PILTDOWN, A FRAUDE INTERDISCIPLINAR
A. Bracinha Vieira
Obs: As imagens aqui apresentadas foram escolhidas por mim para ilustrar a obra do autor.
I. The Origin of Species fora publicado
em 1859, e The Descent of Man em 1871, mas poucos fósseis de linhagem
humana e pré-humana eram conhecidos à data de aparecimento desses livros. A
situação manteve-se após a morte de Darwin, em 1882, e ao longo dos primeiros
anos do séc. XX, e grande expectativa pairava no domínio da evolução do homem,
contrapondo-se diversas teorias alternativas sobre a origem humana. Sendo já
descobertas as ideias de Mendel, procuravam-se, ainda titubeantes, os
fundamentos do que viria a ser a Teoria Sintética da Evolução. Foi neste
contexto que decorreu a maior falsificação da história da antropologia,
comumente denominada a fraude de Piltdown.
A povoação de Piltdown Common situa-se no East
Sussex, perto de Brighton, junto ao vale do pequeno rio Ouse que, vindo de
oeste, deriva para sul e se lança mais adiante no Canal de Inglaterra. Foi na
planície a norte do rio, em pedreiras expostas para obtenção de brita, que –
entre 1908 e 1915 – foram encontrados os materiais que informaram a fraude. No
dia 18 de Dezembro de 1912, Charles Dawson, solicitador no Sussex e arqueólogo
amador, autor inicial dos achados, e Arthur Smith Woodward, paleontólogo do British
Museum (Natural History), comunicaram à comunidade científica, em
Burlington House, Piccadilly, sede da Geological Society, a natureza e a
importância dos achados, que constavam de:
- parte de uma calote craniana espessa, de aspecto humano, de facto de origem relativamente recente e carácter patológico;
- metade da mandíbula de um orangotango juvenil, com dois dentes molares implantados, limados para simularem um padrão de desgaste humano, com fracturas ósseas que excluiam o queixo e o côndilo para a articulação têmporo-maxilar; 2
- artefactos líticos de feição arcaica, modificados pela acção de ferramentas metálicas;
- ossos e dentes fósseis de mamíferos plio-pleistocénicos extintos, incluindo dentes de mastodonte, de um hipopótamo anão que vivera na ilha de Malta, de rinoceronte, castor, veado e cavalo.
Réplica do crânio do Homem de Piltdown. |
Obtido o reconhecimento da descoberta por duas
importantes figuras do mundo científico inglês - Arthur Keith, anatomista do Royal
College of Surgeons, e Grafton Elliot Smith, neuroanatomista de origem
australiana ligado à Universidade de Manchester - Smith Woodward denominou a
pretendida nova espécie de Eoanthropus dawsoni, significando o nome
genérico «homem auroral» e o nome específico um tributo a Dawson. Keith
desenvolvera previamente um modelo propugnando pela alta antiguidade de um
antepassado humano de grande volume craniano; e Elliot Smith defendia que a
evolução do cérebro tinha dirigido a evolução humana.
Entretanto, os trabalhos no terreno
prosseguiram, juntando-se ao grupo inicial o jovem jesuíta francês Pierre
Teilhard de Chardin, que estudava no Colégio Jesuíta de Hastings, próximo de
Piltdown. Se Keith e Elliot Smith propunham teorias da evolução do homem
centradas no primado da «cerebralização» sobre o bipedismo, Teilhard de Chardin
viria a desenvolver um complexo modelo transformista teleológico, de inspiração
vitalista (próximo das ideias do filósofo Henri Bergson expressas no livro L’énergie
spirituelle), e com pressupostos (diríamos, preconceitos) neolamarckistas,
postulando a evolução de linhas ascendentes paralelas ilustrando «o movimento
da matéria para o espírito».1 Em 30 de Agosto de 1913, Chardin encontrou
um dente canino pertencente à hemimandíbula exumada, mas que dela se
desprendera. Tratava-se de um dente de configuração antropóide, também retocado
artificialmente.
Em Maio de 1912, a calote e
restantes materiais foram levados para o Museu Britânico (História Natural),
para avaliação. Em Dezembro, Smith Woodward reconstituiu o conjunto
crânio-facial. Em Junho de 1913, Keith fez a sua própria reconstituição do
crânio, com base em moldes de gesso, mas com capacidade craniana superior à da
reconstituição de Smith Woodward, e apresentou-a ao Royal College of
Surgeons. A diferença de volumes era superior a 300 cc (1500 cc para a
representação de Keith), por serem diversas as curvas delineadas para posicionar
os fragmentos cranianos disponíveis. Elliot Smith contestou este trabalho de
Keith, o que significou o afastamento pessoal entre ambos. Em 1922, Elliot
Smith, junto com um colaborador, fez uma terceira reconstituição do crânio, com
capacidade de 1200 cc, julgada mais persuasiva pelos antropólogos estrangeiros,
entre eles Marcellin Boule, por reduzir o «paradoxo anatómico».
