O Escolhido: Dragão do Mar
Dr. Thsombe Miles
Este artigo investigou como
Francisco Nascimento, mulato de descendência africana, conceituou o significado
de liberdade no contexto da liderança orgânica, bem como se tornou o símbolo mais
proeminente do movimento abolicionista no Ceará. Também conhecido popularmente como
“Dragão do Mar”, Francisco Nascimento veio a ser figura notável no movimento
contra a escravatura, conquistando até os dias atuais o eminente status de
herói. Como um homem de descendência africana fez-se herói de seu tempo? Ao
contextualizarmos a sua história de luta tentaremos compreender as expectativas
complexas dos afro-brasileiros e da elite cearense no fim do século XIX.
Litogravura de Francisco Nascimento para a Revista Ilustrada de 1884. |
Dragão do Mar enquanto abolicionista negro desempenhou papel importante no projeto reformista brasileiro sem ameaçar a ordem estabelecida em defesa dos interesses da elite. Isso se deve ao fato dele ter sido abolicionista quando no Brasil a escravatura não era mais aceita pelas elites. Como ela estava, de fato, sendo contestada por diversos grupos sociais da sociedade brasileira, somos suscitados a explorar a autenticidade da imagem do herói além das meras representações históricas.
Francisco do Nascimento foi um
homem bastante respeitado, tanto pelos abolicionistas de sua época, como pelo
governo brasileiro. Seu papel no movimento abolicionista foi honrado em artigo
publicado no quinquagésimo aniversário da abolição da escravatura no Ceará e
outros tantos abolicionistas de todas as regiões do Brasil reconheciam como era
importante o papel desempenhado na luta contra a escravidão. Antônio Bezerra,
por exemplo, descreve com detalhes no livro O Ceará e os Cearenses (1906), a
extraordinária participação de Francisco no movimento abolicionista. Foi também
membro fundamental da Sociedade Cearense Libertadora (SCL) e após greve dos
jangadeiros tornou-se finalmente presidente da organização.
Embora Dragão do Mar tenha sido
aceito e louvado por abolicionistas brancos, sua reputação foi por vezes
debatida e impugnada, em grande parte devido à diferença entre ele e os demais membros
da SCL, no que diz respeito à formação acadêmica, política e intelectual. A
maioria deles era ou famosos escritores ou influentes intelectuais. Sua
“celebridade” foi bem mais discutida fora do Estado. Com relação a outros
grandes abolicionistas distintos de cor, como André Rebouças, José do
Patrocínio e Luís Gama, ele foi o que recebeu tratamento diferente nos escritos
publicados. Ainda que bem conhecido e envolvido com muitos membros do movimento
nacional, Nascimento não era nem intelectual, nem escritor profissional como os
outros. Ele foi principalmente um abolicionista local. Outros também abolicionistas
conhecidos tornaram-se famosos porque literalmente inscreveram-se na história.
José do Patrocínio, que mais tarde se reuniria a Nascimento e ao movimento
abolicionista, foi um prolífico jornalista e romancista. André Rebouças,
intelectual e engenheiro foi também escritor fecundo. Luís Gama, advogado,
libertou tantos escravos que adquiriu respeito inclusive dos seus próprios
inimigos; também foi talentoso poeta e escritor. Oque se sabe na verdade sobre
Nascimento não está na sua própria voz, mas na voz de outros abolicionistas do
seu tempo.
Francisco nasceu em 1839 na
pequena vila de pescadores de Canoa Quebrada. De família humilde de mulatos
jangadeiros livres, ele também aprendeu o ofício de pescador. Nessa época, a
ocupação de jangadeiro era aberta principalmente a homens de cor livres. Na
pirâmide social brasileira a atividade da pesca em jangada estava ligada à
classe baixa e jangadeiros eram considerados ignorantes.2
Como a grande maioria dos
jangadeiros não possuía suas próprias embarcações realizavam o trabalho de
forma terceirizada e eram, portanto, todos mal remunerados. Segundo dados
biográficos de Nascimento, ele foi basicamente analfabeto até a idade adulta e
nunca foi formalmente educado. É impressionante o fato de que ele aprendeu a
ler quando muitos de sua classe não o fizeram. É claro que Nascimento possuía
capacidade de liderança e era altamente inteligente. Logo se destacou como
jangadeiro, pois possuía duas jangadas e isso era bastante incomum naquela época.
Ao longo dos tempos tornou-se líder entre os companheiros de jangada e ganhou
posição de destaque nas docas do porto.3
Nascimento sempre alimentou forte
o ódio da escravidão. Quando jovem, ouviu a história de uma revolta de escravos
em um barco chamado Laura Segunda e isso o marcou profundamente. A história
conta que dezesseis homens de cor e um homem branco mataram um capitão de navio
porque ele os tratou mal. Tais homens foram capturados em Aracati e condenados
à prisão com exceção do líder que foi assassinado. De acordo com Morel, essa
história teria impressionado Nascimento de forma duradoura, muito embora ele
fosse um homem livre e nem um de seus pais fossem escravos. No entanto, não
está claro que sua família era contra a escravidão. Não é a cor ou a condição
de liberdade que determinará posições ideológicas ou sociais. Antônio Rebouças,
por exemplo, famoso abolicionista, apesar de mulato foi membro do Parlamento e
possuiu escravos. Um dos mais fervorosos defensores do regime escravista, o
Barão de Cotegipe, era mulato. No entanto, podemos afirmar que de um modo geral
as pessoas de ascendência africana, livres ou escravas, sentiam enorme
ansiedade sobre o lugar ocupado por eles na sociedade, assim como os homens
livres que combateram no movimento Balaiada. Como aponta Morel, apesar de
Nascimento ser livre dentro de uma família livre, ele era mulato e isso seria
suficiente para assegurar sua vulnerabilidade diante de humilhações de todos os
tipos.
