Uma das mais conhecidas e importantes cidades do mundo, Nova York, surgiu no século XVII, como uma pequena colônia holandesa, depois adquirida pelos ingleses, que investiram em seu crescimento desde então, tornando-a uma das maiores cidades dos Estados Unidos e um centro financeiro.
Antecedentes (1524-1624)
A presença europeia no atual território nova-iorquino remonta ao ano de 1524, quando o capitão italiano Giovanni da Verrazano (1485-1528), a bordo do navio La Dauphine, adentrou o estreito de Narrows (na época considerado um rio) na Upper Bay, avistando a ilha de Manhattan. Verrazano relatou em seu diário de bordo o seguinte:
"Mas por estarmos ancorados em um local bem protegido do vento, não nos aventuraríamos sem conhecimento do lugar, e passamos com nosso barco apenas no referido rio, e vimos o país muito bem povoado. As pessoas são quase como as outras, e vestidas com penas de aves de diversas cores. Eles vieram em nossa direção muito alegres, dando grandes gritos de admiração, mostrando-nos onde poderemos aportar com mais segurança com nosso barco. Entramos no referido rio para a terra cerca de meia légua, onde formou um lago muito agradável, com cerca de 3 léguas de bússola; no qual eles remavam de um lado para o outro, até o número de 30 de seus pequenos barcos, onde havia muita gente, que passou de uma margem a outra para nos ver. E eis que de repente (como costuma cair ao navegar) uma falha contrária do vento vindo do mar, fomos obrigados a retornar ao nosso navio, deixando esta terra, para nosso grande descontentamento pela grande mercadoria e sua simpatia, que supomos ter algumas riquezas, todas as colinas exibindo minerais presentes nelas". (MORISON, 1978, p. 150, tradução minha).
Retrato de Giovanni da Verrazano, considerado o "descobridor" de Nova York. |
Apesar da descrição otimista dada por Verrazano, ele exagerou quanto ao afirmar que as colinas abundavam em minerais, fato esse que demorou para se descobrir minas na região. De qualquer forma, após esse contato, ele seguiu viagem, mas sem antes nomear aquelas terras com o nome de Nova Angoulême, em homenagem ao rei da França, Francisco I, o qual era seu patrocinador e chefe. A pequena baía foi nomeada como Baía de Santa Margarida (atual Upper Bay), em homenagem a irmã do rei. (MORRISON, 1978, p. 150).
Mapa mostrando Nova Angoulême, nomeada por Verrazano, em 1524. Fonte: MORRISON, 1978, p. 151. |
Embora oficialmente o governo francês atribuísse a si o domínio sobre aquele território, entretanto, nunca lhe foi dada uma devida atenção. A coroa francesa estava interessada em outras localidades das Américas e no comércio com o Índico. Fato esse que por décadas, Nova Angoulême foi um território pouco explorado pelos franceses, apesar que Verrazano seguiu fazendo exploração da costa norte-americana e de outras localidades. (MORRISON, 1978, p. 151).
No ano de 1609, o capitão Henry Hudson (c. 1550 - c. 1611) a serviço da Companhia Holandesa das Índias Orientais (Veerenigde Oost-Indische Compaigne - VOC), viajou a bordo do Halve Mean à América do Norte, com a missão de descobrir se haveria uma passagem para o Oceano Pacífico. Hudson chegou até o norte do Canadá, mas devido ao grande frio, decidiu desistir de seguir por ali e desceu a costa, procurando algum rio ou canal que atravessasse o continente, lembrando que na época se desconhecia a extensão da América do Norte. Mas ao chegar em Nova Angoulême, ele decidiu explorar aquelas terras, adentrando por um rio do lado esquerdo da ilha de Manhattan, o qual ele chamou de Rio Maurício (atual rio Hudson) e atestou uma grande quantidade de castores vivendo ali, e naquele tempo, as peles deles eram um artigo de luxo na Europa, o que daria um comércio rentável. Ao retornar a Holanda, ele explanou a respeito do potencial de se explorar o comércio de peles de castor naquela região. (HUNTER, 2009, p. 11-12).
Retrato do capitão Henry Hudson. |
A partir do relato do capitão Hudson, a VOC decidiu enviar novas expedições a Nova Angoulême para mapear a região e explorar o comércio de peles de castor, além de buscar outras matérias-primas. Assim, entre 1611 e 1615, viagens anuais foram realizadas, e o governo holandês vendo que o negócio de peles era lucrativo para sustentar a exploração daquele território, incumbiu o capitão Hendrick Christiansen (?-1619) em assegurar aquelas terras. Logo, o capitão viajou com as ordens de criar um entreposto e um forte para defender a localidade. (GEHRING, 2000).
Na chamada ilha do Castelo (atualmente em terras de Albany), no interior do rio Hudson (na época chamado North River), foi erguido uma simples fortificação de madeira, nomeada Forte Nassau, em homenagem ao stadholder e príncipe de Orange, Maurício de Nassau (1567-1625), o qual também atuou como importante general na época. A fortificação foi a primeira obra holandesa erguida no território que viria a ser renomeado para Novos Países Baixos. O pequeno Forte Nassau sofreu ataques dos indígenas nos anos seguintes, sendo reconstruído algumas vezes até ser renomeado em 1624 para Forte Orange. (GEHRING, 2000).
Ilustração de como seria o Forte Orange, em 1635. |
Nova Amsterdã (1625-1664)
Foi na década de 1620 que a Holanda ou República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, decidiu investir na Nova Angoulême, embora, isso tenha sido um dos vários objetivos secundários ou terciários da companhia, a começar pela condição de que em 1621 foi fundada a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (West-Indische Compaigne - WIC), cujo um dos objetivos iniciais era tomar controle da produção açucareira no Brasil, na época uma alta fonte de lucro, fato esse que o açúcar era o então "ouro branco". Todavia, a WIC necessitou reunir capital para formar um exército e esquadra para invadir o Brasil, algo que somente ocorreu em 1624.
