Embora como historiador, eu não seja afeito a debates teóricos, no entanto, acabei por escrever essa postagem simples para comentar esses dois conceitos que há mais de uma década ainda não possuem um significado unânime para os historiadores, embora tenha aumentando o número de citações especificamente no que diz ao conceito de cultura histórica, devido ao atual cenário benfazejo do qual a história cultural vivencia.
Entretanto, até mesmo historiadores a nível de mestre e doutor, ainda não se sentem totalmente seguros quanto ao aumento do uso desses dois conceitos, pois os estudos sobre tal tema ainda são escassos, e a sua bibliografia nem sempre é fácil de ser entendida ou de agradável leitura, pois muitos historiadores compartilham da ideia de que teoria da história é algo chato e um assunto enfadonho.
Mas de qualquer forma, essa breve postagem surgiu a partir de algumas anotações que fiz há uns dois anos. Elas estavam com as ideias embaralhadas, então tive que organizar tudo. Porém, como meu estudo seu deu para um nível de conhecimento teórico mais alto, acabei por preferir retirar determinados debates e elementos contidos nas anotações, pois acabaria confundido o leitor de primeira viagem, ou o historiador ainda não familiarizado.
Por mais que alguns historiadores venham a dizer que tal texto se trata de uma representação simplista, a ideia é ser objetivo e claro, sem atentar a desenvolver um debate teórico mais profundo. Aos interessados por um maior nível de dificuldade ou por mais aprofundamento no assunto, recomendo começarem a ler as referências bibliográficas aqui utilizadas.
Sintética conceituação sobre cultura:
Antes de adentrar o comentário sobre os dois conceitos alvos desse estudo, é preciso comentar o significado da palavra cultura, que por sua vez já se apresenta como um tema ainda mais complexo, o que daria assunto para se redigir livros. No entanto, existe um caminho mais fácil para isso. Tanto em cultura histórica e cultura historiográfica, a palavra cultura é empregada de forma similar, pois o diferencial entre ambas se encontra no sentido de "histórico" e "historiográfico", os quais serão debatidos adiante de forma separada.
Logo, mediante a essa questão de certa familiaridade no sentido de cultura utilizado por ambos os conceitos, preferi apresentar um conceito de cultura breve, mas que respalde o sentido que aqui será visto. No entanto, é válido lembrar que a palavra cultura possui uma gama de interpretações, algo que o antropólogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006) apresentou em seu livro A Interpretação das Culturas (1973), que serviu de referencial para muitos historiadores, antropólogos, sociólogos, etc., nos anos 70 ao 90; e mais recentemente podemos mencionar o historiador britânico Peter Burke que em seu livro O que é história cultural? (2005) procurou sintetizar sua percepção sobre o conceito de cultura e história cultural, assuntos com os quais ele trabalha desde a década de 70.
“Compreendida como o conjunto da produção e reprodução da
existência humana, a Cultura se insere, pois, em duas dimensões sem as quais
não se realiza: o tempo e o espaço. E não se realiza, obviamente, sem um
agente: o Homem, em sociedade, cuja capacidade de ideação reflexiva (e não
reflexa) possibilita a mediação com a natureza, produzindo a segunda natureza
(Marx), ou a natureza culturalizada que, por sua vez, produz o Homem. Neste
processo, a Cultura se faz enquanto “um palimpsesto multiforme”, no dizer de
Carlos Antonio Aguirre Rojas porque inclui sistemas adaptativos, cognitivos e
simbólicos; implica na produção de artefatos materiais e simbólicos; envolve
múltiplos agentes; abrange a produção, circulação, transmissão e recepção dos
saberes e fazeres humanos; requer processos socializadores para a transmissão
das tradições e as elaborações criativas. Em síntese: é o conjunto das
experiências vividas pela Humanidade e os sentidos que os seres humanos dão ao
mundo”. (GODOY, 2007, p. 96).
