Durante o governo nazista (1933-1945) alguns planos para o crescimento da chamada "raça ariana" foram aplicados, o que incluiu desde ações funestas para se exterminar os judeus, ciganos, estrangeiros, negros, homossexuais, pessoas com deficiência física e mental, até passando por estudos de eugenia, no intuito de fomentar a reprodução entre jovens saudáveis escolhidos pelo governo para doarem seus filhos ao Estado, e as crianças seriam educadas para servirem o país, em distintas estâncias. E com isso, surgiu o programa Lebensborn, tema da postagem de hoje.
Enfermeiras carregando crianças nascidas através do Lebensborn. |
Pensamento eugênico e o racismo científico
Antes de adentrar ao programa do Lebensborn se faz necessário contextualizar quais ideias e ideologias estavam por trás de sua criação. Neste caso, a ideologia de uma raça alemã ou germânica pura e superior, difundida pelo governo nazista sob liderança de Adolf Hitler, havia se baseado em dois conceitos preponderantes e em voga naquela época: a eugenia e o racismo científico.
Ambos surgiram propriamente no século XIX na Europa, com biólogos, médicos, antropólogos, filósofos e outros estudiosos e interessados, os quais passaram a desenvolver, apoiar e difundir teorias nas quais diziam que a espécie humana seria dividida em várias raças, algumas mais superiores e outras inferiores. Essas ideias ganharam apoio e destaque após a publicação da Origem das Espécies (1859) de Charles Darwin. Embora Darwin não tenha tratado do ser humano neste livro, somente abordando uma possível evolução humana em outro livro seu, no entanto, várias ideias de Darwin foram deturpadas para serem usadas pelos defensores do racismo científico. Isso originou o darwinismo social.
O darwinismo social passou a englobar o racismo científico, que consistiu num conjunto de teorias biológicas e antropológicas que procuravam defender a existência dessas raças humanas através do uso de métodos e técnicas hoje tratados como pseudociências e até mesmo errados, como forma de legitimar o racismo, a escravidão, as diferenças sociais, culturais, morais e civilizatórias, tendo pressupostos biológicos para respaldar isso.
Assim, alguns estudiosos motivados por esse pensamento racista que procurava legitimação científica, começaram a defender que a chamada miscigenação das raças era algo perigoso, pois afetaria as raças mais puras ao inserir elementos oriundos de pessoas ou grupos subdesenvolvidos ou oriundos de degeneração. E se isso não fosse impedido, em poucas gerações uma nação de uma raça saudável e superior, poderia estar geneticamente corrompida pela degeneração, gerando indivíduos fisicamente, mentalmente, intelectualmente e moralmente inferiores.
Pensando neste problema racial de ter um país branco sendo "denegrido" por estrangeiros, fossem indígenas, africanos, ciganos, judeus, asiáticos, etc. O polímata britânico Francis Galton (1822-1911), cunhou o conceito de eugenia (bem nascido) em seu livro Inquires into Human Faculty and its Development (1883). Galton era conhecido por seus estudos com estatística social e econômica, demografia, geografia, meteorologia e mais tarde passou a se interessar por antropometria, psicometria e biologia.
Em seu livro publicado em 1883, ele apresentou de forma mais elaborada, ideias que vinha desenvolvendo a pelo menos vinte anos, nas quais ele defendia que pessoas de "boa origem" deveriam casar com indivíduos equivalentes, para evitar a degeneração de seus descendentes. Galton também era crítico da imigração, de casamentos entre brancos, negros, judeus, ciganos e outros povos. Também era contrário que indivíduos socialmente de classes superiores se relacionassem com gente pobre ou de origem pobre ou miserável, pois era sabido que essas pessoas tinham tendência a serem frutos de famílias desajustadas e degeneradas.
Influenciado pelos estudos de seu primo, Charles Darwin, Galton cunhou o termo eugenia para se referir a ideia do bem nascido, ou seja, um indivíduo que tivesse uma ascendência geneticamente e socialmente bem aceita. E com isso ele transmitiria valores genéticos para seus descendentes como saúde, aptidões físicas, inteligência, criatividade, e a própria fortuna e status social. Nesse ponto, as ideias de Galton foram bem longe na época, pois em artigos ele passou a defender que a seleção artificial fosse aplicada também em seres humanos.
A seleção artificial é conhecida da humanidade desde os tempos antigos, tendo sido aplicada incontáveis vezes para domesticar plantas e animais. O conceito em si era baseado na ideia de seleção natural, defendida por Darwin e outros evolucionistas da época. Porém, enquanto essa seleção era guiada pelos fatores naturais, a seleção artificial era conduzida pelo ser humano. Embora seja uma prática comum, até hoje utilizada, nas últimas décadas do século XIX ela gerou opiniões contrárias, entre aqueles que defendiam usá-la apenas em plantas e animais, mas outros que se tornaram adeptos das ideias de Galton, defendendo experimentos com humanos.