O frequentemente esquecido
abolicionista José Napoleão, colega de Nascimento, também alimentou seu ódio da
escravidão. Parece que é mais fácil entendê-lo do que Nascimento, pois Napoleão
nasceu escravo dentro de uma família de escravos. Esse ganhou sua liberdade bem
como a liberdade de três membros de sua família. Atendendo uma solicitação de
Dragão, participou da primeira greve dos jangadeiros, mais tarde desaparecendo
do movimento.
Depois de liderar a segunda greve
dos jangadeiros, Dragão do Mar foi escolhido pela elite abolicionista para ser
o símbolo do movimento. De muitas maneiras os abolicionistas viram Dragão do
Mar como a personificação de sua causa. Perguntamo-nos em que medida a ascensão
de Nascimento como líder no movimento deveu-se a sua classe e ao seu passado
étnico. Afinal de contas, por que José Napoleão não se tornou líder? Talvez
tenha rejeitado o papel de liderança em favor de Dragão do Mar? Napoleão era um
liberto (escravo libertado), discriminado pelas leis brasileiras estava mais
sujeito ao racismo do que Dragão do Mar. Aquele liderou com outros dois
abolicionistas, José Vasconcelos e Isaac Amaral, o primeiro golpe contra o
Estado do Espírito Santo no final de janeiro de 1881. O próximo golpe
abolicionista, em agosto desse mesmo ano, foi marcado pelo surgimento do Dragão
do Mar, que ficou famoso ganhando papel ativo no movimento abolicionista.
Após a greve dos jangadeiros,
Nascimento fortaleceu-se como ativista do principal grupo abolicionista do
Estado do Ceará, a Sociedade Cearense Libertadora. Foi recebido em audiência pública
pela corte real no Rio de Janeiro e tornou-se tão famoso que uma multidão de
curiosos e repórteres quiseram conhecê-lo. Apesar de não ter sido recebido por
Dom Pedro ou pela Princesa Isabel, foi presenteado pela família real com uma
medalha de ouro, por ter fechado os portos do Ceará. A corte real era contra a
escravidão e, em muitos aspectos, apoiou a causa da abolição, mas não teve
vontade política ou poder de realmente acabar com ela. No entanto, os monarcas
fizeram muitos gestos simbólicos em favorecimento da causa abolicionista.
Libertaram, por exemplo,
todos os escravos ligados
diretamente à monarquia e apoiaram a aprovação de todos os tipos de reformas. A
realeza não viu a necessidade de realmente conhecer Nascimento, mas validar sua
causa e em certo grau, as suas ações.
Compreendendo o Significado
Dragão do Mar
A validação de Nascimento pelas
elites deve ser questionada. Quem se beneficiou da relação entre Nascimento e
seus patrocinadores? Qual foi a natureza dessas relações? O que fez ele do que esperava
realizar? Pouco ou quase nada poderá ficar muito claro devido à falta de
documentação. Não obstante, algumas ideias podem ser adquiridas a partir dos
escritos de Morel, biógrafo de Nascimento, além de artigos e jornais da época.
Nascimento foi um reformador que
se opunha à escravidão. Embora ele tivesse consciência das suas posições ou até
mesmo laços de amizade com outros abolicionistas negros mais radicais, faltava
nele vontade de derrubar a ordem social. De fato, como outros abolicionistas de
cor, ele particularmente prosperou dentro do movimento. Não há dúvidas de que Nascimento
se beneficiou das ações de outras pessoas e acabou por ser recompensado com a
fama e com o respeito.
Os comerciantes e as classes
profissionais encontravam em Nascimento o mulato da camada popular que havia
superado o baixo estatuto sócio-econômico e se tornado respeitado no Ceará e no
seio do movimento abolicionista. Ele era um poderoso símbolo da nova geração de
brasileiros que almejava a reforma e a modernização.
É importante ressaltar que,
embora Nascimento tenha sido em muitos aspectos o símbolo de um Brasil novo,
nunca se beneficiou da mesma forma que outros abolicionistas brancos. Sua fama
não se traduziu em riquezas, nem ele se tornou politicamente poderoso. Morel
observa que por causa de sua cor e classe, Nascimento foi incapaz de traduzir
sua fama em uma carreira lucrativa.
A elite predominantemente branca
foi quem patrocinou Nascimento e a ela ele foi extremamente leal. Esse tipo de
relacionamento era normal no Brasil.