Enquanto a ocupação da cidade de Salvador, capital do Brasil, ocorria, a WIC enviou expedições pelo Atlântico, incluindo algumas dirigidas para a colônia dos Novos Países Baixos, a qual vinha sendo investida desde 1611. A ideia era que até então o local possuía um forte no interior e alguns entrepostos, mas a proposta era criar uma pequena cidade portuária para facilitar a exploração do território, além de melhorar o apoio logístico aos navios, comerciantes, trabalhadores e soldados.
O capitão Peter Minuit (1580-1638) foi incumbido no cargo de diretor colonial, com a missão de estabelecer o primeiro núcleo urbano dos Novos Países Baixos. Para facilitar o acesso ao mar, Minuit e sua equipe decidiram construir a cidade num local estratégico, então viram a ilha de Manhattan na foz do rio Hudson, sendo um local estratégico para ali fundar a cidade. Na época, a ilha era ocupada por uma tribo de algonquinos, os quais já conheciam os holandeses a algum tempo. Na ocasião, Minuit teria oferecido uma quantia irrisória de 60 florins para comprar a ilha que possui 87,69 km2. Segundo uma lenda, a compra teria sido feita com base no escambo, em que foi dado como pagamento, contas de vidro. (ANBINDER, 2016, p. 29).
Cena retratando Peter Minuit negociando com os algonquinos, a compra da ilha de Manhattan. |
De qualquer forma, Minuit e seus homens conseguiram enganar os indígenas naquela negociação bastante vantajosa para a WIC. Com isso, os indígenas deixaram Manhattan. O engenheiro Cryn Fredericks foi encarregado de construir uma fortificação para assegurar aquela posição, isso era praxe das ordens da WIC. A fortificação de madeira foi nomeada Forte Amsterdã. Enquanto isso, Minuit retornou a Holanda para informar sobre o êxito do negócio e aguardar novas instruções sobre a futura colônia que começou a ser construída em 1626. A colônia foi crescendo aos poucos nas décadas seguintes, ocupando a ponta sul da ilha de Manhattan, o que compreende atualmente a região da cidade baixa até Wall Street.
Planta da cidade de Nova Amsterdã na década de 1660, com o Forte Amsterdã em destaque. |
Surge Nova York (1664)
Em 1654 as finanças da WIC sofreram um duro golpe com a perda das colônias no Brasil e em Angola, encerrado assim, o negócio do açúcar e do tráfico negreiro. Embora que desde a década de 1640 a WIC vivenciava altas dívidas devido a guerra luso-holandesa para manter seus domínios no nordeste brasileiro. Mas após 1654, a companhia ainda negociou nos anos seguintes com Portugal, uma indenização, que acabou sendo paga, mas isso não foi o suficiente para saldar as dívidas. Para piorar a situação da empresa, os ingleses começaram a atacar territórios holandeses no Caribe, Antilhas, África, Ásia e na América do Norte.
Em 1664, quatro navios ingleses e uma companhia com mais de quatrocentos soldados, liderada pelo capitão Richard Nicholls (1624-1672), aportou diante de Nova Amsterdã e ameaçou abrir fogo contra a cidade. O governador Peter Stuyvesant (1612-1672), o qual governava desde 1647, sem muito o que fazer, pois a tropa da cidade era pequena e o forte estava defasado, decidiu assinar os termos de rendição, reconhecendo Nicholls como novo governador. Nota-se que a conquista da cidade foi a base da ameaça, não havendo conflito. (ANBINDER, 2016, p. 65).
O rei Charles II (1630-1685) da Inglaterra, Escócia e Irlanda, ao ser informado sobre a conquista de Nicholls, decidiu renomear a cidade holandesa, trocando seu nome para Nova York, em homenagem ao seu irmão James (1633-1701), o Duque de York, que a partir de 1685 assumiu com James II da Inglaterra, sucedendo seu irmão mais velho. (ANBINDER, 2016, p. 66).
O rei Jaime II da Inglaterra, Duque de York. |
Mapa de Nova York em 1674. A cidade ainda conservava a urbanização dos holandeses. |
NOTA: É creditado a Henry Hudson a descoberta do rio Hudson, que fica em Nova York, já o Estreito de Hudson e a Baía de Hudson se encontram no Canadá. Hudson e seu filho foram abandonados na baía que recebeu seu nome, após um motim, onde faleceram posteriormente de causas desconhecidas.
NOTA 2: A Wall Street recebe este nome, pois em 1653, foi construído um muro de madeira onde ela se localiza. O muro foi erguido para proteger a cidade de Nova Amsterdã, apesar que foi derrubado no final daquele século.
NOTA 3: A ideia de que judeus que viviam no Recife, após serem expulsos em 1654, foram fundar Nova York é incorreta. De fato, alguns judeus que abandonaram o Brasil por conta da saída da WIC, seguiram para lá, mas a cidade já existia há quase trinta anos.
Referências bibliográficas:
ANBINDER, Tyler. City of Dreams: The 400-Year epic History of Immigrant New York. New York, Hougthon Mifflin Harcout, 2016.
GEHRING, Charles (ed). Fort Orange Records, 1656-1678. The Holland
Society of New York, 2000.
HUNTER, D. Half Moon: Henry Hudson and the voyage that redrew the map of the New World. New York, Bloomsbury Press, 2009.
MORRISON, Samuel Eliot. The Great Explorers: The European Discovery of America. Oxford: Oxford University Press, 1978.
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