Pesquisar neste blog

Comunicado

Comunico a todos que tiverem interesse de compartilhar meus artigos, textos, ensaios, monografias, etc., por favor, coloquem as devidas referências e a fonte de origem do material usado. Caso contrário, você estará cometendo plágio ou uso não autorizado de produção científica, o que consiste em crime de acordo com a Lei 9.610/98.

Desde já deixo esse alerta, pois embora o meu blog seja de acesso livre e gratuito, o material aqui postado pode ser compartilhado, copiado, impresso, etc., mas desde que seja devidamente dentro da lei.

Atenciosamente
Leandro Vilar

segunda-feira, 18 de abril de 2022

450 anos de Os Lusíadas

O presente texto comenta um pouco a respeito do autor e da obra, como uma forma de não passar em branco esse importante poema para a literatura portuguesa e para a própria história da literatura. Os Lusíadas (1572) consiste numa obra redigida ao longo de vários anos, como uma homenagem ufanista ao povo português, em que Luís de Camões mesclou acontecimentos históricos e referências mitológicas para redigir uma epopeia a sua nação. 

Luís de Camões um poeta trágico

Embora Camões seja hoje reconhecido como um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e o grande poeta do Classicismo Português, nem sempre foi assim. Antes de tudo, ele morreu sem fama e sem reconhecimento. A história de vida de Camões foi marcada por vários momentos trágicos, alguns resumidos aqui, pois alguns de seus acontecimentos influenciaram sua magnus opus e até outros poemas também.

Não há um consenso de quando Luís Vaz de Camões nasceu, as datas variam entre 1520 e 1524, embora hoje normalmente os historiadores da literatura acreditam que a data de 1524 seja a mais aproximada. Mas além de não saber o ano exatamente de seu nascimento, o local de sua origem também é disputado. Porém, atualmente credita-se que o local de seu nascimento teria sido Lisboa mesmo, a capital portuguesa. 

Retrato de Luís de Camões feito por Fernão Gomes, por volta de 1577. 

Todavia, seus antepassados já tinham demonstrado o gosto pelas letras. O bisavô de Luís foi Vasco Pires de Camões, oriundo da Galiza, que mudou-se para Portugal por volta de 1370. Vasco Pires era trovador, soldado e se ganhou o título de fidalgo, fazendo parte da baixa nobreza. Ele teve um filho chamado Antão Vaz que era marinheiro e casou-se com Guiomar da Gama, parente de Vasco da Gama. Antão e Guiomar tiveram dois filhos: Simão que foi também marinheiro e comerciante e Bento que se tornou poeta e clérigo. Simão casou-se com Ana de Sá e o casal teve Luís de Camões. 

Sobre a infância de Luís, praticamente nada se sabe. Sua família deixou Lisboa e morou em outros lugares. Entretanto, por volta dos 12 ou 13 anos, Luís foi enviado para Coimbra, para ficar sob tutela de seu tio Bento e ingressar nos estudos. A lista de alunos da Universidade de Coimbra não consta o nome de Luís de Camões, o que sugere que ele não cursou a universidade, pelo menos não como aluno matriculado oficialmente. No entanto, por volta dos 20 anos, ele viajou para Lisboa, a fim de tentar a vida.

O jovem Camões atuou em ofícios diferentes, um deles foi ser preceptor de filhos de pessoas ricas. Entretanto, os biógrafos relatam que Camões era homem boêmio, dado a frequentar as tavernas e mesas de jogo. Em dado momento ele alistou-se no Exército e serviu por dois anos na Berberia (atual Marrocos), em que ficou cego do olho direito. Fato esse que ele narra nos Lusíadas e até demonstra desprezo pelos mouros que lhe tiraram um dos olhos. 

Ao voltar para Lisboa, seguiu uma vida sem rumo definido, pois não tinha emprego fixo, vivia a escrever poemas e canções, além de ter arranjado confusão por ter se apaixonado por mulheres prometidas ou casadas, uma delas foi Dona Maria, irmã do rei D. João III. Em alguns poemas ele chegou a citar sua paixão por algumas dessas mulheres, comprovando seu comportamento romântico. 

Em 1550, Luís pediu dinheiro emprestado para o país para poder pagar a viagem para às Índias, ir tentar a sorte como marinheiro nos navios mercantes. Mas devido a uma briga com Gonçalo Borges, provavelmente por desavenças passionais, ele quase matou Borges, o que lhe rendeu uma ida para a prisão. Ele ficou preso por quase dois anos, sendo perdoado em 1553 e enviado para exílio na Índia, embarcando na nau São Bento naquele mesmo ano. Em 1554 ao chegar em Goa, na Índia, Luís alistou-se no exército do vice-rei Afonso de Noronha. Nos anos seguintes Camões trabalhou como soldado e outros ofícios. 

Foi preso por volta de 1556, permanecido ali por tempo desconhecido, talvez liberado em 1560 ou 1561. Não se sabe o motivo exato de sua prisão, alguns biógrafos apontaram dívidas não pagas, brigas e até poemas satíricos ao vice-rei. Mas com a troca de governo, ele foi perdoado. Em 1562 foi despachado para a colônia de Macau, na China, onde viveu por quase três anos, atuando como Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes, um cargo burocrático baixo, numa colônia pequena e longínqua da Índia Portuguesa. Nessa época ele já estava escrevendo Os Lusíadas, como aponta referências suas na própria obra ao citar a vida na Índia e em Macau. 

Luís de Camões em Macau, gravura de Desenne, 1817. 

Por volta de 1565 retornou a Índia, mas não se sabe em que ofício trabalhou. Além disso, os biógrafos não encontraram registros de que Camões tenha casado ou tido filhos. Em 1567, Luís de Camões foi enganado por uma falsa promessa de Pedro Barreto, nomeado governador de Sofala, em Moçambique, o qual lhe prometeu um bom emprego administrativo. Porém, a promessa não se realizou e Camões viveu de forma precária por dois anos em Moçambique, até finalmente ser resgatado por alguns amigos de Portugal, que compraram sua passagem de volta. 

Camões voltou a Portugal em 1570, estando com 46 anos, e com a ajuda dos amigos conseguiu se manter nesse tempo em que concluiu Os Lusíadas, apresentando-o ao rei D. Sebastião I (1554-1578) que se orgulhando da obra, ordenou sua publicação e concedeu a Camões uma pensão de três anos. Camões conseguiu se manter nos anos seguintes graças a pensão do rei e a ajuda de amigos, embora não se saiba se ele voltou a trabalhar ou possuía investimentos. Além disso, Os Lusíadas havia vendido poucas cópias, e o dinheiro da venda não dava para pagar as contas. 

Finalmente em 1580, oito anos depois da publicação de seu grande poema e alguns outros poemas, Camões faleceu aos 56 anos de "peste" como informou Le Gentili, seu grande amigo. Nessa época, o poeta vivia de alguns negócios que possuía, além de não ter se casado e nem tido filhos. Luís também morava numa casa pequena em Lisboa, ao adoecer foi levado a um hospital onde morreu. 

Túmulo de Luís de Camões no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. 

A estrutura de Os Lusíadas

Não se sabe exatamente quanto tempo Camões levou para escrever sua obra, mas ele a começou durante sua vida na Índia. E vale ressalvar que entre 1570 e 1572 ele se dedicou a concluir o livro, para poder apresentá-lo ao rei D. Sebastião I. Logo, muito pode ter sido escrito nesse período. 

De qualquer forma, Os Lusíadas consiste num poema épico, o qual apresenta um tom de aventura e grandes façanhas, como visto na Ilíada, na Odisseia e na Eneida. De fato, a literatura clássica greco-romana foi a grande inspiração para Camões, condição essa que ele decidiu tentar fazer a mesma coisa que Homero e Virgílio, mas ao invés de centrar-se numa guerra como na Ilíada, Camões optou em ter o modelo de viagem e aventura da Odisseia como referência, colocando Vasco da Gama (1469-1524) e sua expedição que descobriu a Rota das Índias (1497-1499), como centro da narrativa. No caso, Gama tornou-se o "Odisseu português". 

Por sua vez, a partir da Eneida, Camões tomou como referência a ideia de nacionalismo, pois no poema de Virgílio, ele apresentou como o herói troiano Enéas sobreviveu a Guerra de Troia e levou os troianos sobreviventes através do Mediterrâneo, chegando a Cartago e depois estabelecendo-se na Itália, em que seus herdeiros iriam culminar nos gêmeos Rômulo e Remo, os fundadores da cidade de Roma. Temos assim um mito fundador, e Camões procurou aproveitar essa ideia, fato esse que o Poema se chama Lusíadas em referência ao povo Luso, ancestral dos portugueses, os quais viveram na época da Roma Antiga, habitando a Lusitânia (terra dos lusos), território anexado ao Império Romano. Neste ponto, Camões considerava o Império Português como um dos herdeiros de Roma, nota-se assim, a ideia de ufanismo e nacionalismo vista na Eneida, e transposta para os Lusíadas. 

