segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Uma história dos animes

A história dos animes, os famosos desenhos animados japoneses, ocorre em paralelo ao dos mangás, embora que na segunda metade do século XX, ambos caminhos se cruzaram, tornando os mangás fontes para os animes, tendência que se mantém até hoje. O presente texto conta alguns aspectos da história do desenvolvimento dos animes de seus primórdios no começo do XX até chegarmos ao contexto atual com animes em 3D e serviços de streaming de animes. 

O conceito de anime

A palavra anime é uma abreviação da palavra inglesa animation, sendo termo desenvolvido na segunda metade do século XX para se referir aos desenhos animados. Antes disso, os japoneses usavam termos como manga-eiga ("filmes cartunescos") e dôga ("filme animado"). O primeiro termo advinha da palavra mangá, já usada desde o final do XIX para se referir as histórias em quadrinhos produzidas no país. De fato, os animes vão surgir com forte influência dos mangás, por isso o termo manga-eiga. (CLEMENTS, 2013). 

Todavia, alguns autores como Alfons Moliné (2004) e Frederik S. Schodt (1997) defendem que a palavra anime viria da palavra francesa animé (animado), já que os japoneses tiveram influência da cultura francesa no final do XIX, com direito a consumir revistas francesas naquela época. No entanto, essa hipótese é contestada por outros estudiosos, os quais apontam a forte influência da indústria cinematográfica americana no Japão e como essa contribuiu para a popularização dos animes a partir da década de 1960. 

Outro aspecto a ser considerado é que a palavra anime no Japão refere-se aos desenhos animados, sejam eles nacionais ou estrangeiros. Sendo assim, produções da Walt Disney, Pixar, Warner Bros, Hanah-Barbera, seriam para os japoneses animes também. Porém, no resto do mundo convencionou-se adotar o termo anime apenas para se referir aos desenhos animados de origem japonesa ou que seguem seu estilo artístico e temático. 

Os primórdios dos animes (c. 1907-1920)

Oficialmente os primeiros animes são datados de 1917, porém, foi descoberto um curta-metragem intitulado Katsudo Sashin ("Imagens em Movimento"), datado de cerca de 1907. Esse desenho de autoria desconhecida, apresenta um menino vestido com roupa de marinheiro enquanto escreve kanjis. A animação bem simples tem apenas 4 segundos de duração. Ela divide a opinião dos historiadores e estudiosos do tema, seria um anime de fato? Ou apenas um teste ou brincadeira? 

Cena colorizada de Katsudo Sashin (c. 1907), talvez o primeiro anime conhecido. 

Clements (2013) comenta que há relatos da exibição de filmes franceses e americanos no Japão entre 1900 e 1910, o que aponta que cidades como Tóquio já teriam projetores para exibir filmes. Tais aparelhos foram levados por estrangeiros, juntos aos filmes que eram curtas-metragens em preto e branco e sem áudio. No entanto, tratava-se de filmes live-action, porém, alguma animação poderia ter sido exibida também nesse período, já que elas estavam desenvolvimento. Além disso, o autor sublinha que algumas animações desse período não seriam animações propriamente, mas truques visuais para dar a sensação que os desenhos se movimentavam. Apesar disso, o autor sublinha que antes de 1917 não temos segurança de quantos animes teriam sido produzidos, pois tais registros se perderam com o tempo.

Sendo assim, alguns dos primeiros animes conhecidos eram curtas-metragens simples, em preto e branco e sem áudio. Um dos primeiros foi Namakura Gatana (1917). Trata-se de um anime de 4 minutos de duração produzido por Jun'ichi Kouchi (1886-1970), cuja narrativa apresenta um atrapalhado samurai que está irritado pelo fato de sua catana está cega, apesar que ele consegue ferir um de seus dedos ao passá-lo no fio da espada, mas ao tentar cortar outras coisas e até confrontar pessoas, a espada não corta. Esse anime teria sido exibido no cinema. Além desse desenho, também é conhecida outras duas produções do autor, intituladas Chamebo Kukijuno maki (1917) e Hanawa Hekonai Kappa matsuri (1917). (CLEMENTS; MCCARTHY, 2006). 

Cena de Namakura Gatana (1917), um dos mais antigos animes conhecidos. 

Outro desenhista que se destacou nos primórdios dos animes foi Oten Shimokawa (1892-1973), o qual trabalhava como ilustrador e cartunista para revistas e jornais. São conhecidas cinco obras do autor: Imokawa Mukuzo Genkanban no Maki (1917), Dekobo shingacho - Meian no shippai (1917), Chamebo shingacho - Nomi fufu shikaeshi no maki (1917), Imokawa Mukuzo Chugaeri no maki e Imokawa Mukuzo Tsuri no maki (1917). No caso, Shimokawa se notabilizou pelos curtas-metragens do personagem Imokawa Muzuko, um personagem que lembra uma espécie de ursinho, o qual vive aventuras com seus amigos. Trata-se de um anime cujos personagens são animais antropomórficos. (CLEMENTS, 2013).

Cena de Imokawa Mukuzo Genkanban no Maki (1917).

Dessa forma, Kouchi e Shimokawa são considerados como os "pais dos animes", por terem sido os primeiros animadores a se destacarem e produzirem alguns animes em 1917. Apesar que temos um terceiro nome, trata-se do cameraman Shibata Masaru (1897-1991), o qual ajudou na animação de alguns filmes de Shimokawa como Chamebo shin gacho e Chamebo-zu. Apesar disso, seu nome não é creditado entre os "pais dos animes", mesmo que tenha ajudado no uso da câmera para gravar os desenhos de Shimokawa. (TSUGATA, 2003). 

Após esses animes de 1917, nos anos seguintes mais produções foram sendo desenvolvidas. Vale lembrar que tais produções eram amadoras, pois seus idealizadores não eram profissionais em animação, além de nem existir ainda estúdios de animação ou de cinema no Japão, mas isso viria a mudar na década seguinte. 

Os primeiros estúdios de anime (1920-1939)

A partir da década de 1920 surgiram os primeiros estúdios de animes no Japão, embora fossem estúdios bem simples, contando com poucos recursos, tecnologia e funcionários. Alguns eram formados por grupos de amigos ou entusiastas por animação, desenhos e cinema. O estúdio Kitayama Eiga Seisakujo foi fundado em 1921 pelo animador e diretor Kitayama Seitaro (1881-1945), sendo considerado o primeiro estúdio de anime a ser criado. (CLEMENTS, 2013).

Kitayama já trabalhava com animes desde 1917, tendo participado da produção e direção dos desenhos. Segundo o que foi apurado por registros históricos, ele esteve envolvido em mais de dez animes anteriormente, todavia, de seu estúdio somente são conhecidos três animes: Kiatsu to Mizuage Ponpu (1921), Shokubutsu Seiri: Sheishoku no Maki (1922) e Usagi to Kame (1924). Outros desenhos devem ter sido produzidos, porém, em 1923 ocorreu o grande terremoto de Kanto, o qual destruiu parte das cidades de Yokohama, Chiba, Suzuoka, Tóquio, entre outras. O estúdio de Kitayama ficava em Tóquio e foi um dos prédios destruídos durante o sismo. Além desse estúdio, outros ficavam localizados na capital japonesa e também foram destruídos. Sendo assim, se desconhece quantos animes foram perdidos na ocasião, já que até os registros da produção dos estúdios foram destruídos. (CLEMENTS, 2013).

A lebre e a tartaruga no anime Usagi to Kame (1924), um dos filmes lançados pelo estúdio de Kitayama após o grande terremoto de 1923.
Fonte: AniSearch.com. 

Em 1923 foi fundado o estúdio de animação Yokohama Cinema Shokai, que manteve-se operante por vinte anos, tendo produzido 44 animes. Várias das produções do estúdio eram baseadas em contos e fábulas, trazendo animais como protagonistas, algo comum no período. No entanto, o estúdio também produziu desenhos com temática esportiva (uma novidade na época), envolvendo basebol (que viria a se tornar bastante popular no país), jogos olímpicos e atletismo. Como destaque tivemos os animes Doubutsu Olympic Taikai (1928), Doubutsu Sumo Taikai (1931) e Doubutsu undokai (1931). No entanto, esta temática cresceu nos anos seguintes. (WADA-MARCIANO, 2008). 

