Por séculos os mandarins estiveram entre os mais respeitados cargos administrativos do império chinês. Surgidos no século VII como conselheiros e secretários, com o tempo o cargo foi ganhando novas atribuições e funções, além de se gerar também toda uma hierarquia e graus de promoção. Os mandarins passaram a exercer funções burocráticas, administrativas, fiscais, políticas e militares, o que revela como esse ofício ganhou alterações com o tempo.
Retrato do mandarim Jiang Shunfu (1453-1504) e dois funcionários. |
Etimologia
A palavra mandarim é de origem portuguesa, sendo os portugueses no século XVI os primeiros a usarem para se referir a esses funcionários do império chinês. O boticário e comerciante Tomé Pires (1465?-1540) em visita à Malaca (atualmente na Malásia), comentou em cartas sobre sua viagem, que conheceu funcionários chineses. Pires utilizou os termos mandaris, manderis, manderys, para se referir a eles. Embora não se saiba se realmente foram mandarins que ele teria conhecido ou ouvido falar, pois a palavra mandarim em alguns documentos europeus era empregada de forma genérica, para se referir a qualquer funcionário do governo chinês. Apesar da variação em grafia, tais palavras voltaram a aparecer em outras publicações como o livro História do descobrimento e conquista da Índia pelos portugueses (1558) de Fernando Castanheda.
Todavia, não há um consenso quanto a origem do termo mandarim, pois não consistia numa palavra usada pelos chineses. Alguns etimologistas defendem que a palavra mandarim viria do latim como mandador ou mandare, que significa "aquele que manda". Outra vertente sugere uma origem malaia, significando menteri (conselheiro), defendendo que se tratava de uma palavra usada pelos malaios para se referir a aqueles homens, e os portugueses a incorporaram. Outra hipótese aponta uma origem no sânscrito com a palavra mantri (conselheiro, ministro). Apesar da dúvida quanto a origem etimológica da palavra mandarim, foi a forma aportuguesada que se difundiu entre as línguas europeias.
Funcionário concursado
Os primeiros mandarins surgiram por volta de 605 d.C, sendo conselheiros e secretários. Nessa época eles eram homens provenientes da aristocracia e nobreza, tratando-se de estudiosos que aprenderam a burocracia estatal. E por conta disso, por mais de duzentos anos, os mandarins seguiram sendo nomeados a partir da aristocracia, em que se avaliava sua postura e capacidade de falar. Nesse período ocorria também favorecimentos, como cargos comissionados, indicações e até mesmo a compra de cargos.
Por conta desses problemas a qualidade dos funcionários era irregular em várias ocasiões. Mas a realidade somente mudou durante a Dinastia Song (960-1279), a qual instituiu os exames imperiais ou o concurso público para mandarim. Com o tempo o concurso foi sendo alterado e melhor estruturado, mas ele concedeu uma nova forma de avaliar os futuros funcionários, além de conceder a oportunidade a pessoas que não fossem oriundas da aristocracia e da nobreza, pudessem disputar uma vaga no serviço público (pelo menos em teoria).
Mas para poder chegar a fazer a prova de mandarim, o candidato primeiro deveria ser aprovado numa série de exames para atestar sua capacidade mínima de ingressar no ensino superior, para se formar ali e depois disputar o concurso para mandarim. Dessa forma, para poder ingressar no ensino superior, algo que equivaleria a faculdade ou a universidade, o candidato deveria passar por três exames:
- Exame distrital (xianshi): era realizado a cada dois ou três anos, durando até cinco dias. Os aprovados seguiam para a próxima fase;
- Exame da prefeitura (fushi): era realizado na prefeitura, ao longo de três dias. Os candidatos eram separados por distritos e eram sabatinados. Os aprovados seguiam para a próxima fase;
- Exame de aptidão (yuanshi): os finalistas eram avaliados ao longo de quatro dias, por funcionários enviados pelo governador ou direto da capital imperial. Os aprovados recebiam o título de "Licenciado" (xiucai).
De posse do título de Licenciado, o candidato detinha o direito de ingressar numa escola para aprender o necessário sobre sua futura função como mandarim. O curso duraria de dois a três anos, e basicamente se restringia a aulas de filosofia confucionista, caligrafia, e um pouco de história, política, legislação e ética. Concluído o curso, o candidato deveria se submeter a um exame para atestar sua capacidade de aprendizado.
- Exame provincial (xiangshi): ocorria a cada três anos ou em datas determinadas pelo imperador. Era realizado nas capitais das províncias, em que funcionários da corte eram enviados para fiscalizar os candidatos. As provas eram realizadas ao longo de três dias, em que o candidato respondia exames escritos e orais. Caso ele fosse aprovado, receberia o título de "Mestre" (juren).
