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Leandro Vilar
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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A Batalha das Termópilas: Os 300 de Esparta

A Batalha das Termópilas foi um dos confrontos mais notáveis durante as guerras médicas realizadas pela campanha do rei Xerxes, O Grande ao invadir a Grécia entre os anos de 480-479 a.C. O conflito que durou poucos dias ganhou tons lendários a partir dos grandes feitos do rei Leônidas I e seus 300 espartanos, que supostamente teriam barrado o avanço de milhares de persas por 72 horas. O presente artigo analisa de forma breve essa importante batalha, mostrando a realidade por trás da lenda. Embora os espartanos estiveram presentes naquele desfiladeiros, eles não lutaram sozinhos. 

Introdução

As chamadas Guerras Médicas ou Guerras Greco-Persas foram um conjunto de conflitos transcorridos entre 499 e 449 a.C., entre algumas cidades-estados gregas e o Império Persa Aquemênida (550-330 a.C). Embora tenham durado cinco décadas, no entanto, os conflitos mais notáveis ocorreram durante os reinados dos reis Dario I, o Grande (522-486 a.C) e de seu filho Xerxes I, o Grande (486-465 a.C). Esses conflitos consistiram nas tentativas dos persas de invadir a Grécia no intuito de subjugar as cidades-estados. Projeto político-militar que se estendeu por décadas, já que os persas consideravam os gregos inimigos inconvenientes para seus projetos de dominar a Ásia Menor, o Mar Egeu e expandir-se para a Europa

Entre 499 a.C e 491 a.C. conflitos entre gregos e persas ocorreram na Ásia Menor e pelas Cíclades, havendo ações de retaliação dos persas. A situação piorou em 490 a.C quando Dario indignado com as constantes revoltas de colônias gregas, enviou uma força expedicionária para tentar invadir Atenas. A marinha persa aportou nas praias de Maratona, distante cerca de 42 km ao norte de Atenas. Lá os gregos já aguardavam o desembarque das tropas persas, estando eles sob liderança do general Milcíades. Os persas acreditavam que seria uma vitória fácil, mas sofreram uma dura derrota. Essa foi tão significativa que o rei Dario desistiu de enviar novo ataque a Grécia. 

Dez anos se passaram sem novas campanhas contra os gregos, até que o rei Xerxes após estabilizar seu governo, decidiu retomar o projeto de seu pai de invadir a Grécia. Assim, o monarca reuniu um poderoso exército e o enviou a Europa através do Estreito de Dardanelos, atravessando a costa sul do Bálcãs, adentrando pelas terras da Macedônia e da Tessália. Os macedônios e tessálios sem apoio, sucumbiram aos exércitos persas. Enquanto isso, uma grande frota persa também cruzava o Egeu. 

Embora o exército persa fosse poderoso, a ponto de historiadores como Heródoto falar em mais de 100 mil guerreiros, cidades-estados gregas como Atenas, Esparta, Corinto, entre outras estavam preparadas. Os atenienses após a vitória em Maratona começaram a criar fundos de financiamento para construir armadas e equipar exércitos, antevendo uma próxima invasão persa. Demorou uma década, mas o planejamento foi certeiro. 

Dessa forma, no norte da Grécia, após ocupar a Tessália, os exércitos persas desciam rumo ao centro do território grego, marchando ao largo da costa, onde eram vigiados pela frota. O rei Leônidas de Esparta decidiu interceptá-los no desfiladeiro das Termópilas, único caminho viável para um exército daquele tamanho percorrer, já que outras rotas eram mais estreitas e demorariam para contornar as montanhas. Vale ressalvar que boa parte do território grego é montanhoso. 

A Batalha das Termópilas

O nome Termópilas significa "portões quentes", um desfiladeiro costeiro ao largo do Golfo Malíaco que cruza uma região com fontes termais, por conta disso seu nome, estando situado 150 km ao norte de Atenas. No ano de 480 a.C. as Termópilas eram mais estreitas do que hoje em dia, já que houve recuo das águas o Golfo Malíaco devido a intervenções nos rios que desaguam nele, causando assoreamento. Assim, ao se visitar o local da batalha, ele é bem mais amplo atualmente. 

