domingo, 5 de agosto de 2012

Portugal e a Era dos Descobrimentos

Porque é do português, pai de amplos mares, 
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -
O todo, ou o seu nada.
Estrofe II de D. João, Infante de Portugal, Fernando Pessoa


No século XV um pequeno reino localizado no sudoeste da Europa, de frente para o Oceano Atlântico, lançou-se ao mar, aventurando-se inicialmente pela costa e pela entrada do Mediterrâneo, mas aos poucos o medo do Mar Tenebroso ia sendo vencido, a costa africana ia sendo margeada. Portugal de uma pequena nação com cerca de um a dois milhões de habitantes, se tornou uma potência ultramarítima, governando terras em quatro continentes. Se tornou o primeiro Estado europeu moderno a formar um império ultramarino, inaugurando a chamada Era dos Descobrimentos e das Grandes Navegações. As riquezas advindas das Índias, da África e da América do Sul, em alguns momentos tornaram os reis de Portugal os monarcas mais ricos de toda a Europa. E por mais de três séculos os portugueses navegaram pelas águas do mundo, colonizando e comercializando. 

Pelo fato da história portuguesa ser longa, me reterei aqui apenas a realizar um esboço de um quadro amplo e geral da história dos descobrimentos e da colonização, logo não me aprofundarei em fatos específicos da história colonial de suas colônias, embora farei menções há alguns desses fatos. 

INTRODUÇÃO

Antes de adentrar o século XV onde se iniciou a expansão marítima portuguesa, farei um breve resumo da história de Portugal até a sua formação como reino, já que Portugal foi um dos primeiros reinos europeus a se unificar e se formar propriamente.

Portugal fica localizada na Península Ibérica, e atualmente possui 92.090 km2 de território, isso incluindo seus domínios sobre o Arquipélago da Madeira e o Arquipélago dos Açores. A população portuguesa de acordo com o último censo feito em 2011, consta de mais de 10 milhões de portugueses. O país pertence desde 1986 a União Européia. Portugal só possui duas fronteiras geográficas, ao norte e leste esta a Espanha, ao oeste e sul o Oceano Atlântico. 

Localização de Portugal e a Ilha da Madeira no continente europeu. O arquipélago de Açores fica mais para o oeste.
A ocupação da península Ibérica remonta há milhares de anos, tendo sido encontrados vestígios de mais de 5000 a.C. Ainda na Antiguidade, tribos Celtas vindas do centro da Europa se estabeleceram na península, se misturando com os povos locais, de tal miscigenação surgiram os Lusitanos. Entre os séculos VIII a.C e VII a.C, os Fenícios chegaram ao que hoje é o sul da Espanha, posteriormente foram os Gregos e depois os Cartagineses. Não se sabe ao certo se os fenícios e os gregos chegaram até a região da Lusitânia na época, já que acredita-se que os mesmos ficaram restritos a costa espanhola, no entanto os cartagineses do século IV a.C ao II a.C, dominaram vários territórios na península, porém a Lusitânia ficou de fora, embora expedições foram realizadas na tentativa de sua conquista.

No século II a.C, o chefe dos lusitanos, Viriato (?-139 a.C) combateu por vários anos os Romanos, impedindo que os mesmos conquistassem a Lusitânia. Viriato é considerado um herói ancestral do povo português. Após a morte de Viriato, anos depois novas batalhas levaram gradativamente a derrota dos lusitanos e dos povos vizinhos. No ano I d.C toda a península estava sob o domínio do Império Romano.

O território da Lusitânia sob o domínio do Império Romano.
No século V, com a queda do Império Romano, uma leva de povos germânicos chegaram a península: Vândalos, Visigodos, Suevos, Alanos e Búrios. Nesse caso, os suevos e visigodos dominaram grande parte da península, enquanto os demais só vieram de passagem ou foram expulsos da região. Nessa época esses povos bárbaros, como os romanos se referiam, começaram a ser cristianizados e os mesmos dariam origens aos reinos cristãos ibéricos. 

No século VIII, vindos da África, do que hoje é o Marrocos, chegaram os Árabes e os Mouros os quais atacaram e conquistaram algumas cidades no sul da Hispânia, como Sevilha, Toledo e Córdova. Os muçulmanos acabaram firmando raízes na cidade espanhola de Córdova, onde fundaram um Emirado que depois no século X se tornou um Califado, o qual chegou a dominar mais da metade de toda a península Ibérica, incluindo toda a Lusitânia. Devido ao estabelecimento dos árabes e mouros nas terras da península, se deu início a chamada Reconquista, período que vai do século VIII ao XV, onde os reinos cristãos ibéricos promoveram batalhas e cruzadas para expulsar os muçulmanos de suas terras. 


Máxima extensão territorial do Califado Omíada de Córdova no ano 1000.
Porém, fora também no século IX, que a história portuguesa começou a sofrer mudanças. Várias batalhas iniciadas levaram a recuperação de algumas terras perdidas para os muçulmanos, embora os mesmos ainda possuíssem grande controle da Lusitânia. Em 868, a cidade de Portucale (atual cidade do Porto) fora recuperada e sua fortaleza e fortificações foram reparadas, tornando-se um baluarte cristão na guerra contra os muçulmanos. No século X, o condado e outras regiões da Ibéria foram atacadas e saqueadas pelos Vikings.
Localização da cidade de Portucale e o território do Condado Portucalense. 
A vitória contra os muçulmanos se deu graças a liderança e o exército de Vímara Peres (820-873). Vímara reivindicou para si o domínio em Portucale, e posteriormente se proclamou conde, expandindo posteriormente seus domínios pela Lusitânia. Após a morte de Vímara, mais dez condes o sucederam, até que em 1065, o último conde de Portucale foi derrotado pelo exército do rei Fernando Magno (1016-1067). Fernando foi Conde e Rei de Castela e posteriormente Rei de Leão, entretanto em 1064 e 1065, conquistou o Condado de Portucale e o Condado de Coimbra, porém antes de morrer lhe veio uma dura decisão: a herança. 


Fernando Magno
O rei Fernando Magno possuía três herdeiros diretos: o primogênito, Sancho II (1038?-1072) que era o herdeiro do Reino de Castela; o filho do meio, Afonso VI (1039?-1109) que ficou com o Reino de Leão, e para o mais novo, Garcia II (1040?-1090), ele lhe deu os territórios da Galiza e do Condado Portucale, fundando o Reino de Portugal e Galiza. Com a morte de Fernando em 1067, a situação se complicou, os três irmãos não queriam ficar limitados aos reinos que possuíam, logo, Afonso e Sancho se uniram para derrubar Garcia, e depois da derrota de Garcia, Sancho traiu Afonso, e o expulsou do novo reino conquistado. Os dois passaram a lutar entre si, até que em 1072, Sancho II faleceu, Afonso VI, o Bravo se proclamou rei de Castela, Leão, Portugal, Galiza e Coimbra. Em 1077, Afonso adotou o título de Imperator totius Hispaniae (Imperador de toda Hispânia). Nos anos seguintes, Afonso continuou a lutar para expandir seus reinos e em combater os muçulmanos nas guerras da Reconquista. Em 1086 na Batalha de Zalaca, seu exército foi derrotado, Afonso recorreu a ajuda da Abadia de Cluny a qual enviou um exército de cavaleiros da Borgonha (atualmente na França); com a ajuda dos borgonheses, Afonso conseguiu levar as lutas contra os mouros até os Pirineus na fronteira com a França, de lá eles conseguiram derrotar os mouros, os expulsando daquelas terras. Um dos cavaleiros borgonheses que teve grande importância nessas batalhas fora D. Henrique (1066-1112), e em retribuição aos seus feitos, o rei Afonso VI, o Bravo lhe doou o governo de Portugal. Nomeando D. Henrique, conde do Condado Portucalense, passando o mesmo a ser um vassalo do rei Afonso. 


D. Henrique da Borgonha, Conde de Portugal de 1096 a 1112, pai do futuro rei de Portugal.
D. Henrique casou-se Teresa de Leão e teve vários filhos e filhas, sendo que seu filho Afonso Henriques (1109/1111-1185) foi escolhido para ser o seu sucessor direto, já que os outros filhos mais velhos haviam morrido na infância.

"Do consórcio nasceu em Guimarães, pelo ano de 1111, o príncipe D. Afonso Henriques, a quem coube a missão de transformar o Condado Portucalense no reino de Portugal. Três anos depois, morria o conde D. Henrique, ficando a viúva a dirigir o governo. A infanta D. Teresa possuía um ânimo varonil e tudo prova que alimentou o sonho de dar a autonomia política ao Condado". (SERRÃO, 1994, p. 20).

A condessa D. Teresa acabou sendo influenciada pelo conde Fernão Peres de Trava, o qual possuía planos de ocupar o governo Portucalense. Historiadores apontam que possivelmente o conde se tornou amante da condessa para conseguir esse fim, porém aos 17 anos de idade, Afonso Henriques decidiu se rebelar contra esse plano. Afonso Henriques se refugiou em Zamora, onde fora armado cavaleiro, o mesmo conseguiu uma tropa e decidiu voltar para Guimarães e depor sua mãe, assim em 24 de junho de 1128, Afonso e sua tropa venceram a batalha e no mesmo ano, Afonso Henriques foi nomeado Conde Portucalense (Comes Portucalensis). Entretanto, ele estava decidido em ganhar a emancipação de Portugal e se proclamar rei. 


D. Afonfo Henriques, Terceiro Conde Portucalense e primeiro Rei de Portugal.
"O novo Comes Portucalensis utilizou uma estratégia dupla para atingir esse fim: por um lado, procurou empurrar os Mouros para a margem esquerda do Tejo, e por outro lado, quis impor ao primo, o rei Afonso VII de Leão, o crescente desejo da autonomia do Condado Portucalense. A sua acção semelhou-se a um pêndulo militar, que tanto subia como descia, com base em Coimbra, para obter o equilíbrio político necessário à independência. Nos dois campos de luta, alternou vitórias brilhantes com alguns revezes, mas sem jamais desistir do propósito traçado. No dia 25 de julho de 1139 obteve na Batalha de Ourique, que Alexandre Herculanao reduziu à importância de um fossado, uma grande vitória sobre cinco exércitos mouros. Meio ano depois, D. Afonso Henriques começou a intitular-se nos documentos da chancelaria e em actos privados, como Rex Portugalensium, o que era prova do seu prestígio militar e força política. A projecção de Ourique passou a ser um factor espiritual para os barões portucalenses que acreditavam no braço heroico do seu jovem chefe". (SERRÃO, 1994, p. 20-21). 

As vitórias conquistadas pelo "reis dos portugueses" lhe trouxeram grande apoio e fama. D. Afonso Henriques recebeu os cognomes de o Conquistador, o Fundador e o Grande. Ao mesmo tempo, seu primo, Afonso VII era pressionado a tomar uma decisão acerca da cobrança feita por Afonso Henrinques, assim entre 3 e 4 de outubro de 1143 em uma reunião em Zamora, o rei Afonso VII de Leão se encontrava com D. Afonso Henriques entre outros nobres e funcionários de ambas as cortes, incluindo mais um representante do Vaticano, o cardeal Guido de Vico, o qual representava o papa Inocêncio II. Então nessa data, o rei de Leão reconheceu a independência de Portugal, assim como a Igreja também o fez. Oficialmente D. Afonso se tornava o rei Afonso I de Portugal, inaugurando o governo da Dinastia de Borgonha. Assim, oficialmente Portugal se tornava uma nação independente e livre de Castela e Leão. 

Nos séculos seguintes, Portugal firmou alianças e acordos com a Inglaterra, França, Holanda, Dinamarca, Savoia, Roma, Gênova, além dos reinos hispânicos. Isso tudo garantiu a legitimidade do novo reino perante a Europa medieval. 


A ERA DOS DESCOBRIMENTOS

Os primeiros passos

"Portugal deu início, nos primórdios do século XV, ao processo dos Descobrimentos, no esforço de maior penetração no mar Atlântico, em busca de continentes e terras ignotas. A ânsia de desvendar os mistérios do oceano esteve decerto na origem das viagens então realizadas, no prosseguimento e tentativas sobre as quais tudo se desconhece". (SERRÃO, 1994, p. 55).

Naquela época o Oceano Atlântico era conhecido pelos portugueses, árabes e outros povos como Mar Tenebroso, local onde habitavam monstros, ilhas misteriosas com povos exóticos e estranhos, além de outros temores. Mesmo assim, devido a localização privilegiada de Portugal de frente para o oceano, desde cedo os mesmos já se aventuravam ao largo da costa e a alguns quilômetros mar adentro, mas nunca perdendo a costa de vista. 

O impulso marítimo dos portugueses em se aventurar pelo mar era uma necessidade não apenas de poder e busca de riquezas, mas de sobrevivência e continuidade do Estado. Devido ao tamanho limitado do país, muitos produtos alimentícios, minérios entre outros, eram escassos, logo, os portugueses dependiam do comércio com os reinos hispânicos e até mesmo os mouros e árabes, além de outras nações amigas, como Inglaterra, França e Holanda, para abastecer essa falta de recursos. Nesse caso, se Portugal possuísse uma colônia, com terras férteis e rica em recursos naturais, supriria em muito a necessidade de ter que comprar tais recursos de outras nações.

"Os Descobrimentos representam, pois, o momento histórico em que Portugal, estabelecia a paz interna após a grave crise de 1383-1385, sente com maior força o desígnio marítimo para a realização de um grande ideal colectivo". (SERRÃO, 1994, p. 55-56). 

Em 1383, o rei de Portugal, Fernando I não possuía mais filhos vivos, e sua única filha havia se casado no mesmo ano com o rei de Castela, porém Fernando veio a falecer em outubro daquele ano, e o trono português foi assumido por sua esposa, a rainha Leonor. Ela ficaria no poder até encontrarem um parente próximo do rei para assumir o trono, assim como, rogava as leis de sucessão em caso de não haver filhos e irmãos do monarca ainda vivos. Entretanto um filho bastardo do antigo rei D. Pedro I de Portugal, chamado João de Avis, decidiu iniciar uma tentativa de assumir o poder do reino, embora fosse bastardo, havia sangue real em suas veias, assim no final de 1383 ele iniciou sua missão.

No ano seguinte, o rei João I de Castela, casado com a filha de D. Fernando I, decidiu conquistar Portugal, mas acabou sendo derrotado ainda no mesmo ano. Os portugueses recorreram a ajuda da Inglaterra para impedir esse golpe de Estado. Em 1385, o rei de Castela voltou a atacar Portugal, mas novamente foi derrotado. Entretanto, João de Avis, foi reconhecido e aclamado rei, pelas Cortes de Coimbra, passando a governar legitimamente o reino. A crise vista entre 1383 e 1385 é conhecida como o Interregno, um período de anarquia.


Rei D. João I de Portugal
Mas findado tais problemas, o novo rei português, D. João I, inaugurou o reinado da Dinastia de Avis, e levou a cabo o início dos Descobrimentos. Desde o começo do século os portugueses viam trabalhando na questão naval, chegaram a contratar navegadores genoveses para desenvolverem sua frota, a fim de combater os árabes na Berberia (Marrocos), já que os reis de Portugal haviam se comprometido em levar à cabo a Reconquista, porém se conseguissem conquistar a Berberia, seria uma porta de entrada para o comércio no Saara. Relatos ainda do século XIV apontam que portugueses já tivessem passado pelas Ilhas Canárias, na costa africana, tendo ido em viagem a bordo de navios castelhanosleoneses, e possivelmente genoveses. Porém, não existem relatos oficiais de incursões portuguesas as Canárias antes do século XV, entretanto no ano de 1403, o papa Bento XIII concedeu a Portugal benção espiritual e proteção, no trabalho nas cruzadas contra os mouros na Berberia e na pregação do cristianismo nas Canárias, logo, isso significa que antes da data de 1415, data marco do início dos Descobrimentos, os portugueses já tinham viajado ao longo da atual costa marroquina? Sendo assim, as primeiras viagens não foram realizadas com pleno desconhecimento, mas pelo contrário, como uma certa noção do caminho?

"O processo dos Descobrimentos marítimos exigia algumas infra-estruturas adequadas para o seu lançamento. A originalidade da ciência náutica portuguesa não oferece dúvida para os que aceitam uma experiência secular própria, colhida no dia-a-dia em contacto com o oceano". (SERRÃO, 1994, p. 58).

Desde o século XIII Portugal vinha intensificando as pesquisas no desenvolvimento de técnicas náuticas e na construção de embarcações. Propriamente até o século XV, as viagens eram curtas e feitas através da cabotagem (navegar próximo a costa, sem perdê-la de vista). No entanto no século XV, os portugueses desenvolveram um novo tipo de embarcação que chamaram de caravela, as quais eram embarcações maiores e mais resistentes, permitindo realizar viagens mais longas e até mesmo longe da costa, de fato, muitos navegadores usaram caravelas no começo das viagens pela África, e diferente do que se diz, Cabral chegou ao Brasil não numa caravela, mas numa nau, outro tipo de embarcação, maior e mais robusta, própria para viagens de longas distâncias, embora um pouco mais lenta. 


Réplica da caravela Vera Cruz no rio Tejo, Portugal.
Além dessas embarcações, o desenvolvimento de cartas náuticas, de instrumentos de navegação como a bússola, adquirida dos árabes, e por sua vez estes a adquiriram dos chineses, seus inventores; o desenvolvimento de astrolábios e sextantes e de outras técnicas de localização, contribuíram para os portugueses poderem realizar suas viagens de longa distância e longe da costa. Vale ressaltar também, os estudos de observação dos ventos e das correntezas, que ajudavam a definir as rotas marítimas. Alguns historiadores acreditam que a "ciência náutica portuguesa" tenha em grande parte sido desenvolvida na Escola de Sagres, uma suposta academia naval portuguesa, criada pelo príncipe D. Henrique para desenvolver as técnicas navais e preparar profissionais para as expedições. Entretanto, muitos historiadores contestam a existência de tal escola, já que os relatos sobre a mesma são muito escassos e duvidosos.

Um fato interessante na história portuguesa, foi o grande interesse da nobreza em participar das guerras e das expedições marítimas, sendo que em alguns casos, muitas expedições foram patrocinadas pelo dinheiro de particulares, sendo estes nobres ou ricos comerciantes, em alguns casos, ambos, já que devido a falta de terras no país, muitos nobres se dedicaram ao comércio e assim enriqueceram através desse, daí a expressão "cavaleiro burguês", ou seja, um nobre enriquecido como um burguês e em alguns casos o contrário também era visto; um burguês dependendo de seus serviços prestados a coroa poderia receber terras e um título nobiliárquico.

A Conquista de Ceuta (1415)

A conquista da cidade de Ceuta (em árabe Sebta) é considerada o marco inicial da Era dos Descobrimentos, iniciado pelos portugueses mas também desenvolvido por outras nações europeias. Ceuta ficava na época localizada na Berberia ou Marrocos como também eram chamado, embora também se encontrem a utilização do nome Magreb para se referir a mesma região.


Localização da cidade de Ceuta.
Ceuta era uma pequena cidade, ou praça-forte, como também era referida, encrustada em uma pequena península do Marrocos, entretanto era um local estratégico já que ficava bem próxima do Estreito de Gibraltar, rota de passagem entre o Atlântico e o Mediterrâneo, e um dos pontos de partida para a Ibéria. Atualmente, Ceuta pertence a Espanha.

Não obstante, ao longo da história, a região de Ceuta foi habitada por vários povos, mas no século XV estava sob o domínio dos mouros do Marrocos. Portugal já cogitava algum tempo tomar a cidade, já que era comum partirem de lá expedições para atacar os domínios portugueses no Algarves e abastecer as tropas em Granada e Córdova na Hispânia. Além disso, haviam outras questões: como a questão econômica, onde Ceuta era um mercado no qual chegavam mercadorias comercializadas pelo Saara, Sudão e algumas vindas do Egito e de mais longe. 