Mecenato foi um movimento
político organizado. Fazendo uma leitura do órgão abolicionista, O Libertador,
que era a organização mais progressista da abolição na época, podemos perceber que
ele defendia a liberdade e a fraternidade entre todos os homens. O grupo rival
abolicionista O Centro era retratado como radical por causa de sua linguagem,
mas não o foi. De um modo geral os reformistas estavam engajados em um projeto
de modernização, mas não se interessavam pelas ideias que o liberalismo
escreveu.
Vale lembrar que os balaios foram
principalmente homens livres de cor como Dragão do Mar, também de origem
humilde e procedentes de grupos marginalizados. Mesmo que no início da revolta
tenham excluído os escravos e baseado suas convicções em uma filosofia liberal,
tentaram criar uma sociedade radicalmente diferente. É inegável que as
implicações de tal revolta foram revolucionárias, sobretudo o domínio que
mantiveram em grande parte dos três estados do Nordeste, além da libertação de
muitos escravos em seu governo.
O grupo de quilombolas liderado
por Cosme estava educando seu povo. Os dois principais líderes do movimento,
Cosme e Raimundo, foram homens de herança africana. Raimundo Gomes, por
exemplo, era frequentemente citado em documentos do governo como “Cabra”, um termo
pejorativo referente a pessoas de ascendência africana. Cosme e seu grupo de
quilombolas formavam a facção mais importante do movimento. Embora houvesse
pessoas de herança africana no movimento, dominado mais tarde pelas elites,
eles não foram radicais. Os abolicionistas escreveram sinceramente sobre uma
sociedade que abraçava as ideias liberais, mas não agiram. Uma evidência disso
é que após a abolição da escravatura, as pessoas de ascendência indígena e africana
continuaram sendo excluídas do poder, com raras exceções. Mesmo quando homens
de ascendência africana atingiam posições de poder, como o Barão do Cotegipe,
eles não se identificavam como homens de cor, pois desejavam esconder esse
fato. Quando se sentiram forçados a reconhecerem suas raças criaram uma
distância entre si mesmos e as massas. Durante o Império e também mais tarde,
muitos mulatos influentes, como Machado de Assis e outros, foram acusados de
negar sua cor e origens. No período pós- escravo, Nina Rodrigues, Oliveira
Viana e Nilo Peçanha mantiveram silêncio sobre seu patrimônio étnico ou o
minimizaram. Pelos padrões modernos, muitos deles seriam considerados
racistas.4
Nina Rodrigues e Oliveira, dois
intelectuais mulatos claros, escreveram livros de rigor intelectual excepcional
para a época, mas imbuídos de todos os tipos de ideias de raça superior e inferior.
De certa forma isso não deveria ser surpreendente, pois o racismo científico
foi amplamente aceito na Europa e nos Estados Unidos.5 Nilo Peçanha era de
origem humilde e mulato claro, mas calou sobre sua origem africana diante de
seus adversários que o atacavam. Ainda assim, não demonstrou nenhum compromisso
sério no esgotamento das noções de superioridade branca.6
Está claro que muitas pessoas de
pele branca distanciaram-se das outras pessoas de cor no movimento
abolicionista. Por volta de 1870 no Brasil, não havia uma ligação orgânica
entre pessoas de ascendência africana, muito menos entre a elite e as classes
populares. Outro fator que desencorajou a solidariedade racial no Brasil do
século XIX foi o caminho da mobilidade social ter sido baseado no patrocínio de
pessoas; muitos de ascendência africana atingiram uma quantidade razoável de
sucesso e fama desta maneira. Durante a Monarquia no Brasil, a maioria dos abolicionistas
famosos como André Rebouças e José do Patrocínio, estava ligada à Monarquia ou a
outros clientes; Nascimento ligou-se a seus patronos cearenses, abolicionistas
esses com fortes tendências republicanas.
Podemos obter algumas ideias
sobre o poder do patronato através da análise de um episódio envolvendo José do
Patrocínio e Nascimento. Vários anos após o final da escravidão, o velho amigo
de Nascimento o convidou para prestar serviços novamente. Patrocínio queria que
Nascimento tomasse uma posição contra a ditadura e contra Floriano Peixoto (o
primeiro líder da República Velha disfarçado de republicano), mas Nascimento
recusou o pedido e afirmou: “Eu estou com o governo e eu estou com João
Cordeiro”.7 Cordeiro foi governador da província e um dos principais
abolicionistas do Ceará. Apesar de concordar provavelmente com Patrocínio, era altamente
improvável que ele tomasse parte contra Cordeiro, seu patrono.
