segunda-feira, 28 de julho de 2014

100 anos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

"A Primeira Guerra Mundial foi uma guerra entre impérios".
Leandro Vilar


Em 28 de julho faz um século que teve início a chamada Primeira Guerra Mundial, o primeiro grande conflito do século XX e um dos maiores da História, o qual vitimou quase 20 milhões de pessoas, entre militares e civis. A Primeira Guerra foi um acontecimento tão significante que levou a profundas mudanças no mundo, mudanças essas mais impactantes na Europa e nos Estados Unidos, mas que afetou a política e a economia principalmente do Ocidente, pois apenas na Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é que o Oriente sentiu mais esse estado de beligerância. A Primeira Guerra marcou o confronto direto ou indireto de várias monarquias europeias com interesses expansionistas.  

A proposta deste texto é falar um pouco de alguns dos motivos que desencadearam essa guerra no ano de 1914, um lembrete de que embora o século XX foi o século no qual mais se falou em paz no mundo, foi um dos séculos mais violentos da História, com dezenas de milhões de mortes.  

Introdução:

“Em setembro de 1914, em declarações citadas pela imprensa norte-americana, o biólogo alemão e filósofo Ernst Haeckel fez a primeira referência registrada ao conflito como “Primeira Guerra Mundial”, em sua previsão de que a luta que começava “se tornar[ia] a primeira guerra mundial no sentido pleno da palavra”. O rótulo de “Primeira Guerra Mundial” só se tornaria corrente depois de setembro de 1939, quando a revista Time e uma série de outras publicações popularizaram seu uso como corolário da expressão “Segunda Guerra Mundial”, mas já em 1920 o oficial britânico – e jornalista em tempos de paz – Charles à Court Repington publicou suas memórias da guerra sob o título A Primeira Guerra Mundial, 1914-1918. Nos anos do entreguerras, uns poucos descrentes e pessimistas usavam “Primeira Guerra Mundial” em vez da mais comum “Grande Guerra” ou “Guerra Mundial”, de modo a refletir a sua consternação por ela não ter sido, como Woodrow Wilson esperava, “a guerra para acabar com todas as guerras””. (SONDHAUS, 2013, p. 13). 

Por sua vez, o uso da palavra mundial é contestado por alguns historiadores, os quais não consideram a Guerra de 1914-1918 como tendo sido a "primeira guerra mundial", mas uma de tantas outras "guerras mundiais". Por exemplo, o falecido historiador americano Charles R. Boxer considerava que a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) teria sido a primeira guerra com características "mundiais", pois envolveu vários Estados europeus numa disputa por fronteiras no continente, mas que também repercutiu na posse de colônias nas Américas. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) envolveu em conflito Estados europeus, as colônias britânicas e francesas na América do Norte, além da participação de povos indígenas. Alguns consideram tal batalha com características de uma "guerra mundial". 

No entanto, embora haja outros exemplos para se discutir a validade ou não de chamar apenas as grandes guerras ocorridas no século XX como tendo sido "guerras mundiais", o foco desse texto não é esse, mas sim conhecer o cenário que levou ao desencadeamento da Grande Guerra de 1914. Normalmente os livros nos informam que o assassinato do arquiduque Francisco Fernando ocorrido em 28 de junho de 1914 em Saravejo, na província da Bósnia e Herzegovina no Império Áustrio-Húngaro, crime esse cometido pelo jovem militante Gavrilo Princip foi o motivo principal para desencadear a guerra.

Na verdade, a morte do arquiduque austríaco foi apenas o estopim que detonou um barril de pólvora que há muito estava próximo de explodir. As consequências que levaram ao desencadeamento da guerra datam de alguns anos antes desse episódio criminal. Os motivos são principalmente de ordem política, econômica e diplomática, mas também houve fatores sociais e culturais por trás desse desentendimento entre as Grandes Potências europeias do final do XIX e começo do XX. Para isso, é preciso conhecer um pouco o estado dessas potências e suas relações com as nações vizinhas. 

As Grandes Potências europeias: 

O final do século XIX ainda era época do imperialismo, as nações europeias já haviam perdido quase todas as suas colônias nas Américas, as que ainda restavam eram pequenos territórios, na maioria ilhas, no entanto, a África estava bastante repartida pela colonização, dividida principalmente entre a França, Grã-Bretanha e Alemanha, embora a Bélgica, Itália, Portugal e Espanha também possuíssem seus territórios. 

Na Ásia, os britânicos ainda controlavam a Índia, Hong Kong e outros postos no sudeste asiático. Os portugueses ainda possuíam entrepostos na Índia, Malásia, Indonésia, Macau na China, mas haviam perdido o Japão. A Espanha possuía as Filipinas, mas os Estados Unidos lhe tirou essa posse. Os holandeses haviam perdidos suas colônias na Indonésia. Os impérios Otomano, Russo e Japonês procuravam expandir suas fronteiras sobre o restante do continente. Já na Oceania, os britânicos detinham a posse da Austrália, Nova Zelândia e outras pequenas ilhas, sua influência era hegemônica na região. 

Mas voltando a Europa, palco deste conflito, partamos para conhecer os países que deram início a esse conflito. A guerra foi iniciada com a participação de cinco monarquias: Império Britânico, Império Russo, Império Alemão e o Império Áustrio-Húngaro. A França nesse grupo era a única república entre essas grandes potências. Posteriormente a eclosão da guerra, outras nações adentrariam ao conflito, mas por hora nos deteremos a estes países.

Mapa da Europa antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
"Até o fim do século XVIII, essas potências tinham sido socialmente homogêneas. Todas eram sociedades primariamente agrárias, dominadas por uma aristocracia fundiárias e governadas por dinastias históricas legitimadas por uma igreja estabelecida. Cem anos mais tarde tudo isso fora completamente transformado ou estava sofrendo uma transformação rápida e destabilizadora; mas o ritmo da mudança fora muito desigual, como veremos". (HOWARD, 2010, p. 22). 

O Reino Unido adentrou o século XIX como o cabeça da Revolução Industrial surgida no século anterior, no entanto, até o fim do XIX, o Império Alemão a passaria, e no começo do XX seria a vez dos Estados Unidos. Todavia, os britânicos ainda eram a potência marítima dominante, posição essa que lhe rendera ser a nação mais rica do mundo por várias décadas. Mas em termos diplomáticos, os ingleses por aquele tempo estavam em paz com os franceses, seu tradicional rival desde a Idade Média, por sua vez os alemãs não apresentavam uma grande ameaça econômica, embora que no final do século a massiva industrialização do país pois em cheque a supremacia industrial, bélica e naval dos ingleses. 

No Oriente, os ingleses procuraram firmar laços com os chineses, assegurar sua autoridade sobre a Índia, assim como deram início aos novos contatos com os japoneses, os quais por mais de um século ficaram praticamente isolados do mundo. Por sua vez, os britânicos temiam que os russos em sua expansão territorial alcançassem a Índia, mas para se evitar isso, fomentou-se um apoio aos turcos para impedir o avanço russo pelo Oriente Médio.