Não obstante, na região também havia muitas terras cultiváveis, algo desejado pelos portugueses devido a limitação de seu território; somando-se a isso havia também a questão religiosa, já que para o ataque à Ceuta ser realizado, o rei D. João I pediu autorização ao papa para reconhecer sua iniciativa como uma "guerra justa". E tal fato ocorreu em 20 de março de 1411, onde o antipapa João XXIII assinou a bula Eximie deucionis, autorizando a cruzada contra Ceuta. 

Ao mesmo tempo, havia também envolto nesse propósito, o pedido da nobreza portuguesa de dar-se início aos ataques na tentativa de conquistar o Marrocos, algo que já era cogitado alguns anos. Tal fato é tão evidente, que os filhos mais velhos de D. João I, os infantes, D. Henrique, D. Fernando e D. Pedro, pediram ao pai que participassem da batalha contra Ceuta, e assim ocorreu. 


Pintura do século XVI retratando a cidade de Ceuta (Septa ou Sebta em árabe).
Em 25 de agosto de 1415 os exércitos portugueses liderados pelos príncipes e seus generais conquistaram a cidade, marcando o início de novas expedições militares contra os mouros do Marrocos pelos anos seguintes. Mas embora, Ceuta tenha sido conquistada, os mouros ainda continuaram a tentar reconquistá-la.

"O feito ganhou auréola na história europeia, ficando aquela cidade como o símbolo do poderio cristão implantado em Marrocos. Como 'Jornada de África' ficaria também conhecido o empreendimento de D. João I, que representava o início de Portugal marroquino de há muito desejado pela coroa de Avis e que para muitos historiadores representa a abertura dos tempos modernos". (SERRÃO, 1994, p. 65).

Porém, Ceuta trouxe em alguns aspectos mas consequências do que benefícios. A rota comercial que chegava a cidade foi desviada pelos mouros, ao mesmo tempo em que os ataques constantes a cidade, incluindo grande batalhas como a ocorrida em 1418, levavam a destruição dos campos, dos pastos, e deixavam além de um saldo de mortos, o saldo de despesas para se reconstruir o que fora destruído. Não obstante, devido a insegurança e a instabilidade do local, muitos mercadores portugueses se recusavam a irem trabalhar em Ceuta. No ano de 1425, D. Pedro, escreveu uma carta para o pai questionando até quando eles continuariam nas guerras para conquistar o Marrocos, já que em sua visão, após dez anos de lutas, a situação se tornava cada vez mais difícil. 

O arquipélago da Madeira (1418?)

Algumas fontes históricas citam que não foram os portugueses que descobriram a Ilha da Madeira e a Ilha do Porto Santo, mas tal descoberta teria sido feita em 1336 pelo navegador genovês Lanzarotto Mallocello, o qual na época teria sido contratado pela Coroa lusa, para realizar uma expedição naval até as Canárias. No entanto, outra versão indica que as ilhas teriam sido descobertas pelos ingleses. Entretanto, sabe-se que de fato foram os portugueses que colonizaram essas ilhas e descobriram as demais que formam hoje o arquipélago. A Ilha da Madeira fica a 980 km de Lisboa. Porém, sua distância à costa do Marrocos e de cerca de 700 km. 


O arquipélago da Madeira
Oficialmente a historiografia reconhece que no ano de 1418 os navegadores portugueses João Gonçalvez Zarco e Tristão Vaz Teixeira teriam descoberto a Ilha do Porto Santo, e no ano seguinte, Bartolomeu Perestrelo em companhia de Zarco, teriam descoberto a Ilha da Madeira, a maior e mais rica ilha do arquipélago, devido principalmente a abundância de madeira, a qual lhe designou o nome. No entanto, a colonização das ilhas demorou quase dez anos para ser efetuada, e tal fato se deu devido a frustrada expedição para se conquistar as Canárias. Assim, o infante D. Henrique, tratou de dá início a colonização da Madeira e de Porto Santo. A colonização se deu principalmente por colonos vindos do Algarves no sul de Portugal.

"A ilha maior revelou de imediato a sua riqueza em matas e florestas, assim como a abundância das águas, existindo na parte sul três bons ancoradouros navais que vieram a ser as povoações de Machico, Funchal e Câmara de Lobos. As condições apontadas teriam mostrado a D. João I as vantagens de iniciar a colonização da Madeira, em detrimento de quaisquer ambições sobre as Canárias, onde a coroa castelhana queria impor a supremacia política e religiosa". (SERRÃO, 1994, p. 71).

Em 1433 a Ordem de Cristo, recebeu alguns lotes de terra na ilha da Madeira e nas ilhas Desertas, posteriormente em agradecimento, ela reconheceu o infante D. Henrique como suserano do arquipélago, lhe atribuindo o direito ao governo e aos rendimentos produzidos nas ilhas. D. João I reconheceu esse direito do filho. Em 1440, D. Henrique criou a Capitania de Machico na ilha da Madeira, doada a Tristão Vaz; em 1446 ele criou e doou a Capitania de Porto Santo a Bartolomeu Perestrelo, e em 1450 a Capitania do Funchal na ilha da Madeira, fora doada a João Gonçalves Zarco.


Vista atual da cidade do Funchal, capital da Região Autônoma da Madeira.
A partir da formação das capitanias, houve um aumento na leva de colonos para as ilhas. Além da exploração da madeira em si, passou-se a cultivar vinículas para a produção de vinho (o qual hoje é dito um dos melhores de Portugal); o desenvolvimento da apicultura para a venda de mel e cera; a plantação de alguns cereais como trigo e aveia, o desenvolvimento da pesca, e até mesmo o cultivo de cana de açúcar, a qual era exportada para Flandres (na Bélgica) e a Itália. A cana de açúcar fora trazida pelos árabes e já havia sido plantada na Hispânia e na Lusitânia, daí ser uma planta conhecida pelos portugueses há vários séculos. Na ilha de Porto Santo cultivavam-se e exportavam-se o anil e sangue de dragão (a substância é extraída do dragoeiro), utilizados na tinturaria. 

O arquipélago dos Açores (1427?)

Assim como a descoberta da Madeira e das ilhas vizinhas ainda é contestada, o mesmo ocorre com o arquipélago dos Açores. Algumas fontes indicam que as ilhas dos Açores já eram conhecidas, devido ao fato de terem sido descritas em uma mapa genovês. Ao mesmo tempo, também sugere que Portugal já tinha um certo conhecimento da existência dessas ilhas, já que alguns marinheiros tinham participado de viagens para as Canárias, e teria sido a partir dali que os Açores foram descobertos. 

Em alguns relatórios anteriores a 1425, apontam a existência de ilhas para além da Madeira, continuando a seguir para oeste-noroeste. O arquipélago dos Açores dista cerca de 2000 km de Portugal, em outras palavras, já havia sido um feito grande na época ter percorrido toda essa distância oceano adentro.

De acordo com a tradição passada pela Ordem de Cristo, a descoberta das primeiras ilhas foi realizada por Frei Gonçalo Velho Cabral, cavaleiro da ordem, o qual em 1431 teria descoberto a ilha de Santa Maria em 15 de agosto, e em 29 de setembro a ilha de São Miguel. Entretanto, de acordo com o cronista Damião Peres, a descoberta dos Açores fora realizada em 1427 pelo piloto Diogo de Silves, encarregado em missões marítimas por D. Henrique. 


O arquipélago dos Açores (Santa Maria, São Miguel, Terceira, São Jorge, Pico, Graciosa, Faial, Flores e Corvo)
Não se sabe ao certo a data de descoberta de cada uma das ilhas. Se tomarmos Diogo de Silves como descobridor das ilhas orientais, Santa Maria e São Miguel em 1427 e depois, Frei Gonçalo Cabral como descobridor das ilhas centrais, algo que de fato ele fez, embora não se saiba a data exata, das nove ilhas que formam o arquipélago, sete já haviam sido descobertas antes de 1439, data na qual o infante D. Pedro, enviou alguns rebanhos de ovelhas junto com colonos para as ilhas, embora que acredita-se que desde 1432 as ilhas já vinham sendo ocupadas. Entre 1450 e 1452 as últimas ilhas do arquipélago, Flores e Corvo foram descobertas por Diogo de Teive em companhia do espanhol Pêro Vasques de la Frontera

Não obstante, nas ilhas orientais e centrais foi desenvolvido o cultivo do trigo, da cevada e da aveia. Também se desenvolveu a criação de gado bovino e ovino; a cana de açúcar chegou a ser plantada, mas não se adaptou bem ao solo das ilhas. Nas ilhas das Flores e Corvo, também fora introduzido tais cultivos. 

"O povoamento das ilhas do grupo central teve a participação de dezenas de flamengos que ali se foram instalar desde 1450. Um dos primeiros foi Jácome de Bruges, natural do condado da Flandres e servidor do infante D. Henrique, a quem naquele ano se concedeu a capitania da ilha Terceira. Por influência de D. Isabel, duquesa de Borgonha, muitos senhores daquela região seguiram para os Açores na década de 1460. Chegou a notícia de um Jacob von Hurter, natural de Nuremberga, que foi colonizar a ilha do Faial e de um Willen van der Haghe, que procedeu a idêntica tarefa nas Flores. No ano de 1490 havia alguns milhares de flamengos e de germânicos instalados nas ilhas do grupo central açoriano". (SERRÃO, 1994, p. 74).

A grande quantidade de flamengos, nome dado aos habitantes de Flandres, hoje no norte da Bélgica, na fronteira com a Holanda, levou no século XV em alguns locais chamarem aquelas ilhas não de Açores, mas Ilhas Flamengas, devido as colônias flamengas em suas terras. 


Mapa completo dos Açores feito por Abraham Ortelius e Luis Teixeira em 1584. 
"Os Açores serviram de terreno experimental para a cultura de cereais, o que permitiu um maior abastecimento da Metrópole e das praças marroquinas, que se viam om frequência desprovidas de trigo, cevada e aveia. O clima úmido das ilhas também permitiu que nelas se incentivasse a criação de gado vacum e ovícula, o que juntamente com o pescado favorecia o sustento dos habitantes. Não resultaram as tentativas para fomentar a cultura sacarina nos Açores, pois a produção obtida em várias ilhas foi sempre diminuta. A urzela e o pastel, colhidos em São Jorge e São Miguel, representaram um benefício para a economia do arquipélago, por serem plantas tintureiras de excelente qualidade". (SERRÃO, 1994, p. 76). 


Montanha do Pico, localizada na Ilha do Pico. Com 2.351 m de altitude, é a montanha mais alta do arquipélago e do território português. A montanha fica localizada sobre a Dorsal Marítima do Atlântico, uma longa cadeia de montanhas submarinas. 
O Cabo Bojador (1434)

Atualmente o Cabo Bojador (bojador: bojar, inflar, enfunar; apresentar saliência arredonda) se encontra no território da cidade do Bojador, no Saara Ocidental, outrora colônia espanhola que na década de 1970 fora abandonada pelos espanhóis, sendo hoje o país contestado pelo Marrocos e pela Mauritânia, os quais tentam assimilar seu território. No século XV o Cabo Bojador se localizava no território da antiga Mauritânia ("Terra dos Mouros"), embora que em alguns mapas aparecesse pertencendo ao Marrocos.


Localização do Cabo Bojador no Saara Ocidental.
O Cabo Bojador fica ao sul das Ilhas Canárias, marcando até o ano de 1434 o ponto limite do avanço das navegações de descobrimento dos portugueses. O arquipélago das Canárias hoje pertence a Espanha, porém desde a Antiguidade já era conhecido e no século XIV os portugueses reivindicaram sua redescoberta e posse, porém o papa na época, Clemente VI atribuiu a posse das ilhas aos castelhanos e desde então os portugueses tentaram conquistá-la dos mesmos, mas acabaram fracassando. 

O Cabo Bojador também era chamado de o "Cabo do Medo", devido as correntes que levavam os navios de encontro aos arrecifes os fazendo encalhar e naufragarem; tal fato é tão evidente que vários navios portugueses naufragaram ou encalharam naquelas águas entre as décadas de 1420 e início da de 1430. Ao mesmo tempo, havia também lendas de que para o sul do Bojador, estaria-se indo em direção ao Inferno, tal fato se deve pela condição de que o cabo se encontra na linha do Equador, onde as temperaturas eram superiores aos 30 C, logo, muitos marinheiros e navegadores ficavam receosos de realizarem tal viagem.

Com isso devido a este medo do cabo e do desconhecido, muitos relutaram a irem além desse limite. Porém, alguns de você devem pensar em porque eles não contornavam o cabo, indo mar adentro? O motivo de não fazerem isso, é por quê tais navegações eram feitas ao longo da costa, sempre a mantendo visível, como forma de saber a localização e não se perder da mesma. Não obstante, embora desbravassem os mares cada vez mais, ainda existia as superstições acerca de monstros, o medo de pegarem ventos contrários que o afastariam da costa os deixando a deriva, etc. 

Porém, o medo do Bojador só foi superado no ano de 1434, quando o navegador Gil Eanes, escudeiro do infante D. Henrique, foi convencido pelo mesmo em realizar tal difícil jornada e provar ao povo português que o Bojador poderia ser transposto. Assim, em 1434, Gil Eanes e sua tripulação cruzaram o Bojador, revelando que o mesmo não era impossível. Tal façanha fora bem recebida pelo infante D. Henrique o qual era o responsável pelas navegações nessa época. Agora sabendo que o Bojador poderia ser transposto, Henrique tratou de enviar novas expedições para continuarem seguindo para o sul.


Rota realizada por Gil Eanes em 1434, tendo transposto o cabo Bojador.
Seguindo a transposição do Bojador, Afonso Gonçalves Baldaia em 1435 descobriu a Angra dos Ruivos (atual Cabo Ganet) e no ano seguinte, chegou a foz do rio do Ouro. Ele também nomeou a região de Porto de Galé, posteriormente se tornou um porto ocupado pelos portugueses. Continuando a viagem para o sul, o navegador Nuno Tristão descobriu o Cabo Branco e a Baía de Arguim, onde na qual fundou uma feitoria para comercializar com os nativos, tal façanha ocorreu na década de 1440.


Localização da feitoria de Arguim a qual se ligava ao comércio no interior do continente, passando por importantes centros comerciais como Mali, Tomboctu e Gao. A partir dessa rota comercial, os portugueses tinham acesso ao ouro das minas da região.

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Estrofe II de Mar Português, Fernando Pessoa.

Do Bojador à Serra Leoa (1434-1460)

"Várias expedições ocorreram nesse tempo, sendo de destacar a de Antâo Gonçalves, natural de Lagos, que efectuou a primeira condução de negros para o Algarves. Nessa viagem lança raízes o processo de escravatura, que depois avolumou quanto ao número das operações comerciais. A viagem de 1444, do comando de Lançarote, almoxarife de Lagos, atingiu as ilhas de Tider e Nar, com idêntico objectivo. Entretanto, Nuno Tristão aproximou-se da foz do Senegal, não sendo de invalidar que procedeu ao reconhecimento da parte terminal do grande rio. A expedição do ano seguinte, com participação colectiva de mercadores de Lagos e do donatário madeirense Tristão Vaz, levou as caravelas ao cabo Verde. Em 1446, na última viagem que efectuou à costa africana, Nuno Tristão ultrapassou este cabo na distância de 60 léguas, para chegar à zona do Casamansa e daqui ao rio Grande ou Fancaso. O intrépido navegador atingira o limite da terra que veio a ser a Guiné Portuguesa". (SERRÃO, 1994, p. 78).

Em 1446, Álvaro Fernandes chegou a "Terra dos Negros", indo 100 léguas ao sul do Cabo Verde, mas após isso uma pausa nas expedições de descobrimento foi dada. Os motivos não são certos. Alguns citam que D. Henrique priorizou a colonização da Madeira e dos Açores, remetendo o dinheiro para esse intuito; outros sugerem que a distância alcançada dificultava uma colonização naquela área recém descoberta; outros sugeriram que a feitoria de Arguim, já rendia muito, e não havia necessidade de continuar indo para o Sul. De qualquer forma, sabe-se que em 1460, Pedro de Sintra chegou a costa do Reino dos Sapes e a batizou de Serra Leoa, devido ao fato de que uma das serras parecia uma leoa deitada. 


Em verde os territórios descobertos durante a liderança e administração do infante D. Henrique.
"Assim se consolidou o plano henriquino que se estende até 1460, quando as caravelas portuguesas haviam já atingido a Serra Leoa. Com acidentes marítimas de vária ordem, um quarto de século bastou para conduzir os navios do Infante ás portas do golfo de Guiné. Não se torna possível enumerar o rol de Descobrimentos, quase todos de realização anual, que ocorreram nesse período. Vários navegadores deixaram então marca dos seus feitos, se bem que a História nem sempre faça ressaltar seus nomes". (SERRÃO, 1994, p. 77).


O infante Dom Henriques de Avis (1398-1460), filho do rei D. João I, Duque de Viseu, Senhor de Covilhã, conomeado Infante de Sagres e o Navegador. Coordenou por mais de trinta anos as expedições dos descobrimentos e a colonização na Madeira e nos Açores.
O arquipélago de Cabo Verde (1445?)

Oficialmente o descobrimento do arquipélago de Cabo Verde é creditado entre os anos de 1460 e 1462 aos navegantes Diogo Gomes e o genovês Antonio Noli, entretanto, desde 1445 acredita-se que Dinis Dias em regresso de sua viagem a foz do rio Senegal, teria avistado parte da atual ilha de Santiago. Tal hipótese reforçada pelo fato de que num mapa feito por André Bianco em 1448, mostra uma ilha diante da costa do Cabo Verde.

No ano de 1456, três expedições feitas pela região da costa, também teriam chegado ao arquipélago; a expedição do veneziano Cadismoto, a de Diogo Gomes e a de Antonio Noli, sendo que Gomes retornou quatro anos depois para confirmar a descoberta e encontrou outras ilhas. Porém em 1462, a Coroa portuguesa nomeou Noli capitão-mor da ilha de Santiago, isso para alguns cronistas da época, deu a Noli o direito de descobridor oficial das ilhas.


Arquipélago do Cabo Verde
Sabe-se que no ano de 1462 todas as ilhas já haviam sido descobertas, e a colonização teve início. Assim como na Madeira e nos Açores, tais ilhas não eram habitadas por humanos, isso favoreceu a ocupação dessas terras. Ao mesmo tempo, o clima favorecia o cultivo de alguns cereais, a criação de animais, e o plantio da cana de açúcar, produto muito exportado da ilha. 

"Quase toda as ilhas dispunham de abundante pescaria e de aves de consumo, notando-se em Santiago grande número de pombos e tartarugas. Nessa ilha e na Boavista existiam muitos cursos de água doce, assim como lagoas de sal branquíssimo. A falta de pastos não favorecia a implantação da pecuária, mas na Boavista e na de Maio tentou-se uma experiência de adaptação do gado bovino, o que teve consequências favoráveis na produção de carnes e de peles". (SERRÃO, 1994, p. 80).

O cultivo do trigo e da cevada não se adaptou bem a esse clima quente, no entanto, os portugueses passaram a cultivar sorgo, conhecido como milho da Guiné ou zaburro; inhame, entre outras plantas originárias do continente africano. Nesse caso, chegou até mesmo a se plantar algodão em algumas ilhas, algo que chamou a atenção dos genoveses que se interessaram pela oportunidade de importar o material dessas ilhas. 