Mas apresentado as inspirações para a obra, o poema foi dividido em 10 cantos (ou capítulos), totalizando 1.102 estrofes e 8.816 versos. As estrofes ou estâncias são divididas em oito linhas decassilábicas, o que significa que em todos os oito versos que compõe uma estrofe, cada verso possui dez sílabas com rimas, seguindo o padrão fixo AB AB AB CC, como se pode ler abaixo. 

Estrofe 1 do Canto I: 

As armas e os barões assinalados, (rima A)

Que da Ocidental praia Lusitana, (rima B)

Por mares nunca de antes navegados, (rima A)

Passaram ainda além da Taprobana, (rima B)

Em perigos e guerras esforçados (rima A)

Mais do que prometia a força humana, (rima B)

E entre gente remota edificaram (rima C)

Novo Reino, que tanto sublimaram; (rima C)

Os versos do poema seguem o modelo heroico, no qual as sílabas sexta e décima são acentuadas (embora nem sempre isso aconteça), e por sua vez, todas as sílabas finais de cada verso possuem rima, como apresentado no exemplo anterior. A diferença no caso da métrica de Os Lusíadas, encontra-se nos versos 7 e 8, em que Camões os combinou, diferente de intercalar como feito anteriormente, isso passou a ser chamado de versos camonianos

Frontispício da primeira edição de Os Lusíadas (1572). 

Os temas narrados no poema

Anteriormente vimos que Os Lusíadas teve como inspiração a Ilíada, a Odisseia e a Eneida, algo que se devia ao fato de Camões ter sido um poeta do Classicismo português, diretamente influenciado pelo Renascimento Italiano (XIV-XVI), por conta disso, Camões decidiu escrever um épico com as características anteriormente citadas, entretanto, nos 10 cantos que formam sua obra, ele aborda diferentes assuntos, não limitando-se apenas a viagem de Vasco da Gama.

O Canto I se inicia com a proposição que inclui a introdução, a apresentação do assunto (viagem às Índias), os heróis (Vasco da Gama e sua tripulação). Em seguida Camões faz uma exortação as ninfas do rio Tejo, as chamadas Tágides, pois alguns autores gregos e romanos costumavam no início de seus poemas ou narrativas, evocar as bênçãos das Musas ou de ninfas. Assim, Camões seguiu esse costume. Depois ele escreveu várias estrofes enaltecendo a figura do rei D. Sebastião I, a quem o livro foi dedicado. Após isso, inicia-se a narrativa, com o detalhe que a trama começa pelo meio da jornada, não pelo seu início. Tal escolha era um estilo adotado desde a Antiguidade, em que alguns autores optavam em começar pelo meio dos acontecimentos, no intuito de que não apenas o futuro estivesse em suspense, mas o passado também. Por conta disso, o livro começa a narrar a expedição de Gama tendo problemas com as nações africanas da costa do Índico. 

No Canto II, Gama e seus homens deixam Moçambique e encontram atribulações em Mombaça e Melinde. Sublinha-se que nesta parte da história, temos o romanceamento de fatos históricos, além de se notar o discurso preconceituoso de Camões para os africanos, pois ele tratava os africanos islâmicos (chamados genericamente de mouros) como sendo traiçoeiros e vis, e os africanos pagãos (chamados genericamente de etíopes) como sendo selvagens. A opinião negativa de Camões se deve tanto a cultura da época que pensava dessa forma, mas também ao fato que ele guardava rancor dos mouros por conta da guerra que lutou em Ceuta no Marrocos, onde perdeu seu olho direito. 

No Canto III temos o primeiro interlúdio, em que a narrativa sofre uma pausa, e Gama torna-se o narrador da história, e começa a falar sobre a geografia e história da Europa, desde os gregos e romanos até a época dele, sempre exaltando Portugal e seu povo, além de comentar alguns momentos famosos da história portuguesa e as histórias de alguns nobres como o rei D. Fernando e o drama de Inês de Castro. Essa pausa ocorrida no terceiro canto se repete em outros momentos da narrativa, o que a torna não linear

O Canto IV continua o interlúdio anterior, no qual Vasco da Gama segue como narrador que apresenta os feitos de Portugal ao rei de Melinde, que é seu ouvinte junto a corte daquela cidade. Nota-se claramente um artifício do poeta para poder honrar e elogiar a história de seu país, fato esse que Camões conta acontecimentos ligados aos séculos XIV e XV. 

O Canto V interrompe o interlúdio e retoma a narrativa, mas com o detalhe que ela não progride, mas retrocede, pois agora na metade do livro, Gama vai contar como foi a decisão para sua expedição ser realizada, algo que ocorrem em 1497 e o que foi visto durante a travessia pelo Atlântico Sul e depois passar pelo Cabo das Tormentas (atual Cabo da Boa Esperança). Essa parte do poema é famosa, pois diz que ali viveria o gigante Adamastor, um personagem da mitologia grega. 

No Canto VI temos o avançar da trama, mas também uma quebra de continuidade. Após deixar Melinde, a expedição segue rumo a Calicute na Índia, enquanto a viagem segue calma, Fernão Veloso, um dos membros da expedição narra a história sobre Os Doze de Inglaterra, uma lenda como uma parábola sobre lealdade, honra e compromisso. Porém, a narrativa é interrompida por uma tempestade enviada pelos deuses do mar. Embora o poema narre um acontecimento histórico, no entanto, a trama possui elementos sobrenaturais, sobretudo na condição de que os deuses romanos interferem na expedição. Aqui nota-se claramente a influência dos poemas de Homero e Virgílio, em que isso ocorre várias vezes. 

O Canto VII volta a fazer exaltação, dessa vez ao Cristianismo, comentando sobre a cristianização da Europa e até dos acontecimentos sobre as Cruzadas. Depois desse início, a trama já apresenta os portugueses chegando a Calicute. 

No Canto VIII temos novo interlúdio histórico, dessa vez, Gama conta ao governador de Calicute sobre o povo lusitano (ou luso), retomando a trama até o chefe Viriato (181-139 a.C) e comentar sobre outros monarcas de outras épocas. Encerrada essa história sobre o passado de Portugal, a trama retoma alguns problemas envolvendo o governo de Calicute e a autorização para se fazer negócios. Em meio a isso, Camões também apresenta a estranheza dos portugueses com a cultura indiana, algo que ele mesmo foi testemunha, já que viveu na Índia por vários anos. 

O Canto IX centra-se no conflito entre Gama, contra os indianos e persas que tentam proibir os portugueses de fazerem comércio na Índia. É uma parte do capítulo que comenta sobre guerra. E novamente Camões se baseou na sua história pessoal, pois recém-chegado a Índia ele foi lutar contra os persas. No entanto, esse canto termina com os portugueses deixando a Índia e chegando a Ilha dos Amores, onde vive Vênus e suas serviçais e sacerdotisas. Tal acontecimento é uma alegoria inserida pelo autor para poder falar da paixão e do amor. Temas que ele abordou em outros poemas também.

Já o Canto X dar continuidade a visita dos portugueses à Ilha dos Amores, ali na presença da deusa Tétis, a profetiza Sirena conta aos portugueses o que o futuro reservava para sua nação. A profecia em si foi uma forma de Camões falar sobre a fundação do Vice-Reino da Índia, destacando vários de seus vice-reis. Após isso temos um novo interlúdio em que Gama contempla a "máquina do mundo", e o poema versa a abordar sobre geografia, astronomia e mitologia. Trata-se de outra alegoria também.

Por fim, o poema se encerra com um epílogo, que consiste num desabafo do próprio autor acerca do que ele passou no seu exílio, além de fazer algumas recomendações ao rei D. Sebastião I. Observa-se que o livro se encerra de forma alegórica e reflexiva, não mostrando a jornada de volta de Vasco da Gama e sua expedição para Portugal. 

Referências bibliográficas: 

AGUIAR E SILVA, Vítor (coord.). Dicionário de Luís de Camões. Alfragide: Editorial Caminho, 2011. 

CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. São Paulo: Abril, 2010. 

CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Introdução e notas Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2018. 


terça-feira, 12 de abril de 2022

Os povos construtores de pirâmides

Embora as pirâmides do Egito Antigo sejam as mais reconhecidas e lembradas no mundo, no entanto, outros povos construíram variedades de pirâmides, ao longo de milhares de anos. E ainda hoje a pirâmide é uma construção que fascina por suas formas e tamanho, suscitando teorias de como teriam sido construídas. 

