Em 4 de outubro de 1957 a URSS lançou o primeiro satélite artificial da História, a orbitar com sucesso o planeta Terra. Tal feito foi um marco histórico no século XX, e o primeiro passo para a Corrida Espacial que ocorreria nos anos seguintes entre os russos e americanos, no que levou no investimento massivo para a construção de satélites, foguetes e as viagens à Lua.
A ideia de enviar satélites ao espaço já existia na literatura de ficção há séculos, geralmente sendo retratados como inventores que pretendiam voar até o espaço através de balões, foguetes ou navios voadores. No século XX, com o desenvolvimento tecnológico esse antigo sonho até então restrito as páginas da literatura de ficção científica começou a ser cogitado mais realista, principalmente após o advento dos aviões antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Nas décadas seguintes as aeronaves foram sendo desenvolvidas e durante o governo nazista (1933-1945) houve um investimento massivo em tecnologias em diversas áreas do conhecimento, embora que a indústria bélica, de comunicação e aviação recebeu muitos investimentos. Fato esse, que os nazistas possuíam projetos de criar satélites e aviões que pudessem chegar ao espaço, mas isso nunca se concretizou.
Posteriormente, os americanos recrutaram os cientistas alemães, sobretudo os físicos, engenheiros e químicos, os dirigindo para outros projetos, muitos de caráter militar como o Projeto Manhattan para a criação de armas nucleares. Todavia, na década de 1950 a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) iniciou uma série de investimentos massivos no desenvolvimento de tecnologia militar, de comunicação, transporte, etc. Parte desses investimentos foram dirigidos ao Programa Espacial Soviético, iniciado em 1953.
O Projeto Sputnik
Antes do Sputnik I ser lançado com sucesso em 1957, os soviéticos desde 1953 realizavam experimentos com a criação de foguetes, mísseis, propulsores e satélites. Foram anos de aperfeiçoamento tecnológico até que finalmente o primeiro satélite artificial a orbitar a Terra obtive sucesso. Se hoje em dia existem satélites de diferentes formas e tamanhos, no final dos anos 1950, o Sputnik era pequeno para os padrões de hoje.
O satélite nomeado Iskusstvenni Sputnik Zemli (Satélite Artificial da Terra), mais conhecido como Sputnik-I, embora também referenciado como Satélite Elementar-1 e PS-1, consistia numa esfera de 58 cm de diâmetro, pesando 83 quilos e possuindo quatro antenas de rádio. Embora pareça simples hoje em dia, na época era o que se tinha de mais avançado tecnologicamente do tipo, até porque nenhum satélite artificial anteriormente tinha sido lançado com sucesso.
Réplica do Sputnik-I. |
O ano de 1957 não foi escolhido por acaso, mas fazia parte da celebração do Ano Internacional da Geofísica, proposto pela ONU. Na ocasião, os americanos também já vinham desenvolvendo tecnologia espacial e pretendiam lançar seu satélite através do Projeto Vanguard. Curiosamente nesse projeto, cientistas soviéticos trabalharam ao lado de cientistas americanos, já que havia colaboração entre ambos os países. Todavia, o Vanguard sofreu com atrasos, com isso, os russos decidiram não esperar os americanos lançarem o satélite deles e o Projeto Sputnik recebeu uma acelerada.
Após meses de testes infrutíferos com foguetes R-7 no Campo Estatal no. 4, na Turquia, o projeto Sputnik decidiu lançar o satélite a partir de outra localidade, o Cosmódromo de Baikonur, hoje situado no Cazaquistão. O local estava sendo construído para se tornar oficialmente o principal ponto de lançamentos espaciais da URSS, fato esse, que vários satélites e até algumas expedições como a de Yuri Gagarin, foram lançados de lá.
Com isso, em 4 de outubro de 1957 o Sputnik-1 foi lançado com sucesso. A função do satélite era analisar dados sobre a atmosfera planetária, a radiação solar, a microgravidade, entre outras informações. Fato esse que o satélite orbitava baixo, favorecendo a comunicação com suas antenas, condição essa que rádios amadores conseguiam sintonizar a frequência do Sputnik-1 quando ele estava por perto.