Outro fato interessante acerca da colonização do Cabo Verde é que os portugueses passaram a usar a mão-de-obra escrava nessas ilhas. Desde 1444, quando foram levados os primeiros negros para Algarve em Portugal, os portugueses começaram a perceber que poderiam entrar no comércio de escravos, o qual era praticado por vários povos africanos dos locais que eles desbravaram, daí não ser difícil arranjar escravos. Sendo assim, no Cabo Verde nota-se através de documentos o uso extensivo de escravos, algo que também fora implantado posteriormente na Madeira e nos Açores. 

A utilização de mão-de-obra escrava compensou o número baixo de colonos que partiam para a ilha. A colonização do Cabo Verde só se intensificou após 1475, quando fora imposto o sistema de capitanias hereditárias nas ilhas, assim como, se fez na Madeira e nos Açores, dessa forma, garantia-se a devoção, direito e obrigatoriedade das famílias dos capitães-mor em permanecerem na ilha. Não obstante, as ilhas também eram um porto seguro e de apoio para as expedições a Costa da Guiné e posteriormente a Costa da Mina.

O Golfo da Guiné (1461-1462/1469-1475)

Em 1461, Pedro de Sintra antigo escudeiro do falecido D. Henrique contornou o continente africano, chegando a um vasto golfo que fora nomeado posteriormente de Guiné. Hoje, vários países possuem suas costas para o golfo, no entanto na época dos descobrimentos tudo aquilo era conhecido como Golfo de Guiné, porém o mesmo era dividido em Costa da Guiné, Costa do Ouro e em alguns casos Costa do Congo. 


Golfo da Guiné. As atuais costas de Gana, Togo, Benin e Nigéria, compreendiam a Costa da Mina;  a Costa de Camarões e da Guiné-equatorial era a Costa da Guiné, e o Gabão na época fazia parte do Congo.
Mas após o regresso de Pedro de Sintra em 1462, as viagens para o golfo ficaram paradas por quase oito anos, devido a falta de dinheiro no Tesouro português, falta essa causada em grande parte devido as despesas com as guerra no Marrocos, já que os portugueses ainda estavam determinados de o conquistarem. Nessa época o rei regente era D. Afonso V, o qual ganhou o cognome de o, Africano, devido as suas vitórias no Marrocos, Alcácer Ceguer (1458), Anafé (1464), Arzila (1471), posteriormente Tânger, Larache entre outras cidades. Porém, tudo isso teve um preço, as despesas foram enormes, causando um rombo nos cofres do país, isso levou o rei a suspender as viagens de descobrimento, e somando-se a tal fato, ainda havia a falta de interesse do monarca por essas expedições, e a questão envolvendo a sucessão no reino de Castela, na qual, D. Afonso V estava interessado de realizar um casamento entre um de seus filhos com uma das filhas do próximo herdeiro de Castela. 

Entretanto, nesse período de pausa, mesmo assim as viagens para a costa do Senegal, de Serra Leoa e Cabo Verde ainda continuaram sendo realizadas por particulares, nesse caso no ano de 1469, D. Afonso V, decidiu retomar as viagens de expedição, pois ele acreditava que o final do continente não estava longe, e com isso poderia se chegar ao Oceano Índico e seguir para as Índias. Não obstante, também havia a crença de que o Reino de Prestes João ficava localizado na parte oriental da África. 

Prestes João foi um rei cristão lendário que acreditava-se governar um rico país localizado no oriente. Dependendo da época, as histórias sobre seu reino, sugeriam que ele vivesse na Ásia ou na África, entretanto, os portugueses e espanhóis acreditavam que tal lugar pudesse ser real, estavam esperançosos de poder conhecer as imensas riquezas que se dizia que o mesmo possuía. 

Então em 1469, o rei fechou um contrato com o rico comerciante Fernão Gomes, o qual já há alguns anos vinha empreendendo viagens pelos domínios portugueses no Atlântico, assim, Gomes aceitou a oferta de trabalhar para a Corte com uma condição: Ele exigia a exclusividade no comércio na costa africana com exceção do Cabo Verde e da feitoria de Arguim, todas as demais feitorias e postos comerciais seriam explorados por seus homens durante um prazo de 5 anos, rendendo a coroa 200$000 réis, posteriormente 300$000 réis. Em troca, de realizar tais expedições e pagar a Coroa por esse direito, Fernão Gomes se comprometeu em a cada ano explorar 100 léguas da costa do continente, no final o contrato passou para 600 léguas, devido ao acréscimo de mais um ano. Entretanto, o lucro que Gomes faturou nesses anos, cobria facilmente as despesas com as expedições e com a Coroa.

Em 1471 os navegadores João de Santarém e Pêro Escobar descobriram uma costa que fora batizada de Costa da Mina, e posteriormente os dois descobriram o Arquipélago de São Tomé e Príncipe. Em 1472, Fernando do Pó, descobriu uma ilha ao sul de Príncipe, a batizando de Ilha do Pó. Em 1473, Lopo Gonçalves continuou a ir para o sul e chegou a um cabo que fora batizado de Cabo Lopo, posteriormente Cabo Lopez. Por fim, em 1474-1475, Rui Sequeira chegou ao Cabo Catarina, o qual ficava próximo a foz do Rio Congo

A Costa da Mina (1471)

Embora tenha sido descoberta em 1471 pelos navegadores João de Santarém e Pêro Escobar a serviço de Fernão Gomes, a colonização da Costa da Mina demorou dez anos para acontecer, tal fato se deu devido a atenção dada pelo rei Afonso V as guerras no Marrocos, a questão da sucessão em Castela e outros assuntos de ordem política, que levou o rei a viajar para a França em 1476 e apenas retornar em 1477, onde foi tratar de assuntos estatais. Por fim, somando-se a isso, estava o fato de que Portugal primeiro quis realizar uma sondagem na região para ver se realmente essa era lucrativa, e tal fato se confirmou.

A Costa da Mina recebe esse nome, devido as minas de ouro encontradas no interior, hoje nos atuais países da Nigéria, Gana, Benin e Mali; no passado, alguns impérios, como o de Gana e Mali usufruíram das riquezas advindas dessas minas, as quais ainda continuavam a serem exploradas por alguns pequenos reinos na região e pelo Império dos Songhai, logo os portugueses perceberam que poderiam ganhar muito dinheiro, se aproximando desses povos, e entrando no comércio aurífero da região. A grande quantidade de ouro conseguida, também levou a região ficar conhecida como Costa do Ouro. 


 O golfo da Guiné com as principais cidades e regiões geográficas descobertas pelos portugueses. Em destaque a Costa da Mina.
A colonização da Costa da Mina e das regiões posteriores já descobertas, fora realizada de fato sob o governo de D. João II o qual assumiu o trono em 1477, quando seu pai, Afonso V abdicou do mesmo e se retirou para um convento. Será no governo de D. João II que a "nova era de ouro" dos descobrimentos se procedeu, já que o mesmo, assim como seu falecido tio D. Henrique, possuía grande interesse por esse assunto.

"A 12 de Dezembro desse ano, saiu de Lisboa uma frota de 500 homens, mais 100 de guerra, sob o comando de Diogo de Azambuja, cavaleiro da casa real. Levava instruções para edificar uma fortaleza na Costa da Mina, entre o cabo das Três Pontas e o das Redes. Na esquadra seguiam também 100 mestres de pedraria e carpintaria, com bastante material de construção, para erguer os muros e torres do castelo". (SERRÃO, 1994, p. 84).

Numa quarta-feira, em 19 de janeiro de 1482, Diogo de Azambuja chegou com sua frota a vila mercantil Duas Partes, no dia seguinte ele mudou o nome da vila para São Sebastião, e ali escolheu a área junto com os arquitetos, para construir uma fortaleza. Antes de prosseguir o início das obras, Azambuja enviou embaixadores para se reportarem ao rei da Mina, como os portugueses se referiam ao rei local, a fim de pedir sua permissão para construir uma fortaleza ali. O rei aceitou a proposta, já que visava também interesses comerciais e políticos, e dentro de cerca de um mês, fora erguido o Castelo de São Jorge da Mina


Vista do Castelo de São Jorge da Mina no século XX. Elmina, Gana.
"Assim se ergue, no curto espaço de um mês, o Castelo de São Jorge da Mina, coroado por uma alta torre e envolvido por uma grande muralha. Dentro do recinto ergueram-se casas para a guarnição, constituída por Azambuja e mais 60 homens e 3 mulheres, tendo restantes membros da expedição voltado a Lisboa". (SERRÃO, 1994, p. 84).

A primeira fortaleza a ser construída na África pelos portugueses fora a Fortaleza de Arguim em 1448, logo, parte da arquitetura do Castelo de São Jorge da Mina, fora inspirada nessa, embora a fortaleza de Arguim não possuía torres. A função do castelo era resguardar a feitoria da Mina e os domínios comerciais dos portugueses naquela região, além de servir como base de apoio para o comércio no golfo da Guiné, tanto nas ilhas como no continente, e ponto de apoio para as futuras expedições. 

A Costa da Mina também ficou conhecida em parte como a Costa dos Escravos, devido ao fato de ter sido um dos principais portos do comércio escravocrata empreendido pelos portugueses. Nesse caso, devo fazer a ressalva que não foram os portugueses que introduziram a escravidão na África, a mesma já era conhecida e praticada por todo o continente há vários séculos, logo, quando os portugueses chegaram a essa região entre outras, já havia um comércio de escravos, dessa forma, os portugueses só precisavam ir até as "feiras de trato", como também eram conhecidas, para comprar escravos, depois os embarcavam nos navios negreiros e os enviavam para suas colônias no mundo. Nesse caso, foi a partir do século XVII que o tráfico negreiro se intensificou, onde Portugal traficava escravos para a Europa, Américas, Ásia e outros locais da África.


O fato de importar escravos da Costa dos Escravos se tornou tão habitual, que nos mercados do Brasil, era comum ouvir os mercadores de escravos, falarem em "negros da Guiné" e "negros da Mina", como forma de se referir a procedência dos mesmos, embora que não necessariamente tais homens e mulheres tenham nascido naquelas terras, já que era comum "caçar" escravos nas regiões vizinhas, especialmente em aldeias e vilas. 

A importância da Mina fora tamanha que em 15 de março de 1486 o rei D. João II expediu um documento elevando o Castelo de São Jorge da Mina, a condição de feitoria para cidade, assim o mesmo se tornou a primeira cidade portuguesa da África. No século XVII, os holandeses conquistaram o castelo e parte da região. 

O castelo de São Jorge da Mina retratado num mapa holandês de 1572.
As ilhas de São Tomé e Príncipe (1471)

Também descobertas por João de Santarém e Pêro Escobar, as ilhas posteriormente passaram a serem colonizadas, se tornando também centros produtores de açúcar e pimenta na região e do tráfico de escravos, já que servia como porto de passagem para navios que vinha do Congo e da Angola em direção a Mina ou ao contrário, ou como posto de parada antes da longa viagem para o Brasil. 

"As ilhas de São Tomé e Príncipe formavam o quarto arquipélago que Portugal encontrou no roteiro atlântico. A sua distância da Metrópole não permitia estabelecer um plano imediato de colonização, devido à falta de mão-de-obra para desenvolver as suas potencialidades. A construção de São Jorge da Mina contribuiu para atrasar um projecto da coroa nesse sentido. Mas uma década passada sobre o descobrimento, já D. João II podia, em 14 de setembro de 1485, isentar os primeiros colonos de pagar tributo pelos bens que possuíam na Metrópole". (SERRÃO, 1994, p. 85).

Mapa das ilhas de São Tomé e Príncipe
Devido ao baixo número de colonos, a população era composta por escravos, e também por prisioneiros de Portugal, já que por alguns anos as ilhas serviram como local de deportação de certos prisioneiros, os quais passavam ali a trabalharem incondicionalmente. Em 1493, o rei nomeou Álvaro de Caminha, capitão-mor de São Tomé, e após tal fato as relações entre a Metrópole e a capitanias melhoraram, já que o rei passou a dar maior atenção as necessidades dos colonos nas duas ilhas. Não obstante, no século XVI, São Tomé e Príncipe se tornaram um dos principais produtores de açúcar da África, além de também cultivarem laranjas, limões e outros frutos, como também estarem ligados ao tráfico negreiro. 

Atualmente ambas as ilhas compreendem a República Democrática de São Tomé e Príncipe, a qual ganhou sua independência de Portugal em 1975, e hoje sua língua oficial ainda é o português.

Congo e Angola (1482-1485)

As notícias de que haviam ainda terras para o sul, ao mesmo tempo animaram e desanimaram o intrépido D. João II, o qual estava ansioso em descobrir o fim do continente africano e se chegar ao Oceano Índico e alcançar as Índias e se possível o Reino de Prestes João. De acordo com mapas da época, embora acreditasse que o planeta fosse plano, nos mapas retratavam que os continentes conhecidos ficavam no centro desse plano, rodeados pelos oceanos, assim, já se sabia que havia uma forma de se chegar as Índias por via marítima, porém se desconhecia o caminho e a distância. 


Rei D. João II de Portugal, conhecido por ser um dos grandes investidores nas expedições marítimas e da Era dos Descobrimentos.
O responsável pelas descobertas do Congo e de Angola foi o navegador Diogo Cão, um nome que por vários anos ficou renegado e esquecido na história portuguesa, devido há alguns problemas históricos que envolviam o seu misterioso sumiço, já que após 1485, não se fazem mais menções ao seu nome, pois acredita-se que tenha morrido nesse ano; no entanto outros historiadores sugerem que Diogo só veio a falecer em Portugal, tempo depois, mas não se sabe o motivo desse seu anonimato.

De acordo com o historiador Damião Peres, em 31 de agosto de 1482, Diogo Cão e sua tripulação deixaram Lisboa e partiram para a Mina, de lá seguiram até o cabo Catarina, última fronteira marcada pelos portugueses, e fora além desse, chegando a foz de um rio, o qual fora chamado de Padrão, depois rebatizado para Zaire e depois Congo, em referência ao nome daquela região dado pelos nativos.


Extensão do Rio Congo, o segundo maior rio da África. Entre fins de 1482 e começo de 1483, o português Diogo Cão chegou a foz do rio.
Chegando a essa região chamada de Reino do Congo ou Kongo, Diogo ficou sabendo que havia um poderoso rei que governava aquelas terras, e era conhecido pelo título de manicongo ("senhor do Congo"). A fim de realizar um contato amigável e pacífico, Diogo Cão escolheu alguns marinheiros e lhes deu mercadorias para serem oferecidas como presente ao monarca, dessa forma, tais homens foram desembarcados e guiados por nativos, seguiram viagem para M'Banza Kongo, a capital do reino. Porém, Diogo Cão não ficou para esperar o retorno de seus mensageiros, e decidiu prosseguir viagem. 


O Reino do Congo e alguns reinos vizinhos
"Porém, como os companheiros tardassem na volta, o comandante seguiu viagem e foi até o cabo do Lobo, actual Santa Maria, onde afixou o padrão de Santo Agostinho. Avançando mais ainda, Diogo Cão atingiu a Lucira Grande, a que pôs o nome de angra de João de Lisboa, crê-se que por haver sido este nauta o primeiro a descer em terra. A viagem teria conduzido ao descobrimento do litoral do território que veio a ser Angola". (SERRÃO, 1994, p. 87).

Na época que Diogo Cão chegou a essas terras no norte da atual Angola, essa região fazia parte do Reino do Congo, no entanto, havia o Reino de Ndonga e o Reino de Matumba, que possuíam domínios sobre o atual território da Angola. No século XVI tais reinos foram subjugados ao governo português, formando o Reino de Angola. 


Em verde os domínios portugueses em Angola
Tendo chegado até a angra de João de Lisboa, Diogo decidiu retornar para o Congo, a fim de buscar seus marujos e saber se  os mesmos haviam feito contanto com o manicongo. Mas quando retornou ao local onde havia deixado seus homens, os mesmos não haviam retornado ainda. Sem querer esperar mais, Diogo convenceu alguns congolenses a irem com ele para Lisboa, e assim se procedeu, e em 1484, ele retornou para Portugal, onde disse para o rei que havia descoberto novas terras e acreditava está próximo de chegar ao fim do continente. 


Ao centro de braço levantado, Diogo Cão, se pronunciando aos congolenses.
Os congolenses foram bem recebidos e bem tratados na Corte, e no ano de 1485, Diogo retornou para o Congo, lá ele reencontrou seus marujos, os quais haviam vivido esse tempo na Corte do manicongo, assim teve início a uma relação amistosa entre os dois reinos. Posteriormente foram enviados missionários para o Congo para darem início a pregação do cristianismo naquelas terras, e em 1509 o manicongo Nzinga-a-Nkuwu converteu-se ao cristianismo e adotou o nome de D. João I do Congo. Posteriormente os reis que o sucederam também passaram a seguir o cristianismo e a usarem nomes cristãos. A capital, M'Banza Kongo fora rebatizada para São Salvador do Congo

Dando continuidade a sua viagem, Diogo Cão chegou ao Cabo Padrão (hoje Cabo Cross), ao Cabo Negro e a Serra Parda, último local alcançado antes de seu regresso em 1486 para Lisboa. Tais locais hoje ficam no atual território da Namíbia. Entretanto, embora os portugueses tenham descoberto tais localidades, a Coroa não quis para si o domínio desses locais, devido principalmente ao clima árido da costa namibiana devido a proximidade do deserto do Kalahari


Costa da Namíbia em uma imagem do Google Earth, onde é possível identificar alguns locais visitados e avistados pela expedição de Diogo Cão em 1485-86. Acredita-se que o mesmo tenha chegado até a atual Ponta Farilhões.
No entanto, algumas versões dizem que ele acabou adoecendo na viagem e faleceu na Serra Parda, outras dizem que ele morreu no navio enquanto estava à caminho de volta; outros apontam que ele morreu na ilha Ano Bom próximo a São Tomé. De qualquer forma, embora seu nome tenha ficado renegado na história, hoje ele voltou a receber seu mérito por ter liderado tais expedições, que contribuíram para Bartolomeu Dias chegar no Oceano Índico poucos anos depois.


O esforço é grande e o homem é pequeno
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno 
E para diante naveguei. 
...
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.

Estrofes I e III do poema Padrão, Fernando Pessoa.


A expedição de Bartolomeu Dias (1487-1488)


Bartolomeu Dias
"Compreende-se assim a determinação do rei português em aproveitar os benefícios resultantes das viagens de Diogo Cão. No ano de 1487 ordenou a aparelhagem de uma frota, com a nau S. Cristóvão, a caravela S. Pantaleão e um barco de apoio, para que nomeou comandante Bartolomeu Dias. Além de ser patrão na nau régia, conhecia bem a navegação do Atlântico, já estivera em missão no Castelo da Mina e usufruía a confiança do monarca como um dos seus melhores servidores". (SERRÃO, 1994, p. 89).

Bartolomeu Dias (1450-1500) era irmão de Diogo Dias, outro experiente navegador. Sobre seus antepassados pouco se sabe, mas acredita-se que possa ter sido descendente de Dinis Dias, um dos escudeiros do rei D. João I. Sabe-se que Bartolomeu serviu na Mina, em Cabo Verde e empreendeu outras viagens de Portugal a Costa da Mina, assim em 1487, D. João II estava confiante em o escolhê-lo por sua reputação e bom trabalho, para liderar uma expedição até o fim da África e encontrar de vez a rota para o Índico.

"Para o ajudarem na empresa, a coroa escolheu três pilotos conhecedores dos mistérios do oceano - Pêro de Alenquer, Álvaro Martins e João Santiago - assim, como dois nautas experientes, Diogo Dias e João Infante". (SERRÃO, 1994, p. 89).

