domingo, 22 de novembro de 2009

A Época do Oikos

Muitos de vocês devem ter nunca ouvido falar nessa palavra, e saber ao menos do que se trata. Contundo, posso dizer que a palavra oikos, possui dois significados distintos, mas se remetem ao mesmo assunto; assunto este que trata-se sobre a história da Grécia Antiga. Para ser mais exato, este período do oikos transcorreu entre os anos de 1200 a.C à 800 a.C, época esta que marca a decadência do domínio da cidade de Micenas sobre a Grécia, e o mergulho da sociedade e da cultura, em uma época que alguns historiadores chamam de a "Idade das Trevas grega".

Sendo assim, a época do oikos ou "Idade das Trevas grega", marca a fase da queda do mundo grego-micênico e da Idade do Bronze, até a sua "ressurreição", durante o período Arcaico.

De antemão, deve-se saber que a palavra oikos pode designar tanto a casa ou a propriedade de um senhor nesta época (1200-800 a.C). Sendo assim, o oikos se assemelharia a uma propriedade rural, algo semelhante ao feudo medieval (porém o oikos não é a mesma coisa que um feudo).

Antes de continuar a seguir com a descrição de um oikos, vou explicar rapidamente o que foi que aconteceu para levar as pessoas a abandonarem quase que todas a cidades, e se voltarem para morar no campo.

Como eu havia dito, a cidade de Micenas, acabou construindo um grande domínio na Península Helênica ou Grega, entre os anos de 1600-1200 a.C. Micenas, se tornou a cidade mais rica e prospera da região, dando grande contribuição ao desenvolvimento cultural, artístico e econômico em sua época. Contudo após 400 anos de hegemonia, aos poucos seu governo fora ruindo, intrigas politicas fragilizaram o governo, e dividiram os exércitos nas mãos de seus generais que buscavam o poder; além disso também houve a invasão dos chamados Povos do Mar, povos que vieram da região da Fenícia, da Ásia menor e de outras ilhas do Mediterrâneo. E por fim teve a invasão do povo Dório, o quais vieram do norte da Grécia se estabelecendo na região do Peloponeso e na parte insular da península. Os dóricos eram retratados na época como sendo um povo particularmente militarizado, voltado para a arte da guerra, tal influencia fora tanta, que o antigo sistema de escrita utilizado pelos gregos, fora abolido. O comércio exterior praticamente desaparecera; as cidades ficaram perigosas, e muitos migraram para o campo; a arte e a arquitetura perderam seu esplendor de outrora; a vida se tornou basicamente ruralizada, e houve uma grande diminuição da população geral. Tais fatores e outros, levaram a Grécia a cair em uma época obscura, como dizem alguns historiadores.

Terminado esta rápida explanação, irei expor a seguir algumas das características principais que marcaram este período.

Organização administrativa: O oikos consistia na casa do senhor ou em uma propriedade rural. Nesta propriedade, havia uma população local livre, a qual poderia permanecer nas terras sob o comando do senhor do oikos; mas eles eram livres para ir quando quiserem. O senhor, possuía outros súditos que o ajudavam na administração da propriedade: fiscalizando, coletando e cuidando de questões militares (já que nesta época era comum se haver muitos confrontos entre outros oikos). Além deste fato, também nota-se que a mulher nessa época possuía um importante papel na questão social. A esposa do senhor, ou para ser mais exato, a senhora do oikos, era a responsável, por organizar os banquetes e as refeições, por atribuir hospedagem a viajantes que procurassem o senhor. Contudo a função que mais importante que ela exercia, era a de carregar a chave do tesouro; este tesouro na realidade consistiria em um depósito, no qual se armazenaria os alimentos, os tecidos, os presentes ganhos pelo senhor, os metais preciosos, jóias, as armas e outros objetos originados da pilhagem feita nas batalhas. Além deste fato o qual garante um forte destaque e influência para a mulher, também pode se ressaltar, que quando o senhor estava ausente, era a sua esposa que ficava no comando. Em caso do marido morrer, era ela que ficaria no comando até o seu filho mais velho ter idade para assumir. Se ele fosse muito novo, ela teria que escolher um novo marido.

Organização econômica: Como já fora citado anteriormente, a economia do oikos era predominantemente rural. Sua fonte de sobrevivência provinha da agricultura e da pecuária. Quanto a tal questão, cada família do oikos tinha uma determinada responsabilidade com o cultivo da terra e com a criação de animais. Além disso, também havia uma pequena produção artesanal interna, e um relativo comércio local. Mas de fato grande parte da riqueza material provinha do saque das pilhagens, e dentre os principais objetos roubados, estavam as armas e objetos feitos de bronze e ferro. Metais estes que ficaram escassos na época por falta de sua exploração, então se tornaram algo valioso. Além disso, alguns historiadores relatam que já havia um pequeno comércio de escravos efetuado na época.