"CCI — Xerxes acampou em Mális, na Traquínia, e os Gregos perto do desfiladeiro, conhecido como desfiladeiro das Termópilas pela maioria dos habitantes da Grécia e das terras vizinhas. O exército dos bárbaros ocupava todo o terreno que se estende para o norte até Tráquis, e o dos gregos, a parte do continente voltada para o sul". (HERÓDOTO, 2009, p. 595). 

Mapa com a localização das Termópilas e outras localidades pelas quais o exército persa passou em 480 e 479 a.C.

Inicialmente Esparta esperava que Atenas e outras cidades-estados enviassem tropas para conter o avanço do exército persa, mas contratempos e desentendimentos, levaram Atenas e seus aliados a não partirem, assim, Esparta tomou a dianteira. Diferente da lenda que surgiu, a qual diz que somente 300 espartanos defenderam as Termópilas, na prática seguiu bem mais gente, a respeito Heródoto escreveu:

"CCII — As tropas gregas que aguardavam o rei da Pérsia nesse ponto consistiam em trezentos espartanos muito bem armados; mil tegeatas e mantineus; cento e vinte homens de Orcomenes, na Arcádia, e outros mil homens do resto da Arcádia; quatrocentos coríntios; dois flionteus e oitenta micênios. Essas tropas vinham do Peloponeso. Havia ainda vinte beócios, setecentos téspios e quatrocentos tebanos. CCIII — Além dessas tropas, haviam os Gregos convidado a tomar parte na luta todos os guerreiros dos Lócrios-Opontinos e mil focídios". (HERÓDOTO, 2009, p. 596). 

O historiador Heródoto de Halicarnasso apontou cerca de 7 mil guerreiros gregos pertencentes a diferentes cidades-estados e vilas, os quais tinham como principal general o rei Leônidas I de Esparta (540-480 a.C), notável monarca espartano, segundo o relato do historiador, o qual escreveu: 

"CCVI — Os Espartanos enviaram na frente Leônidas, com seus trezentos homens, a fim de encorajar com essa conduta o resto dos aliados e com receio de que eles abraçassem a causa dos Persas, vendo a lentidão dos primeiros em socorrer a Grécia. A festa das Cárnias impedia-os, então, de se porem em marcha com todas as suas forças, mas pretendiam partir logo após, deixando em Esparta apenas um pequeno número de soldados para guardar a cidade. Os outros aliados alimentavam o mesmo propósito, encontrando-se na mesma situação, pois chegara a época dos Jogos Olímpicos; e como não esperavam combater tão cedo nas Termópilas, tinham-se limitado a enviar um pequeno número de tropas de vanguarda". (HERÓDOTO, 2009, p. 597). 

Heródoto relatou que os espartanos devido as suas leis e tradições tiveram que adiar o envio do exército, assim, Leônidas foi na frente conduzindo sua guarda de 300 soldados. Porém, diferente do que se ver em produções de ficção histórica, os espartanos não foram os primeiros a chegar no campo de batalha. Outros gregos já estavam por lá acampados e aguardavam os reforços. O mesmo valia para os persas que acamparam mais ao norte. 

De acordo com o relato de Heródoto, o rei Xerxes não atacou de imediato. Convencido de que a superioridade de seu exército poderia afugentar os gregos, ele teria aguardado quatro a cinco dias, antes de mandar suas primeiras tropas para o ataque. Uma decisão que se mostrou errada, pois permitiu que os reforços gregos pudessem chegar e se preparar. 

