A mudança do paradigma econômico, a Revolução Industrial e a Positivação do Direito do Trabalho
Dr. Fernando Silveira Melo Plentz Miranda
1
Introdução
A
história da humanidade é dividida em Idades, sendo que quando um determinado
fato extremamente relevante ocorre, os historiadores identificam uma mudança de
Idade na história. Durante o período que compreende a Idade Média e a Idade
Moderna, o sistema econômico baseou-se intrinsecamente no modo de produção
feudal, o chamado feudalismo, em que a riqueza de uma sociedade e os modos de
produção estavam ligados à terra. Com a evolução técnica das sociedades
humanas, principalmente no continente europeu, novas tecnologias foram sendo
criadas, em maior velocidade na Idade Moderna, que culminou com a Revolução
Industrial ocorrida na Inglaterra no final do século XVIII.
A
Revolução Industrial, fomentada pelo espírito capitalista, modificou toda a
estrutura econômica e social da Europa e, por conseguinte, de todo o mundo. No
mesmo período histórico, ocorrera a Revolução Francesa, que forneceu um novo
paradigma político através dos ideais revolucionários de 1789, momento de
imensa ruptura política e social, sendo apontada pelos historiadores como fato
relevante que modificou a humanidade, em que a queda da Bastilha é apontado
como o momento histórico da mudança da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.
Novos modelos sociais, políticos e econômicos foram postos. Foi o surgimento do
liberalismo, político e econômico.
Estas
foram as bases políticas e econômicas para o surgimento e consolidação do
Estado burguês e liberal, em que todos os homens, em tese, seriam iguais. Contudo,
estes liberais de liberdade e igualdade criaram um paradoxo, de um lado enorme
desenvolvimento técnico e econômico, por outro, enormes desigualdades sociais,
em função da exploração do trabalho do homem pelo homem no modo de produção
industrial capitalista. Destas diferenças, lutas foram desenvolvidas, teses
foram criadas, que culminaram com a positivação do direito do trabalho, como
forma de proteção da classe proletária surgida após a Revolução Industrial.
Desta forma, o presente estudo apontará as origens do capitalismo e as suas
conseqüências.
2
A Servidão e a Produção no Feudalismo
O
modo de produção que se estabeleceu em toda a Europa durante a Idade Média era
baseada no trabalho serviu, em que os senhores da terra, e cada pedaço de terra
tinha um senhor, que constituíam os feudos, deixavam que os servos cultivassem
a sua terra. Os servos constituíam, portanto, a massa de pessoas que viviam em
uma determinada região e que cultivavam e criavam nas terras do senhor feudal,
sustentado o sistema econômico da época medieval. Os servos não eram
considerados escravos, contudo é certo que tendo em vista o estado miserável em
que a maioria deles viviam e a falta de perspectivas de mudanças, ficavam,
invariavelmente ligados à terra e ao destino do senhor feudal. Se este
decidisse vender suas terras, a posse e a propriedade do feudo seriam
transferidos a outro senhor, mas os servos lá permaneceriam.2
O
sistema de produção estava baseado no arrendamento da terra, em que a
propriedade do senhor feudal era dividida em faixas de terra, que eram
divididas entre o senhor e os servos que, evidentemente, seriam cultivadas
pelos servos. Portanto, os servos cultivavam as terras, tiravam delas a riqueza
em produtos agrícolas, entregando a colheita das faixas de terra do senhor
inteiramente para este e, com relação as suas plantações e colheitas, deveria o
servo pagar ao senhor, afinal, ele era o “dono” da terra.
