibidas de assistir.
Acerca da natação, o rei gostava bastante disso, ao ponto que ordenou que construíssem piscinas em vários de seus palácios, como também incentivava sua família e amigos a nadar. Seus biógrafos contam que o rei possuía um grande apetite, gostava muito de comer carne de caça, todavia nunca fora de beber muito. Nos banquetes que fazia, ele sempre ordenava que o vinho fosse servido de forma moderada, pois não gostava da embriaguez e cobrava isso de seus familiares, amigos e súditos. Era um homem bem devoto, costumava ir a igreja todos os dias, quando não o fazia era porque estava em viagem ou no campo de guerra. Carlos acabaria se tornando amigo do Papa Adriano I.
Como pai, Carlos era um homem adorável e um pai atencioso, supervisionava a educação dos filhos e das filhas, desde a educação de boas maneiras ao que os mesmos estavam aprendendo na escola. Ele também gostava de que os filhos participassem de conversas que ele fazia com os mestres sobre diversos assuntos como: teologia, filosofia, história, política, artes, direito, astronomia, retórica, cotidiano, etc. A educação fora uma questão importante no governo de Carlos Magno como será visto mais a frente.
Além de ser um bom pai, amoroso e amigável, era descrito como um homem simples (em geral não gostava de vestir as pomposas roupas reais), enérgico e de conversa agradável, embora que as vezes se tornava temperamental, orgulhoso e enraivecido. Carlos fora um rei amado pelo seu povo, pois mostrava confiança, bom caráter, complacência e amizade. Ele gostava de conversar com seus soldados, oficiais, servos, empregados, etc. No entanto, em dados momentos era frio, severo e vingativo.
O trono de Carlos Magno, na Catedral de Aquisgrano, Alemanha. O simples trono espelha a ideia da simplicidade do rei. |
Era um rei que se preocupava com a gerência do país, estava atento as questões políticas, econômicas, sociais e legais. O mesmo reformulou o sistema monetário, judiciário, legislativo, educacional, etc. Carlos costumava viajar pelo império a fim de averiguar as cidades, vilas, feudos, as fazendas, a produção de alimentos, manufaturas e riquezas; chegou a reformular a divisão do trabalho nas terras, algo que fora adotado pelo sistema feudal, que ainda surgia na Europa. Ordenou a construção de escolas em mosteiros e abadias; a construção de igrejas, a reforma de outras; construção de estradas, pontes, monumentos, etc. Carlos contava com o apoio de seus inspetores ou fiscais, chamados de missi dominici ("emissários do rei" em latim), os quais percorriam as províncias, cidades, vilas e feudos fiscalizando a situação local, e depois reportavam ao rei. Carlos exigia disciplina, dedicação e boa conduta de seus missi dominici.
"O rei também aprimorou também o sistema de comunicação e o comércio. Abriu muitas estradas e construiu pontes, além de manter as antigas em bom estado de conservação. Chegou até mesmo a tentar construir, embora sem sucesso, um canal ligando o Danúbio ao Reno. À medida que os vários povos componentes do reino franco entraram em contato com os outros, começaram a surgir desavenças por causa das diferentes moedas, pesos e medidas usados no comércio. Carlos estabeleceu então um sistema único de moedas e medidas, válido para todo o reino". (BANFIELD, 1988, . 49).
Carlos se casou cinco vezes. Sua primeira esposa fora Himiltrude, com quem tivera apenas um filho, chamado Pepino, o Corcunda (767-813), devido ao fato de ter nascido com uma deficiência corporal que lhe deixou corcunda. Carlos não gostava muito do filho por causa disso, e pela pessoa que se tornaria (Pepino tentaria destronar o pai posteriormente).
Carlos acabou se separando de Himiltrude, esposa que lhe fora prometida em casamento quando ainda era criança, pois era tradição dos francos os pais arranjarem os casamentos. Dois anos depois de ter casado com Himiltrude e ter se separado em 768, Carlos se casou com a princesa lombarda Desidéria, a qual também havia sido sugerida para ele, na infância por motivos políticos, no intuito de se aproximar os dois reinos. Todavia, o temperamento de Desidéria, levou Carlos a pedir divórcio em 771. O casal não tivera filhos.
"O próprio rei queria escolher uma esposa que lhe agradasse. Finalmente Carlos Pôde realizar esse desejo: sua terceira esposa, Hildegarde, era uma mulher a quem amaria de verdade. Tinha ela apenas 13 anos quando se casou com o rei, e manteve sempre o seu jeito tranquilo e manso da meninice. A maior felicidade da jovem era cuidar da família e acompanhar o marido em suas frequentes viagens. Hildegarde nunca interferia nos assuntos de Estado, contentando-se em deixá-los nas mãos do rei. E possuía uma outra qualidade que deixava o marido satisfeito: era tão sadia e vigorosa quanto ele. Deu-lhe quatro filhos e cinco filhas". (BANFIELD, 1988, p. 14).
A rainha Hildegarde. Terceira esposa de Carlos Magno, e sua esposa favorita. |
Os nove filhos que tivera com Hildegarde foram:
- Carlos, o Jovem
- Adelaide
- Pepino da Itália
- Rotrude
- Luís
- Lotário (irmão gêmeo de Luís)
- Berta
- Gisela
- Hildegarda
Hildegarde faleceu em 784, ainda no mesmo ano, o rei casou-se com Fastrada uma nobre da parte oriental do reino. Ambos ficaram casados por dez anos, quando a mesma faleceu. Da união nasceram duas meninas, Theodrada e Hiltrude. No ano de 794, ano da morte de Fastrada, Carlos se casou em seguida com Luitgard, a qual veio a falecer em 800, não tendo gerado filhos. Depois disso, o rei não voltaria a se casar. Além dos seus 12 filhos com três de suas cinco esposas, Carlos também tivera outros filhos e filhas bastardos com suas concubinas.