A eugenia e a seleção artificial com humanos se tornaram temas de artigos, entrevistas, congressos, pesquisas e livros nas décadas seguintes, até finalmente chegarmos ao período do governo nazista, onde tais ideias foram postas em prática.
O mito da raça ariana
Os arianos foram um povo indo-europeu que habitaria o planalto iraniano e se espalhou pela Pérsia em direção a Índia. Tais comunidades foram responsáveis pela difusão de algumas das línguas indo-europeias. De fato, o próprio conceito de ariano estava associado com a filologia, não tendo conexão com a biologia e antropologia. Foi no século XIX, que o conceito de ariano foi deturpado por adeptos do racismo científico, vindo a se tornar uma noção imprecisa de "raça ariana".
O escritor, diplomata e filósofo francês Arthur de Gobineau (1816-1882) em seu livro Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (1853), sugeriu que os indo-europeus eram os responsáveis por originar os povos europeus e do Oriente Médio. Além disso, neste ensaio ele defendia abertamente teorias do racismo científico. Seu trabalho influenciou outros estudiosos que usaram algumas de suas ideias, como o antropólogo alemão Theodor Poesche (1826-1899), defensor da raça ariana como sendo não de origem asiática, mas do nordeste europeu. Apesar de atribuir os arianos como tendo uma origem europeia oriental, Poesche dizia que os arianos seriam brancos, de traços belos e boa constituição física. Ele também defendeu que os alemães eram os únicos remanescentes desse povo, na Europa.
A partir das ideias de Poesche, o etnólogo e linguista alemão Karl Penka (1847-1912), difundiu em seus livros sobre a raça ariana: Origines Ariacae (1883) e Die Herkunft der Aryer (1886), que os arianos teriam uma origem europeia nórdica, sendo brancos, de cabelos louros, olhos azuis e crânio levemente alongado, altos, belos e com boa constituição física. A obra de Penka teve forte impacto sobre Hitler e os adeptos desse mito racial.
Retrato de Hessy Levunsons Taft, usado na propaganda nazista de 1935, sobre crianças arianas. Posteriormente foi descoberto que Taft era de descendência judia. |
A eugenia na Alemanha
Em 1911 foi fundada a Sociedade Kaiser Guilherme, que reuniu faculdades e institutos de diferentes ramos científicos. Grandes nomes da ciência alemã ali trabalharam. Com o estabelecimento da sociedade, foi criado o Instituto de Antropologia, Genética Humana e Eugenia, o primeiro grande passo para a difusão oficial da eugenia no país. Aqui vale recordar que neste tempo o racismo científico ainda seguia em voga.
Dentre os diretores deste instituto estiveram o médico Eugen Fischer (1874-1967), o psiquiatra e geneticista Ernst Rüdin (1874-1952) e o biólogo e geneticista Otmar von Verschuer (1896-1969), todos posteriormente se filiaram ao Partido Nazista, passando a comandar a política eugênica da época. Tais homens são alguns entre outros nomes que compartilhavam do ideário eugênico como prática de "purgar" o povo alemão da "contaminação" sofrida devido a miscigenação com outras "raças", sobretudo com os judeus. Os estudos destes homens influenciaram também Adolf Hitler apoiar o programa eugênico que viria a ser implementado em seu governo.
Assim com a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, Adolf Hitler, inicialmente empossado como chanceler, depois deu um golpe de Estado, tornando-se o líder supremo da Alemanha. Neste mesmo ano, alguns decretos eugênicos começaram a vigorar.
Sobre a eugenia alemã é preciso salientar alguns aspectos. Houve as leis de proteção a raça ariana, identificada como "raça nacional" (volksgmeinschaft), que consistiram em ações de promover o desenvolvimento dessa "raça", incentivando-se casamentos, combatendo-se o aborto, o infanticídio, o abandono, etc.
Em segundo, temos as leis de eliminação (vernichtung), medidas austeras para se eliminar indivíduos julgados degenerados, doentes, inválidos e perigosos para o Estado e a sociedade. Isso incluiu distintos fatores como condições físicas, mentais, comportamentais (drogados, alcoólatras, depravados, maníacos, homossexuais, criminosos, etc.), raciais (judeus, ciganos, negros, etc.), ideológicos (comunistas, socialistas, antinazistas, etc.), religiosos (testemunhas de Jeová).
O terceiro aspecto foram as medidas de eutanásia (gnadendod), em que se autorizava a eutanásia em doentes mentais, físicos, idosos senis, pessoas inválidas, indivíduos com doenças degenerativas, câncer, coma, etc. Essas medidas nem sempre foram aplicadas e receberam resistência por parte de autoridades civis e religiosas. A ideia por trás da eutanásia incentivada, era eliminar o chamado "peso-morto" para o Estado, evitando que este gastasse dinheiro em manter cidadãos inválidos em asilos, hospícios e hospitais.
