sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Revolução Bolivariana: De Bolívar a Chávez

A caminho da revolução

A história revolucionária da Venezuela e de outros países latino-americanos começa desde a época que ainda eram colônias das metrópoles europeias.  Nesse trabalho, será relatado um pouco do processo revolucionário em particular da Venezuela, traçando um caminho desde as guerras de independência dos idos do século XIX, sob a liderança do revolucionário Simón Bolívar, de como suas iniciativas contribuíram para marcar esse episódio da História das Américas, e porque ainda hoje, após mais de duzentos anos, Bolívar ainda é um símbolo de liberdade e justiça. O que se sucedeu com sua morte, e como a Venezuela se constituiu em uma república, governada por oligarquias ditatórias, ao longo de mais de cem anos, até desembocar nas lutas populares no final do século XX, quando se inicia o governo do então presidente Hugo Chávez. Com sua revolução bolivariana, marchando para um socialismo do século XXI.

Neste trabalho, será focada a essência na qual Chávez quis trazer ao povo venezuelano do ideal bolivariano. De como um povo oprimido por décadas, pôde finalmente se libertar dos grilhões que os acorrentavam, para poder de fato se construir uma democracia, da qual o povo pudesse ter voz ativa. Não obstante, também será revelado o papel de outros países na história revolucionária da Venezuela, como Cuba, Bolívia e a forte oposição ao imperialismo dos Estados Unidos.  

"Para as nações, como para os homens, a tempo de maturidade que é preciso esperar antes de submetê-las às leis; porém, a maturidade de um povo nem sempre é fácil de conhecer e, se a antecipamos, o trabalho se perde". (ROUSSEAU, 2009, p. 61).

O sonho de Bolívar

Simón Bolívar, o Libertador
Simón José Antonio de La Santíssima Trinidad Bolívar y Palácios (1783-1830) nasceu em Caracas, atual capital da Venezuela, entraria para a História conhecido pela alcunha de O Libertador (El Libertador). Tendo liderado um grande movimento de independência entre os países do noroeste da América do Sul, Bolívar conseguiu de fato a emancipação de tais países, e fundou uma grande república unificada, chamada Grã-Colômbia (1819-1830). No entanto a corrupção interna de seus subordinados levou à ruína a grande república. Entretanto seus ideais de liberdade, justiça, igualdade, motivariam nos séculos seguintes vários lideres latino-americanos. E mesmo com todo o passar dos anos, suas ideias ainda se encontram vivas entre o povo venezuelano. Desde cedo Simón Bolívar tivera uma vida difícil, perdeu o pai e a mãe ainda jovem. Morou algum tempo na casa dos avôs, depois de tios e até de seus irmãos mais velhos, até finalmente se mudar em 1792 para a casa de Simón Rodriguez, seu tutor e grande professor. 

Simón Rodriguez era um homem da elite e culto, desde cedo esteve envolvido com os projetos revolucionários da Venezuela. De fato seu espírito revolucionário fora de grande inspiração para Bolívar. Rodriguez era um admirador do Iluminismo e da Revolução Francesa, ele particularmente gostava das obras do filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau. Com isso, Bolívar fora fortemente influenciado pelas ideias iluministas de liberdade, igualdade e fraternidade, empregadas na Revolução Francesa. O próprio Rousseau fora quem escrevera O Contrato Social, obra a qual influenciou o pensamento republicano de Bolívar.

Em 1799, Bolívar partiu para Espanha para concluir seus ensinos. Nos anos seguintes ele ficou mais próximo das ideias revolucionárias herdadas da Revolução Francesa, como também das ideias republicanas. Ele também fizera muitos amigos entre a corte espanhola, francesa e inglesa, os quais os dois últimos apoiaram-no em suas lutas de independência. Em 1810 ele retornou para a Venezuela, e se uniu a Francisco de Miranda (1750-1816), considerado o precursor do movimento revolucionário na Venezuela. Nos anos seguintes, Bolívar e seus aliados começariam sua marcha pela libertação.

