O Brasil possui vinte e seis estados e um distrito federal, cada um apresentando sua bandeira. No texto de hoje com um tom mais de curiosidade, veremos a origem dessas bandeiras e seus significados e influências.
Durante a Ditadura de Vargas (1930-1945) o uso de símbolos estaduais foi abolido, fato esse que nenhuma bandeira surgiu nesse período. Ou elas foram criadas antes ou a partir de 1946, quando a lei de abolição dos símbolos estaduais foi revogada.
Acre
Fundação: 1903 como território federal/1962 como estado
Capital: Rio Branco
A bandeira acreana somente foi aprovada na versão atual, em 1995, apesar disso ela apresenta semelhança com a bandeira da República do Acre (1899-1903), inclusive conservando as cores verde, amarela e vermelha, as mesmas encontradas na bandeira da Bolívia, pois o território do Acre anteriormente fazia parte da Bolívia (embora que verde e amarelo também predominem na atual bandeira brasileira). A bandeira acreana é dividida em duas cores principais, o verde e o amarelo e possui uma estrela vermelha no canto superior esquerdo. A cor amarela seria referência as riquezas minerais do estado, já o verde é interpretado como alusão a floresta amazônica ou a esperança. A estrela vermelha simboliza a luta do povo acreano por sua independência. Esse padrão visto na atual bandeira já tinha sido adotado anteriormente, apenas alterando-se a direção do corte diagonal. Inclusive o uso das cores verde, amarelo e vermelho já tinham sido utilizadas anteriormente.
A bandeira do Acre, referência a origem do estado. |
Alagoas
Fundação: 1817
Capital: Maceió
A bandeira alagoana foi aprovada pela lei estadual n. 2.628 de 23 de setembro de 1963. A bandeira segue o padrão e cores da bandeira francesa, aludindo a Revolução Francesa (1789-1799), sobretudo pelos ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade. Ao centro encontra-se o brasão de armas do estado. O brasão apresenta no topo uma estrela prateada que representa o estado de Alagoas, abaixo temos três peixes tainhas, que simbolizam a pesca, atividade importante do estado, mas também representa suas três lagoas mais importantes: Mundaú, Manguaba e Jequiá. As tainhas também aludem a cidade de Marechal Deodoro (antigamente chamada de Alagoas do Sul, primeira capital de Alagoas, cujo brasão eram três peixes). Ao centro do brasão temos a representação de outras duas importantes cidades cidades: à esquerda Porto Calvo, que serviu de base de resistência dos portugueses durante o começo das guerras luso-holandesas entre 1630 e 1636, e à direita uma representação de Penedos. Abaixo encontram-se referências ao mar. Margeando o brasão temos a cana de açúcar e o algodão, duas plantas cultivadas no estado.
A bandeira de Alagoas, evocando os ideais da Revolução Francesa e valorizando a história e a economia local. |
Amapá
Fundação: 1943
Capital: Macapá
A bandeira estadual do Amapá é uma das mais novas criadas no país. A ideia surgiu num concurso público em 1983, cujo resultado foi aprovado em 1984, todavia, a bandeira vencedora somente foi oficializada em 1988, mas começou a valer na década de 1990. Nota-se vários anos de atraso para ela ter começado a ser utilizada. A bandeira amapaense apresenta cinco cores: azul representando o céu, o verde simbolizando a floresta, o amarelo representando as riquezas minerais, o branco representando a paz e o preto simbolizando o luto daqueles que morreram pelo estado. As cores azul, verde e amarela também são inspiradas na bandeira nacional. No lado esquerdo há a uma representação da Fortaleza de São José de Macapá (fundada em 1764).
Bandeira do Amapá, cujas cores invocam o estado além de fazer referência a fortaleza de São José de Macapá. |
Amazonas
Fundação: 1850
Capital: Manaus
A bandeira do Amazonas foi aprovada em 14 de janeiro de 1982, adotando cores inéditas até então as utilizadas anteriormente. A bandeira apresenta três faixas nas cores branca e vermelha, e uma menor em azul, onde se encontram 25 estrelas. A bandeira foi confeccionada com interesses militares, pois o vermelho representa as tropas amazonenses enviadas para à Guerra de Canudos ou Massacre de Canudos (1896-1897); o branco representa a ideia de paz, o azul fornece contraste apenas para situar as estrelas as quais representavam os 25 municípios do estado, sendo a maior estrela a capital Manaus.