Desta
forma, toda a economia medieval esta alicerçada na terra, de onde era extraído
a subsistência dos servos e a riqueza dos senhores feudais, “a terra produzia
praticamente todas as mercadorias de que se necessitava e, assim, a terra e
apenas a terra era a chave da fortuna de um homem.”3
As
aldeias feudais eram praticamente auto-suficientes, uma vez que praticamente
dos os bens necessários a subsistência das pessoas seriam produzidos nos
feudos, fossem alimentos, roupas ou pequenos objetos de consumo; os feudos
acabavam por fabricar e consumir seus próprios produtos, portanto, o comércio
entre os feudos e de maneira geral, era incipiente. Desta forma, a riqueza
acumulada pelos senhores feudais, bem como pela Igreja, não tinha destinação, a
não ser a acumulação de metais preciosos, tais como ouro e prata.
Contudo,
com os movimentos de grande e intenso trânsito de pessoas entre a Europa e a
Terra Prometida, em decorrência das Cruzadas, o comércio passou a ser cada vez
mais praticado e com volumes de transações cada vez maiores, com a constante
troca de mercadorias. As Cruzadas passaram a ser uma importante fonte de
mudança gradual na sociedade, em função dos aspectos políticos militares e
econômicos.4
Após
a conquista de Jerusalém pelos cavaleiros cruzados, em 16 de junho de 1098,
comandados por Godofredo de Bouillon, várias outras cidades foram conquistadas,
formando o feudo de Jerusalém. Como conseqüência marcante das Cruzadas (longo
processo histórico de tomada, perda e tentativas de retomada da Terra Prometida
pelos europeus), destacasse a morte de muitos nobres, a expansão do comércio e
a conseqüente ascensão da burguesia e a crescente centralização do poder real5
.
Com
o florescimento do comércio, as trocas começam a gradativamente fazer com que
as riquezas acumuladas e estagnadas nos feudos passem a circular, que pessoas
viajem levando e trazendo as mercadorias e que as pequenas aldeias comessem a
se tornar cidades. Com a formação das cidades, os seus habitantes passam a ser
comerciantes ou iniciam pequenas indústrias, com o objetivo de produzir produtos
que são cada vez mais consumidos. Por outro lado, surge a divisão do trabalho,
entre o campo e a cidade; entre as pessoas que vivem no campo e retiram os
produtos da terra e aqueles que vivem nas cidades e que, portanto, não cultivam
a terra, mas necessitam de alimentos ou matérias-primas que são extraídos da
terra. Com novas técnicas de produção e, principalmente, com novos mercados
para se consumir as colheitas, estas passaram a ser melhores e em maiores
quantidades, o que permitia que tanto o senhor quanto o camponês, vendessem o
excedente para as cidades. Assim, ambos lucravam, ou seja, ganhavam dinheiro,
sendo que os servos perceberam que, enfim, havia uma possibilidade de mudança
social, se ganhassem dinheiro após algumas colheitas, poderiam deixar o feudo e
se instalar na cidade como comerciantes ou abrir florestas a adquirir sua
própria terra. Diante deste novo paradigma social, iniciou-se um longo processo
de urbanização e acumulação de capital nas mãos não só dos senhores feudais,
mas também, dos comerciantes.6
Com
o crescimento das cidades, cada qual com a sua moeda, surgiu a necessidade de
troca de valores entre os comerciantes de diferentes regiões, para facilitar o
comércio. Deste movimento comercial, iniciou-se uma nova atividade, das operações
de câmbio, ou seja, de troca de moedas, que era uma prestação de serviço
realizado pelos cambistas, mais conhecidos por banqueiros, pessoas que exerciam
a atividade de receber e remeter dinheiro de uma cidade para outra7 . Deste
movimento de troca de valores entre as cidades em decorrência do comércio,
resulta a necessidade de se elaborar documentos de crédito, que mais tarde
seriam conhecidos como títulos de crédito, especialmente a letra de câmbio8 9 ,
o que ressalta a importância das transações comerciais entre as cidades e o
aumento de poder monetário e de influência que passam a ter os comerciantes, em
especial destaque para as cidades que exploram o comércio.