Nos anos 1920 e 1930 os animes foram influenciados por desenhos animados americanos, naquela época chegaram ao Japão animações do Gato Félix (1919), Oswald the lucky rabbit (1927), Mickey Mouse (1928), Betty Boop (1930), Looney Tunes (1930), além de outros desenhos do Walt Disney. Tais produções causaram forte impacto na produção de mangás, como também foram fortes concorrentes para os animadores, pois rapidamente as crianças e adolescentes passaram a se interessar mais pelos produtos estrangeiros do que nacionais, ainda mais pela condição de tais desenhos serem de melhor qualidade e alguns já tinham até efeitos sonoros e música, algo que carecia em muitos animes ainda. (LEVI, 2006). 

Dois Mickeys e Betty Boop numa cena do anime olímpico Mabo no Daikyoso (1936). Esse curta-metragem apresenta duas influências marcantes da década de 1930, a temática esportiva e os desenhos animados americanos. 

Apesar dessa concorrência alguns animadores e estúdios viram após 1923 oportunidades. Os estrangeiros levavam não apenas rolos de filmes, mas também câmeras e projetores, além do contato com técnicas novas para a animação. Alguns animadores conseguiram ter acesso a tais tecnologias e técnicas, empregando na feitura de animes melhor animados. Condição essa que de 1924 a 1938 houve uma produção massiva de animes, mesmo que a maioria fossem curtas-metragens ainda em preto e branco e sem som. (LEVI, 2006). 

Uma mudança marcante nos animes da década de 1930 foi a introdução do áudio. Naquela década surgiram mais animes com emprego de efeitos sonoros, trilha sonora, mas também surgiu os primeiros animes dublados. Um deles foi Chikara to Onna no Yo no Naka ("O mundo do poder e as mulheres"), lançado em 1933 e dirigido por Kenzo Masaoka (1898-1988), um diretor de animações prolífico da época preto e branco dos animes, tendo dirigido mais de vinte animações. Nesta história cômica de Chikara to Onna no Yo no Naka, somos apresentados a um caso de adultério, em que o marido cansado de sua esposa rabugenta, decide traí-la com uma secretária de seu trabalho. Infelizmente o anime está perdido, não havendo cópias conhecidas deles, mas os registros trazem o elenco de dubladores do mesmo. (CLEMENTS; MCCARTHEY, 2006). 

Cena do anime Chikara to Onna no Yo no Naka (1933), o primeiro anime falado. Infelizmente o desenho está perdido, não se conhecendo cópias dele. 

Apesar do progresso do anime Chikara, não significou que os estúdios de animes adotaram a dublagem de imediato, pois ainda era algo difícil de ser feito e caro. Fato esse que vários animes do período até a década de 1950, ainda contavam apenas com efeitos sonoros e trilha sonora, a dublagem ainda demorou mais algum tempo para se normalizar. 

Animes para a propaganda de guerra (1939-1945)

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, o governo imperial japonês utilizou o cinema para fazer propaganda política-militar, incentivando o alistamento, defendendo a invasão da Coreia, da China e de outros territórios, ou seja, dando motivos para o povo apoiar a causa imperialista. Isso também foi aplicado por outros países também. Mas no caso japonês, alguns desenhos acabaram servindo para essa finalidade e isso já era feito antes mesmo da Segunda Guerra eclodir, pois o Japão estava em conflito com a China. 

Como exemplo temos Sora no Momotaro (1931), no qual acompanhamos Momotaro voando em seu avião e mostrando os territórios vizinhos os quais o Japão ambicionava conquistar. A ideia foi retomada em Umi no Momotaro (1932), em que dessa vez o personagem usava um navio para mostrar as fronteiras marítimas do país e a potencialidade de conquistar novas áreas. Ideias assim foram retomadas a partir de 1939 quando o governo criou a Lei do Filme (ou Lei do Cinema), incentivando a abertura de cinemas pelo país, além de financiar contratos com estúdios de animação e de cinema para a produção de material nacionalista e de propaganda política. (POSHEK, 1997). 

O governo também criou seu depatarmento de animações chamado Tokubetsu Eiga-ban (1939), formado a partir da Toho Cultural Film Departement e do estúdio Nihon Eigasha, os quais se tornaram um estúdio governamental direcionado para a produção de conteúdo político, militar e educativo. Por conta do contexto da guerra, tornou-se comum a produção de animes relacionados as forças armadas, destacando-se a marinha e aeronáutica do país. Vários animes foram produzidos no período da guerra, mas muitos foram perdidos, restando hoje apenas o conhecimento de documentos que os citam. (CLEMENTS, 2013). 

O anime Ahiru Rikusentai (1940) era inspirado no Pato Donald, trazendo uma esquadrão de patos soldados. Fonte: AniSearch.com. 

O governo solicitou que desenhos de caráter nacionalista fossem produzidos para incentivar o patriotismo desde cedo, inculcando valores que agradavam o governo, assim, as crianças cresceriam assistindo tais desenhos educativos, patrioticamente corretos e dignos. A temática esportiva, especialmente associada com as Olímpiadas que despontou na década de 1930, foi mantida. Sobre isso, Jonathan Clements (2013) destaca o fato de que o jovem menino Mabo se tornou o garoto propaganda de 12 filmes lançados entre 1936 e 1943, mostrando-o como atleta, soldado, marinheiro e piloto de avião. 

Animes educativos também passaram a serem produzidos por financiamento do governo, tais desenhos ensinavam valores como honra, coragem, determinação, obediência, amor a família, amor à pátria, etc. Havia casos de animes sobre temáticas históricas e geográficas também. No entanto, animações mostrando o Japão em guerra contra o Ocidente, assim como, chineses e coreanos também foram produzidas, um destaque foi o filme Momotaro no Umiwashi (1943), que trouxe novamente o jovem Momotaro, personagem oriundo do folclore, mas que se tornou garoto propaganda da guerra. Neste filme, ele é um comandante ao lado de animais antropomórficos como macacos e coelhos, os quais estão abordo de um porta-aviões rumo ao campo de batalha. O filme era longo para os padrões da época, tendo 37 minutos de duração, embora não fosse dublado ainda. 

Momotaro liderando seu exército de macacos durante a guerra, no anime Momotaro no Umiwashi (1943). 

Embora o período da guerra tenha determinado que os animes deveriam seguir conteúdos e temáticas específicos voltados para a propaganda política e militar, além do incentivo ao nacionalismo e o patriotismo. Nem tudo foi ruim. Graças ao financiamento público, novos estúdios surgiram e outros receberam investimento para melhorar sua tecnologia e contratar mais gente. A produção de animes cresceu consideravelmente vendo-se o lançamento de dezenas de animes nestes seis anos, além de que os filmes passaram a serem mais extensos, passando dos 20 ou 30 minutos de duração. 

Animes dublados e a televisão (1940-1960)

Após a Segunda Guerra, os grandes estúdios de animação começaram a surgir, assim como, passou-se por uma nova transição nos animes, que foi a gradativa mudança para as animações faladas ou dubladas. No entanto, foi nesse período que também surgiram clássicos mangás e animes, pois de 1917 a 1950 muitos dos animes produzidos seguiam temáticas parecidas: eram narrativas cômicas envolvendo animais, pessoas ou seres antropomórficos. Alguns animes eram adaptações de contos populares ou fábulas japonesas, marcados pela presença de dois animais como protagonistas e uma moral no final da narrativa. Além disso, houve casos de animes que mostravam apenas paisagens como cidades e campos, sem ter um personagem ou narrativa. Outros eram baseados em casos do dia a dia, prática de esportes e tivemos os animes de temática militar por conta da guerra. 

Pouco tempo depois do término da guerra, os animadores Kenzo Masoaka e Zenjiro Yamamoto, veteranos da área, fundaram o Nihon Doga Eiga em 1948, conhecido em inglês como Japan Animated Films, mais tarde renomeado para Toei Animation em 1956, que viria a se tornar um dos maiores estúdios de animes do país. Produzindo até hoje animes de sucesso. De qualquer forma, o Nihon Doga foi um dos estúdios pioneiros na nova fase da história dos animes, agora marcada pelo pós-guerra. O estúdio passou a lançar curtas-metragens e médias-metragens, ainda em preto e branco, mas já dublados. Mais tarde produziu filmes coloridos. (CLEMENTS, 2013). 