Todavia, embora o conceito de cultura seja amplo, pois aborda noções referentes a produção material, produção intelectual, comportamento, gestos, representações, hábitos, simbolismos, ideologias, etc., para o estudo da cultura histórica e cultura historiográfica, podemos tomar cultura no sentido de ideias e representações.
Nesse caso, cultura histórica e cultura historiográfica seriam as ideias e representações que se tem sobre a História, as quais apresentam as noções de como um indivíduo, grupo ou sociedade pensavam e compreendiam a História ao longo do tempo. Tais ideias e representações estão conectadas com os aspectos sociais, políticos, culturais, ideológicos e religiosos de um povo, de uma época.
“Reinhart
Koselleck, ao discutir os limites e interinfluências existentes entre os
domínios da História dos Conceitos e História Social, oferece-nos importantes
orientações para uma melhor compreensão da procedência de conceitos ou
vocábulos. Para esse historiador alemão, o pesquisador que se dedica ao estudo
dos conceitos deve nutrir preocupações que ultrapassem os universos da análise
semântica ou lingüística, estabelecendo, também, como meta nas suas
observações, a análise da estrutura da sociedade. A situação política e social
onde emerge uma maneira de pensar ou escrever, as orientações que determinado
grupo, instituição, corporação ou nação alimentam sobre o presente, passado ou
futuro, os conflitos políticos e sociais em torno das batalhas semânticas que
tem por objetivo ordenar e classificar os conceitos (KOSELLECK, 2006: p.
100-103)”. (ALVES, 2009, p. 84).
A partir dessa percepção sabemos que as culturas não são imutáveis, mas pelo contrário, elas estão sujeitas a transformações e mudanças que decorrem ao longo das eras, logo, a noção que os gregos antigos tinham sobre a História, não era igual a dos cristãos medievais, ou a dos historiadores metódicos no século XIX.
Alves (2009) apresenta um quadro sintético do pensamento de Koselleck sobre o desenvolvimento da ideia de cultura no século XX. Por sua vez, Burke (2006) traça um relato mais profundo sobre o surgimento da história cultural e da visão sobre cultura, algo que ele apresenta nos dois primeiros capítulos de seu livro acima mencionado.
Alves (2009) apresenta um quadro sintético do pensamento de Koselleck sobre o desenvolvimento da ideia de cultura no século XX. Por sua vez, Burke (2006) traça um relato mais profundo sobre o surgimento da história cultural e da visão sobre cultura, algo que ele apresenta nos dois primeiros capítulos de seu livro acima mencionado.
“Pensar a cultura histórica é pensar
historiograficamente. Pensar a cultura histórica é atravessar os vários
momentos de cristalização historiográfica com a instauração de linhas mestras
interpretativas hegemônicas e hegemonizantes. É ser capaz de pairar sobre os
vários momentos historiográficos sem se identificar com nenhum deles em
particular e procurar entender por que aquelas linhagens interpelativas se tornaram
dominantes”. (ARRUDA, 2007, p. 25).
A cultura histórica e a cultura historiográfica por estarem inseridas nesse campo do pensamento, isso lhe garante uma flutuação constante, pois ideias e percepções se alteram com o tempo. Logo, estudar ou trabalhar com os conceitos de cultura histórica e cultura historiográfica é está ciente de que abordamos as concepções e representações de uma determinada época, local e sociedade acerca da História, de como ela seria escrita, estudada, pesquisada, compreendida, etc.
Cultura histórica:
A cultura histórica possui um sentido mais amplo do que cultura historiográfica, embora alguns historiadores considerem que ambos sejam sinônimos, compartilho da ideia de que não se tratam de sinônimos, mas de dois aspectos distintos, os quais ainda assim, possuem sua correlações. Podemos dizer que a cultura historiográfica seja um aspecto específico da cultura histórica, logo, ela estaria dentro do sentido de cultura histórica.