Recebendo o título de juren, significava que o candidato estava apto a prestar o concurso para ser mandarim, isso após alguns anos de estudo e tentativas de passar nos exames para xiucai. Mas finalmente conquistando os dois títulos obrigatórios, os candidatos aguardavam o próximo concurso que era realizado na capital imperial, no caso, Pequim. Ali eles se dirigiam ao Palácio da Suprema Harmonia.
- Exame do palácio (gongshi): era presidido por oito mandarins veteranos e o imperador em pessoa. Geralmente somente dez vagas eram oferecidas a cada concurso. Os mandarins davam notas aos candidatos e o imperador os avaliava, tendo autoridade discricionária para alterar resultados ou desclassificar um candidato que não lhe agradasse, apesar das notas. Embora nem sempre isso ocorresse, mas houve casos assim.
O Palácio da Suprema Harmonia, na Cidade Proibida, em Pequim. Por séculos esse palácio sediou o concurso para mandarim. |
Antes de passar para a organização do cargo de mandarim e suas funções e níveis, é preciso comentar brevemente o conteúdo dessas provas. Foi visto que o candidato para se tornar mandarim teria que passar por cinco exames. Mas o que era perguntado nesses exames? Por incrível que pareça o tema girava em torno da filosofia confucionista.
Confúcio (552-489 a.C) foi um importante filósofo, conselheiro e funcionário público. Seus ensinamentos foram preservados por seus discípulos em alguns livros como os Analectos e outras obras. Nesse livro em particular, Confúcio narrava uma série de recomendações morais, éticas e sociais, além de apresentar reflexões sobre a política, a história, a religião, a sociedade, a vida, o trabalho etc. Pela condição de ele ter sido funcionário público, Confúcio em várias ocasiões usava exemplos de seu trabalho para instruir dedicação, bom comportamento, esmero, polidez, eficiência etc. Por conta disso, esse livro se tornou uma das bases para os estudos do concurso de mandarim.
Além dos Analectos, outros livros são o Grande Saber, a Doutrina da Média e o Mencio. Esses livros nem sempre foram usados nos exames para mandarim, mas foram incorporados ao processo a partir do século XII quando o filósofo, historiador, escritor e estadista Zhu Xi (1130-1200), um dos maiores especialistas em neoconfucionismo da época, estabeleceu que o concurso de mandarim deveria incluir essas quatro obras como leitura obrigatória. Fato esse, que até 1905, os candidatos deveriam ler esses quatro livros com teor filosófico, social e político, para responder perguntas e escrever dissertações sobre alguns de seus temas.
- I Ching (Livro das Mutações): livro de caráter filosófico e religioso, atribuído ao lendário filósofo Lao Tsé. A obra influenciou o próprio Confúcio;
- Shujing (Livro da História): composto por 58 capítulos, a obra traz fatos históricos de caráter político e militar, discursos de imperadores, governadores e ministros; além de aspectos legislativos e reflexões de alguns políticos famosos;
- Shijing (Livro da Poesia): Confúcio valorizava as artes, em especial a poesia, por conta disso, ela se tornou uma das artes mais prestigiadas na história chinesa por séculos. Durante os exames, os candidatos deveriam responder perguntas sobre métrica e versificação e até compor poemas;
- Lijing (O Registro do Rito): obra que versa sobre a etiqueta social, palaciana e burocrática, além de trazer ensaios filosóficos e moralistas;
- Chunqiu (Os Anais da Primavera e do Outono): livro de teor histórico que apresenta alguns acontecimentos históricos ocorridos entre os séculos VIII a.C. e VI a.C., além de trazer comentários de alguns governadores e generais.
Uma folha do exame para mandarim em 1894. Aqui vemos a pergunta na direita e a resposta do candidato, escrita de cima para baixo. |
Pintura retratando um candidato no exame palaciano apresentando sua prova ao imperador e um mandarim. |
O mandarim militar
Apesar dos mandarins serem lembrados principalmente como funcionários da administração imperial, nem todos eram civis, alguns mandarins eram militares, possuindo funções, direitos e deveres diferentes. Primeiro, eles não precisavam passar pelos exames para se tornarem Licenciados e Mestres, eles tinham que ingressar no Exército, algo que poderiam fazer se voluntariando como soldado. Depois deveriam aprender a ler e escrever. Com isso, eles teriam que estudar os manuais militares do período, sendo o mais famoso a Arte da Guerra de Sun Tzu.