Antes de Dias partir em viagem, D. João II enviou dois embaixadores, Afonso de Paiva e Pêro de Covilhã para o Oriente, sendo que Paiva fora incumbido de chegar ao Reino de Prestes João, que na época acreditava-se ser a Etiópia, devido a grande quantidade de cristãos que ali habitavam; não obstante, Covilhã seguiria para mais longe, indo para a Costa de Malabar no oeste da Índia. Ambas as missões tinham propósitos políticos, já que não foram enviados muitos homens e soldados, ao mesmo tempo, o rei queria sondar essas regiões para uma futura viagem de Bartolomeu Dias, depois que o mesmo descobrisse o acesso ao Índico, pudesse saber se em tais locais seria bem recebido e onde se localizavam os melhores mercados de especiarias. 

No final de agosto de 1487, as três naus deixaram Lisboa rumo ao fim da África, e em novembro do mesmo ano já haviam passado da Serra Parda na Namíbia descoberta por Diogo Cão, e continuaram a ir para o Sul. Em dezembro fora descoberto a Serra de Santa Bárbara, o Golfo de Santa Maria (atual Walwisch Bay na África do Sul), o Golfo de São Tomé, o Golfo de Santa Vitória (atual Hotentot Bay), e no dia de véspera de Natal chegaram a Angra das Voltas, onde passaram o natal daquele ano. Passado o dia natalino, em 26 de dezembro eles chegaram ao Golfo de Santo Estevão (atual Elizabeth Bay), e no dia 31, chegaram a terra de São Silvestre. Todas essas localidades, se encontram atualmente na África do Sul. 


Rota de ida e de volta realizada pela expedição de Bartolomeu Dias
No dia 6 de janeiro de 1488, fora avistado a Serra dos Reis, porém uma repentina tempestade tirou as três naus do curso, mas por sorte, eles conseguiram recuperar o percurso e acabaram retornando a costa e avistaram um cabo, que fora batizado de Cabo das Tormentas, devido ao fato ocorrido. No entanto, posteriormente, o rei D. João II não gostou desse nome, e o mudou para Cabo da Boa Esperança, tal nome se conserva até hoje, e fica localizado na atual Cidade do Cabo (Cape Town). 


O antigo Cabo das Tormentas, hoje Cabo da Boa Esperança, África do Sul. Em 1488, tal cabo fora avistado por Bartolomeu Dias e sua tripulação.
Retornado para a segurança próxima a costa, Dias continuou com a viagem e chegou posteriormente a uma angra que ele batizou de Vaqueiros (hoje Fish Bay), e em 3 de fevereiro chegaram a angra de São Brás (atual Mossel Bay), lá eles colocaram um padrão de São Gregório (os padrões eram cruzes que indicavam que aquela terra foi descoberta por Portugal). Dias depois eles descobriram a foz de um rio, que foi batizada de Rio Infante, devido ao fato de ter sido João Infante ter o batizado, pela questão de ter ido a terra tomar posse daquele local a Coroa portuguesa.

A expedição continuou a navegar pelo Oceano Índico, porém por volta de março daquele ano, a tripulação começou a reclamar; já estavam a um ano e meio viajando daquele jeito, alguns haviam morrido e outros estavam doentes, principalmente devido ao escorbuto, doença causada pela falta de vitamina C, que ataca principalmente a região da boca e afeta a cicatrização; assim devido, ao cansaço, a saudade e as doenças, Bartolomeu Dias foi convencido por seus homens a regressar para casa, e em dezembro de 1488, ele deu a boa notícia para o rei D. João II, o caminho para o Índico havia sido encontrado, a rota para as Índias era uma questão de tempo. E tempo fora mesmo o que aconteceu, já que apenas dez anos depois que uma viagem para as Índias via o oceano fora empreendida de fato. Antes de isso acontecer, um certo navegador genovês passou por Portugal dizendo que poderia chegar as Índias viajando-se para oeste, através do Atlântico.


Jaz aqui, na pequena praia extrema, 
O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,
O mar é o mesmo: já ninguém o tema!
Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

Epitáfio de Bartolomeu Dias, Fernando Pessoa.

Colombo, o Novo Mundo e o Tratado de Tordesilhas


Cristóvão Colombo
Cristóvão Colombo (1451-1506) ainda é um homem de passado controverso, muitas hipóteses questionam se ele realmente nasceu em Gênova, ou teria nascido em Portugal ou Espanha. De qualquer forma, a historiografia aceita, diz que Colombo nasceu em 1451 em uma cidade portuária da República de Gênova, sendo filho do mercador de lãs Domenico de Columbo. Sabe-se também que Cristóvão tinha um irmão mais velho, chamado Bartolomeu o qual era cartógrafo e trabalhou alguns anos em Portugal. Acerca de sua infância muito é desconhecido, mas acredita-se que desde sua adolescência já viajasse junto com o pai, para Espanha e possivelmente Portugal ainda nessa época. Por volta de 1470 ou 1471, Cristóvão se mudou para Portugal, indo morar na ilha de Porto Santo no arquipélago da Madeira. Sobre tal data ainda existem divergências; cronistas da época apontam diferentes datas para a mudança de Colombo de Gênova para Portugal, logo as datas variam de 1470 a 1477, e outros dizem que Colombo não chegou a viver em Portugal, pelo menos não antes de 1481. 

Em Porto Santo, ele conheceu sua futura esposa, Felipa de Perestrelo Moniz, filha do capitão-mor de Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo. Colombo passou a trabalhar por alguns anos em Porto Santo e na Madeira e por volta de 1479 casou-se com Felipa e dois anos depois nasceu o primeiro filho do casal, Diogo. A família se mudou para o Funchal na ilha da Madeira, de onde posteriormente se mudaram para Portugal. 

De acordo com relatos do próprio Colombo, no ano de 1481 este viajou para o golfo de Guiné indo visitar o Castelo de São Jorge da Mina, além de outras localidades da região, tal fato prova que Colombo já estivesse familiarizado com as expedições portuguesas e as descobertas realizadas. Alguns historiadores acreditam que Colombo possa ter conhecido Diogo Cão nessa época. Mas, enquanto Diogo Cão prosseguia com suas viagens, como já fora mostrado aqui, Colombo retornou para Lisboa a fim de procurar o rei D. João II e lhe mostrar a sua proposta: uma rota ocidental para as Índias, cruzando o Oceano Atlântico. 

Colombo já vinha alguns anos estudando mapas e teorias geográficas para fundamentar sua própria teoria. Uma de suas principais influências fora a projeção feita pelo astrônomo, matemático e geógrafo italiano Paolo Toscanelli (1397-1482), o qual em suas pesquisas fundamentava que a Terra fosse esférica e que era assim possível chegar-se as Índias navegando pelo Atlântico rumo ao Poente. Uma das bases para a teoria de Toscanelli advieram dos relatos de Marco Polo (1254-1323) sobre suas viagens e estadia na China e no extremo oriente, assim na projeção representava a China, o Japão e as ilhas mencionadas na descrição de Polo.
Projeção de Toscanelli, mostrando que era possível chegar-se as Índias navegando pelo Atlântico em direção ao Poente. Tal mapa inspirou e incentivou Cristóvão Colombo em realizar sua missão.
Quando Colombo fora apresentar sua teoria e o mapa de Toscanelli ao rei D. João II, tais hipóteses não eram desconhecidas pelo rei naquela época. Fernando Martins de Reriz era amigo de Toscanelli e em 1476 já havia enviado uma carta deste para o então rei D. Afonso V, o qual não deu atenção a teoria do italiano. Posteriormente quando Colombo se apresentou, D. João II, também não deu muita atenção as ideias do navegador, os motivos não são bem claros, já que de fato Portugal empreendia expedições pelo ocidente do oceano, tentando encontrar novas ilhas e terras, porém acredita-se que o resultado da viagem de Diogo Cão quando o mesmo retornou em 1483, avivou ainda mais a esperança de se está próximo do fim da África, e logo cada vez mais perto do Oceano Indíco e a rota para as Índias. 

Por volta de 1485, cansado de esperar, Cristóvão Colombo mudou-se com a família para Castela, a fim de pedir ajuda ao rei Fernando de Castela para concretizar o sonho de sua expedição, no entanto, o rei estava mais interessado e ocupado com as guerras da Reconquista e com a unificação dos reinos hispânicos no que com projetos de navegação. Colombo relutou várias vezes ao rei, a nobreza e a burguesia mercantil que alguém o patrocinasse, foi até chamado de louco por muitos. Em 1488, Bartolomeu Dias retornou a Lisboa trazendo a notícia de que havia chegado ao fim da África e alcançado o Oceano Índico. Ainda no mesmo ano, D. João II enviou uma carta para Colombo o convidando a voltar para Portugal e trabalhar para a Coroa, participando da próxima expedição que seguiria a rota descoberta por Dias em direção ao Índico e de lá para as Índias. Colombo recusou a oferta. 

Quatro anos depois, em 1492 a vez de Colombo havia chegado. Os mouros haviam sido expulsos de Granada, o último reduto islâmico na Ibéria, e os reinos hispânicos foram unificados sobre as coroas de Fernando de Castela e sua esposa, Isabel de Aragão, os quais passaram a serem chamados de Reis Católicos. Devido a afeição da rainha pelos trabalhos de Colombo na Corte, ela deu-lhe um voto de confiança, e logo o rei fez o mesmo, e assim lhe ofereceram três navios e uma tripulação para partir ao Poente e chegar as Índias. 


Saindo do Porto de Palos, Evaristo Dominguez.
Em 3 de agosto partindo de Palos de la Frontera, Colombo seguiu com seus três navios em direção ao desconhecido. Em 12 de outubro de 1492, fora avistado terra, e Colombo aportou numa ilha que fora batizada por ele de San Salvador (hoje Bahamas). Acreditando que aquela terra fosse nas Índias, ele chamou os nativos erroneamente de índios

Em 1493, Colombo retornou para a Espanha trazendo a grande novidade, havia chegado as Índias, embora que posteriormente ele começou a questionar se realmente aquelas terras eram as Índias ou um "Novo Mundo". No mesmo ano, os Reis Católicos trataram de oficializar sua descoberta e pedir a benção do papa para continuar a exploração daquelas terras e levar a palavra de Deus para aqueles pagãos. 

Entre 3 e 4 de maio, o então papa Alexandre VI, patriarca da família Bórgia, assinou a bula Inter Coetera, expedindo um limite formal entre os domínios portugueses no Atlântico e as novas terras descobertas por Colombo no ano anterior. De acordo com os limites estipulados pelo papa, a linha fronteiriça ficaria estipulada a 100 léguas de distância das Ilhas Canárias, possessões espanholas no Atlântico, em contrapartida, era vetado aos espanhóis explorarem a rota oriental descoberta por Bartolomeu Dias. Porém, o rei D. João II não gostou da questão envolvendo o limite fronteiriço a 100 léguas das Canárias, então ele decidiu elaborar uma nova proposta.

Devido a falta de mais documentos ainda fica vago alguns pontos que envolvem a assinatura do Tratado de Tordesilhas, a resposta do rei português a proposta do papa aos Reis Católicos. Ainda hoje não se sabe ao certo até onde ia o conhecimento de Portugal acerca da possibilidade da existência de terras ao sul de onde Colombo havia chegado, teria sido mera sorte, ou uma jogada arriscada? Ou Portugal de alguma forma já suspeitava de haver terras no que hoje é a América do Sul, daí propor uma revisão nos limites fronteiriços da bula papal?

"Nenhum outro acordo entre os Estados modernos revestiu da importância histórica do Tratado que assinou, na vila castelhana de Tordesilhas, a 8 de junho de 1494. As coroas de Castela e Portugal reconheciam a necessidade a política dos descobrimentos que mais convinha aos seus interesses nacionais". (SERRÃO, 1994, p. 135).

Na visão de Serrão [1994] o Tratado de Tordesilhas fora uma saída pacífica entre Portugal e Espanha para se evitar uma guerra pela disputa das terras do Novo Mundo, já que alguns membros da expedição levada por Colombo eram portugueses; de acordo com alguns cronistas portugueses, Colombo viveu pelo menos 14 anos em Portugal, serviu a Coroa em viagens marítimas; e de certa forma, parte do conhecimento adquirido pelo mesmo adveio de seus anos morando e estudando em solo português; não obstante, D. João II alegava as viagens empreendidas para o ocidente, no que resultou na descoberta dos Açores. 

Assim, para se evitar um impasse entre as duas nações, já que de certa forma foram os espanhóis que ficaram com a fama de "descobridores da América", embora não fossem os primeiros ali a chegar, já que os Vikings haviam feito isso quase cinco séculos antes. A assinatura do tratado foi a melhor saída naquele momento. 

"No dia 14 de agosto de 1493 chegavam a Barcelona os dois enviados régios, o doutor Pedro Dias e o cronista Rui de Pina: Levavam poderes para transmitir aos Reis Católicos o ponto de vista português, a propor a fixação da linha divisória a 250 léguas a oeste das Canárias ou de uma ilha de Cabo Verde. A resposta dos Reis Católicos ficou subordinada ao parecer técnico que, no dia 5 de setembro, solicitaram de Cristóvão Colombo, quanto à fronteira marítima a estabelecer. No mês de novembro chegavam a Lisboa os delegados castelhanos D. Garcia de Carvajal e Perlo de Aiala, cuja missão não conduziu logo aos fins desejados". (SERRÃO, 1994, p. 138). 


Em roxo pontilhado a divisão da bula Inter Coetera (1493); em roxo a divisão proposta pelo Tratado de Tordesilhas (1494) e em verde a divisão do Tratado de Saragoça (1529).
A proposta portuguesa acabou pulando de 250 léguas para 370 léguas, passando a usar como marco referente a ilha de Santo Antão no Cabo Verde, assim em junho de 1494, o rei D. João II e sua comitiva seguiram para Tordesilhas onde encontraram os Reis Católicos e sua comitiva, e lá embora pela grande mudança sugerida pelo rei português, os Reis Católicos aceitaram, e por fim, fora assinado o Tratado de Tordesilhas, o qual permitia os portugueses apenas explorarem as terras que estivessem dentro dessa marca, que por coincidência ou já planejado, veio a ser a costa do futuro Brasil. 


Folha de rosto do Tratado de Tordesilhas (1494).
Além dessa mudança da delimitação dos limites, os acordos chegados anteriormente na bula papal, reconhecendo a exclusividade espanhola em explorar as terras descobertas por Colombo, e a exclusividade portuguesa com o caminho de Bartolomeu Dias, permaneceram. Em 1506, o papa Júlio II reconheceu oficialmente os desígnios propostos em Tordesilhas, porém os problemas não acabaram por aí. Devido ao fato de não saberem na época as reais proporções do planeta, muitos geógrafos e cartógrafos contestaram até onde ia os limites estipulados por Portugal no tratado, havendo variações para mais e para menos do que fora delimitado. De qualquer forma, no século XVII Portugal já havia quebrado o tratado, adentrando cada vez mais pelo interior da América do Sul.

Não obstante, até o fim da vida, Cristóvão Colombo retornou mais três vezes para o Novo Mundo, o qual passou a se chamar América devido ao navegador, cartógrafo, mercador e cosmógrafo italiano Américo Vespúcio (1454-1512), o qual navegou pela América Central e do Sul, descrevendo as suas costas. Não obstante, Vespúcio já era consideradamente respeitado na época, e somando-se a isso, Colombo acabou sendo acusado por mau conduta em seu cargo de governador no Novo Mundo, além de receber acusações de corrupção, descaso, abuso de autoridade, etc., o mesmo acabou sendo preso e deportado para a Metrópole, não chegou a ser condenado a prisão, mas perdeu seus títulos e posses na América, e até mesmo o título de descobridor da América fora lhe negado, já que por alguns anos constou nos documentos oficiais o nome de Américo Vespúcio como o descobridor daquelas terras. 

Mas se por um lado Colombo acabou tendo esses problemas com a Corte espanhola, em Portugal seu grande herói permaneceria com sua fama pelo resto dos séculos, Vasco da Gama.

As viagens perdidas: 1491-1494?

Após todo o rebuliço envolvendo a descoberta de Colombo, a bula Inter Coetera e o Tratado de Tordesilhas, em 1495 o rei D. João II, o "Príncipe Perfeito", como ficou conhecido, veio a falecer aos 40 anos antes de poder concretizar seu grande sonho de enviar uma expedição às Índias. Seu herdeiro, D. Afonso, havia falecido aos 16 anos devido a uma queda de cavalo próximo ao rio Tejo, entretanto, o rei possuía um filho bastardo, chamado Jorge, mas a rainha Leonor fez de tudo para que o bastardo não se torna-se o herdeiro, assim, pelo fato de não possuir outros filhos varões ou irmãos, a sucessão recaiu para o parente homem mais próximo do rei, seu primo e cunhado D. Manuel, irmão de sua esposa. 
D. Manuel I, o Venturoso. Rei de Portugal de 1495 a 1521. Fora sob seu governo que ocorreu a descoberta do Brasil e se deu início a ocupação dos territórios na costa oriental africana e na Ásia. 
Devido a todo incidente recente, D. Manuel I decidiu adiar os planos para a expedição às Índias. Hoje ainda se contesta se D. João II já tivesse preparado tudo, e apenas coube a seu sucessor dá a permissão de partirem. No entanto, existem alguns relatos que indicam que antes de D. Manuel ordenar a viagem de Vasco da Gama em 1497 para as Índias, D. João II teria realizado algumas missões ultramarinas, enviando navios até a costa oriental africana, seguindo a rota descoberta por Bartolomeu Dias. Porém, ainda hoje tais afirmações são contestáveis. 

Na mesma época que Dias partiu em sua viagem, como já fora apontado, o rei enviou dois embaixadores para o Oriente, Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, nesse caso pelos anos seguintes, Pêro e Afonso viajaram pela África e pela Ásia, a Covilhã coube conferir os negócios na Índia, coletando informações dos produtos ali comercializados e produzidos; os melhores mercados para se comprar e vender determinadas mercadorias, e as rotas de viagem pelo Índico.

Enquanto isso, Afonso sondava a situação do mercado no Mediterrâneo oriental, e as relações políticas no Egito. Posteriormente, como Covilhã apontou em seu relato, ele teria viajado por volta de 1490 para a África onde seguiu viagem até a Etiópia, porém ele disse que aquele não seria o Reino de Prestes João; no entanto, ainda continuou a viajar pela costa oriental, visitando as cidades mercantis, tendo chegado até Sofala, no sul do continente, a última parada dos navios árabes na África. Sofala era conhecida por receber carregamentos das minas de ouro do Império Monomotapa

Então, de volta ao Egito, ele escreveu uma carta ao rei, relatando suas descobertas e apontando as cidades onde os portugueses poderiam encontrar ajuda para chegarem a Índia. Em seu relato, ele faz menção a cidade de Sofala, Moçambique, entre outras. Mas, embora tenha escrito essa carta, não foram encontrados documentos reais que comprovem que D. João II tenha enviado uma expedição após 1488.

Porém, outro relato sugere que tal expedição realmente aconteceu. Um certo piloto árabe chamado Ahmed-ben-Madjid, o qual ajudou Vasco da Gama em 1497, como será visto mais a frente, relatou em seus diários e memórias, que entre 1493 e 1494, foram avistados no sul do continente, navios portugueses, e que um desses navios teria naufragado na costa de Sofala. Entretanto, nos documentos portugueses não se encontra nada a respeito disso. Teria o rei ordenado a destruição de tal relato, para não esboçar o fracasso da expedição? O simplesmente tais documentos se perderam no tempo?

O Caminho das Índias (1497-1499)

De qualquer forma, a primeira expedição para as Índias, curiosamente não contou com Bartolomeu Dias, o descobridor da rota para o Índico, algo que muito provavelmente o magoou e o aborreceu, já que o mesmo deveria esperar tal mérito. Em 1494, D. João II já realizava os preparativos para a viagem, tendo nomeado Estevão da Gama (1430?-1497), pai de Vasco. Entretanto, o rei faleceu no ano seguinte e Estevão morreu dois anos depois. Em seu lugar, o rei D. Manuel I, nomeou seu filho, Vasco da Gama (1460/1469-1524), o qual contava com apenas 28 anos. 

