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Leandro Vilar

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Uma história da batata

Nessa nova postagem sobre a história dos alimentos, hoje veremos a respeito desse famoso tubérculo, mundialmente consumido. Ao longo da História a batata passou por momentos de amor e ódio, ora servindo para salvar populações e países da fome, ou ora sendo repudiada, sendo considerada alimento de porcos e de mendigos. E atualmente a batata é amada por muitos, seja na forma de purê, batata recheada, ou da campeã de todas, a batata frita. Neste texto conheceremos um pouco da origem e trajetória da batata por parte do mundo até se tornar um alimento costumeiro, tornando-a um dos alimentos mais consumidos no mundo ao lado do arroz, do trigo e do milho. 

O pé de batata

O pé de batata, batateira ou simplesmente conhecido como batata, consiste numa planta rasteira do tipo perene, pertencente a família das Solanáceas, sendo nomeada como Solanum tuberosum. É uma planta de baixa estatura variando dos 60 cm a 100 cm. A batata produz pequena flores cujo tom varia do branco a lilás claro, possuindo botões amarelos. Os frutos são pequena bagas redondas, de cor geralmente verde ou amarela, mas pode aparecer de outra coloração. Não sendo comestíveis (MESSER, 1998, p. 187). No entanto, os tubérculos da planta, os quais normalmente chamamos de batatas, são ricos em amido, vitamina C e Potássio (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 541). Estes tubérculos dependendo da fertilidade da terra e o tempo de amadurecimento, podem ser bem pequenos ou maiores do que a mão de um adulto, condição essa que quando vamos ao mercado ou feira, vemos batatas de diferentes tamanhos. Apesar que haja variedades de batatas menores e outras maiores.

Fotografia de um pé de batata. 

A origem da batata remonta a América do Sul, a região norte da Cordilheira dos Andes, o que hoje seriam os territórios do Peru, Equador, Colômbia e Bolívia, Condição essa que posteriormente identificaram uma subespécie chamada Solanum andigena. Com os séculos, os povos nativos transportaram a batata para outros territórios do continente. A batata tem uma origem silvestre, mas achados arqueológicos apontam que ela teria sido domesticada entre 10 a 7 mil anos atrás, em território peruano ou boliviano. Desde então, nos milênios seguintes, variedades de batatas foram desenvolvidas, apresentando diferentes tamanhos e colorações, além de textura e sabor. A planta inclusive conseguiu se adaptar bem a distintos climas, desde as regiões montanhosas e frias do Andes, passando por clima temperado em terras mais baixas e temperaturas mais quentes da floresta tropical. (MESSER, 1998, p. 188).

Variedades de batatas cultivadas no Peru. 

A batata tornou-se um alimento essencial para vários povos sul-americanos e alguns povos mesoamericanos. Essencialmente ela não é consumida crua devido a dificuldade de ingestão (embora haja variedades que permitam o consumo cru), sabor não palatável, além de que algumas batatas possuem o risco de conter substâncias nocivas, as quais fazem parte de sua própria química. Sendo assim, a batata desde milhares de anos atrás, era consumida sendo cozida. No entanto, as pessoas descobriram uma versatilidade de formas de preparar esse tubérculo. Ele pode ser amassado para se fazer purê, ou ser acrescentado para engrossar sopas; há alguns tipos de batatas que permitem ser raladas, fazendo-se farinha, com a qual se prepara pães, bolos e massas. A batata também poderia ser assada. Já o consumo de batatas recheadas e fritas é um hábito posterior. (MESSER, 1998, p. 188).

Os europeus descobrem a batata

Quando os espanhóis começaram a invadir a região andina nos idos do século XVI, os povos nativos já consumiam e cultivavam batatas por milhares de anos. Tendo desenvolvido várias variedades desse tubérculo e práticas de cultivo. Os espanhóis ficaram interessados na versatilidade de usos dados aquele estranho tubérculo, o qual aos poucos foi caindo no paladar dos colonizadores. Inclusive foi através dos espanhóis que o nome batata passou a ser desenvolvido. Entre os povos andinos, o tubérculo era conhecido por várias nomenclaturas, porém, no idioma quíchua, que era predominante falado em várias regiões do Império Inca, a planta era chamada de papa. Os espanhóis passaram a adotar essa palavra e com o tempo surgiu patata (até hoje utilizado na língua espanhola), e a partir dessa nova palavra, surgiu os nomes desse tubérculo em outras línguas como batata (português), potato (inglês), patata (italiano), patate (francês), patáta (grego). Embora que em outros idiomas europeus, africanos e asiáticos, as palavras sejam bem diferentes. (MESSER, 1998, p. 189).