Porém, com o crescimento do mercado de mangás na década de 1950, isso ajudou no surgimento de novos gêneros literários que foram adaptados para os animes, além de tramas mais complexas e originais. Um dos responsáveis por isso foi o mangaká Osamu Tezuka (1928-1989), que emplacou mangás de sucesso como Kimba, o Leão Branco (1950-1954), Astro Boy (1952-1968), A Princesa e o Cavaleiro (1953-1956). Embora tais narrativas tenham feito sucesso como mangás, curiosamente elas não foram adaptadas de imediato para os animes, pois diferente de hoje em que no ano seguinte um mangá que faz sucesso já começa a ser adaptado, na década de 1950 a situação era outra. Os estúdios ainda optavam por produzir curtas-metragens para o cinema. Entretanto, a realidade estava para mudar à medida que o serviço de televisão se estabelecia no país. (PHILIPPS, 2008). 

O Japão foi um dos primeiros países do mundo a desenvolver a rede televisiva, algo que começou em 1939, sendo explorada na época da guerra. Fato esse que nos anos 1950 algumas importantes transmissoras de televisão foram criadas como a NHK (1950), a Nippon TV (1953), a TBS (1955), a TV Fuji (1957) e a TV Asashi (1957), foram as grandes emissoras de televisão naquele período, algumas delas como a NHK e a TBS surgiram anteriormente como emissoras de rádio, mas adotaram a nova tecnologia de comunicação. 

A década de 1950 para os animes foi marcada por três inovações: a criação das emissoras de televisão, o lançamento de animes dublados e coloridos. Sobre isso destacamos dois casos. Mole's Adventure (1958) foi o primeiro anime colorido e dublado lançado para a televisão, sendo exibido pela Nippon TV. Ele contava apenas com 9 minutos de duração, apresentando uma aventura simples de uma toupeira em uma fazenda. Era um desenho voltado para o público infantil bem jovem. (CLEMENTS; MCCARTHEY, 2013). 

Mole's Adventure (1958) foi o primeiro anime colorido a ser exibido na televisão japonesa. 

Todavia, a mudança veio mesmo com Hakujaden (Serpente Branca), filme produzido pela Toei Animation e lançado ainda naquele ano. Tratava-se de um longa-metragem de 78 minutos, que narrava o famoso conto chinês da Serpente Branca, tratando-se de uma produção para o público juvenil e adultoO filme foi lançado no cinema e fez relativo sucesso no país, além de se tornar produto de exportação, sendo exibido na Itália em 1959 no Festival de Veneza, e depois foi lançado nos Estados Unidos em 1961 com o título de Panda and the Magic Serpent, tendo sofrido vários cortes que alteraram parte da trama, tornando o filme um fiasco comercial. Ainda assim, Hakujaden foi o primeiro filme de anime a ser exibido nos EUA. (CLEMENTS; MCCARTHEY, 2013). 

O casal Bai Niang e Xu Xian do filme Hakujaden (1958), o primeiro filme de anime colorido. 

Adentrando a década de 1960 ainda teríamos animes em preto e branco, mas eles passaram a serem dublados, além de se tornarem serializados pelos canais de televisão, iniciando assim o costume de assistir desenho animado na televisão. Um exemplo disso foi o anime Astro Boy (1963-1968), sucesso de Osamu Tezuka nos anos 1950, ganhou sua adaptação para desenho animado, mostrando as aventuras do robô-menino Atom, num Japão futurista. O anime acabou sendo dublado para o inglês e outros idiomas como espanhol, francês e italiano ainda naquela década. (PHILIPPS, 2008). 

O anime de Astro Boy (1963-1968) era originalmente em preto e branco e depois foi colorido. Ele é considerado o primeiro anime de sucesso a ser exibido na televisão japonesa, transmitido pela TV Fuji.   

Nos anos 1960 as emissoras de televisão japonesa haviam notado o potencial do mercado de animes, fato essa que algumas começaram a investir em aumentar na sua grade de animes. A TV Fuji foi uma das precursoras disso, despontando na exibição de vários animes de sucesso, os quais tinham episódios novos exibidos semanalmente. Isso deu início a transmissão periódica de animes na televisão, além de ampliar a quantidade de episódios feitos, se antes os animes eram curtas-metragens, agora graças a influência da serialização dos mangás, os animes passaram a ganhar episódios de 20 minutos (em média), sendo transmitidos semanalmente. À medida que um mangá fazia sucesso, ele ganhava mais capítulos, ampliando sua narrativa, e se o anime também fizesse sucesso, ele se estendia. Astro Boy foi um dos poucos animes daquele período a passar de 100 episódios. 

A procura por mangás de sucesso para movimentar o mercado de anime crescia na década de 1960, condição essa que Mach GoGoGo (1966-1968), narrativa sobre um jovem piloto chamado Go Mifune, se revelou num sucesso instantâneo. Histórias de corrida eram raras nos mangás, além disso, corridas de automóveis estavam em moda naquele período. Apesar de voltado para o público adolescente, o mangá cativou leitores adultos também por conta da temática automobilística. Um ano após seu lançamento já era um fenômeno no Japão e depois foi traduzido para o inglês sendo renomeado para Speed Racer, ganhando fãs nos Estados Unidos. O mangá foi rapidamente adaptado para anime, que foi exibido entre 1967-1968, tendo uma temporada de 52 episódios que eram exibidos na TV Fuji

Speed Racer foi um anime que fez rápido sucesso no final dos anos 1960 e foi levado para os Estados Unidos e depois ao Brasil, na década de 1970. 

Outra produção famosa nos anos 1960 foi Cyborg 009, mangá criado em 1964 por Shotaro Ishimori, que narrava as missões de um grupo de nove ciborgues que passam a lutar contra uma organização criminosa mundial chamada Black Ghost. A trama virou sucesso e Shotaro publicou o mangá até 1981, nesse período houve dois filmes lançados em 1966 e 1967, e depois em 1968 saiu o anime. Curiosamente o anime foi lançado em preto e branco devido ao orçamento menor do que dos filmes, os quais eram coloridos. 

O primeiro anime de Cyborg 009 (1968) ainda era em preto e branco, numa época que produções assim já estavam decaindo.  

Dessa forma, a década de 1960 encerrou-se com o estabelecimento definitivo dos animes na televisão japonesa, além da exportação de filmes para o exterior e até a tradução de algumas séries animadas como Astro Boy, Speed Racer e Cyborg 009, que foram exibidos nos Estados Unidos, Brasil, Espanha, Itália e França. Isso tudo contribuiu para que a partir da década seguinte os animes se tornassem mais populares até virarem um fenômeno nos anos 1980 e 1990. 

Novos públicos e temáticas (1970-1980)

No começo dos anos 1970 um anime que despontou foi Ashita no Joe (1970-1971), sendo considerado o primeiro spokon (narrativas de esporte) de sucesso. O mangá foi produzido de 1968 a 1973, porém, o anime teve apenas uma temporada, mesmo assim, bastante longa, contando com 79 episódios. A trama acompanhava os desafios e sonhos do jovem boxeador Joe Yabuki, um garoto considerado delinquente juvenil que ganhou a oportunidade de encontrar um rumo para sua vida ao entrar no boxe. A narrativa era voltada para o público juvenil-adulto, abordando temas como solidão, frustração, miséria, esperança, violência urbana, além de que alguns personagens bebiam e fumavam também. Embora abordasse a temática da luta, não tratava-se de um desenho necessariamente violento como alguns shonen vieram a ser mais tarde. 

O jovem boxeador Joe Yabuki, protagonista de Ashita no Joe. 

