A presente postagem apresenta uma lista de filmes sobre história brasileira, com alguns comentários pontuais acerca dessas produções. A ideia é servir de guia para as pessoas terem contato com essas produções, seja para vê-las por lazer ou para trabalho. Vale ressalvar que muitas das produções aqui apresentadas são obras de ficção histórica, embora algumas tenham mais embasamento histórico do que outras.
O descobrimento do Brasil (1936)
Produzido para fins políticos do governo de Getúlio Vargas (1930-1945), a obra contou com consultoria de renomados historiadores da época como Afonso de Taunay, Edgar Roquette Pinto e Bernardino José de Souza, citações da Carta de Pero Vaz de Caminha e trilha sonora de Heitor Villa-Lobos, sendo dirigido por Humberto Mauro. O filme buscou retratar como teria sido a chegada da armada de Pedro Álvares Cabral em 22 de abril de 1500.
Ganga Zumba (1964)
O filme reúne aspectos históricos e de ficção histórica para contar alguns momentos da vida de Ganga Zumba (c. 1630-1678), um dos proeminentes líderes do Quilombo dos Palmares, situado na Serra da Barriga, hoje em Alagoas. Pouco se sabe sobre sua história, mas ele teria sido filho bastardo de uma princesa congolense, assim, após viver como escravo num engenho na Capitania de Pernambuco, fugiu e foi morar em Palmares. Na década de 1670 documentos portugueses relatam Ganga Zumba como então rei dos Palmares, o qual em 1678 negociou um acordo de paz com o governador-geral, porém, um de seus parentes, Zumbi (1655-1695) foi contrário, iniciando uma revolta no quilombo, levando a morte de Ganga Zumba. O filme foi dirigido por Cacá Diegues, baseado no livro Ganga Zumba (1962) de José Felício dos Santos, estrelando Antônio Pitanga como o protagonista, além de contar com atuação de atores negros famosos da época, assim como, a trilha sonora de Cartola e Dona Zica da Mangueira.
A proposta do filme foi celebrar o sesquicentenário da Independência do Brasil, estrelando Tarcísio Meira (1935-2021) no papel de Dom Pedro I, além de vários outros atores famosos na época nos papéis principais. Apesar da boa ideia, o filme trata-se de uma produção mais voltada para a ficção, já que ele reconta de forma própria e bem resumida, o processo de independência do Brasil, culminando no simbólico 7 de setembro de 1822, o Grito do Ipiranga e a abdicação do monarca em 1831. O filme foi produzido por Oswaldo Massiani.
Os Inconfidentes (1972)
O filme centra-se a contar o trágico fim do Arraial de Canudos situado no sertão da Bahia, que no final do século XIX passou a ser governado pelo líder religioso Antônio Conselheiro (1830-1897), interpretado por José Wilker (1944-2014). Após alguns anos como uma simples comunidade rural, Canudos (renomeada para Belo Monte) começou a crescer rapidamente sob governo de Conselheiro, irritando os fazendeiros da região levando a boatos de ali ser antro de revolucionários, criminosos e monarquistas, no que resultou na famigerada Guerra de Canudos (1896-1897). O filme produzido por Mariza Leão e dirigido por Sérgio Rezende, foi lançado para celebrar o centenário do terrível conflito, contando essa história a partir da personagem fictícia Luíza (Cláudia Abreu), a qual se muda com a família para Canudos em meio a época da guerra.
Hans Staden (1999)
Produção luso-brasileira dirigida por Luiz Alberto Pereira, contou com investimento significativo na época, além de esmero na parte técnica, como uso de uma réplica de caravela, construção de uma aldeia tupinambá, além da contratação de historiadores e especialistas em língua tupi para ensinar algumas palavras aos atores. O filme também foi gravado em Ubatuba, localidade onde o alemão Hans Staden (1525-1576) foi capturado por tupinambás e mantido prisioneiro. Tal condição resultou num livro que ele escreveu, o qual contribuiu bastante para difundir uma imagem negativa dos indígenas brasileiros, considerados todos como sendo selvagens canibais.
Mauá - O Imperador e o Rei (1999)
A obra acompanha a trajetória de Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889), empresário gaúcho que ficou conhecido na história brasileira como Barão de Mauá (embora ele fosse visconde), responsável por construir portos, fábricas, mas principalmente por introduzir a ferrovia no país. Interpretado por Paulo Betti, o filme apresenta alguns aspectos da vida de Irineu, centrando-se em sua carreira empresarial, sua relação com D. Pedro II, culminando na falência de seus negócios. A produção foi dirigida por Sérgio Rezende, com roteiro dele, Paulo Halm e Joaquim Vaz de Carvalho.
