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Leandro Vilar

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Igreja no Brasil colônia

Este artigo é uma cortesia do meu amigo Eduardo M. I. Da Costa.


A história da Igreja no Brasil tem sua elaboração e organização iniciada ainda em Portugal, onde o Papa detinha o direito da evangelização das terras descobertas ou que iriam ser descobertas ainda, assim estabelecendo o regime de padroado que foi concedido desde 1456 para a Ordem de Cristo que possuía como seu grão-mestre o Infante Dom Henrique, O Navegador (ver foto). Foi apenas em 1514 que o Brasil, ainda despovoado, passou a ser controlada pela Diocese Funchal, que era sediada na Ilha da Madeira, criada por Leão X. Nos navios que aqui chegaram no descobrimento haviam frades, e foram os franciscanos que rezaram as duas primeiras missas no Brasil, mas apenas em 1549, com a vinda dos primeiros jesuítas, é que fica marcado o início da atividade religiosa organizada no Brasil. Em 1551, o Papa Júlio III (ver foto abaixo) instituiu o primeiro bispado no Brasil, tendo como primeiro bispo brasileiro Dom Pero Fernandes Sardinha.


Assim, após 38 anos subjugados a ordem Funchal, tornou-se uma Diocese separada, a Diocese de S. Salvador da Bahia de Todos os Santos. Até meados do século XVIII, o estado controla a atividade eclesiástica na colônia através do padroado, arcando com o sustento de Igreja. É o Estado que nomeia e remunera os párocos e bispos, além de controlar as sentenças e as execuções do tribunal da Inquisição. A vida religiosa na colônia brasileira era dividida basicamente em três preocupações básicas: a primeira era a catequização dos índios e a segunda, promover as necessidades espirituais da população e também cumprir tarefas sociais.

A tarefa de catequização era muito árdua devido a diversos empecilhos encontrados no Brasil, mas também era de extrema importância para a Igreja Católica, pois naquele período havia uma enorme preocupação relacionada ao aumento de seguidores convertidos ao catolicismo. Era preciso se adaptar a terra, ao clima. Para abordar os índios tinham que ensiná-los a desenvolver sua cultura, fazer com que eles compreendessem a fé em Cristo e principalmente pregar o Evangelho. Mesmo sendo pouco numerosos, os catequistas tiveram que aprender línguas novas, andar enormes distancias a pé, sem apoio do governo e também enfrentando a ambição dos colonos que viam os índios como presas fáceis para a escravização. Uma forma de ajudar na catequização dos indígenas foi à fundação de aldeias, encontradas nos subúrbios de Salvador, no Recôncavo baiano, em Porto Seguro, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo, em São Paulo, no Rio Grande do Norte e na Paraíba, onde os missionários dedicavam-se em tempo integral ao ensino das artes e também ao ensino da agricultura.


A vida espiritual da Igreja era expressa principalmente através de procissões na Semana Santa, Missa do Galo no Natal, nas festas de Nossa Senhora e também incentivavam a moral familiar. Também promovia a parte social que muitas vezes não era cumprida, ou até mesmo oferecida pelo Estado. Era a Igreja que comandava as poucas escolas existentes na colônia. As Irmandades e Confrarias eram organizadas com a finalidade de amparar e promover cultos entre elas. As Misericórdias (Santa Casa) colaboraram com o combate a doenças, epidemias e socorro aos acidentados e também ajudaram no desenvolvimento da medicina colonial. Socialmente a Igreja catequizava a população no Período Colonial.


Tanto as crianças, quanto os adultos recebiam essa catequização, preocupados principalmente com a formação dos lares regidos pela moral e fé cristã e também se preocupavam com os sermões dos pregadores. Negativamente, em muitas vezes a Igreja contribuiu para o afastamento da moral cristã, através da formação de “haréns domésticos” e também pela busca do poder e do dinheiro. Também contribuiu negativamente na escravidão, tanto ela sendo indígena (guerras justas) e também na escravidão negra.


Quanto à inquisição no Brasil colônia, esta nunca foi instalada burocraticamente no Brasil, os atos inquisitórios eram remetidos a Lisboa. O primeiro visitador do Santo Ofício chega à Bahia em Junho de 1591, o desembargador Heitor Furtado de Mendonça, toma algumas medidas como, nomear uma comissão inquisitorial, publicou um Auto-de-Fé, uma Carta de Graça para a cidade da Bahia e seus arredores e uma Carta Monitória que em um de seus trechos menciona práticas e cerimônias judaicas que deveriam ser confessadas ou denunciadas. Em Recife, o visitador Mendonça estabeleceu os órgãos e fez as promulgações, em Olinda e em alguns outros locais e paróquias, similares às realizadas na Bahia. Os relatos desta visitação mostraram que uma parte relevante da população branca era constituída de judaizantes que começaram a chegar no século XVI, e que eram, em sua maioria, homens de poder econômico.


Em 1618 a notícia da presença do Santo Ofício deixou a população em pânico. A falta de fé e de obediência certamente representava para o poder papal uma derrota no campo da conscientização e da formação de uma sociedade que deveria ser adepta aos preceitos católicos, o que facilitaria a centralização do poder estatal, que estava aliado à Igreja, na reconstrução do modelo de estado português na colônia. As práticas desregradas na colônia chegaram a ser tidas como doutrina, a idéia de que não existia pecado ao sul do equador, onde colonos e degredados viviam às fornicações, sodomia, adultérios e incestos. Esses comportamentos fizeram alguns acreditar que o próprio nome Brasil estaria associado a essa idéia, pois a figura da brasa quente como o inferno, vermelha como a madeira, produto que daria o nome ao país teria substituído o nome inicialmente adotado de “Terra de Santa Cruz”.


Somente após a posse de Sebastião José de Carvalho e Melo (conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal) (ver foto) para ocupar o cargo de primeiro-ministro foi possível observar uma mudança em relação à administração e também sobre as obrigações da igreja. A principal delas foi a expulsão dos jesuítas que tinha como objetivo principal aprofundar o controle sobre as regiões administradas pelos jesuítas. Essa expulsão gerou uma necessidade de uma profunda reforma no sistema educacional que antes era comandada pela Igreja. Outras medidas adotadas no período pombalino foram: a abolição da escravidão indígena, em 1757, e o fim da perseguição aos chamados "cristãos-novos", em 1773. É possível então observar que no Brasil a Igreja não apenas cumpria sua função religiosa, mas também estava inserida em questões políticas e muitas vezes cumpria o papel que o Estado deveria cumprir.



Referências Bibliográficas:

BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial – 3°ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2000.

LIMA, Maurílio Cesar de. Breve História da Igreja no Brasil. Rio de Janeiro: Restauro 2001.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira - Tomo I - A Época Colonial - Vol. II – 6° ed. São Paulo, Bertrand Brasil.

RIBEIRO, Darcy, e Neto, Carlos de Araujo Moreira. A fundação do Brasil: testemunhos, 1500 -1700, Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

BOXER, Charles Ralph. A igreja e a expansão ibérica (1440 – 1770), 70° ed.

HOORNAERT, Eduardo, A Igreja no brasil-colônia: 1550-1800, Vol. XLV, 2º ed. Editora Brasiliense, 1984.

VIANNA, Helío. História do Brasil: Período colonial e monarquia, Vol. II, 10º ed. Edições Melhoramentos, 1972.

BETHELL, Leslie. História da América Latina – Vol. I, EDUSP, 1997.

MARCILIO, Maria Luiza. Família, mulher, sexualidade e Igreja na história do Brasil, Edições Loyola, 1993.

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