O Sputnik-1 operou brevemente não porque sofreu panes ou foi destruído, mas sua bateria não era de longa duração. Após 22 dias ela esgotou e as atividades do satélite foram encerradas em 26 de outubro. Todavia, ele ainda continuou em sua órbita até 4 de janeiro de 1958, quando foi perdendo altitude nesses meses e se desintegrou ao entrar no planeta. Embora o tempo de funcionamento do Sputnik-1 tenha sido breve, ainda assim, a missão foi considerada um grande sucesso pelo Programa Espacial Soviético e um marco histórico.
Repercussão do lançamento
O impacto cultural foi grande. Milhares de jornais pelo mundo, noticiavam o feito tido como incrível. A notícia era televisionada, saía em jornais, revistas, relatórios, notas, avisos, rádios, etc. As pessoas que costumavam consumir o noticiário com frequência, conversavam com amigos, colegas e familiares a respeito. Embora muitos nada entendessem sobre o assunto, até porque satélites artificiais não eram algo comum naquele tempo, mas a curiosidade era grande. Escritores escreveram contos e narrativas inspiradas no satélite. O governo soviético criou uma propaganda massiva sobre o projeto, criando selos, cartazes, livros, figurinhas, etc. para difundir na URSS a façanha.
Um dos vários selos comemorativos lançados em referência ao Sputnik-1. |
Os Estados Unidos vivenciou a chamada "Crise do Sputnik" a qual impactou a moral do Programa Espacial Americano, que se viu frustrado com o Programa Vanguard, além do sucesso estrondoso obtido pelos soviéticos. Isso levou ao pontapé da Corrida Espacial, condição essa que o governo estadunidense temia que os russos pudessem criar foguetes intercontinentais que carregassem ogivas nucleares e até mesmo a ideia de satélites de espionagem.
Condição essa, que o Congresso Americano autorizou aumentar as verbas para o programa espacial, aprovar diretrizes para o incentivar a formação de engenheiros e físicos; acelerar o Projeto Vanguard, retomar o Programa Explorer, o qual lançou o primeiro satélite americano, o Explorer 1, em 1958; criou o Advanced Research Projects Agency (ARPA) e em 1958 foi criada a NASA (National Aeronautics and Space Administration). (DICKSON, 2003, p. 213-214).
A vitória obtida com o Sputnik-1 levou a URSS investir massivamente na Corrida Espacial iniciada naquele ano. Em 3 de novembro de 1957 o Sputnik-2 foi alçado à órbita com sucesso, sendo o satélite maior e o primeiro a ser tripulado, levando a cadela Laika, uma cobaia para se analisar o impacto da microgravida e da radiação solar, tendo ela se tornado o primeiro ser vivo enviado ao espaço. Infelizmente ela faleceu horas depois do lançamento.
A cadela Laika, a qual foi levada ao espaço no Sputnik-2, em 1957. |
Os Sputnik 3, 4 e 5 foram lançados entre 1958 e 1960, levando em alguns casos, outros cães e camundongos, além de realizarem vários testes, incluindo o de retornarem ao planeta, algo que se obtive sucesso com o Sputnik-5 em 1960. Isso tudo contribuiu para que no ano seguinte a primeira missão tripulada por humanos fosse enviada, no caso, resultando na missão da capsula Vostok 1, que levou o cosmonauta Yuri Gagarin (1934-1968).
NOTA: Devido a grande sensação que foi o lançamento do satélite, surgiu no Brasil a banda musical The Sputniks (1957), formada por Tim Maia, Roberto Carlos, Arlênio Lívio, Edson Trindade e Wellington Oliveira.
NOTA 2: O Projeto Sputnik enviou 25 satélites ao espaço, embora nem todos apresentaram bom funcionamento, vindo a sofrer pane. Alguns dos satélites foram enviados para estudar a Lua e até Marte.
Referências bibliográficas:
DICKSON, Paulo. Sputnik. The Shock of the Century. The Berkley Publishing Group, 2003.
SIDDIQI, Asif A. Challenge to Apollo: The Soviet Union and The Space Race: 1945-1974. Washington D.C, NASA History Division, 2000.
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