Além dessas manuais, eles estudavam um pouco de filosofia, história, política e ética. Mas os manuais militares eram o conteúdo principal das provas escrita e oral. No entanto, somava-se a tais provas os exames físicos, os quais eram divididos em testes de destreza e força. O que incluía tiro ao alvo, cavalgada, corrida, levantamento de peso, combate e outros testes. Sendo aprovados nesses testes, o candidato recebia o título de wu jinshi ("Doutor Militar").
Os exames físicos eram mais valorizados do que o exame intelectual, pois no Exército, o mandarim ainda seguiria sendo um guerreiro, tendo que ir a guerra. A diferença é que ele passava a poder exercer funções administrativas. Alguns mandarins inclusive poderiam ascender na hierarquia militar e não apenas nos níveis de sua profissão.
Os níveis e funções dos mandarins
Explicado de forma breve como se dava o concurso para se tornar mandarim civil e militar, agora se faz necessário apresentar quais as funções que eles exerciam e como era a hierarquia desse cargo. Foi na Dinastia Ming (1644-1912) que a hierarquia em nove níveis ou classes para os mandarins civis e militares foi estabelecida e mantida quase inalterada pelos séculos seguintes. Sendo assim, em cada nível, cabia funções específicas ao mandarim, assim como, ele deveria utilizar adereços e insígnias em suas vestes para identificar em qual nível ele pertencia. Antes do governo Ming, os graus e classes variavam um pouco, mas as funções eram similares.
Isso facilitava para que as autoridades e funcionários soubessem o nível e influência daquele mandarim, pois em geral para a população, qualquer mandarim era um homem importante, independente de seu grau hierárquico. Condição essa, que em algumas épocas da Dinastia Qing, somete 1 em cada 100 mil candidatos conseguia ser aprovado como mandarim, devido as poucas vagas e os exames difíceis.
Na Dinastia Qing, o cargo de mandarim era dividido em nove níveis, mas cada um possuía dois graus, o que representa dezoito graus. Em cada nível e grau da ascensão funcional do mandarim, ele ia desde realiza atividades burocráticas simples até alcançar o primeiro nível, em que se tornava conselheiro direto do imperador, posição bastante estimada, pois o tornava membro da corte, podendo residir na Cidade Proibida, e em qualquer palácio em que o monarca estivesse.
Os nove níveis eram os seguintes:
- Nível 1-A: Secretário pessoal do imperador, secretário-mor;
- Nível 1-B: Ajudante do imperador ou do príncipe herdeiro, presidente dos ministérios, tribunais e juntas;
- Nível 2-A: Ajudante adjunto do príncipe herdeiro, vice presidente dos tribunais, juntas, ministro da Casa Imperial, vice-rei;
- Nível 2-B: Conselheiro da Casa Imperial, Governador de província, Conselheiro da Academia Hanlin, Superintendente das Finanças;
- Nível 3-A: Diretor de tribunais, juiz provincial, vice-presidente adjunto do Fisco;
- Nível 3-B: Diretor dos banquetes imperiais ou das cavalariças imperiais, controlador-geral do sal;
- Nível 4-A: Diretor ou subdiretor da Casa Imperial, tribunais, juntas, fisco, relações exteriores e assistente-sênior de circuito;
- Nível 4-B: Prefeito, instrutor na Casa Imperial e na Academia Hanlin;
- Nível 5-A: Vice-prefeito e supervisor adjunto da Academia Hanlin;
- Nível 5-B: Bibliotecário nas academias, ajudante de instrução, censor, subdiretor das juntas e tribunais;
- Nível 6-A: Secretário e professor nas academias, secretário e registrador nas secretárias imperiais;
- Nível 6-B: Subprefeito provincial, secretário de tribunal, secretário adjunto das secretárias imperiais, sacerdote-chefe;
- Nível 7-A: Secretário de polícia, juiz distrital, secretário de estudos em Pequim;
- Nível 7-B: Secretário de província, controlador do sal e das estações de transporte;
- Nível 8-A: Assistente dos juízes distritais, secretário da prefeitura, diretor de estudos em escolas;
- Nível 8-B: Subdiretor de estudos, arquivista do controlador de sal;
- Nível 9-A: Arquivista da prefeitura, secretário distrital, agente penitenciário;
- Nível 9-B: Cobrador de impostos, fiscal de contas, secretário adjunto de penitenciária, comissário adjunto de polícia.