Apesar da descoberta da batata pelos espanhóis, esse tubérculo não passou a ser consumido regularmente na Espanha. Por décadas seu consumo era feito pelos colonos ou por aqueles que visitavam as colônias espanholas. Não havia necessariamente um interesse expresso de levar essa planta à Europa. Embora botânicos a levaram, mas para fins de estudo. Além disso, alguns nutricionistas dos séculos XVI e XVII, alegavam que a batata detinha baixo valor nutricional, sendo uma comida mais apropriada para animais de fazenda. O fato dos indígenas a consumirem abundantemente, devia-se a falta de outros alimentos melhores ou os seus costumes bárbaros. (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 541).

Um dos primeiros povos europeus a mostrar interesse pela batata foram os ingleses, por essa condição haver a variedade chamada de batata inglesa. Uma antiga lenda diz que foi o corsário Sir Francis Drake (c. 1540-1596). Tal história foi difundida pelo folclore inglês e irlandês dos séculos XVI e XVII. Embora não haja nenhuma evidência que Drake teria levado o primeiro carregamento de batatas para a Inglaterra, com o propósito de iniciar cultivo, ainda assim, ele visitou as Américas várias vezes, tendo contato com esse alimento. (MESSER, 1998, p. 190).

O famoso corsário Sir Francis Drake, chegou a ser creditado como o responsável por introduzir o cultivo da batata na Inglaterra. 

Em 1588 o médico e botânico flamengo, Carlos Clúsio (1525-1609), demonstrou interesse pela batata, ainda considerada uma planta exótica. Clúsio ficou famoso por ser professor de botânica e até ter fundado um jardim botânico. Ele foi um dos primeiros a fazer desenhos e descrições das batatas. Entretanto, foi o botânico suíço Gaspar Bauhin (1560-1624) quem descreveu a planta da batata e lhe deu o nome científico de Solanum tuberosum. Sendo essa descrião apresentada no livro Phytophinax (1596). Embora nos séculos seguintes outros botânicos deram novos nomes científicos para a batata, a nomenclatura de Bauhin acabou sendo escolhida como a definitiva. (MESSER, 1998, p. 189).

Todavia, em fins do século XVI, pequenas hortas de batatas começaram a serem cultivadas pelos ingleses e irlandeses, e depois pelos holandeses. Nota-se aqui, que embora os espanhóis tenham sido os primeiros europeus a relatarem sobre essa planta, não surgiu por parte deles o interesse em cultivá-las no seu país, relegando seu plantio nas colônias. Todavia, a batata ainda nesse final do século XVI e começo do XVII, começou a ser apreciada ainda de forma modesta, como comentam Fladrin e Montanari: 

“Implantada nas diversas regiões da Europa no decorrer da época moderna, só se tornou um alimento básico a partir do século XVII na Irlanda e depois na Inglaterra e na Holanda; e nos outros países, apenas a partir do século XVIII. Mais bem acolhida nas regiões pobres do que nas ricas planícies cerealíferas, sua adoção foi dificultada, durante muito tempo, pelo sistema de afolhamento trienal que, só no verão, lhe deixava um pouco de espaço no terreno em pousio. Também os Estados e os senhores mostraram-se, em princípio, hostis a essa nova cultura — como à do milho, na Itália — uma vez que ela permitia aos camponeses evitar o pagamento do dízimo e outras taxas”. (FLADRIN; MONTANARI, 1998, p. 541). 

No século XVII o cultivo da batata se espalhava. A Suíça recebeu suas primeiras plantações, alguns Estados alemães instituíram o cultivo obrigatório desse tubérculo para sua farinha e massa serem utilizados como alternativa ao trigo e centeio. Os portugueses levaram mudas de batata para à Índia. Na Irlanda as plantações se espalharam pela ilha, levando os irlandeses a se tornarem um dos maiores cultivadores dessa planta. A Inglaterra instituiu leis para o cultivo de batatas. Durante o reinado do czar Pedro, o Grande (1682-1725), a batata foi introduzida na Rússia. (CIVITELLO, 2008, p. 150). 

A confusão da batata-doce

A batata-doce que hoje é bastante consumida em alguns países, não é uma variedade da Solenum tubercurum, mas consiste em outra espécie chamada Ipomea batatas, a qual é prima da batata, tendo características em comum. Devido a esse parentesco, no final do século XVI e ao longo do XVII, botânicos chegaram a considerar ambos os tubérculos como sendo a mesma planta, sendo apenas uma variedade, onde uma teria uma coloração mais escura e um sabor mais adocicado. Na Inglaterra houve um período que a batata era chamada de "batata da Virgínia", uma referência a planta que era cultivada na colônia da Virgínia, só que não se tratava da batata comum, mas sim da Ipomea batatas. E isso gerou confusão na hora das vendas. Além disso, parte da população inglesa que começou a consumir batatas, não apreciava o gosto da batata-doce. Diante disso, decidiram mudar a nomenclatura, passando a chamar a batata comum de "batata hispanorum" e a Ipomea passou a ser chamada de batada-doce (sweet potato). (MESSER, 1998, p. 191). 