Depois da escravatura ter se
tornado ilegal no país, toda aquela geração de abolicionistas cearenses se
converteram em novas lideranças políticas. Por extensão, Nascimento teve acesso
a esse novo grupo, mas de forma limitada, visto que nunca se beneficiou como
muitos dos seus colegas brancos.8
As políticas públicas da
República Velha, ofereceu poucos benefícios as pessoas de origem africana e da
classe sócio-econômica de Nascimento; tampouco ofereceu oportunidade para a
mobilização social na forma que a Monarquia parecia ter feito, pelo menos para
homens educados, libertos de cor como José do Patrocínio e André Rebouças (que
deixou o Brasil após a queda do Império). Questiona-se muito que Nascimento
tenha pensado profundamente sobre os princípios de uma sociedade republicana ou
sobre semelhantes sociedades pós-escravistas. Questiona-se que ele tenha
pensado abordagens teórico-políticas para melhorar a vida dos ex-escravos e das
pessoas de ascendência africana. Patrocínio, pelo contrário, seguiu a vida
intelectual, foi editor de periódicos diverso, e bastante sincero sobre o que
pensava do liberalismo. Embora tenha sido aliado da Monarquia e amigo de Dom
Pedro II, foi favorável ao abolicionismo como seu colega André Rebouças.
Enquanto Dragão do Mar foi leal apenas ao seu benfeitor João Cordeiro. No final
das contas, nenhum desses homens de cor teve dos colegas brancos de
solidariedade recíproca. Na verdade, foram intimamente influenciados por seus
benfeitores.
Nascimento estava ligado aos
colegas abolicionistas inclusive financeiramente. Afinal, seu negócio como
jangadeiro tinha ligações com os comerciantes que formaram as fileiras no
movimento abolicionista. Depois da escravatura, não fica claro se Nascimento se
preocupou com as políticas nacionais, nem há evidências disso. A ditadura
claramente não teve efeitos positivos em sua vida nem com as de seus
companheiros jangadeiros. Seus patronos o respeitaram e brigaram com ele contra
a escravatura. Isso era mais do que muitos patronos já haviam feito. Os
abolicionistas rivais como Barão de Studart e sua organização, O Centro
Abolicionista, não o respeitaram. De fato, eles pareciam alarmados quando
perceberam radicalismos na Sociedade Cearense Libertadora. Studart foi membro
fundador do O Centro e também escritor. Em nenhum de seus principais escritos
ele menciona Dragão do Mar, nem parece reconhecer a contribuição do mesmo para
o movimento abolicionista. Na verdade, ele o ignora sistematicamente e ainda
repreende seus patronos como o fez com João Cordeiro. Os espaços e
oportunidades para Nascimento eram limitados, uma vez que quebrando o dever de
obediência e lealdade devida aos patronos, fechavam-se as portas de entrada na
elite. Apesar de Nascimento ser respeitado por alguns grupos abolicionistas e
de ser conhecido pelas classes populares, não há vestígios de que ele fosse
amplamente bem aceito pelas elites.
Dragão do Mar, o Abolicionista
e outros Abolicionistas do seu tempo
Veremos adiante que Nascimento
não “conhecia o seu lugar”. Ele nem sempre respeitou os ideais de seus
patronos. Sobre o fim da escravidão e da criação de uma sociedade não racista,
ele pareceu especialmente destemido e sincero como o foram André Rebouças, José
do Patrocínio e Luís Gama. Ainda assim não está claro como Dragão do Mar lidava
com sua identidade racial. Para entendê-lo enquanto abolicionista é importante
relacioná-lo a outros abolicionistas de ascendência africana. Machado de Assis,
por exemplo, se posicionou fora da negritude e viu sua própria ascendência
africana como fonte de vergonha. Pelo contrário, Gama enxergava sua raça e
etnia com orgulho. Em esboço autobiográfico, Gama identifica orgulhosamente a
mãe como de origem africana.9 Ele a descreve como uma mulher negra, baixa, mas
muito bonita, natural da Costa da Mina, ela se recusou a ser batizada e não
aceitou o Cristianismo. Em um poema, Gama debocha da expressão pejorativa
“cabra” e, por vezes, assume o termo com orgulho:
Se negro sou, ou sou bode/Pouco
importa. O que isto pode?/Bodes há de toda a casta, Pois que a espécie é muito
vasta./Há cinzentos, há rajado-Baios, pampas e malhados/ Bodes negros, bodes
brancos/E, sejamos todos francos/Uns plebeus, e outros nobres/ Bodes ricos,
bodes pobres/Bodes sábios, importantes/E também alguns tratantes/Aqui, nesta
boa terra/Marram todos, tudo berra/Nobres Condes e Duquesas/Ricas Damas e Marquesas/Deputados,
senadores/Gentis-homens, vereadores; Belas Damas emproadas/ De nobreza
empantufadas;Repimpados principotes/Orgulhosos fidalgotes/Frades, Bispos,
Cardeais/Fanfarrões imperiais/Gentes pobres, nobres gentes/Em todos há meus parentes.10
Gama se encaixa perfeitamente na
tradição afro-diáspora e na luta contra a escravidão que estava ocorrendo em
todo o mundo novo. Sua visão intelectual estava firmemente focada nas
convicções de luta contra a opressão racial de Alexander Crummel, Fredrick
Douglasse muitos outros ascendentes africanos. André Rebouças era da tradição
filosófica de elevação da raça. Ele acreditava que os negros poderiam ser
ajudados se recebessem da sociedade oportunidades apropriadas.11
José do Patrocínio parecia ser
mais ambivalente sobre sua identidade racial. Apesar de ser contra a
escravatura, ele apoiava a ideia da imigração européia como estratégia de
embranquecimento da raça negra, visão que predominava entre as elites brancas.