No que tange a França, em comparação as outras potências, o país estava atrasado em termos militares e econômicos. Embora possuísse muitas colônias na África, isso não lhe assegurava um crescimento econômico seguro como visto nos seus vizinhos maiores. Após a Revolução Francesa (1789-1799) o país vivenciou um "período de crescimento" com o governo de Napoleão Bonaparte (1804-1815), onde as guerras napoleônicas tornaram os franceses o centro das atenções, mas com a derrocada de Napoleão, o país vivenciou uma onda de crises governamentais, oscilando entre repúblicas e novas monarquias. Curiosamente o país tomou um relativo equilíbrio político após perder a Guerra Franco-prussiana (1870-1871). Embora tenha saído derrotado, uma nova república foi instaurada e se manteve até o começo da Segunda Guerra Mundial. 

Quanto ao Império Russo, este terminava o século XIX com grandes esperanças de desenvolvimento industrial, modernização e crescimento econômico. O país nas décadas de 1880 e 1890 começou a se industrializar, algo que começou com a expansão das ferroviais, e foi nessa época que se iniciou as obras da Ferrovia Transiberiana a qual por muitos anos foi a mais extensa rota ferroviária do mundo (atualmente é a terceira mais extensa), no entanto, essa industrialização e modernização não agiu de forma rápida e homogênea. 

A Rússia do começo do século XX contava com mais de 100 milhões de habitantes, sendo que grande parte da população era de camponeses analfabetos, algo também visível em vários outros países do mundo. A construção de fábricas ficou bastante limitada a região oeste do país, em torno de algumas das grandes cidades. Além disso, resquícios da servidão feudal ainda se mantinham presentes nessa época. 

Em meados do século XIX os russos tiveram sua campanha expansionista para região dos Bálcãs frustada na chamada Guerra da Crimeia (1853-1856). Cinquenta anos depois, os russos decidiram confrontar os japoneses pela posse da Coreia e da região da Manchúria, antes pertencente a China. O czar Nicolau II confiante que a vitória sobre os japoneses seria fácil, não esperava pelo contrário, uma dura e vergonhosa derrota. A Guerra russo-japonesa (1904-1905) surtiu vários efeitos indesejados, dentre os quais a manifestação de pequenas revoltas pelo país contra o governo do czar, no que ficou conhecido como Revolução Russa de 1905


Manifestantes russos durante o chamado Domingo Sangrento, em 22 de janeiro de 1905. 
Tal revolução contou com a mobilização de civis e militares, os quais defendiam várias causas de caráter político, econômico, trabalhista, social, etc. Houve desavenças do Estado contra os manifestantes no que resultou em prisões, feridos e mortos. Todavia, o czar Nicolau II decidiu acatar algumas dessas exigências com seu Manifesto de Outubro. Mas, abafada essa rápida revolução, o governo estava com problemas financeiros, os gastos com a guerra foram mais altos do que o esperado, e para tentar corrigir esse efeito negativo, o país chegou a pedir empréstimo para a França e a Alemanha. 

Não obstante, o exército russo estava desmoralizado e enfraquecido, tentar arriscar-se numa nova campanha contra os japoneses, chineses, turcos ou os britânicos seria muito arriscado por hora. Mas mesmo estando debilitado, o exército russo ainda era um dos maiores do mundo, e era algo a ainda a se temer. Outro caminho encontrado pelo governo russo, foi a intriga política com seus vizinhos eslavos. 

"No final do século XIX, a atenção do governo russo se concentrara na expansão para a Ásia, mas, depois da derrota para os japoneses em 1904-1905, ela se deslocou para o sudeste da Europa, que ainda era dominado pelo Império Otomano. Ali movimentos de resistência nacionais, baseados originalmente nas comunidades cristãs ortodoxas da Grécia, Sérvia e Bulgária, haviam contado com o patrocínio tradicional dos russos - primeiro como colega cristãos, depois como colegas eslavos". (HOWARD, 2010, p. 25). 

Foi ainda na Idade Média que o Império Otomano conquistou terras no sudeste europeu, pelo fato dos turcos serem muçulmanos isso se tornou um sério problema para aqueles povos eslavos que já naquele tempo haviam adotado o catolicismo ortodoxo como religião. Além desse problema religioso, onde os conquistados não queriam adotar a fé do conquistador, havia o problema de identidade nacional, pois embora fossem povos de origem eslava, os quais compartilhavam a mesma língua e alguns costumes e tradições, tais povos acabaram desenvolvendo uma identidade local e regional. 

De fato, os russos, croatas, ucranianos, bielorrussos, eslovenos, poloneses, eslovacos, morávios, húngaros, búlgaros, bosníacos, macedônios, sérvios, etc., todos eram povos de origem eslava, mas no final do século XIX com exceção dos russos, dos búlgaros, montenegrinos e dos sérvios, os demais povos eslavos estavam sob o jugo de outros países como a Romênia e o Império Austro-Húngaro. E isso gerou um problema principalmente para os austríacos e húngaros. 

Em 1867 as Coroas da Áustria da Hungria assinaram o que ficou conhecido como Compromisso austro-húngaro e assim unificaram seus reinos, formando o Império Austro-Húngaro, sob um governo chamado por alguns de "monarquia dual". A ideia por trás dessa união monárquica era tentar por fim as dissidências entre os austríacos e húngaros e também em outras etnias menores. Vários anos antes dessa unificação etnias menores eslavas tentavam lutar para serem reconhecidas como nações independentes, sendo os magiares (também chamado de húngaros) um dos mais poderosos e conservadores dos povos eslavos, logo, os austríacos na tentativa de evitar um problema maior com seus vizinhos e também de certa forma unificar forças, propôs essa aliança interina que acabou durando mais de cinquenta anos. 


Insignia civil da Áustria-Hungria (1869-1918). 
Os magiares aceitaram o acordo, embora que oficialmente o imperador austríaco era o líder de Estado, os magiares ainda assim contavam com autonomia política sobre sua parte do império. No entanto, essa aliança monárquica embora tenha dado certo para austríacos e húngaros ela não foi bem aceita pelas outras minorias eslavas. 

Por fim, no que se refere ao Império Alemão, a última das Grandes Potências europeias dessa época, os alemãs vivenciaram nas últimas três décadas do século XIX um intenso crescimento populacional, tecnológico e econômico. O Sacro Império Romano-Germânico (chamado também de Primeiro Reich) fundado no ano de 800 por Carlos Magno, mais de mil anos depois chegava ao seu fim. 

Ao longo da história o Sacro Império de fato nunca foi uma nação unificada, as diversas províncias que mantiveram resquícios do feudalismo ao longo de séculos, eram quase totalmente autônomas diante do imperador, além do fato de não haver um sentimento de um nacionalismo nacional, pois as pessoas se identificavam como cidadãos de suas províncias, mas não do império. Em 1806 o último sacro imperador Francisco II, abdicou. 