Em quarto aspecto, as chamadas leis de incentivo a procriação (inzucht), as quais incentivavam os casais a terem mais filhos, proibia-se casamentos inter-raciais, a doação de filhos para orfanatos, e o próprio programa Lebensborn é resultado dessas leis.
O programa Lebensborn
Em 12 de dezembro de 1935 o Programa Lebensborn ("Fonte da Vida") foi oficialmente iniciado, estando vinculado a Schutzstaffel (SS), importante agência do Reich, que congregava várias funções. De fato, a SS foi um aglomerado de departamentos e instituições que estava associada com o policiamento, combate, espionagem, inteligência, administração dos campos de concentração, prisões, pesquisas diversas, a política racial, entre outros objetivos. No caso do Lebensborn este estava subordinado ao Departamento Central de Reassentamento e Raça da SS (Rasse und Siedlungshauptamt SS), cuja sigla era RuSHA.
Emblema do Programa Lebensborn e da SS. |
Em 16 de dezembro de 1936, um ano após o início do programa eugênico, o então chefe da SS, Heinrich Himmler (1900-1945), emitiu nota oficial explicando quais eram os quatro objetivos do Lebensborn. (OELHAFEN; TATE, 2017, p. 89).
- Dar suporte as famílias numerosas de valor racial e genético.
- Prover de alojamento e cuidados a mulheres grávidas que tenham valor racial e genético para que, para depois de uma investigação familiar detalhada da feita pelo RuSHA, tanto delas quanto dos pais dos filhos que esperam, tenham a possibilidade de dar à luz a crianças igualmente valiosas.
- Cuidar dessas crianças.
- Cuidar das mães dessas crianças.
Propaganda nazista de 1935, incentivando a maternidade. |
Apesar dessa explicação dada por Himmler, o Lebensborn não se limitou apenas a essas simples diretrizes. Sua missão principal era gerar, cuidar e educar as gerações futuras para o Reich, no intuito de fazer crescer membros da dita raça ariana.
O Lebensborn administrou orfanatos, hospitais, escolas, institutos, além de incentivar a adoção de órfãos arianos; combater o aborto e o infanticídio, decretando como crimes e penas severas para esse, pois como a Alemanha ainda passava por problemas econômicos, apesar do crescimento da indústria bélica e tecnológica promovida pelo governo, as maravilhas que o governo nazista mostrava de uma Alemanha próspera, não eram tão reais assim. Em 1900 a taxa de natalidade era de 35,8 crianças para cada mil habitantes. Em 1932, o valor caiu para 14,7 crianças para cada mil habitantes. (OELHAFEN; TATE, 2017, p. 89).
O resultado disso eram fatores associados a pobreza, crise financeira pós-guerra, falta de assistencialismo médico, receio das famílias em terem mais de dois filhos, o que levava em alguns casos a prática do aborto e do infanticídio. Todavia, o Estado nazista considerou que tais práticas era uma "sabotagem" aos desígnios do partido. Aqui é preciso salientar que o Estado não estava preocupado com todas as crianças que seriam abortadas ou abandonadas, pois se fossem frutos de indivíduos degenerados geneticamente ou moralmente, não eram importantes. O problema estava na morte de crianças arianas. Assim, usando-se da falsa demagogia de que o Estado nazista tinha como função proteger a família, a propaganda anti-aborto e abandono foi difundida.
Crianças numa casa Lebensborn. |
O programa também incentivou que membros do alto escalão da SS tomassem amantes e gerassem filhos com estas. Após a invasão da Noruega em 1941, os soldados da SS e até de outras alas das Forças Armadas, também foram incentivados a engravidarem noruguesas, especialmente as de biótipo dito ariano. Por sua vez, essas mulheres eram conduzidas a casas Lebensborn ou hospitais nazistas para darem à luz e terem seus filhos "confiscados" pelo Estado ou enviados para doação.
Além disso, foram conduzidos também a criação de iniciativas onde homens e mulheres saudáveis e com traços arianos, eram selecionados pelo programa, para se reproduzirem com a condição que seus filhos pertenceriam ao Estado. Esses homens e mulheres eram em termos menos belos, "gado de reprodução".
Nem todas as crianças geradas no programa permaneceriam nos orfanatos e escolas, algumas eram dadas para doação, sendo adotadas por famílias ricas, geralmente membros do alto escalão político e militar do governo.