Em 1810, Bolívar e seus partidários fundaram a Primeira República da Venezuela, mas pouco tempo depois esta fora derrubada pela intervenção da Espanha. Em 1813 os revolucionários retomam Caracas e proclamam a Segunda República da Venezuela, mas novamente esta fora derrubada com um golpe de Estado.

Em 1817, durante o exílio voluntário de Simón na Jamaica e depois no Haiti, seus partidários tentam dá outro golpe de Estado na Venezuela e fundam a Terceira República da Venezuela (1817-1819). De volta de seu exílio no Haiti, em 1819, Bolívar libertou Bogotá e fundou a Grã-Colômbia, anexando a Venezuela ao seu território. Em 1821, ele libertou Quito (atual capital do Equador), Lima em 1822 (atual capital do Peru), e em 1825 libertou o chamado Alto Peru (hoje corresponde a Bolívia), onde fundou a República de Bolívar ou República da Bolívia.

Em 1826, ele propôs o Congresso do Panamá, reunião esta na qual ele tinha em mente de se debater e propor a respeito do futuro da América Latina. No congresso se teve como principal fonte documental de inspiração a chamada Carta da Jamaica (1815) a qual é tida como o principal documento que se encontra escrita sua ideologia revolucionária. Bolívar queria através deste congresso, conseguir a independência de todas as colônias da América Latina, como também criar um grande bloco político, econômico e social, unificando os países latinoamericanos em uma grande república americana. De fato este era o seu grande sonho. 

“O Congresso do Panamá, por ele convocado, ocorreu no verão de 1826, mas a ideia de unidade americana frustrou-se. As tendências centrifugas e a instabilidade dos novos Estados afetaram a obra de Bolívar, fragmentando-a. Em 1827, o Peru declarou guerra a Colômbia. Paez proclamou a independência da Venezuela (1829), e Flores a do Equador (1830)”. (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 826).

Além da ideia de se criar uma grande e única república, Bolívar visava à criação de um sistema educacional público, de acesso para todos e de boa qualidade, algo hoje atualmente visado pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez. Além do ensino, ele também propôs um sistema de saúde, judicial, ele também era contra a forte influência de outros países sobre a política interna e a economia. Em sua época fora a Espanha, hoje são os Estados Unidos.

De fato muitas das ideias de Simón Bolívar foram contraditórias em alguns aspectos, porém hoje em dia, os chamados bolivarianos procuram fazer de sua ideologia um caminho para se alcançar o Socialismo.

O período das oligarquias e ditaduras

Em 1830 com o fim da Grã-Colômbia e com a morte do Libertador, para muitos este foi o fim da luta pela liberdade, democracia e justiça na Venezuela. Alguns historiadores costumam dizer que estes ideais morreram com Bolívar. No entanto, outros defendem que tais ideais não morreram, eles permaneceram entre os seguidores de Bolívar, os bolivarianos, porém, sem muito sucesso em suas iniciativas.

A Venezuela ainda se manteria independente da Espanha, até ser oficialmente reconhecida como independente por essa em 1845. Mesmo assim ela se manteve como uma república, mas uma república governada por ditadores e oligarquias que se revesavam no poder. Após a separação da Venezuela em 1829 da Grã-Colômbia, realizada por José Antônio Paez, deu-se início ao período das ditaduras. A Venezuela a qual estava separada da política e da economia espanhola sofreu um duro golpe para se manter estável.

Os gastos gerados durante os anos de guerra, causaram uma profunda miséria no país, principalmente entre a classe baixa e os libertos (ex-escravos), mas por outro lado, os próprios latifundiários também receberam um duro golpe nas exportações, já que a Espanha se recusara comprar suas mercadorias, e tentava boicotar suas vendas a outros países das Américas.

