quinta-feira, 13 de maio de 2010

Francis Bacon e o despertar da ciência

Quando falo em despertar da ciência, me refiro a uma questão um tanto complicada de se referir. O conceito de ciência propriamente dito, se originou por volta do final do século XVII, embora o termo ciência só passou a ser mais utilizado a partir do século XIX, onde também surgiu o termo cientista, antes disso usava-se o conceito de filosofia natural ou filosofia mecânica.

Entretanto, a outra questão que fica no ar, que gera dúvidas, seria o fato de que desde a Antiguidade até a Idade Moderna, não houve ciência? Será que os antigos desconheciam o que nós podemos definir como saber científico? Sobre tais premissas, eu irei responder tais questionamentos, a partir das ideias de Francis Bacon, considerado por alguns como o "Pai da Ciência Moderna". Ou seja, se existe uma "ciência moderna" implica em se dizer que existia uma "ciência antiga"? Sendo assim, nesse artigo, o dividirei em dois momentos: o primeiro será uma espécie de curta biografia do autor, para se saber quem foi Francis Bacon, e a segunda parte será dedicada a sua visão a respeito da filosofia e como ele concebia a ciência, e sua elaboração de um método científico, o Empirismo. 

Vida e obra

Francis Bacon nasceu em 22 de janeiro de 1561 em Londres, e morreu em 9 de abril de 1626, aos 65 anos em Londres. Bacon era filho de Nicolas Bacon, o qual trabalhava como lorde protetor do selo real. Com isso a família Bacon gozava de certos privilégios entre a Corte e a nobreza. Mas, tais privilégios não foram de grande ajuda para Francis, após a morte de seu pai. Devido a este ser o caçula da família, parte da herança fora dividida com seus irmãos mais velhos, isso levou a Bacon ter que logo cedo a trabalhar como advogado. Em 1581, devido ao seu bom trabalho como advogado e outros serviços prestados ao governo, fora apontando para trabalhar na Câmara dos Comuns, se tornando membro do Parlamento. Nessa mesma época ele se tornou protegido de Robert Devereux, Conde de Essex, um nobre de grande influência na Corte da rainha Elizabeth IEntretanto, Bacon possuía a admiração do conde, mas ao mesmo tempo carregava um desafeto com outros membros da Corte e até mesmo com a própria rainha. 

Porém, sua vida sofreria uma reviravolta. Ele acabou se desentendendo com o Conde de Essex, bem a tempo, quando fora descoberto em 1601, que o conde estava envolvido em uma tentativa de golpe de Estado. Bacon se safou de não ser considerado como cúmplice, e para piorar sua situação ele depôs contra o conde e outros de seus partidários, aumentando ainda mais sua inimizade. Porém, isso lhe rendeu acesso ao Conselho Real.

Com a morte da rainha Elizabeth I em 1603, o novo rei da Inglaterra, era Jaime I, o qual diferente do seu antecessor, apreciava o trabalho de Bacon. E foi no governo de Jaime I que Francis Bacon conseguiria seu prestígio político e social e ao mesmo tempo sua derrocada da política.

"Certos aspectos de sua jurisprudência, inclusive, teriam impacto significativo séculos mais tarde - em particular, os argumentos que utilizou em um caso em 1608, segundo os quais os escoceses nascidos depois da ascensão de James ao trono da Inglaterra deveriam ser considerados automaticamente naturalizados como ingleses. Tal conceito pode ser apontado como origem do principio legal que hoje garante o direito à cidadania de um país para toda as crianças nascidas em seu território - até mesmo para os filhos de imigrantes ilegais". (SERJEANTSON, 2009, p. 73).

Bacon também redigiu outras leis e uma série de procedimentos para a legislação da época. Deste ponto em diante sua carreira política daria uma guinada. Em 1607, se tornou Advogado-geral da união; em 1613 se tornou Procurador-geral da república; e em 1618 ganhou seu título nobiliárquico de Barão de Verulam ou Verulâmio. Porém como costuma dizer "o que é bom dura pouco". Em 1621, Bacon fora acusado de corrupção, de ter recebido propina em alguns casos que presidiu. Ele não negou a acusação que tinha realmente recebido o que ele chamou de "presentes", porém disse que isso não havia interferido em seu julgamento. Mas, de qualquer forma, Bacon fora condenado a prisão pelo crime de corrupção, além de ser destituído de seus cargos e ser afastado do governo. Em 1621 ele cumpriu sua prisão na Torre de Londres (local onde muitos nobres foram encarcerados, tais como: Henrique VIII, Henrique VII, Elizabeth I, Carlos I de Valois, algumas das esposas de Henrique VIII, etc).