Entretanto, Frank Barlow fizera moldes dos
materiais de Piltdown, que foram enviados a museus e universidades, enquanto as
peças originais ficaram fechadas no Museu Britânico, vedadas mesmo à observação
de especialistas, sob pretexto da sua grande importância (só Ales Hrdlicka,
investigador norte-americano da Smithsonian Institution e fundador da
disciplina da antropologia física, teria sido autorizado a estudá-las
directamente). Também esta disposição adiou o desmascaramento da fraude e
prolongou o mal-entendido que germinava no mundo da então chamada paleontologia
humana.
Ora, desde início, diversos anatomistas e antropólogos refutaram as descobertas, sem que ninguém, contudo, suscitasse publicamente a hipótese de fraude. Assim, logo em 1913, David Waterston, anatomista do King’s College, admitiu tratar-se de «peças de diferentes indivíduos, cuja integração era tão inconsequente (...) como articular um pé de chimpanzé com uma perna humana», e, em 1916, um dentista, Lyne, notou com estranheza o uso excessivo de um dente canino imaturo (Lyne, 1916). Também Marcellin Boule, aliás mestre de Chardin, falou de «associação paradoxal de um crânio basicamente humano com uma mandíbula de antropóide.», concluindo tratar-se de um achado compósito.
E, em 1915, Gerrit Miller, da Smithsonian Institution, tendo estudado comparativamente vários esqueletos de chimpanzés, gorilas, orangotangos, e ainda crânios humanos actuais, concluiu que o mesmo indivíduo não poderia reunir tal crânio e tal mandíbula. Miller teve, sabe-se, a ideia de se tratar de uma falsificação – mas não tornou públicos os seus argumentos por não ter podido observar directamente o material. Também o paleontólogo norte-americano Henry Fairfield Osborn e o antropólogo inglês Louis Leakey formularam objecções.
Ora, desde início, diversos anatomistas e antropólogos refutaram as descobertas, sem que ninguém, contudo, suscitasse publicamente a hipótese de fraude. Assim, logo em 1913, David Waterston, anatomista do King’s College, admitiu tratar-se de «peças de diferentes indivíduos, cuja integração era tão inconsequente (...) como articular um pé de chimpanzé com uma perna humana», e, em 1916, um dentista, Lyne, notou com estranheza o uso excessivo de um dente canino imaturo (Lyne, 1916). Também Marcellin Boule, aliás mestre de Chardin, falou de «associação paradoxal de um crânio basicamente humano com uma mandíbula de antropóide.», concluindo tratar-se de um achado compósito.
E, em 1915, Gerrit Miller, da Smithsonian Institution, tendo estudado comparativamente vários esqueletos de chimpanzés, gorilas, orangotangos, e ainda crânios humanos actuais, concluiu que o mesmo indivíduo não poderia reunir tal crânio e tal mandíbula. Miller teve, sabe-se, a ideia de se tratar de uma falsificação – mas não tornou públicos os seus argumentos por não ter podido observar directamente o material. Também o paleontólogo norte-americano Henry Fairfield Osborn e o antropólogo inglês Louis Leakey formularam objecções.
Mas, em 20 de Janeiro de 1915 – portanto já em
plena Primeira Grande Guerra –, a cerca de duas milhas da jazida inicial de
Piltdown, Dawson disse ter encontrado um novo fragmento de crânio,
compreendendo um osso frontal com arcada supraciliar e a raiz nasal; e em Julho
do mesmo ano, removeu um dente molar (mais uma vez antropóide e manipulado), e
mais tarde um fragmento de occipital. Dawson morreria em 1916 (Teilhard de
Chardin encontrava-se mobilizado como capelão militar na frente de combate), e
o local de proveniência dos novos achados – denominado Piltdown 2 – permaneceu
de localização desconhecida. Com esta nova comunicação à comunidade científica,
alguns antropólogos cépticos – como Boule e Leakey – acabaram por aceitar a
validade das descobertas, por ser de todo improvável a repetição de achados
conjuntos crânio-dentognáticos (respeitando maxilar e dentes) da mesma
natureza.
O argumento principal (para além de Piltdown 2)
a favor da autenticidade da estranha criatura proposta era a admitida
contemporaneidade entre crânios, mandíbulas e vestígios de fauna fóssil,
supostos pertencerem ao mesmo «piso de habitat», tendo portanto a mesma idade
(método de datação relativa, hoje denominado bioestratigrafia, ou
páleoestratigrafia). Por outro lado, as fracturas do queixo e do côndilo que
tinham sido impostas à mandíbula impediam a demonstração de uma incompatibilidade
anatómica pura e simples. A importância de Piltdown fora tal que, já em 1918,
os achados e interpretações tinham suscitado mais de cento e vinte títulos por
mais de cinquenta autores.