Netto perde sua alma (2001)
Baseado no livro homônimo de Tabajara Ruas, o filme é uma produção do autor com o diretor Beto Souza, o qual narra a polêmica carreira do general Antônio de Sousa Neto (1803-1866), o qual foi a segunda liderança durante a Revolução Farroupilha (1835-1845) e mais tarde participou da Guerra do Paraguai (1864-1870). O filme é narrado a partir das memórias do general Netto ao se recordar durante seu exílio no Uruguai as participações na revolução e na guerra. O general foi interpretado por Werner Schünemann.
Carandiru (2003)
Baseado no livro Estação Carandiru (1989) do médico Drauzio Varela que atuou como médico voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, mais conhecido como Carandiru, o maior presídio da América Latina, que funcionou de 1920 a 2002. O local foi palco de muitos crimes e atrocidades contra os direitos humanos. Em 1992, Drauzio Varela trabalhava no local quando testemunhou o grande massacre naquele ano, resultando no assassinato de 102 detentos pela polícia e outros 10 mortos durante a rebelião. A partir de sua vivência ele escreveu seu livro que baseou o filme dirigido por Hector Babenco, o qual gravou o filme no Carandiru, chegando até usar funcionários e detentos nas filmagens. O filme foi elogiado pelo seu realismo nu e cru do maior massacre de presos na história do Brasil recente.
Olga (2004)
Filme dirigido por Jayme Monjardim, que conta a história da judia alemã Olga Benário Prestes (1908-1942), que na adolescência aderiu a resistência comunista na Alemanha, mais tarde mudou-se para Moscou, depois foi designada para auxiliar o militar Luís Carlos Prestes (1898-1990) numa tentativa de revolução no Brasil que ficou conhecida como Intentona Comunista (1935), a qual foi rechaçada pelo governo de Getúlio Vargas. Olga acabou sendo presa em 1936, vindo a ser deportada para a Alemanha Nazista por ser judia. Lá ela ficou presa no Campo de Concentração de Barnimstrasse, onde teve sua filha Anita Leocádio Prestes, depois foi transferida para o Campo de Bernburg, onde foi executada. O filme foca na fase final da vida de Olga, quando ela conheceu Prestes, o ajudou, se apaixonou por ele e depois foi condenada aos campos de concentração.
Xingu (2011)
Dirigido por Cao Hamburger, a produção narra a história dos irmãos Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e Leonardo (1918-1961) Villas-Bôas, que participaram da Expedição Roncador-Xingu (1941) enviada por Getúlio Vargas, para fazer reconhecimento do interior do Mato Grosso. O contato dos irmãos com as comunidades indígenas do Xingu os levaram a lutar pelo direito de demarcação daquele território indígena, resultando na criação dessa reserva somente em 1961. A produção foi elogiada na época por sua ambientação realista e representação apurada dos povos indígenas.
Produção luso-brasileira dirigida por Marcelo Gomes, o filme aborda a história de Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792) - interpretado por Júlio Machado -, conhecido pelo seu apelido de Tiradentes e mártir da Inconfidência Mineira (1789). Apesar de se saber que Joaquim não foi uma liderança no movimento inconfidente e toda aura heroica sobre ele foi um mito político desenvolvido durante a República Velha (1889-1930), o filme procura dialogar com isso, mostrando Joaquim principalmente na época que atuava como militar, chegando a patente de alferes, no entanto, a trama acaba levando a ideia de que ele realmente foi uma liderança importante, contrariando sua proposta. Todavia, o roteiro toma uma série de liberdades para narrar essa história, a qual dividiu opiniões. Além disso, a produção também sofreu críticas quanto ao quesito técnico e desenvolvimento do roteiro.
O Paciente - O Caso de Tancredo Neves (2018)
Baseado no livro homônimo do historiador Luís Mir, o filme foi dirigido por Sérgio Rezende e roteirizado por Gustavo Lipsztein, estrelando Othon Bastos como Tancredo Neves (1910-1985), presidente eleito, mas que não chegou a tomar posse por estar gravemente doente. O filme resume bastante a trama do livro e tentou criar um thriller médico centrando-se no quadro de saúde preocupante de Tancredo, primeiro presidente eleito após o término da Ditadura Militar (1964-1985), todavia, ele acabou falecendo, sendo sucedido por seu vice José Sarney. O filme inclusive aborda a polêmica de que Neves já estivesse doente algum tempo e com pouca expectativa de vida, e foi escolhido apenas por ter mais carisma do que Sarney. O filme acabou passando despercebido na época, sendo ignorado pela imprensa e o público.