A Torre Branca de Londres ou simplesmente a Torre de Londres. Antiga fortaleza transformada em prisão. Famosa por ter sido o cárcere de importantes nobres. 
Porém nos cinco anos que se sucederiam até a sua morte em 1626, Bacon deu continuidade ao seu trabalho como filósofo e cientista. Entretanto, Francis Bacon como um homem de sua época, era comum ele ter apreciação por várias atividades distintas. Sendo assim, posso enumera-las como sendo: advogado, político, filósofo, escritor, historiador, alquimista, e o que podemos chamar de cientista para os termos de hoje.

Sendo assim vou citar alguns dos seus mais importantes trabalhos em filosofia e história, antes de dá inicio a questão sobre o conhecimento científico.

Frontispício do Novum Organum
Como membro da Ordem Rosacruz, Bacon chegou ao cargo mais alto de alquimista na ordem, além de ser considerado como o responsável por ter escrito os principais manifestos da Ordem. Na filosofia, sua principal obra fora o Novum Organum (Novo Instrumento), publicado em 1620, no qual Bacon pretendera expor uma nova metodologia e uma visão de se pensar o conhecimento, rompendo com a escolástica medieval e a filosofia de Aristóteles, a qual ele a criticava em muitos aspectos. Outro importante trabalho seu no campo da filosofia fora o Instauratio Magna (Grande Instauração) no qual ele propunha uma renovação do conhecimento humano. Em 1605, ele também lançou o Advancement of Learning (Avanço do Aprendizado), dedicado ao rei Jaime IAlguns anos antes ele lançou sua famosa obra literária, Essays (Ensaios). E no campo da historiografia ele escreveu dois grandes trabalhos: História Completa e Correta (em referência a união da Inglaterra e Escócia) e História do Reino de Henrique VII (o qual fora o fundador da Dinastia Tudor). Além destes trabalhos, ele possui uma série de outros, no campo da política, direito, história e filosofia. Mas, agora eu irei começar a abordar sua visão da filosofia e da ciência.

Classificando o conhecimento

Bacon dividia o conhecimento em duas categorias: o conhecimento divino e o conhecimento humano. Para ele, o conhecimento divino, seria a natureza a qual é a obra de Deus. Quanto ao conhecimento humano seria tudo aquilo que o ser humano compreende a partir de suas ações. A partir desta duas divisões, Bacon procurava construir uma história da evolução do conhecimento divino e humano em seu livro The Proficience and Advancement of Learning Divine and Humane (conhecido no Brasil em algumas edições, como O progresso do conhecimento). Nessa sua obra datada de 1605, perfaz uma ampliação do trabalho em Advancement of Learning. E nesse novo trabalho ele não só  procurou falar sobre o progresso do conhecimento, mas também explicar sua metodologia para se estudar as ciências. Como o livro e vasto, não irei me prender a muitos detalhes a cerca deste. Então irei extrair alguns pontos que achei importante.

"Bacon propôs (...) um método investigativo fundamentado em observação, descrição, classificação, comparação, eliminação e, só então, dedução das possíveis causas de um fenômeno. Em síntese, tratava-se do empirismo". (BBC, 2009, p. 72).

Basicamente a metodologia de Bacon se dividia na seguinte forma:

"A teoria da indução, tal como exposta no Novum Organum, distingue inicialmente experiência vagaexperiência escriturada. A primeira compreende o conjunto de noções recolhidas pelo observador quando opera ao acaso. A segunda abrange o conjunto de noções acumuladas pelo investigador quando, tendo sido posto de sobreaviso por determinado motivo, observa metodicamente e faz experimentos e o ponto de partida para a constituição das tábuas da investigação, núcleo de todo método baconiano". (BACON; ANDRADE, 1999, p. 14).

Para explicar sua metodologia de pesquisa e análise, Bacon criou o conceito de tábuas da investigação, as quais consistem em parâmetros para guiar o pesquisador em suas eventuais pesquisas. Ele dividia este conceito em três tábuas: 


"A primeira tábua de investigação é a de presença ou afirmação. Nela são colocadas todas as instâncias de um fenômeno que concordem por apresentar as mesmas características. Se o problema investigado for, por exemplo, o calor, é necessário estudar os casos em que ele se apresenta, como a luz do sol, as labaredas do fogo, a temperatura do sangue humano, e assim por diante". (BACON; ANDRADE, 1999, p. 14).