Ele fez comentários depreciativos contra os escravos, chamando-os de estúpidos
e feios.12
Ainda assim, tais homens
desejaram acabar com a escravatura e esperavam integrar os ex-escravos à
sociedade. Gama e Rebouças, particularmente, enxergaram o Brasil como uma
sociedade multi-racial e lutaram intensamente para incorporação social de
pessoas de descendência africana.
A Luta de Dragão do Mar contra
o Racismo
Não é claro quão profundamente
Dragão pensou sobre raça. Além de possuir rico conhecimento do mundo negro,
como jangadeiro e velejador, ele teve contato com pessoas do mundo todo e
trocou experiências. Daí, esteve inteirado sobre várias outras revoltas
escravas, como a de Laura Segunda que viera antes dele.13 Ele foi simpático à
causa abolicionista, mas não um revolucionário ativo da maneira que foi Cosme.
Dragão também experimentou o racismo em sua vida. Ele relata em seu diário que
foi insultado por um grupo de homens que o desprezaram por causa de sua cor.
Mas o desprezo experimentado por ele não comprometeu totalmente o seu lugar na sociedade.
Embora não tenha se tornado extremamente rico, foi bastante respeitado
socialmente. Seu segundo casamento, inclusive, foi com uma mulher de família
proeminente, a filha de um grande escritor e intelectual cearense, João
Brígido. Vale lembrar também que em 1881, ele foi nacionalmente apoiado e
recebeu da família real uma solidária medalha de honra ao mérito. No final das
contas, Dragão do Mar teve apoio das principais elites brancas na luta contra a
escravidão, mas o fez em seu próprio benefício.14 Podemos argumentar ainda, que
as elites brancas só aceitaram bem a presença de Nascimento porque o mesmo
ocupou determinados espaços políticos.
Após a escravidão a vida das
pessoas da classe popular não se alterou fundamentalmente, nem os ascendentes
africanos foram inseridos na sociedade. A escravidão terminou, mas o racismo não.
Nem Nascimento abordou este problema diretamente, nem seus patronos.15
Líderes abolicionistas como
Joaquim Nabuco acreditaram que o Brasil era uma sociedade multi-racial, sem
conflitos radicais sérios, apesar de reconhecerem que a noção de brancura foi adotada
pela elite branca. Com o final da escravatura todos os homens foram libertados,
mas a abolição não acabou com a ideia da supremacia branca, muito menos
produziu oportunidades de ascensão econômica para a grande maioria dos
afro-brasileiros. A ordem econômica no Brasil pós-escravatura manteve, pelo
contrário, a maior parte da população em estado de miséria, em particular os
afro-brasileiros. Como não houve restituição ou plano para assimilar a
comunidade de ex-escravos ou pessoas de ascendência africana no fluxo
principal; redistribuição de terras, reformas educacionais e finalmente nenhuma
proteção legal contra práticas discriminatórias; o fim da escravidão apenas
perpetuou a supremacia branca.
O espírito de luta não se perdeu
totalmente em Dragão do Mar. Cerca de vinte anos depois de sua primeira greve,
ele liderou outra muito diferente. Agora não protestava contra a escravidão, mas
contra o recrutamento forçado de homens pobres e de cor para o serviço militar.
Curioso notar que Nascimento não teve nenhum apoio da elite, nem muito menos do
governador antes abolicionista. No protesto Nascimento viu mais de 90 pessoas
serem feridas e/ou mutiladas. Sem dúvidas, como a maioria dos jangadeiros era
de homens de cor, isso contribuiu para que Dragão colocasse a greve em termos
raciais. Ele não entendia por que apenas homens de cor, casados, muitos deles
até avôs, seriam sacrificados em detrimento dos meninos brancos.16 De algum
modo, essa greve demonstra a inocência de Nascimento. Ela foi francamente
planejada, mas não contou como na campanha contra a escravatura, com nenhum
suporte das elites.17
É sabido que Dragão do Mar ajudou
a promover a justiça social e racial, mas diferente de André Rebouças e José do
Patrocínio, ele não articulou um plano específico para o que poderia ser uma
sociedade pós-escravista. Não podemos, no entanto, desprezar sua raiva sincera
contra a injustiça. Na batalha em Catraeiros, por exemplo, ele mostrou trazer
no coração os interesses das classes populares; também demonstrou ser um
destemido advogado popular. Ele foi tão consciente da discriminação racial,
como foram os Balaios algumas gerações antes. De fato, ele não era um elitista
como foi José do Patrocínio e André Rebouças. Na verdade ele estava muito
confortável com as classes populares e ajudou a organizá-las. Não tinha medo de
ir contra as elites em apoio à causa que julgasse correta. Foi Nascimento quem
ajudou a organizar a greve dos jangadeiros e forçou o governo a barrar
oficialmente a entrada de escravos pelos portos do Ceará. É evidente que Dragão
do Mar foi um organizador brilhante e corajoso, mas ele não baseou suas
estratégias em qualquer filosofia em particular. Embora fosse contra o racismo
e contra escravidão ele parecia não dispor de qualquer plano para reorganizar o
Brasil numa verdadeira democracia racial. Aceitou a liderança da SCL, mas
raramente questionou suas próprias ações. Apesar de ter ajudado a acabar com a
escravidão não pensou em como incluir pessoas de ancestralidade africana e
indígena no seio da sociedade.