Os anos de regência ao lado do irmão Carlomano I (768-771)
Até aqui apresentei brevemente alguns aspectos da pessoa de Carlos Magno, mas para melhor entendermos seu comportamento e caráter devemos analisar seus feitos e seu governo.
Com a morte de Pepino, o Breve em 768, o Reino Franco fora dividido como de costume entre os herdeiros, logo, Carlos e seu irmão Carlomano. Carlos possuía interesse em governar, porém seu irmão não era muito chegado ao governo, a política, e isso gerou atrito e desentendimento entre os dois governantes, pois, Carlos acusava que o relapso do irmão era a causa de problemas políticos, econômicos, e sociais que tomavam parte do reino.
Ainda no mesmo ano da morte de seu pai, a Aquitânia se rebelou contra o domínios dos dois irmãos, Carlos tratou de imediatamente conter a rebelião, o mesmo esperou a ajuda do irmão, mas está nunca chegou, pois Carlomano nunca enviou tropas para auxiliar o irmão.
"Mas Carlomano era um jovem de caráter fraco e vacilante, que invejava a capacidade de liderança do irmãos mais velho. Não mandou auxílio algum, e Carlos se viu forçado a enfrentar os rebeldes sozinho. Apesar das condições adversas, o jovem e corajoso rei, cheio de audácia, debelou a revolta em apenas dois meses". (BANFIELD, 1988, p. 13-14).
Esperava-se que uma briga entre os irmãos se iniciassem, mas isso felizmente não ocorreu. Quatro anos depois, subitamente Carlomano morrera em 771. Tradicionalmente, suas terras deveriam ser repartidas para seus dois filhos que tivera com sua esposa Gerberge, porém, Carlos Magno neste momento fora orgulho e impetuoso. Usurpou as terras do irmão para si. Gerberge fugiu com seus dois filhos, indo se exilar na Lombardia. Carlos Magno se tornara senhor de todo o Reino Franco, não possuía o fraco irmão para dividir o trono e se afastara de seus sobrinhos que eram apenas crianças.
O início do reinado solo: Anos de luta
"Aos 30 anos, feliz no casamento e dominando todo o reino franco, Carlos começou a cuidar dos problemas fronteiriços com os saxões. Também um povo germânico como os francos, os saxões eram altos, louros e fortes. Mas, ao contrário da maioria de outras tribos germânicas, os saxões quase não tiveram contato com os romanos e não sofreram, portanto, sua influência cultural. Eram conhecidos por seu caráter pagão e guerreiro, e por sua coragem em combate. As terras dos saxões faziam fronteira com o reino dos francos ao lestem, e os dois povos lutavam entre si havia séculos". (BANFIELD, 1988, p. 15).
Durante o governo de Pepino, o Breve o mesmo conseguira manter a paz com a Saxônia por longos anos, algo que Carlos e seu irmão também aproveitaram por algum tempo, mas em 772, os saxões voltaram a se rebelar, e nos anos seguintes, Carlos teria que enfrentá-los várias vezes, para assegurar a paz com a Saxônia como também impor o cristianismo a força, e a vassalagem aos nobres saxões.
Gravura retratando guerreiros saxões. |
Naquele primeiro momento, Carlos liderou um pequeno exército em direção ao norte, em direção a fronteira com a Saxônia. Deve-se lembrar que nesta época os francos não possuíam um exército profissional e fixo, fora com Carlos Magno, que o exército começou a se profissionalizar e se tornar regular, pois ao longo de seu reinado de 45 anos, Carlos Magno empreendeu 53 expedições militares.
Ilustração de um Irminsur |
"Logo a seguir, porém, surgiram novos problemas provocados em parte por um dos casamentos anteriores do rei. Sua união com a princesa lombarda fazia parte do projeto do rei Desidério de controlar o poder de Pepino. Tanto quanto seus antecessores, Desidério era um homem ambicioso. Jamais entregara ao papa a totalidade das terras que os lombardos prometeram devolver e pretendia não só manter intacto o seu território, mas também aumentá-lo". (BANFIELD, 1988, p. 15).
Além disso, havia o fato de que sua cunhada e seus dois sobrinhos estavam exilados na Lombardia, e a mesma teria incentivado o rei Desidério a se rebelar, pois considerava Carlos um usurpador do direito de seus filhos. Porém, a grande questão que levou Carlos a atacar o Reino Lombardo, não fora por ressentimentos de sua ex-esposa e de sua cunhada, mas sim, a pedido do papa, pois os lombardo ameaçavam tomar algumas das terras papais, e Carlos como se considerava um defensor da Igreja, partiu para ajudar o papa.
Em poucos meses ele conseguiu tomar grande parte do Reino Lombardo. Seu exército forte e disciplinado fora conquistando uma a uma as cidades inimigas, até cercar a capital, Pavia, onde o rei se encontrava. Pavia fora bem guarnecida de soldados e bem abastecida de suprimentos, Carlos optou em não forçar o cerco, mas manter a cidade sitiada, até que os suprimentos se esgotassem o o rei se rende-se. Era o ano de 773, então enquanto Pavia continuava a ser sitiada, Carlo reuniu parte de suas tropas e marchou para Roma, cidade que ansiava em conhecer, pois havia caravanas de peregrinos que partiam de vários cantos da Europa para visitar a Cidade Eterna de Roma.
Gravura medieval retratando o encontro de Carlos Magno com o Papa Adriano I em 773. |
Papa Adriano I. Governou de 772 a 795. Fora amigo do rei Carlos Magno. |
"Após a conquista, o papa Adriano manifestou o desejo de anexar a seus domínios algumas terras dos lombardos. Carlos atendeu ao pedido generosamente, ansioso por agradar o novo amigo, o que fez com que os laços entre a Igreja e o rei franco se tornassem ainda mais fortes". (BANFIELD, 1988, p. 18).