De 1806 até 1871 os Estados alemãs e a Prússia vivenciaram um período turbulento de sua história, até que com a vitória sobre os franceses em 1871, a Unificação Alemã iniciada em 1806 pôde se concretizar. No Palácio de Versalhes em Paris, o então rei da Prússia, Guilherme I foi coroado kaiser (imperador) de uma Alemanha unificada. Assim nascia o Segundo Reich, o Império Alemão. 


Pintura retratando a Proclamação do Império Alemão em 1871, no Palácio de Versalhes. A esquerda de barba branca e sobre a escada, o rei Guilherme I. Ao centro, vestido de branco o chanceler Otto von Bismarck. 
"No império recém-unificado, o Reichstag representava toda a gama da população germânica ampliada: os conservadores agrários com suas vastas propriedades rurais no leste, os industrialistas no norte e no oeste, os fazendeiros católicos-romanos bávaros no sul e, numa escala crescente à medida que a economia se desenvolvia, as classes operárias industriais, com seus líderes socialistas nos vales do Reno e do Ruhr". (HOWARD, 2010, p. 27). 


Otto von Bismarck
Entre o kaiser e o Reichstag (parlamento) havia o chanceler (primeiro-ministro), o qual intermediava os interesses do monarca e as constantes cobranças do parlamento, embora que no caso do chanceler Otto von Bismarck (1815-1898), esse durante seu longo mandato de 1871 a 1890 se tornou a figura-chave da política alemã. Em 10 de maio de 1871 Bismarck no Tratado de Frankfurt negociou com os franceses após o final da Guerra Franco-prussiana os termos de paz e de indenização. Bismarck cobrou dos franceses os territórios da Alsácia e Lorena e uma indenização de 5 bilhões de francos. O governo de Bismarck ficou marcado por ter sido altamente nacionalista, conservadorista, militarista e autoritário. Com o dinheiro da indenização, o chanceler promoveu uma série de reformas desde questões administrativas, militares, ao desenvolvimento industrial do país. Em poucos anos a população cresceria rapidamente, o império enriqueceria e se industrializaria.  

"Tendo criado o Império Germânico, o próprio Bismarck se contentara em preservá-lo, mas a geração posterior não ficou tão facilmente satisfeita. Tinha toda razão em ser ambiciosa. Constituía uma nação com mais de 60 milhões de habitantes com uma soberba herança de música, poesias e filosofia, , e cujos cientistas, tecnólogos e eruditos (para não falar dos soldados) eram a inveja do mundo. Seus industrialistas já tinham ultrapassado os britânicos na produção de carvão e aço, e junto com os cientistas abriam os caminhos pioneiros de uma nova "revolução industrial" baseados em produtos químicos e eletricidade". (HOWARD, 2010, p. 29). 

Seu pulsante crescimento levaria o Reino Unido, a França e a Rússia ficarem com um pé atrás em respeito das iniciativas alemãs, pois na época era o Estado europeu que mais se militarizava. O terceiro imperador alemão, Guilherme II não costumava utilizar trajes reais, mas vestia-se como um verdadeiro "senhor da guerra" andando sempre com trajes militares e seguido por seu cortejo da alta cúpula das forças armadas. A herança militar era algo antigo na sociedade germânica e não uma invenção do governo nazista no século XX. 


O kaiser Guilherme II trajando suas vestes militares que lhe tornaram marcantes durante seu reinado. 
“Duas fotografias de Guilherme bem ilustrariam a teoria de Jung sobre a Persona. A primeira, tirada em Berlim, em 1877, é de um homem em vistoso uniforme, de botas, a couraça com reluzentes ornatos dourados, agressivos bigodes em forma de guidão de bicicleta (que passaram a ser conhecidos como bigodes à kaiser), olhar furibundo, o Pickelhaube (capacete de couro) encimado não por uma ponta de lança, mas por uma águia coroada de asas abertas, pronta para o ataque, as mãos apoiadas no copo de respeitável espada: eis a Persona, a máscara para impressionar adversários, aliados, o povo alemão e principalmente o próprio Guilherme. A outra foto, esta de fins da década de 1930, é a de simpático senhor de fisionomia suave, o olhar risonho, brancos os cabelos anelados e um tanto despenteados, os bigodes caídos e o cavanhaque pontudo, lencinho no bolso, um cigarro na mão: é Guilherme de Hohenzollern, refugiado na Holanda, o lenhador de Dorn, como era chamado pela imprensa. Do arrogante imperador alemão, nada”. (ARARIPE, 2006, p. 332). 

O ex-kaiser Guilherme já idoso, durante seu exílio na Holanda. 1933. 
A formação de alianças militares:

Em 1832 foi publicado o tratado militar Da Guerra (Vom Kriege) escrito pelo general prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831), o qual escreveu um dos mais populares livros sobre a arte da guerra no século XIX, que influenciou muitos militares nas décadas seguintes. Um dos marcos de seu livro foi seu discurso no qual dizia que a guerra era uma extensão da política por outros meios. Tal pensamento expressa bem a ideia que estaria por vigorar na Europa até o final daquele século; as Grandes Potências em seus interesses externos não descartavam a guerra como uma possibilidade de alcançá-los. 

"Karl von Clausewitz escrevera, em meio às consequências das Guerras Napoleônicas, que a guerra era uma trindade composta pela política do governo, pelas atividades dos militares e pelas "paixões dos povos". Cada um desses elementos deve ser levando em consideração, se quisermos compreender não só por que a guerra aconteceu, mas também por que ela tomou o curso que tomou". (HOWARD, 2010, p. 21). 

No ano de 1878 ocorreu o Congresso e Berlim em resposta a Guerra russo-turca (1877-1878) na qual os russos confrontaram os turcos para disputar o controle de algumas áreas nos Bálcãs, e durante esse conflito os sérvios, montenegrinos e romenos aproveitaram para se rebelar contra os turcos, seus então senhores. Os russos sabiam que as etnias minoritárias eslavas nos Bálcãs ansiavam por sua independência, era apenas uma questão de incentivar essa resistência a se rebelar. 


A península dos Bálcãs no sudeste da Europa. 
Depois de alguns meses de combate os turcos propuseram uma trégua a 31 de janeiro de 1878, os russos não aceitaram de imediato, então nas semanas seguintes os britânicos enviaram navios e tropas para a região no intuito de intimidar a Rússia a aceitar a trégua. Em março o governo russo decidiu suspender a guerra desde que os otomanos reconhecessem a independência da Sérvia, Montenegro e Romênia, algo que foi acatado. Meses depois os russos e turcos foram convocados para o Congresso de Berlim.

No congresso oficializou-se a independência da Sérvia, Montenegro e Romênia, propôs uma redefinição das fronteiras desses novos países e do Império Otomano, no que levou a criação dos protetorados da Bósnia e Herzegovina e da Bulgária, regiões que permaneceriam com certa autonomia perante o governo otomano e austro-húngaro, embora na prática não fossem independentes.

Por outro lado, os russos não gostaram de saber que perderam alguns de seus territórios e sua desavença com a Áustria-Hungria aumentou, assim como também com a Alemanha, pois o czar considerou indigno o apoio de Bismarck a causa russa na Bulgária e em outros locais dos Bálcãs (na verdade os russos esperavam que os alemãs defendessem a conquista de territórios na região balcânica, mas isso não aconteceu). Em contrapartida, os ingleses e franceses asseguraram que a Rússia não tivesse acesso ao Mediterrâneo e assim pudessem proteger sua autoridade e interesses no Mediterrâneo e no norte da África.