No quesito de animes cômicos e infantis destacou-se Doraemon, criado em 1969 por Fujiko Fujio, o gatinho azul tornou-se um sucesso estrondoso, ganhando um anime em 1973, porém, foi seu anime de 1979, o qual foi transmitido mundialmente, fazendo sucesso em países como Espanha, Itália e França, condição essa que Doraemon ganhou fama definitiva, condição essa que o anime do gatinho azul ainda hoje é produzido, sendo um dos animes com mais episódios já feito. 

O anime de Doraemon foi lançado em 1973, mas foi com a versão de 1979 que o personagem se tornou um sucesso em outros países. 

Entretanto, a década de 1970 foi um período que marcou o interesse por animes mais maduros no sentido de ainda manter a comédia, mas a dirigindo para o público adolescente e adulto. Esse foi o caso do anime de Lupin III, criado por Monkey Punch, inspirado no personagem Arsène Lupin de Maurice Leblanc e no espião James Bond de Ian Fleming. Monkey Punch combinou ideias de ambos os personagens criando um ladrão franzino, engraçado e astuto, que acompanhado de seu grupo formado pelo pistoleiro Daisuke Jigem, o samurai Goemon Ishikawa, e a bela ladra Fujiko Mine, cometiam roubos através do mundo, sendo perseguidos pelo inspetor Zenigata, que tenta prendê-los a todo custo. 

Lupin III foi publicado como mangá de 1967 a 1972, rendendo um anime de 23 episódios produzido pela Tokyo Movie Shinsha, sendo exibido entre 1971-1972. Enquanto o mangá possui um teor mais adulto, envolvendo romance policial, temas adultos (bebidas, fumo, apostas, nudez etc.), o anime teve que suavizar algumas dessas coisas por conta da faixa etária na televisão, entretanto, o primeiro filme da franquia, intitulado Lupin III: O Segredo de Mamo (1978), trouxe tudo que ficou de fora no anime por conta da censura. 

Capa brasileira do primeiro filme de Lupin III. 

O filme foi o primeiro longa-metragem do personagem no cinema, contendo seu humor irreverente, piadas sexistas, piadas de duplo sentido, consumo de cigarros e bebidas alcoólicas, tiroteios, cenas de ação mirabolantes, trama maluca, referências a personagens históricos e obras de artes, elementos de ficção científica, ecchi e até nudez. Inclusive o filme é famoso por mostrar a nudez da Fujiko Mine em alguns momentos, além de um Lupin mais tarado. Características que mostram que se tratava de um filme para o público adulto. 

Nos anos 1980 enquanto os shonen ainda iriam se popularizar, algo comentado no tópico a seguir, animes de comédia ainda eram populares como Don Dracula (1982) e Dr. Slump (1981-1986), o primeiro sucesso de Akira Toriyama (antes de ele lançar Dragon Ball), todavia, o interesse pela comédia romântica cresceu nesse período, originando desenhos como Urusei Yatsura (1981-1986), o qual contava com suas doses ecchi, afinal em vários momentos a protagonista vestia-se apenas com biquíni ou usava pouca roupa. Essa questão da comédia e do ecchi é algo visto também em Ranma 1/2 (1989-1992), trama que brinca com a troca de gênero do protagonista. 

Personagens principais de Ranma 1/2.

Porém, além desses casos cômicos, animes sobre temática espacial e ficção científica se destacaram nesse período, principalmente influenciados por Mobile Suit Gundam (1979-1980) que popularizou os animes de robôs gigantes (mechas), criando toda uma franquia que ganharia novos animes, mangás, filmes e jogos. Alguns animes influenciados por Gundam foram Macross: Guerra das Galáxias (1982), Voltron (1984) e Bubblegum Crisis (1987-1991).

Gundam popularizou os animes mecha. 

O interesse por animes policiais também cresceu na década de 1980, sendo produções voltadas para adolescentes e adultos, algo visto em Cat's Eye (1983-1984), que narra as aventuras de três irmãs ladras; City Hunter (1987-1988) que acompanhava as investigações de crimes por um detetive particular e um ex-policial, e Patlabor (1989), o qual apresenta uma força-tarefa policial que faz uso de robôs gigantes. 

Arte promocional das Cat's Eye, anime policial que destacou-se por ter protagonistas femininas. 

A popularização do shonen (1980-2000)

Os mangás shonen consistem em narrativas dirigidas ao público masculino adolescente entre seus 12 e 18 anos, tratando-se de histórias sobre heroísmo, batalhas, superação, esforço e amizade. São popularmente chamados no Brasil de "animes de lutinha" devido a grande ênfase dada a esse tipo de ação. Assim, a partir da popularização dos mangás shonen dos anos 1980, houve um crescimento considerável na produção de animes que adaptavam esses mangás, gerando uma disputa de audiência na tv japonesa, ao mesmo tempo em que esses animes atraíram a atenção de estúdios e distribuidoras de outros países, que passaram a dar maior atenção a esse tipo de produto. (DENISON, 2015). 

Nos anos 1980 animes de aventura e comédia ainda estavam alta, mas começaram a despontar os shonen como Dragon Ball Z, Os Cavaleiros do Zodíaco e Jojo's Bizarre Adventure. Os dois primeiros fizeram rápido sucesso nos Estados Unidos, Brasil e México, sendo até exibidos também em parte da Europa como França, Portugal e Espanha. Todavia, a popularidade de DB e CDZ nos anos 1990 no Brasil e Estados Unidos alavancou o interesse do público ocidental por animes, já que normalmente os animes exibidos eram de comédia, mais voltada para o público infantil ou filmes de longa-metragem que passavam raramente na tv aberta, tendo que se recorrer ao VHS para assisti-los. 

Os Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z foram os animes shonen que ajudaram a popularizar o consumo de animes no Ocidente. 

Com o sucesso desses shonen, isso alavancou desenhos até de outras classificações como Yu Yu Hakusho, Sakura Cards Captors, Sailor Moon, Samurai X, Yu-Gi-Oh!, Pokémon, Digimon, Slum Dunk, Hunter x Hunter até chegarmos ao começo dos anos 2000 com Naruto, One Piece,  Bleach, Fullmetal Alchemist, InuyashaShaman King, Medabots, Beyblade, Death Note etc. 

No Brasil, a TV Manchete foi pioneira na exibição de animes, a maioria de comédia e aventura voltada para o público infantil. Muitas das produções eram até pouco conhecidas na época. Entretanto, o boom pelos animes na televisão brasileira ocorreu na década de 1990, onde a Manchete passou a disputar com a Globo e a Band esse mercado. Posteriormente a Manchete fechou e nos anos 2000 o SBT assumiu seu lugar na concorrência. A Record também tentou ingressar nesse mercado, mas não conseguiu sustentar a concorrência. Já na tv fechada no Brasil, o canal americano Cartoon Netwoork se tornou o principal distribuidor de animes no país. Depois dele foi a Fox Kids

No Brasil o auge dos animes na tv aberta foi entre 1994 e 2005. 

Apesar da popularização dos animes de ação e aventura (usando aqui um conceito ocidental), não significou que tudo estava bem. Autoridades japonesas, americanas, brasileiras e de outros países questionavam dois elementos principais nesses desenhos televisionados: a violência e o erotismo (ecchi). No Japão houve censura de questões mais pesadas presentes nos mangás que foram adaptadas para os animes, mas isso variava de produção para produção e do canal televisionado. Por exemplo, o anime de Dragon Ball (1986-1989) possui altos índices de ecchi, mas não foi censurado no Japão, porém, em outros países isso ocorreu várias vezes. Por sua vez, no anime Yu Yu Hakusho (1992-1994) o protagonista Yusuke Urameshi não fuma como ocorre no mangá. 

Além disso, alguns animes voltados para o público adulto foram também lançados nos anos 1990 como Bastard, Berserk, Ghost in the Shell, Neon Genesis EvangelionTrigon, Serial Experiments Lain, Cowboy Bebop e o filme Perfect Blue (1997), todos com temáticas mais sérias, violentas, psicológicas e até com altas doses de ecchi, apesar que alguns animes para o público adolescente como Tenchi Muyo!, foram censurados em outros países por conta dos elementos sensuais presentes. 

Capa do DVD com a série de Berserk de 1997. 