"Para Bacon, a verificação das ocorrências positivas de um fenômeno não, é contudo, suficiente para fornecer seu perfeito conhecimento. Impõe-se verificar também aqueles casos em que o fenômeno não ocorre. Constrói-se, assim, a tábua das ausências ou da negação. Assim, em relação ao calor, seria necessário conhecer e atentar para fenômenos como o dos raios de luar ou o do sangue frio e animais mortos". (BACON; ANDRADE, 1999, p. 14).

"A terceira tábua é das graduações ou comparações, que consiste na anotação dos diferentes graus de variação ocorridos no fenômeno em questão, a fim de se descobrirem possíveis correlações entre as modificações". (BACON; ANDRADE, 1999, p. 14).


Em essência o Empirismo foca a experimentação dos fenômenos como forma de comprová-los. Algo diferente da filosofia de Aristóteles, na qual Bacon dizia focar a contemplação, e não se importar muito em se analisar aquele fato mediante a experiências. Isso é um dos motivos no qual ele diz que os antigos não faziam ciência. Todavia, Bacon não criou o Empirismo, o mesmo já era concebido por alguns filósofos gregos na Antiguidade, no entanto, fora ele que criou a metodologia de estudo que respaldava o Empirismo. 


"O principal mérito do método empírico é o de assinalar com vigor a importância da experiência na origem dos nossos conhecimentos. Os empiristas de um modo geral têm razão ao afirmar que não existem ideias inatas, e de que antes da experiência não há e nem pode haver conhecimento algum sobre o mundo exterior". (OLIVEIRA, 1997, p. 53).

Mas se por um lado, Bacon visava a experimentação em sua metodologia da ciência, como forma de se provar os fatos, os fenômenos, ele chegou ao ponto de se tornar controverso aos cientistas de hoje. Como eu havia dito anteriormente, ele classificava o conhecimento em divino e humano, e sobre tal ideia se perfaz uma forte influência religiosa em sua vida e em seu trabalho.

"Quando Bacon propôs o Novum Organum, ele teve que enfrentar dois problemas fundamentais herdados da tradição. Por um lado, entender como o homem pôde reconquistar o domínio sobre a interdição que pesa sobre o conhecimento da natureza". (ZATERKA, 2004, p. 94).

Para ele, o homem quando caiu no Pecado Original, tentou se aproximar de Deus, mediante ao descobrir o conhecimento do bem e do mal, e por isso fora punido por sua curiosidade. Entretanto, Bacon dizia que mesmo tendo saído do "paraíso" os homens deveriam buscar a ciência, o conhecimento como forma de se reaproximarem de Deus. Algo que ele defendia ser como o principal objetivo da ciência. Em tese, Francis Bacon procurava uma união entre religião e ciência, não as separando como costumamos ver, mas como ambas sendo caminhos diferentes para se chegar ao "conhecimento divino", a Deus.

"O verdadeiro fim do conhecimento é a restituição e a restauração (em grande parte) do homem à soberania e ao poder que ele tinha no primeiro estágio da criação (porque quando ele for capaz de chamar as criaturas pelos seus verdadeiros nomes, poderá novamente comandá-las). Para falar com clareza e simplicidade, esse fim consiste na descoberta de todas as operações e possibilidades de operação: desde a imortalidade (se é possível) até a mais desprezada arte mecânica". (citação de F. Bacon de seu livro Advancement of Learning, p. 222) (ZATERKA, 2004, p. 98).

Nas obras de Bacon é recorrente a utilização de citações bíblicas, além da figura de algumas personagens bíblicas em seus trabalhos, servindo como exemplos a suas ideias. Porém se para ele o conhecimento humano era imperfeito e deveria ser corrigido para se chegar o mais perto possível do conhecimento divino, o autor se questionava o porque dessa dificuldade de se chegar a tal expectativa. Sendo assim, nas citações a seguir, o autor dera algumas ideias a respeito dessa dificuldade de se conseguir alcançar o conhecimento pleno.

"A primeira, que não situemos nossa felicidade no conhecimento a ponto de esquecer nossa mortalidade. A segunda, que apliquemos nosso conhecimento de modo que nos dê repouso e contentamento, e não inquietude ou insatisfação. A terceira, que não tenhamos a presunção de, pela contemplação da natureza, alcançar os mistérios de Deus". (BACON, 2007, p. 22).