Para a Balaiada, as ideias de
igualdade racial estavam no centro de seus principais programas. Paradoxalmente,
isso foi mais importante que a abolição da escravatura. Raimundo Gomes, um dos
representantes, foi um homem livre de ancestrais africanos. Ele percebeu que
para que conseguisse trabalhar para o movimento, os escravos também deveriam
ser libertados. Já Cosme tornou-se o centro do movimento porque os seus
soldados tinham mais razões para lutar e, portanto, seriam mais confiáveis.
A grande maioria dos Balaiadas e
os potenciais simpatizantes do movimento, como os Bem-te-vis, foram cooptados e
só a classe escrava se manteve fiel até o fim. Julga-se que isso foi a chave
para que Gomes controlasse a revolta por tanto tempo. Uns quatro anos mais
tarde, Alves Lima transformou Cosme e Gomes nos símbolos em torno dos quais
deveria ocorrer a manifestação das elites contra o movimento Balaiada. Ele
percebeu que os dois formavam imagens contraditórias aos interesses das classes
de elite.18
Como a escravidão representava naquele
momento a salvação econômica, o fato de uma comunidade quilombola formar aliança
com homens livres de cor tornara-se uma ameaça. Isso poderia ter sido
semelhante a outro Haiti. Cosme tinha que ser morto publicamente. Ele violava
todos os códigos da sociedade brasileira. Ele minava todos os aspectos de ordem
brasileira. Raimundo Gomes também foi um radical que ameaçou derrubar a ordem
sócio-econômica brasileira, mas ele não começou da mesma forma que Cosme.
Principiou por defender as reformas com que muitas elites brancas poderiam simpatizar,
pois muitos deles também queriam as reformas, incluindo os benefícios
econômicos e sociais que consideravam ser monopolizados pela classe
política-Cabano. No entanto, a simpatia com os escravos não era parte dessa
negociação.
Por outro lado, depois de duas
gerações da revolta da Balaiada, Dragão do Mar fora aceito por uma grande
maioria, como a voz contra a escravidão. A essa altura, a escravidão já era
inaceitável em todo o mundo ocidental, de forma que as elites do Ceará estavam
praticamente todas dispostas a aceitar o final da escravidão como a saída para
seus problemas econômicos. De certa forma, o Ceará nunca foi dependente da
escravidão, podendo assim ser abolida sem nenhum ônus real à sua economia. Além
disso, para os abolicionistas de vertente mais progressista, ser liderado por
um homem de ascendência africana era mais um ponto de orgulho e não fonte de
vergonha. Ele sequer representaria ameaça para a elite. É bem verdade que
Nascimento era tão dependente das elites que quando tentou agir de forma
independente, como na greve com os Catraeiros, foi violentamente esmagado. Ele
não teve nem poder de barganha, nem independência filosófica ou política como
teve Cosme, que foi capaz de comandar um grupo de três mil escravos. Dragão do Mar
era um líder e teve o apoio das classes populares, mas nunca teve o apoio da
sociedade organizada a reorientá-lo verdadeiramente.
As Balaiadas foram também muito
dependentes da linguagem do liberalismo. Todos os seus manifestos reconheciam
as ideias da elite branca dos Bem-ti-vis. Ao contrário dos irmãos do Haiti, não
expropriaram a linguagem da Revolução Francesa. Eles não se tornaram “Black
jacobinos”. 19 No final, radicalizaram e estavam lutando por justiça social.
Eles não apenas queriam acabar com a escravatura, mas também queriam mudar a
hierarquia e a opressão racial, mas quando se afastaram do projeto elitista já
era tarde.
A geração de elite do tempo de
Dragão do Mar era uma geração de reformadores. O investimento na Balaiada para
acabar com a escravidão não tinha mais o mesmo significado no tempo dele.
Dragão do Mar representava um novo, higienizado líder negro que era contra a
escravatura, mas não tinha alguns dos pontos radicais. Ele não era mais chamado
de Cabra, havia se tornado um pardo respeitado que ajudou a solidificar os
ideais da democracia racial e o progresso para uma nova geração de brasileiros.
O “Progresso” estava acontecendo
lentamente no Brasil, mas não lidava com a desigualdade tampouco com os ideais
da Balaiada, apesar da ilusão de justiça social estar embutida em sua linguagem
de igualdade.20 Na lei havia progresso, mas os ideais proferidos pela
Libertadora não foram realizados. O final da escravatura permitiu ao Brasil
criar um mito de liberdade e igualdade, como aconteceu no resto das Américas.
Todavia terminar a escravidão nunca significou igualdade racial em lugar algum
da diáspora-afro. No Ceará, especificamente, podemos ver que depois da escravatura
a greve de Dragão do Mar foi dirigida contra as mesmas elites que defendiam a abolição,
mas nunca a igualdade racial.