Juan Crisóstomo Falcón
Durante os 18 primeiros anos da nova república, o governo foi chefiado por uma oligarquia conservadora, a qual se manteve sob a égide de seus ditadores para controlar um Estado a beira de um colapso interno. De 1848 a 1858 a Família Monaga derrubou a então oligarquia governante e assumiu o poder até 1859 quando se deflagra a primeira grande revolução deste período. A chamada Revolução Federal (1859-1863) encabeçada pelos federalistas, derrubaram os Monagas do poder e elegeram Júliam Castro como seu novo presidente. Júliam foi substituído por Juan Crisóstomo Falcón, o qual em 1863, elaborou a primeira constituição do país, a Constituição de 1864, ano que foi aprovada pelo Estado. A constituição deu um  novo caráter ao Estado venezuelano.

"Em 1864 se preparou una nova constituição que consagrava os direitos, a propriedade, a inviolabilidade do lar doméstico, a liberdade de instrução, o direito ao voto dos maiores de 18 anos, e a abolição da pena de morte”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/venezuela_historia.html).

Mesmo com a nova constituição elaborada, não tardou para que os problemas voltassem a assolar o país. De 1866 a 1870 se desenrolou uma guerra civil liderada pelos partidos conservadores contra os liberalistas.

General Guzmán Blanco
O conflito teve fim com a vitória do general Antonio Guzmán Blanco, membro do Partido Liberal, o qual assumiu a presidência em três momentos: 1870-1877, 1879-1884 e 1886-1887. Guzmán Blanco mesmo governando como ditador, tentou dar uma reviravolta nas crises do país. Ele abriu a economia da Venezuela para capitais estrangeiros a fim de conseguir amenizar os problemas econômicos. Também visou uma política contra o analfabetismo, a construção de obras públicas como escolas, hospitais, estradas, além de investir na modernização dos meios de comunicação. Por outro lado, seu governo também foi marcado pela forte oposição ao clero. Tendo ele promovido uma política anticlerical. No entanto, sua política de abertura econômica para o exterior prejudicou parte dos empresários e latifundiários venezuelanos. E tal fato contribuiria para revoltas posteriores. Com o fim do governo de Guzmán Blanco, outros ditadores assumiram o poder, entretanto até o ano 1899, várias pequenas revoluções eclodiram pela Venezuela. Dentre as quais se destacaram: A Revolução Legalista (1892),  a Revolução Restauradora (1899) e a Revolução Libertadora ocorrida nesse meio tempo, promovida pelo interesse de alguns latifundiários patrocinados por banqueiros.

Cipriano Castro, líder revolucionário
Entretanto foi a Revolução Restauradora liderada por Cipriano Castro em 1899, que poria uma nova ordem na Venezuela, assumindo posteriormente como presidente do país. Se antes a economia era basicamente agrícola, esta passaria a ter como principal produto o petróleo. Se por um lado a Venezuela entrava para a economia do século XX como um exportador de petróleo, Cipriano Castro, abriu as portas para o governo de outros ditadores, os quais governariam até 1945, quando o então presidente Isaías Medina Angarita (1941-1945) foi deposto por Rómulo Betancourt, membro do Partido Ação Democrática (Accíón Democrática). Em 1947 ocorreram as primeiras eleições livres, onde o povo venezuelano pode escolher seu presidente, algo negado até então. O primeiro presidente eleito pelo voto livre, foi Rómulo Gallegos (1948-1953), deposto por um golpe de Estado. O novo presidente, o general Marco Peréz Jiménez (1953-1958) promoveria a modernização do país, mas ao mesmo tempo visando interesses das oligarquias políticas, e fazendo uma forte opressão aos partidos rivais. De fato alguns historiadores dizem que este período marca a Ditadura Militar da Venezuela, como também viria ocorrer nos anos seguintes em outros países da América Latina.

Rómulo Betancourt votando nas primeiras eleições livres da Venezuela, em 27 de outubro de 1947.
“O governo de Marcos Pérez Jiménez é considerado uma ditadura autoritária e personalista que silenciou as forças da oposição, proibiu os principais partidos políticos tanto de direita como de esquerda, fechou meios de impressão que o criticavam, e impôs a censura a rádio e a televisão. Durante seu governo um grande número de seus detratores foram perseguidos, torturados, assassinados, enviados ao exílio ou encarcerados sem encargo algum ou por se suspeitarem de sua oposição ao governo, com a força da "Seguridad Nacional", sua tendência fora conservadora”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/venezuela_historia.html).

