Constantino I ou Constantino, o Grande (272-337), entrou para a história romana como o primeiro imperador romano a se converter ao Cristianismo. Contudo fica em aberto a seguinte questão, será que ele teria feito isso por pura devoção ou fora uma jogada política? Constantino antes de se tornar cristão, era um homem devoto inicialmente ao culto dos deuses romanos, ele próprio se comparava como sendo descendente do herói Héracles (Hércules), posteriormente em suas campanhas militares no Oriente tivera contato com o culto do Deus Sol Invictus, ligado ao Mitraísmo. Contudo sua aparente devoção ao deus dos cristãos só viria no ano de 312, quando este estava prestes a travar uma dura batalha contra o imperador Maxêncio. Nesta época o império romano estava dividido em porção Ocidental e Oriental, assim havia um governo com dois imperadores e dois césares (seus sucessores), no final eram quatro líderes que comandavam o império, algo que não se mostrou tão viável assim. O projeto de uma tetrarquia havia sido concebido poucos anos antes, pelo imperador Diocleciano o qual havia governado de 284 a 305. Diocleciano fora o responsável por reestruturar o império o qual se encontrava em crise e uma de suas medidas fora sua redivisão territorial em duas metades, a criação de novas províncias, dioceses (aqui diocese refere-se a uma organização administrava a qual fora adotada pela Igreja Católica posteriormente), etc.
Assim, após ter abicado do trono em 305 juntamente com Maximiano, imperador do Ocidente, Diocleciano deixou como sucessor Constâncio Cloro (250-306), pai de Constantino. Constâncio tinha como césar, Galério e no Oriente o sucessor de Maximiano fora Maxêncio e o seu césar Lícinio. Constâncio morrera em campanha militar na Bretanha, então seu filho, Constantino fora eleito pelo seu próprio exército sucessor direto de seu pai, indo de encontro ao direito de sucessão deixado para Galério, fato este que o imperador do Oriente Maxêncio não reconheceu Constantino como novo augusto (nome dado ao imperador nessa época) do Ocidente, assim uma guerra entre os quatro monarcas se iniciou.
Oficialmente Galério era o imperador do Ocidente, mas tivera que disputar seu poder com Constantino. Em 311, Galério morrereu e Constantino assumiu o cargo de imperador, contudo Maxêncio ainda não o aceitava como novo monarca. No ano de 312 na noite anterior a Batalha da Ponte Milvio contra as forças de Maxêncio, Constantino tivera um sonho no qual aparecia uma cruz, e nesta estava grafado a seguinte frase: In hoc signo vinces (sob este signo vencerás), com isso antes da batalha começar Constantino ordenou que os seus soldados pintassem o tal símbolo cristão, o lábaro em seus escudos, e de certa forma isso acabou lhe trazendo sorte, e eles venceram a batalha. Outras versões dizem que não fora um sonho, mas sim uma visão. Constantino andando pelo acampamento teria visto uma cruz no céu. Alguns historiadores sugerem que ele teria visto um meteoro ou estrela cadente e considerado como um presságio divino.
Depois desta vitória, Constantino mostrou interesse em se converter ao Cristianismo. Vendo deste ponto pode se dizer que fora um ato de devoção, o qual viria a se reafirmar e a se fortificar quando em 313, Constantino juntamente com Lícinio o novo imperador do Oriente, assinaram o Édito de Milão, no qual proibia-se a perseguição aos cristãos, e legaliza o culto do Cristianismo pelos povos do império. Contudo, tanto Lícinio como outros membros da elite romana ainda se mantiveram ligados as antigas tradições e não enxergaram com bons olhos tal lei.
O lábaro ou cristograma de Constantino. Símbolo no qual o imperador teria visto em um sonho. Existem outros tipos de cristograma. |
De qualquer forma, Constantino passou a ser bem quisto pelos cristãos, isso não terminaria por aí, ele ainda era um homem que possuía outras ambições. Nos anos seguintes Constantino governou conjuntamente com Lícinio até ordenar a morte deste em 324, e finalmente passar a ser regente único. Nesse meio tempo, Lícinio havia se tornado cunhado de Constantino, por ter se casado com uma de suas irmãs, mesmo assim isso não impediu que ele ordenasse a morte do cunhado. Além deste crime, Constantino também é acusado de ter ordenado a morte de um dos filhos e de uma das esposas, sobre o acusações de traição e conspiração, de toda forma, mesmo com as mãos sujas de sangue, ele se mantivera como um líder importante.
Em 325 ocorreu sob a organização e convocação do imperador o Concílio de Niceia, o qual fora o Primeiro Encontro Ecumênico da História. Neste concílio, o imperador reuniu os altos bispos do império a fim de reformular a doutrina cristã.
"Esse primeiro concílio em Niceia foi importante não apenas para a formulação da doutrina cristã, mas como o primeiro exemplo de cesaro-papismo. Constantino pretendia que a Igreja Cristã fosse estatal, tendo como chefe o imperador. Em sua gratidão, os cristãos não lhe fizeram objeção". (RUNCIMAN, 1977, p. 21).