Propaganda do Mês Nacional da Batata, nos Estados Unidos, mostrando três variedades de batata-doce, que no período colonial inglês, eram chamadas de "batatas da Virgínia". 

Entretanto, a confusão entre a batata e a batata-doce não se encerrou por aí. No século XVII com a expansão das lavouras de batata na Inglaterra e na Irlanda, isso gerou um novo problema de nomenclatura. Os plantadores e comerciantes para se referirem as variedades irlandesa e inglesa de batatas cultivadas, passaram  usar termos como "batata comum", "batata branca", "batata irlandesa" e "batata inglesa". Na prática era o mesmo nome para a mesma planta, salvo algumas subvariedades. No entanto, a problemática residia na condição de que mercadores e plantadores irlandeses as vezes chamavam de batata inglesa, a batata-doce, e isso gerava nova confusão, pois passavam a designar dois tubérculos de coloração, textura e sabores diferentes, como sendo a mesma planta. Somente no século XVIII essa confusão foi resolvida. Apesar que os termos batata branca e batata inglesa, sejam ainda hoje usados. (MESSER, 1998, p. 191)

A batata é malvista 

O apreço pela batata somente começou a surgir no século XVIII, se popularizando no XIX, mas antes disso, os europeus possuíam uma opinião ambígua sobre esse alimento. Messer (1998, p. 191) salienta que algumas descrições sobre a batata no século XVI, a retratavam de forma pejorativa. O tubérculo era tratado como algo estranho, que teria "gosto de terra". A batata também foi chamada maliciosamente de "testículos da terra" devido ao seu formato, e até mesmo de "maçã de Eva". Em ambos os casos a batata era considerada "uma incitadora da luxúria". Boatos diziam que ela causava problemas de saúde e até mesmo poderia causar lepra. Para a autora, essa ideia talvez se devesse a uma analogia entre a aparência do tubérculo com as feridas dos leprosos. No livro The Herball (1597), John Gerard, comenta que a batata era repudiada na Borgonha (território francês), e em regiões da Alemanha e da Rússia, por ser considerado um alimento nocivo para a saúde. Por tal condição, ela não era ali cultivada. 

Mas em partes da França, Bélgica, Espanha, Inglaterra, Itália, Alemanha e outros países europeus, a batata era considerada pelas elites como alimento de pobres, mendigos e animais de fazenda, principalmente os porcos. Essa associação manteve-se ainda pelo século XVII, havendo relatos da época do reinado do rei Luís XIV, mostrando os nobres desprezando a batata como alimento inferior. Além disso, sublinha-se que sua origem indígena, também era malvista, sendo considerada comida de bárbaros e escravos. Porém, sublinha-se que esse pensamento negativo não era homogêneo, pois no começo do século XVII, a batata era cultivada na própria Inglaterra, Irlanda, Países Baixos e Itália. Sendo assim, percebe-se uma relação ambígua com esse alimento. 

Mas associação da batata com a pobreza e os porcos deve-se ao fato de ser uma planta barata de ser cultivada, além de requisitar lotes de terra menores. Enquanto muitos senhores preferiam cultivar trigo, centeio, cevada, videiras, oliveiras, macieiras, sobrava aos pequenos agricultores o cultivo de batatas, as quais se tornavam em muitos casos a base da alimentação dessas famílias campesinas, e por conta disso, a batata ser associada com os pobres. (MONTANARI, 2004, p. 109). Fato esse que houve casos como na Irlanda, onde a batata em determinadas épocas era o único alimento disponível, devido a seu fácil plantio, resistência ao frio e bom teor calórico.

A batata e a fome

Ainda no final do século XVI, os espanhóis, portugueses e ingleses consideraram a batata como um produto de estoque para o combate a fome, sobretudo para ser usado na finalidade de alimentar os pobres e escravos. Fato esse que os espanhóis demoraram a levar a batata para à Espanha, preferindo deixá-la em suas colônias nas Américas e África. Os portugueses também fizeram o mesmo. Entretanto, foi nos séculos XVIII e XIX quando surtos de fome acometeram vários países europeus, o que levou a batata a se tornar um alimento essencial para sobrevivência desde o mais pobre até o mais rico. Isso causou uma mudança radical quanto ao prestígio desse alimento, que outrora era malvisto, repudiado e até não recomendado por botânicos, boticários e médicos. 