Em 1935 deu-se um acontecimento decisivo para acentuar a perplexidade dos investigadores perante os ossos e dentes de Piltdown: o dentista inglês Alvan Marston encontrou no Kent um crânio de hominídeo fóssil, com traços arcaicos e alta antiguidade, logo denominado o crânio de Swanscombe (hoje considerado como um pré-neandertal). Tudo nesta peça, notavelmente conservada, refutava a estranha associação crânio-mandibular suposta proveniente do Sussex. Perante a desconformidade entre os dois achados, Marston estudou os restos de Piltdown através de moldes, comparou-os com o fóssil que encontrara, e em 1936 fez circular um anúncio em que escrevia:
Em 1935 deu-se um acontecimento decisivo para acentuar a perplexidade dos investigadores perante os ossos e dentes de Piltdown: o dentista inglês Alvan Marston encontrou no Kent um crânio de hominídeo fóssil, com traços arcaicos e alta antiguidade, logo denominado o crânio de Swanscombe (hoje considerado como um pré-neandertal). Tudo nesta peça, notavelmente conservada, refutava a estranha associação crânio-mandibular suposta proveniente do Sussex. Perante a desconformidade entre os dois achados, Marston estudou os restos de Piltdown através de moldes, comparou-os com o fóssil que encontrara, e em 1936 fez circular um anúncio em que escrevia:
«Eoanthropus dawsoni vai sofrer grande cirurgia maxilo-facial na
segunda-feira, 23 de Novembro, aquando da próxima reunião da Odontological
Society of the Royal Society of Medicine, às oito horas da tarde. A
operação implicará a extracção do canino inferior direito e a excisão da
mandíbula. A situação deste dente e do maxilar, que há muito constituía um
problema grave, foi por fim diagnosticada com rigor. Depois da excisão,
propomos oferecer as partes removidas ao Museu Britânico (História Natural)
para serem expostas na secção dos antropóides fósseis. Eoanthropus tem
sido tão drogado que não parece necessário qualquer anestésico. Mas será
preciso ajuda para estender a vítima. Espera-se que Eoanthropus tenha
rápida convalescença. O prognóstico é bom. A aparência mental do sujeito será
mais humana, e ele será menos anti-social sem uma mandíbula que o impede de
comer e falar como um ser humano. Cirurgião dentário: A.T. Marston, L.D.S".
Mas os elementos restantes do grupo inicial
obstinavam-se no seu culto à descoberta forjada e, em 1938, Sir Arthur Keith
(entretanto nobilitado com este título, tal como os dois Smith), foi a Piltdown
descerrar uma lápide memorial, que tinha inscrito: «Here in the old river
gravel Mr. Charles Dawson, F.S.A., found the fossil skull of Piltdown, 1912-13.
The
discovery was described by Mr. Charles Dawson and Sir Arthur Smith Woodward in
the Quarterly Journal of the Geological Society.» (Trinkaus & Shipman, 1993).
Decorriam os anos, e a instauração de um
paradigma científico falso com base em achados fraudulentos arrastava entretanto a denegação de
descobertas genuínas posteriores e – ó surpresa – mesmo anteriores. Assim, fora
relegada para a sombra a descoberta de Eugène Dubois, de 1891-92, de uma calote
craniana e um fémur provenientes do rio Trinil, em Java, peças que ele
atribuíra à espécie Pithecanthropus erectus (uma denominação
homenageando Ernst Haeckel, o evolucionista alemão que postulara a existência
do género Pithecanthropus); e fora depois subestimada a importância do
achado de Raymond Dart, na África do Sul, do crânio infantil de Taung,
mostrando uma espécie por ele denominada Australopithecus africanus, bem
como das subsequentes revelações, por Robert Broom, de outras formas de
australopitecos provenientes de outras cavernas sulafricanas. A influência de
Piltdown isolou e marginalizou estas descobertas e os seus autores do centro do
debate científico. Contudo, o ilustre anatomista comparativo inglês Sir Wilfred
Le Gros Clark reconheceu a importância do achado de Dart e dos achados
posteriores de Broom (acompanhou até uma fase da sua investigação no terreno),
tal como exprimira antes fortes reservas em relação a Eoanthropus.
Na China, a gruta de Zukudien fora alvo de
pesquisas, na década de 20, por uma equipa dirigida por Otto Zdansky, e depois
por Davidson Black. Em certa altura, Teilhard de Chardin juntou-se ao grupo que
empreendia as prospecções, trabalhou no terreno, junto com o antropólogo chinês
Pei-Wenzhong e, após a morte brusca de Black, veio a tomar a direcção das
pesquisas – até à chegada do grande anatomista alemão Franz Weidenreich, que
passou a dirigir o Laboratório Cenozóico de Pequim. Weidenreich, perante a
sucessão de achados paleontológicos referentes ao «homem de Pequim» (denominado
na altura Sinanthropus pekinensis, e que foi depois subsumido, tal como
o «homem de Java», na espécie Homo erectus, da qual constituiu variedade
regional), escreveu, em 1940, a propósito do homem de Piltdown:
«Eoanthropus deve ser apagado da lista de
fósseis humanos. É uma combinação artificial de fragmentos de uma caixa
craniana humana com uma mandíbula de orangotango.»