Não obstante, Vasco era um antigo amigo do rei Manuel, desde infância, provavelmente esse fora um dos fatores de sua escolha, embora que Vasco também já fosse reconhecido como um bom navegador e profissional. Outro fato a sublinhar, é que embora seu pai tenha sido nomeado capitão dessa missão, por costume de Portugal, a tarefa teria que ser atribuída ao filho mais velho de Estevão, o qual era Paulo da Gama, porém, o rei escolheu Vasco, que era alguns anos mais novo.

Assim, o rei em 1496 tratou de organizar os preparativos da viagem, a expedição fora composta por três naus chamadas São Gabriel, São Rafael e Bérrio, e um quarto navio, sendo este de carga, o qual se desconhece o nome. As três naus eram bem maiores do que as usadas por Bartolomeu em sua viagem, São Gabriel e São Rafael foram construídas naquele ano, se utilizando a melhor madeira do reino, já a Bérrio fora comprada de um rico mercador. A tripulação total fora estimada em 150 homens, sendo que quando se chegasse ao Oceano Índico, o navio de carga ou naveta, seria incendiado e descartado, passando a tripulação e os mantimentos destes para os demais. 


As três naus da armada de Vasco da Gama. Ilustração do "Roteiro da Viagem" de Álvaro Velho.
Assim, Vasco da Gama seguiu viagem à bordo da São Gabriel, tendo como piloto, o experiente Pêro de Alenquer; na São Rafael, o capitão era Paulo da Gama e o piloto João de Coimbra; na Bérrio, o capitão era o experiente Nicolau Coelho e o piloto Pêro Escobar, o qual já havia viajado com Bartolomeu e Diogo Cão. Por fim, na naveta, o capitão era Gonçalo Nunes e Afonso Gonçalves o seu piloto. 

"A armada saiu do Restelo no dia 8 de Julho de 1497. Nos quatro navios seguiam cerca de 150 homens, entre marinheiros e soldados. O que sentiriam? Orgulhosos por serem os primeiros a dirigirem-se à Índia por mar? Medo de não chegarem lá? Saudades da família, que não sabiam se tornavam a ver? Talvez de tudo um pouco lhes revolvesse a alma. [...]. O rei D. Manuel I assistiu à largada e com ele imensa gente. A corte, muitos padres, centenas de homens, mulheres e crianças. Alguns choravam, outro pediam a Deus que a viagem terminasse bem". (ALBUQUERQUE; MAGALHÃES; ALÇADA, 1992, p. 21-22.

Sabe-se que no mesmo dia, também partiu em outro navio, Bartolomeu Dias, o qual ia em viagem para à costa da Mina. Provavelmente fora uma cena que o mesmo teve que engolir a seco. De qualquer forma, alguns se perguntaram depois do porquê Portugal tentar ir as Índias, para que se empreender tão longa e perigosa viagem, se o comércio e as riquezas advindas da África já lhe traziam lucro? Para muitos historiadores a resposta era simples: ambição, cobiça e ego. Colombo havia descoberto o Novo Mundo, logo os espanhóis ganharam muito prestígio, e os portugueses não se quiseram ver diminuídos. 

A bordo de cada navio havia um escrivão para realizar os relatos da viagem, sendo estes, Diogo Dias, João de Sá, Álvaro de Braga e Álvaro Velho. No entanto, de todos, fora Velho o mais assíduo relator da viagem, escrevendo em alguns momentos pormenores da jornada. Baseado nos relatos dos mesmos, sabe-se que após passarem pelas Canárias, a armada fora pega em um nevoeiro o que fez os navios se dispensarem, entretanto prevendo que isso poderia vim a ocorrer, o capitão Vasco acertou com os demais capitães, que em caso de isso acontecesse, eles deveriam se reencontrar na ilha de Santiago em Cabo Verde, e assim o fizeram dias depois. 

Lá permaneceram poucos dias, reparando os navios e os reabastecendo, então voltaram a seguir viagem. De acordo com o relato de Álvaro Velho, nos três meses seguintes não se avistou terras, já que a rota escolhida por Vasco da Gama cruzava o oceano a uma distância bem grande da costa africana, diferente da viagem de Bartolomeu Dias. Segundo, consta no relato, o capitão assim decidiu o percurso, pois acreditava evitar os ventos contrários que sopravam do sul. Porém, a escolha de tal trajeto, os fez navegar a meio caminho da América do Sul, da costa do Brasil.

Então após esses meses de viagem, terra fora avistada, e a armada  aportou em uma baía que fora batizada por Vasco, de Santa Helena. Tal baía hoje fica localizada na África do Sul, antes do cabo da Boa Esperança. Lá eles encontraram alguns nativos e os convidaram a vir a bordo, lhes oferecendo comida e presentes, em troca, Vasco perguntou se os mesmos sabiam sobre a existência de minas ou de especiarias na região, nada eles disseram, de qualquer forma, foram bem tratados assim. De lá eles retomaram viagem, passaram pelo cabo da Boa Esperança e aportaram na angra de São Brás, descoberta por Bartolomeu eu sua expedição uma década antes.

Na angra eles encontraram mais nativos e lá fizeram contatos amistosos, trocando presentes entre si. Sabe-se que pelo relato, os portugueses compraram um boi dos nativos e fizeram um churrasco, enquanto os nativos trouxeram instrumentos musicais e começaram a cantar e dançar. Nessa altura da viagem, a naveta havia sido incendiada, quando eles chegaram de fato ao Índico por volta do mês de dezembro. Prosseguiram viagem ao longo da costa, mas não pararam para aportar até o dia de Natal, quando avistaram terra e o capitão a batizou de Natal. Posteriormente eles pararam em terra novamente, próximo a um rio que chamaram de rio Cobre, que hoje é o atual Inharrime ou Inhambane no sul de Moçambique. Nas proximidades haviam vilas, e lá os portugueses foram bem recebidos, tal fato levou a chamarem o local de terra da Boa Gente ou da Boa Paz

Alguns marinheiros como Martim Afonso chegaram até mesmo a passar a noite na casa dos nativos, sendo recebidos pelo chefe local, o qual fora bem hospitaleiro. Cinco dias depois, os ventos se tornaram favoráveis e a armada voltou a seguir viagem, dessa vez se afastando da costa, evitando-se as correntes contrárias. Tal ponto do relato de Álvaro Velho, indica a possibilidade de que Vasco e os outros capitães já conhecessem alguns aspectos daqueles mares, isso presume que os relatos de um suposto naufrágio descrito pelo piloto árabe possa ter sido verdadeiro, já que Vasco pediu para se evitar a corrente contrária que passava por parte da costa de Sofala. 

"A 22 de Janeiro, segunda-feira, voltou a soar no cesto da gávea o grito de 'terra à vista'. Marujos e grumetes debruçaram-se na amurada e observaram a mancha verde que se ia aproximando: uma planície coberta de arvoredo, um rio de boca larga e gente, muita gente". (ALBUQUERQUE; MAGALHÃES; ALÇADA, 1992, p. 30).

De acordo com os relatos da época, os habitantes locais se vestiam com panos azuis, usavam lenços de seda colorida sobre as cabeças; usavam braceletes, anéis, colares e brincos de cobre, bronze e até mesmo de joias e ouro. Conversando com os locais, foram-lhe informado que ao norte se encontraria navios mouros, logo Vasco deduziu que não deveriam está tão longe assim da Índia. Devido a boa notícia, ele chamou aquelas paragens de rio dos Bons Sinais, hoje o rio Quelimane, na região central de Moçambique. Lá eles permaneceram trinta e dois dias ancorados, realizando reparos, reabastecendo, descansando e tratando dos feridos e enfermos, principalmente vítimas de escorbuto.  

Passado esse período, eles voltaram a zarpar e chegaram a 1 de março na ilha de Moçambique. Lá eles encontraram mercadores e navios árabes, isso os entusiasmou, pelo fato de que não deveriam está tão longe da Arábia e da Índia. Devo ressaltar que os portugueses ainda desconheciam as reais distâncias dos lugares naquela região. Vasco da Gama enviou homens para perguntar acerca das rotas para a Índia e enviou presentes ao sultão da ilha, o qual em retribuição enviou-lhe dois pilotos negros para acompanhá-los pela costa africana. 

Os portugueses não se demoraram em Moçambique e voltaram a seguir viagem, chegando em 7 de abril a Mombaça (atualmente no Quênia), lá os pilotos negros, os quais eram muçulmanos aconselharam os portugueses em aportarem na cidade, já que não precisavam temer nada. Além disso, em Mombaça viviam cristãos. Porém, como homem prudente que Vasco era, achou aquilo estranho. As relações entre muçulmanos e cristãos pioraram muito desde a época das Cruzadas, então ele decidiu enviar apenas dois homens à terra, levando consigo presentes ao rei da cidade. Os homens retornaram trazendo a notícia que viram uma bandeira com o símbolo do Espírito Santo, mas Vasco duvidou daquilo; os dois também trouxeram o convite do rei para que o capitão e sua tripulação aportassem. 

Entretanto, Vasco ordenou que os navios permanecessem em mar aberto, e posteriormente decidiu partir, quando isso aconteceu, os dois pilotos negros pularam no mar e nadaram até a ilha. Segundo o relato dos escrivãs, o capitão e os demais entenderam aquilo como uma cilada dos árabes contra eles, queriam que fossem para terra firme para atacá-los. Isso serviu de lição para Vasco. 

Por volta da manhã de 15 de abril, a armada chegou a Melinde (atualmente no Quênia), lá diferente do que fora visto em Moçambique e Mombaça, o capitão decidiu ser mais cauteloso. Ele decidiu encontrar o rei de Melinde, mas em mar. O rei aceitou a proposta. Vasco e alguns homens seguiram e um batel (pequeno barco), enquanto o rei e sua comitiva vinha em seu zambuco (nome dado a um tipo de pequeno barco da região). Os dois conversaram através de seus intérpretes em mar. O rei de Melide se apresentou mais amistoso do que os outros e ofereceu um piloto árabe experiente que conhecia aquelas rotas; seu nome era Ahmed-ben-Madjid. Os portugueses permaneceram alguns dias na cidade, reparando os navios e o reabastecendo.


Em preto a rota de ida de Vasco da Gama (1497-1498). Em verde a rota da viagem de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva (1488). Em azul a rota seguida por Paiva posteriormente, e em amarelo a rota seguida por Covilhã à Índia.
No dia 24 de abril eles zarparam, tendo conseguido bons ventos e tendo a experiência de Ahmed, eles levaram apenas 23 dias para chegar a Índia. No dia 18 de maio avistaram as montanhas de Calicute, e no dia 20 aportaram no porto da cidade. Após empecilhos, desvios, paradas, ameaças; 312 dias depois de terem deixado Portugal a expedição chegava finalmente a sonhada Índia.


Em 20 de maio de 1498, a armada de Vasco da Gama chegou em Calicut na Índia.
Vasco enviou João Nunes o qual sabia falar a língua árabe para terra. Andando pelo porto ele acabou encontrando dois árabes de Túnis (atual capital da Tunísia) que sabiam falar castelhano e genovês, naquela época, muitos portugueses entendiam fluentemente o castelhano. Assim, os três conversaram, e os árabes mostraram grande surpresa por verem um português lá, ainda mais vindo pelo mar. Nunes relata que lhe fora oferecido pão com mel naquela refeição, e o sabor não poderia ser mais doce.

O mesmo retornou com seus convidados e no caminho notou que várias pessoas e barcos se amontoavam no porto, a multidão estava curiosa em ver aqueles homens de pele clara, barbudos cabeludos, usando roupas estranhas, e portando grandes cruzes vermelhas nas velas de seus navios. 

Vasco ficou sabendo que o rei de Calicute era chamado pelo título de samorim, e que o mesmo já estava sabendo da chegada deles, e queria conhecê-los pessoalmente. Assim o rei enviou um palanquim para transportar Vasco. Mas o capitão receoso de ir sozinho, levou consigo treze homens. Os portugueses foram conduzidos até o luxuoso palácio do rei, e a medida que avançavam pelo seu interior ficavam fascinados com a pujança das riquezas que ali viam. O próprio samorim, como é descrito, usava muitas joias de ouro, prata, rubis, esmeraldas, diamantes, etc.


Painel de azulejos retratando o encontro de Vasco da Gama com o rei de Calicute.
Depois de conversarem e se apresentarem, Vasco tratou de dá presentes ao rei, mas foi aí que a situação começou a se complicar. Como presentear um soberano imensamente rico?

"Os presentes que Vasco da Gama tinha para oferecer provocaram troça e desprezo. Levava ele doze panos de cor, quatro capuchos encarnados, seis chapéus, colares de coral, um fardo cheio de bacias, uma caixa de açúcar, dois barris de azeite e dois de mel. Ora para quem vivia afogado em preciosidades, esta oferta não tinha graça nenhuma. Isso mesmo disse o encarregado de negócios. Qualquer comerciante de passagem oferecia coisas melhores". (ALBUQUERQUE; MAGALHÃES; ALÇADA, 1992, p. 36-37).

Vasco tentou pedir desculpas e contornar a vergonha, porém isso não convenceu muito o samorim e sua Corte. Que tipo de rei era D. Manuel I, de se enviar homens para tão distante de casa, e consigo enviou como presentes, mixarias? De qualquer forma, o samorim permitiu que os portugueses permanecessem na cidade e pudessem fazer comércio. 

Os portugueses trataram de vender suas mercadorias e compraram principalmente especiarias como pimenta, canela e cravo. No entanto, enquanto os mesmos permaneciam ancorados no porto da cidade, comercializando no mercado, isso atiçou a inveja dos mercadores árabes, os quais temiam que os portugueses pudessem futuramente a vim serem seus concorrentes, já que haviam descoberto uma rota marítima pelo sul da África. Logo, tais mercadores espalharam boatos dizendo que os portugueses que ali chegaram, eram ladrões e piratas, isso acabou chegando aos ouvidos do samorim, e o mesmo proibiu que os portugueses deixassem a cidade sem a sua autorização.

De imediato, Vasco da Gama e os outros não entenderam o porquê daquela mudança, mas a medida que os dias se passaram o fato veio a tona. Os portugueses eram reféns dos samorins, e por três meses eles permaneceram proibidos de partirem de Calicute, se tentassem fazê-lo poderiam ser atacados. 

A solução desse impasse veio com uma estratégia simples: Vasco convidou alguns ricos comerciantes indianos a bordo, e fingiu que os tinha capturado e zarparia, levando-os como reféns, tal fato chegou aos ouvidos do samorim, e esse decidiu ouvir a proposta do capitão português. Vasco cobrou a libertação de alguns homens que haviam sido presos injustamente, cobrou a liberação de sua armada para retornar para casa e poder posteriormente retornar a Calicute afim de fazer comércio de forma pacífica. O samorim acabou aceitando e enviou uma carta pedindo desculpas ao rei D. Manuel I, e o convidando a manter as relações comerciais entre os dois reinos. 

Assim em 29 de agosto, a armada zarpou rumo de volta á Portugal. Porém, dessa vez não contaram com a ajuda do piloto Ahmed, o qual havia ido embora nesse período, isso acabou dificultando os portugueses em encontrarem a rota de volta até Melinde. Tal fato é tão evidente e marcante que até parece brincadeira. Se na viagem de ida Melinde-Calicute, eles levaram apenas 23 dias, na viagem de volta, eles levaram cerca de três meses, perdidos no mar. Isso custou a saúde e até mesmo a vida de alguns membros da tripulação. 

"Da passagem por Mombaça já nem era possível continuarem com três navios. Faltava gente para os manobrar. Queimou-se então a São Rafael e seguiram viagem as outras duas, sempre com muito cuidado para evitarem as zonas hostis". (ALBUQUERQUE; MAGALHÃES; ALÇADA, 1992, p. 39).

Chegando de volta ao Atlântico, os ventos alísios que sopravam via sul-norte, ajudaram imensamente as duas naus a viajarem com rapidez pelo oceano. Porém, antes de chegarem a arquipélago do Cabo Verde, Paulo da Gama adoeceu gravemente, Vasco preocupado com o irmão, após aportar em Cabo Verde, deu o comando da armada para João de Sá, alugou uma caravela e partiu com o irmão na frente, já que os dois navios ficariam mais alguns dias em Cabo Verde para reparo, abastecimento e descanso da tripulação. 

Mas pouco tempo depois de deixar Cabo Verde, a saúde de Paulo piorou, então Vasco temendo que o irmão falece-se no navio, pediu que mudassem a rota para os Açores. Quando chegaram a ilha Terceira, seu irmão faleceu, e ali fora sepultado. Mais de um mês depois, Vasco retornou para Portugal, sendo que seus homens já haviam chegado antes, e dado as boas notícias ao rei, sobre o sucesso da viagem. 

Vasco da Gama chegou em Portugal entre agosto e setembro de 1499, amargurado pela morte do irmão, permaneceu nove dias em Restelo orando para Nossa Senhora em um convento próximo. Nesse período, recebeu a visita de fidalgos e outros senhores, lhe parabenizando pelo retorno e o sucesso da viagem. Depois de seu tempo de luto, ele seguiu para a Corte, e lá foi recebido como um herói pelo rei D. Manuel I. Participou de festas e desfiles, recebeu uma pensão de 300$000 réis por ano, dada pelo rei; a chefia das vilas de Sines e Vila Nova das Milfontes; recebeu o título de Dom, assim como, também seu irmão Aires e sua irmã Teresa; além do direito de comercializar com a Índia, usando navios da Coroa, e sem precisar pagar impostos alguns na alfândega. 

A empolgação do rei era tanta, que ele enviou cartas aos Reis Católicos, ao papa e outros soberanos da Europa contando a novidade. Colombo pode ter descoberto o "Novo Mundo", mas Vasco da Gama encontrou "o caminho das Índias". A venda das especiarias compradas em Calicute, cobriram totalmente as despesas da viagem, e em valores de hoje, seria algo em torno na casa de centenas de milhões, o lucro conseguido. Nos anos seguintes, que os navios iam e vinham pela rota Lisboa-Calicute, Portugal se tornou a nação mais rica do continente, e Lisboa uma das mais importantes cidades da Europa. Vasco ainda voltaria posteriormente a retornar a Índia, e anos depois se tornou vice-rei dos domínios ultramarinos portugueses na Índia, tendo governado de 1522 a 1524.

Retrato de Vasco da Gama como vice-rei da Índia, 1522-1524.
Vasco da Gama, o forte Capitão,
Que tamanhas empresas se oferece, 
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Pera se aqui deter não vê razão...

Trecho da estrofe 44, do Canto I, Os Lusíadas, Luís de Camões.

No entanto, Vasco e os outros capitães contaram sobre os problemas ocorridos com o samorim e os mercadores árabes, e até mesmo disse que se fosse o caso teriam que usar a força para firmar sua autoridade na Índia. E assim, D. Manuel I, o fez. Imediatamente mandou preparar uma nova expedição para a Índia, tudo seria maior, ao invés de quatro navios, iriam treze, e ao invés de 150 homens, iriam dez vezes isso. O capitão escolhido para essa nova empreitada era o fidalgo Pedro Álvares Cabral. Mas, antes de Cabral chegar a Índia, ele decidiu fazer uma visita a América do Sul, ou teria sido por acaso?

Labrador e Terra Nova (1499-1500)

Se por um lado contesta-se a veracidade dos relatos de expedições portuguesas para o Índico após 1488, ainda no governo de D. João II, entretanto, enquanto a armada de Vasco da Gama retornava da Índia, outros quatro navegadores voltavam a Portugal trazendo notícias que haviam descoberto terras no noroeste do Atlântico, no "Novo Mundo" descoberto por Colombo, no que seria a atual América do Norte. 