- Nível 1-A: Marechal de campo e camareiro da guarda imperial;
- Nível 1-B: Tenente-General da Unidade dos Estandartes, General em Chefe da Manchúria, Comandante Provincial do Exército Chinês;
- Nível 2-A: General de brigada, Comandante de Divisões;
- Nível 2-B: General de Divisão, Tenente-Coronel;
- Nível 3-A: Coronel de Divisão, Brigadeiro da Artilharia;
- Nível 3-B: Comandante de Brigada fora de Pequim;
- Nível 4-A: Tenente-Coronel, Comissário de Polícia da capital;
- Nível 4-B: Capitão, assistente das tropas palacianas;
- Nível 5-A: Capitão, tenente de polícia;
- Nível 5-B: Vice-capitão, tenente da guarda da porta;
- Nível 6: Magistrado de polícia, tenente de artilharia, subtenente;
- Nível 7: Assistente dos mordomos palacianos;
- Nível 8-A: Alferes;
- Nível 8-B: Primeiro sargento;
- Nível 9-A: Segundo sargento;
- Nível 9-B: Sargento de terceira classe;
Entre os mandarins militares seguia-se a hierarquia do Exército, lhe atribuindo funções típicas desses cargos, mas as vezes atribuindo outras funções como as de polícia, e algumas honoríficas associadas com a corte, para as hierarquias mais elevadas. Observa-se também que os níveis 6 e 7 não possuíam dois subgraus, mas apenas um.
Além disso, vale ressalvar que os mandarins militares foram algo mais comum durante a Dinastia Qing, além de que eles sofreram influência de modelos europeus, principalmente pelo contato com os portugueses e ingleses. Condição essa que alguns cargos são equivalentes aos dos padrões europeus, incluindo os de artilharia, pois no XIX, a China já possuía tropas de artilharia.
Cada nível hierárquico dos mandarins civis e militares atribuíram deveres, funções, mas também regalias. Uma delas era o salário, inicialmente baixo, mas que ia subindo gradativamente. Em alguns casos alguns mandarins de níveis altos conseguiam se tornar membros da corte através de casamentos ou por concessão de títulos pelo imperador. Além disso, mandarins de origem humilde, poderiam ter a oportunidade de adentrar a aristocracia à medida que subiam de nível.
Os mandarins de nível intermediário para cima passavam a dispor de ajudantes, assistentes e até recebiam criados. Em alguns casos, eles também tinham funções de circuito, ou seja, a cada tantos anos deviam trocar de cidade ou província para exercer suas funções.
Entretanto, a subida de nível variava em alguns aspectos. Por exemplo, candidatos que tiraram excelentes notas em todos os cinco exames e terminaram o concurso de mandarim nas primeiras colocações, não iriam começar no nível 9, poderiam já iniciar no nível 6 ou 7. Por outro lado, a progressão de cargo poderia levar até 9 anos e havia casos em que o mandarim nem conseguia subir de nível, permanecendo o restante da vida no mesmo nível.
Essa progressão estava associada ao desempenho do funcionário, seu comportamento, caráter e se não tivesse se envolvido com imoralidades, desavenças e crimes. Poucos mandarins conseguiam galgar posições até os primeiros níveis, e isso quando ocorria, já eram homens com mais de quarenta ou cinquenta anos (isso se eles não tiveram favorecimentos e ingressaram no serviço público ainda cedo), os quais conquistaram prestígio na capital ou na corte.
Embora houvesse também jogos de interesses, com casos de mandarins que conseguiram através de favores e subornos, comprar sua ascensão ou comprometer concorrentes. Por outro lado, um mandarim poderia ser destituído de seu cargo caso cometesse alguns tipos de crime; podendo inclusive ir para a prisão, pagar multa ou ser condenado a pena de morte.
Não obstante, outro aspecto a ser comentado sobre os níveis dos mandarins, diz respeito a sua indumentária e insígnias. A ideia dos noves níveis foi algo surgido propriamente na Dinastia Ming, sendo reelaborado pela Dinastia Qing. Nesse ponto, cada nível hierárquico era representado por uma cor e ave. Os níveis baixos usavam tons de azul, os níveis intermediários usavam preto ou verde, já os níveis elevados se vestiam com o vermelho (cor tido como associada a realeza, a sorte, a autoridade, o sagrado etc.).
Hierarquia de cor e animal para trajes civis dos mandarins.
- Nível 1: vermelho carmesim e um grou branco;
- Nível 2: vermelho e um faisão dourado;
- Nível 3: vermelho e um pavão real;
- Nível 4: vermelho e ganso;
- Nível 5: verde e um faisão prateado;
- Nível 6: preto e uma garça branca;
- Nível 7: azul escuro e um pato mandarim;
- Nível 8: azul claro e um codorniz;
- Nível 9: azul claro e um papa-mosca.