Todavia, as pirâmides em geral foram construídas para servirem de túmulos para monarcas ou serem usadas como templos, além de seguirem quatro modelos básicos: o piramidal, o de topo plano, a escalonada e a feita de terra. Cada um desses modelos foi sendo construído com tijolos, pedras, terra, cascalho e entulho, podendo terem câmaras internas ou não, possuindo diferentes dimensões. E para conhecer melhor a respeito o presente texto apresentou alguns comentários sobre os povos construtores de pirâmides. 

Os zigurates mesopotâmicos (c. 3500 a.C)

As primeiras estruturas piramidais que se conhece erguida pelo homem, remontam a Mesopotâmia, região situada entorno dos rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o atual Iraque. Na Mesopotâmia vários povos desenvolveram civilizações como os sumérios, acadianos, babilônios, assírios, elamitas, caldeus, etc. 

Todavia, credita-se aos sumérios a criação dos zigurates, os quais eram grande estruturas que poderiam atingir 30 a 50 metros de altura, tendo de 40x50 metros de base, as quais poderiam ser retangulares ou quadrangulares, possuindo escadas ou rampas e vários andares como uma pirâmide escalonada. No topo ficava um pequeno templo dedicados aos deuses, considerado inclusive local bastante sagrado, sendo acessado apenas por altos-sacerdotes. Fato esse que na língua sumeriana os zigurates eram chamados de etemenanqui "templo da fundação do Céu e da Terra", todavia, os acadianos chamaram essas estruturas de zigurates "pináculos", nome que se tornou mais comumente utilizado. 

Ruínas do zigurate do Templo Branco de Uruk, no Iraque. Datado de antes de 3000 a.C. 

Tais templos eram feitos de tijolos cozidos ou cru, e seu interior era preenchido com terra, pedras e entulho. Por conta disso, a maioria dessas estruturas se encontra em ruínas, sendo poucos em melhor estado de conservação. Eles começaram a serem construídos a mais de 5 mil anos atrás, embora que não se saiba quando surgiu os primeiros zigurates, apesar que alguns dos mais antigos em melhor condição de preservação, possuem mais de 4 mil anos, como o Zigurate de Ur, datado por volta de 2200 a 2100 a.C. 

Embora os sumérios tenham desenvolvido os zigurates, os acadianos, babilônios e assírios deram continuidade a construção deles, havendo zigurates que foram construídos até mais ou menos o século V a.C, embora fossem em escala menor. Inclusive a Torre de Babel poderia ter sido o zigurate da Babilônia, que possuía pelo menos sete andares e quase 100 metros de altura. 

Maquete do zigurate de Chogha Zanbil no Irã, datado por volta de 1300 a.C. 

As pirâmides do Egito (c. 2660 a.C)

Enquanto os povos mesopotâmicos construíram pirâmides escalonadas, os egípcios foram o primeiro povo a construir gigantescas pirâmides em formato piramidal, o mais famoso até hoje. No caso, dos egípcios suas pirâmides não serviram como templos, mas como suntuosos túmulos para os faraós e algumas rainhas. 

As pirâmides egípcias surgiram na III Dinastia, que reinou entre 2686 a 2613 a.C, em que o faraó Djoser, decidiu inovar em relação aos seus antecessores e fazer uma tumba maior e mais magnífica. Até então os faraós eram sepultados em tumbas no chão ou nas chamadas mastabas, que era uma tumba construída com tijolos e pedras. Djoser pediu aos seus arquitetos que fizessem uma grande mastaba, para isso, surgiu a ideia de empilhar mastabas o resultado foi a primeira pirâmide do Egito, a qual tinha formato escalonado.

A pirâmide do faraó Djoser, foi a primeira pirâmide construída no Egito. 

Erguida na necrópole de Saccara, a nordeste da cidade de Mênfis, antiga capital do reino, a pirâmide de Djoser foi construída em data incerta, ao longo de seu reinado de quase vinte anos. Seu projeto é dedicado ao vizir, arquiteto e médico Imhotep, o qual projetou seis mastabas empilhadas com uma câmara funerária. A estrutura teria em seu estado original quase 70 metros de altura e 109x120 metros de base. 

O projeto de Djoser deu certo, pois realmente chamou atenção na época, fato esse que outros faraós da III Dinastia tentaram fazer suas pirâmides, mas os resultados não foram bons, pois algumas das estruturas desmoronaram durante as obras ou depois de terem sido concluídas. Esse foi o caso do faraó Seneferu, que foi o primeiro monarca da IV Dinastia, que reinou aproximadamente entre 2613 e 2494 a.C. Em seu governo ele mandou construir três pirâmides, pois as duas primeiras por problemas no projeto e nas obras, desabaram. Somente a terceira pirâmide atingiu a meta, que na época era ter o formato piramidal.

A Pirâmide Vermelha de Seneferu, a primeira pirâmide em formato piramidal do Egito. 

A Pirâmide Vermelha também erigida em Saccara, tornou-se a tumba do faraó Seneferu. A construção possui atualmente 105 metros de altura e 220 metros de base, sendo construída com mais de 1 milhão de blocos de pedra calcária. A Pirâmide Vermelha serviu de modelo para as construções dos séculos seguintes, fato esse que os sucessores de Seneferu como Queóps e Quefrén, construíram as maiores pirâmides do Egito, mas no platô de Gizé, hoje ao lado do Cairo, atual capital egípcia. 

As seis pirâmides da necrópole de Gizé, são as mais famosas do mundo, devido a sua imponência. As maiores pertencem aos faraós Queóps, Quefrén e Miquerinos, já as menores pertencem as rainhas.

Como a capital do Egito foi transferida mais ao norte, o faraó Queóps decidiu construir na necrópole de Gizé sua pirâmide, e cujo projeto foi deveras ambicioso, pois Queóps queria que a maior pirâmide da história do Egito fosse construída para ele. Sua altura original é estimada em 146 metros, tendo uma base de 230 metros, e mais de 1 milhão de blocos empregados em sua construção que durou vários anos, pois Queóps teria governado entre 2580 e 2560 a.C. Por sua vez, Quefrén também tentou fazer uma pirâmide ainda maior do que a de Queóps, mas não chegou a passá-lo, embora sua pirâmide tenha um tamanho bem aproximado. 

Pirâmides continuaram a serem construídas com menos regularidade e em menor escala devido ao elevadíssimo gasto para se fazer isso. Se desconhece quantas pirâmides foram erguidas no Egito, mas são contabilizadas mais de quarenta delas, a maioria são pequenas e estão em ruínas. No entanto, enquanto as IV, V e VI Dinastias construíram pirâmides regularmente, os faraós das dinastias seguintes passaram a optar por túmulos e tumbas, ao invés de fazerem pirâmides. E tal prática acabou sendo abandonada por volta da XIII Dinastia no século XVIII a.C.

As pirâmides de Caral (c. 2500 a.C)

A civilização de Caral teria surgido por volta de 5000 a.C no deserto norte do Peru, no Vale do Supe, atualmente 200 km de Lima, capital do país. Caral foi um reino surgido a partir de uma cidade-estado sagrada, como atesta as várias pirâmides e templos no local. No caso, as pirâmides desse povo que pouco se conhece de sua história, eram também utilizadas como templos. O local foi ocupado entre 5000 e 1800 a.C, quando provavelmente devido a problemas com a seca e a fome, foi abandonado. Embora não se saiba exatamente se a cidade voltou a ser ocupada nos séculos seguintes ou se peregrinações eram realizadas aos seus locais sagrados. 

Ruínas de duas pirâmides de Caral, no Peru, datadas entre 2500 e 2100 a.C. 

Apesar de ser uma região desértica, as condições ambientais a milhares de anos atrás eram bem melhores, pois permitiu a ocupação desse território por quase dois mil anos. Além de ter reunido milhares de pessoas para construírem seus templos, palácios, casas, ruas e outras obras, as quais expandiram aquela cidade-estado, que detinha domínios nos territórios vizinhos, embora se desconheça a extensão desses. 

As pirâmides de Caral não eram tão altas tendo entorno de 20 a 30 metros de altura, mas suas bases eram largas, passando dos 200 metros. Eram pirâmides do tipo topo plano e escalonada, e foram construídas de pedra e terra, mesmo assim, suas estruturas ruíram com o tempo. Somente em Caral se conhecem oito pirâmides, embora possam ter havido outras menores. De qualquer forma é notório que eles conseguiram construir tais monumentos num clima desértico como o do Egito, e com menos recursos disponíveis. 

