quinta-feira, 7 de maio de 2020

A grande invasão viking à Inglaterra (866-878)

A segunda metade do século IX foi marcada na história da Inglaterra medieval como um período problemático, pois as incursões vikings à ilha acentuaram-se ao ponto de exércitos invadirem a região no intuito não apenas de saquear, mas de ocupação, de conquista de território. E essa ideia de conquista realmente veio a se concretizar, originando o território do Danelaw, o qual ocupou quase metade do atual território inglês, que passou a estar sob domínio de chefes e reis dinamarqueses e noruegueses por quase um século. No presente artigo, o objetivo foi abordar essa grande invasão que levou a origem do Danelaw. 

Antecedentes 

Até o fatídico ano da grande invasão ocorrer, os nórdicos já frequentavam a Inglaterra, Escócia e Irlanda desde o século VIII pelo menos, indo como comerciantes, visitantes, ou mapeando a costa para possíveis incursões de pirataria. O ano de 793 entrou para a História devido ao ataque viking realizado ao mosteiro de Lindisfarne, situado na costa do antigo Reino da Nortúmbria. O breve relato contido nas Crônica Anglo-saxã não fornece detalhes sobre o ocorrido, informando que:

“793: neste ano apareceram presságios terríveis na Nortúmbria, que assustaram muito as pessoas. Consistiam em imensos torvelinhos e relâmpagos, e viam-se dragões chamejantes voando pelo ar. Aqueles sinais foram imediatamente seguidos por uma época de grande fome, e pouco depois, em 8 de junho do mesmo ano, os homens pagãos destruíram a igreja de Deus em Lindisfarne, saqueando e matando”. (OLIVEIRA, 2018a, p. 

Tal ocorrido é até hoje considerado por alguns historiadores como o marco de início da Era Viking (793-1066). No entanto, nos anos seguintes novos ataques ou avistamentos de embarcações nórdicas continuaram a ser relatados nas Crônica Anglo-saxã, onde informa-se que entre 794 e 799, avistou-se possivelmente (as vezes os relatos não confirmam a origem do povo) o que seriam navios vikings rondando as águas da Inglaterra, Escócia e Irlanda. Todavia, do ano 800 a 850, ou seja, um período longo de cinquenta anos, novas incursões continuaram a ocorrer àquelas ilhas, as quais aconteciam durante os meses de verão e primavera, pois os invasores não tinham o costume de atacar no outono e inverno devido aos empecilhos climáticos. No entanto, ressalva-se que em alguns momentos podia-se passar anos sem nenhum novo ataque, pois não significou que em todo ano houvesse ataques. 

Por volta do ano 850, registra-se o primeiro acampamento de inverno conhecido. Ele foi montado na ilha de Yahnet, no rio Tâmisa. A ideia com aquele acampamento era, ao invés dos nórdicos retornarem para seus lares e aguardar o inverno passar e depois ter que preparar nova tripulação, navio e unir suprimentos, algo que levaria meses, optou-se em permanecer aquartelado em território inimigo, aguardando o inverno passar. A questão era assegurar que houvesse lenha e comida para manter a permanência ali. Se desconhece de quem teria sido a ideia para esse acampamento, mas sabe-se que outros acampamentos de inverno foram realizados nos anos seguintes. (OLIVEIRA, 2018b, p. ).

No entanto, a partir desses acampamentos de inverno, a presença escandinava sobretudo na Inglaterra, tornou-se mais recorrente nos quinze anos seguintes, ao ponto que alguns chefes começaram a cobrar o danegeld (tributo danês ou "ouro danês"), um tributo de extorsão que teria sido iniciado na França, e aplicado na Inglaterra, onde basicamente um grupo de invasores ameaçava a população de uma vila, aldeia ou até cidade, para que não fossem atacados, saqueados e mortos, deveriam pagar uma taxa geralmente em ouro e prata, mas as vezes em outras mercadorias, para que os invasores os deixassem em paz. Essa taxa em alguns casos era cobrada até anualmente, pois via-se que era mais proveitoso ficar extorquindo os moradores do que guerrear contra eles. (HOLMAN, 2003, p. 73-74). 

Entretanto o pagamento do danegeld nem sempre assegurava que não haveria novos ataques. A Crônica Anglo-saxã relata que no ano de 865, a população da cidade de Kent, na Ânglia Oriental, havia pago o tributo naquele ano, mesmo assim o local foi atacado. Não se sabe os invasores eram os mesmos que cobravam o danegeld ou teria sido outro grupo. Somente sabe-se que o ataque ocorreu à noite, onde a cidade foi saqueada e parte da população foi assassinada. Porém, no ano seguinte, o povo da Ânglia Oriental aguardava que os vikings retornassem como de costume, de fato, eles voltaram, mas não com o intuito de cobrar o danegeld, mas de conquistar aquelas terras. 