Enquanto Eoanthropus configurava uma
crânio com dentes de antropóide, Australopithecus mostrava um crânio de antropóide com dentes quase
humanos. Os paradigmas não podiam ser mais contraditórios e, perante o fulgor
das descobertas verdadeiras e interpretações coerentes, os elementos do grupo
inicial de Piltdown tentaram denegrir os seus autores. Elliot Smith escreveu, a
propósito de Dart: «É grande lástima que não tenha tido acesso a material
comparativo de crânios de chimpanzés jovens, gorilas ou orangotangos.» E Arthur
Keith: «A descoberta [de Dart] esclarece a história natural dos antropóides,
não a do ser humano.»
Com o avançar do tempo, instalaram-se dúvidas
crescentes e sucessivas, e o material de Piltdown tornou-se cada vez mais
problemático e equívoco no seu significado. Em 1948, Kenneth Oakley, geólogo e
palentólogo do Departamento de Paleontologia do Museu Britânico, redescobriu um
antigo método esquecido de datação, o método dos fluoretos, aplicável a
material fóssil e por fim aplicado aos ossos de Piltdown: num mesmo terreno, a
captação de flúor pelos ossos enterrados é proporcional ao tempo que decorre.
Eis que Oakley demonstrou a grande antiguidade dos fósseis de mamíferos
exumados com os ossos humanos, a pertença recente do crânio humano – subfóssil,
com pouco mais de mil anos – e a pura e simples actualidade da mandíbula.
Publicou estes resultados em Março de 1950 (Oakley & Hoskins, 1950), ainda
sem desconfiar de uma fraude.
Mas, nos anos seguintes, Joseph Weiner, antropólogo de origem sul-africana, antigo discípulo de Raymond Dart, então a trabalhar em colaboração com Le Gros Clark na Universidade de Oxford, partiu para uma análise mais sistemática do material de Piltdown, que o Museu Britânico já não podia manter fechado, ante o novo ambiente ideológico e científico instaurado com o termo da Segunda Grande Guerra e após a vitória dos Aliados. Descobriu então ao microscópio, nos dentes, sinais de desgaste feito por ferramentas metálicas, e para mais em planos de atrição diferentes no primeiro e no segundo molares, fenómeno impossível na natureza. Le Gros Clark confirmou o bem fundado destas observações.
Mas, nos anos seguintes, Joseph Weiner, antropólogo de origem sul-africana, antigo discípulo de Raymond Dart, então a trabalhar em colaboração com Le Gros Clark na Universidade de Oxford, partiu para uma análise mais sistemática do material de Piltdown, que o Museu Britânico já não podia manter fechado, ante o novo ambiente ideológico e científico instaurado com o termo da Segunda Grande Guerra e após a vitória dos Aliados. Descobriu então ao microscópio, nos dentes, sinais de desgaste feito por ferramentas metálicas, e para mais em planos de atrição diferentes no primeiro e no segundo molares, fenómeno impossível na natureza. Le Gros Clark confirmou o bem fundado destas observações.
A pedido de Weiner e Le Gros Clark, Oakley
repetiu o seu ensaio dos fluoretos, confirmando a primeira avaliação (Weiner,
Oakley & Le Gros Clark, 1952). A 21 de Novembro de 1953, os três
publicaram, num artigo de cinco páginas, as conclusões da sua investigação
convergente: «that the faking of the mandible and canine is so extraordinarily
skillful, and the perpetration of the hoax appears to have been so entirely
unscrupulous and inexplicable, as to find no parallel in the history of
palaeontological discovery.»
A 25 de Novembro, Oakley e Weiner comunicaram à Geological Society os fundamentos da sua demonstração, para espanto geral – e sobretudo de Marston, que se encontrava na assistência. Na tarde desse mesmo dia, na Câmara dos Comuns, um deputado apresentou uma moção de desconfiança ao Museu Britânico (secção de História Natural); mas um outro lembrou que os políticos «had enough skeletons in their own cupboards» (Milner, 1993).
Seguiram-se comentários do Speaker: «Not sure how serious the motion is [laughter], but sure we have many other things to do besides examining the authenticity of a lot of old bones [loud lauhter].» E, na Câmara Alta, o Lorde do Sêlo Privado: «The government had found so many skeletons to examine when they came into office that there had not yet been time to extend the researches into skulls [lauhter]» (in Reader, 1988, p.78).
Eis como os comentários dos responsáveis políticos exprimiram uma funda incompreensão e um vivo desprezo pela ciência, em contraste com a gravidade da longa adulação de falsos achados, dos seus mentores e da ideologia nacionalista e xenófoba que os animava. Com ditos de ironia, o pragmatismo britânico encerrara o caso que, por feliz circunstância, fora desvendado por investigadores ingleses com participação do Museu Britânico.