Com o fim do governo de Pérez, a nova etapa da política Venezuelana foi chamada por seus historiadores de “Puntofijista”. Governo este voltado para interesses particulares e externos. O qual desprovia o povo de participar do governo.

“O presidente Carlos Andrés Perez, eleito democraticamente em 1973, nacionalizou a indústria do ferro e do petróleo. Após a guerra Árabe-Israelense de 1973, a Venezuela foi aceita como membro fundador da OPEP, triplicando o preço de seu petróleo. A imensa receita atraiu milhares de imigrantes, elevou os gastos públicos e as importações de artigos de luxo, e corrupção. Neste período de opulência, reforçou-se uma pequena elite econômica, ampliando ainda mais as desigualdades sociais”. (Fonte: http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php).

Os problemas sociais, políticos e econômicos gerados desde a década de 50, vieram gradativamente se acentuando, até explodirem nas revoltas a partir da década de 80 e 90, que levariam a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1999.

A Era Chávez

Hugo Rafael Chávez Frías (1954-2013), nasceu em Sabaneta, onde concluíra o ensino fundamental e médio, ingressou aos dezessete anos na Academia Militar da Venezuela, onde seguiu carreira militar. Foi no campo militar que Chávez tivera contato com as ideias revolucionárias como o socialismo, marxismo, comunismo, etc. Entretanto a figura que lhe inspirou mais, foi o herói da pátria venezuelana, Simón Bolívar. Sob tal influência, Chávez começou a ingressar no meio político, participando de partidos populares, grupos de esquerda, passeatas, grêmios, etc. Ele até mesmo chegou a se formar em Ciências Políticas, pela Universidad Simón Bolívar.


“Seu desempenho em numerosas responsabilidades profissionais e seu estreito contato com distintas comunidades o permitiu vivenciar o drama político e social que padece a República nesses tempos, motivando em seu ser, a busca de novas alternativas que respondão as crises política e econômica que embargava a Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).

Chávez percebeu que os próprios partidos da esquerda, entravam em confronto entre si, não prestando o merecido apoio paras as lutas contra o governo da direita e pelo povo. Em sua vivência no Exército, ele notou como os camponeses eram utilizados como “cães de briga” para matarem outros camponeses, tudo por ordem das oligarquias dominantes, das quais muitas estavam profundamente ligadas ao imperialismo estadunidense, algo que Chávez era contra.

Então para tentar por ordem nesses problemas, em 17 de dezembro de 1982, ano do bicentenário do nascimento de Simón Bolívar, Chávez criou o Exército Bolivariano Revolucionário (EBR-200). O EBR-200 visava promover uma reestruturação na política venezuelana, lutar pelas eleições populares, a reforma agrária, combater o imperialismo estadunidense e as oligarquias governantes. O grupo visava uma “união civil-militar”, como diz o professor Carlos Cesar Almendra.

Outros partidos motivados pelas ideias bolivarianas pregadas por Chávez, com base em Simón Bolívar, Simón Rodriguez e Ezequiel Zamorra, levaram a tais grupos a se unirem ao EBR-200, no qual em 27 de fevereiro se tornou o Movimento Bolivariano Revolucionário (MBR-200), e no mesmo ano o partido empreendeu um golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. O golpe acabou falhando e Chávez e seus partidários foram presos. No ano seguinte o presidente Carlos Andrés Pérez sofreu um impeachment, e foi destituído do poder, assumindo, Rafael Caldera, o qual em 1994, libertou Hugo Chávez e seus partidários.