Por sua vez, a quantidade de persas envolvidos é outro problema. Heródoto relatou que o rei Xerxes I teria enviado mais de 5 milhões de guerreiros para invadir a Grécia, um número tremendamente exagerado. Já o historiador Ctésias em seu livro Persica, sugeriu algo entre 800 mil a 1 milhão de homens. Estudiosos contemporâneos sugerem que o contingente do exército persa seria algo entre 120 a 300 mil guerreiros, ainda assim, um número elevado, mas compatível para os padrões da época. Porém, outro ponto deve ser sublinhado: não se sabe quantos soldados persas estiveram envolvidos na Batalha das Termópilas, já que parte das tropas seguiu com a marinha e por outros caminhos. 

Assim, o relato heroico de que 300 espartanos venceram milhares de persas, continua sendo lendário. Em parte isso se deve a interpretações da obra de Heródoto, o principal historiador grego que escreveu a respeito. Ele relatou que pelo menos 20 mil persas pereceram naqueles três dias de luta, um número bem elevado, se considerarmos que o contingente grego era de pelo menos 7 mil homens. Além disso, os 300 espartanos apesar da fama, não lutaram sozinhos. 

Mas como ocorreu essa batalha? Heródoto não conseguiu informações melhores que informassem pormenores do conflito, apenas citando alguns aspectos. Sabe-se que batalha durou três dias, tendo ocorrido por volta do mês de agosto de 480 a.C. Além disso, ali havia um muro (ou muralha) construído pelos fócios, o que ajudou a retardar o avanço dos persas. Em dois dias o exército grego venceu os persas, encurralando-os no desfiladeiro sem conseguir assaltar o muro e transpô-lo. Porém, eles encontraram uma alternativa: Elfiates de Mélis, um pastor de cabras, decidiu trair seu povo e foi ao encontro do soberano persa, contando a ele e seus generais que havia uma trilha pela montanha que permitia chegar a retaguarda do exército grego, para além do muro. 

"O atalho começa no Asopo, que corre pela abertura da montanha que tem o nome de Ánopéia, e termina na cidade de Alpena, a primeira do país dos Lócrios, do lado dos Málios, perto da rocha denominada Melampiges e da localidade dos Cercopes. É nesse ponto que a passagem se apresenta mais estreita. CCXVII — As tropas persas, tendo atravessado o Asopo, perto do desfiladeiro, caminharam durante toda a noite, tendo à direita os montes dos Eteus, e à esquerda os dos Traquínios. Já se encontravam no alto da montanha, quando o dia começou a clarear. Como já disse, achavam-se concentrados nesse ponto mil focídios muito bem armados, para defender seu país da invasão dos bárbaros e para guardar o atalho. A passagem inferior era defendida pelas tropas de que já falei, e os Focídios se haviam oferecido a Leônidas para guardar o atalho". (HERÓDOTO, 2009, p. 602). 

Heródoto relatou que os fócios foram atacados pelos persas, alguns recuaram e Leônidas os mandou irem embora para manter suas posições mais atrás. Por sua vez, os tebanos e os téspios decidiram permanecer e apoiar os espartanos. Lêonidas sabia que as chances de vitória estavam perdidas, mas não iria se retirar do campo de batalha. Assim, no amanhecer do terceiro dia de conflito:

"Xerxes fez libações ao nascer do sol, e, depois de haver esperado algum tempo, pôs-se em marcha na hora em que o mercado costuma estar cheio de gente, como lhe havia recomendado Efialtes. Descendo a montanha, os bárbaros e o soberano aproximaram-se do ponto visado. Leônidas e os gregos, marchando como para uma morte certa, avançaram muito mais do que haviam feito antes, até o ponto mais largo do desfiladeiro, já sem a proteção da muralha. Nos encontros anteriores não haviam deixado os pontos mais estreitos, combatendo sempre ali; mas neste dia, a luta travou-se num trecho mais amplo, ali perecendo grande número de bárbaros. Os oficiais destes últimos, colocando-se atrás das fileiras com o chicote na mão, impeliam-nos para a frente à força de chicotadas. Muitos caíram no mar, onde encontraram a morte, enquanto que inúmeros outros pereceram sob os pés de seus próprios companheiros. Os gregos lançavam-se contra o inimigo com inteiro desprezo pela vida, mas vendendo-a a alto preço. A maioria deles já tinha as suas lanças partidas, servindo-se apenas das espadas contra os persas". (HERÓDOTO, 2009, p. 604). 