Foram então feitos contactos discretos com Keith e Chardin, os únicos participantes do grupo de Piltdown ainda vivos. Ambos mostraram evasivas inexplicadas e enigmáticas reticências em aclarar a questão, como se tivessem sido tomados de amnésia profunda. Keith disse então que destruíra toda a correspondência trocada com Dawson, e Chardin mostrou um silêncio obstinado ante tão penoso problema. Mas como afastar a ideia de declínio e o sentimento de náusea perante a mudança abrupta que, em duas gerações, se abatera sobre a ciência inglesa no domínio da história natural, desde os tempos de Darwin e Wallace, Lyell e Huxley, até aos de Piltdown?
A 25 de Novembro, Oakley e Weiner comunicaram à Geological Society os fundamentos da sua demonstração, para espanto geral – e sobretudo de Marston, que se encontrava na assistência. Na tarde desse mesmo dia, na Câmara dos Comuns, um deputado apresentou uma moção de desconfiança ao Museu Britânico (secção de História Natural); mas um outro lembrou que os políticos «had enough skeletons in their own cupboards» (Milner, 1993).
Seguiram-se comentários do Speaker: «Not sure how serious the motion is [laughter], but sure we have many other things to do besides examining the authenticity of a lot of old bones [loud lauhter].» E, na Câmara Alta, o Lorde do Sêlo Privado: «The government had found so many skeletons to examine when they came into office that there had not yet been time to extend the researches into skulls [lauhter]» (in Reader, 1988, p.78).
Eis como os comentários dos responsáveis políticos exprimiram uma funda incompreensão e um vivo desprezo pela ciência, em contraste com a gravidade da longa adulação de falsos achados, dos seus mentores e da ideologia nacionalista e xenófoba que os animava. Com ditos de ironia, o pragmatismo britânico encerrara o caso que, por feliz circunstância, fora desvendado por investigadores ingleses com participação do Museu Britânico.
Foram então feitos contactos discretos com Keith e Chardin, os únicos participantes do grupo de Piltdown ainda vivos. Ambos mostraram evasivas inexplicadas e enigmáticas reticências em aclarar a questão, como se tivessem sido tomados de amnésia profunda. Keith disse então que destruíra toda a correspondência trocada com Dawson, e Chardin mostrou um silêncio obstinado ante tão penoso problema. Mas como afastar a ideia de declínio e o sentimento de náusea perante a mudança abrupta que, em duas gerações, se abatera sobre a ciência inglesa no domínio da história natural, desde os tempos de Darwin e Wallace, Lyell e Huxley, até aos de Piltdown?
II. Iniciou-se então o
processo de pesquisa e decifração, quer do móbil, quer do autor (ou antes, do
instigador) do projecto fraudulento; e à medida que as indagações prosseguiam
multiplicaram-se os suspeitos, tendo sido sucessivamente indiciados (para além
de Charles Dawson, por todos considerado conivente mas incapaz de gizar sozinho
tão complexa trama):
- William Sollas, geólogo, adversário de Smith Woodward (Halstead, 1978);
- Grafton Elliot Smith (Miller, 1972);
- O químico Samuel Woodhead (segundo Peter Costello, investigador independente de Dublin – Costello, 1985);
- Sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, escritor de crença espírita e adversário obstinado de Ray Lankaster e das ideias evolucionistas, para mais interessado em muitas das disciplinas implicadas (arqueologia, anatomia humana, química, colecta de fósseis) e amante de enigmas e intrigas, que vivia perto de Piltdown Common e se sabe que acompanhou parte das pesquisas no terreno (Winslow & Mayer, 1983);
- Pierre Teilhard de Chardin, apontado como suspeito por Stephen Jay Gould (1980, 1983) com base em pressupostos cronológicos e epistolares bem como no seu silêncio [Alan Ternes, editor de Natural History, sugeriu mesmo que Teilhard, como padre, poderia ter ouvido Dawson em confissão, não podendo desde então revelar os factos, mas distanciando-se deles] e ao admitir que, de todos os envolvidos, era ele o especialista com mais inteligência e universalidade de conhecimentos2;
- Arthur Keith, segundo a rigorosa investigação conduzida por Philip Tobias (1994);
- Martin Hinton, do Museu Britânico, amigo de Smith Woodward – desde que foi descoberta uma caixa com as suas iniciais, num gabinete do Natural History Museum, contendo ossos talhados artificialmente e escurecidos pelo mesmo meio químico utilizado na fraude (Brian Gardiner, in Jurmain e al., 1997).
Nos arquivos da Geological
Society encontraram-se inúmeras cartas sobre o caso de Piltdown, referindo
peripécias, controvérsias e interpretações mas, para surpresa geral, nenhumas
cartas de Dawson sobre o assunto, o que desde logo pareceu estranho, dada a
convicção geral de que o procurador fora um agente mais que provável na gestão
da fraude, constituindo elo entre o laboratório e o museu, por um lado, e entre
os teóricos e o trabalho de campo (limitado à inumação subreptícia de ossos,
fósseis e artefactos, e à sua exumação mais tarde, apresentando-os como
autênticos, com decisão e falsa inocência).
Mas porquê, afinal, esta falsificação tão
subtilmente gizada? Quais os móbeis? Qual a inspiração? Quais os seus efeitos?