“Do cárcere - lugar onde se consagrou ao estudo, reflexão e análises da realidade nacional e internacional - Hugo Chávez saí a recorrer todos os confins pátrios, reivindicando ideais libertários e justiceiros que foram compartilhados entusiasticamente por um amplo setor da população venezuelana. Funda então, junto com um qualificado grupo de companheiros de armas, o Movimiento V República. Esta organização política, em união com outras tantas organizações tais como o Movimiento al Socialismo (MAS), Pátria Para Todos (PPT), Partido Comunista de Venezuela (PCV), Movimiento Electoral del Pueblo (MEP) e de um amplíssimo espectro de instancias da sociedade civil, o catapultariam como Primeiro Magistrado da Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).

Não obstante, devo dizer que além de conservar e reformular as ideias bolivarianas, Chávez passou a ser fortemente influenciado pelas ideias socialistas, tendo como principal modelo a Revolução Cubana e o próprio Fidel Castro.

“[...] os números relativos à pobreza pularam para 66,7% em torno de 1995. Esse é o cenário que explica o triunfo eleitoral subseqüente de Chávez. Sua participação na rebelião de 1992 foi vista pela maioria dos venezuelanos como uma tentativa quixotesca de derrubar um sistema corrupto e indefensável”. (GOTT, 2004, p. 78).

Com a criação do Partido do Movimento da Quinta República, Chávez ganhou apoio da esquerda para se candidatar a presidência nas eleições de 1998. Candidato do Pólo Patriótico, em 6 de novembro com a aprovação de 56% dos votos, Hugo Rafael Chávez Frías era eleito o novo presidente do Estado Venezuelano (nome oficial do país na época).

Para alguns historiadores venezuelanos, o ano de 1999 foi o ano da “refundação da república” na Venezuela. De fato, o nome oficial do país passou a ser República Bolivariana da Venezuela. Chávez no primeiro ano de seu mandato, iniciou a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte para votar a respeito das mudanças que seriam realizadas no país. Ele queria pôr definitivamente o direito ao voto, a democracia seria de fato uma democracia. Se antes, somente certas oligarquias estavam no controle do poder, Chávez queria trazer o povo de volta para a participação política do país. Por outro lado, isso foi um duro golpe para as elites dominantes, as quais na época eram responsáveis por 50% do PIB interno. Se um por um lado, as elites estavam contra o governo de Chávez, de se contrapor ao imperialismo estadunidense, de nacionalizar empresas, algo que geraria um grande problema posteriormente. Ele contava com o apoio das massas, do povo. Já que na época, 80% da população se encontravam na classe baixa.

No ano de 2000, Hugo Chávez reformulou a divisão política do país, e propôs uma nova eleição para sua candidatura para presidente. Ganhou novamente às eleições, seu mandato iria até 2006. Tais eleições foram chamadas de Megaeleições (Megaelecciones). Na qual além da votação do próprio presidente, outros cargos públicos foram votados, além da permanência da Assembleia Nacional e da aprovação de uma nova constituição. A última constituição aprovada foi a de 1984.

“O imperialismo estadunidense e a oligarquia racista local, temendo perder seus privilégios, logo acusaram o tranco. A partir das acaloradas discussões na Constituinte, a oposição reacionária não dá mais trégua ao governo. Há uma inflexão no quadro político. Na Constituinte, concluída em dezembro de 99, a maioria bolivariana amplia a democracia, incorporando várias formas de participação popular – inclusive o inédito "referendo revogatório", fixado no artigo 72. A nova Constituição define as bases para a reestruturação do corrompido Poder Judiciário e altera o nome do país para República Bolivariana da Venezuela – num ato de enorme simbolismo. Ela ainda amplia os direitos sociais e incorpora as demandas indígenas. Em 15 de dezembro de 1999, um referendo popular ratifica a nova Constituição com 71% de aprovação”. (Fonte: http://alainet.org/active/6542&lang=pt).

2001 foi o ano das chamadas Leis Habilitantes (Leyes Habilitantes), as quais Chávez promoveu uma reforma econômica, na tentativa de se livrar da dependência do FMI e do Banco Mundial, organizações estas que para ele são manipuladas pelos interesses dos Estados Unidos. Por outro lado, ele também levou a cabo um movimento de nacionalizar suas empresas.