"Entendo por cultura histórica os enraizamentos do pensar historicamente que estão aquém e além do campo da historiografia e do cânone historiográfico. Trata-se da intersecção entre a história científica, habilitada no mundo dos profissionais como historiografia, dado que se trata de uma saber profissionalmente adquirido, e a história sem historiadores, feita, apropriada e difundida por uma plêiade de intelectuais, ativistas, editores, cineastas, documentaristas, produtores culturais, memorialistas e artistas que disponibilizam um saber histórico difuso através de suportes impressos, audiovisuais e orais". (FLORES, 2007, p. 95).
Por esse significado dado pelo historiador Elio Chaves Flores, podemos observar que a cultura histórica não estaria atrelada apenas a história ciência, a historiografia e a academia, mas consistiria também numa produção feita não apenas por historiadores e outros estudiosos, mas por pessoas leigas, as quais trabalham e pensam a história ao seu modo.
Logo, como Flores mencionou, a cultura histórica é pensada tanto no plano acadêmico pelo profissional que estuda a História, ou seja, o historiador, mas também por outros estudiosos como antropólogos, cientistas políticos, arqueólogos, sociólogos, filósofos, etc., mas a cultura histórica também consiste nas ideias e representações que se formam em diferentes espaços pela sociedade, em geral, por uma população leiga no sentido de se desconhecer as teorias do estudo da história.
Segundo o historiador Astor Diehl:
Enquanto nos séculos XIX e primeira metade do XX, período em que a racionalidade moderna exerceu plena hegemonia, os historiadores eram considerados como únicos agentes autorizados a discursarem acerca das representações do passado em torno da cultura, identidade e cidadania. Na segunda metade do século XX, da mesma forma que no início do século XXI, eles se veem desprovidos do monopólio de produção e difusão de uma cultura histórica, tendo que atuar interativamente com outros agentes.
"Entendo por cultura histórica os enraizamentos do pensar historicamente que estão aquém e além do campo da historiografia e do cânone historiográfico. Trata-se da intersecção entre a história científica, habilitada no mundo dos profissionais como historiografia, dado que se trata de uma saber profissionalmente adquirido, e a história sem historiadores, feita, apropriada e difundida por uma plêiade de intelectuais, ativistas, editores, cineastas, documentaristas, produtores culturais, memorialistas e artistas que disponibilizam um saber histórico difuso através de suportes impressos, audiovisuais e orais". (FLORES, 2007, p. 95).
Por esse significado dado pelo historiador Elio Chaves Flores, podemos observar que a cultura histórica não estaria atrelada apenas a história ciência, a historiografia e a academia, mas consistiria também numa produção feita não apenas por historiadores e outros estudiosos, mas por pessoas leigas, as quais trabalham e pensam a história ao seu modo.
Logo, como Flores mencionou, a cultura histórica é pensada tanto no plano acadêmico pelo profissional que estuda a História, ou seja, o historiador, mas também por outros estudiosos como antropólogos, cientistas políticos, arqueólogos, sociólogos, filósofos, etc., mas a cultura histórica também consiste nas ideias e representações que se formam em diferentes espaços pela sociedade, em geral, por uma população leiga no sentido de se desconhecer as teorias do estudo da história.
“Entretanto, uma cultura histórica se evidencia quando as
categorias de clérigos, profissionais e leigos tomam para si a cruzada da vulgarização
e divulgação do que foi feito no passado, dando-lhe um sentido histórico. Avançamos,
pois, no sentido de que a cultura histórica não pode ser uma exclusividade da
narrativa dos historiadores, a historiografia. Ela tanto pode ser narrada pelo cronista,
jornalista, cineasta, documentarista ou memorialista. Trata-se da história sem
historiografia, mas que não prescinde do fato de que a narração de qualquer
feito tenha, pelo menos, as condições do sentido histórico, proposto por Rüsen:
“formalmente, a estrutura de uma história; materialmente, a experiência
do passado; funcionalmente, a orientação da vida humana prática mediante
representações do passar do tempo””.
(FLORES, 2007, p. 96).