Widikund |
"Carlos resolveu agir imediatamente. No início de 775, reuniu um poderoso exército e partiu para a Saxônia. A velocidade do exército franco pegou o inimigo de surpresa: os soldados de Carlos tomaram o forte de Sigiburgo em um único assalto. Os saxões utilizavam a tática de guerrilha, não se comparando nas batalhas convencionais ao exército bem organizado dos francos: a cavalaria partia para cima dos inimigos, seguida por uma muralha humana de arqueiros e pela infantaria, armada com lanças. Os francos obtiveram vitórias sucessivas, e perseguiram os saxões durante dois anos seguidos. A cada vitória se seguia uma conversão em massa dos vencidos. Muitos foram forçados ao batismo - nesta fase de sua vida, Carlos ainda não aprendera que não é a força que promove a verdadeira conversão religiosa". (BANFIELD, 1988, p. 18).
Carlos não era um homem cruel como outros soberanos da História, mas sua convicção de espalhar a fé cristã, o levou a agir de forma impetuosa e arrogante. Ao longo dos anos ele ordenou o batismo a força de milhares de saxões, chegando os ameaçar de morte. Apenas anos depois, é que ele viria que seus atos foram um erro.
Em 777, Widikund após ter sido derrotado várias vezes, desistiu de continuar a luta e partiu para a Dinamarca onde ganhou asilo do rei dinamarquês. Carlos tornou a Saxônia um Estado vassalo do Reino Franco, fazendo vários senhores saxões jurarem vassalagem, embora que o mesmo não conseguira convencer todas as tribos saxãs a reconhecer sua autoridade. Ainda no mesmo ano, ele ordenou a construção de uma grande fortaleza próxima a cidade de Paderborn na Saxônia, hoje na Alemanha. No mesmo ano, ele realizou a assembleia anual dos francos.
"Para Carlos, esse foi um momento de grande triunfo. Parecia que nada poderia detê-lo. Acabara definitivamente com a ameaça lombarda ao papa, algo que nem seu pai conseguira fazer, e conquistara para Igreja imensos territórios e milhares de almas, dentre as mais persistentes pagãs da Europa. Tudo parecia indicar que seus feitos agradavam a Deus". (BANFIELD, 1988, p. 19).
Um proposta tentadora: uma derrota amarga (777-778)
Ainda no ano de 777 durante a assembleia, o rei recebeu uma comitiva de mouros enviados pelo governador de Barcelona, o qual era fiel ao califa de Bagdá, o soberano oficial dos Estados árabes. O governador de Barcelona era contra a ideia do emir de Córdoba de romper com a autoridade do califa, logo, o mesmo partira para o Reino Franco, a fim de pedir ajuda do poderoso rei franco. Motivado pelo orgulho e a vaidade de empreender novas conquistas, sob a ideia de que em caso de vitória, o governador de Barcelona lhe cederia cidades e terras, e ao mesmo tempo, tendo em mente tentar libertar a Ibéria da influência da fé islâmica, Carlos ordenou que seu exército voltasse a ser reunido e partiu para a Espanha. Carlos pretendia se igualar ou superar seu avô Carlos Martel que em 732 havia derrotado os mouros em Poitiers, mas dessa vez, as possibilidades assim como as dificuldades eram maiores, mas ele não deixara se assustar. Seu caráter forte e determinado, o impeliu a aceitar a proposta de aliança com os mouros, para ironicamente ir derrotar outros mouros.
Durante vários meses do ano de 778, Carlos Magno liderou suas campanhas pela Espanha tendo conquistado várias cidades, mas para isso perdera muitos de seus homens, pois o apoio que aguardara de seus aliados mouros não veio, e o mesmo acreditava que os cristãos que ali viviam iriam ajudá-lo, mas muitos temeram fazer parte deste conflito. Para completar, as tropas do emir era poderosas e os bascos, habitantes do norte da Espanha eram contrários aos francos, Carlo chegou a se indignar com os bascos e ordenou a destruição das muralhas da cidade de Pamplona, famosa por suas touradas.
Vendo que as chances de prosseguir com a campanha dificultavam cada vez mais, Carlos começou a cogitar abandonar a campanha, e isso se concretizou quando chegaram notícias que novos ataque dos saxões voltaram a ocorrer. Não havia nem passado um ano desde a vitória na Saxônia e uma nova rebelião eclodira pelo país. Carlos decidiu abandonar de vez a frustrada campanha na Espanha e retornar para combater os saxões. Em agosto daquele ano, enquanto o exército franco atravessava a região montanhosa de Roncesvalles, na noite de 15 de agosto, a retaguarda do exército franco fora pega de surpresa. Enormes pedras foram arremessadas morro abaixo, esmagando os soldados desavisados assim como flechas caíram sobre eles. Em meio ao caos noturno, os bascos atacaram a retaguarda, causando grande dano aos francos.
Pintura medieval retratando a Batalha de Roncesvalles em 778. Em destaque o rei Carlos Magno rezando para Rolando, morto na batalha. |
Retornando para o Reino Franco, Carlos soube que seu filho Lotário, irmão gêmeo de Luís, os quais haviam nascido no período que ele estava em campanha militar na Espanha, havia falecido, isso desanimou ainda mais o rei. Alguns nobres queriam que o rei trata-se imediatamente de marchar para a Saxônia para punir os saxões, pois souberam que Widikund havia regressado da Dinamarca, e voltara a incitar a rebelião contra os francos. Mas o rei, cabisbaixo pela perda do filho, pela derrota na Espanha, e por outros problemas políticos, decidiu adiar o confronto contra os saxões. Ele permitiu que os soldados voltassem para casa, para suas família, e tratou de reunir recursos para uma nova campanha, como também cuidar da administração do reino.
A vingança contra os saxões (782-785)
No ano de 782, quatro anos depois das derrotas na Espanha, Carlos havia organizado um novo e poderoso exército e agora seguia novamente a frente deste em direção ao norte, a Saxônia. Estava decidido a por um fim a estes constantes problemas. Carlos agora transpunha profunda seriedade e uma frieza nunca vista anteriormente. Seu biógrafo e amigo Eginardo, conta que Carlos havia ficado profundamente magoado com a perda de seus exército em Roncesvalles, mas aquele homem triste de quatro anos atrás, agora era um homem frio e com sede de vingança.