A bandeira do Amazonas, inspirada na vitória das tropas amazonenses em Canudos, e uma representação dos munícipios do estado. |
Bahia
A bandeira baiana foi criada pelo médico Diocleciano Ramos, em 25 de maio de 1889. Ramos era membro do Partido Republicano. A ideia era que essa bandeira fosse adotada para representar o partido, por isso suas cores fazerem referência aos ideários da Revolução Francesa, pois na época a República ainda não havia sido proclamada. Além disso, a bandeira também adotou o uso de um triângulo branco, que estava associado com a Maçonaria e tinha sido utilizado durante a Conjuração Baiana (1798), um dos movimentos separatistas da época. Apesar dessa proposta, a bandeira criada por Ramos somente foi adotada na prática em 1960.
A bandeira da Bahia, evocando os ideários da Revolução Francesa e lembrando dos movimentos separatistas ocorridos em seu território. |
Ceará
A bandeira do Distrito Federal, representando a centralização do Brasil. |
Espírito Santo
Fundação: 1535
Capital: Vitória
A bandeira capixaba foi criada pelo governador Jerônimo Monteiro em 1908, mas somente oficializada e posta em uso em 1947. Suas cores são o azul, o branco e o rosa, uma referência ao traje de Nossa Senhora da Vitória, padroeira da capital do estado. Já o lema "Trabalha e Confia" advém de uma frase de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.
A bandeira do Espírito Santo com sua inspiração religiosa. |
Goiás
Fundação: 1744-1748
Capital: Goiânia
Foi concebida por Joaquim Bonifácio de Siqueira e adotada em 1919 pelo governador João Alves de Castro. A bandeira goiana foi inspirada na antiga bandeira dos Estados Unidos do Brasil, por isso a adoção das mesmas cores e designer similar. As estrelas representam o Cruzeiro do Sul, importante constelação que marca presença na vexilologia brasileira.
A bandeira de Goiás, inspirada na antiga bandeira brasileira. |
Maranhão
Fundação: 1535
Capital: São Luís
A bandeira maranhense foi projetada pelo poeta Sousândrade (1833-1902) e adotada ainda no começo do governo republicano no Maranhão, em 26 de dezembro de 1899, pelo Decreto N. 6. Para celebrar o novo governo, Sousândrade confeccionou uma bandeira com listras brancas, pretas e vermelhas, representando a população brasileira entre brancos, negros e indígenas, mas um quadrado azul, simbolizando o céu e uma estrela branca, que representava o estado do Maranhão.
Bandeira do Maranhão, concebida para representar o povo brasileiro e o estado após a proclamação da República. |
Mato Grosso
Fundação: 1719
Capital: Cuiabá
A bandeira mato-grossense também apresenta inspiração na bandeira nacional, mas na versão imperial, que posteriormente foi adotada para a república. Com isso, a bandeira de Mato Grosso foi oficializada em 31 de janeiro de 1890, através do decreto n. 2. Tendo sido concebida pelo marechal Antônio Maria Coelho, antigo Barão de Amambaí, e então primeiro governador republicano do Mato Grosso. As cores da bandeira são o azul (céu), branco (paz), verde (território), amarelo (riqueza) e a estrela simboliza o próprio estado.
A bandeira do Mato Grosso, a qual apresenta inversão de cores baseada na bandeira nacional. |
Mato Grosso do Sul
Fundação: 1977
Capital: Campo Grande
A bandeira sul-mato-grossense foi aprovada em 1 de janeiro de 1979, após um concurso para definir o novo símbolo estadual. O azul claro representa a esperança, o verde personifica as matas, a estrela amarela alude a riqueza e o estado, a faixa branca representa serenidade e a amizade do povo do Mato Grosso do Sul.