Os ingleses inicialmente revogaram para si, o fato de terem descoberto Labrador e Terra Nova, por volta de 1498, tendo sido o seu descobridor, um navegador veneziano de nome João Cabot, a serviço de mercadores de Bristol. Entretanto, pesquisas posteriores desmentem tal fato. Cabot, chegou a essas terras posteriormente a essa data, mas os descobridores foram o português nascido nos Açores, chamado João Fernandes Lavrador e seu amigo Pedro de Barcelos, e os irmãos Corte Real, Gaspar e Miguel que descobriram a Terra Nova. 

Sabe-se que em 28 de outubro de 1499, D. Manuel I expediu um documento autorizando a viagem de Lavrador para  se descobrir novas terras no Atlântico ocidental. Não se sabe ao certo, se Lavrador chegou a América do Norte ainda em 1499 ou no começo de 1500, mas quando o mesmo retornou, disse que havia descoberto terras, as quais batizou de "ilha de Lavrador" ou "terra de Lavrador". O rei posteriormente confirmou a descoberta de Lavrador e esse recebeu o direito de explorar as terras que descobriu e colonizá-las. Lavrador faleceu em 1505, e alguns historiadores acreditam que tenha morrido na América do Norte, enquanto realizava outras viagens de descobrimento.

Quanto a ilha de Terra Nova (Newfondland) essa fora descoberta pela mesma época, pelos irmãos Gaspar e Miguel Corte Real, filhos do capitão donatário e navegador, João Vaz Corte Real, o qual havia realizado expedições entre 1473-1474 pelo oceano, e teria descoberto Terra Nova nessa época, porém hoje muitos historiadores contestam tal informação pela falta de fontes que a corroborem. Os filhos herdaram do pai o direito concedido pelo rei, de explorar o oceano e as terras descobertas seriam administradas por eles. 

Assim, seguindo quase que a mesma rota de Lavrador e Barcelos, eles chegaram a uma ilha de fato que batizaram de Terra Nova. Em um documento de 12 de maio de 1500, D. Manuel I reconheceu a descoberta dos dois irmãos, e estes voltaram a Terra Nova, porém na segunda viagem de Gaspar em 1501, o qual havia partido com três caravelas, seu navio acabou se perdendo dos demais, e nunca mais foi encontrado, as outras duas caravelas, procuraram em vão por ele, então retornaram para Portugal, afim de noticiar o rei. Gaspar estava ansioso em desbravar a região que ele chamou de "terra verde", embora que hoje não se saiba exatamente onde ficava tal região, se seria ou não perto de Terra Nova. 


Em verde os territórios de Labrador e Terra Nova (Newfoundland), hoje compreendem o território nacional do Canadá. Ambas as terras foram descobertas pelos portugueses entre 1499 e 1500.
Em 1502, seu irmão Miguel partiu em viagem à Terra Nova, decidido a encontrar o irmão, mas para azar do destino, este também não retornou e nunca mais fora visto. Até hoje, se desconhece o que realmente aconteceu com os dois irmãos e suas tripulações. No entanto, uma singela pista sugere, que Miguel tenha vivido alguns anos na América do Norte.

Em 1918 o professor Edmund Delaberre, descobriu inscrições em uma pedra no condado de Dighton, Massachusetts, onde eles propôs a hipótese que naquela pedra havia inscrições de origem portuguesa, indicando o nome de Miguel Corte Real e a data de 1511. Segundo consta a análise de Delaberre, e posteriormente do historiador amador Manuel Luciano da Silva, na rocha pode se ler as seguintes inscrições: 


"MIGVEL CORTEREAL V DEI HIC IND AD 1511"

Além disso, existe um símbolo que segundo os dois, lembra muito a cruz da Ordem de Cristo, a qual era comumente usada nas velas dos navios portugueses.  Porém, ainda hoje tal teoria é questionável. Outros historiadores sugerem que as inscrições contidas na rocha de Dighton, foram feitas por indígenas locais ou até mesmo pelos Vikings, já que os mesmos, cinco séculos antes dos portugueses chegarem, já haviam estado no Canadá. 


 A pedra de Digthon, Massachusetts, EUA. Acredita-se que haja inscrições nessa rocha, datadas de 1511, exibindo o nome de Miguel Corte Real, um dos descobridores da Terra Nova no Canadá. 
Entretanto, sabe-se que após a morte dos irmãos Corte Real e de Lavrador em 1505, a coroa portuguesa acabou desistindo de colonizar as terras descobertas por eles, o fato pode ser bem simples: D. Manuel I, estava mais interessado no comércio com a Índia, após a viagem de Vasco da Gama, e a extração do pau-brasil na América do Sul. Porém uma questão fica evidente nessa descoberta, o limite estipulado pelo Tratado de Tordesilhas havia sido quebrado anos antes do que se pensava, já que Labrador e Terra Nova, pelo o que consta no tratado, fazia parte dos domínios espanhóis. 

Brasil (1500)

Oficialmente o Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500 por Pedro Álvares Cabral (1467/68-1520?), quando ali chegou com doze das treze naus que partiram do Cabo Verde, no entanto, alguns relatos apontam que Cabral e seus homens não haviam sido os primeiros portugueses e europeus a chegarem naquela terra.


Duarte Pacheco Pereira
Baseado na pesquisa do professor Luciano Pereira da Silva, a partir da análise de outras fontes documentais do início do reinado de D. Manuel I, o mesmo aponta que em 1498, o rei teria enviado o navegador Duarte Pacheco Pereira (1460-1533) em uma missão especial para averiguar a existência de terras no limite delineado no Tratado de Tordesilhas e no relato de Álvaro Velho, um dos escrivãs da armada de Vasco da Gama. Segundo o relato de Velho, em 18 de agosto de 1497, enquanto haviam retomado a viagem a partir do Cabo Verde, seguindo uma rota aberta para pegar as correntes cíclicas do Atlântico sul, o mesmo relata que a tripulação avistou gaivotas voando no horizonte, logo Velho constatou que poderia haver terra para o ocidente, não muito distante, possivelmente uma ilha ainda desconhecida. A partir de tal relato, Duarte Pacheco viajou para Cabo Verde e de lá partiu para oeste, em busca de tais terras.

Segundo o relato de Duarte Pacheco, contido no livro Esmeraldo de Situ Orbis, ele e sua tripulação chegaram ao Mar das Caraíbas ou Mar do Caribe, um pouco distante das Pequenas Antilhas, região essa hoje localizada na América Central. Das Caraíbas, eles passaram perto das atuais ilhas de Trinidad e Tobago e seguiram para sul-sudeste, até que avistaram terra, e lá começaram a margeá-la rumo a leste, passando pela foz de um grande rio (provavelmente o rio Amazonas), chegando a um cabo que hoje é o atual cabo São Roque, no estado do Rio Grande Norte no Brasil. Ainda continuando o relato, a expedição de Pacheco teria cruzado este cabo e prosseguido para sul. O mesmo também relata a grande abundância de pau-brasil naquelas terras. 

O porém de se legitimar a viagem de Pacheco nessa data, é que o relato que se encontra no Esmeraldo data depois de 1505, e de fato sabe-se que Pacheco visitou a costa brasileira algumas vezes, porém não se encontram mais evidências que apoiem que o mesmo teria "descoberto" essas terras em 1498. Para outros historiadores, Pacheco realmente chegou a América do Sul, mas seu sucesso fora guardado em sigilo.

Não obstante, existem também relatos de que três possíveis expedições espanholas passaram pela costa brasileira no ano de 1499. Desde a descoberta de Colombo, os Reis Católicos nos anos seguintes trataram de aumentar o número de expedições para o Novo Mundo, a fim de mapeá-lo, assim consta em alguns relatos.

Em 18 de maio de 1499, o nobre Alonso de Ojeda, o piloto e cartógrafo Juan de la Cosa e o mercador e cartógrafo florentino Américo Vespúcio, seguiram para o Novo Mundo, através da rota da terceira viagem de Cristóvão Colombo, realizada no ano anterior. Sabe-se que a expedição chegou ao mar das Antilhas e fora para o sul, atingido o continente, no que hoje é a costa das Guianas e da Venezuela. E pelo o que consta no relato, Vespúcio teria seguido viagem para leste tendo chegado ao cabo de São Roque, porém muitos contestam a veracidade desse relato. Sabe-se que Américo Vespúcio viajou pela costa do Brasil, mas isso aconteceu anos depois. Acredita-se que a história de sua viagem  em 1499 tenha sido mesclada com fatos posteriores. 


Vincente Y. Pinzón
A segunda expedição espanhola, que teria passado pela costa brasileira foi realizada pelo navegador Vincente Yánez Pinzón, o qual partiu com destino as Antilhas, mas ventos desfavoráveis o levaram a ter que aportar em Cabo Verde, e de lá ele voltou a seguir viagem para oeste, tendo avistado um cabo em janeiro de 1500, o qual batizou de Santa Maria de la Consolácion (atualmente cabo de Santo Agostinho em Pernambuco). Pinzón teria chegado ao Brasil três meses antes de Cabral. Porém pelo o que consta, este não teria aportado em terra, mas continuou a seguir rumo ao norte, contornando o continente, até alcançar a foz do rio Amazonas e depois do rio Orenoco, e de lá seguiu para a ilha de Hispaniola (atualmente Cuba). Mesmo que Pinzón tenha avistado terras e aportado ou não, este não reivindicou tais terras para si e para a Espanha, simplesmente, passou por ali. Por fim, a terceira expedição espanhola ocorreu com Diogo de Lepe, o qual fora nomeado para comandar uma expedição ao Golfo de Pária na América Central. O mesmo teria partido de Sevilha, mas devido a problemas com os ventos acabou chegando a costa pernambucana, mais ou menos na altura de onde Pinzón passou, de lá prosseguiu para o norte até encontrar o caminho para as Antilhas. 

"À semelhança do que aconteceu a Vicente Pinzón, também a passagem de Lepe pela costa brasileira tem de considerar-se episódica, por não traduzir qualquer descoberta seguida de reconhecimento ou ocupação do local atingido. Por tal motivo, a versão de que os dois nautas da Andaluzia descobriram o Brasil não encontrou ainda a necessária comprovação histórica". (SERRÃO, 1992, p. 313). 

Independente de Pacheco, Pinzón e Lepe terem chegado ao Brasil entre 1498 e início de 1500, a oficialização da descoberta foi dada pela expedição de Pedro Álvares Cabral, e diferente do que foi proposto e ensinado nas escolas, a armada de Cabral não chegou por acaso, devido a ventos contrários que os levaram a chegar ao Brasil. Pelo contrário, a missão de Cabral foram duas: tomar posse das terras na América do Sul e chegar na Índia. 


Pedro Álvares Cabral, fidalgo, navegador, comandante militar, explorador e descobridor do Brasil.
Assim como Vasco da Gama era um nobre, estava intimamente ligado a Corte, Cabral também pertencia a nobreza, e possuía certo prestígio perante o rei D. Manuel I, tal fato lhe agraciou para ser indicado como capitão-mor na segunda viagem para as Índias. Junto a Cabral seguiram outros importantes e experientes capitães e pilotos da época, dentre os quais: Bartolomeu Dias e seu irmão Diogo Dias; Nicolau Coelho, Pêro Escobar, ambos haviam sido pilotos na armada de Gama; Vasco de Ataíde; Sancho de Tovar; Simão de Miranda; Aires Correia, entre outros. Nessa expedição também ia um escrivão de nome Pêro Vaz de Caminha (1450-1500) imortalizado na história pela carta que escreveu a D. Manuel I falando sobre as belezas naturais da terra recém descoberta.

Se levarmos em consideração esta equipe de peso e experiência, como se dizer que a armada acabou se perdendo em águas já conhecidas? Se tendo a bordo pessoas que já havia realizado a viagem de ida e de volta? Não obstante, devo ressaltar o fato de que o próprio Vasco da Gama conversou com Cabral lhe dando recomendações a se seguir na viagem. 

Em 9 de março de 1500, a armada de treze navios e 1500 homens deixaram o porto no Tejo e seguiram viagem até Cabo Verde, entretanto a nau do capitão Vasco Ataíde desapareceu simplesmente, e nunca mais fora encontrada. Acredita-se que tenha se perdido durante a noite ou num nevoeiro, mas o curioso é que a armada aportou na ilha de São Nicolau no arquipélago cabo-verdense e esperaram o navio de Vasco aparecer, mas esse não apareceu. Mesmo assim continuaram a seguir viagem, de São Nicolau partiram para oeste a fim de tomar posse das terras negociadas no Tratado de Tordesilhas.


Em vermelho a rota da viagem ao Brasil e depois a Índia. Em azul a rota de volta. 
Em 21 de abril, a armada avistou algas na superfície e gaivotas sobrevoando os navios, então avistaram no horizonte uma mancha marrom-esverdeada, era terra. Em meio ao horizonte, Cabral avistou um monte o qual batizou de Monte Pascoal, devido ao fato de estarem no mês da Páscoa. No dia seguinte, eles decidiram desembarcar em terra firme e conhecer os nativos que haviam avistado de longe na praia.


O monte Pascoal visto do mar.
Em 22 de abril alguns barcos e membros da tripulação aportaram em terra, e Cabral reivindicou aquelas terras ao rei D. Manuel I de Portugal, e a batizou de Ilha de Vera Cruz, devido ao fato de estarem no período de Páscoa e também por acreditarem no início que se tratava-se de uma ilha e não de uma porção do continente americano. 


Desembarque de Cabral em Porto Seguro, óleo sobre tela de Oscar Pereira da Silva, 1904.
Quando os portugueses chegaram a praia ficaram curiosos em ver os índios andando nus, embora que alguns já deveriam saber que os mesmos assim o fizessem, devido ao relato de Colombo, o qual também conta que os índios andavam sem roupa e não tinham vergonha de seus pudores. Os portugueses encontraram uma baía segura e amistosa para a ancoragem, Cabral a batizou de Porto Seguro

"Naquela zona, depois chamada Porto Seguro, vivia uma tribo de índios - os tupiniquins. Belos, simpáticos, afáveis, deixaram os marinheiros encantadíssimos! Pêro Vaz de Caminha descreveu-os muito bem: pardos, de pele avermelhada, com feições bonitas e cabelos negros muito lisos, que os homens suavam cortados por cima das orelhas e as mulheres soltos pelos ombros. Andavam nus e não demonstravam vergonha. Sendo tão elegantes, ninguém se sentiu chocado. Lembravam a inocência do Paraíso. Ostentavam pinturas no corpo, bonitos toucados feitos com penas de papagaio e colares de continhas miúdas. No lábio inferior atravessavam um osso branco, que aparentemente não perturbava nenhuma função". (ALBUQUERQUE; MAGALHÃES; ALÇADA, 1992, p. 57). 

Cabral convidou alguns índios para sua nau, lá lhe mostraram alguns animais, os quais os índios reconheceram, no caso o papagaio, mas estranharam um carneiro e uma galinha. Lhe fora dado comida, porém os índios não gostaram do pão de trigo, de vinho e alguns doces ofertados. Naquele primeiro momento tudo era maravilhoso, os índios eram simpáticos e ingênuos; Cabral enviou dois degredados para passarem a noite na aldeia local, para observar os costumes do mesmo, posteriormente ofereceu presentes, como colares, brincos, chapéus, guizos, entre outras bugigangas, as quais os índios achavam engraçado. Em troca, os portugueses conseguiram algumas aves da região, colheram pau-brasil, e receberam presentes dos indígenas, que lhe entregaram colares, cocares de penas e outros adornos. 

A beleza daquelas terras, a pureza daquela gente, levou alguns portugueses a acreditarem que aquele fosse o "paraíso terrestre". Tal fato é bem avidado pela eloquência que Caminha descreve a terra em sua longa carta para o rei D. Manuel I. 

"Esta terra, senhor, me parece que da ponta que ais contra o sul vimos até outra ponta que contra o Norte vem, de que nós deste porto houvemos visto, será tamanha que haverá nela bem vinte ou cinco léguas por costa. Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia-palma, muito chã e formosa". (SERRÃO, 1992, p. 316 apud CAMINHA, 1500).

Pêro Vaz de Caminha exalta em seu relato a beleza daquelas terras, dizendo haver enormes florestas; que o clima era agradável, embora quente; que havia abundância de aves e outros animais; que a gente dali era bela e simpática; que a água era doce e potável; que havia portos naturais pela costa, e que ao horizonte aquela formosa terra se estendia até se perder de vista. 


Primeira página da Carta de Pêro Vaz de Caminha relatando a descoberta do Brasil ao el-rei D. Manuel I de Portugal, abril de 1500.
"Este texto foi definido por Capistrano de Abreu, com inteira justiça, como 'a carta de baptismo do Brasil'. O notável historiador chamou a atenção para a novidade, ao mesmo tempo de valor histórico e literário, de um país ter encontrado o primeiro cronista na hora da sua revelação ao Mundo. Por isso, considera a carta de Pêro Vaz de Caminh, numa alegoria de belo significado, como 'o diploma natalício lavrado à beira do berço de uma nacionalidade futura'". (SERRÃO, 1992, p. 316 apud ABREU, 1929, p. 238-239).

Os portugueses ainda realizaram a "Primeira Missa" na ilha de Vera Cruz, no domingo 26 de abril, tendo sido erguido uma cruz em uma clareira ou na praia, onde o frei Henrique de Coimbra rezou a missa em latim. Os índios assistiram tudo aquilo curiosos e atentos, embora nada entendessem do que se falava ou tratava ao certo. Provavelmente ao verem a cruz e o frei, constataram que o mesmo seria um tipo de sacerdote, e que aqueles homens brancos, estavam rezando ao seu deus ou deuses. De qualquer forma, Caminha conta que terminada a missa, os índios pegaram seus instrumentos musicais e começaram a cantar e dançar, alegrando todo mundo.


A Primeira Missa no Brasil, Victor Meireles, 1860.
Finalmente a 2 de maio, Cabral decidiu que era hora de partir e retomar o rumo para a Índia. Mas antes de partir, ele escolheu dois degredados (criminosos forçados ao trabalho), para ficarem ali com os nativos, afim de aprenderem a língua dos mesmos e seus costumes. Porém, dois marujos acabaram desertando de um dos navios e fugiram para floresta e nunca mais foram vistos. Assim, quatro portugueses ficaram em Vera Cruz. Cabral escolheu Gaspar de Lemos capitão de uma das naus, para levar a carta de Caminha, e os presentes dados pelos índios para Portugal, assim a esquadra se despediu e tomaram direções diferentes, Lemos seguiu em direção a Cabo Verde e o restante da armada para o cabo da Boa Esperança. 

Sabe-se que o rei ao receber a carta ficou tão empolgado e contente que tratou de escrever cartas para os fidalgos de sua terra e até mesmo para os Reis Católicos enviou uma carta falando sobre a descoberta da terra de Santa Cruz, assim como ele passou a chamá-la, e assim como oficialmente era conhecida nos documentos "Província de Santa Cruz". Porém, a medida que as viagens para Santa Cruz se intensificavam devido a exploração do pau-brasil, logo os marinheiros começaram a se referir aquela terra pelos nomes de: "terra do pau-brasil", "terra do Brasil", e finalmente Brasil. Entretanto, apenas anos depois que o nome Brasil seria oficializado pela coroa. 