Pirâmides Olmecas (c. 1000 a.C)

A civilização Olmeca surgiu no que hoje é o México, sendo incerta a data de seu começo, embora que a história e arqueologia apontem que a partir de 1600 a.C o reino olmeca passou a ter notoriedade na região e expandindo-se um pouco. A partir daí, a cultura e sociedade olmeca desenvolveu-se até mais ou menos o século V d.C, se notabilizando pelo estabelecimento de cidades, desenvolvimento da agricultura, da irrigação, da matemática, astronomia, arquitetura, artes, etc. Muitos aspectos e técnicas dos olmecas foram absorvidos por outros povos como os toltecas, zapotecas e maias. Todavia, não se sabe exatamente quando suas primeiras pirâmides começaram a serem erguidas, sendo as ruínas mais antigas estimadas por volta do 1000 a.C. 

Três grandes cidades olmecas se destacaram, a primeira fica situada em La Venta, no estado mexicano de Tabasco, próxima do Golfo do México, ali se encontra a maior pirâmide de terra da Mesoamérica, tendo sido construída entre os séculos V e I a.C, tendo 30 metros de altura. Ela é identificada como o Complexo C do sítio arqueológico de La Venta. Os arqueólogos sugerem que possivelmente as primeiras pirâmides olmecas eram feitas de terra, pedras, barro e entulho, porém, devido a vegetação densa e mudanças na paisagem, é difícil identificar tais estruturas. 

Pirâmide de terra em La Venta, México. As primeiras pirâmides olmecas eram feitas de terra. 

A segunda cidade importante foi Cholula, nas terras do município de Puebla Heroica. A cidade teria se desenvolvido por volta do século VIII a.C, tendo crescido nos séculos seguintes, embora não se tornou uma cidade tão grande como Teotihuacán, porém, enriqueceu com a agricultura e o comércio. Não obstante, em Cholula encontra-se a maior pirâmide das Américas, chamada de Grande Pirâmide de Cholula com seus 55 metros de altura e base de 450x450 metros. Sua base é quase duas vezes o tamanho das maiores pirâmides egípcias. Inclusive devido as suas dimensões, os habitantes a chamavam de Tlachihualtépelt ("monte feito com as mãos"). 

A grande pirâmide de Cholula foi destruída com o tempo, além de ter sido tomada pela erosão e a vegetação. Uma igreja foi construída em seu topo. 

Todavia, as pirâmides olmecas mais famosas ficam na cidade de Teotihuacán, hoje no estado de San Lorenzo. Diferente de La Venta e Cholula, Teotihuacán foi uma cidade maior e mais urbanamente desenvolvida e organizada. Ela teria surgido entre os séculos IV e II a.C, se desenvolvendo até o século VI d.C, quando entrou em declínio, no entanto, os estudos arqueológicos mostram que foi uma cidade grande para seu tempo, tendo uma população que pode ter passado dos 100 mil habitantes. 

Teotihuacán abriga dezenas de pequenas pirâmides que serviam de altares ao longo da Avenida dos Mortos, a principal área religiosa da cidade. Entretanto, duas pirâmides se destacam: as chamadas pirâmides do Sol e da Lua, que são as maiores da cidade e das Américas. 

A Pirâmide do Sol, em Teotihuacán, no México. 

A Pirâmide do Sol é feita de pedra, tijolos e terra, possui cinco andares, medindo 65 metros de altura, possuindo uma base de 220x230 metros. Sua base é quase do tamanho da Grande Pirâmide de Gizé, no Egito. Sua construção é datada de entre 100 e 200 d.C. Sendo uma obra bem tardia no quesito da civilização Olmeca. Essa pirâmide, assim como, as demais, eram usadas como templos para se fazer oferendas, sacrifícios e outros ritos. Além dela tem-se a sua irmã, a Pirâmide da Lua, que é menor, com seus 43 metros de altura e 143x160 metros de base. 

A Pirâmide da Lua ao fundo e pequenas pirâmides em primeiro plano, em Teotihuacán, no México. 

Pirâmides núbias (c. 750 a.C)

A antiga civilização Núbia surgiu há milhares de anos, no entanto, a construção de pirâmides começou bem tardiamente em sua história, durante a Dinastia de Napata (1000-300 a.C), a qual foi a segunda capital da núbia. No caso, as pirâmides foram construídas para servirem como túmulos para a nobreza, embora não se saiba quando exatamente as primeiras foram erigidas, assim como, não se conhece quantas foram construídas ao longo dos séculos. 

Ruínas de pirâmides núbias em Meroé, atualmente no Sudão. 

As pirâmides dos núbios tinham dimensões bem menores se comparadas as dos egípcios, as quais serviram de modelo para esse tipo de arquitetura tumular. A principal semelhança foi o formato piramidal, mas com o acréscimo de um portão com um pequeno corredor. Dentro da pirâmide ficava um sarcófago com o corpo e alguns objetos pessoais e presentes, o que contribuiu para tais tumbas serem saqueadas, assim como, aconteceu no Egito. 

As primeiras pirâmides teriam sido construídas no século VIII a.C no cemitério de El-Kurru, o que incluiu uma para o rei Cuxita (r. 769-744 a.C) e seus descendentes. A partir de então isso virou uma prática cultural em que a nobreza construía tumbas piramidais para reis, rainhas, príncipes, princesas e outros nobres. Essa prática se estendeu bastante, pois os arqueológicos contabilizaram mais de 250 pirâmides núbias. Inclusive a Dinastia de Meroé (300 a.C - 300 d.C) deu continuidade a construir tais tumbas. 

Os núbios construíram necrópoles em locais diferentes do reino a depender do período e das casas governantes, por conta disso, as pirâmides estão espalhadas pelo território que hoje compreende o Sudão. Entre esses territórios se destaca a planície de Nuri, a qual abrigou mais de quarenta pirâmides entre os séculos VII a.C ao IV a.C. 

Pirâmides núbias em Meroé. As da frente foram reconstruídas. 

Pirâmides Argólidas (c. 300 a.C)

Consistem em pequenas pirâmides de pedra construídas pela região da Argólida, na Grécia. O geógrafo Pausânias (110-180) comenta sobre duas dessas pirâmides, sugerindo que se tratavam de túmulos para importantes guerreiros, seguindo a prática dos egípcios. Atualmente somente duas dessas pirâmides resistiram ao tempo, sendo a de Hellinikon e a de Ligurio, as quais teriam tido de 10 a 15 metros de altura, e 7,5 metros de largura na base. 

As ruínas da Pirâmide de Hellinikon, na Grécia. 

Os arqueólogos tendem hoje a considerar que Pausânias estivesse certo ao apontar que tais pequenas pirâmides poderiam ter servido de tumbas. Embora nada foi achado dentro delas, mas o que tivesse ali, provavelmente foi saqueado. Além disso, as estruturas também poderiam ter servido de abrigo para viajantes ou guarnições, pois a Argólida foi uma região movimentada. Uma linha teórica também sugere que tais pirâmides poderiam ter sido utilizadas como observatórios astronômicos, por apresentarem posição adequada para isso. Todavia, tais estruturas teriam sido construídas por volta do século IV a.C, diferente das teorias do XIX e começo do XX, que sugeriram que elas teriam milhares de anos. 

As duas pirâmides gregas na Argólida, são os únicos exemplares de pirâmides conhecidos e confirmados no continente Europeu, apesar que em Roma, encontrou-se algumas pirâmides, mas essas foram erigidas a pedido de ricos homens, como a Pirâmide de Céstio, em Roma, servindo de tumba. Porém, tal prática não se desenvolveu entre os romanos.

Pirâmides chinesas (c. 230 a.C)

Embora a história da China remonte a antes de 3000 a.C, no entanto, a construção de pirâmides foi algo pontual de sua cultura. As pirâmides chinesas surgiram a partir de túmulos da realeza, os quais foram reformulados para ganharem grandes dimensões. O primeiro monarca a fazer isso foi Qin Shi Huangdi (260-210 a.C), o primeiro soberano a unificar a China. Inclusive um dos imperadores mais ricos e poderosos da história chinesa. De qualquer forma, Huangdi passou anos tentando evitar a morte, fato esse que ele recorreu a magia e a alquimia para descobrir uma forma de conquistar a imortalidade, porém, vendo que isso era impossível, ele decidiu ordenar a construção de seu túmulo. 

Seu túmulo consiste numa pirâmide de terra com câmaras, tendo possuído uma altura estimada entre 50 a 70 metros, e 350 metros de base. Mais de 3,5 milhões de metros cúbicos de terra, pedras e entulho foram transportados para formar essa grande tumba. No seu interior o imperador foi sepultado num sarcófago com seus tesouros. Além disso, é notório o exército de guerreiros de terracota, que foram construídos para guardarem sua pirâmide. 

O mausoléu de Qin Shi Huangdi, o primeiro imperador da China. 