Uma das consequências diplomáticas do congresso em Berlim foi a formação de uma aliança militar entre a Alemanha e a Áustria-Hungria. Os alemãs não se davam muito bem com os britânicos, os franceses ainda estavam ressentidos pela derrota em 1871, e mais recentemente os russos estavam desgostosos com o resultado do congresso. Logo, a Monarquia Dual era a melhor opção de aliança no momento. 

Anos depois em 1882, o governo alemão propôs uma aliança ao Reino da Itália, que ficou conhecida como Tríplice Aliança. Alemanha e Áustria-Hungria que já eram aliadas desde 1879 ofereceram apoio militar aos italianos para que estes fizessem o mesmo. A Itália estava interessada em reaver algumas terras no norte-noroeste, que acabavam esbarrando nas fronteiras da Áustria-Hungria, mas Bismarck prevendo que isso pudesse levar a um novo conflito, decidiu agir antes e em 20 de maio daquele ano foi assinado o acordo político-militar entre os dois países. Com a Tríplice Aliança a Alemanha assegurava uma vasta área de influência perfazendo quase metade do continente europeu, consistindo numa muralha para os britânicos e franceses, assim como, perpetrava interesses políticos e econômicos com estas monarquias.


Em vermelho a Tríplice Aliança em 1913. 
“A Tríplice Aliança, acordo militar estabelecido em 1882, figurava em 1914 como a mais longeva aliança multilateral em tempos de paz na história da Europa, perdurando apesar da vigorosa e recíproca animosidade entre Áustria-Hungria e Itália, porque ambas consideravam indispensável a amizade com a Alemanha – no caso da primeira, contra a Rússia; para a última, contra a França”. (SONDHAUS, 2013, p. 19). 

A 6 de dezembro de 1897, Bernhard von Bülow (1849-1929) na época Ministro do Exterior da Alemanha e posteriormente chanceler, Bülow em um pronunciamento no Reichstag disse que se os chineses não se redimissem de seu crime por ter assassinado dois missionários alemãs a 6 de novembro daquele ano, levaria o Império Alemão a tomar Jiaozhou, assim como enviar parte de sua marinha para o império chinês iniciando um período de hostilidade. Os ingleses que eram aliados econômicos dos chineses temendo que os alemãs iniciassem uma campanha de invasão ao milenar império, decidiu por via diplomática resolver isso, algo que resultou positivamente. 

Em 1898 o governo alemão aprovou o Plano Tirptiz para intensificar a produção naval de navios de guerra, a meta era que nos anos seguintes a Alemanha fosse dona da segunda maior armada do mundo, pois até então os ingleses ainda eram os primeiros. Em caso de uma iminente guerra, seria necessário muitos navios para poder confrontar a supremacia naval dos britânicos. O avião embora já existisse durante o período da Primeira Guerra, foi pouco utilizado. Seu uso intensivo só se deu na Segunda Guerra. 

No ano de 1892 a França propôs a Rússia uma aliança a qual ficou conhecida como Aliança Franco-Russa. Com a constituição da Tríplice Aliança, os russos se sentiam ameaçados pelos alemãs e os austro-húngaros, por sua vez os franceses haviam perdido influência política e diplomática na Europa desde 1871, além de vivenciarem um governo instável e uma economia fraca. 


“Entre 1871 e 1914, o cargo de primeiro-ministro mudou de mãos 49 vezes. Na política externa, a Terceira República foi revolucionária, pelo menos no sentido revisionista, no que tangia ao seu posicionamento acerca da Alsácia-Lorena. Nenhum político francês que admitisse publicamente aceitar a anexação das províncias por Bismarck tinha chance de ser eleito. O conservador exército francês estava profundamente abalado pelo Caso Dreyfus (1894-1906), em que o capitão Alfred Dreyfus, o único oficial judeu do exército, foi acusado de repassar segredos aos alemães. O caso revelou um profundo abismo político e social entre católicos conservadores e secularistas liberais”. (SANDHAUS, 2013, p. 29). 

No final da década de 1880, os russos procuraram se aproximar do governo francês, chegando até mesmo a pedir empréstimos, os quais os bancos franceses concediam à baixos juros. A República Francesa temendo um futuro ataque dos alemãs, decidiu firmar um pacto com o Império Russo, em caso de um novo conflito contra os alemãs, ao mesmo tempo em que encontrava nos russos dependentes financeiros. 

Em 1904, os ingleses e os franceses assinaram uma série de acordos políticos e diplomáticos que ficaram conhecidos como Entente Cordiale, na qual negociava-se principalmente o reconhecimento sobre colônias na África. Além disso, os ingleses e franceses colocaram de lado sua rixa secular, e passaram a pactuar um em defesa do outro. 


Cartaz francês representando Britannia e Marienne comemorando a união da Entente Cordiale em 1904
No ano de 1907, os ingleses e russos assinaram um novo acordo a chamada Entente Anglo-Russa  a qual pusera fim a décadas de desavenças no que ficou conhecido como o "Grande Jogo" o qual consistiu na disputa por territórios na Ásia. Nesse acordo foi definido que a Pérsia (atual Irã) seria dividido entre a Rússia e o Reino Unido, onde os ingleses ficaram com o sul e os russos com o norte. No centro foi proposto uma zona neutra. 

O Afeganistão manteve sua autonomia, mas manteve-se como um protetorado britânico. Por sua vez o Tibete foi reconhecido como um Estado neutro, chefiado pelo Dalai Lama, mas estando ligado a China. Além disso, os russos se comprometeram em não atacar a Índia e nem o Japão, o qual se tornara em 1902 aliado dos ingleses. 

Crises e guerras nos Bálcãs:

Otto von Bismarck uma vez disse que se uma nova guerra estoura-se na Europa, o local mas provável para isso acontecer, seria nos Bálcãs. Bismarck não viveu para ver a Primeira Guerra mas sua opinião estava certa. Em 1908, a Áustria-Hungria anexou formalmente a Bósnia e Herzegovina que na prática era um Estado vassalo ao Império Otomano, embora a Bósnia dispusesse de autonomia, a qual foi perdida ao se tornar mais uma província austro-húngara. Ao mesmo tempo a Bulgária que também era vassala ao Estado otomano, declarou sua independência. Os turcos aceitaram a perda da Bósnia e da Bulgária mas relutaram em deixar que a Albânia, Macedônia e a Trácia declarassem independência. 

