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Leandro Vilar

sábado, 31 de maio de 2025

O pão de açúcar

Entre o século XII e o XIX o açúcar era produzido e vendido em algumas partes do mundo através de fôrmas chamadas de pão de açúcar. Apesar do nome, tais recipientes possuíam um formato cônico que variava de tamanho e peso. Havendo inclusive dois tipos de pães de açúcar: os usados na produção de açúcar e o usados na sua venda. O presente texto comentou um pouco a respeito desse icônico recipiente, hoje em dia raramente usado. 

Não se sabe exatamente quando o pão de açúcar surgiu, os registros escritos mais antigos conhecidos remontam ao século IX com o escritor árabe Al-Zubayr ibn Bakkar (788-870), o qual mencionou cones de açúcar em seu livro Al-Akhbar al-Muwaffaqiyyat. Por sua vez, as fôrmas mais antigas de pão de açúcar encontradas, datam do século XII, tendo sido achadas na Jordânia. Logo, credita-se que os árabes possam ter inventado essa prática de usar pães de açúcar. (DEERR, 1950). 

Os quais a transmitiram para outros povos os egípcios, bizantinos, cretenses, sicilianos, portugueses e espanhóis. Condição essa que a partir desses outros povos, passou-se a ter conhecimento dessa forma de produzir e armazenar açúcar, apesar que na Europa medieval o consumo de açúcar fosse baixo devido a ser uma especiaria bastante cara, praticamente produzida em poucas localidades do Mediterrâneo como a ilha de Creta(BENDINER, 2004, p. 65).

Todavia, com o despontar a indústria açucareira europeia na Idade Média, começando com os portugueses, que após séculos de colonização arábio-moura desenvolveram a cultura canavieira e aprenderam o fabrico de açúcar, condição essa que, em meados do século XV, Portugal em suas colônias atlânticas na Madeira, Açores e Cabo Verde, já possuía engenhos de açúcar em atividade. Assim, a produção açucareira era vendida no país e o excedente exportado para outras nações europeias. Por essa época, era possível encontrar nos grandes mercados, a venda de açúcar, fosse em potes, caixinhas, sacos ou na forma de pão de açúcar. 

Manuscrito francês do século XV mostrando uma fôrma de pão de açúcar e dois pães de açúcar. 

Dessa forma, no século XVI a presença de pães de açúcar se encontrava comum não apenas nos mercados europeus, mas principalmente nos engenhos portugueses, espanhóis e franceses, pela África Ocidental e na América Latina. O pão de açúcar não apenas servia para moldar o açúcar deixando na forma de cone, mas esse recipiente fazia parte do processo de purgação, a etapa final da produção açucareira que consistia em: extrair o caldo da cana, ferver e coá-lo várias vezes para remover as impurezas e transformá-lo em um melaço cristalizado, para depois colocar essa substância nos recipientes do pão de açúcar, deixando-os na casa de purga, onde permaneceriam uma ou duas semanas secando, para se tornar o açúcar. (OLIVEIRA, 2025, p. 32-33). 

A ilustração acima mostra esse recipiente do pão de açúcar, com um líquido amarronzado escorrendo de sua ponta, tratava-se do resíduo do melaço cristalizado, o qual poderia ser bebido na forma de garapa ou usado para se fazer o chamado "açúcar de panela", de coloração escura como o mascavo. (OLIVEIRA, 2005, p. 85-86). 

Inclusive é importante ressalvar que ao se quebrar o pão de açúcar, o açúcar situado a parte superior (a base do cone), era considerado de melhor qualidade, por isso chamado de açúcar branco fino, por sua vez, da metade da fôrma se extraia um açúcar de segunda categoria, nomeado de "redondo". Já da ponta do pão de açúcar restava o açúcar "baixo", de coloração amarronzada, quase sendo o açúcar mascavo. No entanto, vale ressalvar que essas categorias de açúcar branco: fino, redondo e baixo, não tinham uma coloração totalmente branca, mas acinzentada, pois o açúcar branco e cristalino que habitualmente consumismo hoje em dia, precisava ser refinado depois de extraído do pão de açúcar. (OLIVEIRA, 2025, p. 76-78). 

Um engenho de açúcar. Gravura de Phillipp Galle Zuckermülle, 1591. Na imagem podemos ver fôrmas de pão de açúcar. 

O uso de pães de açúcar como fôrma e formato de venda do açúcar se manteve ao longo dos séculos. Em imagens europeias é possível encontrar no século XIX, época na qual os engenhos começaram a entrar em declínio, ainda fazendo-se uso de fôrmas de pão de açúcar. Esse tipo de recipiente acabou sendo trocado no século XX com as mudanças no processo de fabrico de açúcar, que passaram a serem industrializados pelas fábricas ou usinas. 

Assim, atualmente algumas empresas ainda usam fôrmas de pão de açúcar não para a purga, mas para conceder o formato cônico ao açúcar, já que em países como Alemanha e Irã, o açúcar ainda é comercializado por algumas marcas nesse formato icônico. 

Pães de açúcar em exposição no Museu do Açúcar, em Berlim. 

NOTA: O Morro do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro, leva esse nome devido ao seu formato lembrar um pão de açúcar. O local é um importante ponto turístico da cidade e um dos mais visitados do Brasil. 

NOTA 2: Pão de Açúcar é o nome de uma cidade no estado de Alagoas, no Brasil, fundada em 1855. 

NOTA 3: A cidade do Funchal, na Madeira, em Portugal, tem em seu brasão de armas cinco pães de açúcar, uma referência a produção açucareira da ilha. 

NOTA 4: Durante a dominação holandesa da Capitania da Paraíba, no Brasil, entre 1634 e 1654, seu brasão possuía seis pães de açúcar, uma referência a qualidade do açúcar produzido naquelas terras. 

NOTA 5: Pão de Açúcar é o nome de um distrito da cidade de Taquaritinga do Norte, em Pernambuco. 

NOTA 6: No Brasil e em Portugal existem redes de supermercados chamadas de Pão de Açúcar. 

Referências bibliográficas:

BENDINER, Kenneth. Food in Paiting: from renaissence to the present. Hong Kong: Reaktion Books Ltd., 2004.

DEERR, Noël. History of Sugar, vol. 2. London, Chapman & Hall, 1950. 2v

OLIVEIRA, Leandro Vilar. Uma história a alimentação, volume 1. João Pessoa: IEXEA, 2025. 


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