Gravura alemã de Carlos Magno |
"Finalmente, após três anos de luta encarniçada que ceifou milhares de vidas e devastou os campos saxões, esgotando os recursos de ambos os lados envolvidos no conflito, veio a oportunidade de uma solução totalmente nova: Widukind ofereceu a sua rendição incondicional e declarou-se disposto a aceitar a fé cristã. Foi um acontecimento memorável, pois tanto os francos quanto os saxões admiravam a coragem, a determinação e a habilidade do chefe saxão. A fim de evitar mais sofrimento para o seu povo, o grande líder guerreiro concordava em entregar suas armas e renunciar aos deuses pagãos. Carlos preparou uma grande cerimônia e foi ele próprio o padrinho de Widikund, cobrindo o afilhado de presentes". (BANFIELD, 1988, p. 29).
Pintura retratando a rendição de Widikund e seu povo ao rei Carlos Magno em 785. |
Ainda no ano de 785, Carlos descobrira que já era tão amado assim pelo seu povo. Hadrad um dos nobres de sua corte, tramou um complô para matá-lo. Os grandes gastos com a guerra contra os saxões, e a grande perda de recursos e homens, levou parte da nobreza e da plebe a se revoltar com o rei, o qual estava cego pela sua cobiça e vingança. Hadrad e seus comparsas foram executados, mas isso servira de alerta para Carlos Magno, que suas atitudes estavam indo longe de mais, todavia, isso não bastou para que ele mudasse seu comportamento e caráter naquele momento.
O complô na Lombardia e a conquista da Baviera (786-788)
Era o ano de 786, quando os filhos do rei lombardo Desidério tentaram promover uma rebelião na Lombardia, a fim de recuperaram o reino de seu pai. Aldargis e sua irmão Aldaperga, chegaram a preparar o início da revolta, mas Carlos fora avisado sobre o complô e enviou um exército para a Itália. Diante da ameaça do exército franco, os dois desistiram de iniciar a revolta. Aldargis morava em Constantinopla, e Aldaperga era esposa do Duque de Benevento. No entanto, a irmã deles, Liutperga, que era esposa de Tassilo III, Duque da Baviera, incentivara o marido a se rebelar contra o rei franco, pois o Ducado da Baviera era um Estado independente, e ficava nas fronteiras do grande Reino Franco. Para completar, Tassilo era primo de Carlos.
"O duque descendia de uma das mais poderosas e nobres famílias bávaras e, com Carlos, nutria um fervor religioso e um respeito pela justiça que o tornavam muito querido por seus súditos. Quando jovem, Tassilo se entendia bem com os parentes. Prestara um juramento a Pepino, o Breve, de que seria fiel aos reis francos durante toda a sua vida. No entanto, nos anos que se seguiram, um espírito de independência, alimentado pela mulher, crescera em seu coração". (BANFIELD, 1988, p. 31).
Carlos ordenou que os duque voltasse a prestar seus juramentos para ele, no entanto, notou relutância de Tassilo ter feito aquilo de bom grado, Carlos começou a desconfiar que o primo realmente tivesse caído na conversa de sua esposa, e tramasse atacá-lo, assim, Carlos ameaçou invadir a Baviera, e em 787, Tassilo fora preso e condenado por traição. Em 788, ele permitiu que Tassilo escolhe-se sua própria sentença, o mesmo escolhera exílio em um mosteiro pelo resto da vida, Carlos consentiu e enviou o primo para o mosteiro e se apoderou do Ducado da Baviera o anexando ao Reino Franco. O ato fora um tanto pernicioso, pois embora sofresse chantagem por parte de sua esposa, Tassilo III nunca chegou mesmo a tramar algo contra seu primo, porém a ameaça de ter suas terras invadidas, e a debandada de nobres bávaros para o lado de Carlos, o levaram a se preparar para uma batalha, e quando o fizera, veio sua prisão. A frieza de Carlos com seu primo é um exemplo do caráter frio que o rei adotara desde 778.
A conquista dos Ávaros (788-795)
Se não basta-se a conquista da Saxônia e da Baviera, Carlos estava interessado em subjugar os Eslavos ao seu controle, ele não pretendia conquistar as suas terras, mas torná-los seus vassalos. Assim, ele havia criado algumas "marcas", como a Marca da Espanha e a Marca da Bretanha, o próximo passou era criar "marcas" nas fronteiras leste do reino. Porém, entre os eslavos o seu maior inimigo seriam os ávaros, que viviam a leste da Baviera.
Os ávaros eram um povo asiático de origem mongol (assim como os turcos e os hunos), os mesmos eram descendentes das tribos hunas reunidas por Átila, o Huno (406-453), logo passaram a ocupar a parte central da Europa, se estendendo em direção ao sudeste, aos Bálcãs. Os ávaros ainda preservavam alguns dos costumes de seus antepassados, como o grande apresso pela cavalaria, o uso do arco e flecha, o uso de peles de animais como roupas, e uma vida seminômade. Mesmo assim, muitas cidades dos ávaros eram prósperas, devido ao comércio e a saques. Carlos estava decidido que eles eram uma grande ameaça, embora que hoje os historiadores questionem se realmente os ávaros foram uma ameaça ao poderoso reino franco, ou apenas um pretexto para que Carlos conquista-se suas terras e usurpasse suas grandes riquezas.
A guerra contra os ávaros fora longa, cara tanto para as finanças do Estado como para a população, pois milhares morreram nos campos de batalha. A guerra contra os ávaros fora a segunda guerra mais cara do governo de Carlos Franco, ficando atrás da guerra contra os saxões. A habilidosa, ágil e exímia cavalaria ávara, munida de seus arcos letais e arqueiros precisos, causou grandes problemas para os francos, o que levou a guerra ter durado vários anos.