Em 1 de novembro de 1501, dia de Todos os Santos, Gaspar Lemos de volta ao Brasil, em companhia de Américo Vespúcio, descobriu uma baía que batizou em homenagem a tal data. Hoje, o estado da Bahia de Todos os Santos, é um dos estados mais conhecidos do país, principalmente devido a sua capital Salvador, e pelo fato de que Porto Seguro, local batizado por Cabral se encontrar em solo baiano. Em 1502, Gaspar Lemos e Vespúcio navegando pela costa brasileira em missão de reconhecimento e mapeamento chegaram a uma baía que acreditavam ser a foz de um grande rio, na época eles batizaram aquela localidade de Rio de Janeiro, entretanto, descobriram posteriormente de que se tratava de uma baía, e a batizaram de Guanabara

De 1500 a 1530, o Brasil era visitado apenas pela extração do pau-brasil, de algumas outras árvores; pela captura de animais, especialmente de aves, algo que era visto como um luxo exótico. Entretanto na década de 1530, o rei D. João III, decidiu iniciar a colonização do Brasil, devido ao fato de que franceses e espanhóis estavam invadindo aquelas terras para contrabandear pau-brasil e fazer alianças com os indígenas; temendo que os mesmo viessem a fundar feitorias ou colônias ali, D. João III estabeleceu o sistema das capitanias hereditárias e distribuiu as terras no Brasil para os capitães-mor, incumbidos de colonizá-las, desenvolvendo lavouras, pastos, vilas, comunidades, além de defender as terras dos inimigos.

Ilha de São João da Quaresma (Fernando de Noronha) (1500?)

O arquipélago de Fernando de Noronha hoje é um dos roteiros turísticos mais procurados no Brasil; formado por 21 ilhas e ilhotas, tendo uma área de 26 mil km2, ficando acerca de 500 km da costa brasileira, o arquipélago teria sido descoberto em 1500 pelo navegador Gaspar de Lemos o qual viajava de volta a Portugal levando a notícia da descoberta de Vera Cruz. Na época, Lemos batizou a ilha com o nome de São João da Quaresma. Entretanto, Duarte Coelho diz que o arquipélago teria sido descoberto por Fernando de Noronha ou Loronha entre 1501-1502, porém sabe-se que o mesmo tenha chegado no Brasil por volta de 1503. Não obstante, sabe-se também que Américo Vespúcio em sua viagem pela costa brasileira entre 1501-1502 avistou tais ilhas.


A ilha de Fernando de Noronha, e a localização de algumas ilhas próximas e o nome de praias e baías.
O nome da ilha se deve ao fato de que em 16 de fevereiro de 1504, D. Manuel I concedeu ao navegador e mercador Fernando de Noronha (1470-1540) monopólio na extração do pau-brasil em Santa Cruz e o designou como capitão donatário dessa ilha. Assim, Fernando mudou o nome da ilha de São João da Quaresma e lhe deu seu próprio nome, o qual permanece até hoje.


Morro Dois Irmãos na baía de Sancho, Fernando de Noronha, Brasil.
Ilha de São Lourenço (Madagáscar) (1500)

Se por um lado a viagem de Gaspar de Lemos de volta a Portugal decorreu sem grandes incidentes, a armada de Cabral não teve a mesma sorte. Ao chegarem ao cabo da Boa Esperança, esse mais uma vez revelou seus "tormentos". Uma grande e dura tempestade acometeu a frota de onze navios; a borrasca fora tão violenta como fora descrita pelos escrivãs, que raios cortavam o céu e grandes ondas ameaçavam virar os navios, e de fato isso aconteceu. Das onze naus, quatro naufragaram naquele dia, centenas de homens morreram, sendo tragados pelo mar, e dentre essas vítimas estava Bartolomeu Dias, o mesmo que 12 anos antes havia cruzado aquele ponto, retornará para ali ser se túmulo.

Passado a tormenta, das sete naus restantes, seis se encontraram, a sétima pertencia a Diogo Dias, acabou se perdendo e indo para o sul. Cabral decidiu não esperar ali para procura-la, e ordenou que seguissem para o porto de Sofala para se reagruparem, repararem as embarcações e se reabastecerem. Mas, enquanto o restante da armada seguia para Sofala, o navio de Diogo vagueava perdido, até que retomaram o rumo para o norte, mas devido a distância que passaram perdidos, o navio abriu uma grande curva no mar, passando longe da costa, mas por sorte eles avistaram terra. Era 10 de agosto de 1500, dia de São Lourenço, o qual Diogo Dias batizou aquela terra com o nome do santo. 


Localização de Madagascar antiga ilha de São Lourenço, descoberta por Diogo Dias em 1500.
Acreditando que estivessem na costa oriental africana, Diogo ordenou que continuassem a ir em frente, afim de chegar a Sofala ou Moçambique, mas a medida que o navio cruzava aquelas águas azuis, passando diante de praias brancas e frondosas e verdejantes florestas, eles constataram que não se tratavam do continente, mas sim de uma grande ilha. 

Posteriormente os portugueses chamariam aquela ilha de Madagascar em referência ao nome "Madeigastar", nome pelo qual Marco Polo refere-se a um reino que existia na África. Porém o "Madeigastar" citado por Polo era uma corruptela do nome Mogadixo, atual capital da Somália, mas permanecendo nesse equívoco, a ilha assim fora rebatizada e permanece até hoje com esse nome. 

De São Lourenço (Madagascar) Diogo seguiu com sua tripulação procurando por Moçambique mas devido a estarem relativamente perdidos, acabaram passando direto, chegando a Melinde e de lá foram para o norte até chegarem a Mogadixo de fato; porém tiveram problemas com mercadores árabes na região que os atacaram, conseguindo fugir, eles continuaram a navegar para o norte até que chegaram a ilha de Socotorá, já conhecida pelos europeus desde a época de Marco Polo. Entretanto, na ilha, Dias cometeu o erro de falar sobre sua missão, e caiu numa cilada, muito de seus homens foram mortos, entretanto não se sabe como Dias e os demais sobreviveram nesse tempo, já que os mesmos conseguiram reencontrar a armada de Cabral em 1501, quando essa fazia a viagem de volta. 

Portugal não chegou a colonizar Madagascar, embora tenha visitado a ilha algumas vezes, mas foi Moçambique que se tornou colônia sua. No entanto, os ingleses e franceses também passaram pela ilha e exploraram as ilhas vizinhas. 

Conceição, Santa Helena e ilha João Nova (1501-1502)


João da Nova
Em 1501 o navegador galego João da Nova (1460-1509) recebeu a missão do rei D. Manuel I de viajar para a Índia, o mesmo conduziu em sua viagem quatro naus. Em 5 de março a armada de Nova deixou Portugal e seguiu a mesma rota  de Cabral, aportando posteriormente no Brasil. Não se sabe quanto tempo ele permaneceu lá, mas sabe-se que tenha chegado na altura do cabo de Santo Agostinho. Depois da visita ao Brasil, ele voltou a seguir viagem e em 13 de maio fora avistado terra, uma pequena ilha a qual ele batizou de Conceição (hoje Ilha de Ascensão), dali ele prosseguiu viagem para o cabo da Boa Esperança, quando passou por este, a armada de Pedro Álvares Cabral já havia passado por ali e seguia em retorno a metrópole. 

Posteriormente já no Índico, a armada aportou em Moçambique, lá Nova batizou uma pequena ilha no Canal de Moçambique com o seu nome, a qual ainda hoje preserva o mesmo nome. Daí, ele continuou sua viagem até a Índia. 


A pequena ilha de João da Nova, Moçambique. Hoje a ilha pertence a administração da TAAF, controlada pelos franceses.
Chegandoà Índia a situação já era bem diferente do que fora vista na época da viagem de Vasco da Gama; Cabral havia conseguido do samorim de Calicute o direito de fundar uma feitoria no reino, além de ter também estabelecido relações comerciais nos reinos vizinhos de CochimCananor e Coulão, sendo estes mais amigáveis e receptíveis aos portugueses, já que em Calicut, Cabral teve problemas com  alguns mercadores árabes que chegaram a atacar a feitoria portuguesa lá. Em tais reinos foram fundados posteriormente feitorias e fortalezas. 


As ilhas de Ascensão e Santa Helena, descobertas entre 1501 e 1502 por João da Nova. Atualmente pertencem ao Reino Unido.
Na viagem de volta em 1502, em 1 de abril, a armada de João da Nova avistou outra ilha, a qual fora batizada de Santa Helena. Ambas as ilhas nunca chegaram a serem colonizadas pelos portugueses, até que no século XIX, os ingleses tomaram conta das mesmas. Santa Helena é conhecida por ter sido o último local de exílio de Napoleão Bonaparte, onde o mesmo veio a falecer em 1821. Atualmente a ilha conta com uma população de cerca de 5 mil habitantes, tendo a capital chamada Jamestown

As ilhas Almirante (1502)

Em 1502 na sua segunda viagem à Índia, Vasco da Gama liderava uma frota de 20 navios e mais de mil homens. Ele fora incumbido pelo rei em três missões: primeiro, vender e comprar mercadorias na Índia; segundo, fundar novas feitorias nos reinos de Cochim e Cananor, para isso, um de seus capitães, Vicente Sódre fora encarregado de chefiar a construção das feitorias e de coordenar sua defesa; terceiro, defender as naus portuguesas de ataques dos árabes no cabo Guardafui, localizado hoje na Somália, o qual fica entre a entrada do golfo de Adém e o oceano Índico. 

Entretanto, nessa viagem Vasco avistou ilhas ao norte de Madagáscar, as quais ele batizou de "ilhas do Almirante", devido ao fato de ter sido naquela ocasião nomeado Almirante de Portugal pelo rei. As ilhas e seus atóis possuem ao todo cerca de 155 km2 de terra, uma área bem pequena, entretanto os portugueses não chegaram a ocupá-las, tal missão passou aos franceses que exploraram aquelas águas e descobriram outras ilhas. 


As Ilhas Almirantes e outras ilhas e atóis vizinhos. Foram descobertas em 1502 por Vasco da Gama, hoje fazem parte da República de Seychelles.
Devido a ocupação francesa do arquipélago o nome das ilhas passou para Amirante (almirante em francês), entretanto os franceses disputaram o controle daquelas ilhas contra os ingleses por vários anos, até que se entenderam no século XIX, tendo a Inglaterra ganho a disputa sobre as ilhas. Chamado de arquipélago das Seychelles, este em 1976 conseguiu sua independência da Inglaterra, deixando de ser colônia dos mesmos e se tornando uma nação. 

 As ilhas de Gonçalo Álvares e Tristão da Cunha (1505-1506)

Em 1505 o experiente piloto e navegador Gonçalo Álvares, homem que viajou com Diogo Cão e Vasco da Gama, sendo piloto de ambos, em 1505 descobriu no sul do Atlântico uma pequena ilha, a qual batizou com seu nome. Nessa ocasião, Álvares retornava da Índia, mas ventos contrários, o fizeram se afastar da costa africana adentrando o oceano. A ilha só possui cerca de 65 km2, na ocasião da descoberta, Gonçalo e sua tripulação não aportaram na ilha, e voltaram a seguir viagem para o norte. No século XVIII, os ingleses chegaram a ilha, e na ocasião o capitão Gough cometeu o equívoco de achar que aquela ilha era desconhecida, e a batizou em seu nome, daí a ilha ser hoje mais conhecida como Gough Island. Entretanto, de volta a Inglaterra ele descobriu seu equívoco, mesmo assim, na geografia inglesa, mantêm-se o nome de Gough como referência a ilha.

Em 1504 o renomado navegador Tristão da Cunha (1460-1540) fora nomeado pelo rei D. Manuel I como vice-rei da Índia, mas devido a uma doença na época, não pode assumir o cargo e ficou em Portugal. Dois anos depois, Tristão partiu para a Índia liderando uma armada de dez navios, no caminho, tendo feito a rota de Gama e Cabral, acabou avistando um arquipélago, mas devido a altitude desse (600 metros acima do nível do mar), não pode aportar na ilha principal, a qual ele batizou com seu nome (o arquipélago também recebeu seu nome). 

Dali, a armada seguiu viagem para o Cabo da Boa Esperança. Na ocasião dessa viagem, ia consigo seu primo Afonso de Albuquerque o qual viria a ser vice-rei da Índia. No entanto nessa missão, o rei os enviou para conquistar a ilha de Socotorá, a mesma visitada por Diogo Dias seis anos antes. D. Manuel I acreditava que devido a localização da ilha, seria um ponto-chave no controle daquelas águas as quais os portugueses chamavam de "golfão". De fato a vitória ocorreu e a ilha fora conquistada.


Localização das quatro ilhas descobertas pelos portugueses: Ascensão, St. Helena, Tristão da Cunha e Gonçalo Álvares (Gough). Ao sul pode se ver outras quatro ilhas descobertas pelos ingleses e espanhóis.
Atualmente as duas ilhas descobertas por João da Nova, e as duas por Gonçalo e Tristão pertencem ao governo britânico, compondo o território ultramarino britânico de Santa Helena. Todas as quatro principais ilhas são habitadas hoje.

Arquipélago das Mascarenhas (1507-1512)

Oficialmente o arquipélago das Mascarenhas fora batizado por volta de 1528 pelo piloto Diogo Rodrigues em homenagem ao navegador, explorador e futuro vice-rei da Índia Pedro Mascarenhas (1470-1555) o qual em 1512 descobriu uma das maiores ilhas do arquipélago, a ilha Maurícia, entretanto, acredita-se que Afonso Albuquerque já tenha passado pelo arquipélago desde 1507, avistado algumas das outras ilhas, e supõe-se que Diogo Dias quando descobriu Madagascar teria avistado algumas dessas ilhas de longe, já que o arquipélago fica localizado a leste de Madagascar. Rodrigues é o descobridor da ilha que leva o seu nome.


Localização das principais ilhas do arquipélago das Mascarenhas. As três ilhas ao norte de Rodrigues também fazem parte do arquipélago.
Ao todo as principais ilhas do arquipélago são: Maurícia, Rodrigues, Reunião, Agalega, Tremolin, São Brandão. Entretanto, existem algumas ilhotas e atóis próximas as mesmas. Mascarenhas não chegou a colonizar tais ilhas, de fato Portugal não se interessou de ocupá-las, e posteriormente os ingleses e franceses as ocuparam. Hoje, tais ilhas compreendem o território da República Maurícia, ex-colônia francesa e britânica. Mascarenhas também descobriu a ilha Diogo Garcia (1512), hoje pertencendo ao Território Britânico do Oceano Índico, ao sul da Índia.

A expedição de Antônio de Abreu (1511-1512)

No ano de 1511 muita coisa já havia mudado desde a chegada de Vasco da Gama e Cabral à Índia. Nesses dez anos após a ida de Cabral na segunda viagem à Índia, Portugal trabalhou maciçamente para consolidar seus domínios na África e na Índia. Dezenas de feitorias e fortalezas foram construídas, pelas principais cidades africanas; na Índia, fora-se criado uma colônia permanente, estabelecida na cidade de Goa, de onde o vice-rei Afonso Albuquerque passou a governar e tentou transformar Goa na "Lisboa indiana"; os portugueses também reforçaram sua ocupação comercial em Calicute, Cananor, Coulão e em outras cidades indianas; chegaram a ilha do Ceilão (atual Sri Lanka); em 1509, Diogo Lopes de Sequeira e Fernão de Magalhães chegaram a ilha de Sumatra (hoje parte da Indonésia) e na cidade de Malaca, capital de um pequeno reino, hoje a Malásia. 

Em 1511, os portugueses conquistaram Malaca, se tornando um importante e estratégico ponto comercial e de acesso as especiarias vindas das ilhas que hoje formam a Indonésia; e no mesmo ano, Duarte Fernandes chegou ao Reino de Sião (Tailândia) e Rui Nunes da Cunha chegou ao Reino de Pegu (Myanmar). Ambas as expedições, eram para formar laços amigáveis e comerciais com esses pequenos reinos, os quais eram produtores das especiarias cobiçadas pelos portugueses.

"Desde a fixação no Malabar que a coroa portuguesa compreendeu não ser aquela região o verdadeiro centro produtor e especiarias, mas apenas  um importante ponto de sua distribuição. A chamada 'rota do cravo e da pimenta' situava-se no extremo oriental da Ásia, ligando o arquipélago das Molucas ao empório comercial de Malaca". (SERRÃO, 1992, p. 267).

A cobiça e a curiosidade dos portugueses eram tantas que os levaram a desbravarem as águas que hoje compreendem o sudeste asiático e a Indonésia, em busca das "ilhas das especiarias" e de um caminho para a grandiosa China, a qual desde a época de Marco Polo, ouvia-se falar sobre suas imensas riquezas. 

Assim, após a conquista de Malaca em 1511, o vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque enviou uma expedição para as Ilhas Molucas (Maluku Islands), hoje compreendendo território indonésio. Na primeira expedição enviada nesse ano, seguiram Antônio de AbreuFrancisco Serrão e Simão Afonso Bisagudo, levando quatro naus e alguns marinheiros malaios que conheciam a região. Abreu era amigo do vice-rei e fora designado como chefe da expedição, já Serrão era o vice-capitão da expedição. No ano de 1511, a armada passou pelas Pequenas Ilhas de Sunda, ao sul da ilha de Java e finalmente chegaram as ilhas de Ambão e Banda no arquipélago das Molucas no começo de 1512. 

Os portugueses acreditavam que em tal arquipélago se encontravam algumas das principais fontes das especiarias que haviam ido buscar, como pimenta, cravo, canela, baunilha, benjoim, noz-moscada, etc. De fato, encontraram várias dessas especiarias espalhadas pelas ilhas, no entanto, parte da população que ali habitava havia sido islamizada pelos árabes, logo eram hostis aos recém cristãos que chegavam aquelas ilhas tropicais vindos de muito longe.


Em verde o atual mapa da Indonésia. Em verde claro o arquipélago das Molucas. 
Os portugueses haviam sido os primeiros europeus que se conhece a chegar as Molucas, embora que Marco Polo, seu pai e seu tio já tinham passado pela Indonésia e visitado as ilhas de Sumatra e Java no século XIII. Em 1512, Abreu e Serrão tentaram negociar com o rei da ilha de Ternate para estabelecer uma feitoria ali, já que a ilha era um dos principais centros produtores de cravo, entretanto o rei era muçulmano e se recusou a aceitar a proposta dos portugueses e isso levou a um conflito, a nau de Serrão acabou naufragando na costa de Ternate, e a iniciativa de se fundar uma feitoria ali fracassou, porém anos depois uma nova expedição seria enviada para realizar tal façanha. 

Mas, se por um lado a missão em Ternate não logrou, Antônio de Abreu descobriu uma ilha que se tornaria colônia portuguesa por quase quatro séculos, seu nome, Timor. 

"Tratando os arquipélagos da Insulíndia, cumpre por fim mencionar o descobrimento de Timor, que até ao nosso tempo ficou politicamente ligada a Portugal". (SERRÃO, 1992, p. 277).

Em vermelho a ilha de Timor. Atualmente a metade oeste faz parte da Indonésia, quanto a metade leste fora uma ex-colônia portuguesa, hoje sendo a atual República Democrática de Timor Leste.
Embora Timor tenha sido avistada em 1512, apenas em 1515 é que a ilha fora visitada e posteriormente passou a ser ocupada, tal fato advém de uma carta enviada pelo navegador Rui de Brito Patalim ao rei D. Manuel I, o qual recebeu essa carta em 1514, onde Patalim falava que naquela ilha ainda não explorada havia grande quantidade de sândalo, mel, cera entre outras especiarias. D. Manuel I autorizou a expedição de Patalim a Timor em 1515 e gradativamente as visitas foram se tornando regulares até que se fundaram uma colônia na região, especialmente na porção oriental. Sabe-se que muitos frades dominicanos se mudaram para o Timor para evangelizar os nativos. Posteriormente, Timor se tornou uma colônia oficial portuguesa e assim permaneceu até 1975.