Suplemento ilustrativo do jornal francês Le Petit de 1908, mostrando uma charge ironizando a anexação da Bósnia e Herzegovina pelo Império Austro-Húngaro. Na imagem a direta se ver uma representação do imperador Francisco José da Áustria-Hungria, ao centro o czar Ferdinand da Bulgária, e a direita o tristonho sultão Abdul. 
Por outro lado, se a anexação da Bósnia não se mostrou algo tão ruim para o governo turco-otomano, os sérvios não gostaram disso. Muitos sérvios viviam na Bósnia, além do fato que alguns sérvios possuíam ideias pan-eslavistas em se libertar as etnias eslavas do sul lutando para que estas conseguissem sua independência. Em 1908 foi criado o grupo paramilitar Narodna Odbrana (A defesa do povo), dois anos depois surgiu o grupo secreto chamado Mão Negra ou Unificação da Morte, composto por militares, ex-militares e civis, o grupo agia de forma agressiva no que hoje podemos chamar de atentados terroristas.

Se a Mão Negra ainda vigorasse hoje em dia, seria considerado um grupo terrorista. Além da Narodna Odbrana, da Mão Negra, surgiu a Mão Branca em 1912, sociedade secreta militar oposta a Mão Negra, embora mantivesse ideias nacionalistas e liberais, a Mão Branca procurou se aproximar mais do monarca sérvio e defender seus interesses. Posteriormente tais ações nacionalistas ficaram conhecidas como Jovem Bósnia, os quais tinham ideia de não apenas libertar a Bósnia e outras províncias eslavas que estavam sob o jugo austro-húngaro, mas defenderem a criação da "Grande Sérvia", na qual consistia em expandir as fronteiras da Sérvia. 

“Com a dinastia Karageorgević de volta ao trono, as relações com a Rússia melhoraram bastante, mas os sérvios ficaram profundamente desapontados em 1908-1909, quando os russos não manifestaram apoio a eles depois que a Áustria-Hungria proclamou a anexação da Bósnia-Herzegovina. A Sérvia mobilizou seu exército, levando a Áustria-Hungria a ordenar uma mobilização parcial de suas tropas, mas quando a Alemanha declarou apoio à Áustria-Hungria, a Rússia recuou. Depois disso, a Sérvia prometeu dar um basta a seus esforços – e às iniciativas de seus cidadãos – de solapar a Áustria-Hungria. Mas não honrou seu compromisso”. (SANDHAUS, 2013, p. 34). 

Em 1912 influenciado pelos russos, os sérvios decidiram formar uma coalização para lutar pela expulsão dos turcos da Europa, assim surgiu a Liga Balcânica, formada pela Sérvia, Bulgária, Grécia e Montenegro. Os quatro países aproveitaram que os turcos estavam em guerra contra os italianos na Líbia, na chamada Guerra ítalo-turca (1911-1912) para assim atacarem as províncias europeias do Império Otomano, no que originou as Guerras Balcânicas (1912-1913). 

“Depois que os turcos se envolveram na Guerra Ítalo-Turca (1911-1912), esses quatro países formaram a Liga Balcânica e se mobilizaram para a guerra. Em outubro de 1912, quando os turcos fizeram as pazes com os italianos, abrindo mão da Líbia, a Liga declarou guerra ao Império Otomano, iniciando, assim, a primeira Guerra dos Bálcãs. Entre as grandes potências, a Rússia apoiou a Liga e a Áustria-Hungria, os otomanos, e as tensões entre os dois impérios ficaram sérias a ponto de cada um mobilizar parcialmente seus exércitos. Quando a guerra chegou ao fim, em maio de 1913, as grandes potências permitiram que a Sérvia ficasse com Kosovo e a Grécia, com Épiro, mas determinaram que o restante do território albanês fosse cedido para um novo país independente. A Grécia também recebeu Creta e dividiu com a Sérvia a Macedônia, limitando à Trácia os ganhos da Bulgária. Incitados por uma violenta indignação pública por conta do magro espólio, apenas um mês depois os búlgaros declararam guerra à Sérvia e à Grécia, na esperança de assegurar parte da Macedônia. Na breve segunda Guerra dos Bálcãs, os turcos retomaram as hostilidades contra os búlgaros, e Montenegro também interveio, mas a entrada da Romênia (que se mantivera neutra na primeira Guerra dos Bálcãs) se mostrou decisiva, o que levou a Bulgária a abandonar parte de suas conquistas anteriores na Trácia, de modo a se defender contra uma invasão romena desde o norte. No acordo que deu fim ao conflito em agosto de 1913, a Bulgária recuperou a Trácia ocidental e uma rota de saída para o mar Egeu, mas devolveu a Trácia oriental ao Império Otomano e cedeu Dobruja à Romênia. As Guerras dos Bálcãs deixaram a região mais volátil do que nunca”. (SANDHAUS, 2013, p. 34-35). 

“Ainda que, como consequência das Guerras dos Bálcãs, todos os países balcânicos tenham aumentado em termos de território e população, nenhum deles ficou satisfeito com o resultado. O Império Austro-Húngaro estava particularmente alarmado, pois a Sérvia dobrou de tamanho, aumentando sua população para 4,5 milhões de habitantes e seu exército – testado na batalha – para 260 mil homens, e ainda cobiçava a Bósnia-Herzegovina (onde os sérvios eram numerosos, em meio a uma população heterogênea) e uma saída para o mar”. (SANDHAUS, 2013, p. 34). 

Nos anos de 1913 e 1914 as crises nos Bálcãs se mantinham. Os grupos radicais nacionalistas sérvios-bósnios procuravam concretizar o sonho de uma "Grande Sérvia", por outro lado, outros países vizinhos como Bulgária, Montenegro, Romênia e Grécia não estavam contentes com os resultados da última guerra. Na Turquia a coalizão dos Jovens Turcos havia tomado o poder e planejavam uma restauração no governo. O Império Austro-Húngaro estava preocupado com a situação na península após duas breves guerras próximas as suas fronteiras e as ameaças dos grupos terroristas sérvios-bósnios em seu território.

1914: Do assassinato do arquiduque a declaração de guerra

Francisco Fernando Carlos Luís José Maria Áustria-Este (1863-1914) era arquiduque da Casa de Áustria-Este, e acabou se tornando herdeiro do trono austro-húngaro. Em 1889 o único filho do imperador Francisco José I (1830-1916), Rudolfo faleceu aos 30 anos, mas embora o imperador tivesse mais três filhas, ele não queria passar o trono para nenhuma delas, então decidiu nomear seu irmão Carlos Luís (1833-1896) como seu sucessor, no entanto, em 1896 o príncipe faleceu de febre tifoide, mas antes de morrer ele havia delegado o seu primogênito Francisco Fernando como seu herdeiro ao trono, algo que o imperador Francisco José I acabou concordando que o sobrinho se tornasse seu herdeiro. 

Logo, Francisco Fernando ou Ferdinando além de ser o arquiduque, tornara-se príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro e da Boêmia. Tal condição tornou sua morte um caso ainda mais sério, pois não consistiu apenas no assassinato de um importante membro da família real, mas consistiu no assassinato do príncipe-herdeiro, algo que acabaria abalando todo o império. 

Francisco Fernando e sua esposa Sofia de Hohenberg. 