Pintura retratando o confronto de cavaleiros ávaros com seus arcos e flechas contra cavaleiros francos. |
Carlos convenceu os nobres e o povo a terminar a guerra contra os ávaros e três anos depois veio a rendição. No entanto, alguns historiadores possuem outra opinião: eles sugerem que os ávaros não se rendeiro, mas foram quase que aniquilados, daí o ditado medieval "desaparecido como um ávaro". A Ávaria não fora anexada ao reino, mas fora feita uma "marca", e parte da população ávara fora encaminhada para outras terras do reino franco, ou fugiram para terras vizinhas fora do domínio dos francos. Para compensar os grandes gastos com a guerra, Carlos ordenou que as cidades fossem saqueadas (as vezes ele inibia seus homens ao saque).
"Carlos, no entanto, foi bem recompensado. O imenso tesouro dos ávaros - pedras preciosas, , objetos de ouro e prata, sedas ricamente trabalhadas - foi tomado pelos francos, que precisaram de dezenas de carroças para transportá-lo para a corte de Carlos". (BANFIELD, 1988, p. 38).
Na tentativa de se redimir de alguns de seus pecados, Carlos agiu de forma mais branda com os ávaros. Ele não impôs os decretos que fez aos saxões de forma tão severa aos ávaros. O dízimo não seria obrigatório, a conversão e o batismo não seria forçado; as multas e punições para o descumprimento dos dogmas cristãos seria amenizados, pois anteriormente alguns eram passíveis de pena de morte. Posteriormente, Carlos fizera o mesmo com o saxões, abrandando as imposições que ele os havia sujeitado.
Carlos depois da guerra contra os ávaros, iria procurar a paz no reino e com os vizinhos, embora conflitos ainda voltariam a ocorrer nos anos seguintes, ele já não iria se dedicar mais as campanhas militares e a travar novas guerras, estava mais interessado em administrar seu vasto reino.
Uma nova capital: o amante da cultura
Após a guerra contra os ávaros, Carlos Magno começou a deixar de ser um homem profundamente sério e severo, para retomar sua simpatia e cordialidade do passado. Ele dedicaria-se o restante do seu reinado a dar maior atenção as questões de Estado e da Igreja. Carlos passaria a viajar com mais frequência pelo seu reino, a fim de avaliar os problemas e a produção alimentícia e manufatureira, assim como o comércio; daria especial atenção a educação e a cultura, algo que será foco nesta parte do texto.
Inicialmente como eu havia dito, Carlos só aprendeu a ler e escrever na fase adulta, embora acredita-se que ele já soubesse ler um pouco, mas fora já por volta de seus 30 e 40 anos, que despertou o interesse pelo conhecimento e pela cultura, e procurou incentivar isso nos filhos e filhas, na Corte e no povo em si.
"O rei começava a planejar o futuro dos filhos quando estes ainda eram pequenos. Observava atentamente cada aspecto de sua educação para se certificar de que se mostrariam dignos das coroas que um dia usariam. Para ele, um rei digno do nome precisava ser civilizado e audacioso. Seus três filhos - Carlos, Carlomano e Luís - tiveram como preceptores os maiores sábios da época". (BANFIELD, 1988, p. 44-45).
Em 791 Carlos decidiu criar uma nova capital, ele estava cansado dos ares do sul e decidiu se mudar para o norte do seu reino. O local escolhido for a antiga cidade romana de Aquisgrano, conhecida por suas fontes termais (supostamente medicinais), a qual seria reformada para se tornar a nova capital do Reino Franco. Depois das reformas e das novas construções, a cidade se tornou capital oficial do Reino Franco e posteriormente do Sacro Império, como será visto mais adiante. Atualmente a cidade se chama Aachen e se encontra na Alemanha, bem próxima com a fronteira da Bélgica.
Localização da cidade de Aachen, antiga Aquisgrano, capital do império de Carlos Magno. |
Esboço de como teria sido o palácio de Carlos Magno em Aquisgrano. |
Fora em Aquisgrano que o rei passou a viver e a dar maior atenção a educação e a cultura de seu país. Carlos ordenou a construção de uma escola no palácio que atendia principalmente os filhos da nobreza, mas em alguns casos, algumas crianças da plebe, pois o grande sonho do rei era proporcionar acesso a educação a todos os súditos do reino, uma ideia ousada e a frente de seu tempo: educação para todos. Embora não tenha conseguido realizar tal sonho, ele tentou mesmo assim; ordenou a construção de várias escolas nas grandes cidades, em abadias e mosteiros, e até mesmo permitiu que as mulheres tivesse acesso as escolas e ao mesmo tipo de ensino, algo inédito na época, pois em geral as mulheres eram educadas em casa e em muitos casos não aprendiam nem a metade do que os homens aprendiam, pois as mulheres eram educadas para se tornarem donas de casa, esposas e mães.
"A reputação da escola do palácio logo se espalhou, atraindo professores de toda a Europa. Entre eles, havia um que chamou a atenção do rei: era um monge inglês chamado Alcuíno, de inteligência extraordinária. Carlos fez-lhe uma proposta irrecusável para morar no palácio e coordenar seu programa educacional. Sob a direção do monge erudito, o sonho de Carlos de elevar o padrão educacional dos francos começou a se tornar realidade". (BANFIELD, 1988, p. 51).
Santo Alcuíno de York, fora o principal professor durante o governo de Carlos Magno, tendo sido um dedicado e notório educador. |
"Alcuíno escreveu livros escolares, em substituição a outros, repletos de erros, usados anteriormente pelos francos. E usou a própria escola do palácio para treinar professores, que iriam se estabelecer nas escolas fundadas nas muitas abadias que havia pelo reino. Essas abadias, residência e lugar de oração dos monges, eram também centros de cultura e conhecimento". (BANFIELD, 1988, p. 51).
Na época de seu governo os estudos escolares eram divididos nas chamadas sete artes liberais, disciplinas básicas ensinadas nas escolas, divididas em duas categorias o trivium (gramática, lógica e retórica) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). Além destas disciplinas havia aulas de pintura, história, geografia e filosofia, mas vale ressaltar que nesta época, tais disciplinas ensinavam o básico, e as artes liberais eram as disciplinas principais do currículo escolar daquela época, sendo as demais, disciplinas complementares. Tal modelo se mantivera pelo restante da Idade Média, vindo a mudar com o surgimento das universidades, que passaram a oferecer cursos de Direito, Medicina, Teologia e Engenharia.