Segundo o historiador Astor Diehl:
“Eu acho que cultura histórica tem a ver com a comunidade acadêmica, tem a ver com o próprio passado, tem a ver também com os historiadores não acadêmicos e assim por diante”. (CURY, FLORES, CORDEIRO JR, 2009, p. 226).
“Cultura histórica me parece também uma noção que tem
uma ampla vinculação com o debate da história como disciplina. Ou seja, a
própria constituição, ou as próprias mudanças da história como disciplina, dentro
dos seus devidos contextos. Nós abandonamos, quando falamos em cultura
histórica, um pouco a ideia de que apenas os historiadores profissionais têm a
ver com a produção de conhecimentos do passado. Quer dizer, esse exercício de reconstituição
do passado pode ser feito por uma gama enorme de profissionais ou de não
profissionais, como pode também ser feito naquele exercício mais simples de
cada um de nós quando nos lembramos do nosso próprio passado. Se eu me lembro
do meu passado e tento reconstituir esse passado, eu também diretamente estou
produzindo uma cultura histórica, mesmo que seja individual. Agora, como
historiador, estou fazendo algo a mais, estou argumentando, tentando argumentar
o mais próximo possível de uma racionalidade disciplinar, de uma racionalidade
acadêmica, e assim por diante. Isso não quer dizer que esse conhecimento
racionalizado pelos historiadores seja mais ou menos importante do que aquele
que é subjetivado individualmente ou por grupos sociais. Portanto, parece-me
que essa noção de tradição passa a ter um papel importante nesse debate”.
(CURY, FLORES, CORDEIRO JR, 2009, p. 226-227).
Enquanto nos séculos XIX e primeira metade do XX, período em que a racionalidade moderna exerceu plena hegemonia, os historiadores eram considerados como únicos agentes autorizados a discursarem acerca das representações do passado em torno da cultura, identidade e cidadania. Na segunda metade do século XX, da mesma forma que no início do século XXI, eles se veem desprovidos do monopólio de produção e difusão de uma cultura histórica, tendo que atuar interativamente com outros agentes.
E esses outros agentes provêm da literatura, pintura, fotografia, jornalismo, cinema, biografismo, folclorismo, memorialismo, patrimonialismo, e até de instituições menos informais, as quais possuem projetos de como contar a história de suas comunidades, de como representar suas vidas, suas histórias para a sociedade, pois a historiadora Joana Neves assinala que cultura também significa falar em identidade, logo, a forma de como se pensa e se representa a História, se relaciona com essa noção de pertencimento a um lugar, a um grupo, sociedade, país, etnia, religião, etc.
"A cultura histórica seria, assim, a
parte concreta de uma sociedade mais ampla, construída a partir de um conhecimento histórico que associa o
autoconhecimento da comunidade a uma visão crítica do processo histórico. A
autora acredita que a construção de uma
cultura histórica entrecruzada, entre o ensino de história e a comunidade,
seria imprescindível para a efetivação da cidadania" (NEVES, 2000/ 2001: p. 35-36).
Cultura historiográfica:
No que diz respeito a cultura historiográfica, seu conceito é mais restrito no sentido pelo fato de que a historiografia que significa "escrita da história" não se referir apenas a forma de como a história é contada (narrativa, quadro, crônica, memória, diário, etc.), mas hoje se considerada que a historiografia também diz respeito de como a História é estudada e pesquisada. E nesse âmbito passamos a falar de teoria da história e metodologia da história, e até mesmo de filosofia da história.
Logo, para alguns autores, a cultura historiográfica estaria mais próxima da realidade do ofício do historiador e do meio acadêmico, por esse sentido profissional, "científico" e teórico, do que estaria próxima de outros âmbitos sociais, os quais estão mais familiarizados com a cultura histórica.
Na concepção de Astor Diehl, a cultura historiográfica se definiria a partir de seis matrizes as quais representam seu sentido no todo. Tais matrizes representam características específicas que juntas formam a cultura historiográfica.