"E pelo contrário, quase não há exemplo que contradiga o princípio de que nunca houve governo desastroso que estivesse em mãos de governantes doutos". (BACON, 2007, p. 28).

Na citação acima, expele a clássica visão do empirismo. Os governantes doutos que não souberam governar bem, é porque por mais que possuíssem o conhecimento, não souberam utilizá-lo de forma adequada. Eles ficaram na contemplação e não puseram em prática seus saberes.

"E quanto à ideia de que o saber inclina os homens ao ócio e ao retiro, e os torna preguiçosos, seria estranho que aquilo que acostuma a mente a movimento e agitação perpétuos induzisse á preguiça; enquanto, ao contrário, pode-se afirmar sem faltar à verdade que nenhum tipo de homem ama a atividade por si mesma, a não ser os doutos; pois os outros a amam por lucro, como o empregado que ama o trabalho pelo salário". (BACON, 2007, p. 31).

"O ócio é um pecado, temos que trabalhar para produzir obras úteis à sociedade humana e, assim, controlar a natureza. Este poder sobre a natureza não pode ser desprovido, no interior do ethos protestante, de valores morais. Bacon não propõe o poder pelo poder e sim um poder que tem como guia as verdades da religião". (ZATERKA, 2004, p. 98).

Para Bacon, os sentimentos eram uma faca de dois gumes. Por um lado eles poderiam despertar o interesse dos homens pelo conhecimento, mas por outro eles poderiam subtrair este interesse, ou levá-lo motivado por certas ambições. Ele dizia que quando se segue o caminho da ciência, você só pode se tornar duas coisas: ou você se faz um ateu por descrer dos feitos de Deus, ou você se faz um crente ainda mais convencido, por ver que a ciência revela os mistérios de Deus. (isso seria um bom tema para um debate a cerca de religião x ciência. Quem estiver com interesse, sugiro estudar mais a ideologia baconiana na filosofia e na ciência).

Se pelo relato acima já se deu para entender um pouco da visão filosófica de Bacon, agora irei me reter mais a sua visão de ciência, a qual sofre grande influência do que já fora visto anteriormente.

A divisão científica do conhecimento

"[Bacon] não abordava temas sobre os quais já se sabia, mas sim aquilo que não era suficiente conhecido". (SERJEANTSON, 2009, p. 73).

Antes de eu começar a falar da visão de ciência para Bacon, devo deixar claro que para ele a ciência fazia parte da filosofia, pois em sua época, o conceito de filosofia era bem mais abrangente do que costumamos usar hoje em dia. De fato, a ciência, as artes, a história e outros saberes, eram encarados como parte da filosofia. Porém Bacon, via a filosofia de três formas distintas: Divina, Natural e Humana. Sendo que a ciência, a qual ele chama de Ciência Natural ou Teoria Natural, pertencia a categoria da Filosofia Natural. Não obstante, mais a frente, também falarei da classificação da História.

"Em Filosofia, pode ocorrer que a contemplação do homem esteja dirigida a Deus, ou se estenda sobre a Natureza, ou se reflita e se volte sobre o próprio Homem. A partir de diversas indagações, emergem três conhecimentos: filosofia Divina, filosofia Natural e filosofia Humana ou Humanidade. Pois todas as coisas estão marcadas e estampadas com este caráter tríplice: o poder de Deus, a diferença da natureza e a utilidade do homem". (BACON, 2007, p. 136).

Deste ponto, Bacon define o objeto de estudo de cada filosofia como sendo:
  • Filosofia Divina ou Teologia Natural: Visa compreender a essência de Deus e sua obra no mundo.
  • Filosofia Natural: Procura entender os mistérios da natureza física e metafísica.
  • Filosofia Humana: Estuda a natureza do homem e seu espírito.
Definido os interesses de cada uma das três classificações da filosofia dada por Bacon, irei me restringir a falar um pouco da filosofia Natural. Bacon dividia a filosofia Natural e duas partes: Inquisição de Causas e a Produção de efeitos, ou Especulativo e Operativo, ou Ciência Natural e Providência Natural (uma das dificuldades de se estudar o trabalho de Bacon, é que ele utilizava muitas nomenclaturas para se referir a conceitos iguais).