A chegada do Grande Exército Pagão (866)

A Crônica Anglo-saxã usa o termo mycel heathen here que costuma ser traduzido como "grande exército pagão", embora haja dúvidas qual seria o tamanho desse exército, pois a fonte não aponta valores, ainda assim, sabe-se que teria sido uma força de ataque considerável para iniciar uma série de conflitos que duraram meses, inclusive resultando na conquista do Reino da Nortúmbria. Marcando assim a ocorrência de uma guerra que se estendeu por doze anos. (OLIVEIRA, 2018, p. 

Entretanto, as fontes do período não apresentam explicações sobre como teria começado essa invasão. Quem teriam sido seus líderes, os responsáveis por planejar ousado ataque, de onde partiram os navios, quais reinos participaram. Porém, existem duas versões para compreender como essa invasão teve início: a versão histórica com poucas informações, e a versão literária a qual fornece mais informações, no entanto, seu caráter lendário põe em dúvida sua veracidade. 

a) Versão histórica

Na versão histórica não há registros de nomes de quem foram os líderes que arquitetaram o plano de enviar um exército para conquistar territórios na Inglaterra. Pois naquele período do século IX, a Escandinávia era um conjunto de pequenos territórios governados por reis e chefes. Ainda não havia os reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia. Não obstante, relatos dos monarcas desse período são escassos e o que se conhece é de caráter duvidoso, pois são nomes mencionados em listagens reais escritas séculos depois, não se sabendo se realmente foram governantes reais ou lendários. 

Normalmente considera-se que a maior parte dos nórdicos que participaram desse conflito, fossem de origem dinamarquesa, mas tendo contato com guerreiros da noruegueses e talvez suecos. O problema é que nas fontes anglo-saxãs e inglesas, os nórdicos eram genericamente chamados de daneses, e não necessariamente significasse que viriam da Dinamarca. Além disso, não tem como se saber se todos os guerreiros vieram ao na mesma frota saída da Escandinávia, ou vieram de outras localidades como França e Irlanda, onde ocorriam simultaneamente invasões. Alguns historiadores trabalham com a segunda hipótese de que navios e tropas localizadas em diferentes lugares foram coordenados para se unirem e invadirem a Ânglia Oriental no ano de 866. 

Um outro aspecto desconhecido é o motivo ou motivos para essa invasão. Pois como assinalado anteriormente, desde 793 ocorriam ataques à Inglaterra, Escócia e Irlanda, durante a primeira metade do século IX, várias incursões se sucederam, e a partir de 850 teve início os acampamentos de inverno, mas em 866 temos um ousado plano de realizar ataques para se saquear ou extorquir os moradores cobrando o danegeld, mas de conquistar terras, fixar domínios. O porque dessa mudança ter surgido, não se sabe. As especulações são muitas, mas nada certo. 

b) versão literária 

A versão literária costuma agradar mais o público, pois nos fornece líderes e motivos para explicar porque o grande exército pagão decidiu invadir os reinos anglo-saxões naquele ano de 866. Nessa versão temos o lendário rei Ragnar Lothbrok como estopim para essa invasão iniciar. Segundo as sagas, poemas e crônicas que narram os feitos de Ragnar, como Saga de Ragnar Lothbrok (XIII), o poema Krákumál (XII), a Saga dos Filhos de Ragnar (XIII), e as crônicas Gesta Danorum (XII), Libellus de exordio (XII), Historia Regum Britanniae (XII) e a Floris Historarium (XIII), dizem que Ragnar foi executado pelo rei Aella II da Nortúmbria em um poço de cobras, e assim, seus filhos decidiram realizar uma vingança. E a invasão teria sido ordenada por Ivar, o Sem-Ossos Halfdan. (HADLEY, 2000, p. 8). 

Tais fontes não sugerem datas para tal acontecimento, mas como a invasão se deu em 866, Ragnar se tivesse existido, teria que ter morrido no ano anterior, pelo menos. De qualquer forma, segundo os relatos acima citados, os filhos de Ragnar (dependendo da fonte, o nome deles mudam), Ivar, Ubbe, Sigurd, Halfdan e as vezes Bjorn, Flanco de Ferro, derrotaram Aella II e o executaram com o uso da "águia de sangue". Historicamente Aella teria morrido no começo de 867. Com a vingança tendo sido executada, os filhos de Ragnar deram continuação a invasão, partindo para conquistar territórios. 