O Studio Ghibli

Em 1985 foi fundado por Hayao Miyazaki, Isao TakahataToshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma o Studio Ghibli, o qual atualmente é mundialmente conhecido e respeitado no mundo das animações, tendo ganho vários prêmios, inclusive um Oscar em 2002. O primeiro filme do estúdio foi O Castelo do Céu (1986), baseado na ilha flutuante de Laputa, encontrada no livro As Viagens de Gulliver (1726). Entretanto, o estúdio somente começou a ganhar fama no cenário japonês dois anos depois com o lançamento de Meu Amigo Totoro (1988) e o Túmulo dos Vagalumes (1988). Ambos os filmes são bem contrastantes, pois enquanto o primeiro é uma comédia, o segundo é um drama que se passa após o término da Segunda Guerra, acompanhando a tragédia de dois irmãos órfãos. O Túmulo dos Vagalumes é considerado até hoje o filme mais triste do Studio Ghibli, embora seja uma de suas obras-primas. (DENISON, 2015). 

Cartazes originais de Meu Amigo Totoro e O Túmulo dos Vagalumes, ambos lançados em 1988. 

Diferente de outros estúdios japoneses, o Ghibli se especializou na produção de longas-metragens para o cinema, tendência que mantém até hoje, apesar que o estúdio já produziu também curtas-metragens, comerciais e até fez o designer de alguns jogos de videogame como Ni No Kuni (2010). Apesar disso, o estúdio segue sendo mundialmente conhecido por suas produções para o cinema, algo que começou a despontar em 1996, quando a Walt Disney se tornou a única distribuidora dos filmes do Ghibli, nos Estados Unidos, o que contribuiu para o aumento do conhecimento do seu trabalho, período que inclusive englobou o lançamento de A Princesa Mononoke (1997), outro clássico do estúdio, já sendo um filme um pouco mais violento. 

Os filmes do Studio Ghibli costumam girar em torno de temáticas com comédia, aventura, drama e fantasia. É evidente que há produções que puxam para um lado mais trágico como O Túmulo dos Vagalumes, outras que exploram mais o drama como Vidas ao Vento (2013), outros exploram a fantasia como O Castelo do Céu (1986), A Princesa Mononoke (1997), O Castelo Animado (2006), Ponyo (2008) e A Viagem de Chihiro (2001), o primeiro e único filme do estúdio a ter ganho o Oscar de melhor animação, embora outras produções foram indicadas a esse prêmio também. (DENISON, 2015). 

Cartaz brasileiro de A Viagem de Chihiro (2001). 

Apesar de nem todas as produções do Ghibli serem excelentes, no entanto, o estúdio redefiniu os longas-metragens de anime, colocando seu próprio estilo de desenho, deixando de lado muitos clichês, assim como, não adentrou a popularização dos shonen, tampouco adotou violência e sensualidade exagerados. Até a comédia dos seus filmes é mais leve, embora não signifique que os dramas sejam tão leves assim, além de que algumas produções possuem críticas sociais e reflexões filosóficas. Filmes como O Túmulo dos Vagalumes (1988), Porco Rosso (1992) e O Castelo Animado (2006), trazem reflexões sobre as consequências da guerra. 

VHS, DVDs, OVAs e ONAs

Em 1976 a empresa Japan Victor Companhy (JVC) lançou o vídeo cassete e a fita VHS (Vídeo Homem System), na década de 1980 essa tecnologia já era comum em várias cidades japonesas o que potencializou o mercado de filmes e animes. Sendo assim, filmes animados que haviam passado nos cinemas durante as décadas de 1960 e 1970, agora podiam ser comprados em VHS, além disso, os animes daquela década, vários citados nos tópicos anteriores, aproveitaram para explorar essa mídia física, lançando filmes de séries famosas. 

Embora os animes dos anos 1980 foram marcados pelo tom cômico, havendo também histórias de romance e fantasia, no entanto, houve o lançamento de vários filmes com temáticas mais sérias e sombrias como Golgo 13 (1983) sobre um assassino, sendo baseado no mangá dos anos 1960; Vampire Hunter D (1985), que apresenta um caçador de vampiros; o polêmico Wicked City (1986) que aborda terror e erotismo, e o clássico cyberpunk Akira (1988); todas produções adultas, a quais nem chegavam a serem exibidas no cinema, sendo lançadas diretamente em VHS. 

Akira (1988) é um dos filmes de anime mais famosos da década de 1980. 

Nos anos 1990 o mercado de filmes de animes para VHS proliferou para outros países como Estados Unidos, Brasil, França, Portugal, Espanha, Itália, México, China, Coreia do Sul etc., à medida em que locadoras de filmes se espalhavam, os aparelhos de vídeo cassete se tornavam mais acessíveis, além de haver bancas de revistas que até vendiam tais filmes também, alguns acompanhados de revistas sobre a temática e pôsteres. Gerando o crescimento dessa produção, pelo menos entre os animes mais populares, um caso singular diz respeito a Dragon Ball Z, o qual de 1989 a 1996 teve o lançamento de 13 filmes! 

Alguns filmes de DBZ em VHS na edição brasileira. 

Nos anos 2000 o VHS entrou em declínio diante da concorrência do DVD (Digital Video Disc), o qual embora tenha surgido em 1994, ainda era tecnologia cara em vários países, somente depois de 2000 é que ele começou a baratear a ponto de suplantar o uso de VHS. A mídia do DVD permitia maior capacidade de armazenamento, melhor qualidade de imagem e som, além de uma durabilidade mais longeva, apesar de ser uma mídia mais frágil do que a fita de VHS. De qualquer forma, os animes começaram a adotar essa transição também. 

Um destaque para isso foi o caso do anime Detetive Conan (1996-presente), o qual possui mais de 1.100 episódios, sendo uma febre no Japão, e tendo relativo sucesso nos Estados Unidos, embora no Brasil não ganhou espaço. De 1997 a 2015, quando o comércio de DVD entrou em declínio, foram lançados 19 filmes. Outras produções do período também aproveitaram para apostar no DVD para lançarem muitos filmes foi o caso de Naruto (2002-2017), que teve 11 filmes lançados entre 2004 e 2015. 

Alguns DVDs dos filmes de Detetive Conan na edição americana, em que o anime é chamado de Case Closed. 

Mas além da produção de filmes para o formato VHS ou DVD, essas duas mídias físicas ajudaram de uma segunda maneira a popularizar os animes, isso ocorreu através da produção de OVA (Original Vídeo Animation). As OVAs consistem em episódios especiais, episódios de spin-off ou minisséries, os quais eram lançados diretamente para o consumo doméstico. Os episódios das OVAs variam de 20 a 60 minutos, não chegando a serem longa-metragem como os filmes. Algumas OVAs inclusive possuíam uma melhor qualidade em animação e visual por conta de terem mais tempo para o acabamento, pois no caso de uma minissérie, os episódios poderiam ser lançados com meses de intervalo um do outro. 

Gunbuster foi uma popular minissérie lançada em seis OVAs entre 1988 e 1989, tratando-se de um anime de mecha. 

Neste caso, o mercado de OVAs surgiu no Japão ainda na década de 1980, quando proliferou uma produção massiva, os quais abordavam temas de fantasia, aventura, comédia adulta, ação, trama policial, ficção científica, terror, erotismo e hentai (anime pornográfico). Essas OVAs na maioria das vezes eram de produções originais, não necessariamente baseadas na adaptação de mangás, mas em roteiros próprios. Por conta das OVAs não necessitarem em serem censuradas para serem exibidas na televisão, tais episódios poderiam em alguns casos apresentarem maior índice de violência, nudez, sexo, palavrões e consumo de bebidas alcoólicas, cigarros e drogas. 

O popular jogo de luta Darkstalkers teve sua história adaptada em quatro OVAs, lançadas entre 1997 e 1998. 

Outro tipo de temática de animes que surgiu e cresceu na década de 1980 foram os animes eróticos e os controversos hentais, os quais são histórias pornográficas. Mangás hentais já existem desde o século XIX, advindo da arte erótica dos períodos anteriores. No caso dos animes esse tipo de produção somente ganhou relevância nos anos 1980 graças as OVAs, pois permitiam que tais produções não fossem censuradas e pudessem serem feitas. 