Quanto a Ciência Natural ou Teoria Natural, Bacon a dividia em duas categorias: Física e Metafisica, como já fora apontado anteriormente. Entretanto ele dizia que o sentido de metafísica dele não era igual ao que geralmente concebia-se em seu tempo.

"A Física (entendida esta palavra segundo sua etimologia e não como nome que damos à Medicina) se situa num termo ou distância média entre História Natural e Metafísica. Pois a História Natural descreve a variedade das coisas, a Física, as causas fixas e constantes". (BACON, 2007, p. 146).

Nesse ponto dá para se ver que a física procura responder as causas, a analisar, experimentar os fatos e se chegar a conclusões. Sobre isso, Bacon diz o seguinte:

"A Física tem três partes, das quais duas se referem à natureza unida ou recolhida e a terceira estuda a natureza difusa ou distribuída. [...]. De modo que a primeira doutrina é relativa à Contextura ou Configuração das coisas: de mundo, de universitate retrum [sobre o mundo, sobre a totalidade das coisas]. A segunda é a doutrina referente aos Principios ou Origens das coisas. A terceira é a doutrina referente a toda Variedade e Particularidade das coisas, quer se trate de suas diferentes substâncias, ou de suas diferentes qualidades e naturezas". (BACON, 2007, p. 147).

Visto isso creio quem fica claro o que seria física para a Ciência Natural de Bacon. Agora passemos para a descrição da metafisica.

"Quanto à Metafísica, lhe atribuímos a indagação das Causas Formal e Final". (Bacon, 2007, p. 147).
  • Causa Formal: Procura compreender as formas dos elementos da natureza. Nesse ponto o sentido de forma que Bacon dá é bem subjetivo. Ele não procura somente entender a forma física, mas, sim compreender o significado daquela forma. Como exemplo, ele dá o exemplo da brancura da neve, a qual ele se questiona porque a neve é branca? São estes tipos de pergunta que ele atribui sendo a Causa Formal.
  • Causa Final: A causa final seria a questão do porque serve as coisas, e qual é o seu propósito. Então ele se perguntava, porque existe as nuvens? Será que elas servem somente para fazer chover? Ou que as folhas das árvores sirvam só para proteger os frutos? Ou porque a terra seja sólida para poder sustentar o que se encontra acima desta? São tais perguntas que para nós podem parecer banais, mas, ele dizia que desde a Antiguidade os homens procuravam tais respostas.
"A inseparabilidade entre a forma e o corpo aproxima Bacon de Aristóteles, na medida em que toda forma é forma de uma matéria. Todavia, a forma baconiana é também a lei interna e a organização interna de um corpo. Assim, a forma baconiana é um arranjo invisível que explica as propriedades fundamentais ou naturezas de um fenômeno, que somente pode ser alcançada pela verdadeira indução baconiana". (ZATERKA, 2003, p. 111).

Sendo assim, Bacon definia os objetivos da metafísica. Entretanto devo ressalvar que existe outros objetivos, mas, estes são bem mais complexos de se entender, e não irei falar destes aqui. No entanto antes de concluir esta parte sobre a concepção de ciência dele, devo dizer que para ele a Matemática estaria ligada não a física, mas sim a metafísica. Já que para ele a Matemática visava a quantidade, então isso é algo que ele concebe como sendo próprio da metafísica, quantificar. Porém, ele não descartava o uso da matemática em outras ciências, como geografia, arquitetura, engenharia, astronomia, etc.

Quanto a questão da Prudência Natural, a qual perfaz a segunda parte da Filosofia Natural, irei deixá-la de fora, devido a esta ter um enfoque mais filosófico no sentido da palavra mesmo. Porém para encerrar este longo artigo irei falar um pouco da visão de História de Bacon, e para encerrar falarei de algumas pessoas que foram influenciadas por suas ideias.

A classificação da História

Além da divisão do conhecimento já vista anteriormente, ele também possui a outra forma de conceber esta divisão:
  • História - Memória
  • Poesia - Imaginação
  • Filosofia - Razão
Sendo assim, a História não seria uma arte, como ele dizia e também não seria uma ciência, ela seria a representação da memória, nesse sentido, relatar os fatos. Já a poesia e as demais artes, fariam parte da imaginação. E por fim a filosofia seria a personificação da razão, por isso da ciência esta munida da filosofia.

