quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Dinastia das Pirâmides

Em toda a história de suas XXX Dinastias, o Egito possuiu uma época dourada, na qual seus mais imponentes, famosos e conhecidos símbolos perduraram, e marcaram a glória de seus idealizadores no tempo. Sendo nesse caso, muitos historiadores, egiptólogos, arquitetos e outros estudiosos, consideram a Era de Ouro das pirâmides do Egito, tendo ocorrido durante a IV Dinastia por volta de 2613/15 - 2498/94 a.C (Quanto a estas datas não há um consenso entre todos os historiadores, daí se apresentar variações para mais ou menos), mais exatamente entre a família do faraó Sneferu ou Seneferu e os seus descendentes.

Entretanto as três famosas pirâmides de Gizé, construídas por Khufu (Quéops), Khaf-re (Quefrén) e Miquerinos, simbolizam até hoje o esplendor dessa era, mesmo apôs mais de 4 mil anos, elas ainda estão lá erguidas em meio ao deserto. Sendo as únicas maravilhas do Mundo Antigo ainda a existir. Entretanto antes da construção destas três pirâmides, seus antepassados também realizaram o mesmo, e de certa forma foram os responsáveis por formar as bases da construção das pirâmides. Sendo assim, irei contar um pouco da história desde a criação da primeira pirâmide, até o reinado de Miquerinos, o qual fora quem construiu a terceira pirâmide de Gizé, a menor das três.

"O Homem teme o Tempo, e ainda o Tempo teme as Pirâmides"
Provérbio árabe

Representação de uma mastaba
Para começar esta história, devemos retornar a mais de 100 anos antes da construção da pirâmide de Quéops, e da época de seu pai Sneferu, o primeiro faraó da IV Dinastia. A História, começa por volta do século XVII a.C, durante a III Dinastia (2686-2613-15 a.C), com o seu segundo faraó, chamado de Djoser ou Neterket. Djoser foi o primeiro faraó a fazer uma revolução na construção de túmulos. Até então os faraós desde o inicio da primeira dinastia, eram enterrados em túmulos chamados de mastabas. Os quais consistiam em uma construção feita de tijolos ou de pedras, da forma de um paralepipedo, com ligeira inclinação nas laterais. Dentro desta construção, havia um local onde as oferendas para o morto era deixado, e logo abaixo um caminho que conduzia a câmara sepulcral, onde residia o sarcófago do faraó.

Imhotep
No entanto Djoser queria fazer algo diferente de seus antecessores, ele queria criar uma nova tumba, que pudesse ser vista por todos a longas distâncias, e que fosse mais grandiosa que as outras. Assim ele recorreu a ajuda de seu primeiro-ministro, sumo-sacerdote, arquiteto e médico chamado Imhotep. Imhotep conhecido como um homem de exímias qualidades, fora incumbido pelo faraó para resolver tal questionamento, e a resolução a qual chegou fora bem simples. Ele aproveitaria a estrutura da mastaba já construída, e iria empilhar outras estruturas menores sobre esta, fazendo uma espécie de "montinho". E de tal façanha nascia a chamada pirâmide escalonada ou pirâmide em degraus.

Constituída de cerca da junção de seis andares, um menor que o outro, tendo cerca de 62 metros de altura, a antes mastaba, agora se tornava um novo monumento, o qual enfeitava com sua grandiosidade a região de Saqqara, ao sul de Mênfis, capital egípcia da época. Sendo assim, a pirâmide de Saqqara, construída por Imhotep para o faraó Djoser, marca o inicio da construção das pirâmides do Antigo Egito. No entanto tal inicio ainda voltaria a demorar a transcorrer novamente. Após a morte de Djoser, os três faraós que lhe sucederam, nenhum chegou a construir algo similar. Este ainda continuaram a construir suas mastabas. Porém a história mudaria com o inicio da IV Dinastia, com o faraó Sneferu.