“Dos grupos importantes de leis habilitantes foram ativados pelo presidente Hugo Chávez entre os anos 1999 a 2001. Entre elas destacam as leis tributarias, a eliminação de alguns organismos públicos, a modernização dos trâmites administrativos e as relações entre o Estado e o setor privado. Durante este ano o Presidente Hugo Chávez também concreta a criação do sistema microfinanceiro, assim como das leis que regulam as atividades produtivas do setor privado. Assim mesmo, se reforma a Ley de Hidrocarburos e se cria o Banco de Desarrollo Económico y Social de Venezuela. Se retoma de este modo a indústria petrolífera como empresa pertencente à Nação”. (Fonte: http://www.presidencia.gob.ve/gobierno_presidente.html).

Com tal medida, Chávez conseguiu fortalecer a economia do país, já que os investidores privados compravam o petróleo venezuelano abaixo do preço de mercado, e por outro lado, a nacionalização contribuiu para um aumento de 80% do lucro, amenizando a dívida da Venezuela que era de US$ 31,6 bilhões em 1998 para US$ 22,5 bilhões no final de 2002. Com os lucros adquiridos, Chávez priorizou o investimento na educação, na saúde, no combate a pobreza. As elites viram isso como um péssimo momento para seus negócios e se puseram a agir.

Grupos da direita se uniram para atacar e por um fim no governo de Chávez. Na época o próprio presidente dos Estados Unidos, George W. Bush foi acusado de ter enviado membros da CIA, para levar a cabo um golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez.

Os dias 11, 12 e 13 de abril de 2002 ficariam lembrados na história da Venezuela como os dias nos quais o imperialismo tentou predominar sobre o bolivarianismo. Como é mostrado no documentário A revolução não será televisionada, um grupo da direita, composto por membros e motivados pelos interesses da Fedecamaras (Federación de Cámaras y Asociaciones de Comercio y Producción de Venezuela), promoveram um golpe de Estado. O presidente Hugo Chávez foi sequestrado e mantido em cativeiro. Enquanto isso, os responsáveis pelo golpe se dirigiram para a sede do governo, o Palácio de Miraflores. Como ficou evidenciado no documentário, o planejamento do golpe se iniciou na embaixada americana, e se espalhou pelas redes de televisão e rádio privada, as quais começaram a criticar o governo de Chávez, e a transmitirem a informação de que ele havia renunciado do cargo, e com isso, Pedro Carmona assumira a presidência interinamente. E como primeira medida tomada, ele suspendeu a Constituição Bolivariana promulgada em 1999.

No entanto, o povo se relutou a acreditar que Chávez havia realmente renunciado ao poder, e posteriormente, ainda no dia 11 de abril, uma das filhas de Chávez avisou ao povo venezuelano que seu pai havia sido sequestrado e que haviam tomado o poder. Num ímpeto de revolta e fúria o povo partiu para as ruas em direção ao Palácio Miraflores. De acordo com os produtores do documentário, os ciclos bolivarianos tiveram grande contribuição para a reunião das massas, já que estes pequenos ciclos distribuídos e organizados entre as comunidades e bairros eram o que realmente representavam a ligação direta do povo com o poder Nacional.

“Criado em 17 de dezembro de 2001, no 19º, aniversário do MBR-200. (...) Estatutariamente, os círculos bolivarianos são grupos organizados, formados, por sete a onze pessoas, que se reúnem para discutir os problemas da sua comunidade, canalizá-los para o organismo competente e buscar a solução. Funcionam à concepção de assembléias populares, em que se discutem, sobretudo, matérias de interesse local e problemas do dia-a-dia, e a prestação de serviços comunitários. (...) o presidente Hugo Chávez criou os círculos bolivarianos para dar capilaridade à sua revolução, criando agentes de difusão do pensamento bolivariano que alcançam os pequenos recantos da sociedade onde os pesados braços do Estado não podem chegar”. (UCHOA, 2003, pp. 213-216).