Cena da série Vikings mostrando os Ragnarson em uma das batalhas do grande exército pagão. A série popularizou essa versão para a origem da invasão. 

Observa-se que a versão literária nos fornece várias respostas que historicamente não possuímos: a) motivo: morte do Ragnar Lothbrok e vingança dos seus filhos; b) planejadores e líderes: os Ragnarson; c) origem das tropas: Dinamarca ou Noruega. Porém, ressalvo que essa versão não deve ser considerada como real, pois tais personagens são lendários ou semilendários, pois embora hajam menções a chefes chamados Ivar e Ubbe não se pode afirmar que fossem os tais filhos de Ragnar Lothbrok, até porque cronologicamente a data de seu reinado não confere com os acontecimentos históricos, e Ubbe somente destaca-se anos depois nos conflitos na Inglaterra, e Ivar é reportado realizando campanhas na Irlanda. Além disso, tais homens podem ter sido posteriormente associados com Ragnar Lothbrok, pois as sagas e crônicas que falam sobre suas façanhas datam dos séculos XII e XIII, mais de 400 anos depois de tais acontecimentos. 

A primeira fase da invasão (866-869)

Historicamente não temos relatos de como tais campanhas ocorreram, apenas sabemos os anos onde algumas batalhas teriam ocorrido, ainda assim, não se sabe em que data, quem foram os envolvidos ou como ocorreu o conflito, assim, nas linhas a seguir veremos por alto esses marcos cronológicos, pois sublinha-se que Crônica Anglo-saxã embora seja nomeada dessa forma, ela foi escrita em formato de anais, formato que preza por informações breves e sem detalhes, limitando-se a citar o ano, e alguma informação sobre local e alguém envolvido de destaque. 


No ano de 867 as tropas do grande exército pagão invadiram o Reino da Nortúmbria, como isso ocorreu não se sabe, todavia, o então rei, Aella II foi morto, e no local elegeu-se um rei fantoche chamado Ecgberth I, o qual passou a estar a serviço dos escandinavos. A cidade de Eoforwic foi capturada e posteriormente renomeada para Jorvik, tornando-se a capital do Reino de Jorvik, um dos territórios nórdicos surgidos com o Danelaw. (HALL, 2008, p. 379). 

Até o século IX, o Reino da Nórtumbria ocupava os atuais territórios do norte da Inglaterra e sul da Escócia. Suas fronteiras mudaram com o tempo. Em 867 o reino foi conquistado por invasores escandinavos que permaneceram ali até 954. 

A cidade de Jorvik que era chamada pelos ingleses de York, era uma importante cidade mercante no norte da Inglaterra, conhecida pela produção de calçados, ferramentas, objetos de metal, acessórios etc. além de exportar produtos agrícolas. Katherine Holman (2003) observa que Jorvik tornou-se um importante polo manufatureiro, ao ponto de que o nome de algumas ruas refletia os produtos ali fabricados. Assim encontramos ruas cujos nomes se referiam a produção de vidro, metal, joalheria com âmbar, prata e ouro, carpintaria, tecelagem, etc. Uma das ruas mais conhecidas era a chamada rua Coppergate, escavada entre 1976-1981.

Não se sabe como ocorreu a capitulação do reino da Nórtumbria, mas pelo que parece, quando isso estabilizou-se o inverno havia chegado, e as campanhas militares foram suspensas como de costume. No ano seguinte as tropas do grande exército pagão estavam espalhadas pelos territórios da Nórtumbria, Ânglia Oriental e agora adentravam o Reino da Mércia, que na época era o reino mais extenso, o que gerou dificuldades para mobilizar as tropas, fato esse que os chefes desse exército tentaram promover acordos com o rei Burgredo da Mércia (r. 852-874), o qual buscou apoio dos reinos da Ângila Oriental e Wessex para formar uma aliança contra os invasores nórdicos. De fato, a aliança veio a se formar, não como o esperado, e a Mércia ainda demorou alguns anos para ser subjugada. 

Mas enquanto a Mércia resistia as pressões do exército viking, a Ânglia Oriental foi conquistada no ano de 869, em que o rei Edmundo foi morto em combate. Os relatos apontam que dois chefes teriam sido responsáveis pela vitória, Hingwar e Ubbe, o qual mais tarde a tradição literária creditou Ubbe como sendo um dos filhos de Ragnar Lothbrok. E essa primeira fase de campanhas, encerrou-se no ano de 870 com dois reinos anglo-saxões conquistados. 