Assim, a série Lolita Anime (1984-1985) com seis OVAs é considerado o primeiro anime hentai. A produção era bastante polêmica mesmo para época, pois as personagens lembravam adolescentes, além de incluir lesbianismo e fetiches sexuais. Esse tipo de produção abriu caminho para a franquia Cream Lemon (1984-1987), a qual popularizou as OVAs eróticas e pornográficas, ganhando até novas séries na década de 1990 e começo dos anos 2000. Apesar de polêmico, o mercado de animes hentais ainda contínua em produção. 

Nos anos 1990 e 2000 o formato de OVAs continuou a ser utilizado, levando até mesmo a publicação de continuações ou prequels de animes famosos. Por exemplo, Samurai X (1996-1998) recebeu quatro OVAs em 1999, que apresentavam o passado do protagonista Kenshin Himura, por sua vez, em 2001 saíram duas OVAs que resumiam o arco final do mangá que não foi adaptado para o anime. 

Capa do DVD da versão japonesa das quatro OVAs de Samurai X, lançadas em 1999. 

Outro caso interessante ocorreu com o anime Os Cavaleiros do Zodíaco, pois a Saga de Hades (2002-2008) foi lançada em 31 episódios de OVAs, não tendo sido transmitida na televisão. Essa saga marcou a continuação do famoso anime, mas devido a questões financeiras dos estúdios, espaço para exibição na grade da tv aberta, entre outros fatores, optou-se em lançar toda essa temporada em DVD, a qual foi dividida em três partes e levou seis anos para ser concluída. O exemplo de CDZ é uma exceção, pois raramente animes recebiam temporadas ou arcos inteiros em formato de OVA. 

Mas outro exemplo envolvendo OVAs advém do anime Hellsing (2001-2002), que contou com 13 episódios, mas devido as mudanças de roteiro e censura, a trama ficou bem diferente da vista no mangá, recebendo várias críticas dos fãs. Anos depois decidiram refazer o anime de forma mais fiel como vista no mangá, mas por se tratar de uma narrativa bastante violenta e pesada, envolvendo terror, violência exagerada e nazismo, decidiu-se produzi-lo no formato de OVAs, totalizando 10 episódios que foram lançados entre 2006 e 2012. O novo anime foi intitulado Hellsing Ultimate

Hellsing Ultimate (2006-2012) é um exemplo de anime que foi refeito e lançado em formato de OVA. 

Após 2016 o conceito de OVA foi sendo alterado para ONA (Original Net Animation), que consiste na mesma coisa que uma OVA, a diferença é que esses episódios especiais, spin-offs e minisséries não são mais normalmente lançados em mídias físicas devido ao crescimento dos serviços de streaming e plataformas digitais, assim, os estúdios optam em não mais lançar essas produções para DVDs ou Blu-ray, mas o lançam direto em formato digital para serem alugados ou baixados. As ONAs podem incluir curtas-metragens ou episódios de até 50 ou 60 minutos de duração. Em casos temos animes em minissérie ou série no formato de ONA. 

Um exemplo de sucesso é Super Dragon Ball Heroes (2018-presente), surgido com o mangá em 2018, baseado no jogo Dragon Ball Heroes (2010), no qual permite se criar seu personagem para viver as narrativas presentes em Dragon Ball Z, Dragon Ball GT e depois se acrescentou o de Dragon Ball Super, combinando-os numa trama envolvendo viagem pelos universos e torneios marciais. Para promover as atualizações do jogo para os arcades em 2017, foi criado o mangá e ele rapidamente levou ao lançamento do anime ainda no mesmo ano.  

Inicialmente a ideia era usar o mangá e o anime apenas como propaganda, mas os fãs gostaram da ideia e solicitaram a continuação da trama. Logo, o mangá e o anime que já se encontra em sua quarta temporada, tendo mais de 50 episódios, os quais são produzidos pela Toei Animation e lançados diretamente no canal do anime no Youtube, o que consiste numa série de anime ONA. Um fato que vem dividindo a opinião dos fãs é que a partir do episódio 50 o desenho se tornou animação em CGI. 

Super Dragon Ball Heroes (2018) é provavelmente a série em formato de ONA mais popular e rentável da atualidade. 

Os videogames e os animes

Na década de 1980 o console mais popular no mundo era o Nintendo Entertainment System (NES), desenvolvido pela Nintendo, uma empresa japonesa. Mas além dela, vários estúdios que desenvolviam jogos de videogame e arcade (fliperama) eram de origem japonesa também como a Bandai, a Namco, a Sega, a Konami, a Enix, a Capcom, entre outras. Isso foi fundamental para que os animes pudessem adentrar o mundo dos videogames. E tal chegada ocorreu inicialmente com a adaptação de animes e mangás para os consoles. Sendo assim, quando um dos dois fazia sucesso, rapidamente uma empresa de videogame comprava os direitos para lançar um jogo, embora que na maioria das vezes fosse uma porcaria naquela época, ainda assim, foi o passo inicial. (DITTBRENNER, 2008). 

Assim, naquela época jogos baseados em animes foram lançados como Dragon Ball (1986), Doraemon (1986), Saint Seiya (1987), Lupin 3rd (1987), Captain Tsubasa (1988), Akira (1988), são alguns exemplos. Tais jogos eram do gênero aventura, luta e esporte, bastante populares no período e ainda hoje algumas dessas franquias como Dragon Ball e Saint Seiya (Cavaleiros do Zodíaco) recebem jogos. No entanto, além da adaptação de animes para os videogames, outra forma de influência adveio na adoção do visual dos animes e mangás na produção de jogos originais como Super Mario (1983), Bomberman (1983) e Mega Man (1987), que se tornaram grandes franquias. 

Panfleto americano de Super Mario (1983). As ilustrações originais eram baseadas nos traços de anime. 

Todavia, os gráficos de anime viralizaram com o surgimento do JRPG (Japanese Role Playing Game), um subgênero dos jogos de RPG, conhecidos por seu estilo inspirado nos animes. A ideia foi bastante acertada, pois naquela época, RPGs estavam em moda nos videogames, e os japoneses eram o maior mercado consumidor desses jogos, por conta disso, as empresas japonesas de videogames começaram a adotar em seus jogos o visual dos animes como forma de familiarizar seu público e atrair a atenção do mesmo. 

O primeiro JRPG a fazer sucesso foi Dragon Quest (1986) produzido pela Enix (atual Square Enix) para o NES. Para se ter noção, a empresa contratou o mangaká Akira Toriyama (1955-2024), o criador de Dr. Slump e Dragon Ball, dois animes de sucesso nos anos 1980, para desenhar os personagens do jogo. Embora os gráficos dos jogos daquele tempo fossem ruins, entretanto, o trabalho de Toriyama foi usado nas artes promocionais. Ele continuou a fazer o designer dos personagens nos jogos posteriores até os mais recentes da franquia. Por conta disso, é perceptível a grande semelhança dos traços de Dragon Quest com Dragon Ball

Capa de Dragon Quest III (1988). Nota-se como o protagonista é quase idêntico ao Goku, pelo fato de Toriyama ter sido o ilustrador. 

Com o sucesso de Dragon Quest que se tornou uma franquia, outras franquias de JRPGs surgiram nos anos 1980 como Final Fantasy (1987), Ys (1987) e Megami Tensei (1987). Na década de 1990 os JRPG se tornaram um fenômeno mundial, surgindo dezenas de títulos e novas franquias como Fire Emblem (1990), Mana (1991), Tales of (1995), Suikoden (1995), Star Ocean (1996), Wild Arms (1996), Xenogears (1998), Valkyrie (1999). Além desses títulos, vários outros JRPGs que não fizeram tanto sucesso para receber continuações foram lançados, ainda assim, eles faziam uso do visual dos animes e mangás, estabelecendo isso como uma marca desse subgênero que se mantém até hoje. 

Uma cena do famoso jogo Chrono Trigger (1995), com seus gráficos de anime. Curiosamente Akira Toriyama foi também responsável pelo designer desse jogo. 