Porque a confiança inicial – mantida durante quatro décadas – no valor dos
achados de Piltdown, antes de abalar a credibilidade de instituições
científicas respeitáveis, como o Museu Britânico, comprometeu a construção de
modelos teóricos válidos em paleoantropologia e desfocou a importância dos que
já existiam, subalternizando a importância do autêntico registo fóssil e
arqueológico que entretanto surgira, provindo da África, da Ásia e também da
Europa, denegrindo os seus autores e o bem fundado dos seus métodos e
conclusões.
É de admitir que a fraude tenha sido inspirada
pela anterior falsificação de Moulin Quignon, envolvendo uma mandíbula, e que
lançara a humilhação sobre o arqueólogo francês Boucher de Perthes, em 1859, no
próprio ano da publicação de The Origin of Species. Quanto ao achado do
canino em falta, imitou porventura semelhante acontecimento ocorrido na fase
precursora das pesquisas em Pequim, quando Max Schlosser, em 1903, estudou um
dente fóssil de um primata, obtido por Haberer, sem conseguir esclarecer se
pertencia a um pongídeo ou a um humano (in Reader, 1988). Os materiais
provieram de diversos museus de diversos países: o crânio patológico, de um
museu de medicina ou de antropologia física; os dentes de hipopótamo,
provavelmente de Malta; o dente de mastodonte, marcado por forte
radioactividade, seguramente da Tunísia, onde existia uma jazida com essas
características. Houve então que coordenar a procura de todos estes materiais
esparsos, juntá-los, impregnando-os com 11 a mesma coloração química,
enterrá-los, e enfim fazê-los aparecer segundo uma ordem lógica e a tempos
adequados.
«A lição de Piltdown – escreveu Tobias (1994) –
é de que a desonestidade deve incluir-se entre os factores que influenciam a
rejeição e a aceitação de descobertas e conceitos científicos.» Deste modo,
contribui para determinar as heurísticas positiva e negativa de
que falou Imre Lakatos (1970), aquilo que merece ou não ser investigado num
dado momento e contexto da evolução de uma ciência. Ora, as causas da
desonestidade foram aqui o racismo e o nacionalismo, a sede de notoriedade
científica e social e o desejo de confirmação de teorias já formuladas. «As
fraudes científicas com sucesso geralmente partilham dois aspectos: caucionam
convicções problemáticas mas desejadas e acentuam orgulhos locais e
patriotismo.» (Milner, 1990, p. 363). Uma vez aceitada a validade do material
apresentado, tornava-se implícito que «em Inglaterra tinham vivido humanos de
aspecto moderno ainda antes que os homens de neandertal tivessem surgido no
continente.» (Gould, 1983, p. 231).
Quando uma teoria suscita exaltação ideológica,
os investigadores postos ao seu serviço retiram-se quase sempre do tecido da
ciência e preocupam-se mais com a demonstração de objectivos do que com o rigor
dos métodos. Por isso, as fraudes foram comuns em ciência, e sobretudo nos ramos
da ciência que se ocupam da origem e evolução do homem e de comparações
inter-étnicas3. As falsificações neste domínio surgem invariavelmente ao
serviço de ambições pessoais baseadas em teorias de conteúdo ideológico, de
crenças e reivindicações de um grupo, ou da autoridade manipulativa do governo
de um estado. Não esqueçamos que Piltdown consagrava as teorias de Keith e
Elliot Smith sobre a preeminência da cerebralização no processo evolutivo, e as
ideias de Henry Fairfield Osborn quanto a uma origem centro-asiática da
humanidade, contrariando a origem africana, postulada por Darwin.
Hoje, numa sociedade em que
tudo se torna mercadoria e em que a investigação precisa de verbas consideráveis
e pode constituir um motor poderoso para a indústria, a frequência da
falsificação em ciência tende a crescer, sob máscaras mais ou menos discretas:
ocultação e destruição de provas que provem o bem fundado de teorias alheias
colidindo com as próprias; processos de manipulação e influências prejudicando
a concessão de meios de investigação a terceiros; publicação premeditada de
mentiras.
Toda a história da ciência foi percorrida por
manipulações tendentes a distorcer a realidade, havendo gradientes e antíteses
na impostura em ciência. A fraude representa apenas o culminar de um processo
de delinquência científica cuja base comporta: a sobrevalorização de trabalhos
e observações (por vezes fantasiados, como na monografia de Carl von Linné
sobre a sua viagem à Lapónia, subsidiada pela Academia Sueca); o retocar de
dados, visando ajustá-los melhor às predições (às vezes demasiado, como
aconteceu com Mendel); o plagiato e a apropriação de ideias alheias sem citar
os autores (o que sucedeu com Tschermak e Correns, e esteve perto de acontecer
com Hugo de Vries, em relação à monografia de Mendel); a manipulação material
de animais de experiência (por exemplo, Kammerer, 1924, procurando forçar a
demonstração de uma tese neolamarckista) – conjunto de atitudes a que poderemos
chamar de ilicitude de construção; mas também a forja de dados
destinados a refutarem conclusões válidas ou a sustentarem hipóteses absurdas
de terceiros (o caso recente de Reiner Protsh von Zieten, em Frankfurt,
falsificando datações por forma a dar crédito à hipótese errónea de híbridos
férteis entre neandertais e homens modernos – cf. The Guardian, de 19 de
Fevereiro de 2005), o furto de materiais fundamentais (o caso, também actual,
do roubo e danificação dos fósseis de Homo floresiensis por Teuku Jacob,
na Indonésia) – o que se poderá denominar de ilicitude de destruição.