A segunda fase da invasão (870-874)

O segundo momento da guerra nórdica pela conquista dos reinos anglo-saxões foi marcado pelas batalhas para se conquistar o Reino da Mércia, consolidar os domínios na Ânglia Oriental e Nortúmbria e tentar se conquistar o reino de Wessex. Assim, as fontes que pouco comentam sobre esse período, assinalam várias batalhas ocorreram, mas tais fontes não fornecem detalhes, as vezes apenas informando que a vitória foi anglo-saxã ou danesa. 

No ano de 871 destacam-se duas batalhas importantes, a primeira foi a Batalha de Reading, ocorrida em território de Wessex, o segundo maior reino anglo-saxão. Ainda era inverno quando o conflito ocorreu, apesar de normalmente não se travar batalhas durante essa estação do ano, o então rei de Wessex, Etereldo (r. 865-871) decidiu atacar de surpresa o acampamento viking situado em Reading. Na ocasião o rei marchou com seu exército e acompanhando ele estava seu irmão, o príncipe Alfredo. A Crônica Anglo-saxã relata sobre o ocorrido informando que o exército viking era liderado por dois reis, Begseac e Halfdan (não se sabe se eram realmente reis, pois os cronistas anglo-saxões tinham o hábito de nomear muitos chefes militares como sendo reis), o qual cada um comandava uma parte do exército. A batalha foi acirrada e houve muitas mortes, no entanto, as forças de Wessex foram derrotadas e Etereldo ordenou que recuassem, mas Begsec e Halfdan decidiram persegui-los e quatro dias depois em Ashdown ocorreu a Batalha de Ashdown, que resultou na vitória de Wessex. 

Ilustração retratando a Batalha de Ashdown (871), que resultou na vitória anglo-saxã de Wessex contra o exército viking invasor. 

Nesse momento a crônica informa que um impasse foi gerado e ambos os lados suspenderam os ataques. Etereldo e Alfredo retornaram para casa, mas o exército viking ficou mais alguns meses em Reading e depois marchou para Londres. Durante a época da Páscoa de 871, Etereldo adoeceu e faleceu, sendo sucedido por seu irmão Alfredo. 

No ano de 872, a cidade de Londres foi atacada a primeira vez pelos vikings, sendo saqueada. Enquanto as tropas de Begsec e Halfdan saqueavam Londres, em outras localidades, outros chefes lideravam novas investidas. Novamente os relatos da época são sucintos e a Crônica Anglo-saxã informa que acampamentos foram erguidos próximos a Torksey e Lindsay, ambos no território da Mércia, cujas cidades seriam próximos alvos de ataques. Assim, no ano de 873, ambas as cidades foram atacadas por tropas vindas da Nortúmbria. Naquele período o rei Burgredo da Mércia tentou propor um acordo de paz, mas não se sabe se o acordo foi concretizado, pois no ano seguinte, a crônica informa que a Mércia sofreu novos ataques e o rei Burgredo foi assassinado e em seu lugar assumiu Ceowulf, o qual fez acordo com os daneses. 

Para o ano de 875 novos ataques à Wessex ocorreram, o qual havia se tornado o último reino anglo-saxão a não ter sido conquistado, apesar que nesse período, o País de Gales, a Escócia e a Irlanda também continuavam a resistir. Halfdan deixou a região de Londres e voltou para a Nortúmbria indo enfrentar os pictos na Escócia. Porém, outros três chefes chamados Gudrum, Oschetel e Anund a partir de Cambridge deram início as suas tentativas de conquistar Wessex

A terceira fase da invasão (875-878)

O rei Alfredo de Wessex (849-899), o qual estava a frente do reino apenas cerca de um ano, ordenou que tropas fossem treinadas e mobilizadas, assim como, ordenou a construção de fortificações para proteger os domínios de Wessex. Ao longo de seu reinado vários buhrs foram construídos, os quais consistiam em vilas e cidades fortificadas com muralhas, torres, paliçadas e em alguns casos, fossos. Embora tais fortificações não mantiveram os nórdicos longe, no entanto, fora úteis em evitar que tais vilas e cidades em Wessex fossem conquistadas. 

Desenho retratando um burh anglo-saxão. 

