domingo, 15 de agosto de 2021

O Farol de Alexandria

Por séculos ele foi o maior farol do mundo e uma das estruturas mais altas já construídas pelo homem no mundo antigo e medieval. Sua imponência e primor da engenharia renderam ao farol alexandrino o posto de uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo. Neste texto apresentei um pouco da história desse icônico farol.

Alexandria do Egito

A cidade foi fundada em 331 a.C por Alexandre, o Grande (356-323 a.C), sendo uma das várias cidades que recebiam o nome do monarca conquistador, apesar que foi a única que conservou esse nome até os dias de hoje. Alexandre ficou poucos meses no Egito, tendo visitado oráculos e conhecido o norte do país, retornou para a Ásia para dar seguimento as suas batalhas contra o imperador persa Dario III. Quase trinta anos se passaram quando o general Ptolomeu (366-283 a.C) assumiu o trono do Egito em 303 a.C, dando início a Dinastia Ptolomaica que governaria as terras egípcias por quase três séculos. 

Em seu reinado de vinte anos, Ptolomeu lançou definitivamente as bases para a helenização do Egito, ou pelo menos parte dele, tornando Alexandria sua capital oficial, uma cidade que parecia mais com uma cidade grega do que egípcia. Seu filho e sucessor Ptolomeu II Filadelfo (309-246 a.C), deu continuidade a expansão da cidade, e uma das coisas que ele objetivou fazer foi a expansão do porto. Alexandria havia se tornado porto mais movimentado do Egito, necessitando se adequar a esse crescimento, além disso, aquela costa possuía arrecifes perigosos e o farol da época era pequeno. 

Porém, a ideia de Ptolomeu II não foi construir apenas um farol, mas construir o maior farol do mundo. Uma estrutura tão grandiosa na qual qualquer embarcação a tantos quilômetros de distância, conseguiria ver o farol de dia ou de noite. Além disso, o farol seria um monumento para coroar Alexandria, a então joia do Egito Ptolomaico. 

O farol gigante

No ano de 280 a.C teve início as obras do colossal farol alexandrino. O faraó Ptolomeu II contratou o arquiteto e engenheiro grego Sóstrato de Cnido para projetar a enorme estrutura. Não se conhece o trabalho dele, mas sabe-se que de acordo com autores antigos como Estrabão e Plínio, Sóstrato gozava de boa reputação na corte ptolomaica, além de ter talento reconhecido. O projeto encomendado era grandioso: um farol com mais de 100 metros de alturas e 30 metros de largura, uma obra bastante difícil e cara. O local escolhido foi uma pequena ilha situada a noroeste do porto de Alexandria, chamada de Faros. O nome da ilha acabou tornando-se sinônimo de farol ainda na Antiguidade e originando essa palavra em alguns idiomas.  

Gravura imaginando como seria o farol de Alexandria.

A ilha de Faros foi ligada ao continente por um mole, para facilitar o transporte dos pesados blocos de pedra que foram utilizados na sua construção, assim como, para reduzir o acesso de embarcações no porto, pois outro mole oposto foi construído, criando uma única entrada no porto. Todavia, praticamente nada se sabe sobre a construção dessa elevada estrutura, entretanto, devido a ser uma obra bastante cara para a época, ela demorou anos para ficar pronta. Não se sabe exatamente quanto tempo as obras levaram, mas houve interrupções devido a falta de verbas e problemas no país, todavia, estima-se que as obras do gigantesco farol demoraram entre 10 a 15 anos para serem concluídas, sendo sua inauguração ainda realizada durante o reinado de Ptolomeu II. 

O grande farol estando pronto, passou a operar. No topo situava-se uma grande estrutura feita para queimar uma enorme pira, que permitisse gerar uma boa quantidade de luz para ser visível a distância à noite. A chama do farol era alimentada com lenha e óleos. No interior funcionavam depósitos para o combustível usado, mas também existiriam dependências para abrigar a guarnição ali estabelecida. 

Esquemas do farol de Alexandria com base nos relatos que o descreviam. O primeiro desenho o retrata seguindo o padrão grego-egípcio, os outros dois desenhos são baseados em descrições árabes das reformas que foram empreendidas. 