A bandeira do Mato Grosso Sul, uma exaltação a esperança, a riqueza e a amizade. |
Fundação: 1720
Capital: Belo Horizonte
A bandeira do estado de Minas Gerais foi aprovada pelo decreto-lei 2.793 de 8 de junho de 1963, pelo governador João de Magalhães Pinto. Sua imagem foi inspirada na bandeira usada pelos inconfidentes durante a Inconfidência Mineira (1789), movimento separatista que buscou tornar Minas Gerais uma república independente do reino português. A bandeira atualmente é bem simples, um fundo branco com um triângulo vermelho e a frase em latim Libertas Quae Sera Tamem ("Liberdade ainda que tardia"). Essa frase teria sido proposta pelo inconfidente Alvarenga Peixoto, inspirado em um dos versos das Bucólicas do poeta romano Virgílio. Embora o triângulo atual seja vermelho, na época do império ele era verde, inclusive há suspeita que a bandeira dos inconfidentes tivesse essa cor também. O triângulo vermelho atualmente simboliza a ideia de luta e revolução pretendidos pela Inconfidência Mineira. O triângulo também é interpretado por alguns estudiosos como referência a Trindade cristã ou a Maçonaria (pois alguns dos inconfidentes eram maçons).
A bandeira de Minas Gerais, inspirada na Inconfidência Mineira (1789). |
Pará
Fundação: 1616
Capital: Belém
A bandeira estadual do Pará foi adotada em 1890, baseada na bandeira do Clube Republicano Paranaense, tendo sido sugerida por Philadelpho de Oliveira Condurú. Sua adoção deveu-se ao contexto político da época, com a recente proclamação da República. Logo, adotou-se um símbolo republicano. Devido a essa origem, a bandeira paraense manteve o mesmo simbolismo, onde a faixa branca representaria a linha do equador ou o rio Amazonas, as faixas vermelhas simbolizariam a força e sangue do povo paraense. Por fim, a estrela azul representa o céu e o estado.
A bandeira do Pará e sua conexão com a proclamação da República. |
Paraíba
Fundação: 1585
Capital: João Pessoa
A atual bandeira paraibana foi aprovada no ano de 1930, data que possui total influência para escolha dessa bandeira, pois naquele ano em 26 de junho, o então governador João Pessoa (1878-1930) foi assassinado devido a desavenças políticas. Na ocasião ele era candidato a vice-presidência na chapa de Getúlio Vargas (1882-1930). Na época, Vargas e Pessoa formavam uma das chapas de oposição a política do café com leite, a qual determinava que o presidente da República deveria ser um paulistano ou mineiro. Com a morte de João Pessoa, o governador foi feito imediatamente um mártir político, sendo bastante elogiado no estado. Com isso, em setembro de 1930 uma nova bandeira estadual foi proposta. A cor preta significando o luto pela morte do governador, o vermelho representando o sangue dele derramado (embora alguns falem que simbolizaria a união do povo paraibano). Por fim, a palavra "Nego" representa a postura dos políticos paraibanos aliados de Pessoa e Vargas contra a eleição presidencial daquele ano, a qual foi fraudada e deu vitória a Washington Luís. Por conta disso os políticos paraibanos negavam-se a reconhecer o resultado do pleito. Além da mudança de bandeira, a capital trocou também de nome, deixando de se chamar Parahyba para se chamar João Pessoa.
Bandeira da Paraíba, uma homenagem a morte do governador João Pessoa e um protesto político. |
Paraná
A bandeira do Piauí, inspirada na antiga bandeira nacional e evocando a lealdade do povo piauiense ao governo brasileiro. |
Fundação: 1565
Capital: Rio de Janeiro
A bandeira atual do Rio de Janeiro foi desenhada por Alberto Rosa Fioravanti, no ano de 1965, a pedido do então governador Paulo Torres, e aprovada pelo decreto n. 5.588 de 5 de outubro de 1965. A bandeira apresenta duas cores principais, o branco e o azul, estão divididas em quadrantes, padrão herdado da bandeira usada na época imperial. Em seguida temos ao centro da bandeira o brasão de armas do Rio de Janeiro. A ideia do brasão não é nova, pois foi adotada em 1891, apesar que na versão anterior o brasão apresenta-se algumas diferenças. Na versão de 1965, o brasão apresenta um escudo oval dividido em três partes: no superior a Serra dos Órgãos com destaque ao Dedo de Deus, nessa seção invoca-se a identidade cristã; no meio temos o verde dos campos e matas fluminenses, e abaixo o azul do mar. Ao centro do brasão encontra-se uma águia prateada de asas abertas, simbolizando força, autoridade e justiça, segurando em suas garras um escudo azul, branco e prateado, com uma estrela branca, contendo os dizeres em latim Recte Rempublicam Gerere ("gerir a coisa pública com retidão"), e no mesmo escudo encontra-se a data 9 de abril de 1892, data que se refere a promulgação da constituição do Estado do Rio de Janeiro. Por fim, o brasão é adornado com ramos de cana de açúcar e ramos de café, acima encontra-se uma estrela prateada que simboliza o estado como membro do Brasil, por conta da bandeira brasileira representar os estados usando estrelas.