Carlos ordenou que os clérigos que eram os professores, melhorassem sua instrução; ordenou a copilação de vários livros, incluindo livros de autores gregos e romanos; a vinda de livros de outros cantos do reino para a capital, a reforma de mosteiros e abadias para abrigar escolas, como também a reforma de bibliotecas. Alcuíno se tornou um grande amigo do rei, ambos e outros nobres que gostavam do conhecimento e da cultura se reuniam após as refeições para conversarem. As reuniões cresceram e o rei passou a designar aquele grupo de "A Academia" em referência a Academia criada pelo filósofo Platão, vários séculos antes.
O rei também incentivou as artes, fosse na pintura, mosaico, escultura, música e poesia; como também recuperou os festejos cristãos e as missas, pois muitas igrejas e capelas haviam sido abandonadas ou eram usadas como depósitos, indignado com isso, ele ordenou que as capelas e igrejas fossem limpas, arrumadas e reformadas, retomando as missas e celebrações ecumênicas, pois sendo um bom cristão como ele buscava ser, ele considerava necessário proporcionar a doutrinação de seu povo. Carlos considerava o conhecimento como o "alimento" do espírito, e por sua vez a fé seria o seu "guia".
Carlos passou a se interessar pelos debates teológicos, incentivando seus clérigos a estudarem para resolver tais debates. Em 794 ele escreveu uma carta ao Papa Adriano I, criticando a decisão do imperador bizantino Constantino VI, de defender a adoração das imagens de Jesus, Maria e dos santos, Carlos alegava que as imagens eram apenas representações mas não deveriam ser o centro de adorações como os pagãos faziam. Naquele ano em Frankfurt (hoje na Alemanha) ele publicou os Livros Carolíngios, em resposta a não intervenção do papa, e como uma crítica a este fato e outros fatos ligados a questões doutrinárias da Igreja Romana. Todavia, no ano de 795, Carlos receberia uma triste notícia, o papa Adriano falecera, o rei ficou muito triste, pois foram amigos por vinte anos.
O novo papa (795-799)
Papa Leão III |
"Carlos então ordenou a seus embaixadores em Roma que levassem Leão III a Paderborn. Lá, o papa passou os meses de verão em longas confabulações com o rei. No início do outono, Carlos estava convencido de que deveria fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para recolocar o papa em seu trono". (BANFIELD, 1988, p. 62).
Ainda em 799, o papa retornou para Roma, acompanhado por uma guarda franca e dois bispos que iriam investigar as acusações contra o papa a fim de prová-las que eram falsas e caluniosas. No ano de 800, a enquanto Carlos viajava pelo reino fiscalizando seus domínios, sua quinta esposa a adorável Liutgarda faleceu, o rei ficou muito triste e depois não voltaria a se casar mais. No entanto, ele decidiu ir à Roma, a fim de coroar seu filho Carlos como rei dos francos, pois era costume da monarquia franca coroar os príncipes ainda em vida de seu pai, como forma de legitimar sua herança. O papa iria realizar a cerimônia de coroação.
O Sacro Império Romano Germânico (800-814)
Carlos chegou em Roma em dezembro de 800, fora aclamado pelo povo nas ruas como herói e seu soberano, pois tecnicamente Carlos Magno também era rei de metade da Itália. O entusiasmo do povo era singular, pois por muito tempo, os romanos foram desconfiados acerca de governantes estrangeiros, mas Carlos embora tenha sido severo e cruel por alguns anos, isso era visto como normal, pelo menos no que ele fez, pois sua severidade e vilania fora contra os inimigos, neste caso os saxões, ávaros e mouros, os quais era pagãos e infiéis. No entendimento da época, o rei não fizera mais do que sua obrigação. Carlos possuía mais renome e prestígio do que o próprio papa Leão III (os papas por longos séculos habitualmente foram os governantes de Roma e dos Estados papais).
A coroação do príncipe fora marcada para o dia 25 de dezembro, dia de Natal. Era manhã de Natal, e a Catedral de São Pedro, na época diferente do que hoje conhecemos, estava abarrotada de gente para ver a coroação do jovem príncipe, e as próprias figuras do rei e do papa. Carlos vestiu-se com seu traje real e adentrou por último na catedral. Todos estavam luxuosamente vestidos, havia gente de todos os cantos do reino e até de terras estrangeiras, como a Grécia. A medida que Carlos seguia em direção ao papa teria notado uma segunda coroa, maior do que a primeira. O papa fizera sinal que Carlos se ajoelha-se então pegou a grande coroa e o corou dizendo:
"Carlos, Sereníssimo Augusto, coroado por Deus, grande e pacífico imperador, governante do Império Romano e, pela graça de Deus, rei dos lombardos e francos". Carlos se levantou e o povo bradou três vezes em seguida, saudando o novo imperador dizendo: "Longa vida e vitória a Carlos Augusto, coroado por Deus, poderoso imperador e amante da paz!".
Pintura retratando a coroação de Carlos Magno em 25 de dezembro de 800, onde o mesmo recebera o título de imperador dos romanos. |
Não se sabe se Carlos sabia que seria coroado, seu biógrafo e amigo, Eginardo disse que o rei fora pego de surpresa, manteve-se em silêncio durante a sua coroação e a coroação de seu filho que fora em seguida. Carlos também não renunciou ao título, manteve para si, e decidiu criar um novo reino, um novo império cristão, revivendo a tradição romana, a mesclando com a tradição germânica da qual provinha os francos. Nascia o Sacro Império Romano Germânico.