Devido a um fator religioso e por conta de uma suposta maldição, até hoje os arqueólogos não abriram a tumba de Huangdi. Os achados arqueológicos foram de escavações em torno da tumba piramidal. Todavia, após esse mausoléu, outros trinta imperadores também decidiram copiar essa tendência. Nos arredores dessa pirâmide, estendendo-se por mais de 30 quilômetros quadrados, foram erguidas outras trinta e oito pirâmides de terra, as quais foram até então identificadas, embora a de Qin Shi Huangdi seja a maior de todas. A prática dos mausoléus pirâmides de terra perdurou até mais ou menos o século I a.C, sendo substituído por outras formas de túmulos. Embora que posteriormente alguns nobres ainda chegaram a construir pirâmides de terra. 

Quatro pirâmides de terra em Xi'an. Datadas entre os séculos II e I a.C. Devido a erosão, elas hoje parecem apenas colinas comuns. 

As pirâmides maias (c. 100 a.C)

A civilização Maia existe há milhares de anos, alguns arqueólogos remontam suas origens a 2000 a.C, outros sugerem um período até anterior. Porém, os maias por séculos foram um pequeno povo tribal, somente a partir do século VIII a.C, começaram a surgir pequenas cidades. No século V a.C, encontra-se monumentos políticos a reis e posteriormente tivemos o uso de uma linguagem escrita com glifos. Porém, foi ao longo do Período Clássico (250-900) que as cidades começaram a crescer, atingindo milhares de habitantes, o calendário foi aperfeiçoado, a escrita também foi desenvolvida, além de saberes tecnológicos e científicos. Data desse período a época dourada da civilização maia. 

Não se sabe exatamente quando as primeiras pirâmides maias foram construídas, mas estima-se que tenham surgido por volta de 100 a.C, talvez um século antes, mas ainda de forma mais rudimentar. Exemplo disso, encontra-se na antiga cidade de Uaxactun, na Guatemala, onde se encontra pequenas pirâmides escalonadas. 

As primeiras pirâmides maias seriam pequenas como essa vista em Uaxactun, na Guatemala. 

No entanto, as mais conhecidas hoje, datam do Período Clássico (250-900), sendo encontradas em cidades como Tikal, Chichen Itzá, Copán, Palenque, entre outras, pois os maias desenvolveram cidades-estados, cada uma governada por sua própria monarquia, expandindo-se pelo sul do México e o norte a Guatemala. 

Reconstituição de como seria a Pirâmide I de Tikal, em 900, ainda com suas cores. Tal pirâmide possui 72 metros de altura e dez níveis. 

No século X, a cidade de Tikal (atualmente na Guatemala), uma das maiores cidades maias, tinha sido abandonada, por motivos ainda não conclusivos. Todavia, a cidade possuía algumas pirâmides com seu formato mais estreito e elevado. Tais pirâmides, as quais apresentam diferentes graus de deterioração, foram erigidas entre 690 e 780, o que revelam ser construções bem tardias no quesito da história da civilização maia. 

Outra pirâmide maia famosa é a do Templo de Kukulcán (ou El Castillo), o deus-sol, construída em Chichen Itzá, no estado mexicano de Yucatã. A pirâmide é uma das mais reconhecidas por conta de seu estado de preservação, embora seja uma construção maia, ela apresenta arquitetura diferente das pirâmides de Tikal, as quais são mais estreitas e altas. As pirâmides de Chichen Itzá são mais baixas e tem a base mais larga. Inclusive elas datam de quase dois séculos antes das obras em Tikal. 

A pirâmide de Kukulcán, em Chichen Itzá, com seus 24 metros de altura e 65 metros de base. 

Ao longo dos séculos III ao VIII, os maias desenvolveram diferentes estilos de pirâmides escalonadas, alguns inclusive possuindo salas e câmaras, usados para ritos e outras cerimônias. 

Pirâmides zapotecas (c. 100)

Os zapotecas se estabeleceram no que hoje é o estado mexicano de Oaxaca, voltado para a costa do Pacífico. Eles desenvolveram algumas pequenas cidades entre 700 a.C e 1521 d.C., inclusive faziam negócios comerciais com outros povos, como os olmecas, maias e toltecas. Os zapotecas praticavam o jogo da bola, bastante popular entre distintos povos, além de terem desenvolvido uma refinada joalheria e uma cultura tumular bela. No caso das suas pirâmides, elas não foram tão grandes como as dos olmecas, se assemelhando mais ao padrão adotado pelos toltecas séculos depois. 

A maioria das pirâmides foram erguidas na capital do reino, situada no Monte Albán, cuja cidade pode ter sido construída por volta do século VI a.C, desenvolvendo-se até a dominação espanhola. De qualquer forma, nesta cidade encontram-se algumas pequenas pirâmides, duas maiores, algumas quadras de jogo da bola, túmulos, além de vestígios de casas e outras construções. As pirâmides são as estruturas atualmente melhor conservadas.

Algumas das pirâmides zapotecas em Monte Albán, no México. 

Não se sabe quando as primeiras pirâmides zapotecas foram construídas, todavia, as que existem em Monte Albán apresentam traços da arquitetura de Teotihuacán, a qual a partir do século I d.C, começou a construir suas grandes pirâmides. É possível que os zapotecas tenham se influenciado a fazer o mesmo por esse período, além de que a expansão e desenvolvimento da capital somente começou séculos depois de seu surgimento. 

Pirâmides nazcas (c. 100)

Os nazcas foram um dos vários povos andinos, os quais hoje são mais lembrados pelas famosas Linhas de Nazca no Peru. Porém, eles também construíram algumas poucas pirâmides pelo que se conhece. A mais conhecida delas se encontra em Cahuachi, uma cidade que teria sido fundada entre 400 a.C a 100 a.C, e foi abandonada por volta de 300 d.C. Apesar que a cultura nazca ainda perdurou até mais ou menos o século VIII. No entanto, Cahuachi se destaca por conter um dos poucos vestígios piramidais desse povo. 

Uma das pirâmides nazca em Cahuachi, no Peru. 

Em Cahuachi, cidade que teria prosperado entre os anos 1 e 300, encontram-se várias construções feitas de adobe e pedra, o que inclui casas, túmulos, muros, vestígios de palácios, e algumas pirâmides. Pouco se conhece a respeito dessa cidade, mas ela teria servido como centro de peregrinação, prática religiosa adotada por alguns povos andinos, além disso, na cidade encontraram-se alguns cemitérios bem preservados, contendo múmias, outra prática feita pelos nazcas e depois herdada pelos incas. 

Pirâmides javanesas (c. 400)

Java é a maior ilha da Indonésia, abrigando também maior parte da população desse país. Ao longo dos séculos a ilha foi influenciada pelo Hinduísmo, o Budismo e o Islão, religião dominante atualmente. No entanto, alguns templos das religiões anteriores foram erigidos por Java, e eles apresentam formato piramidal com o topo plano. Para olhos desatentos tais templos nem pareceriam pirâmides, pois são pequenos. 

No caso, existem dois tipos de pirâmides em Java, o primeiro tipo é mais antigo, consistindo em pirâmides escalonadas simples, embora baixas, as quais foram tomadas pela vegetação. Tais pirâmides foram feitas com terra e pedras, sendo erigidas principalmente na parte oeste da ilha, em antigos locais de culto, dos quais alguns mostram vestígios de milhares de anos, o que sugeriu que tais pirâmides poderiam ser bem mais antigas, mas isso não foi comprovado. Algumas das pirâmides faziam parte de centros religiosos, hoje tomados pela floresta. 

A pirâmide de terra e pedra de Lebak Cibedug, na Java Ocidental. 

Com o desenvolvimento da arquitetura religiosa em Java, as pirâmides foram ganhando novos padrões, se tornando mais refinadas. O maior exemplo disso é o grande templo de Borobudur, situado em Magalang, na Java Central. O templo piramidal foi erigido durante o século IX, sendo a maior construção budista da Indonésia e um dos maiores templos dessa religião no mundo. 

O templo budista de Borobudur é o auge da arquitetura piramidal javanesa. 

Borobudur é um candi (templo) budista de cuja origem pouco se sabe, tendo sido construído no século IX, possivelmente durante o Reino de Mataram (VIII-X) embora não se saiba quem teria dado a ordem de sua construção. No entanto, Borobudur consiste numa pirâmide escalonada que possui nove níveis, sendo seis retangulares e os três no topo, circulares, totalizando 35 metros de altura e 118 metros de lado na base. Visto de cima, o templo lembra uma mandala budista. Além de sua dimensão, bastante grande para os padrões regionais, o templo possuí 72 estupas com estátuas no interior, 504 estátuas de Buda e 2.672 painéis de alto-relevo, espalhados por toda a estrutura. 