A pirâmide escanolada ou em degraus. Projetada por Imhotep para o faraó Djoser. A primeira pirâmide do Egito. 
Sneferu ficou conhecido por ter sido o único faraó a quem lhe credita a construção de três pirâmides, por isso de alguns o chamarem de "o construtor de pirâmides". Antes dele não se tem dados a respeito de que algum faraó que lhe antecedeu tenha tentando construir algum tipo de pirâmide logo apôs Djoser. De qualquer forma, Sneferu no início de seu reinado, começou a construir sua pirâmide na região de Meidum ao sul de Mênfis. Tal pirâmide parece ser um híbrido entre a pirâmide escanolada de Djoser, com o formato que conhecemos hoje de uma pirâmide. No entanto ao se ver de longe, ela parece ser uma torre no meio do deserto. De qualquer forma. apôs ser terminada, o faraó nunca chegou a usá-la. E sobre isso não se sabe ao certo o porque. Especula-se que o revestimento de calcário que lhe dava a forma piramidal, desabou ainda na época do faraó, o que o levou a construir outra pirâmide.

A pirâmide de Meidum, a primeira pirâmide projetada para o faraó Sneferu. Contudo, complicações na construção levaram ao desabamento de parte da estrutura. O revestimento da pirâmide caiu a vários séculos. 
Deixando a região de Meidum, Sneferu decidiu construir sua próxima pirâmide, um pouco mais próxima de Mênfis, na região de Dahchur. (Dahchur conta com a presença de outras pirâmides, mastabas e necrópoles, construídas pelas dinastias posteriores). Neste lugar o faraó chegaria a construir duas pirâmides, já que a segunda não teve sucesso, e acabou ruindo, com isso ele teve que construir uma terceira e última pirâmide. A segunda pirâmide de Sneferu é conhecida pelo nome de Pirâmide Romboidal ou pirâmide curvada. Fato este que devido a um erro de cálculo de seus arquitetos, teria cedido sob seu peso ao centro, o que levou parte das paredes a se curvarem e lhe dá tal aspecto. De qualquer forma o seu tamanho para época já era bem grande. Ela possui, cerca de 190 metros de largura na base e cerca de 100 metros de altura. Um dos problemas apontados pelos atuais estudiosos, fora o fato de que os ângulos da pirâmide mediam 52 graus, diferente dos 43 graus, visto nas pirâmides seguintes. Tal condição teria levado a pirâmide ceder sobre seu peso.

A segunda pirâmide de Sneferu, chamada de pirâmide romboidal. Um erro de cálculo levou a pirâmide ceder ao próprio peso, encurvando suas arestas.
Mesmo com tais dimensões sendo superiores as anteriores, o projeto dera errado, e por fim a terceira pirâmide fora construída próximo dali, a chamada Pirâmide Vermelha, a qual de fato foi a primeira pirâmide a ter as bordas lisas, e a possuir o aspecto que comumente conhecemos. Esta acabou saindo perfeitamente como planejada, e no fim de sua vida, Sneferu pode ter finalmente seu corpo sepultado em sua pirâmide. No entanto, Sneferu não foi simplesmente um homem obcecado por construir pirâmides, os poucos dados a respeito de seu governo, não sugerem uma má administração. E além disso muito da arte egípcia nasceu deste período, como fato de se haver inscrições dentro das pirâmides, e posteriormente os desenhos. Além de todo o ritual pôs vida ligado a mumificação e transição da alma para o outro mundo.

A pirâmide vermelha. Terceira e última pirâmide construída para o faraó Sneferu, e a única que deu certo, se tornando a primeira pirâmide propriamente como conhecemos. 
Com a morte de Sneferu por volta de 2589 a.C ou 2551 a.C, seu filho Khufu (Quéops) assumiu o trono. E este promoveria a construção da maior pirâmide do Egito, e a mais alta construção do mundo feita pelo homem, por mais de 4 mil anos. A Grande Pirâmide como assim ficou conhecida simbolizou o apogeu da construção de pirâmides. Após ela, nenhuma foi tão grande o maior. Durante o seu governo de cerca de 23 anos, este ficaria conhecido como um tirano, no qual gastou grandes quantidades de dinheiro para bancar a construção de sua pirâmide. Tendo que bancar o sustento de milhares de trabalhadores, com comida, água, abrigo e assistência médica (eles não eram totalmente escravos. Em grande parte eram camponeses, que trabalhavam em troca de um "salário" sendo este dado em muitas vezes, na figura de pão e cerveja). Além de ter que bancar o sustento dos trabalhadores, de construir vilas para eles morarem, grande parte das pedras utilizadas na construção de sua pirâmide proveram do sul do Egito das pedreiras de calcário de Tura. Mesmo assim ele conseguiu terminar sua imponente obra, a qual até hoje é motivo de debates, de que forma ela foi construída.