Não me reterei a falar muito do Sacro Império, pois minhas fontes são poucas acerca deste período, mas Carlos governaria como imperador dos romanos por quase quatorze anos, tendo realizado nestes anos um reinado pacífico e benevolente, voltado para administração de seu império, a consolidação e reformulação de leis, direitos, estatutos, impostos; o incentivo a educação, cultura, artes, etc.
Carlos retornou em 801 para Aquisgrano, a capital de seu império, onde viveria até o fim da vida. Lá ele começou a planejar novas mudanças para seu vasto império, o maior de toda a Europa em seu tempo. Carlos não se via apenas como imperador dos romanos, mas como um imperador dos cristãos. Mesmo assim, não adotou as vestimentas pomposas dos imperadores romanos, preferiu manter suas vestes simples e habituais, e nem mesmo adotou o título de césar, o qual alguns imperadores romanos utilizaram para referir-se a sua pessoa.
Moeda de prata retratando a efígie de Carlos Magno como um imperador romano. Na moeda se ler a inscrição em latim: "Imperador Carlos". |
O califa Harum al-Rashid acabou aceitando a proposta de amizade do imperador Carlos Magno, e em 802 enviou uma embaixada dando sua resposta e enviando presentes pela união e para homenageá-lo como imperador. Um dos presentes enviados pelo califa Harum, fora um elefante chamado Abul Abbas.
O elefante Abul Abbas dado de presente ao imperador Carlos Magno pelo califa Haram a-Rashid. |
Carlos passou alguns anos dedicando-se a reescrever e atualizar as leis de seu império, pois como haviam vários povos sob seu domínio, Carlos sabia que seria difícil arrumar um consenso entre os mesmos, além disso haviam as "marcas" que também estavam associadas a juridição do império, assim, Carlos procurou que seus juristas realizassem um código de leis que fosse aplicável de forma coerente entre os povos súditos e vassalos, de forma que resgata-se antigas leis romanas que foram atualizadas para o contexto da época, e ao mesmo tempo tivesse influência cristã, pois algumas penas era dadas mediante ao fato de serem consideradas acusações graves a moral cristã, mas também não perdesse as características das leis francas.
Carlos também passou a designar padres e bispos, e até mesmo a permitir que estes ocupassem cargos públicos, algo que não era comum. Sua intervenção em assuntos religiosos cresceu consideravelmente, a ponto do mesmo se considerar detentor do poder temporal cristão, enquanto o papa representava o poder espiritual. Carlos também expandiu seu número de missi dominici, os quais fiscalizavam e governavam, os enviando para as terras distantes do império, e para as "marcas". Em 804, os saxões se rebelaram novamente, o imperador indignado, ordenou a deportação de várias famílias que foram retiradas a força de suas terras e enviadas para outros lugares do reino, algo que já tinha feito anteriormente. Após este fato incidentes do tipo não voltaram a ocorrer na Saxônia.
Em 805 para evitar problemas com os bizantinos que governavam a porção sul da Itália, Carlos cedeu Veneza para os mesmos, pois Veneza era simpatizante do Império Bizantino. O basileu Nicéforo I Focas, agradeceu a iniciativa do imperador Carlos. Tendo amenizado os problemas fronteiriços com os bizantinos, duas novas ameaças surgiram: piratas mouros começaram a atacar portos na Provença e na Itália, e vindo do norte um novo inimigo chegou a costa atlântica do império, eram homens habilidosos na navegação e guerreiros ferozes, eram os vikings.
Estátua alemã do séc. XIX de Carlos Magno |
"No ano de 810, as más notícias se multiplicaram: primeiro, morreu Gisla, uma irmã que Carlos amava muito; depois foi a vez do elefante Abul Abbas, o inseparável companheiro do imperador; a seguir, o Império Franco foi assolado por uma peste que atacou o gado; e, para terminar, faleceram a filha favorita de Carlos, Hrodrud, e o filho Pepino. Esta séries de mortes fez que o imperador mergulhasse num período de profunda depressão". (BANFIELD, 1988, p. 72).
Carlos com seus 68 anos passou a dar maior atenção ao seu testamento e ao seu lado espiritual, pois o mesmo se culpava das ações e decisões que havia feito no passado e procurava uma forma de se redimir. Carlos pensou até mesmo em abdicar do trono e se tornar monge, vivendo em um mosteiro o resto de sua vida. Em seu testamento ele já havia designado as porções territoriais que caberiam a cada um de seus filhos, como também determinou que 11/12 avos de seu tesouro seria doado para a Igreja. Carlos também passou a se afastar mais dos assuntos públicos e a se dedicar mais a família e a si mesmo; gostava de escrever sermões os quais os proclamava para o povo, exaltando a humildade, a obediência a Igreja, a obediência ao imperador, o amor a família, a pátria, etc.
Em 811, seu filho Carlos, o Jovem faleceu misteriosamente. Carlos era considerado entre os filhos os quais mais se parecia com seu pai em questão de caráter e virtudes. Pepino, o Corcunda havia sido exilado, Pepino da Itália havia morrido, agora restava Luís, o filho rebelde.
"Agora só existia um filho a quem Carlos poderia passar o grande império que construíra. Dentre todos os seus filhos, Luís era o que menos parecia ter o caráter e a coragem que caracterizavam a família imperial. As deficiências de Luís eram tão sérias que os membros da corte achavam que as leis de sucessão deveriam ser desconsideradas e a coroa entregue a um dos netos do imperador. Mas Carlos, profundamente conservador, insistia em seguir a tradição. Embora duvidasse da competência do filho, acreditava que Deus deveria ter algum bom motivo para fazer de Luís o imperador". (BANFIELD, 1988, p. 73).
A morte do imperador
Em 813, Carlos chamou seu filho Luís a corte para ter um longo período de conversas a fim de instruir o filho para se tornar um homem de bem, honesto, justo, cordial, firme e honrado. Carlos e seus conselheiros deram vários conselhos ao príncipe de como governar, administrar, agir, se comportar, etc. Em setembro daquele ano, pai e filho oficializaram a sucessão de Luís. Carlos já com seus 70 anos de idade, ajoelhou-se na capela ao lado do filho e orou, então levantou-se e proclamou um discurso para o filho e o povo que o assistia.