Bandeira do Rio de Janeiro, junção da bandeira e do brasão do estado. |
Rio Grande do Norte
A bandeira de Santa Catarina evocando os valores revolucionários da República Catarinense. |
São Paulo
Fundação: 1554
Capital: São Paulo
A bandeira paulistana foi concebida em 1888 pelo jornalista Júlio Ribeiro, fundador do jornal O Rebate. Na época as cores da bandeira: branco, preto e vermelho eram referências aos habitantes brasileiros, os brancos, negros e indígenas. As quatro estrelas representavam as estrelas que formavam o Cruzeiro do Sul, e por fim, tínhamos um mapa do Brasil. O modelo não foi utilizado na época, somente em 1932 por conta da Revolução Constitucionalista ele começou a ser empregado, mas somente foi oficializado em 1946 como bandeira estadual.
Bandeira de São Paulo, concebida para representar o povo brasileiro. |
Sergipe
A bandeira sergipana foi concebida a partir do modelo usado pelo importante comerciante Bastos Coelho na época imperial, o qual adotou as cores da bandeira nacional, o verde e amarelo. Pela lei n. 795 de 19 de outubro de 1920 foi determinada a bandeira do estado possuindo listras verdes e amarelas, um retângulo azul contendo cinco estrelas, as quais representam os cinco principais rios do estado: sendo eles os rios São Francisco, Sergipe, Real, Vaza-Barris e Japaratuba. A maior estrela representa o rio Sergipe, o qual concedeu nome ao estado. As cores adotadas não possuem um simbolismo propriamente definido, já que foram escolhidas como referência a bandeira nacional. Apesar que o azul invocaria a água dos rios.
Bandeira de Sergipe, inspirada na bandeira nacional e representando os cinco rios do estado. |
Tocantins
A bandeira estadual foi instituída pela lei estadual n. 94 de 17 de novembro de 1989. A bandeira apresenta o azul dos rios, o amarelo da riqueza mineral, o branco da paz e o sol ao centro simbolizando estar iluminando o caminho e vida de todos os tocantinenses.
A bandeira de Tocantins, destacando suas águas e minérios e sol. |
Considerações:
- As principais cores usadas nas bandeiras estaduais são o verde, azul, amarelo e branco. Depois temos o vermelho e o preto.
- A bandeira do Espírito Santo é a única entre as bandeiras estaduais a trazer uma cor totalmente diferente das outras, que é o rosa.
- As bandeiras do Ceará, Goiás, Mato Grosso, Piauí e Sergipe se inspiraram no design das bandeiras nacionais.
- A estrela, faixas e brasões são os signos mais comuns usados nesse conjunto de bandeiras dos estados brasileiros.
- As estrelas representam os estados no contexto da federação.
- Seis estados fazem uso dos brasões de armas em suas bandeiras.
- As bandeiras da Bahia e de Alagoas fazem uso das cores da bandeira da França, por conta da Revolução Francesa.
- As bandeiras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina aludem a Farroupilha. Já a bandeira de Minas Gerais faz referência a Inconfidência Mineira e a bandeira de Pernambuco rememora a Revolução Pernambucana.
- O modelo mais antigo de bandeira usado, é o da Bahia, criado em 1889.
- Já o modelo mais recente de bandeira estadual em uso, pertence a Roraima, aprovado em 1996.
- A maioria das bandeiras estaduais possuem uma origem remetendo a acontecimentos políticos ou invocando o ufanismo de seus territórios. No entanto, a bandeira do Espírito Santo é a única que teve uma origem religiosa.
- As bandeiras de Minas Gerais, Paraíba e do Distrito Federal possuem o design mais simples.
Referência bibliográfica:
ALVES, Derly Halfeld. Bandeiras: nacional, históricas e estaduais. Brasília, Edições do Senado Federal, 2011.
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