A grande pirâmide de Quéops, a maior de todo o Egito. 
Com quase 150 metros de altura (isso em sua época. Hoje ela está com algo em torno de 137 metros), com cerca de 230 metros de largura na base; composta por pelo menos 2.300.000 blocos pesando entre 2 à 5 toneladas ou até mesmo 10; com uma massa total calculada em torno de 32 milhões de toneladas, não se sabe quanto tempo foi necessário para a sua construção. Alguns falam que foram gastos 20 anos, outros que foram 15 anos, e que foram pelo menos utilizado uma mão-de-obra entre 30 mil à 50 mil trabalhadores.

"A grandiosidade da obra é tal que tem despertado a imaginação de quem se aproxima dela. Heródoto, por exemplo, garantiu que levou dez anos para se preparada e outros vinte para a execução, com 100 mil homens trabalhando continuadamente, simultaneamente por turnos e morrendo sob o peso de blocos imensos de pedra". (PINSKY, 2001, p. 78).

"É espantoso o sucesso obtido. A base da pirâmide, por exemplo, teoricamente um quadrado perfeito, tem uma diferença máxima de três centímetros em cada lado (em 230 metros significa algo em torno de 0.01%!)". (PINSKY, 2001, p. 78).

Djedef-re 
Quéops, teve três filhos e outras filhas, sendo que os três filhos eram Khawab seu primogênito, Djedef-re, e Khaf-re (Quéfren) o qual era filho bastardo. No entanto, Khawab não chegou a assumir o trono, especula-se que foi morto pelo seu irmão Djedef-re o qual de fato veio a se tornar o terceiro faraó da IV Dinastia. Tal fato se deu depois de uma má interpretação de um arqueólogo francês, no qual no século XX, quando descobriu os restos da pirâmide de Djedef-re em Abu Roach, localizado a oito quilômetros ao norte de Gizé, sobre um morro se encontrava a sua pirâmide. No entanto posteriormente ela foi destruída, e grande parte de sua história tentou ser apagada. Fato este que concedeu a imagem de vilão a Djedef-re, por ter matado o irmão mais velho, governado como um tirano, e por fim foi morto pelo seu irmão Quéfren. Alguns apontam que Khawab morrera de alguma doença, e que Quefrén não teria matado Djedef-re.

De qualquer forma sua vida é ainda envolta em mistérios. originalmente especulava-se que ele teria governado por 8 anos, mas hoje há indícios que apontam que este governou por mais de 20 anos, e que a má fama se deu pela má interpretação do arqueólogo que descobriu sua pirâmide. De qualquer forma, sua pirâmide por se encontrar no alto de um morro ultrapassou a altura da pirâmide de Quéops. Mas além deste fato, Djedef-re teve outros dois importantes papéis. Ele foi o primeiro a usar granito na construção de sua pirâmide, mesmo que fosse só para o revestimento, devido ao alto preço e a demora no tempo de transporte. E foi o primeiro faraó a utilizar o título de "filho do sol". Depois dele, até os últimos faraós de fato, utilizaram este título. E não obstante, há indícios recentes que sugerem que a Grande Esfinge tivesse sido construída por ele, como forma de homenagear seu pai. De qualquer forma na maioria dos livros se credita tal obra a Quéfren.

A Grande Esfinge de Gizé. 
Por volta de 2520 a.C ou 2558 a.C, Quéfren assumira o poder, e inicou a construção de sua pirâmide a qual diferente dá de seu irmão, ficaria ao lado da pirâmide de seu pai, e se tornaria a segunda maior pirâmide já construída no Egito. Além da construção desta pirâmide, também lhe é atribuído a construção da Grande Esfinge, a qual seria uma homenagem a seu pai ou a si mesmo, ainda há dúvidas de quem seria o rosto representado na estátua. Mesmo que alguns digam que foi Djedef-re quem a construiu, ou até mesmo, que fora construída antes do reinado de Quéops, sua fama permanece ligada a Quéfren. Além de ter realizado estas obras, Quéfren ficou lembrado por ter sido um bom governante, proporcionando anos de fartura e prosperidade para o seu povo. E outro fato curioso, é que ele é um dos faraós mais representados na arte egípcia neste período, possuindo várias estátuas e gravuras com sua imagem. E curiosamente nenhuma destas imagens, se parecem com o rosto da Esfinge, por isso de se questionarem o por que de ele ter construído uma estátua, a qual não tivesse seu rosto. Em todas as representações de Quéfren, este sempre aparece usando uma barba postiça e um toucado (nemes) de listagem diferente da qual a Esfinge é representada. E além disso, ela não possuía a barba postiça.