Se por um lado, há aqueles que diziam que Chávez era inocente, grande parte da mídia mundial criticava o golpe de Estado como sendo algo necessário para se combater a “ditadura” de Hugo Chávez. Entretanto por mais que a oposição tentasse se manter no poder, o Exército e o próprio partido de Chávez ainda o apoiava, além do povo em si. Então em uma reviravolta tremenda, as forças armadas do Palácio de Miraflores, deram um contra-ataque e prenderam parte dos intrigantes do golpe. No entanto, Carmona e outros membros acabaram fugindo. E em 13 de abril, Chávez foi localizado em uma base militar e retornou para o palácio do governo onde fez um discurso ao vivo, revelando o fato ocorrido. Após o primeiro golpe de Estado de seu governo, Chávez voltava ao poder.

“Outro aspecto importante do documentário é a revelação da manipulação dos canais de televisão comerciais sobre os responsáveis pelos assassinatos dos manifestantes em 11 de abril de 2002. Todos os canais privados de televisão que, junto à imprensa escrita e radiofônica, justificaram o golpe de estado de 11 de abril com uma edição de imagens em que aparece um grupo de apoiadores de Chávez, situados na Ponte Llaguno de Caracas, realizando disparos. Estas imagens foram utilizadas para afirmar que "Chávez foi quem ordenou disparar contra a multidão". "A revolução não será televisionada" demonstra, ao apresentar a edição completa da seqüência de imagens (manipulada na edição das TVs), que os grupos situados sobre a Ponte Llaguno de Caracas respondem ao fogo de franco-atiradores (estes sim atiram nos manifestantes) e não disparam sobre os manifestantes”. (Fonte: http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Venezuela.htm).

Em 2003, Chávez dera uma reviravolta no controle da PDVSA (Petróleos de Venezuela, S.A), principal empresa petrolífera do país, por muito tempo esteve quase que nãos mãos de corporações privativas. Chávez destituiu o poder dessas corporações e reverteu o lucro da empresa para o investimento no país. Na mídia mundial, tal fato fora exposto como a grande demissão em massa de funcionários da empresa. Entretanto a mídia não disse que muito desses funcionários trabalhavam para empresas fantasmas ou eram “laranjas”.

Cartaz de Hugo Chávez localizado na refinaria da PDVSA em Los Tanques.
No ano seguinte o governo bolivariano de Chávez começava a agir com maior eficiência. Em 2004, Chávez assinou com Fidel Castro, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas - em 2009 a ALBA sofreu algumas mudanças) em contra partida da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas) a qual visava interesses próprios dos Estados Unidos. Com a ALBA, Chávez procurou criar um bloco econômico para ajudar os países latino-americanos. Atualmente o Brasil ainda não se encontra como membro da ALBA. Entretanto ele apóia o comércio com Cuba e Venezuela.

Mapa retratando os países membros da ALBA-TCP
Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América - Tratado de Comércio dos Povos
Com o início da aliança entre Venezuela e Cuba, Fidel Castro na época então presidente (Castro renunciou a presidência em 2006), enviou um verdadeiro batalhão de médicos e professores para a Venezuela. Em pouco tempo a população fora alfabetizada, e centenas de postos de saúdes foram criados entre as comunidades e os bairros mais pobres do país. Esse fora um grande passo para a Venezuela no combate do analfabetismo, desemprego e a pobreza.

Em 2005, a Venezuela se uniu ao Mercosul. Como também expandiu seu intento de caridade por outros países, levando professores e médicos para a Bolívia de Evo Morales, e outros países da América Central. No âmbito econômico seu PIB cresceu muito como não se havia visto antes. Por outro lado, no ano seguinte, ano do fim do segundo mandato de Chávez, este mexeu novamente na Constituição Bolivariana, permitindo agora a reeleição ilimitada ao cargo de presidente. E novamente ele se candidatara a presidência e vencera com a maioria dos votos. Por um lado a mídia mundial viu isso como um crime a democracia, por Chávez ter sido reeleito a segunda vez consecutiva, passando a assumir seu terceiro mandato.