Mas enquanto Borobudur representou o auge dos candis piramidais, os que foram construídos posteriormente eram bem mais simples. No caso, salienta-se que nem todo candi tinha uma forma piramidal, ao longo do medievo javanês, esses templos tiveram vários estilos. No entanto, alguns candis piramidais foram construídos mais tardiamente como o que se ver na foto abaixo, o templo de Sukuh, construído por volta de 1437 como sugere uma inscrição no complexo onde ele se encontra. O monumento apresenta aspectos religiosos do hinduísmo e budismo. 

O templo de Sukuh é um dos últimos exemplos da arquitetura piramidal em Java. 

A pirâmide de Akapana (c. 500)

Essa pirâmide escalonada foi construída na cidade de Tiwanaku, situada no que hoje é a Bolívia. Essa cidade prosperou por séculos, sendo sede de um reino influente nos Andes, entre 100 e 800. Apesar que no século XIX, teorias sugeriram que Tiwanaku seria uma cidade fundada na Pré-história, mas essas teorias foram já descartadas. No caso, pouco restou dessa cidade, pois ela foi saqueada várias vezes tanto por povos nativos, quanto pelos espanhóis durante sua colonização, além de caçadores de tesouros de outros países. 

A pirâmide de Akapana foi ampliada deixando de ter uma base regular convencional, como sugerem estudos arqueológicos, no entanto, ela possui 18 metros de altura, 194 metros de largura e 182 metros de comprimento. Ela serviu de templo para o culto de divindades hoje desconhecidas, pois pouco se sabe da religião dessa cidade-estado. 

Ruínas de um dos ângulos da pirâmide de Akapana, em Tiwanaku, na Bolívia. 

Pesquisas em Tiwanaku sugerem que o templo de Puma Punku poderia ter tido formato piramidal, mas isso ainda não foi concluído. Além disso, é possível que possa ter havido outras pequenas pirâmides nesta cidade-estado, mas desmoronaram com o tempo, mesmo estando numa região desértica e tendo sido feitas de pedras. 

Pirâmide Huaca Pucllana (c. 500)

Situada em Lima, atual capital do Peru, essa pirâmide foi construída com milhares de tijolos de adobe, formando sete níveis. A estrutura ao invés de uma base quadrangular como de costume, possui uma base retangular. Essa pirâmide foi construída pelo povo da Cultura Lima, o qual dominou aquela região de 200 a 700, quando foram conquistados pelos Huaca. Os povos que dominaram essa parte do Peru utilizaram a pirâmide para fins religiosos, incluindo sepultamentos e depósitos de oferendas. 

Ruínas da pirâmide Huaca Pucllana, em Lima, no Peru. 

Pirâmides totonacas (c. 800)

O povo totonaca habitou o que hoje é o estado de Veracruz no México, tendo se desenvolvido entre os séculos IV e XVI. Eles possuíam sua própria língua, cultura e religião, mas compartilhavam costumes com os maias, toltecas, zapotecas e outros povos. Os totonacas construíram três grandes cidades: El Tajin, Papantla e Cempoala. No caso da primeira cidade, foi nela que se erigiu as mais antigas pirâmides conhecidas desse povo, iniciadas em algum momento no século IX. 

Pirâmide dos nichos, em El Tajín, em Veracruz, no México. 

Dentre as pirâmides de El Tajín, a cidade mais antiga dos totonacas, a mais famosa é a chamada pirâmide dos nichos com seus sete andares, apresentando 365 nichos, inclusive na própria escadaria. Uma hipótese sugere que cada nicho representaria um dos dias do calendário solar. A pirâmide possui mais de vinte metros de altura e sua construção ainda não foi determinada, mas cogita-se que foi construída entre os séculos IX e XIII. 

Vista aérea de outras pirâmides em El Tajín. 

Pirâmides toltecas (c. 900)

Os toltecas foram um dos povos que herdaram influências dos olmecas, zapotecas e maias, embora desenvolveram suas características artísticas e arquitetônicas. A civilização tolteca perdurou mais ou menos de 900 a 1521, quando foi subjugada pela dominação espanhola, ao lado de outros povos. Com isso, sua cultura e sociedade foi sendo marginalizada e entrou em declínio. 

A maioria das pirâmides toltecas se encontram em Tula, antiga capital do reino, que teria sido fundada por volta do século X. Em seu auge, Tula pode ter abrigado de 10 a 30 mil habitantes, um valor bem considerável para os padrões regionais. Nesta cidade existem três grandes pirâmides que serviam também de templos, uma prática comum entre os povos ameríndios. A diferença é que as pirâmides toltecas são mais tardias se comparadas a de outros povos. 

Pirâmide C em Tula, no estado de Hidalgo, no México. 

A arquitetura tolteca parece ter influenciado o povo Totonaca, o qual construiu cidades e pirâmides entre os séculos IX e XIII, no que hoje é Veracruz no México. A arquitetura é similar. Além disso, estudos arqueológicos mostraram que os totonacas também herdaram costumes dos maias.  

Pirâmides cambojanas (c. 900)

Entre 802 e 1431 o Camboja foi dominado pelo poderoso e rico Império Khmer, que expandiu seus domínios pelo Sudeste Asiático. Neste período importantes e suntuosas construções como templos, palácios e cidades foram construídos. O exemplo mais famoso é a cidade de Angkor Wat, que serviu de capital imperial, lembrada por sua bela e icônica arquitetura, além de sua rica arte em estátuas e alto-relevo, que adornavam seus palácios e templos. No entanto, os cambojanos daquele período também construíram algumas pirâmides, sendo a mais famosa situada em Koh Ker

A pirâmide em Koh Ker, foi um templo dedicado ao deus Shiva. 

Koh Ker no século X, durante o reinado do imperador Jayavarman IV (r. 928-941) serviu temporariamente de capital no lugar e Angkor Vat. Por conta disso, o monarca ordenou a ampliação e embelezamento da cidade, o que incluiu a construção de templos, como a pirâmide na imagem acima. O interessante a sublinhar é que naquele tempo grande parte do povo cambojano era hinduísta e budista, sendo Shiva um dos deuses mais cultuados no Império Khmer, por conta disso, haver centenas de templos dedicados a ele. 

O templo Baksei Chamkrong, em Angkor, foi erigido no século X. 

As pirâmides cambojanas eram referidas como "templos-montanha" devido ao seu formato, o qual poderia conter uma torre no topo. No caso, a montanha era local sagrado para os cambojanos, além de estar associada ao deus Shiva também. Além disso, alguns desses templos escalonados eram mais requintados do que outros, possuindo painéis em alto-relevo, acabamento ornamental e estátuas. Porém, no caso das pirâmides de Koh Kher e Baksei Chamkrong, essas eram mais simples. 

A pirâmide de Monks Mound (c. 900)

No que hoje é o território de Illinois, nos Estados Unidos, fica situada a pirâmide de terra de Monks Mound, erigida por um povo indígena da chamada Cultura Mississipiana, os quais a teriam construído no século X. A tal pirâmide é originária da prática de construção de montículos de terra, a qual era empregada por diferentes povos daquela região. Tais montículos eram usados para se construir casas e templos em cima. Alguns eram usados também para se fazer sepultamentos. 
Vista aérea da pirâmide de terra de Monks Mound, nos Estados Unidos. 

A pirâmide de Monks Mound sofreu com a erosão, tendo alguns de seus lados desmoronado. No entanto, sua base é maior do que da pirâmide de Queóps e da pirâmide do Sol, o que releva um grande empenho de anos para a construção dessa pirâmide de terra, argila e pedras. Além disso, em seu topo poderia ter ficado um templo de madeira. Embora Monks Mound siga a técnica de fazer montículos, ela se destaca por suas dimensões, sem ter tido algo equiparável achado. 

Ilustração de como poderia ter sido Monks Mound no século XI. 

Pirâmides de Pagan (c. 1000)

O Reino de Pagan desenvolveu-se entre 849 e 1297, sendo um dos mais ricos e poderosos reinos situados no que hoje é Myanmar. Durante esse período a língua birmanesa tornou-se oficial, sua cultura também foi difundida a partir da capital, a cidade de Pagan que cresceu e se tornou próspera. O budismo de vertente Theravada também se difundiu pelo reino, embora o Hinduísmo e outras religiões coexistissem. Na capital, sobretudo nos séculos XI e XII, suntuosos templos budistas em formato piramidal foram construídos. A arquitetura deles lembra algo visto na Índia e no Camboja. 

A pirâmides de Pagan possuem a pecularidade arquitetônica de serem em alguns casos, a junção de dois elementos da arquitetura budista: a estupa e o pagode, os quais ao serem combinados formam templos piramidais como o da imagem abaixo, que é o Pagode Shwesandaw, construído por volta de 1057 no reinado de Anawrahta (1014-1077). Observa-se que esse templo possui a estupa no topo, porém, seu corpo ao invés de ser uma tradicional torre de pagode, foi alargado, tornando-se uma pirâmide escalonada.