A partir de 1939 com o início da Segunda Guerra (1939-1945), a Alemanha começou a invadir outros países como Polônia e Áustria, depois expandindo-se para França, Holanda, Bélgica, Noruega, Itália e outros territórios. Nessa época teve início uma nova fase do Lebensborn: o sequestro de crianças. Orfanatos, escolas, institutos ou simplesmente chamadas de "casas do Lebensborn" foram abertas em outros países ocupados durante a guerra e para ali eram enviadas crianças raptadas pelos soldados.
A maioria dos sequestros se deu com poloneses, mas na lista incluiu-se tchecos, iugoslavos, noruegueses, letônios, lituanos, austríacos, franceses, belgas, russos, etc. qualquer criança que se encaixasse no biótipo da raça ariana. Essas crianças, algumas eram empregadas em experimentos médicos, outras eram usadas para trabalho forçado, algumas até eram postas para adoção ou eram enviadas para as escolas, para serem treinadas. Lembrando que a ideia do programa era gerar a próxima geração de arianos. E essa geração tinha como função ser fiel, leal, obediente, patriota, brava, educada, forte e inteligente, para servirem ao Reich da melhor forma possível.
Crianças polonesas sequestradas pelos nazistas para o programa Lebensborn. |
O Lebensborn esteve em atividade por quase dez anos. Estima-se que 8 mil crianças foram oriundas do programa, apenas na Alemanha, e 12 mil na Noruega e outros países. Além disso, o número de crianças sequestradas passaria dos 200 mil (sem considerar as crianças enviadas para os campos de concentração). Todavia, com a derrocada da guerra, o programa nos últimos anos foi perdendo investimentos e entusiastas, pois do que adiantaria fomentar o crescimento da raça ariana, num momento de que o Reich estava em franco declínio.
Com o término da guerra, alguns pais decidiram procurar por seus filhos desaparecidos, processo que levou anos para alguns, e outros jamais conseguiram encontrar seus filhos. Além disso, crianças alemãs que foram fruto do Lebensborn somente mais velhas descobriram a respeito ou nunca souberam disso. O Reich também em seus últimos meses tentou deportar parte das crianças e jovens para outros países, algo que faria parte do plano de sobrevivência do Reich. Assim, algumas dessas crianças foram enviadas para a América do Sul e a Austrália.
Por fim, o programa até apresentou êxito em alguns aspectos, principalmente se considerar que conseguiu fomentar o desenvolvimento de milhares de "crianças perfeitas". Por outro lado, ele falhou e não conseguir aumentar esse número em valores desejados, assim como, não teve tempo para que essas geração pudesse crescer e se formar, começando a ingressar na sociedade e a serviço do Estado. Era um projeto de longa duração que não teve tempo para ser desenvolvido. Mas a consequência gerada, além de traumas, foi o sequestro de milhares de crianças, e até a morte de várias dessas.
NOTA: Durante o governo nazista, foram realizadas expedições para descobrir as origens da raça ariana na Ásia. Além disso, difundiu-se a ideia de que os arianos seriam descendentes dos atlantes, ou seja, o mito de Atlântida também foi utilizado para sustentar a superioridade da Alemanha nazista.
NOTA 2: O seriado O Homem do Castelo Alto (The Man in High Castle), cita o Lebensborn na segunda temporada.
NOTA 3: O filme italiano Divisione Lebensborn (1960) aborda o tema.
NOTA 4: Em 1932 o escritor britânico Aldous Huxley lançou o livro Admirável Mundo Novo. Nessa obra de ficção científica ele mostrava uma sociedade futurista onde a humanidade era gerada através de prática eugênica, onde as crianças eram geradas in vitro. A obra de Huxley foi publicada poucos anos antes do Lebensborn entrar em atividade. Se suas ideias eram consideradas demasiadamente fantasiosas por apresentar tecnologias e máquinas inexistentes, o programa nazista realizou essa seleção artificial da forma como a tecnologia permitia na época.
Referências bibliográficas:
BOLSANELLO, Maria Augusta. Darwinismo social, eugenia e racismo "científico": sua repercussão na sociedade e na educação brasileiras. Educar, Curitiba, n. 12, 1996, p. 153-165.
GUIMARÃES, Márcio Renato. O termo ariano e a narrativa indo-europeia. Línguas & Letras, v. 19, n. 43, 2018, p. 40-58.
MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo, Contexto, 2009.
OELHAFEN, Ingrid von; TATE, Tim. As crianças esquecidas de Hitler: a verdadeira história do Programa Lebensborn. Tradução de Rogério Bettoni. São Paulo, Contexto, 2017.
SALGADO NETO, Gilberto; SALGADO, Aquiléa. Sir Francis Galton e os extremos superiores da curva normal. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, v. 45, n. 1, 2011, p. 223-239.
Referências da internet:
A política da morte do Nazismo
Vítimas esquecidas: as crianças polonesas raptadas pelos nazistas
What History Didn’t Tell Us about the Nazi “Super Baby” Breeding Program
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