Organização social: Quanto a organização social, pode se dizer que havia o senhor do oikos e sua família, havia também outras famílias de posses, principalmente devido a partilha dos ganhos da pilhagem, havia em si a população camponesa, e por fim os escravos. De certo modo as pessoas que viviam no oikos eram tratadas como servos do senhor. Contudo havia uma ligeira diferença entre servo e escravo, mesmo que em alguns momentos tal diferença não fosse clara. Em si todos os habitantes do oikos teriam que prestar serviço para o senhor e desta forma garantiriam sua própria sobrevivência, já que a comida doada para este, as armas e cerâmicas produzidas seriam utilizadas por todos, da forma que o senhor designasse.

Os demiurgos: Nessa época a palavra demiurgo se referia a um viajante que ia de oikos em oikos prestar determinados serviços. Serviços estes como adivinhação, feitiçaria, curandeirismo, artístico, dentre outros que não eram comumente praticados por todos. Sendo assim, era costume do demiurgo ser as vezes contratado por um senhor em ocasiões de festividades para tocar música, cantar, dançar ou contar histórias. Em troca dos seus serviços, eles ficavam hospedados na casa do senhor e ganhavam presentes.

O casamento
: Um aspecto interessante quanto ao casamento, era o fato de que muitas vezes estes eram realizados no intuito de se estabelecer acordos e laços de lealdade entre os oikos, principalmente devido a motivos militares, em caso de guerra estes oikos poderiam recorrer aos seus aliados. De acordo com a tradição da época o casamento seria feito a partir da escolha de uma hedna (dote), vários pretendentes levavam seus dotes para o pai da mulher com que se pretendia se casar; naturalmente aquele que oferecesse o melhor dote seria o escolhido. Em caso do homem não puder cumprir com sua parte do trato, este teria que prestar serviços para o seu sogro a fim de quitar sua divida com o dote.

Por fim, após 400 anos envolto nesta "escuridão", aos poucos a cultura helênica ia revivendo. A população voltou a crescer, e a migrar para as cidades, o comércio externo voltou a ocorrer, as artes voltaram se desenvolverem, a exemplo que nesta época nota-se o reaparecimento da escrita, um novo alfabeto grego havia sido criado com base no alfabeto fenício. Em um dos marcos para o ressurgimento da escrita se encontram mediante a dois poemas épicos de autoria de Homero (ver foto), o qual teria vivido no século VIII a.C, sendo o responsável pelos poemas a Ilíada e a Odisseia, considerados as primeiras obras escritas no novo alfabeto grego. Além desta questão também nota-se o florescimento das cidades ou as chamadas póleis. Cidades como Atenas, Esparta, Tebas e dentre outras voltariam a crescer durante o Período Arcaico.

Por outro lado alguns historiadores preferem convencionar o início do Período Arcaico propriamente dito, no ano de 776 a.C, época em que ocorreu os primeiros Jogos Olímpicos, e a colonização grega fora da Grécia.

NOTA: Antes do período do oikos, os helenos (gregos), utilizavam o alfabeto Linear B, herdado dos cretenses.
NOTA 2: Alguns historiadores consideram que a cidade de Esparta fora fundada pelos dórios.
NOTA 3: Os Jogos Olímpicos ocorreram de 776 a.C até 393 d.C, quando foram proibidos pelo imperador romano Teodósio I, por considerá-los atividades pagãs, pois Teodósio era cristão e havia delegado o Cristianismo como religião oficial do império, abolindo outras práticas pagãs.
NOTA 4: Jônios, Eólios e Arcádios, foram povos que ao se estabelecerem na Ática e no Peloponeso, dariam origem ao povo grego, juntamente com os dórios posteriormente.
NOTA 5: Os termos ockeus, dmôs, drester e amphipolos, eram palavras utilizadas tanto para se designar os servos como os escravos, nessa época.
NOTA 6: Os gregos antigos chamavam a sua terra de Hélade, por isso se autodenominavam de helenos. Hoje em dia, a Grécia em grego pode ser chamada tanto de Hélade, como Hellas.
NOTA 7: Demiurgo também designava o líder dos arcontes, os quais constituíam a assembléia da cidade de Atenas.

Referências Bibliográficas:
MOSSÉ, Claude. A Grécia Antiga de Homero a Ésquilo. Lisboa, Edições 70, 1984.
FINLEY, Moses. I. Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo, Martins Fontes, 1981.
CARDOSO, Ciro. F. Cidade-Estado Antiga. São Paulo, Ática, 1993.

LINKS:
Ancient Scripts — Linear B (em inglês)
língua grega
Coleção de ilustrações e imagens sobre a Ilíada (em inglês)
greciaantiga.org

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