“Na manhã de domingo, 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e sua mulher, Sophie Chotek von Chotkova e Wognin, chegaram de trem à cidade de Sarajevo e embarcaram em um automóvel para fazer o trajeto até prefeitura pelo Appel Quay. Seis veículos compunham o comboio. No carro da frente ia o prefeito de Sarajevo, Fehim Effendi Čurcˇic, de fez e terno escuro, e o comissário de polícia de Sarajevo, dr. Edmund Gerde. Atrás deles, no segundo carro, um esplêndido cupê esporte Graef und Stift com a capota baixada para que os passageiros fossem vistos pela multidão que os saudava das calçadas, estavam o arquiduque e sua mulher. Diante deles, no banco retrátil, estava o general Oskar Potiorek, governador da Bósnia. No banco do passageiro, ao lado do motorista, sentava-se o tenente-coronel conde Franz von Harrach. Atrás vinham três outros carros levando policiais da cidade e membros das comitivas do arquiduque e do governador”. (CLARK, 2014, p. 303). 

De fato, o plano era se jogar uma bomba no carro do arquiduque, em caso de não poder utilizar os explosivos, optar-se-ia por atirar nele, o que acabou ocorrendo. Durante o percurso uma das bombas acabou explodindo e acertando o carro que vinha logo atrás do carro onde estava Francisco. Os estilhaços feriram parte da multidão que assistia a passagem do príncipe. Após a explosão foi dada a ordem para se seguir até a Câmara Municipal. O arquiduque e a arquiduquesa conseguiram chegar a salvos na câmara. Depois de passada sua irritação e após ter discursado brevemente, foi decidido que Francisco e Sofia não iriam visitar mais o quartel e nem o hospital. No entanto, o motorista acabou os levando em direção ao hospital, pois segundo consta ele não teria sido informado da mudança do roteiro da viagem. 

Carro utilizado por Francisco Fernando no dia de sua morte. Pode-se ver na traseira o buraco da bala que atingiu a duquesa Sofia. 

Foi nesse mal entendido, que os demais "terroristas" da Mão Negra decidiram agir novamente. Enquanto o carro seguia pela rota errada, o jovem estudante e militante Gavrilo Princip (1894-1918) na época com apenas 19 anos, armado com uma pistola aproveitou para atirar no nobre. Ele disparou dois tiros, os quais atingiram o arquiduque no pescoço e o outro acertou sua esposa na barriga. Gavrilo acabou sendo capturado pela polícia, mas embora os nobres tenham sido levados para a casa do governador para receberem cuidados médicos, ambos acabaram falecendo. 

Foto de Gavrilo Princip na prisão. 

A morte do herdeiro do trono da Áustria-Hungria complicou a situação já problemática nos Bálcãs. Gavrilo era bósnio, mas a Mão Negra era um grupo terrorista de origem sérvia, o governo sérvio foi acusado de conspirar contra a Família Real Austro-Húngara.

"A princípio a crise provocada pelo assassinato do arquiduque não parecia pior do que meia dúzia de tensões anteriores nos Bálcãs que vinham ocorrendo desde 1908 e que foram pacificamente resolvidas pela intervenção das Grandes Potências. Mas os austríacos estavam agora determinados a esmagar o seu inimigo sérvio para sempre. Lançaram um ultimato que, se aceito, teria tornado a Sérvia quase um estado cliente da Monarquia Dual. Isso os russos não podiam tolerar, e os austríacos sabiam; assim, antes de lançar o seu ultimato, eles obtiveram o que se tornou conhecido como "um cheque em branco" de Berlim, assegurando-lhes o apoio alemão em caso de guerra". (HOWARD, 2010, p. 35). 

“A Áustria, depois de obter o aval da Alemanha, enviou um ultimato à Sérvia. Os sérvios atenderam a todas as exigências, menos a que abria seu território à investigação dos austríacos. O kaiser Guilherme II julgou isso justo, mas os austríacos, não”. (SANDHAUS, 2013, p. 25). 

Gravura mostrando o atentando de Gavrilo Princip contra o arquiduque e a duquesa.  

O ultimato foi enviado em 25 de julho, mas os sérvios não acataram todas as exigências, então três dias depois, no exato dia 28 de julho de 1914 o governo austro-húngaro noticiava oficialmente sua declaração de guerra a Sérvia. No dia 31 de julho os russos começaram a mobilizar suas tropas para a guerra contra a Áustria-Hungria e a Alemanha. Em 1 de agosto os alemãs revidam a declaração dos russos, e declararam ao czar Nicolau II que ambos os impérios estavam em guerra. Os italianos que eram aliados dos alemãs e austro-húngaros nesse primeiro momento preferiram não declarar guerra e se mantiveram neutros. 

Os franceses sendo aliados dos russos decidiram dá apoio a estes, logo, no dia 2 de agosto, o kaiser Guilherme II declarou também guerra a França. No dia 3, os alemãs invadiram Luxemburgo, e no dia seguinte foi a vez da Bélgica, inciando a Batalha de Liège, a primeira dessa guerra. Os franceses decidiram socorrer seus vizinhos, e posteriormente, os britânicos percebendo que a situação caminhava visivelmente para uma nova guerra entre cinco países, decidiu apoiar seus aliados franceses e russos, e assim se formou a Tríplice Entente, onde os britânicos em 4 de agosto declararam guerra a Alemanha, e a Grande Guerra se iniciou de vez. Nos dias seguintes novas declarações de guerra ou de neutralidade foram enviadas, ao mesmo tempo que os exércitos se mobilizavam para as fronteiras inimigas e os locais onde as lutas já estavam ocorrendo. 

“O continente europeu estava em paz na manhã de domingo, 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco Ferdinando e sua mulher, Sophie Chotek, chegaram à estação de trem de Sarajevo. Trinta e sete dias depois, estava em guerra. O conflito que começou naquele verão mobilizou 65 milhões de soldados e deixou um saldo de três Impérios desbaratados, 20 milhões de militares e civis mortos e 21 milhões de feridos. Os horrores do século XX na Europa nasceram dessa catástrofe. Essa foi, nas palavras do historiador americano Fritz Stern, “a primeira calamidade do século XX, a calamidade da qual brotaram todas as outras””. (CLARK, 2014, p. 16). 

A guerra eclode:

Exatos 30 dias se decorreram desde o assassinato do arquiduque Francisco Fernando e da arquiduquesa Sofia, até que a Áustria-Hungria declarasse abertamente guerra a Sérvia. Após isso como já mencionado, uma sucessão de declarações percorreram a Europa de norte a sul, leste e oeste, e no início de agosto o estado de guerra já tomava forma.

"A deflagração da guerra foi saudada com entusiasmo nas principais cidades de todas as potências beligerantes, mas essa excitação urbana era típica da opinião pública em geral. O ânimo na França em particular não era de resignação estoica - um estado de espírito que caracterizava provavelmente todos os trabalhadores do campo que eram recrutados e tinham de abandonar a sua terra e deixar que fosse cultivada pelas mulheres e crianças. Mas por toda parte os povos apoiavam os seus governos. Esta não era uma "guerra limitada" entre principados. A guerra era agora uma questão nacional. Durante um século, a autoconsciência nacional fora inculcada por programas educacionais estatais que visavam a formar cidadãos leais e obedientes". (HOWARD, 2010, p. 47). 