Logo, para alguns autores, a cultura historiográfica estaria mais próxima da realidade do ofício do historiador e do meio acadêmico, por esse sentido profissional, "científico" e teórico, do que estaria próxima de outros âmbitos sociais, os quais estão mais familiarizados com a cultura histórica.
"Assim, a Cultura Histórica guarda duplo sentido: um, genérico, enquanto produção pela História-processo; outro, mais específico,
como História-conhecimento, melhor
nomeada, talvez, de Cultura
Historiográfica. Portanto, toda Cultura Histórica contém uma Cultura
Historiográfica, esta última entendida como o conjunto das representações
formuladas sobre as experiências vividas pelas sociedades, os grupos sociais,
as pessoas, em uma perspectiva de temporalidade". (GODOY, 2007, p. 42).
Para a historiadora Rosa Godoy, cultura historiográfica não seria um
sinônimo de cultura histórica, mais uma parte desta, estando relacionada ao
estudo, pesquisa e escrita da História. Por sua vez, em sentido genérico, diz respeito em se tratar a História sem uma ênfase
científica do historiador, mas entender a História como um processo
ocasionado por distintos fatores, que marcam a cultura, a sociedade, o lugar e
a época.
Aqui poderíamos entender que a cultura histórica reúne a percepção
leiga da população sobre os acontecimentos históricos e sobre a realidade
presente, diferenciando-se da percepção erudita dos historiadores, que procuram
estudar mais a fundo os acontecimentos e a realidade vigente ou passada. Mas,
no fim, ambas as percepções ou visões, consistem na cultura histórica de uma
época, de um povo, de um território, daí ela ressalvar a importância da
representação social e da territorialidade nos estudos culturais, para se
compreender a cultura histórica.
Na concepção de Astor Diehl, a cultura historiográfica se definiria a partir de seis matrizes as quais representam seu sentido no todo. Tais matrizes representam características específicas que juntas formam a cultura historiográfica.
“Quando falamos de cultura historiográfica, nós estamos nos
referindo às matrizes paradigmáticas, às matrizes teóricas, estamos falando
também da história viva, seja ela individual, seja ela coletiva. Portanto, nós estamos
nos referindo principalmente aos referenciais documentais que, diga-se de
passagem, nós historiadores inventamos constantemente, nós reinventamos a nossa
documentação constantemente. Se eu digo que tem a ver com os referenciais
documentais, isso também quer dizer que a cultura historiográfica está muito
presente quando se fala, por exemplo, em pesquisa, ou seja, todos os nossos referenciais
de pesquisa. Cultura historiográfica tem a ver com os sujeitos históricos, tem
a ver com os grupos sociais, tem a ver com algo que poucas vezes chama a atenção,
tem a ver com tradições”. (CURY, FLORES, CORDEIRO JR, 2009, p. 226).
Astor Diehl atualmente é um dos historiadores brasileiros que mais estuda acerca da cultura histórica e da cultura historiográfica. Percebendo-se que a cultura historiográfica não é imutável, pois ao longo do tempo ela vai se alterando, Diehl a partir de sua tese de doutorado sobre o assunto, escreveu quatro livros os quais abordam o desenvolvimento da cultura historiográfica no Brasil, partindo do século XIX até os fins do século XX, onde pôde trilhar as mudanças teóricas, metodológicas, sociais e culturais sobre o estudo da História.
Peter Burke também fez algo similar ao se estudar o desenvolvimento da cultura historiográfica produzido pela Escola dos Annales na França, em seu livro A Escola dos Annales: A Revolução Francesa na historiografia.
Peter Burke também fez algo similar ao se estudar o desenvolvimento da cultura historiográfica produzido pela Escola dos Annales na França, em seu livro A Escola dos Annales: A Revolução Francesa na historiografia.