Os comedores de batatas (Aardappeleters), Vincent van Gogh, 1885. Nessa pintura vemos retratado uma família pobre, comendo batatas e tomando café. As batas em muitos casos era a única coisa que algumas famílias tinham para comer no dia a dia. 

Mas por quais motivos a batata tornou-se um alimento essencial para a sobrevivência das nações europeias diante de surtos de fome? Para responder isso, é preciso elencar distintos fatores: 

A batata era um alimento barato, inclusive custando até mais barato do que o nabo e a beterraba, outros dois tubérculos bastante consumidos em algumas partes da Europa. Além disso, ela era bem mais barata do que o trigo, o centeio e a cevada, os principais cereais cultivados no continente europeu. Fato esse que em período de escassez de trigo, o preço da farinha e do pão aumentava consideravelmente, e na tentativa de contornar isso, alguns produtores de farinha e padeiros, acrescentavam farinha ou massa de batata a receita. Em termos práticos era até bom, pois acrescentava os nutrientes da batata. Embora houvessem casos do uso indevido de substâncias para engrossar a massa e a aumentar a quantidade de farinha. 

Um segundo motivo para recorrer a esse alimento dizia ao seu fácil preparo e consumo. Trigo, centeio e cevada não podem ser consumidos in natura, pois são grãos. Eles requerem serem moídos para se transformarem em farinha. E no caso da cevada ser usada também no fabrico de cerveja. No entanto, a batata pode ser consumida crua, além de seu preparo ser fácil, podendo ser feito em casa, sem a necessidade de ter uma moenda. Dessa forma, a batata para poder render para uma família de cinco ou mais indivíduos, ao invés de ser consumida crua, ela era cozida, depois esmagada para virar purê, massa ou usada para engrossar caldos e sopas. Dessa forma o rendimento por porção individual aumentava muito. O valor alimentar da batata também é superior ao do trigo e do centeio. Fornecendo mais calorias e energia. 

O terceiro fator diz respeito que um hectare de batatas gera maior quantidade de alimentos do que um hectare de trigoEmbora que no passado as terras europeias reservadas para o cultivo dessa planta fossem pequenas, mas devido aos surtos de fome, os governos chegaram até mesmo instituir decretos incentivando a população a plantar batatas. Tais decisões foram vistas na Irlanda, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Rússia, Polônia, Hungria, etc. 

Um quarto aspecto diz respeito a resistência ao frio. No século XVIII a Europa foi acometida por uma Pequena Era do Gelo que ocorreu entre 1300 e 1850 (alguns estudiosos apresentam outras datações para esse acontecimento), sendo mais ou menos intensa em algumas décadas e séculos. Todavia, de 1700 a 1850, as temperaturas caíram consideravelmente, tornando os invernos mais frios e longos, o que prejudicou as lavouras de vários tipos de plantações. Porém, como a batata é uma planta de clima frio, ela demonstrou maior resistência as baixas temperaturas. Além da condição de que seu tempo de conserva também era maior. Isso foi bastante útil para período onde a neve havia descongelado, mas a primavera mantinha-se fria. 

Diante dessas características principais a batata entre 1700 a 1900 foi amplamente cultivada em território europeu, tornando-se nesse período um alimento do dia a dia, condição essa que em muitas nações europeias a batata ainda hoje é um acompanhamento comum em diversas receitas e pratos.

(MESSER, 1998, p. 191) assinala que pelo menos desde o século XVII a batata teve um papel importante para abastecer os exércitos europeus nas várias guerras que eram travadas pelo continente, além de também poder manter a população no geral durante esses tempos de conflitos. A autora cita o caso da Holanda, Alemanha, Prússia, França, Polônia e Rússia, onde ocorreram significativos conflitos nos quais a batata teve um papel importante para alimentar as tropas e a população civil. Messer até mesmo destaca a Guerra da Sucessão Bávara (1778-1779), conhecida na Prússia e Saxônia como Kartoffelkrieg (Guerra da Batata). O nome deve-se que muitos soldados de ambos os lados para não morrerem de fome, alimentava-se de batatas, invadido fazendas para roubá-las e até brigando por elas. Mesmo com tais atos, ainda assim, houve muitas baixas por conta da fome e doenças, até mesmo maiores do que as baixas por combate. 

Civitello (2008, p. 150) destaca que a batata foi um alimento fundamental para a Irlanda nesse período, ajudando a população do país crescer consideravelmente e suportar surtos de fome. A autora destaca que a população irlandesa em 1760 era estimada em 1,5 milhão de habitantes, mas em 1840, encontrava-se em 9 milhões de pessoas. Um aumento de 600%. E todo esse vertiginoso crescimento populacional em parte deveu-se a ter batatas como fonte básica de alimentação. Fato esse que quando as plantações de batata irlandesas, foram acometidas pela praga do míldio-da-batateira (Phytophtora infestans), isso gerou a Grande Fome de 1845-1849, que teria matado 1 milhão de pessoas e provocado o êxodo de centenas de milhares de irlandeses para Inglaterra, Estados Unidos e Canadá. 