Propaganda inglesa convocando os homens para combaterem na guerra. 

Para muitos homens pobres, ir para a guerra ou era uma escolha própria, imbuída por um nacionalismo que efervescia naquela época, onde a masculinidade era confrontada, e se provar "homem" era ir para o campo de batalha servir seu país. Alguns viam na guerra a luta pela liberdade, pois temiam que fossem conquistados pelos países inimigos, e fossem oprimidos. Por outro lado, alguns temiam que a guerra pudesse piorar e se alastrar, logo, desejosos que o estado de beligerância não piorasse alguns decidiram engajar na luta, a fim de tentar resolvê-la o mais rápido possível. 

No entanto, houve homens que foram forçados ao alistamento, recebendo um rápido treinamento militar e partindo para o campo de batalha. Por todos os países que participaram da guerra, milhões ou milhares de homens deixaram seus lares, famílias e amigos, foi uma intensa movimentação de pessoas pelo continente europeu, por via terrestre, mas também por via marítima e até aérea. 

"No final do século XIX, o escritor militar alemão Colmar von der Goltz havia alertado que qualquer futura guerra europeia veria "um êxodo de nações", e suas palavras se provaram corretas. Em agosto de 1914, os exército da Europa mobilizaram cerca de seis milhões de homens e lançaram-nos contra seus vizinhos. Os exércitos alemães invadiram a França e a Bélgica. Os exércitos russos invadiram a Alemanha. Os exércitos austríacos invadiram a Sérvia e a Rússia. Os exércitos franceses atacaram pela fronteira da Alsácia-Lorena alemã. Os britânicos enviaram uma força expedicionária para ajudar os franceses, esperando confiantemente chegar a Berlim pelo Natal". (HOWARD, 2010, p. 49).

Soldados alemãs marchando rumo ao campo de batalha. 

“A Grande Guerra alastrou-se por 28 países, entre eles o Brasil, e além de operações terrestres, envolveu operações navais e aéreas. Travou-se em seis frentes ou teatros de operação (TO) terrestres, dois principais e quatro secundários. As duas principais foram a Frente Ocidental, compreendendo o território invadido da França e da Bélgica, do mar do Norte à fronteira da França com a Suíça; e a Frente Oriental, que abrangia os territórios russos, poloneses e a Prússia Oriental, então território alemão. Em 1915 a Itália entrou na guerra ao lado dos Aliados, criando-se a Frente Italiana, na fronteira com a Áustria-Hungria. As frentes secundárias estendiam-se pelos Bálcãs, o Oriente Médio e a região de fronteiras do Império Turco-Otomano com a Rússia”. (ARARIPE, 2006, p. 332). 

Considerações finais:

Tanto os governos quanto os povos eram partidários da guerra. A maioria acreditava que essa guerra duraria alguns meses e até o final do ano ela estaria resolvida, mas ninguém esperou que ela se alastraria por mais três anos, vitimando milhões vidas. 

A Grande Guerra nos ensino que aliados podem virar de lado, como foi o caso da Itália que em 1914 manteve-se neutra, e no ano seguinte quando já se mostrava que a guerra não iria acabar tão cedo, acabou mudando de lado, rompendo com os alemães e austro-húngaros e se aliando a Tríplice Entente. Por outro lado, mostrou que inimigos podem se tornar aliados, como foi o caso do Império Otomano o qual embora estivesse politicamente em desavença com os alemães e austro-húngaros, acabaram se aliando a eles para a guerra.

A Grande Guerra também mostrou como em um momento difícil e problemático, pode servir de oportunidade para uma revolução, como foi o caso da Revolução Russa que eclodiu em outubro de 1917 promovida pelos bolcheviques, liderados por Vladimir Lênin. Ao derrubar o czar Nicolau II do poder, Lênin assinou um decreto declarando que a Rússia abandonaria a guerra, e assim ocorreu. O exército russo teve que retornar para casa e testemunhar a queda da monarquia e a ascensão de uma república socialista, que acabou tomando rumos diferentes após a morte de Lênin. 

A Primeira Guerra reformulou a luta e as estratégias, os cavalos embora utilizados em alguns locais, foram substituídos pelas motos, bicicletas, carros e tanques de guerra. Por outro lado, o uso maciço de navios de guerra foi usado, assim como submarinos. Até os aviões fizeram sua participação nessa contenda. No campo de batalha, a metralhadora criada ainda no século XIX, foi amplamente utilizada na guerra de trincheira, ao lado de granadas, minas, morteiros, etc. Introduziu-se também o uso de armamento químico, como gás cloro e gás de mortada. O emprego dessas tecnologias multiplicou absurdamente o saldo de mortos e feridos.

A guerra também revelou como era grande a fragilidade das relações internacionais entre os países do mundo. Embora monarquias tenham terminado, o imperialismo ainda se manteve. Para se evitar que uma nova catástrofe armamentística voltasse a eclodir no tumultuado continente europeu, o então presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson defendeu o que ficou conhecido como Quatorze Pontos que foram apresentados durante o Tratado de Versalhes em 1919, para se debater algumas decisões sobre o pós-guerra, entre essa decisões estava a criação de uma organização internacional que ficou conhecida como Liga das Nações (antecessora da ONU) com o intuito de zelar pelo bem-estar e a boa relação entre os países. 

A guerra também desmanchou países, legitimou o reconhecimento de outros Estados, deixou além do saldo de mortos e destruição uma crise política e econômica, principalmente nos países que perderam, mas até os vitoriosos também sentiram esses problemas, isso acabaria por mergulhar a Europa numa crise econômica pelas décadas seguintes. O próprio Estados Unidos sentiria essa forte crise anos depois em 1929. 

Dos países derrotados a Alemanha foi quem sofreu mais com a derrota. Milhares de soldados que se feriram, retornaram para casa sem nenhum apoio do governo, alguns ficaram paraplégicos, outros tiveram braços e pernas amputados. A crise econômica se agravou, pois além dos gastos com quatro anos de conflito, o Tratado de Versalhes cobrou uma gigantesca indenização dos alemãs, na época avaliada em 80 bilhões de dólares (cerca de 500 trilhões em valores atuais), isso comprometeu as finanças do país pelas décadas seguintes. Em meio a esse problema econômico e a queda da monarquia, partidos políticos começaram a surgir, pessoas passavam fome, pessoas morriam devido a falta de remédios, a pobreza se generalizava. A Áustria, Polônia, Hungria também testemunharam esses problemas. 

Por outro lado, embora muitos dos países que atuaram plenamente na guerra estivessem passando por problemas pós-guerra, já nos anos 30 novas ameaças surgiam na Europa, principalmente com o Nazismo na Alemanha e o Fascismo na Itália, alguns dos homens que lutaram na Primeira Guerra, agora retornavam como líderes, alguns dos quais determinados a iniciar uma nova guerra.

Países que participaram da Primeira Guerra:

Segue na lista os principais países que se envolveram direta ou indiretamente na guerra, além dos principais países que se mantiveram neutros, embora alguns chegaram a ser convocados para se unir a batalha. 