“Cultura historiográfica me parece
que tem uma vinculação mais direta com as estruturas narrativas, ou seja, as
estruturas narrativas contidas naquelas representações dos passados inventados
pelos historiadores. Quer dizer, me parece que há um patamar, existe um nível
diferenciador, e aqui não é negativo ou positivo, mas existe um nível diferenciador
da cultura histórica nesse contexto, pois quando se fala em cultura
historiográfica está se tratando do topoi interpretativo do conhecimento histórico. Por que o topoi é o espaço da experiência na qual
nós exercitamos um conjunto de estratégias para interpretar a própria cultura histórica,
individual ou coletiva, seja ela feita por profissionais da área ou feita por não
profissionais da área”. (CURY, FLORES, CORDEIRO JR, p. 227).
Nesse sentido notemos que cultura historiográfica por mais que faça parte da cultura histórica, e sofra influências e mudanças a partir do cenário social, político, econômico, cultural, etc., do momento, ainda assim, a cultura historiográfica esteve e ainda está mais relacionada ao estudo da História e a história como disciplina, onde se produz teorias, metodologias, reflexões, etc., as quais são feitas por historiadores, mas também por outros estudiosos, como antropólogos, sociólogos e filósofos.
Daí Diehl falar dessa associação com a "narrativa", pois enquanto a cultura histórica se espalha e se desenvolve através de outras mídias, a cultura historiográfica ainda esta atrelada a narrativa histórica, aos livros e artigos científicos. Por outro lado, a cultura historiográfica também procura analisar e compreender a cultura histórica, a qual se espalha mais facilmente pela sociedade. Por fim, ambas como já foi dito, estão atreladas a produção, compreensão, representação, estudo e entendimento sobre a História.
Referências bibliográficas:
ALVES, Fabricio Gomes. Entre a Cultura Histórica e a Cultura Historiográfica: implicações, problemas e desafios para a historiografia. Revista Aedos, n. 5, vol. 2, jul/dez 2009, p. 82-97.
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Cultura histórica: territórios e temporalidades historiográficas. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 25-31.
BURKE, Peter. O que é história cultural? Tradução Sérgio Goes de Paula, 2a ed, Rio de Janeiro, Zahar, 2008.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales 1929-1989: A Revolução Francesa da historiografia. Tradução de Nilo Odália. São Paulo, Editora Universidade Estadual Paulista, 1992.
CURY, Cláudia Engler; FLORES, Elio Chaves; CORDEIRO JR, Raimundo Barroso. História, teoria da história e culturas historiográficas:
Entrevista com Astor Antônio Diehl. Transcrição Alessandro Moura Amorim. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 21, jul/dez 2009, p. 219-232.
FARIAS, Ana Elizabete Moreira de. Cultura histórica, ensino de história e múltiplos saberes. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 22, jan/jun, 2010, p. 163-172.
FLORES, Elio Chaves. Dos feitos e dos ditos: história e cultura histórica. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 83-102.
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. A cultura histórica em representações sobre territorialidades. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 33-46.
ARRUDA, José Jobson de Andrade. Cultura histórica: territórios e temporalidades historiográficas. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 25-31.
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CURY, Cláudia Engler; FLORES, Elio
Chaves; CORDEIRO JR, Raimundo Barroso. Cultura histórica e historiografia: legados e contribuições
do século 20. João Pessoa, Editora universitária/UFPB, 2010.
DIEHL, Astor Antônio. Idéias de futuro no passado e cultura historiográfica da mudança. Revista História e Historiografia, n. 1, ago 2008, p. 45-70. FARIAS, Ana Elizabete Moreira de. Cultura histórica, ensino de história e múltiplos saberes. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 22, jan/jun, 2010, p. 163-172.
FLORES, Elio Chaves. Dos feitos e dos ditos: história e cultura histórica. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 83-102.
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. A cultura histórica em representações sobre territorialidades. Revista Saeculum, João Pessoa, n. 16, jan/jun 2007, p. 33-46.
2 comentários:
Foi muito instrutivo esse esclarecimento.
Que bom que tenha aproveitado o texto.
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