Memorial da Grande Fome de 1845-1849, Dublin, Irlanda. Devido a praga que se espalhou pelos batatais, os quais eram a principal fonte de alimentação dos irlandeses, pelo menos 1 milhão de pessoas morreram de fome. 

Flandrin e Montanari (1998, p. 532) comentam que na França do século XIX, o consumo médio de batata cresceu cada vez mais, mostrando o apreço desse alimento pela população, fosse por necessidade de se evitar a fome ou por ela começar a agradar os paladares das elites. Dessa forma, eles assinalam que entre 1803-1812 a média de consumo per capita de batata era 20 quilos anuais. Mas em entre 1835-1844, os franceses já consumiam anualmente pelo menos 135 quilos de batatas. E vencida as crises de fome, a batata continuou a ser alimento cada vez mais comum na mesa dos franceses e de outros países europeus pelo restante do século XIX e até antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

"Nos anos 1934-1938, com 479 g diárias por habitante, a França situava-se numa média razoável na Europa, atrás da Irlanda (535 g), Alemanha (508 g) e Finlândia (495g), mas à frente da Grã-Bretanha (226 g), Áustria (264 g), Suíça (248 g), Holanda (317 g), Dinamarca (330 g), etc". (FLANDRIN; MONTANARI, 1998, p. 532).  

Soldados da Primeira Guerra, reunidos para descascar batatas. Foto colorizada digitalmente. Desde o século XVII, a batata havia se tornado uma das bases da ração dos soldados europeus

A versatilidade culinária da batata

Nos últimos trezentos anos a batata tornou-se um dos ingredientes mais versáteis na culinária mundial. Ela pode ser consumida crua, virar farinha, ser fatiada de várias formas para ser cozida, assada, frita; usada para engrossar caldos, molhos e sopas; é um alimento que tornou-se uma guarnição básica, acompanhando legumes, hortaliças, carnes, peixes, frutos do mar, queijos, presuntos, etc. 

A batata é também usada para se fazer saladas, tortas, pães, panquecas, empadões, bolos, 

Na França, famosos manuais culinárias como La cuisine republicane (1793) de Madame Méridot, e o The Art of French Cooking de Carême (1835), traziam várias receitas com batatas, desde pratos simples, até receitas mais requintadas, para mesas mais nobres. É importante frisar isso, pois ainda no século XVIII, mesmo diante dos surtos de fome, parte da população não apreciava a batata, ainda considerando-o um alimento de pobres e porcos. 

Na Itália dos séculos XVIII ao XIX, receitas com batatas também se destacaram: purês, bolos salgados, tortas recheadas, batata gratinada, batata ao forno, batata recheada, e até mesmo o próprio nhoque (gnocchi). Embora esse prato seja feito geralmente com farinha de trigo, mas devido ao encarecimento desse produto em tempos de crise, uma solução encontrada pelas cozinheiras e cozinheiros, foi usar farinha de batata ou massa de batata, levando a origem do nhoque de batata

Um prato de nhoque de batata à bolonhesa. 

A culinária portuguesa também abraçou as batatas. A partir dos contatos com os espanhóis, ingleses e franceses, a batata chegou aos portugueses ainda no século XVI. Sendo até cultivada no Brasil, Cabo Verde, Angola e outras colônias. E os portugueses a levaram para Índia. No caso de Portugal, o consumo de batatas começou a despontar também no século XVIII. E no século seguinte a batata foi combinada com a culinária marítima portuguesa, fato esse que hoje falar de bacalhau português sem batatas soa estranho para alguns. 

Para a população mais pobre portuguesa, a alimentação diária era a base de legumes, hortaliças, batatas e pescado. Embora que nem sempre podia-se comer bacalhau, o que levava famílias a terem que optar por lascas do tipo bacalhau, nome dado a outros peixes similares, ou a comer a famosa sardinha. Porém, para poder dar mais sustança a essas receitas de pescado, incluiu-se a batata, condição essa que muitas receitas portuguesas levam esse tubérculo. 

Bacalhau com batatas, um típico prato da culinária portuguesa. 

Nos Estados Unidos, popularizou-se no século XIX, comer tortas na celebração do Natal, e até de outros feriados como o Dia de Ação de Graças. Logo, são preparadas tortas de maçã, nozes, abóbora e até de batata doce. Acredita-se que a receita foi trazida da África do Sul, por escravizados. E acabou agradando o paladar colonial sul-estadunidense. Com isso, desde então, em alguns estados sulistas, ainda hoje é comum fazer tortas de batata-doce para os festejos natalinos. 