"Assim, parecia chegar ao fim o velho antagonismo entre a Igreja Cristã. Não lhe era mais necessário atribuir-se descendência de Hércules ou Apolo: tinha uma nova santidade que redimiria todos os seus pecados. O sangue de seus rivais, de seu filho e até de sua mulher, manchava-lhe as mãos, mas para o mundo ele era o Isapostolos, o igual aos Apóstolos, o Décimo-Terceiro deles". (RUNCIMAN, 1977, p. 21).
No concílio questões de ordem doutrinária e política foram tratadas. Não me reterei a falar acerca destes devido a extensão do assunto, de qualquer forma alguns dos fatos tratados diziam respeito, a questão do arianismo, o qual punha em debate a essência de Jesus Cristo, se ele fora homem ou deus; a questão sobre o batismo dos heréticos, a perseguição aos cristãos realizadas pelo imperador Diocleciano que levou ao Cisma do bispo Milécio de Licópolis; perseguição aos prisioneiros de Lícinio; definição da data da Páscoa, estatuto sobre questões administrativas e clericais; a organização dos livros que iriam compor a Bíblia, etc.
Alguns fatos como a questão da Páscoa oscilar a cada ano, e preceder um período de quarenta dias desde a quarta-feira de cinzas, a chamada quaresma fora debatida nessa época. Além disso, a organização da Bíblia que hoje temos é basicamente igual a daquela época, onde fora se retirado os chamados evangelhos apócrifos e outros textos.
Outro fato, é que posteriormente também fora decidido, fora a data do Natal, já que no Novo Testamento não se menciona a data de nascimento de Jesus Cristo, assim Constantino decidiu que essa data deveria ser celebrada no dia 25 de dezembro, dia que corresponde ao nascimento do deus Mitra, lembrem-se que o mitraísmo era uma religião influente entre o exército romano, e o próprio imperador fora adepto desta. Além disso, a data 25 de dezembro marca entre alguns povos pagãos a comemoração do solstício de inverno, período em que começa-se a celebrar a espera da vinda da primavera e com esta o início das plantações. Assim, tal data não fora escolhida por mero acaso, os próprios romanos comemoravam a Saturnália no mês de dezembro, festas realizadas ao deus Saturno, deus da agricultura, justiça e do tempo. Embora a Saturnália termina-se antes de 25 de dezembro, alguns aspectos dessa celebração embasaram os primeiros ritos natalinos daquele tempo.
Enfim, Constantino fora o responsável por apaziguar a perseguição aos cristãos por um tempo, essas ainda voltaram a ocorrer anos depois. Ele também fora o primeiro imperador romano a se declarar cristão, organizou um concílio que estruturou questões da doutrina cristã, de sua organização secular, e do livro mais importante da cristandade, a Bíblia. Constantino teve suas contribuições, mesmo assim isso não o tornara um santo, devido a seus atos traiçoeiros. Mas suas iniciativas foram importantes pois deram o ponta-pé para que a Igreja Católica se firma-se de fato em Roma, embora já se encontra-se ali desde o século I, a Igreja nestes primeiros séculos devido a perseguição fora duramente combatida.
NOTA: Fora o imperador Teodósio I que decretou o Cristianismo como religião oficial do Império Romano. Teodósio governou de 378-395.
NOTA 2: A mãe de Constantino, Helena era uma cristã devota, ela chegou a realizar uma peregrinação a Jerusalém e trouxe desta algumas relíquias sagradas. Após a morte desta e de seu filho, ambos ainda eram figuras bem queridas entre alguns cristãos daquela época.
NOTA 3: Em 330, Constantino fundou a cidade de Constantinopla a qual se tornaria a futura capital do Império Bizantino, império que herdaria o legado cristão do Concílio de Niceia, originando o Cisma do Oriente em 1054, o qual separou a Igreja Católica, formando a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa.
NOTA 4: O cesaropapismo tivera origem com Constantino e posteriormente outros imperadores cristãos chegaram ao ponto de deter o poder imperial e pontifico. Negando a autoridade suprema do papa a frente da Igreja.
NOTA 5: Constantino pode ter sugerido a data para o Natal, mas a prova mais antiga que se tem de que o Natal passou a ser celebrado no dia 25 de dezembro, data do governo do imperador bizantino Justiniano, o Grande (483-565).
NOTA 6: Embora se disse-se cristão, Constantino apenas se batizou no final da vida, quando sentia que iria morrer. Por tal fato, alguns historiadores questionam se realmente ele tinha fé nesta religião, assim como sua mãe possuía.
NOTA 7: Constantino chegou a ser chamado por alguns de o "Décimo Terceiro Apóstolo".
NOTA 6: Embora se disse-se cristão, Constantino apenas se batizou no final da vida, quando sentia que iria morrer. Por tal fato, alguns historiadores questionam se realmente ele tinha fé nesta religião, assim como sua mãe possuía.
NOTA 7: Constantino chegou a ser chamado por alguns de o "Décimo Terceiro Apóstolo".
Referências Bibliográficas:
MENDES, Norma Musca (Organizadora), Repensando o Império Romano: perspectiva socioecônomica, politica e cultural. Rio de Janeiro, Mauad, 2006.
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar, 1968.
GRIMAL, Pierre. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70, 1988.
RUNCIMAN, Steven. A Civilização Bizantina. 2a edição. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1977.
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