Assim, os métodos ilícitos acompanham o processo
de desenvolvimento da ciência e representam uma vertente a ter em conta na
avaliação da informação científica em cada domínio e em cada período, tendo-se
constituído recentemente um campo de investigação e reflexão
sobre este tema (Broad & Wade, 1983; Judson, 2004; Greenberg, 2005). Para
credibilidade científica plena, torna-se claro que é essencial preservar dois
aspectos estreitamente inter-relacionados e que devem ser presentes em todo e
qualquer momento da pesquisa: o rigor da metodologia, e a ética (devida à
comunidade científica, aos seres vivos, à natureza em geral, e à própria
ciência). E ainda assim, no dizer de Le Gros Clarck, «a história de Piltdown
tem afinal um lado positivo: porque a sua detecção levou ao desenvolvimento de
um conjunto de técnicas que serão no futuro de grande valia na determinação da
idade de fósseis genuínos e tornarão impossível a quem quer que seja repetir
semelhantes falsificações.» (In Trinkaus & Shipman, 1993).
III. Como explicar que o ludíbrio de Piltdown
permanecesse intocável durante tão longo tempo, apesar dos avanços da ciência e
da multiplicidade dos achados autênticos? A causa da longa resistência da
fraude ao desmascaramento residiu muito provavelmente no seu carácter multi e
interdisciplinar, delineando e antecipando o próprio cenário transdisciplinar
da paleoantropologia, que hoje combina elementos e saberes encadeados de
ciências da Terra, da vida, do homem e da linguagem, numa rede tridimensional
cujos métodos se entrecruzam e em que os conhecimentos de uma área confirmam,
infirmam, corrigem e precisam os que provêm de outras áreas (Vieira, 1995).
De facto, em Piltdown combinaram-se
conhecimentos de anatomia comparada, anatomia funcional e paleopatologia (o
patologista Samuel G. Shattock, do Royal College, concluiu que o
espessamento do ossos da calote craniana apresentada se devia a uma doença) com
saberes da paleontologia e geologia, química, arqueologia e bioestratigrafia; e
ainda uma subtil e judiciosa manipulação museológica, e enfim ideológica junto
das sociedades científicas e da opinião pública.
Houve que premeditar e planear a mistificação
segundo uma estratégia persuasiva: escolher, procurar, subtrair de museus
vários, reunir e falsificar activamente os materiais ajustados aos desígnios fraudulentos;
dispô-los dolosamente e criar circunstâncias favoráveis à sua larga divulgação;
convencer o público culto, e mesmo o público especializado, de que eram
autênticos; atribuir-lhes valor de prova para teorias preexistentes; subtrair
das vistas o material, encarcerando-o nos cofres do Museu Britânico e
prevenindo assim observações directas de cientistas independentes; gerir a
cronologia dos achados, a sua divulgação, as reacções suscitadas; enviar
notícias e comentários consentâneos para a imprensa geral e científica; atender
ao impacto causado no estrangeiro; e finalmente explorar o poder da aliança
entre os paradigmas proclamados e a ideologia dominante, alimentando o desejo
inconsciente da opinião pública e trazendo-lhe a caução do prestígio científico
com o rigor dos seus métodos.
Todo este processo implicou reunir fósseis de
diversa proveniência, a mandíbula de um antropóide actual e um crânio
patológico; desgastar os dentes, dando-lhes o falso aspecto de um padrão de
desgaste humano; fracturar crânio e mandíbula, descartando os pontos por onde a
verdade seria facilmente restabelecida; obter os utensílios líticos; ferver
todo o material numa solução de dicromato de potássio; enterrar as peças nos
locais propícios; orquestrar o seu sucessivo aparecimento e o tempo e modo da
sua apresentação às sociedades científicas, gerindo as próprias diferenças de
expectativa e de opinião dos especialistas envolvidos– sempre em nome de
paradigmas teóricos, que partilhavam a convicção, então dominante no Reino
Unido, de que o desenvolvimento do cérebro dirigira a evolução humana e de que
essa linhagem superara todas as outras, excluindo selectivamente espécies
colaterais (como os neandertais, antigos habitantes do continente) e as então
supostas raças de primitivos actuais (fueguinos, pigmeus africanos,
andamanêses, lapões, etc.) e evoluíra em Inglaterra desde uma alta antiguidade.