NOTAS:
2 Morel, Edmar. Dragão do Mar: O Jangadeiro da Abolição.
(Rio, 1949), 35-38. A Jangada é um pequeno barco de pesca encontrado unicamente
no nordeste do Brasil. O Jangadeiro é aquele que usa a jangada como forma de
subsistência.
3 Era Uma posição governamental.
4 É interessante que as pessoas
de descendência africana como Oliveira Vianna e Nina Rodrigues tenham sido
fortemente influenciados pela eugenia e repetido as obras de seus
contemporâneos na Europa. No entanto, havia intelectuais como Manuel Querino,
que eloquentemente articulou a participação dos afro-brasileiros e mostrou a
insensatez de assumir déficits intelectuais dos negros bem antes de Gilberto
Freyre nascer, mostrando que o racismo de escritores como Vianna e Rodrigues
não era natural ou lógico, mas sim um caminho que eles escolheram. De muitas maneiras,
pode-se argumentar que esses homens de cor escolheram este caminho, porque era
desejável. Abraçar o racismo científico, de alguma forma perversa
distanciava-nos de seu passado africano e os levava para a brancura. Veja o artigo de Thomas Skidmore“ RaceIdeas
and Social Policy in Brazil, 1870-1930” em Richard Graham’s, The Idea of
Race in Latin America, 1870-1940 (Austin: University of Texas Press,
1990), 7-36.Tambem- Thomas Skidmore, Black into White: Race and Nationality
in Brazilian Thought (Durham: Duke University Press, 1993) .
5 É fascinante notar que foi um
Europeu erudito nascido judeu, Franz Boas, professor na Columbia University,o
grande responsável pela reavaliação das ideais brasileiras sobre o racismo
científico. Seu trabalho contra o racismo científico, não só ajudou a minar a
legitimidade de tais ideais, mas seus alunos também desempenharam um papel
importante na divulgação de seus resultados. No Brasil, Gilberto Freyre abraçou
o desafio de minar o racismo científico. Lee D. Baker “Columbia University’s Franz Boas: He Led the Undoing of
Scientific Racism”, the Journal of Blacks in Higher Education, 1998, 89-96.
6 Em estudos recentes há uma
tendência em minimizar o que Carl Degler chamou de “porta de escape do mulato.”
Estudiosos mostraram que havia e ainda há diferenças socioeconômicas muito
pequenas entre “negros” e “pardos” e que ambos os grupos enfrentam uma enorme
desvantagem na força de trabalho estando muito atrás dos brancos emáreas como
educação, saúde e moradia. Veja
Nelson do Valle Silva, Updating the cost of not being white in Brazil” em Race,
Class and Power in Brazil, ed. Pierre Michel Fontaine (Los Angeles: Center for
Afro- American Studies, 1985) and see the more recent study por Edward Telles.
Race in Another America: The Significance of Skin Color in Brazil (Princeton:
Princeton University Press, 2004).
7 Edmar Morél, Dragão do Mar: O
Jangadeiro da Abolição “Estou com o governo e com o João Cordeiro,” 200.
8 Se analisarmos as posições dos
companheiros de Nascimento no SCL, torna-se claro que seu sucesso foi moderado.
Muitos de seus colegas tornaram-se importantes funcionários do governo ou
empresários bem sucedidos. Havia muito poucas oportunidades de mobilidade
social na época do Império no Brasil.
9 “No livro Dragão do Mar: o
jangadeiro da abolição” de Morel encontramos um apêndice sobre Luís Gama. Veja Vendaval
da Liberdade, “Sou filho natural de negra livre, da Costa Mina, (Nago) de nome
Luiza Mahin, pagã, que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã. Minha mãe
era baixa de estatura, magra, bonita; a cor era de um preto retinto e sem
lustro, tinha, os dentes alvíssimos como a neve, era muito altiva, geniosa, insofrida
e vingativa” 219-220.
10 Para uma bela coleção de
documentos primários sobre a escravidão e relações raciais veja Robert Edgar
Conrad, Children of God’s Fire: A Documentary History of Black Slavery in
Brazil (Princeton: Princeton University Press, 1983), 229-231.
11 Veja Anthony Appiah, In My Father’s House:
Africa in the Philosophy of Culture (New York: Oxford University Press, 1992),
Wilson J. Moses, The Golden Age of Black Nationalism, 1850-1925 (Hamden: Archon
Books, 1978) e Kevin Gaines, Uplifting the Race: Black Leadership, Politics,
and Culture in the twentieth Century (Chapel Hill: University of North Carolina
Press, 1996). Estes livros são bem diferentes em sua orientação teórica.
Cada um, a sua maneira, conta a história de como os intelectuais de
ancestralidade africana conceituaram liberdade, raça e identidade.
12 David Brookshaw mostra que
apesar de Patrocínio ter sidoum feroz abolicionista, ele internalizou também
muitas ideias eurocêntricas. Veja
Race and Color in Brazil Literature (Metuchen: The Scarecrow Press, 1986) 30.
13 Morel, E. Dragão do Mar: O
Jangadeiro da Abolição 35-38. Também sabemos que a mãe de Nascimento assumiu a
identidade negra, pois Morel a cita denominando-se a si mesma de “preta”.