Luís, o Piedoso. Assumiu o lugar do pai em 814 tendo governado até 840. Após a sua morte o império fora dividido entre seus filhos e entrou em declínio. |
No ano seguinte, em 28 de janeiro, Carlos saiu de manhã para caçar como gostava de fazer costumeiramente, no entanto, quando retornou para o palácio se sentia um tanto fraco, então se retirou para seus aposentos não indo almoçar no salão. Carlos acabou adoecendo, ficando gravemente febril, vindo a falecer no começo de fevereiro aos 71 anos, vitimado por pleurisia. Segundo seu biógrafo, Eginardo, o imperador estava em seu quarto cerca por monges que se preparavam para fazer o sacramento. As últimas palavras que Carlos teria dito, de acordo com Eginardo foram: "Em Vossas mãos, Senhor, entrego minha alma".
A morte do rei dos francos e lombardos, do imperador dos romanos, do imperador dos cristãos e protetor da Sagrada Igreja de Cristo, fora comunicada em toda a Europa. Carlos fora sepultado na Catedral de Aquisgrano num grande funeral. Uma mortalha confeccionada em Constantinopla fora trazida para cobrir o corpo do imperador. Naquele mesmo ano, um bispo de Aquisgrano beatificou o rei, e a beatificação fora reconhecida pelo Papa Bento XIV (1745-1758). Em 1165, o Antipapa Pascoal III canonizou Carlos Magno, porém a Igreja Católica não reconhece o valor desta canonização. Carlos nos séculos seguinte se tornaria tema de lendas, poemas e canções, todas exaltando suas virtudes. Carlos se tornou um símbolo do cavalheirismo e do bom monarca.
Relicário de ouro do Beato Carlos Magno. |
"Entre a severidade e a benevolência, os 45 anos do reinado de Carlos Magno, expressaram uma visão política destoante do medievalismo. A preocupação com as leis, a ordem, a moral, a boa conduta, o trabalho, a propriedade, a Igreja, a educação, as artes e a cultura, eram ideias a frente de seu tempo. O governo de Carlos Magno fo uma chama em meio as "trevas do medievo"".
Leandro Vilar
NOTA: Eginardo (c.770-814) amigo e biógrafo de Carlos Magno escreveu sua biografia intitulada Vita Caroli Magni (A Vida de Carlos Magno).
NOTA 2: Alguns aspectos do reinado e da pessoa de Carlos são descritos nos Os Anais Francos e nas Crônicas Saxãs, ambas mostram visões diferentes sobre o rei, neste caso nas crônicas, o rei é mostrado como um homem severo e violento, por sua vez nos anais, ele é um homem justo e cordial.
NOTA 3: O cavaleiro Rolando, morto em Roncesvalles se tornou tema de uma canção chamada A Canção de Rolando, que na realidade é um poema, escrito no século XI.
NOTA 4: O Sacro Império Romano Germânico começou com Carlos Magno, porém só se tornou um reinado contínuo a partir de Otão I, o Grande o qual fora proclamado imperador em 962. Antes dele, os descendentes de Luís, o Pio se digladiaram ao ponto de terem fragmentado o império e o diminuído consideravelmente. Alguns historiadores sugerem que o Sacro Império, terminou com Luís, o Pio e ressurgiu com Otão, o Grande, pois os anos entre 840 a 962, foram anos de fragmentação e discórdia, os imperadores eram depostos ou assassinados.
NOTA 5: Quando Otão, o Grande assumiu o governo do império, a linhagem imperial passaria a ser alemã e não mais franca, daí o Sacro Império Romano Germânico ser considerado o Primeiro Reich.
NOTA 6: Pepino, o Breve recebera esta alcunha pois fora um homem baixo. Isso significa que Carlos Magno puxou a altura de seus avôs, que eram descritos como homens com a altura acima da média.
NOTA 7: A mãe de Carlos, Berta ou Bertrada, era chamada de forma desdenhosa de "Berta a de pés grandes", pois tinha os pés ligeiramente grandes para uma mulher.
Referências Bibliográficas:
BANFIELD, Susan. Carlos Magno. São Paulo, Nova Cultural, 1988. (Coleção Os Grandes Líderes - vol. 10).
HEERS, Jacques. História Medieval. São Paulo, DIFEL, 4 ed, 1985.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 5, São Paulo, Nova Cultural, 1998.KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, v. 19, São Paulo, Nova Cultural, 1998.
A história dos Reich
Barba-roxa
A Era Feudal na Europa
A Saga Viking
Bravíssimo!! Amei o texto! A melhor que já li dentre várias outras biografias de Carlos Magno que tenho lido.
ResponderExcluirEstou amando este blog Muito bom
ResponderExcluirRafael e Maria Esther, obrigado por terem gostado do texto.
ResponderExcluirParabéns por seu esforço. O conteúdo aqui expresso é de grande qualidade profissional e ajudará a todos que querem saber mais sobre este Grande monarca.
ResponderExcluirE a respeito dos 12 pares de frança o que tens a dizer.
ResponderExcluirCarlos Moreira não cheguei a pesquisar a respeito dos Doze Pares de França, mas posso fazer a seguinte ressalva: o termo era usado para se referir a guarda real do rei Carlos Magno. Todavia muito que se conhece a respeito deles, advém de canções e gestas, as quais são fonte literárias e com teor lendário, escritas séculos após a vida de Carlos Magno. Inclusive existe um paralelo dos Doze Pares de França com os Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Arthur.
ResponderExcluirHoje alguns historiadores tendem a tratar os Doze Pares como sendo um romanceamento da vida e do reinado de Carlos Magno, pois nos séculos XI ao XIII, Carlos Magno foi tema de romances, os quais o retratavam como um ideal de rei cristão e cavaleiro. Algo que encontrou respaldo no contexto das Cruzadas, como uma forma de incentivar os monarcas europeus a aderirem a "guerra santa".