Chávez de 2007 para cá vem tentando fazer a Venezuela se tornar futuramente um país plenamente socialista, mas esse sonho ainda está longe. Chávez vem vivenciando problemas desde 2010. De fato, em alguns sites, você quando procura a respeito de que tipo de governo é o da Venezuela, muitos já falam de uma república socialista. Se por um lado o medo do comunismo e do socialismo acabou com o final da Guerra Fria (1945-1991), hoje em dia, Venezuela, Coreia do Norte e China, são os países que ainda mais põem medo nos interesses estadunidenses. Fato este que quase toda a reportagem que sai atualmente de Chávez, fala mal de sua “ditadura”, no caso da Coréia do Norte, eles estão produzindo armas nucleares, e já a China vem apresentando um crescimento comercial assombroso. 

Conclusão

Depois desta breve retrospectiva da história revolucionária venezuelana até a época de Simón Bolívar, posso levantar alguns pontos a respeito de como hoje a Venezuela serve de exemplo de uma nação a qual por longos anos passou pelas mãos de vários ditadores; passou por crises, miséria e guerras civis, e entrou no século XXI, como um país, por mais que tendo a riqueza do petróleo, bem atrasado em aspectos sociais, educacionais, políticos, etc. Mas, mesmo sob tantos problemas, esta conseguiu magistralmente aos poucos se erguer deste peso que lhe punha ao chão. Apesar que nos últimos anos o governo chavista venha apresentando sinal de desgaste e a saúde abalada de seu líder sugira um futuro incerto. 

Não estou dizendo que acho que Chávez seja o melhor governante do mundo, como alguns sugerem, ele cometeu seus erros, como no ato de perpetuar-se no poder mais do que deveria. Porém, é inegável que sua determinação, seu amor a pátria, a justiça a democracia ajudaram a suportar as maiores adversidades para se chegar ao poder e ainda permanecer neste. Depois de ter sido preso, ridicularizado, sofrido um sequestro e um golpe de Estado. Seu governo e um pouco mais de dez anos, mudou profundamente a cara da nação venezuelana, trazendo melhorias, embora que essas melhorias possam estar sob ameaça. 

Por mais que haja críticas as suas medidas, suas escolhas, acusações dos Estados Unidos, de nações sul-americanas e europeias que Chávez esteja agindo como um ditador; a Venezuela se encontra muito melhor hoje, do que foi há mais de cem anos. Não falo por questões tecnológicas ou econômicas, mas principalmente por questões sociais. Hoje o povo pode dizer que a Constituição que eles defendem, realmente adianta, por mais que não seja cem porcento, e de 2008 em diante o governo de Chávez decaiu em relação aos primeiros anos. Sua Constituição se tornou um símbolo para o povo venezuelano, um símbolo da sua luta pela independência, justiça, progresso, igualdade e liberdade. Se Bolívar e Chávez podem ser chamados de heróis, loucos ou tiranos, não sei ao certo. Mas, é inegável o que eles fizeram pelo seu país.

Referências Bibliográficas:
GOTT, Richard. Debaixo de Chuva. À Sombra do Libertador, São Paulo, Expressão Popular, 2004.
ALMENDRA, Carlos Cesar. Hugo Chávez e a Revolução Bolivariana na Venezuela. In: IV Colóquio Marx e Engels, 2005, Campinas. 4o. Colóquio Marx e Engels, 2005.
UCHOA, Pablo. Venezuela – A encruzilhada de Hugo Chávez, São Paulo, Globo, 2003.  
CASTRO, Fidel. As reflexões de Fidel: A Revolução Bolivariana e as Antilhas. Agência Cubana de Noticias (ACN), 2010.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O Contrato Social, Porto Alegre, L&PM, 2009.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.

Referência audiovisual:
BARTLEY, Kim; O’BRIAIN, Donnacha. A revolução não será televisionada. [Filme-vídeo]. Produção da Power Picture associada à Agencia de Cinema da Irlanda. Irlanda, 2003. 1 DVD/NSTC. 74 min. Color. Som.

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