Em alguns estados sulistas dos EUA, a torta de batata-doce é um prato comum do período natalino. 

A batata chips

A batata frita também começou a despontar no século XIX. Uma das primeiras formas apreciadas foi a chamada batata chips, que consiste em cortar a batata em fatias arredondadas e finas. Tal receita já era citada em manuais culinários ingleses como o The Cook's Oracle (1817). A batata chips consistia numa forma de aperitivo na época ou até mesmo para enfeitar alguns pratos. Outra narrativa diz que não foram os ingleses que inventaram essa receita, mas um cozinheiro chamado George Crum, que trabalhava no restaurante Moon's Lake House, em Saratoga, em Nova York. O qual teria criado o prato em 1824 para agradar um cliente que reclamava que a batata frita em palito era grossa. Embora saiba-se hoje que esse prato já existisse anos antes de Crum, no entanto, nos Estados Unidos ele levou a fama por ter criado o chips (cuja palavra significa fatia). (SMITH, 2011, p. 81). 

A batata chips é um dos salgadinhos mais consumidos no mundo, atualmente. Havendo várias marcas famosas que produzem esse produto. 

Ainda na década de 1890 com o crescimento da indústria alimentícia, fábricas especializadas na produção de batata chips começaram a surgir. Nessa época o alimento já era popular em parte do país. Ele era vendido em lanchonetes e restaurantes, até mesmo por vendedores ambulantes, que os fritava na hora, e usando folhas de jornal para servir as batatas. As chips também eram vendidas em saquinhos de papelão, potes, caixinhas, pratinhos, até que na década de 1930, desenvolveu-se os saquinhos embalados a vácuo, que permitem estender o tempo de conserva. As crianças, adolescentes e adultos também adoravam esse alimento, o qual se tornou um dos aperitivos consumidos nos estádios. Desde então a batata chips é um tipo de salgadinho bastante lucrativo, tendo ganho novas formas e sabores, sendo vendido em saquinhos pelo mundo. (SMITH, 2011, p. 82-84).

A batata frita

A batata frita atualmente é uma das formas mais consumidas no mundo. No caso, aqui falo da batata cortada em palitos. Ainda hoje não se sabe a origem exata desse prato, havendo disputa entre belgas, holandeses, franceses e espanhóis. Todavia, somente foi no século XIX que ela começou a ganhar destaque na culinária francesa, holandesa, belga, mas sobretudo, na culinária inglesa. Um dos pratos mais populares da Inglaterra é o peixe com fritas (fish and chips), o qual começou a se popularizar por volta da década de 1850 ou 1860, tornando-se um fenômeno até hoje. (SMITH, 2011, p. 61). 

Um prato de peixe com fritas. Por várias décadas era o alimento diário dos operários britânicos entre os séculos XIX e XX. 

Com o crescimento da indústria pesqueira britânica o que facilitou o aumento da disponibilidade de peixes mais facilmente, além da expansão da industrialização no país, a quantidade de operários cresceu bastante e o peixe com fritas se tornou o prato típico do trabalhador fabril inglês no século XIX. Ele devido a ser um prato barato, era consumido como refeição no café da manhã, lanche, almoço e até jantar. Sendo vendido embrulhado em papel, jornais, guardanapo, sacolas ou servido no prato, onde as pessoas normalmente comiam com as mãos. O gosto por esse prato foi levado à Escócia, Irlanda, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Canadá e Estados Unidos. (SMITH, 2011, p. 61). 

Mas embora seja uma receita inglesa, no entanto, nos Estados Unidos e Canadá, a batata frita em palito ficou conhecida como french fries potatoes (batatas fritas francesas), por um equívoco. No livro Cookery Works for All Maids (1856) de Eliza Warren, dizia que essa receita de batatas era de origem francesa. O equivoco acabou se popularizando e sendo reproduzido por outros cozinheiros em seus livros e caindo na fala do povo. Condição essa que ainda hoje há quem chame batata frita nos EUA, de french fries. (SMITH, 2011, p. 61). 

Embora dessa popularidade da batata frita acompanhada de peixe frito, no entanto, esse tipo de preparo da batata somente ganhou os paladares do mundo no século XX, com a popularização dos hambúrgueres e da chamada alimentação fast-food, desenvolvida para atender um público trabalhador, jovem e infantil, oferecendo alimentos de preparo rápido, barato e gorduroso. Nas primeiras décadas do século XX, nos Estados Unidos, os hambúrgueres se tornaram um alimento popular, a ponto de não serem consumidos apenas como lanche, mas até mesmo como almoço e jantar. 