Com a morte de Quéfren por volta de 2532 a.C ou 2494 a.C, seu filho Miquerinos assumira o poder, e seria o responsável por construir a terceira pirâmide que compõem o complexo funerário de Gizé. Miquerinos, como o seu pai, fora visto e lembrado como um bom governante, como aponta alguns egiptólogos e o próprio Heródoto. Ele também foi um dos faraós que esteve bastante representado na arte egípcia, possuindo várias estátuas que o representavam, juntamente com sua esposa-irmã Khamerernebti II.
As pirâmide de Miquerinos, Quéops e Quéfren, e as pequenas pirâmides de suas esposas. 

Quanto a sua pirâmide, é a menor das três que compõem o complexo de Gizé. No entanto, ali esta representado três gerações de governantes, os quais ficariam lembrados na história por sua tumbas. Após a morte de Miquerinos por volta de 2503 a.C ou 2460 a.C, seu segundo filho, já que o primogênito havia morrido na infância, Chepseskaf assumira o poder. Deste em diante, os demais faraós ainda iriam construir dezenas de pirâmides pelo Egito. Estimasse que haja pelo menos 100 pirâmides conhecidas, e outras ainda não descobertas. De qualquer forma, seu esplendor terminou com o fim da IV Dinastia, tendo ChepsesKaf como último representante. No entanto a Era dourada das pirâmides é creditada a Sneferu, Quéops, Djedef-re, Quéfren e Miquerinos, uma das famílias mais poderosas do antigo Egito, que por mais de cem anos detiveram o poder e a glória da construção destes grandes monumentos.

NOTA: Nos filmes A Múmia (The Mummy) e o Retorno da Múmia (The Return of Mummy), Imhotep é representado como um terrível vilão.
NOTA 2: Alguns creditam a invenção do calendário egípcio a Imhotep. E, além de ter criado o sagrado calendário, este próprio foi elevado a figura de um deus. E passou a ser adorado como tal.
NOTA 3: A respeito da variação das datas, como eu já havia apontado antes, existe um grande déficit em consenso destas datas, pelos egiptólogos. Com isso vocês poderão encontrar várias datas diferentes se referindo a mesma Dinastia ou governo de algum faraó.
NOTA 4: Alguns historiadores apontam que o Egito possuiu XXXI Dinastias ao invés de XXX. No entanto o período faraônico perdura de aproximadamente 3100 a.C até 30 a.C, quando o Egito se torna uma província romana.
NOTA 5: A Grande Esfinge, possui cerca de 57 metros de comprimento, 6 de largura e 20 de altura. Possuindo um pequeno templo em seu peito, entre as patas. Quanto a seu nariz, alguns dizem que este foi destruído pela tropa francesa de Napoleão Bonaparte I, quando este invadira o Egito. Outros apontam que o seu nariz já tinha caído muito tempo antes de Napoleão chegar ao Egito.
NOTA 6: As três pirâmides de Gizé estão alinhadas com as três estrelas do Cinturão da Constelação de Órion.
NOTA 7: Todas as três pirâmides de Gizé foram saqueadas. Sendo assim, praticamente todo o tesouro real dos faraós foi roubado.
NOTA 8: Quanto a pirâmide de Djedef-re, até há alguns anos se pensava que aquilo fosse as ruínas de um templo solar construído pelo faraó, até mudarem de ideia após descobrirem a câmara funerária.

Referências bibliográficas:
PINSKY, Jaime. As Primeiras Civilizações. São Paulo, Contexto, 2001.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Referência da Internet: 
http://antigoegipto.com.sapo.pt/

Referência audiovisual: 
Documentário: A Pirâmide Perdida (The Lost Pyramid). History Channel, 2008.

LINKS:
Navegar no Antigo Egipto - página do Museu Calouste Gulbenkian.
BBC History - Egyptians (inglês)
Imagens do interior de uma mastaba e dos seus corredores subterrâneos (inglês)

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