Uma estrutura que durou séculos

Como dito anteriormente, pouco se sabe sobre a história do farol, pois se relatórios sobre suas obras ou algum relato de sua história, se foram guardados na Biblioteca de Alexandria, provavelmente queimaram junto a milhares de outros papiros. Sendo assim, o que dispomos são de breve descrições de viajantes ou estudiosos romanos, gregos, árabes, persas, etc. que relataram sobre o farol, mas sem detalhar sua história. 

Na época de Cleópatra VII, isso no século I a.C, o farol havia ganhado uma fortificação em seu entorno, com a construção de um pequeno forte que servia de base militar em uma das entradas do porto. Além disso, de acordo com moedas romanas, o farol possuiria estátuas no topo. Historiadores sugerem que seriam estátuas dos deuses Poseidon, ou Tritão ou Zeus

Moedas romanas do reinado do imperador Antonino Pio (r. 138-161), retratando o farol alexandrino. 

Entretanto, não se sabe quantas obras foram realizadas em sua estrutura ao longo dos anos, apesar que tenha-se relatos que o farol passou por reformas devido a velhice da estrutura, mas também por danos causados por conta de terremotos, especialmente os ocorridos em 956, 1303 e 1323, os quais teriam causado forte abalo a sua estrutura, como informam relatos árabes. No entanto, tais relatos são interessantes também, por revelar que em pleno século XIV, o farol ainda estava de pé e funcionando. Tendo sido ele construído mil anos antes. 

O engenho greco-egípcio para construir uma estrutura robusta a fim de durar séculos, assim como resistir as intempéries e terremotos era formidável, por isso que os gregos antigos o consideraram uma das Sete Maravilhas. Afinal, o Farol de Alexandria conseguiu resistir por quase mil trezentos anos. Condição essa que somente após o forte terremoto de 1323 a estrutura entrou em colapso tendo desabado no mar em data incerta. Não se conhecem relatos específicos sobre sua queda.  

Todavia, o governante da época, o sultão Qaitbay (r. 1468-1496) ordenou que o farol não fosse reconstruído, por ser algo inviável devido ao estrago causado pelo terremoto, no entanto, os blocos de pedra que ainda ficaram em terra e no raso, poderiam ser reaproveitados, com isso ele ordenou que uma nova fortificação fosse erigida em Faros, algo que teria tido início em 1480. 

Após tal acontecimento o farol passou a ser lembrado apenas nas pinturas e livros de história. Somente em 1968 é que uma expedição arqueológica foi realizada no local para encontrar ruínas submersas, obtivendo sucesso no caso. Todavia, nesses séculos desde que o farol desabou, o relevo de Faros mudou drasticamente. O avanço do nível do mar cobriu localidades antes fora da terra, embora que a Cidadela de Qaitbay ainda esteja de pé. 

A Cidadela de Qaitbay, em Alexandria. Ela começou a ser construída em 1480, utilizando-se blocos de pedra das ruínas do farol. 

NOTA: O farol chamado Torre de Hércules, localizado em La Corunha, na Espanha, foi construído durante o Império Romano, entre os séculos I e II d.C, sendo na atualidade o farol mais antigo do mundo ainda em uso. Sua estrutura foi baseada no farol de Alexandria. 
NOTA 2: No jogo Assassin's Creed: Origins (2017) é possível visitar, entrar e escalar o Farol de Alexandria. 
NOTA 3: A atual bandeira e brasão de armas de Alexandria, retratam o famoso farol. Escolhido como símbolo da cidade. 

Referências bibliográficas: 
BAKER, Curtis. The Lighthouse at Pharos - A Narrative. Tenor of Our Times, vol. 6, 2017, p. 24-36. 
KHALIL, Emad. The navy of Ptolemaic Alexandria. In: ZEREFOS, Christos S; VARDINOYANNIS, Marianna V (eds.). Hellenestic Alexandria: Celebrating 24 Centuries. Oxford, Archaeopress Publishing LTD, 2018, p. 13-18. 
MCKENZIE, Judith. Architecture of Alexandria and Egypt 300 BC - AD 700. Yale, Yale University Press, 2007. 
VITTI, Paolo. Gigantic and structurally sound: the lighthouse on the island of Pharos and the minarets of western islam. In: ZEREFOS, Christos S; VARDINOYANNIS, Marianna V (eds.). Hellenestic Alexandria: Celebrating 24 Centuries. Oxford, Archaeopress Publishing LTD, 2018, p. 227-238. 


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