Portanto havia consciência racial na família de Nascimento, e eles
definitivamente se reconheciam como sendo de descendência africana.
14 O liberalismo clássico do
século XIX não deve ser confundido com o liberalismo do New Deal. O liberalismo
clássico promoveu um governo limitado, o livre comércio, e suas ideiasera em
muitos casos uma reação às monarquias que atribuíam seu poder a Deus. Quando
falo do liberalismo moderno refiro-me a uma ideologia que surgiu após a grande
depressão, e abraçou a ideologia econômica Keysian e programas sociais do governo
em grande parte para salvar o capitalismo. Veja Alan Brinkley para uma moderna
discussão do liberalismo, Liberalismo and its Descontentes (Cambridge, Mass:
Harvard University Press, 1998).
15 Para descrições da sociedade
pós- escravidão veja Sam Adamo, “The Broken Promise: Race, Health and Justice
in Rio de Janeiro, 1890-1940.” Ph.
D. diss., University of Arizona, 1983, George Reid Andrews, Blacks and Whites
in São Paulo, Brazil, 1888-1998 (Madison: University of Wisconsin Press, 1991)
and Kim Butler, Freedoms Given Freedoms Won: Afro-Brazilians in Post-Abolition
Sâo Paulo and Salvador (News Brunswick: Rutgers University Press, 1998).
16 Ibid. “Por que os moços
brancos não são sorteados em detrimento do sacrifício de homens de idade,
alguns até avós” 204.
17 Morel, Vendaval, 204-26.
18 Santos, Maria Januária Vilela.
A Balaiada e a Insurreição de Escravos no Maranhão (São Paulo: Ática, 1983).
19 Isto é uma referencia a C.L.R. James, The
Black Jacobins: Toussaint L’Ouverture and the San Domingo Revolution (New York:
Vintage Books,
1989) que documenta como os
escravos usaram a retorica da Revolução Francesa em seus próprios termos. A
retórica do pensamento liberal, que era de fato a base para a revolução
francesa, também se tornou a base para a revolução Haitiana.
20 A abolição da escravatura e a
queda do império pareceu significar o triunfo da democracia e dos ideais do
liberalismo, mas de fato para as pessoas de cor as circunstancias
sócio-econômicas não mudaram significativamente.
Referências Bibliográficas
Adamo, Sam. “The Broken Promise: Race, Health and Justice in Rio de Janeiro, 1890-1940” Ph.D. diss., University of Arizona, 1983.
Andrews, George Reid. Blacks and Whites in São
Paulo Brazil, 1888-1988. Madison: University of Wisconsin Press, 1991.
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in the Philosophy of Culture. New York: Oxford University Press, 1992.
Araújo, Maria Raimundo.
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Baker, Lee. “Columbia University’s Franz Boas: He Led the
Undoing of Scientific Racism”, Journal of Blacks in Higher Education, 1998,
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Brinkley, Alan. Liberalism and its Descontents.
Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1998.
Brookshaw, David. Race and Color in Brazilian
Literature. Metuchen: The Scarecrow Press, 1986.
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Afro-Brazilians in Post Abolition São Paulo and Salvador. New Brunswick:
Rutgers University Press, 1998.
Conrad, Robert. Children of God’s Fire: A
Documentary History of Black Slavery in Brazil. Princeton: Princeton University
Press, 1983.
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Power in Brazil. Los Angeles: Center for Latin American Studies, UCLA, 1985.
Gaines, Kevin. Uplifting the Race: Black
Leadership, Politics, and Culture in the Twentieth Century. Chapel Hill:
University of North Carolina Press, 1996.
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America, 1870-1940. Austin: University of Texas Press, 1990.
Haberly, David T. Three Sad Races: Racial
Identity and National Consciousness in Brazilian Literature. Cambridge:
Cambridge University Press, 1983.
James, C.L.R. The Black Jacobins: Toussaint
L’Ouverture and the San Domingo Revolution. New York :Vintage Books,
1989.
Morel, Edmar. Dragão do Mar: O
Jangadeiro da Abolição. Edições do Povo: Rio, 1949.
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Moses, Wilson. The Golden Age of Black Nationalism, 1850-1925.
Hamden: Archon Books, 1978.
Reis, João José. Slave Rebellion
in Brazil: The Muslim Uprising 0f 1835 in Bahia. Baltimore: The John Hopkins
University Press, 1995.
Santos, Maria Januária Vilela. A
Balaiada e a Insurreição de Escravos no Maranhão. São Paulo: Ática, 1983.
Skidmore, Thomas. Black into White: Race and
Nationality in Brazilian Thought. Durham: Duke University Press, 1993.
Spitzer, Leo. Lives in Between: Assimilation
and Marginality in Austria, Brazil, and West Africa, 1780-1945. Cambridge:
Cambridge University Press, 1989.
Telles, Edward. Race in Another America: The
Significance of Skin Color in Brazil. Princeton: Princeton University
Press, 2004.
Fonte: MILES, Tshombe. O Escolhido: Dragão do Mar. Revista Caderno de Estudos e Pesquisas do Sertão, Quixadá, v. 1, n. 1, 2013, p. 51-60.