Com
relação a importância das cidades, principalmente os centros urbanos italianos,
destaca-se o seguinte comentário de John A. Hobson:
"O
surgimento do grande poder mercantil das cidades italianas indica claramente
uma origem – o ingresso da aristocracia agrária na vida urbana e nas ocupações
burguesas. Com o desenvolvimento de uma ordem mais bem estabelecida no país e
de hábitos de vida mais refinados e luxuosos, uma parte da nobreza agrária foi
estabelecer-se nas cidades, levando consigo seus registros de rendas e
comprando mais terras urbanas. Isso aconteceu especialmente com as camadas mais
jovens da nobreza, que, não estando mais inteiramente engajadas na terra,
buscaram a vida nas cidades. Essa fusão da nobreza agrária com a vida na cidade
surgiu mais cedo e mais livre nos Estados italianos e flamengos do que na
França ou Alemanha, e a quantidade maior de dinheiro trazida dessa forma para
as cidades, pela ‘monetização’ das rendas de suas propriedades, contribuiu, e
não pouco, para o desenvolvimento antecipado de grandes empreendimentos
comerciais, tendo à frente atacadistas italianos e flamengos".10
Durante
a Idade Média, a acumulação de capital ocorria basicamente pela soma de
quantidade em metais preciosos, ouro e prata, sendo certo que em função do
comércio entre a Europa ocidental e o Oriente, havia o envio sistemático destes
metais preciosos ao Oriente, como forma de pagamento das especiarias vindas
daquela região e consumidas pelos nobres europeus. Após a queda do Império
Bizantino, com a tomada de Constantinopla pelos muçulmanos, que culminou com o
fim da Idade Média e início da Idade Moderna, o comércio com o Oriente é
interrompido e, sem este comércio, inicia-se uma fase de acumulação de metais
preciosos nas mãos dos reis, nobres e, também, da Igreja11.
Assim,
o acumulo de metais preciosos objetivou, em um primeiro momento, a reserva de
fundos para a preparação da guerra, fosse defensiva, fosse agressiva, e também
para ser consumido no luxo de reis, nobres e no fortalecimento do poder da
Igreja. O acumulo de riqueza desta forma, não modificou a estrutura econômica
das sociedades européias, que permaneciam nos moldes do feudalismo (muito
embora a história tenha oferecido uma mudança de Era, da Idade Média para a
Idade Moderna), assim, mesmo diante da evolução social e do crescente e
paulatino aumento das cidades e da sua importância, a economia continuava
fundamentada no feudalismo, ligada a terra, posto que não se poderia falar em
capitalismo, pois o acumulo de riquezas e a produção estava concentrada nas
mãos de poucas pessoas e os produtos produzidos os eram realizados em pequenas
quantidades.12
3
Mudança do Sistema Econômico, o Surgimento do Capitalismo e do Estado Burguês
A
partir da Idade Moderna, em função da impossibilidade de comércio com o Oriente
uma vez que os caminhos conhecidos estavam interrompidos pelos muçulmanos,
houve a necessidade dos europeus descobrirem novas rotas de comércio, o que
gerou a descoberta do chamado Novo Mundo. Estas descobertas, somadas a outras
geraram o que, mais tarde, possibilitaria a mudança do sistema econômico, do
feudalismo para o capitalismo. Para tanto, seriam necessários, basicamente,
dois fatores, a saber: maior abertura de lucro através do comércio com o
conseqüente acumulo de capital13 na forma de metais preciosos e o aumento de
trabalhadores sem terra em áreas urbanas, para trabalho e consumo.14
As
riquezas minerais – ouro e prata – extraídas das minas européias, por si só não
conseguiriam gerar o acumulo de capital necessário para fomentar o capitalismo,
então era necessário que mais riqueza fosse retirada de algum lugar e enviado à
Europa. É neste cenário que o Novo Mundo contribui para a modificação do
sistema econômico, em que através da exploração e colonização de novas terras,
houve um crescente fluxo de riquezas para a Europa15 . Além disso, com novas
terras a serem exploradas, houve o aumento do comércio, uma vez que o Novo
Mundo, e mais tarde o Oriente, também estava no objetivo dos comerciantes, que
retiravam metais preciosos, exploravam os nativos e, em determinadas regiões
colonizadas, enviavam mão-de-obra escrava, tudo objeto de comercio.