Tais sanduiches eram consumidos sozinhos ou acompanhados por bebidas, geralmente refrigerantes, sucos e cerveja. Porém, em dado momento, as lanchonetes começaram a vender hambúrgueres acompanhados de batatas fritas e isso levou o apreço da batata frita para se tornar um fenômeno mundial. Pois a partir da década de 1960 com a expansão dos fast-foods americanos, o consumo de batatas fritas alcançou centenas de países. Condição essa que há casos onde lanchonetes vendem apenas porções de alimentos, acompanhadas de molhos, bacon, queijo, ou apenas temperadas com sal. 

Um prato de hambúrguer com batata frita, uma das formas mais comuns de consumo de batatas nesse tipo preparo. 

Batatas como alimento fit

No século XXI popularizou-se em alguns países o estilo de vida fitness, ou simplesmente chamado de fit. O qual mescla a prática de atividades físicas e uma dieta balanceada e saudável. No quesito da alimentação os nutricionistas, preparadores físicos, personal trainning, professores de educação física, etc. passaram cada vez mais a recomendar a ingestão de batatas. Mas não de qualquer tipo de preparo. Pois para se manter uma alimentação saudável, deve-se descartar as receitas de batatas fritas, recheadas, acompanhadas por alimentos gordurosos, batata gratinada, entre outras receitas. 

Nesse quesito a dieta fitness recomenda o consumo de batatas e batatas-doces cozidas, assadas, ao vapor, as quais podem ser comidas de diferentes formas. Assim como, também pode-se fazer purês ou massas. E há casos de batatas chips desidratadas, as quais tem pouquíssima quantidade de gordura. Todavia, o apreço pela batata para uma dieta fit deve-se a alguns fatores: baixo custo, fonte de vitaminas, baixo nível de gordura e colesterol, fonte de energia. Além de haver alguns estudos que sugiram que o consumo diário de batata e batata-doce ajude no ganho de massa magra. 

Uma receita fit de omelete de batata-doce 

Bebidas feitas de batata

A batata não apenas serve para ser comida, mas também possui um uso para se fazer bebidas. Especialmente as do tipo destilado. Ainda no século XVII, os europeus começaram a desenvolver técnicas de destilação e viram que as características orgânicas da batata, a permitiam produzir álcool consumível. Países como Irlanda, Islândia, Alemanha, Polônia e Rússia se popularizam com a produção de bebidas a base de batata ou que levava esse tubérculo como ingrediente, sendo misturado a cereais ou frutas. 

Na Irlanda temos o irish poteen, potcheen ou poitín, uma bebida destilada a base de batata, com altíssimo teor alcoólico. De fácil produção, podia ser feita em casa, usando-se tonéis ou grandes jarros, onde a batata poderia ser misturada com maçãs, malte ou outros ingredientes. Sua larga produção e alto poder de embriagar com facilidade, levou as autoridades irlandesas proibirem seu consumo ainda no século XVII. Além disso, o irish poteen chegou a rivalizar com o uísque irlandês como bebida mais apreciada no país, sobretudo, por ser mais barato de ser produzido. 
Algumas marcas atuais de poitín. 

Embora haja outras bebidas a base de batatas, provavelmente a mais famosa seja a vodca. A origem da vodca remonta o Leste Europeu, sendo que a palavra vodca é de origem polonesa, e sua datação mais antiga conhecida remonta ao século XV. Todavia, é preciso sublinhar que a vodca não seja feita apenas de batata, o uso desse tubérculo é um dos ingredientes, pois há diferentes receitas de vodca, as quais levam cereais como trigo e arroz, adição de malte, frutas, especiarias, etc. 

Entretanto, no século XVIII com a expansão da batata pela Europa, como comentado anteriormente, os poloneses, húngaros, ucranianos e russos passaram a cultivar essa planta e perceberam que ela poderia ser usada para se produzir vodca, popular aguardente daquela região, bastante apreciado pelo seu alto teor alcoólico, sabor aromatizado (quando acrescido de outros ingredientes), seção de queimação na boca e garganta que era aprazível nos períodos de tempo frio, além de ter um baixo custo de produção. Logo, em períodos onde os cereais estavam caros ou escassos, a batata era a solução para se fazer vodca. E no caso, foi através dos russos no século XIX que essa bebida começou a se popularizar no mundo, mesmo que não seja em sua versão a base de batata. 

A Chopin é uma marca especializada em vodca feita de batatas. 

A batata e a geração de energia

Vimos no tópico anterior que a batata e a batata-doce possuem uma boa concentração de amido, que pode ser usado para se fazer açúcar e etanol, porém, esse valor energético da batata pode até ser utilizado para gerar e conduzir eletricidade.  Algumas pessoas chamam de "bateria de batatas" ou "pilhas de batatas", e talvez na época de seus estudos escolares você já deve ter ouvido falar nesse experimento de eletroquímica. 