No final dos anos 1990 os jogos de JRPG começaram a adotar os gráficos em 3D, melhorando com o tempo sua resolução. Além disso, nos anos 2000 jogos baseados em animes de luta como Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco e Naruto se popularizaram, como também surgiram outros tipos de gêneros que ganharam destaque nesse período como foi o caso do visual novel (romance visual). 

As visual novels consistem em jogos de narrativa em que os personagens são apresentados de forma geralmente estática, exibindo caixas de diálogo que apresentam a trama. Assim, o jogador deve ler os diálogos, descrições e explicações e selecionar opções de pergunta ou resposta ou outro tipo de ação. As visual novels de hoje em dia já contam com personagens dublados, trilha sonora e até cenas em CGI, tendo recebido até mais traduções para o inglês, pois a partir dos anos 2000 cresceu o interesse por esse gênero em outros países. 

Um exemplo de jogo de visual novel com seus gráficos de anime.

As temáticas das visual novels são diversas abordando temas como romance, namoro, aventura, suspense, drama, terror, policial, fantasia, comédia e erotismo. A franquia Ace Attorney (2001) é um exemplo popular hoje em dia, no qual trata-se de jogos que acompanham advogados e investigações criminais. Embora que no Japão visual novels sobre romances escolares estejam entre os temas mais populares, além dos famigerados "jogos de namoro virtual". 

Mas além de JRPGs, visual novels, aventura, luta e adaptações de animes, os estúdios japoneses passaram a produzir jogos de ação, terror, esportes, puzzles, investigação, fantasia, dança, eróticos etc., com visual de animes, mostrando como a influência dos animes se tornou profunda nos videogames, especialmente no Japão, onde esse tipo de produto é bastante rentável. 

Por fim, houve casos de videogames que ficaram tão populares que originaram desenhos animados, algo que ocorreu ainda logo cedo com Super Mario Bros (1986) e The Legend of Zelda (1989), ambas franquias de sucesso da Nintendo, embora foram produzidos desenhos no padrão americano. Entretanto, o exemplo mais famoso de um jogo que originou um anime é Pokémon, o qual surgiu em 1996 com os jogos Pokémon Red e Pokémon Blue (Pokémon Green no Japão), lançados em preto e branco para o Game Boy. Um ano após seu lançamento as empresas responsáveis, Game FreakNintendo, decidiram lançar um anime e depois um mangá, em que ambos promoveriam o jogo, e isso acabou se revelando um sucesso estrondoso. Pokémon (1997-presente) segue em exibição e possui mais de 1.200 episódios, mais de 20 filmes, dezenas de jogos e é uma das franquias de jogos eletrônicos mais lucrativa da atualidade.

O anime de Pokémon (1997-presente) surgiu a partir dos jogos lançados em 1996 para Game Boy. É o caso de anime mais famoso originado a partir de um videogame. 

Ao chegar aos anos 2000 os videogames adotaram de vez os gráficos em 3D, que vem sendo aperfeiçoados desde então, apesar que jogos em 2D ainda sejam produzidos em menor quantidade. De qualquer forma, com o crescimento dos videogames, muitos jogos com gráficos de anime foram produzidos, o que em parte ajudou alguns fãs a se familiarizar com a adoção desse estilo para o surgimento dos animes em 3D. Embora isso ainda divida opiniões. (DITTBRENNER, 2008). 

Os animes em 3D

Animes em arte 3D é algo que divide a opinião dos espectadores e fãs. Há quem condene totalmente esse tipo de produção, outros ignoram e a aqueles que veem que existam algumas produções boas. O crescimento de animações 3D teve início na década de 1990 propriamente dito, quando empresas estadunidenses como a Pixar e a Dreamworks despontaram nesse mercado no cinema, sendo seguidas pela Walt Disney e outros estúdios. Além disso, data do final dos anos 90 algumas séries animadas em 3D, embora fossem de qualidade bem mais baixa do que os filmes. 

No caso dos animes, a adoção do 3D teve sua estreia no limiar do novo século, com o filme A.Li.Ce (2000), um drama de ficção científica que começa em 2000 e acompanha a astronauta Alice e a androide SS1X após um acidente que fez a nave delas caírem na Lapônia, fazendo-as despertar trinta anos no futuro. As duas mulheres conseguem a ajuda de um jovem órfão chamado Yuan, que revela que no ano de 2030, a humanidade foi reduzida para 1 bilhão de pessoas devido ao governo aniquilador promovido pelo ditador Nero. Assim, os três devem sobreviver a tal ameaça. Apesar da trama scifi interessante, o filme foi um fiasco de bilheteria e crítica, além de seu CGI que lembrava gráficos das cutscenes de PS1. (CLEMENTS; MCCARTHEY, 2006). 

Capa americana do DVD de A.Li.Ce (2000), o primeiro anime totalmente em 3D. 

Apesar do fiasco de A.Li.Ce, no entanto, tivemos um grande produção em CGI lançada poucos anos depois com o filme Final Fantasy VII: Advent Children (2005), o qual consiste numa continuação da trama do jogo Final Fantasy VII (1997). Ainda hoje sua animação e gráficos são considerados entre os melhores no gênero de filmes 3D de anime. Mas isso se deve ao fato de se tratar de uma produção baseada num jogo de videogame, o qual aproveitou essa associação do consumidor com a produção digital, embora que o jogo original fosse bem mais feio. 

Sephiroth vs Cloud em Final Fantasy VII: Advent Children (2005). O filme é considerado um dos primeiros sucessos de animes em 3D. 

O salto na qualidade gráfica e de produção entre A.LI.CE e FF VII: Advent Children é gigantesco, ainda assim, isso não foi o suficiente para convencer a indústria japonesa em investir nesse tipo de animação, pois em geral, os animes em 3D de melhor qualidade eram filmes, algo visto com Astroboy (2009), Oblivion Island (2009), Mobile Suit Gundam Unicorn (2010), Tekken: Blood Vengeance (2011), Capitão Harlock: Pirata do Espaço (2013) e Stand by Me: Doraemon (2014), são alguns exemplos de bons animes digitais, mas isso se devia a dois fatores: filmes recebiam orçamento maiores e tinham mais tempo para a produção, diferente de séries animadas. Condição essa que quando vemos animes em 3D a situação era pior. 

Em Dinossauro Rei (2007-2008), enquanto os personagens humanos eram em 2D, os dinossauros apareciam em 3D, o problema era na hora do combate e movimentação, em que se percebia os problemas da animação, apesar do desenho não ter uma ideia e narrativa ruins. Por conta disso, os estúdios decidiram evitar arriscar em fazer animes totalmente em 3D, optando por animações mistas, porém, algumas tentativas inteiramente em arte digital não se saíram também, mesmo com a melhora tecnológica, vide casos como Knights of Sidonia (2014-2015) e  Berserk (2016), ambos costumam serem incluídos nas produções ruins por suas animações bastante "robotizadas", embora o anime de Sidonia recebeu até algumas críticas mais positivas. 

O anime de Berserk de 2016, é considerado um dos piores animes em 3D por conta de uma série de fatores. 

Embora algumas séries de animes em 3D foram duramente criticadas, tivemos casos de animes que até se saíram bem como Ajin (2016), Land of Lustrous (2017), The King of Fighters: Destiny (2017) e BanG Dream! (2017-2020), foram animes em 3D que ganharam melhor destaque na qualidade de produção. Além disso, essa tendência vem aumentando nos últimos anos. 

De 2019 em diante vem aumentando os animes em 3D, a maioria são filmes lançados para o cinema, streaming ou Blu-ray. Casos recentes temos Lupin III: O Primeiro (2019), Dragon Quest: Your Story (2019), Pokémon: Mewtwo contra-ataca evolução (2019), Serpente Branca (2019), Aya e a Bruxa (2020), Serpente Verde (2021), Monster Hunter: Legends of the Guild (2021) e Dragon Ball Super: Super Hero (2022). 

O caso do filme de Aya e a Bruxa chama atenção por conta de ser a primeira produção do famoso Studio Ghibli inteiramente em 3D, o que dividiu a opinião dos fãs do trabalho do estúdio, em que muitos foram contrários ao Ghibli deixar de lado sua experiência e talento com a animação tradicional e se sujeitar ao modismo dos animes 3D. Além das críticas negativas a adoção do CGI, a narrativa também foi apontada como um dos pontos negativos dessa produção. 