O mais surpreendente é que, após a proclamação
do Eoanthropus, os figurantes do grupo inicial – que constam do célebre
retrato por John Cook: de pé, Frank Barlow, o autor dos moldes, Grafton
Elliot-Smith, Charles Dawson, Arthur Smith Woodward; sentados, Underwood,
especialista dentário, Arthur Keith, de bata, no centro do quadro, o zoólogo
Pycraft e o museólogo Edward Ray
Lancaster, todos sob o olhar de Darwin, num quadro em mise en abyme na
parede ao fundo – acentuaram expectativas e interpretações diversas que os
afastaram uns dos outros e de uma presumível ideia comum jogada a priori como
núcleo da fraude.
Essas mesmas divergências entre alguns dos hoje suspeitos acabaram por juntar credibilidade ao ardil, que evoluiu a partir de certa altura com uma dinâmica própria – como se cada um extraísse dele as consequências que lhe aproveitassem e as vantagens que concedesse à sua visão dos factos evolutivos. Assim, Keith e Elliot Smith opuseram-se acerbamente um ao outro quanto às proporções crânio-faciais da quimera que tinham reconstituído; e, antes do aparecimento do canino direito descoberto por Teilhard, Woodward previra um canino de talhe antropóide e Keith um dente humano; enfim, Smith Woodward fora viver para perto de Piltdown Common para mais assiduamente participar das futuras prospecções no terreno!
Essas mesmas divergências entre alguns dos hoje suspeitos acabaram por juntar credibilidade ao ardil, que evoluiu a partir de certa altura com uma dinâmica própria – como se cada um extraísse dele as consequências que lhe aproveitassem e as vantagens que concedesse à sua visão dos factos evolutivos. Assim, Keith e Elliot Smith opuseram-se acerbamente um ao outro quanto às proporções crânio-faciais da quimera que tinham reconstituído; e, antes do aparecimento do canino direito descoberto por Teilhard, Woodward previra um canino de talhe antropóide e Keith um dente humano; enfim, Smith Woodward fora viver para perto de Piltdown Common para mais assiduamente participar das futuras prospecções no terreno!
Atendendo a este conjunto de elementos,
parece-nos que a fraude de Piltdown, a mais insidiosa das mistificações
científicas e a de mais nefastas consequências para a ciência da evolução
humana, não foi tarefa para um só homem – contra o que muitos autores
pretenderam e pretendem – mas para um extenso grupo multidisciplinar, em que
alguns dos intervenientes agiram no terreno, outros nos gabinetes do Museu
Britânico e nos bastidores das sociedades científicas, outros enfim na sombra;
e que foram conseguidas conivências e aquiescências museológicas,
universitárias e de altas instâncias do poder.
NOTAS:
NOTAS:
1
Na sua extensa obra
escrita, largamente divulgada nos anos 50 e 60, e que despertou viva
curiosidade em círculos cristãos, avultam sínteses teóricas sobre a origem e
evolução humanas – Le phénomène humain, L’avenir de l’homme, e outros
livros. Mais tarde, Chardin acompanhou as investigações de campo na China,
quando da descoberta do então denominado Sinanthropus, na caverna de
Zukudien, perto de Pequim.
2 Gould veio à Europa investigar o caso Chardin, e falou com investigadores que tinham conhecido o célebre jesuíta - como o zoólogo Pierre-Paul Grassé e o paleontólogo Jean Piveteau. Ambos lhe afirmaram que o padre Teilhard de Chardin tinha da ciência tão alto ideal que jamais seria conivente numa fraude. O mesmo nos disse a este respeito o padre Manuel Antunes, que conhecera Chardin.
3 A Arqueologia constitui a este título uma ciência «perigosa» e sujeita a pressões por vezes tremendas. Na China actual, por exemplo, os arqueólogos têm sido intimidados e perseguidos quando as suas descobertas refutam as teses oficiais sobre o passado do país; e no Japão foi decretada a proibição de prospectar os túmulos imperiais, cuja localização é em geral conhecida, sob vários pretextos que encobrem uma razão central: há justificadas razões para supor (e a antropologia molecular decidi-lo-ia sem lugar para dúvidas) que os primeiros imperadores foram de origem coreana!
2 Gould veio à Europa investigar o caso Chardin, e falou com investigadores que tinham conhecido o célebre jesuíta - como o zoólogo Pierre-Paul Grassé e o paleontólogo Jean Piveteau. Ambos lhe afirmaram que o padre Teilhard de Chardin tinha da ciência tão alto ideal que jamais seria conivente numa fraude. O mesmo nos disse a este respeito o padre Manuel Antunes, que conhecera Chardin.
3 A Arqueologia constitui a este título uma ciência «perigosa» e sujeita a pressões por vezes tremendas. Na China actual, por exemplo, os arqueólogos têm sido intimidados e perseguidos quando as suas descobertas refutam as teses oficiais sobre o passado do país; e no Japão foi decretada a proibição de prospectar os túmulos imperiais, cuja localização é em geral conhecida, sob vários pretextos que encobrem uma razão central: há justificadas razões para supor (e a antropologia molecular decidi-lo-ia sem lugar para dúvidas) que os primeiros imperadores foram de origem coreana!
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