Pagode Shwesandaw, em Pagan, em Myanmar. 

templo de Thatbyinnyu é outro exemplo de templo-piramidal ou templo-montanha como é conhecido no Sudeste Asiático. Ele é o mais alto de Pagan, elevando-se a 61 metros, superando até mesmo Dhammayanagyi. Esse templo foi erguido durante o reinado de Sithu I (r. 1112-1167), se desconhecendo quando tempo levou sua construção, mas estima-se que tenha ficado concluído por volta de 1150. Assim como outros templos suntuosos de Pagan, Thatbyinnyu era um primor arquitetônico e ornamental. Ele chegou a ser reformado e restaurado nos séculos seguintes. Atualmente é aberto a visitação, embora não tenha atividades religiosas regulares. 

O templo Thatbyinnyu em Pagan, no Myanmar. 

O templo Dhammayanagyi foi construído de acordo com as crônicas locais, no século XII, entre os anos de 1167 e 1170, por ordem do rei Narathu, o qual governou por esse período. Embora já houvessem templos piramidais anteriores como o de Ananda e outros menores. Em seu auge, o templo Dhammayanagyi era suntuoso, possuindo altos-relevos, dezenas de estátuas, algumas feitas até de ouro, além de pinturas e murais. No entanto, atualmente esse templo é patrimônio protegido, tendo algumas partes interiores ruído, além de não ser usado regularmente para atividades religiosas. 

O templo de Dhammayanagyi, foi o maior da antiga cidade de Pagan, em Myanmar. 

Pirâmides astecas (c. 1400)

Não se sabe quando os Astecas surgiram, eles era um dos povos que falavam a língua nahualt, e se chamavam de Mexicas. Porém, toltecas, zapotecas, maias também usavam esse idioma. Além disso, os Astecas somente ganharam destaque na Mesoamérica a partir do século XIV, quando eles fundaram sua capital Tenochititlan no lago Texcoco, o qual foi aterrado e hoje se localiza a Cidade do México, capital do país. Sendo assim, é difícil saber por onde viveram os mexicas antes de fundarem sua capital e criarem um império (ou confederação). Entretanto, os melhores exemplares que temos de pirâmides desse povo, datam do período imperial (1300-1521). 

A pequena pirâmide de Santa Cecilia Acatitlan, em Tlalneplanta de Baz, no México. 

A maioria das pirâmides astecas ficavam situadas na capital Tenochititlan, as quais foram destruídas. Logo, poucas pirâmides desse povo sobreviveram, como é o caso de Acatitlan, datada talvez do século XV. No entanto, o melhor exemplar de pirâmide asteca que temos, o qual poderia remeter as que existiam na capital, fica situada em Tenayuca

A pirâmide de Tenayuca teria sido construída no começo do século XVI. 

Tenayuca era uma cidade sob domínio tolteca, mas foi conquistada pelos astecas no século XV. Sua única pirâmide restante, possui 15 metros de altura, 62 metros de comprimento e 50 metros de largura. Seu padrão deveria ser similar as pirâmides de topo plano vistas em Tenochitlan, embora elas fossem mais altas, como descritas pelos cronistas espanhóis, em cujas edificações sacrifícios humanos eram feitos, ofertando-se sangue e o coração.  

Maquete de como teria sido o templo maior na capital asteca de Tenochtitlan. 

Torres piramidais na Índia (c. 1400)

A cidade de Hampi fica situada na Índia, e no final da Idade Média e começo da Idade Moderna, foi a capital do Império Vijayanagara ou Reino de Bisnaga (1336-1646), que governou o centro-sul da Índia. Esse império foi bastante próspero, tendo durado mais de trezentos anos, fazendo negócios comerciais com os portugueses, ingleses e holandeses. Devido a riqueza conseguida pelo comércio com os europeus e outros povos, Hampi ganhou várias obras públicas, como palácios, fontes, praças, jardins, mercados e seus templos, os quais no auge eram centenas deles. 

O Templo de Virupaksha, em Hampi, na Índia. 

O templo de Virupaksha originalmente era um pequeno santuário datado do século IX ou X, porém, durante o domínio do império Vijayanagara, ele foi ampliado, tornando-se uma torre piramidal com 50 metros de altura. Em seu interior existem câmaras, além de que o templo possuí centenas de estátuas e painéis em alto-relevo, elementos típicos da arquitetura e ornamentação hinduísta-budista. Algo visto também no Camboja e na Indonésia. 

Em Hampi existiam outros templos neste estilo, a maioria bem menor. Alguns ainda hoje existem, onde pode se ver na fotografia acima, em que se nota dois menores. Porém, outros desses templos desabaram ou foram destruídos. Entretanto, existe outra cidade em que tal estilo de construção sobreviveu. Trata-se da cidade de Madurai, em Tamil Madu, situada no sul da Índia. Nesta cidade existem 14 templos piramidais, em ótimo estado de conservação e ainda são coloridos, como se fazia no passado. 

Os templos piramidais coloridos em Madurai.

Os templos são dedicados a divindades distintas do panteão hindu, possuindo centenas de estátuas. Todavia, o que impressiona são sua altura, em que eles variam de 40 a 50 metros, o seu colorido, e sua detalhada ornamentação com estátuas e painéis, os quais representava divindades, além de contar histórias religiosas e mitos. Tais templos piramidais foram construídos entre os séculos XVI e XVII, consistindo em exemplares mais recentes de pirâmides antes da Idade Contemporânea. 

Considerações finais:

Por esse breve estudo podemos conhecer como a construção de pirâmides foi algo que ocorreu entre diferentes lugares do mundo, apesar de estar centrada em determinadas áreas como a Mesopotâmia, Egito e a Mesoamérica, territórios onde concentram a maioria dessas edificação. Não obstante, a maioria das pirâmides eram templos dedicados para distintas divindades, apenas poucos povos a usaram para fins de tumbas, como foram os egípcios, núbios e chineses. 

Por outro lado, diferente do que se pensa, as pirâmides não são algo tão antigo como comumente se pensa. De fato, existem alguns exemplares que possuem mais de 4.500 anos, e até mais de 5 mil anos incluindo os zigurates. No entanto, as pirâmides foram construídas da Antiguidade mais remota até a Idade Moderna, em que temos pirâmides astecas, javanesas, cambojanas, birmanesas e indianas. 

Tais edificações apresentaram muitos estilos, apesar que ainda seguem o padrão básico como assinalado no começo do texto: tendo formato piramidal, topo plano ou sendo escalonado. Mas além da mudança de estilos arquitetônicos e de ornamentação, os materiais usados também variavam, desde terra e entulho, passando pelo calcário, tijolos de barro, pedras vulcânicas, adobe, entre outros tipos de rochas. E vale ressaltar que muitas dessas edificações foram pintadas ou receberam revestimento. As pirâmides egípcias recebiam revestimento branco; algumas pirâmides maias eram pintadas de vermelho; as pirâmides indianas eram coloridas etc. 

A quantidade de povos que construíram pirâmides é grande e não é totalmente conhecida. Neste estudo enumeramos os sumérios, acadianos, babilônios, assírios, elamitas, egípcios, núbios, gregos, chineses, olmecas, totonacas, toltecas, zapotecas, maias, astecas, javaneses, cambojanos, indianos, birmaneses, povo de Caral, os nazcas e os tiacauanos. Entretanto, existem casos de pirâmides que foram construídas no que hoje é o México, e se desconhece os povos que as fizeram, até mesmo sua datação é incerta. No caso de países que se encontraram pirâmides, estes são: Iraque, Egito, Sudão, Grécia, China, México, Guatemala, Belize, El Salvador, Peru, Bolívia, Estados Unidos, Índia, Camboja e Indonésia. Na Itália e no Líbano também tivemos pirâmides documentadas, mas até onde se sabe, não foi uma tradição construí-las, consistindo mais em projetos ocasionais. 

Em amarelo os países com tradição em construir pirâmides. A Itália e o Líbano ficaram de fora, pois só foram achadas uma pirâmide apenas.