A Crônica Anglo-saxã não dá muita atenção a Wessex no que se refere aos anos de 865 e 866, ocupando-se mais em falar de Halfdan em sua campanha no que hoje seria na Escócia. Porém, em 877, a crônica retoma a Wessex, informando que os chefes Gudrum, Oscetel e Anund realizaram ataques naquele reino, sendo que Gudrum ocupou a cidade de Exeter, o que levou o rei Alfredo, o Grande a propor uma trégua para Gudrum. A trégua permitia que o chefe viking continuasse com o domínio de Exeter, mas ordenasse que suas tropas parecessem de atacar outras partes do reino, além disso, Gudrum também deveria convencer seus aliados a suspender os ataques. Todavia, essa trégua durou alguns meses, pois no ano seguinte ele invadiu a cidade de Chippeham, levando Alfredo a lhe declarar guerra novamente.

Mapa mostrando as possíveis rotas e principais batalhas dos exércitos nórdicos durante a fase de conquista dos reinos anglo-saxões entre 866 a 878. 

Porém, Gudrum não estava interessado em guerra, mas em forçar um novo tratado entre ele e o rei Alfredo. Gudrum propôs a Alfredo que sairia de Wessex, levando consigo seu exército, caso o rei o ajudasse a obter os domínios do antigo Reino da Ânglia Oriental. Historicamente não se sabe ao certo como isso foi feito, mas ainda em 878, Gudrum foi reconhecido por Alfredo como rei legítimo da Ânglia Oriental, e com isso, o novo governante nórdico encerrou seus ataques a Wessex pelos anos seguintes, apesar que outros chefes escandinavos continuaram invadindo o reino anglo-saxão. 

O ano de 878 foi marcado pelo fim das contínuas guerras iniciadas doze anos antes pelo grande exército pagão. Isso não significou que cessaram-se todos os conflitos, pois chefes ainda continuaram a atacar os territórios de Wessex, Gales, Mércia, Escócia e Irlanda, obtendo vitórias ou derrotas. Fato esse como dito antes, durante o seu longo reinado, Alfredo, o Grande teve que lidar com a constante ameaça dos nórdicos ao seu reino, por isso, a construção de burhs se manteve até mesmo após a sua morte. 

Não obstante, com a consolidação dos domínios nórdicos na Nortúmbria, Mércia oriental e a Ânglia Oriental, isso originou o território que ficou mais tarde conhecido como Danelaw, conjunto de territórios governados por reis e chefes, o qual perdurou até 954. 

NOTA: O pagamento do danegeld durou por mais de um século, pois no século XI, ainda tinha-se relatos do pagamento desse tributo. 
NOTA 2: A série Vikings baseia-se na vida de Ragnar Lothbrok e retrata a invasão à Inglaterra como contado nas sagas sobre ele, usando sua morte e motivo de vingança como fator para aquela invasão ter ocorrido. 
NOTA 3: A série O último reino que é baseada nos livros das Crônicas Saxônicas de Bernard Cornwell retrata a formação do Danelaw e os conflitos contra o rei Alfredo, o Grande. Todavia, nos primeiros livros há menções sutis a Ragnar Lothbrok, valendo-se do motivo que aquelas batalhas começaram por ato de vingança promovido pelos filhos dele. 
NOTA 4: Gudrum, Alfredo, Ubbe e outros personagens históricos, aparecem nas Crônicas Saxônicas e no seriado O último reino
NOTA 5: O jogo Assassin's Creed: Valhala (2020) aborda invasões vikings à Inglaterra, Irlanda e França, além de trazer elementos da mitologia nórdica. 

Referências bibliográficas: 
THE ANGLO-saxon Chronicle. Translation Rev. James Ingram. London: Everyman Press Edition, 1912. 
HADLEYDawn M. The Creation of Danelaw. In: BRINK, Stefan (ed.). The Viking World. London/New York: Routledge, 2008, p. 375-378.
HALL, Richard. York. In: BRINK, Stefan (ed.). The Viking World. London/New York: Routledge, 2008. p. 379-384.  HOLMAN, Katherine. Historical Dictionary of the Vikings. Lanham, The Scarecrow Press Inc, 2003. 
OLIVEIRA, Leandro Vilar. Grande armada danesa (866-878). In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de história e cultura da Era Viking. São Paulo, Hedra, 2018b, p. 323-325. 
OLIVEIRA, Leandro Vilar. Lindisfarne. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de história e cultura da Era Viking. São Paulo, Hedra, 2018a, p. 476-477. 

Referência da internet:
VILAR, Leandro. Ragnar Lothbrok: entre a lenda e a história. Disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2017/11/ragnar-lothbrok-entre-lenda-e-historia.html

Um comentário:

  1. Parabéns pelo excelente texto. Ele mostra pesquisa historiográfica de quem realmente se debruçou sobre o período histórico abordado, com seriedade e responsabilidade no trato das informações.

    Alessandre Argolo, 16/07/2022.

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