O
outro fator preponderante para a mudança da estrutura econômica foi o
crescimento das cidades e, principalmente, o aumento da quantidade de pessoas
que lá viviam, notadamente os trabalhadores servis que não estavam mais ligados
a terra. Passaram a constituir uma massa humana que, não eram escravos, que não
eram camponeses, mas que viviam nas cidades e necessitavam trabalhar e consumir
produtos que eram produzidos no campo e nas indústrias que existiam no período
pré-Revolução Industrial16; todas estas pessoas, mais tarde, viriam a ser conhecidos
e chamados de proletários.
Contudo,
muito embora os requisitos descritos estejam presentes na sociedade da época,
outros fatores devem estar presentes para a mudança do paradigma econômico, ou
seja, da mudança do feudalismo para o capitalismo. Não basta que haja pessoas e
que estas vivam em cidades, é necessário que se incremente a produtividade
através de novas técnicas de produção e que, principalmente, a força social de
trabalho seja redistribuída, alterando o trabalho humano eminentemente da
agricultura para a indústria.17 Além disso, a teoria econômica capitalista, em
sua origem, sustenta que enquanto os mercados locais suprirem as necessidades
das pessoas, não haverá condições do desenvolvimento do capitalismo industrial,
uma vez que esta forma de produção somente poderá ser criada e mantida, diante
da produção em massa, que especifica e divide o trabalho, mantendo lucros
suficientes ao sustento da nova ordem econômica. Assim, o modelo social
deveria, como de fato foi, modificado, com o intuito de massificar a produção e
especificar o trabalho, gerando então uma situação de que uma comunidade não
conseguiria mais produzir todos os produtos que consumiria. Diante de todas
estas alterações da sociedade, ocorrido durante o processo histórico, a
burguesia aos pouco fora construindo as bases para a modificação do modo de
produção e, da mesma forma, criando um potencial mercado consumidor para os
produtos que mais tarde seriam produzidos em massa.18 19
No
mesmo período histórico, em fins da Idade Média e início da Idade Moderna,
inicia-se a formação das nações e do nacionalismo, o que gerou, no passar dos
séculos, a concentração de poder nas mãos das monarquias e a criação dos
Estados absolutistas.
Relevante
é o escrito de Leo Huberman:
"Surgiram
nações, as divisões nacionais se tornaram acentuadas, as literaturas nacionais
fizeram seu aparecimento, e regulamentações nacionais para a indústria
substituíram as regulamentações locais. Passaram a existir leis nacionais,
línguas nacionais e até mesmo Igrejas nacionais. Os homens começaram a
considerar-se não como cidadãos de Madri, de Kent ou de Paris, mas como da
Espanha, Inglaterra ou França. Passaram a dever fidelidade não à sua cidade ou
ao senhor feudal, mas ao rei, que é o monarca de toda uma nação".20
Da
mesma forma, importante ressaltar o escrito de Cláudio de Cicco:
"O
absolutismo não aceitava a soberania parcelada do feudalismo e considerava que
somente o rei era detentor da soberania, como chefe do Estado e senhor da
nação. Projetava-se inclusive no campo religioso, pela abolição dos privilégios
eclesiásticos, e no socioeconômico, pela supressão da maior parte dos
privilégios das Corporações de Artes e Ofícios, que na Idade Média formaram
poderosas associações de artesãos, inclusive com leis próprias".21
Dentre
os fatores que ajudaram no desenvolvimento do sentimento de nacionalidade, foi
a difusão de pensamento, uma vez que apenas a partir de Gutenberg22 o
conhecimento começa a ser multiplicado e em língua nacional, posto que até
então, o conhecimento estava restrito à Igreja e escritos em latim. Com o
fortalecimento dos Estados Nacionais e do nacionalismo23, as línguas e
bandeiras próprias (símbolos), ganham força, gerando um sentimento coletivo de
unidade24, controlado pelo poder do soberano.