Cronologia de algumas pirâmides famosas (as datas são aproximadas):

  • 3300-3100 a.C: Zigurate do Templo Branco de Uruk
  • 2660-2640 a.C: Pirâmide escalonada do faraó Djoser
  • 2620-2600 a.C: Pirâmide Vermelha do faraó Seneferu
  • 2580-2560 a.C: Grande Pirâmide de Queóps
  • 2520-2494 a.C: Grande Pirâmide de Quefrén
  • 2500-2100 a.C: Pirâmides da cidade de Caral
  • 2300-2100 a.C: Zigurate de Ur
  • 750 a.C: Pirâmide do rei Cuxita da Núbia
  • 400-100 a.C: Pirâmide de terra em La Venta
  • 300-200 a.C: Pirâmides da Argólida na Grécia
  • 300-100 a.C: Grande Pirâmide de Cholula
  • 230-210 a.C: Tumba do imperador Qi Shi Huangdi
  • 200-1 a.C: Pirâmide de Hermel no Líbano (uma torre com pirâmide)
  • 100-1 a.C: Pirâmides maias de Uaxactun
  • 18-12 a.C: Pirâmide de Céstio em Roma (um pequena tumba)
  • 100-200: Pirâmides nazcas em Cuahachi
  • 100-200: Pirâmide do Sol em Teotihuacán
  • 100-300: Pirâmides zapotecas em Monte Albán
  • 200-250: Pirâmide da Lua em Teotihuacán
  • 500-600: Pirâmide de Kukulcán em Chichen Itzá
  • 500-600: Pirâmide Huaca Puclluna em Lima
  • 500-600: Pirâmide de Akapana em Tiwanaku
  • 650-700: Pirâmide I de Tikal
  • 800-900: Templo de Borobudur em Java
  • 800-1200: Pirâmide dos nichos em El Tajín
  • 900-1000: Pirâmides toltecas de Tula
  • 928-941: Templo de Shiva em Koh Ker
  • 900-1000: Pirâmide de terra de Monks Mound
  • 1057: Pagode Shwesandaw
  • 1167-1170: Templo de Dhammayanagy
  • 1250: Templo do Sol em Konorak, na Índia
  • 1400-1500: Pirâmides de Tenochitlan
  • 1400-1500: Torres piramidais de Hampi
  • 1437: Templo de Sukuh em Java
  • 1620-1650: Templo Meenkashi Amman
Pirâmides contemporâneas
  • 1976: Pirâmides de vidro do Conservatório Muttart no Canadá
  • 1983: Slovak Radio Building na Eslováquia (uma pirâmide invertida)
  • 1989: Pirâmide do Louvre em Paris
  • 1991: Museu Nima Sand no Japão
  • 1991: Memphis Pyramid nos EUA
  • 1993: Hotel Cassino Luxor em Las Vegas, nos EUA
  • 1995: Rock n' Roll Hall of Fame nos EUA
  • 1997: Sunway Pyramid Shopping Mall na Malásia
  • 2006: Centro Cultural Pirâmide da Paz e da Reconciliação no Cazaquistão
  • 2016: Residencial Via 57 West em Nova York

NOTA: No jogo Assassin's Creed Origins (2015) é possível escalar e explorar algumas das pirâmides de Saccara e Gizé. No entanto, o interior das pirâmides não corresponde a realidade, tendo sido recriado para o jogo. 

NOTA 2: Na década de 1970 surgiu a teoria de que havia pirâmides no Brasil, algo sugerido pelo jornalista e escritor Karl Brugger (1941-1984) que publicou o livro Crônica de Akakor (1976), uma suposta cidade perdida na Amazônia brasileira, que conteria pirâmides. A Revista Veja de 1 de agosto de 1979, publicou matéria comentando sobre supostas colinas no estado do Amazonas, serem pirâmides. Todavia, tal teoria proposta por Brugger nunca foi comprovada. 

NOTA 3: Em 1986 o geólogo submarino Masaaki Kimura e sua equipe, lançaram a teoria de terem encontrado próximo a ilha japonesa de Yonaguni, indícios de uma possível cidade misteriosa que teria existido há milhares de anos e foi submergida. Com o tempo, Kimura até sugeriu ter avistado o que poderia ser uma pirâmide escalonada. No entanto, muitos estudiosos contestaram suas afirmações, apontando se tratar de formação geológica, não vestígios de terraços e edificações. 

NOTA 4: Em 2005 o arqueólogo amador e empresário Semir Osmanagenic apresentou a teoria de que existiriam três gigantescas pirâmides de terra situadas em Visoko, na Bósnia-Herzegovina. Tais supostas pirâmides possuíriam mais de 200 metros de altura e teriam sido construídas na Pré-história, a pelo menos 35 mil anos atrás, como sugeriu Osmanagenic. Embora sua teoria tenha sido considerada falaciosa, ainda assim, turistas viajavam até Visoko para conhecer as supostas pirâmides bosnianas. 

NOTA 5: Em 2013 com o retorno das escavações em Gunung Padang, na ilha de Java, na Indonésia, surgiu a teoria de que o local que é sagrado, abrigando santuários e ruínas de templos, na verdade não seria uma colina natural, mas uma gigantesca pirâmide construída por milhares de anos, que poderia remontar até 25 mil anos atrás. De fato, a colina de Gunung Padang sofreu intervenção humana como se atesta pelas escavações, tendo se construído escadarias, templos e outras estruturas, porém, a teoria de que a colina seria uma pirâmide, não foi comprovada. 

NOTA 6: As chamadas Pirâmides de Güímar, na ilha de Tenerife, no arquipélago das Canárias, consistem em obras do século XIX, embora aparentem ser mais antigas. Porém, a ilha já era habitada por povos africanos, além de ter sido colonizada pelos espanhóis. Mas tais pirâmides não existiam anteriormente. 

NOTA 7: As pirâmides da Antártica são uma teoria antiga que suscitou terem sido construídas pelos atlantes, ou uma civilização perdida ou até mesmo por alienígenas. Todavia, tais supostas pirâmides são montes rochosos com centenas de metros de altura. Dependendo do ângulo que são fotografados, eles lembram o formato piramidal. 

NOTA 8: Pesquisas feitas nos últimos anos identificaram pirâmides de terra e vestígios de cidades em Llano de Mojos, na Bolívia, revelando a existência de mais pirâmides naquele país. As estruturas ainda não foram escavadas e se desconhece seu período e povo responsável. 

NOTA 9: O forte Morongo Uta na ilha de Rapa, na Polinésia Francesa é considerado por alguns como uma estrutura piramidal, mas os arqueólogos não concordam entre si quanto a essa classificação. No século XV, várias fortificações foram erguidas na ilha por conta da guerra, Morongo Uta é uma das quais melhor resistiu ao abandono. 

NOTA 10: Em 2023 turistas que sobrevoavam os Montes Urais na Rússia, alegaram terem encontrado uma gigantesca pirâmide de terra e rochas, a qual teria 774 metros de altura. Geólogos e arqueólogos apontaram que se trata de um monte com aspecto piramidal, não uma estrutura construída. 

Referências bibliográficas:

BRASWELL, Geoffrey E. The Maya and Teotihuacan: Reinterpreting Early Classic Interaction. Austin: University of Texas Press, 2003. 

CHADWICK, R. Calendars, Ziggurats, and the Stars. The Canandian Society for Mesopotamia Studies Bulletin, Toronto, 1992, p. 7-24. 

COE, Michael D; KOONTZ, Rex. Mexico: From the Olmecs to the Aztecs. New York: Thames & Hudson, 1994. 

FILER, Joyce. Pyramids. Oxford: Oxford University Press, 2007. 

KUMAR, Sehdve. A thousand petalled lotus: Jain temples of Rajasthan: architecture & iconography. New Delhi: Indra Gandhi National Centre of Arts, 2001. 

LEHNER, Mark. The complete pyramids: solving the ancient mysterie. New York: Thames & Hudson, 1997. 

LEVI, Jean. The Chinese Emperor. Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 1987. 

PROTZEN, Jean-Pierre; STELLA, E. Nair. On Reconstructing Tiwanaku Architecture. Journal of the Society of Architectural Historians, vol. 59, n. 3, 2000, p. 358-371.

MIKSIC, John. The Mysteries of Borobudur. Hong Kong: Periplus, 1999. 

OPPENHEIM, A. Leo. Ancient Mesopotamia. Chicago: University of Chicago Press, 1977. 

ROONEY, Dawn F. Angkor: Cambodia's wondrous khmer temples. S.l: Odissey, 2005. 

SHADY, Ruth. Caral-Supe, la civilización más antigua de América. Lima: Proyecto Especial Arqueológico Caral-Supe/Instituto Nacional de Cultura, 2006.

SKELE, Mike. The Great Knob. Studies in Illinois Archaeology, n. 4, 1988. 

SMITH, Michael E. Aztec city-state Capitals. Gainesville: University Press of Lorida, 2008.  

SOEKMONO, R. Candi: symbol of the Universe. In: MIKSIC, John. Ancient History. Singapura: Archipelago Press, 1996. 

THEODOSSIU, Efstratios; MANIMANIS, Vassilios; DIMITRIJEVIC, Milas S; KATSIOTIS, Marco. The pyramids of Greece: Ancient meridian observatories? Bulgarian Astronomical Journal, v. 16, 2011.