Obs: a forma de governo destacada, corresponde ao governo de tais países durante a época da guerra. Muitas monarquias se tornaram repúblicas após o fim da guerra. 

1) Grandes Potências Europeias:
  • Reino Unido - monarquia
  • Alemanha - monarquia
  • Rússia - monarquia
  • Áustria-Hungria - monarquia
  • França - república
2) Aliados da Tríplice Aliança:
  • Turquia - monarquia
  • Bulgária - monarquia
  • Itália - monarquia (mudou de lado em 1915)
  • Azerbaidjão - república
  • Estado Dervish - monarquia 
  • Colônias alemãs 
3) Aliados da Tríplice Entente:
  • Estados Unidos - república
  • Japão - monarquia
  • Bélgica - monarquia
  • África do Sul - colônia britânica
  • Austrália - colônia britânica
  • Índia - colônia britânica
  • Nova Zelândia - colônia britânica
  • Canadá - colônia britânica
  • Rodésia - colônia britânica (atual Zimbábue)
  • Malta - colônia britânica
  • Ilhas britânicas - colônia
  • Portugal - monarquia
  • Romênia - monarquia
  • Sérvia - monarquia
  • Brasil - república
  • China - república
  • Grécia - monarquia
  • Taiwan - república
  • Colônias francesas
  • Colônias portuguesas
  • Etc. 
3) Países que se mantiveram neutros:
  • Espanha - monarquia
  • Países Baixos - monarquia
  • Luxemburgo - monarquia
  • México - república
  • Suécia - monarquia
  • Argentina - república
  • Paraguai - república
  • Chile - república
  • Uruguai - república
  • Venezuela - república
  • Suíça - república
  • Noruega - monarquia
  • Afeganistão - monarquia
  • Bolívia - república
  • Etiópia - monarquia
  • Pérsia - monarquia (atual Irã)
  • Etc. 
Alguns homens importantes que participaram da Primeira Guerra:


John Ronald Reuel Tolkien (1892-1973): Professor universitário de línguas, filólogo, poeta, escritor, tradutor e editor britânico. Conhecido pelos seus romances O Senhor dos Anéis, O Hobbit e O Silmarillion

Clive Staples Lewis (1898-1963): Professor, poeta, escritor e crítico literário britânico. Na literatura sua obra mais famosa são As Crônicas de Nárnia

Marc Bloch (1886-1944): Historiador, professor, editor francês, co-fundador da Revista dos Annales d'Historie Économique et Sociale. Participou também da Segunda Guerra.

Lucien Febvre (1878-1956): Historiador, professor, editor francês, e co-fundador da Revista dos Annales d'Historie Économique et Sociale

Adolf Hitler (1889-1945): militante e político austríaco. Tornou-se líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei) que ficou mais conhecido como Partido Nazista. Em 1933, tornou-se Chanceler da Alemanha, posteriormente governou como ditador até 1945, passando a ser chamado de Führer (líder). 

Heinrich Himmler (1900-1945): Militante e militar alemão. Em 1923 filiou-se ao Partido Nazista, e anos depois sob o governo de Hitler, tornou-se o seu "braço direito", tornando-se líder da Schutzstaffel (SS) e um dos idealizadores do Holocausto. 

Benito Mussolini (1883-1945): Jornalista, escritor e político italiano. Tornou-se primeiro-ministro em 1922, e manteve-se no governo até o fim da vida, governando como um ditador, sob o título de Il Duce (líder). Foi o criador do Fascismo

Winston Churcill (1874-1965): Jornalista, escritor e político britânico. Principalmente lembrando pelo seu mandato como Primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial. 

Charles de Gaulle (1890-1970): militar e político francês. Governou como primeiro-ministro por dois mandatos de 1946 a 1959, e depois assumiu como presidente de 1959 a 1969. Para alguns foi um ditador. 

Josef Stalin (1879-1853): Militante, revolucionário e líder da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) de 1922 a 1953. Governou como ditador. 

Franklin Delano Roosevelt (1882-1945): Militar e político americano. Foi presidente dos Estados Unidos de 1933 a 1945. Governou o país durante a crise econômica da "Grande Depressão". 

George Smith Patton Jr (1885-1945): Conhecido mais como General Patton, foi um dos notórios comandantes americanos durante a Segunda Guerra Mundial.

Friedrich Paulus (1890-1957): Militar alemão, tornou-se um dos principais generais durante a Segunda Guerra. Alcançou o posto de marechal de campo.  

Hideki Tojo (1884-1948): militar e político japonês. Foi primeiro-ministro de 1941 a 1944, e um dos principais generais do Japão durante a Segunda Guerra. 

Manfred von Richthofen (1892-1918): Militar alemão, conhecido pelo cognome Barão Vermelho. Tornou-se o mais famoso piloto durante a Primeira Guerra. 

Thomas Edward Lawrence (1888-1935): arqueólogo, militar, escritor, espião, e diplomata britânico. Ficou conhecido por sua participação na Revolta Árabe (1916-1918) e em outras missões no Oriente Médio e no norte da África. Ganhou a alcunha de Lawrence da Arábia

Percy Harrison Fawcett (1867-1925): militar e explorador britânico, conhecido por suas expedições à América do Sul, especialmente ao Brasil, onde passou anos procurando por uma lendária cidade perdida a qual chamava de Z

Norbert Elias (1897-1990): famoso sociólogo alemão judeu. Atuou como voluntário na guerra, exercendo as funções de telegrafista e enfermeiro. Se voluntariou também na Segunda Guerra. 

NOTA: Os monarcas Jorge V da Inglaterra, Nicolau II da Rússia e Guilherme II da Alemanha eram primos por parte materna, pois as mães de Nicolau e Guilherme eram inglesas. 
NOTA 2: Lenin e Trotsky não se envolveram com a guerra, no entanto, aproveitaram esse período como militantes, os quais se uniriam em 1917 durante a revolução na Rússia. 
NOTA 3: Enquanto a Grande Guerra se desenrolava na Europa, o México vivenciava a Revolução Mexicana (1910-1920). Esse foi um dos fatores pelos quais o governo mexicano preferiu permanecer neutro.
NOTA 4: Durante a guerra, o Brasil enviou alguns homens para dar apoio técnico, a participação no campo de batalha só ocorreu na Segunda Guerra. Além disso, alguns navios brasileiros foram afundados por submarinos alemãs.

Referências bibliográficas: 
ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (org.) História das guerras. 3a ed, São Paulo, Contexto, 2006. 
CLARK, Christopher. Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Tradução de Laura Teixeira Motta e Berilo Vargas. São Paulo, Companhia das Letras, 2014. 
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios: 1875-1914. 12a ed, São Paulo, Paz e Terra, 2008. 
HOWARD, Michael. Primeira Guerra Mundial. Tradução de Rosaura Eichenberg. Porto Alegre, L&PM, 2010. 
SONDHAUS, Lawrence. A Primeira Guerra Mundial. São Paulo, Contexto, 2013. 

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