Aya e a Bruxa (2020) foi o primeiro filme do Studio Ghibli em 3D, mas não foi bem recebido pelo público e a crítica. 

Por outro lado tivemos séries que vêm sendo produzidas neste padrão também como Ultraman (2019-2023), Beastars (2019-presente), Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco (2019-presente), Kengan Ashura (2019-presente) e Ghost in the Shell SAC_2045 (2020-2023), são alguns exemplos. Tais produções recentes dividem a opinião, em que alguns consideram totalmente ruins por serem animadas com computação gráfica, outros consideram até bem feitas, mas pecam quanto as suas narrativas. Neste caso, o reboot de Cavaleiros do Zodíaco foi o que mais sofreu nessa lista citada, devido as várias mudanças feitas em relação ao material original do mangá e o primeiro anime. 

O atual anime de Ghost in the Shell SAC_2045 divide a opinião de fãs e espectadores, por ser uma produção totalmente digital. 

A tendência de mais filmes em 3D e até de algumas séries se deve a vários fatores, o que inclui questões econômicas. Desenhos em 2D de forma tradicional consomem grande quantidade de papel e tinta, embora que hoje em dia, muitos estúdios trocaram o papel pela tela, fazendo uso de canetas digitais para desenhar como se estivesse fazendo isso numa folha de papel. Até os quadrinhos e mangás vem sendo desenhados dessa forma, o que evita gastos com papel e tinta. Além disso, o uso da tecnologia digital facilita na hora de corrigir erros no desenho, alterar as cores, as proporções etc. O emprego de softwares para animar também facilita o trabalho se comparado as técnicas tradicionais de animação dos desenhos em 2D. Apesar dessas vantagens, no entanto, animações em 3D são mais demoradas e dependendo dos efeitos especiais podem até ficar caras, por conta disso é comum tais séries terem poucos episódios. 

Os streamings e os animes

Os serviços de streaming de anime começaram ainda nos anos 2000 como a Crunchyroll, fundada em 2006, porém, esses serviços só despontaram a partir de 2015 em diante, destacando-se o Funimation naquela época, surgido em 2016. Outros streaming especializados em animes que foram surgindo são Hidive, Looke, Tubi. Todavia, em 2021 a Sony adquiriu os direitos da Funimation e da Crunchyroll, tornando a segunda empresa no maior streaming atual especializado em animes, em cujo catálogo são exibidos sucessos recentes como Demon Slayer, Attack on Titan, Jujutsu Kaisen, Dr. Stone, Spy x Family etc. Inclusive a própria transmissão de One Piece (que segue ainda em produção), Boruto e o remake de Samurai X

O Crunchyroll é atualmente o maior streaming de animes no mundo. 

Atualmente os serviços de streaming vêm investindo em animes, pelo menos parte deles como a Netflix e o Prime Vídeo. No caso da Netflix, a empresa tomou a dianteira para comprar animes, assim como, investir na produção dos mesmos. De 2017 para cá aumentou o catálogo de animes da empresa, destacando-se produções exclusivas como Castlevania (2017-2022), Baki (2018-2020), Beastars (2020-presente), Dota: Dragon's Blood (2021-presente), Thermae Roma Novae (2022), Cyberpunk Mercenários (2022), Ghost in the Shell SAC_2045 (2020-2023) e Pluto (2023). A empresa também comprou os direitos de exibição de quase todo o catálogo do Studio Ghibli. Além disso, cresceu também a adaptação em live-action de alguns animes, algo visto recentemente com Cowboy Bebop (2022), One Piece (2023) e Yu Yu Hakusho (2023). 

Das empresas de streaming com catálogo abrangente, a Netflix é que vem mais investindo em animes. 

A Prime Vídeo vem se destacando na exibição de alguns clássicos como Inuyasha e a continuação Yasahime (2021-presente). A empresa também possui em seu catálogo exclusivo, produções como Dororo (2019), os quatro filmes do reboot de Neon Genesis Evangelion, além de alguns filmes recentes de Lupin III. Por sua vez, a HBO Max tem um catálogo ainda pequeno, já que seu foco são desenhos da Warner/DC e algumas produções do Cartoon Netwoork

NOTA: Alguns dos animes antigos produzidos entre 1917 e 1950, podem ser conferidos no Youtube, basta procurar pelos títulos. Uma forma de fazer isso é conferindo as listas de animes antigos na Wikipédia em língua inglesa. 

NOTA 2: O filme Nausicaa do Vale do Vento (1984) foi dirigido e escrito por Hayao Miyazaki, mais tarde ele foi incluído no portfólio do Studio Ghibli devido a ter sido lançado um ano antes do estúdio, assim como, inspirou sua criação. 

NOTA 3: Algumas OVAs podem passar dos 50 ou 60 minutos, mas são casos raros, como exemplo de Lupin III: A Conspiração dos Fuma (1987) que tem 73 minutos de duração e Street Fighter Alpha: The Animation (2000) com 93 minutos de duração. 

NOTA 4: A sigla OAD (Original Anime DVD) foi cunhado para se referir especificamente as OVAs lançadas em formato DVD, porém, o termo raramente era usado fora do Japão. O OAD ainda inclui o Blu-ray. Atualmente poucos estúdios lançam OADs, a maioria o fazem no Japão para eventos especiais ou comemorativos de algum mangá ou anime. Por outro lado, tais produções vêm sendo lançadas na internet.  

NOTA 5: Os animes mais longos são curta-metragens que são exibidos somente no Japão. Raramente recebem legendas ou traduções para outros países. Esses animes possuem mais de 1.500 episódios, porém, Sazae-san que é uma comédia do cotidiano, tem quase 10 mil episódios, sendo exibido continuamente desde 1969. Consistindo no anime mais longo da História. 

NOTA 6: O filme de anime mais longo é Kono Sekai no Katasumi ni ("Neste Canto e em Outros Cantos do Mundo), que foi lançado em 2019 pelo estúdio MAPPA, consistindo na versão estendida do filme original de 2016, que aborda o contexto da Segunda Guerra. A nova versão possui 168 minutos ou 2h48min de duração. 

NOTA 7: Akira Toriyama fez ilustrações de jogos como Dragon Quest, Chrono TriggerBlue Dragon, Tobal n.1, Tobal n.2. Além disso, ele também fez as ilustrações de alguns jogos baseados em Dr. Slump e Dragon Ball

NOTA 8: As ilustrações de Super Mario Bros nos anos 1980 tinham traços de anime, mas depois foram sendo cartunizadas para o estilo ocidental. 

NOTA 9: A Viagem de Chihiro (2001) foi o primeiro filme de anime a ganhar um Oscar, feito ocorrido em 2003. Duas décadas depois O menino e a garça (2023), ganhou o Oscar em 2024. Ambos são os únicos animes a vencerem o prêmio de melhor animação nessa importante premiação. 

NOTA 10: O filme O menino e a garça (2023) do Studio Ghibli venceu o Globo de Ouro e o Bafta de melhor animação em 2024, sendo o único anime a conseguir tais conquistas. É também o único anime a levar esses dois prêmios e mais um Oscar, no mesmo ano. 

NOTA 11: O Studio Ghibli em 2024 ganhou uma Palma de Ouro honorário por sua importância na indústria cinematográfica de animações, sendo o único estúdio de animes a receber tal premiação. 

Referências bibliográficas

CLEMENTS, Jonathan. Anime: A History. London, Palgrave Macmillan, 2013. 

CLEMENTS, Jonathan; MCCARTHY, Helen. The Anime Encyclopedia. A Guide to Japanese Animation Since 1917. Revised & expanded edition. Berkley, Stone Bridge Press, 2006. 

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DITTBRENNER, Nils. Anime Interactive: Video Games and Manga Culture. In: MENZEL, Martha-Christine [et al] (eds.). Ga Netchu: The Manga Anime SyndromeFrankfurt, Deutsche Filmmuseum, 2008, p. 134–43.

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WADA-MARCIANO, Mitsuyo. Nippon Modern: Japanese Cinema of the 1920s and 1930s. Honolulu, University of Hawaii Press, 2008. 

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