A rota marítima para a China (1513)

Desde a chegada dos portugueses à Índia, estes conheceram alguns chineses que iam ali comercializar; não obstante, o conhecimento acerca da China data desde do século XIII, especialmente pelos relatos de Marco Polo, embora que outros aventureiros seguiram para a terra do Império Celestial. Assim, os portugueses sabiam através dos mercadores e das histórias contadas por Polo e outros viajantes sobre as grandes riquezas que o Imperador Dragão (um  dos títulos dados ao imperador chinês) possuía em seu vasto império. Nesse caso, cerâmicas, gengibre, objetos de ouro, prata; tecidos de seda, brocados de ouro, canela, folhas de chá, papel entre outras mercadorias chegavam à Índia e a Malaca a qual desde 1511 pertencia a Portugal, consistindo uma feitoria com o seu próprio capitão-mor.

Dessa forma, sabendo das riquezas que a China possuía, em 1513 o vice-rei da Índia, Afonso de Albuquerque designou o capitão-mor de Malaca Jorge de Albuquerque de enviar uma expedição de reconhecimento a China. Jorge escolheu o navegador Jorge Álvares (?-1521) com a missão de chegar a China, assim ainda em 1513 o mesmo partiu, contornado Cingapura, e subindo o oceano, passando ao longo da costa da ilha de Bornéu e a costa da Cochinchina assim como os portugueses se referiam ao Vietnã na época; até finalmente chegar a foz do Rio das Pérolas (em mandarim, Zhu Jiang), hoje na província do Cantão. Na foz do rio, posteriormente seria fundada a colônia de Macau pelos portugueses. 


Estátua de Jorge Álvares em Macau, China. Em 1513, Álvares e sua tripulação foram os primeiros portugueses a chegarem a China, mas especificamente na foz do rio das Pérolas. Anos depois seria fundado nessa região a cidade de Macau. 
Porém, o imperador chinês não estava a fim de realizar acordos mercantis com os portugueses, não em sua terra propriamente, já que juncos chineses costumavam ir para Malaca e Goa vender seus produtos aos indianos, portugueses e árabes, porém o imperador não gostava da ideia de ter esses estranhos europeus na "porta de casa", tal fato retardou em vários anos a fixação de uma feitoria portuguesa no império celestial. 

De 1513 a 1553, nesses quarenta anos, Portugal realizou um comércio singelo com os chineses, em alguns casos até mesmo ilegal, já que o Estado não permitia os portugueses comercializar em qualquer cidade, mesmo assim, por volta de 1521, os portugueses ficaram sabendo da existência propriamente do arquipélago das Filipinas, a leste da China, descoberto naquela ocasião por Fernão de Magalhães, o qual trabalhava para os espanhóis naquele momento, promovendo a primeira viagem de circunavegação do globo. 

Por volta da década de 1530, o governo chinês começou a liberar o acesso comercial aos portugueses na região em volta do rio da Pérolas, na província de Cantão. A medida que o governo da província de Cantão liberava a permissão dos portugueses, estes fundaram uma feitoria na pequena península de Macau (A-Ma Gao em cantonês), entretanto oficialmente aquela feitoria era considerada ilegal, mas não se sabe ao certo do porquê os chineses não terem expulsados os portugueses. 

Finalmente por volta de 1554, fora fundada a Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, a qual se tornou uma feitoria fixa, e posteriormente o governo chinês reconheceu a autoridade portuguesa na península e em mais duas pequenas ilhas que passaram a formar o território da colônia de Macau. Embora que o reconhecimento oficial variou ao longo dos anos. 


Localização da cidade de Macau, na China. Formada pela península de Macau e as ilhas da Taipa e Coloame. De 1557 s 1967, Macau fora colônia de Portugal. 
A descoberta da Austrália? (1520-1529)

Oficialmente a Austrália fora descoberta e reivindicada a sua posse em 21 de agosto de 1770 pelo capitão britânico James Cook (1728-1779), considerado um dos últimos grande navegadores da Era dos Descobrimentos. Nessa ocasião, Cook, reivindicou para a coroa britânica a posse de toda aquela imensa ilha, a qual ele inicialmente batizou de Nova Gales do Sul, além de fazer o mesmo com várias outras ilhas na Oceania, como a Nova Zelândia e as Ilhas Cook

Entretanto sabe-se que a tripulação de Cook, de longe não foram os primeiros europeus a chegarem à Austrália. A ilha no século XVII já havia sido navegada e mapeada por holandeses, e antes disso, ainda no século XVI os portugueses já teriam estado no norte da Austrália e feito contato com os aborígenes. Mas o fato de ambas as nações não terem chegado a explorar essa imensa ilha não é bem claro ainda, mas provavelmente, os portugueses estavam mais interessados em administrar seu comércio de especiarias, nas Molucas, no Timor, Sumatra, Java, no sudeste asiático e China, do que explorar aquela ilha que se desconhecia o tamanho, e ao mesmo tempo, segundo consta os relatos da época, os portugueses não descobriram nenhuma especiaria que favorece a exploração da região. Quanto aos holandeses, estes chegaram em certos pontos da ilha, mas provavelmente avistaram os desertos, e isso os desencorajou a prosseguir na exploração daquele territória, já que grande parte da Austrália e desértica e o clima é semi-árido. 

Segundo as teorias que defendem que os portugueses teriam descoberto a Austrália antes dos holandeses e obviamente dos ingleses, sustenta que entre 1520 e 1529, expedições marítimas partidas de Timor teria avistado a ilha de Depuch próximo a costa australiana, e que tal fato é corroborado devido que em alguns mapas feitos por Nicolas Deslier (1541), Jean Rotz (1543) e Nicolas Vaillart (1545) apresentam o contorno de uma ilha que os historiadores acreditam ser a costa norte da Austrália. 


A ilha de Depuch na costa australiana, teria sido o primeiro local visitado pelos portugueses na década de 1520.
"Alguns dados tornam possível aventar o nome dos possíveis descobridores e o ano certo ou aproximado das suas viagens. Fernão Lopes de Castanheda regista que uma fusta com 25 homens seguiu, em Julho de 1525, de Ternate para as Celebes. Após uma viagem acidentada e que fez desgarrar a embarcação, em Setembro aportaram a uma 'terra muito viçosa daruoredo em que auia muitos cocos & figos como os da India & inhames. E assi auia muitas galinhas & algus ligumes'. 

Segundo ainda consta o relato de Castanheda, tal expedição permaneceu algum tempo entre os nativos daquela terra e em 1526 regressou as Molucas. Porém, Castanheda não cita o nome do capitão da expedição, mas segundo João de Barros, o capitão teria sido Gomes de Sequeira; já Antônio Galvão, defende a hipótese que o capitão era Diogo da Rocha. Entretanto, em um relato espanhol datado de 1542, o capitão D. Antônio de Mendonça diz que chegou a ilha descoberta pelos portugueses Gomes de Sequeira e Diogo da Rocha. Independente de qual dos dois chegou primeiro a tais terras, tal fato é uma evidência a mais para confirmar que os portugueses tenham sido os primeiros europeus a chegarem na Austrália.


Mapa do francês Nicolas Vallard, 1547. No mapa está retratado possivelmente a costa norte da Austrália, descoberta pelos portugueses na década de 1520.
Entretanto existem quem contradiz tal teoria, defendendo que a terra descoberta pelos portugueses não teria sido a Austrália mais sim, outras ilhas da Indonésia, como Palau e a Nova Guiné. Não obstante, acredita-se que em 1522, Cristóvão de Mendonça teria sido o capitão português responsável por chegar a Austrália, entretanto ainda naquele ano, Diogo Lopes de Sequeira, teria aportado na chamada "ilha do Ouro". Entretanto, devido a falta de mais documentos, não se sabe ao certo se a terra avistada por Cristóvão e Diogo tenha sido a mesma vista posteriormente por Gomes e Diogo da Rocha, já que a Indonésia é formada por milhares de ilhas e isso dificulta um mapeamento das visitas portuguesas a esse vasto arquipélago. 

"Como resultado de uma investigação de 25 anos, o Professor Carl Von Brandestein defendeu há pouco que os Portugueses foram os primeiros a chegar ao mesmo continente, na década de 1520. A sua tese assenta em dados linguísticos e arqueológicos que recolheu nas tribos dos Ngarluma, dos Karrieras e dos Pandfima, que viviam na costa entre o arquipélago de Dampier e a foz do De Gruy. Ao historiador deparou-se a existência de termos e modos de expressão de estrutura portuguesa. Palavras como thataruga (tartaruga), thama (chama), t'inda (cinza), monta (monte), xalu (mal), tardari (tardar) num total de 60, seriam prova bastante para se aceitar, antes da chegada dos Holandeses, o convívio dos nautas lusos com os aborígenes". (SERRÃO, 1994, p. 282).

De qualquer forma, ainda hoje esse debate está em aberto, os historiadores ainda contestam a veracidade dos relatos em referência a chegada portuguesa ao norte da Austrália, e mesmo os holandeses tendo ali chegado, são ons ingleses que levaram o mérito por tal descoberta.


Em verde a Austrália e a Tasmânia. Em vermelho as possíveis rotas de partida  dos portugueses para terem chegado ao norte da Austrália entre 1520 e 1529.
Japão: os portugueses na terra do sol nascente (1543)

O Japão fora a última grande realização expedicionária realizada por Portugal na Era dos Descobrimentos, já que daqui em diante, Portugal praticamente findou suas descobertas, embora que marinheiros, pilotos e navegadores, portugueses continuaram a viajar pelo mundo, a serviço dos ingleses, espanhóis, holandeses e franceses, os quais deram continuidade aos Descobrimentos. 

Na Europa já se conhecia a existência do Japão desde o século XIII quando Marco Polo publicou seu livro intitulado, O Livro das Maravilhas, onde relata suas viagens pela Ásia. Nesse caso, ele fala de uma rica ilha localizada a leste-nordeste da China, chamada de Cipango. Em 1492, em sua viagem para se chegar às Índias, Cristóvão Colombo levou consigo um exemplar do livro de Polo, pois acreditava que chegaria ou na China ou Cipango. 

Entretanto, os portugueses foram os primeiros europeus que se conhece na História a terem chegado no Japão, e isso aconteceu no ano de 1543, onde os mercadores Antônio da MotaFrancisco Zaimoto Antônio Peixoto, os quais por volta de 24 de junho teriam aportado na ilha de Tanixuma, hoje Tanegashima no arquipélago de Osoni, no sul do Japão. 


Arquipélago de Osoni, Japão. Entre 1541 e 1543 os portugueses chegaram a ilha de Tanegashima. 
Entretanto, algumas fontes contestam a data da chegada de Portugal ao Japão, indicando que os marinheiros Fernão Mendes PintoDiogo Zaimoto Cristóvão Borralho, teriam chegado acidentalmente antes de junho naquelas ilhas desviados por uma tempestade que levou seu navio ali a aportar. 

De qualquer forma, sabe-se que quando ali os portugueses chegaram acompanhados por alguns chineses, os portugueses portavam consigo arcabuzes, armas que chamaram a atenção dos japoneses; segundo a tradição, um mercador japonês comprou três armas dessas, e tal curioso fato mudaria a arte da guerra no Japão, já que posteriormente generais enxergariam a utilidade de usar as armas de fogo na guerra.


Um arcabuz português. Conhecido como "tanegashima" no Japão, em referência a ilha na qual os japoneses compraram exemplares dessa arma de portugueses que ali aportaram.
No final da década de 1540, os primeiros jesuítas chegaram ao Japão com a missão de pregar o cristianismo entre aqueles pagãos. Sabe-se que em 1548 o jesuíta São Francisco Xavier (um dos co-fundadores da Companhia de Jesus), conheceu em Malaca, um japonês que sabia falar razoavelmente português e fora chamado de Angero, o mesmo mostrou interesse para a fé cristã e fora batizado ali. Francisco Xavier indagou de onde ele veio, e os marinheiros lhe responderam que ele veio do Japão, uma terra pagã ao norte.
São Francisco Xavier (1506-1552), o Apóstolo das Índias. Fora um dos principais responsáveis por espalhar o cristianismo no Oriente, entre a Índia, China, Japão e entre outras possessões portuguesas.
"Com o reiterado apoio dos mercadores, o jesuíta seguiu em Junho de 1549 para o Japão, levando mais dois padres e três nipônicos que se tinham convertido em Goa. Contava com o apoio de Roma e que o imperador mandasse um a embaixada a Portugal a pedir o envio de outros missionários". (SERRÃO, 1994, p. 294). 

Assim como os portugueses foram os responsáveis por introduzir as armas de fogo no país, também fora os responsáveis por levar o cristianismo para aquelas ilhas. De fato, nos anos seguintes, os japoneses começaram a se converter a nova religião, embora tenha sido um processo lento, já que hoje grande parte da população é Xintoísta e Budista, havendo poucos cristãos no país. 

A chegada dos portugueses no Japão se deu em meio ao período feudal, mas especificamente no período chamado de "Guerras Feudais" (Sengoku Jidai), mas embora o país estivesse em um estado conturbado e caótico, onde daimyos (senhores feudais) lutavam pelo poder, e o poder imperial enfraquecido, os portugueses conseguiram manter boas relações com os japoneses, inaugurando o Período Nanban, nome dado ao período que vai do século XVI ao XVII, onde o Japão manteve relações comerciais com Portugal, depois disso ele rompeu tais relações e entrou em reclusão. Curiosamente a palavra nanban não era nada amigável, significava "bárbaros do sul", pois para os japoneses aqueles homens brancos, barbudos, de roupas estranhas, eram bárbaros. 

Pintura japonesa retratando uma carraca (um tipo de navio de carga) portuguesa em Nagasaki, século XVII.
Os portugueses fundaram feitorias, igrejas, armazéns, hospitais religiosos, casas, etc., pelo país, porém talvez o grande feito tenha sido a fundação da cidade de Nagasaki por volta de 1570 na baía de Nagasaki. Hoje, a cidade é a capital da província homônima e principalmente lembrada pelo fato de ter sido um dos alvos das bombas atômicas liberadas pelos americanos na Segunda Guerra Mundial. 




Em rosa a província de Nagasaki, Japão. Em rosa escuro a cidade de Nagasaki, fundada por volta de 1570 pelos portugueses.



No entanto no Período Nanban, Nagasaki fora a principal cidade comercial a sustentar o comércio luso-nipônico, estando em rota direta com a cidade de Macau na China, e de lá tendo acesso as mercadorias vindas da Índia, Cochinchina, e da Insulíndia (nome pelo qual os portugueses se referiam ao que hoje é a Indonésia). 




Em verde a rota comercial portuguesa ligando as cidade de Nagasaki, Macau, Malaca, Goa e Lisboa. Em amarelo a rota comercial espanhola, ligando as cidades de Acapulco (México) e Manila (Filipinas), tendo acesso ao comércio de Macau.
Considerações finais:

É evidente que Portugal foi a nação pioneira nas explorações marítimas, dando início a Era dos Descobrimentos e das Grandes Navegações ainda no final da Idade Média. Para alguns historiadores, tal fato já marcava a mudança que a Europa vivenciava as portas da Idade Moderna. Não obstante, foram os portugueses em grande parte que criaram as rotas comerciais e marítimas para a África e Ásia, sendo estas percorridas por espanhóis, franceses, ingleses, holandeses e posteriormente outros povos. 

Portugal também contribuiu para interligar o mundo na época. Se hoje falamos em globalização, considerado essa um fruto do final do século XX, eu concordo com outros historiadores em dizer que a globalização não nasceu no século XX mas fora o fruto de um progresso que se iniciou no século XV na época dos Descobrimentos. Em pouco mais de cem anos, pessoas já viajavam de Portugal ao Japão, da Espanha ao Peru, da Inglaterra a Índia, da Holanda a Indonésia; as culturas se interligavam, se conheciam, embora que nem sempre tais relações foram amistosas.

Dessa forma, o mundo fora se conectando através dos mares, através de bravos e ousados homens que navegavam pela imensidão azul, tendo consigo apenas a fé e esperança que iriam chegar ao seu destino sã e salvos. 

Embora os Descobrimentos sejam compreendidos apenas pela visão dos europeus os quais não consideram que outros povos tenham descoberto algo nesse período, a Era dos Descobrimentos foi um período importante que revolucionou a História, mudando a face do mundo para sempre.


Mapa mostrando as principais descobertas feitas pelos portugueses nos séculos XV e XVI. Em verde os territórios coloniais e das feitorias. As datas podem variar devido a fonte usada pelo historiador e a teoria por ele defendida. 
E tu nobre Lisboa, que no mundo
Facilmente das outras és princesa...

Trecho do canto III, est. 57, Os Lusíadas, Luis de Camões.

NOTA: O primeiro vice-rei da Índia fora D. Francisco de Almeida nomeado em 1505. O cargo de vice-rei da Índia fora continuo até o ano de 1765, posteriormente os líderes eram chamados de governador (tal título já era usado desde 1515, já que nem todo mundo recebeu o título de vice-rei, cargo de maior prestígio) e capitão-geral da Índia, embora que posteriormente voltou-se a adotar o título de vice-rei, sendo o último a utilizar esse título, D. Manuel Francisco Zacarias de Portugal e Castro, que ostentou o título de 1826 a 1835. Após tal data, os demais chefes passaram a adotar o título de governador e capitão-geral. 
NOTA 2: Os domínios portugueses na Índia eram limitados a algumas cidades, Damão, Diu, Nagar-Aveli, entre outras, sendo Goa a capital dessa província. As cidades de Calicute, Coulão, Cancaran, etc., possuíam feitorias e fortalezas em suas terras, mas não chegaram a serem conquistadas pelos portugueses propriamente.
NOTA 3: Nem todas as colônias portuguesas adotaram a língua do colonizador como língua oficial de suas nações. As ex-colônias que adotaram o português como língua ou uma das línguas oficiais são: Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor-Leste. As cidades no Marrocos, no Congo, na Índia, na Malásia, Indonésia, etc., praticamente não possuem falantes da língua portuguesa, devido ao fato da colonização não ter tido grande influência para mudar profundamente os costumes nessas terras. 
NOTA 4: Portugal fora uma das últimas nações europeias ainda a possuir colônias no século XX, tendo sido o Brasil a primeira colônia a ganhar a independência em 1822.
NOTA 5: Portugal chegou a ocupar por poucos anos algumas cidades na costa ocidental e oriental da África, no golfo Pérsico e na Indonésia. Entretanto, o Brasil fora a maior e mais vasta colônia portuguesa, embora por muitos anos não fora a mais lucrativa até o século XVII, quando começa a expansão do latifúndio açucareiro; onde o tráfico de escravos se intensificou e no século XVIII com a descoberta das minas de ouro. 
NOTA 6: O famoso poeta português Luis Vaz de Camões (1524?-1580) vivenciou a Era dos Descobrimentos, embora não tenha participado de expedições de descobrimento, escreveu acerca das mesmas em sua obra Os Lusíadas. Além disso, Camões, serviu como soldado no Marrocos e exerceu alguns cargos menores em seu exílio na Ásia. 
NOTA 7: Marco Polo viajou e viveu na Ásia de 1272 a 1294. 
NOTA 8: As palavras luso e lusitano, embora referissem aos habitantes da Lusitânia, hoje também é empregado como sinônimo para português, a língua portuguesa e a cultura portuguesa. 
NOTA 9: Existe uma lenda romana que diz que a Lusitânia teria sido fundada por Luso, um dos filhos do deus Baco (Dionísio para os gregos). 
NOTA 10: Existe uma antiga lenda portuguesa que diz que Lisboa teria sido fundada pelo mítico herói Ulisses (Odisseu para os gregos). 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALBUQUERQUE, Luís de; MAGALHÃES, Ana Maria; ALÇADA Isabel. Os Descobrimentos Portugueses: As Grandes Viagens - II volume. Editorial Caminho SA, Lisboa, 1992.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Portugal e o Mundo: Nos século XII a XVI. Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo, 1994.
PESSOA, Fernando. Mensagem. São Paulo, Abril, 2010. (Clássico Abril Coleções).
CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. São Paulo, Abril, 2010. (Clássico Abril Coleções).

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