Três exemplos de trajes usados por mandarins. O vermelho representa o nível 1 (grou branco), o verde representa o nível 5 (faisão prateado), e o azul representa o nível 7 (pato mandarim). |
- Nível 1: inicialmente o leão, depois trocado pelo qilin (tipo de animal folclórico);
- Nível 2: leão;
- Nível 3: inicialmente o tigre, depois trocado pelo leopardo;
- Nível 4: inicialmente o leopardo, depois trocado pelo tigre;
- Nível 5: urso;
- Nível 6: pantera;
- Nível 7: inicialmente a pantera, depois trocado pelo rinoceronte;
- Nível 8: rinoceronte;
- Nível 9: inicialmente o rinoceronte, depois trocado pelo cavalo.
Quadrado mandarim com um leopardo, animal usado por mandarins militares de nível 3. Esse exemplar foi confeccionado entre os séculos XVIII e XIX. |
O sistema burocrático dos mandarins perdurou no império chinês de 605 a 1905, totalizando 1.300 anos de duração, consistindo em uma das organizações burocráticas mais longevas da História, condição essa que outros países adotaram esse sistema, mas com algumas adaptações e por bem menos tempo.
Na Coreia o cargo de mandarim era chamado de yangban, estando em voga durante algum período do reinado da Dinastia Joseon (1392-1847). No Japão tentou-se aplicar o conceito de mandarim, o qual esteve em voga no Período Heian (794-1185), mas acabou sendo abolido pelos xogunatos, que privilegiavam funcionários escolhidos a dedo ou por comissão. Na Indonésia colonial dos séculos XVII ao XIX, existia o cargo de kapitan cina, baseado nos mandarins. O Vietnã entre os séculos XVI ao XIX, também adotaram um modelo parecido com os mandarins.
Por outro lado, os mandarins acabaram influenciando no idioma e na escrita dos chineses, fato esse, que ainda hoje se fala em língua mandarim, isso se deve a uma interpretação dos portugueses no século XVI, pois os mercadores tinham que resolver com mandarins questões legais e administrativas, sendo que esses funcionários usavam a língua culta, pautada no padrão gramatical no qual eles eram instruídos. Porém, acabou se espalhando a ideia de que na China se falava mandarim, não o chinês. Sendo que na China existem outros idiomas e dialetos também, porém, o chamado mandarim era o idioma da corte, da capital e da burocracia, vindo a ser reconhecido como idioma oficial do país, mais tarde.
No começo do século XX, com a grande influência inglesa na China, em 1905, o concurso para mandarim foi abolido, assim como, o sistema hierárquico e administrativo foi substituído por modelos ingleses, isso a nível civil e militar. Vale ressaltar que o império chinês vivenciava crise de poder, autoridade e legitimidade no final do XIX, e isso foi se alastrando até seu fim em 1912.
Três mandarins com seus filhos e assistentes. Fotografia de 1902. |
NOTA: O pato mandarim (Aix galericulata) ganhou esse nome por conta de sua imagem ser uma das aves que ilustravam as insígnias dos mandarins civis, especificamente os de nível 7.
NOTA 2: No século XIX, em alguns países europeus, a palavra mandarim era usada para se referir a funcionários públicos soberbos, vaidosos, as vezes preguiçosos e inadimplentes.
NOTA 3: O Mandarim (1880) é o título de uma novela do famoso escritor português Eça de Queiroz. Na trama, o protagonista assassina um mandarim e passa a arcar com as consequências de seu ato.
NOTA 4: Mandarim é o nome de um vilão clássico do Homem de Ferro, surgido em 1964, sendo criado por Stan Lee e Don Heck. Trata-se de um personagem estereotipado.
NOTA 5: Os Mandarins (1954) é um romance da escritora e filósofa Simone de Beauvoir, o qual acompanha um grupo de intelectuais franceses na década de 1950. O título faz referência a noção de mandarim como burocrata vaidoso.
NOTA 6: No romance Jornada ao Oeste (séc. XVI) de Wu Cheng'en, o pai do protagonista Tang Sanzang é um mandarim que foi aprovado no concurso em primeiro lugar.
Referências bibliográficas:
FAIRBANK, John King.
The Cambridge history of China. Cambridge, Cambridge University Press,
2008.
ICHISADA, Miyazaki. China’s Examination Hell. Tokyo/New York, s.e, 1976.
TWITCHETT,
Denis Crispin. The birth of the
Chinese meritocracy. Bureaucrats and examinations in T’ang China.
Londres, s. e, 1976.
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