Heródoto relatou que Leônidas e importantes espartanos realizaram grandes feitos de guerra, mas morreram em combate. Além disso, dois meios-irmãos de Xerxes, chamados Abrocomes e Hiperantes, morreram em combate. Heródoto prosseguiu dizendo que os gregos somente recuaram após quatro ataques para recuperar o corpo de Lêonidas, para que esse não fosse vilipendiado pelos persas. 

Lêonidas nas Termópilas. Jacques-Louis David, 1814. 

"A vantagem alcançada pelos gregos durou até a chegada das tropas conduzidas por Efialtes, quando a situação mudou favoravelmente aos persas. Os gregos recuaram para o ponto mais estreito do desfiladeiro. Em seguida, transpondo a muralha, mantiveram-se todos, exceto os tebanos, sobre a colina que se ergue à entrada do desfiladeiro e onde hoje se vê um leão de pedra erigido em homenagem a Leônidas. Os que ainda possuíam espadas, com elas se defendiam; os outros lutavam com as mãos limpas e com os dentes. Mas os bárbaros, atacando-os sem trégua, uns de frente, depois de haverem posto abaixo a muralha, e os outros por todos os lados, depois de os terem envolvido, aniquilaram-nos a todos". (HERÓDOTO, 2009, p. 605).

Consequências

Heródoto relatou que nem todos os gregos envolvidos morreram na ocasião. Uma parte foi feita prisioneira e outra fugiu. O plano de retardar o avanço persa por terra foi frustrante. Inclusive a marinha persa obteve vitória na Batalha de Artemísio. Por sua vez, com a vitória nas Termópilas, Xerxes avançou com seu exército através da Beócia e da Ática, indo invadir, saquear e incendiar Atenas, sendo considerado tal ato uma das piores tragédias para os gregos durante as Guerras Médicas. 

No entanto, apesar das consecutivas vitórias persas no ano de 480 a.C., ainda assim, o poderoso exército de Xerxes foi derrotado no ano seguinte: em terra na Batalha de Plateia e no mar na Batalha de Salamina. Consequentemente a lenda da bravura dos espartanos foi fomentada por eles se desenvolvendo ao longo do tempo. Poetas, escritores e historiadores escreveram sobre essa batalha, glorificando-a como um ato de bravura, força, determinação e honra. Embora os espartanos e seus aliados tenham perdido, a Batalha de Termópilas era cantada e ensinada como uma valiosa lição para que os guerreiros gregos nunca desistissem, mesmo estando em desvantagem diante de um inimigo poderoso. 

NOTA: O filme The 300 Spartans (1962) é a primeira produção audiovisual baseada na lenda das Termópilas. 

NOTA 2: O livro Portões de Fogo (1998) é um romance histórico sobre essa batalha, escrito por Steven Pressfield

NOTA 3: 300 (1998) é uma graphic novel em cinco volumes escrita por Frank Miller e desenhada por Lynn Varley

NOTA 4: O quadrinho de Miller e Varley inspirou os filmes 300 (2006) e 300: A Ascenção do Império (2014). A hq também inspirou o jogo 300: March to Glory (2007). 

NOTA 5: Espartalhões (2008) é uma paródia do filme 300. 

Referências bibliográficas

FIELDS, Nic. Termópilas 480 a.C. A Resistência dos 300. Ilustrações de Steve Noon. London, Osprey, 2010. 

HERÓDOTO de Halicarnasso. Histórias. Rio de Janeiro: W. M. Jackson Inc, [1950] 2009. 

Link relacionado

Xerxes: O Rei dos Reis