Quanto a classificação da História ele a definia desta forma:
  • História Natural: Estuda a natureza e as artes. Sendo classificada em: História das Criaturas (natureza), das Maravilhas (lendas e mitos) e das Artes.
  • História Civil: Estuda a história dos homens. Sendo classificada em: Memoriais (comentários, registros. História inacabada), Histórias Completas e Antiguidades (vestígios do passado).
  • História Eclesiástica: Estuda a história sacra. Sendo dividida em: História da Igreja, das Profecias e da Providência.
  • História Literária: Por mas que se utilize a narração para relatar a história, Bacon não considera muito esta quarta classificação.
Além destas três principais classificações, já que a quarta ele não considera tanto, existe uma gama de outras divisões. Porém não irei entrar nessas divisões, já que o objetivo não é esse.

Como fora visto inicialmente, a grande contribuição de Bacon para a ciência fora a criação de seu método científico que visava a experimentação. Tal método influenciou, homens tais como: Galileu Galilei, Isaac Newton, Robert Boyle, Giambattista Vico, John Locke, Thomas Hobbes, David Hume, Denis Diderot, etc. Mas, além da sua contribuição do método empírico, Bacon também contribuiu no campo da filosofia, com a sua teoria da matéria, das formas, do espírito e da natureza. Além da suas ideias de se romper com a filosofia e a ciência antiga, já que para ele estas estavam fadadas a alguns enganos, de fato, a grande obra de Giambattista Vico fora Scienza Nuova (Ciência Nova), em referência a tentar explicar essa nova ideia que se tinha acerca da "ciência moderna". 


Estátua de Francis Bacon no Trinity College. 
Porém o essencial para se saber de Bacon, era que ele priorizava muito a educação. Em alguns dos seus livros, ele dizia que era obrigação dos governantes de fiscalizarem as escolas, academias e universidades, para saber o que estava sendo ensinado, e se estas instituições necessitavam de recursos. Com isso o governante estaria a parte sobre o ensino de seu povo. E com isso sua famosa frase era: "Conhecimento é poder".


NOTA: As vezes Francis Bacon pode ser referido como Lorde Verulâmio, em referência a ter sido o Barão de Verulâmio.
NOTA 2: Além de barão, ele também fora o primeiro Visconde de St. Albans.
NOTA 3: De acordo com a biografia de John Aubrey, a pneumonia que fora a causa da morte de Bacon, fora causada quando este estudava o uso da neve para se conservar alimentos.
NOTA 4: Uma das grandes influências que Bacon teve, fora do médico, alquimista, físico e astrólogo suíço, Paracelso (pseudônimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombast von Hohenheim (1493-1541)).
NOTA 5: Em 1627 fora publicado após a sua morte seu trabalho Sylva Sylvarum (trabalho sobre história natural) e seu tratado político utópico inacabado, a Nova Atlântida, uma alusão Utopia de São Tomás Moro
NOTA 6: O filósofo Thomas Hobbes (1588-1679) trabalhou como secretário de Francis Bacon pouco tempo antes de Bacon ser acusado por crimes de corrupção. A obra mais famosa de Hobbes fora o Leviatã (1651). Nesta obra, na primeira parte, Hobbes trata do empirismo, e esboça a influência que tivera dos trabalhos de Bacon. 
NOTA 7: A divisão do conhecimento proposta por Bacon influenciou os filósofos franceses iluministas Denis Diderot e Jean d'Alembert, editores da Encycolpédie, famosa enciclopédia do século XVIII, a estruturar as áreas de conhecimento que sua enciclopédia estudaria. 
NOTA 8: O Racionalismo fora uma corrente de pensamento contrária ao Empirismo. Um de seus maiores nomes na Idade Moderna fora René Descartes

Referências Bibliográficas:

BACON, Francis. O progresso do conhecimento, São Paulo, Editora Unesp, 2007.
BACON, Francis. Novum Organum ou verdadeiras indicações acerca da interpretação da natureza/ Nova Atlântida. São Paulo, Nova Cultural, 1999).
ZATERKA, Luciana. A filosofia experimental na Inglaterra do século XVII: Francis Bacon e Robert Boyle, São Paulo, FAPESP, 2003.
SERJEANTSON, Richard. Um novo pensarRevista História BBC #12, São Paulo, Tríada, 2009. p. 72-74. 
OLIVEIRA, Silvio Luiz de. Tratado de Metodologia Cientifica: Projetos de Pesquisas, TGI, TCC, Monografias, Dissertações e Teses. São Paulo, Pioneira, 1997. 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Link relacionado:
A Revolução Científica Moderna

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