Uma bateria de batatas pode ser feita usando esses tubérculos crus, cozidos e até mesmo podres. Apesar que batatas cozidas sejam melhores condutores dos eletrólitos. Para isso geralmente se inserem eletrodos de cobre e zinco para criar os polos positivo e negativo da corrente elétrica. Entretanto, há várias formas de se fazer esse experimento, incluindo o uso de fios comuns de cobre, acompanhados de moedas de cobre, clipes de papel e parafusos. 

Exemplo de uma bateria de batatas, usando fios de cobre, moedas, clipes e parafusos. A energia gerada pelas três batatas consegue acender a pequena lâmpada. 

Diversos experimentos atestaram que baterias de batatas conseguem gerar energia suficiente para fazer funcionar lâmpadas, controles remotos, calculadoras, rádios portáteis, celulares, televisores, etc. Quanto maior a quantidade de batatas, maior será a energia gerada e conduzida. Mas embora seja uma fonte de energia limpa e barata, para se produzir energia suficiente para manter aparelhos ligados, recarregá-los ou simplesmente fornecer energia para a iluminação, requer uma grande quantidade de batatas, o que a torna uma fonte de energia a longo prazo, como sendo inviável. 

Considerações finais:

A batata partiu dos Andes para ganhar o mundo na Idade Moderna, tornando-se hoje um dos alimentos mais cultivados. Porém, ao longo da História, enquanto esse tubérculo foi alimento essencial para povos ameríndios, na Europa, África e Ásia ele foi visto com desconfiança, repudiado e até menosprezado. No entanto, no caso europeu, devido aos surtos de fome e as guerras, nos séculos XVII ao XIX, a batata tornou-se gênero alimentício fundamental na dieta diária de milhões de europeus de diferentes países, os quais em muitos casos possuíam apenas batatas para comerem no dia a dia, o que a fez ser um alimento para se combater a fome.

A batata também foi o alimento dos soldados, pois nas guerras europeias dos séculos XVII ao XX, ela era ração base dos exércitos. Não obstante, também vimos que a batata foi a comida dos colonos, escravos e até considerada o alimento dos pobres e porcos, porém, ela também era o alimento dos navegadores e marinheiros. O próprio capitão James Cook (1728-1779) em sua viagem pelo mundo, levava carregamentos de batatas, pois eram alimentos que tinham uma maior tempo de duração, além de possuir vitaminas como a Vitamina C, fundamental para evitar o escorbuto

A batata foi levada pelos europeus para a África, Ásia e Oceania. E atualmente os maiores produtores desse alimento são a China e a Índia, seguidos pela Rússia, Polônia e Alemanha.

Consumida cozida, assada, frita, em chips, palitos, purê e massas, a batata tornou-se um alimento indispensável para a culinária mundial, a ponto de ser difícil imaginar ir num fast-food e não haver batata frita, ou não ter batata chips para levar como lanche, ou não poder comer outras várias receitas. 

NOTA: O uso de batata palha no prato de estrogonofe é um adicional posterior. Esse prato de origem russa, teria surgido por volta do século XVII ou XVIII, mas na época não era consumido acompanhado de arroz e batata palha. A inserção desses dois ingredientes teria sido feita pelos franceses no século XX. 

NOTA 2: Atualmente existem cervejas artesanais feitas com batata e batata-doce. 

NOTA 3: A batata-doce também é usada para se produzir açúcar e etanol. Desde o século XIX ela já foi utilizada no preparo de açúcar, algo feito também com a beterraba, sobretudo na Europa, em períodos de guerra, crises políticas e econômicas, onde o acesso ao açúcar da cana de açúcar era escasso ou caro. Por sua vez, no século XX, pesquisas mostraram que etanol de batata-doce é algo viável e talvez até melhor do que o da cana de açúcar. 

NOTA 4: No Brasil há alguns homens que usam o apelido de Batata

NOTA 5: Na série de filmes Toy Story, um dos brinquedos é o Sr. Cabeça de Batata. O qual inclusive ganhou uma esposa, a Sra. Cabeça de Batata

Referências bibliográficas:

CIVITELLO, Linda. Cuisine and Culture. A history of Food and People. 2a ed. Hoboken, Wiley, 2008. 

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo (dirs.). História da Alimentação. Tradução de Luciano Vieira Machado e Guilherme João de Freitas Teixeira. 6a ed. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. 

MONTANARI, Massimo. Food is Culture. Translated by Albert Sonnenfeld. New York, Columbia University Press, 2004. 

SMITH, Andrew S. Potato: A global history. London: Reakton Books, 2011. 

Link relacionado: 

História dos Alimentos

Um comentário:

André Victória da Silva disse...

Artigo sensacional. Não conheço mais completo. Parabéns!!!