Durante a Renascença, houve a rejeição dos
conceitos que vigoraram durante a Idade Média, buscando novos ideais
filosóficos, artísticos, religiosos, políticos, sociais e econômicos.
Notadamente no campo político, o poder se concentrava cada vez mais nas mãos do
soberano, do rei, nos Estados nacionais unificados. Em alguns paises,
principalmente na Inglaterra, o poder absoluto do rei fora aos poucos sendo
diluído, dividindo-se o poder entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo,
conceito central do parlamentarismo inglês; já em outros Estados,
principalmente na França, não houve tais concessões por parte dos nobres às
classes emergentes, especialmente a burguesia, que detinha o poder econômico,
que culminaria mais tarde com a Revolução Francesa. Na esfera econômica,
ganhava força a burguesia, uma vez que comandava o comércio e concentrava o
capital, oriundo dos lucros obtidos com o comércio e, também, com a indústria
da época. No âmbito social, ganhava importância as cidades, que funcionavam
como entrepostos comerciais e onde se baseavam as indústrias, além de
funcionarem como centro das atividades intelectuais.
Contudo,
até fins do século XVIII, embora as cidades crescessem, o mundo era
essencialmente rural, a maioria das pessoas nasciam, viviam e morriam no mesmo
local, não havia grande mobilidade social e territorial, sendo que em algumas
localidades européias, cerca de 90 a 97% da população era rural e, mesmo nas
que possuíam maior tradição urbana, a população rural variava entre 72 a 85%.25
Mas a continua mudança social gerou as bases do capitalismo, onde os novos
detentores do poder econômico, os comerciantes, formaram a base das revoluções
que viriam a surgir, principalmente a Revolução Francesa.
A
Revolução Francesa ofereceu o primeiro grande exemplo de nacionalismo e
originou o início da mudança do velho regime político europeu e também do
sistema econômico, influenciando todo o mundo, das Américas ao Oriente.
Nas
palavra de Eric J. Hobasbawn,
"A
Revolução Francesa foi a revolução do seu tempo, e não apenas uma, embora a
mais proeminente, do seu tipo. E suas origens devem portanto ser procuradas não
meramente em condições gerais da Europa, mas sim na situação específica da
França. Sua peculiaridade é talvez melhor ilustrada em termos internacionais.
Durante todo o século XVIII a França foi o maior rival econômico da
Grã-Bretanha. Se comércio externo, que se multiplicou quatro vezes entre 1720 e
1780, causava ansiedade; seu sistema colonial foi em certas áreas (como nas
índias Ocidentais) mais dinâmico que o britânico. Mesmo assim a França não era
uma potência como a Grã-Bretanha, cuja política externa já era substancialmente
determinada pelos interesses da expansão capitalista. Ela era mais poderosa, e
sob vários aspectos a mais típica, das velhas aristocracias monárquicas
absolutas da Europa. Em outras palavras, o conflito entre a estrutura oficial e
os interesses estabelecidos do velho regime e as novas forças sociais
ascendentes era mais agudo na França do que em outras partes".26
Percebe-se,
então que, a Revolução Francesa fora um movimento revolucionário nacionalista
que visava a modificação do velho regime por um novo, um movimento político
que, muito embora tenha tido líderes como Robespierre, Danton, Marat, entre
outros, era um movimento de cunho filosófico capitaneado pela burguesia
ascendente, ou seja, pelos detentores do capital que estavam descontentes com a
política monárquica em que estavam inseridos.27
A
partir da Revolução Francesa, formam-se as bases do Estado liberal, baseado na
legalidade, garantindo aos cidadãos o direito de não-interferência do Estado
nas suas relações, os chamados Direitos Humanos de primeira geração. Os
direitos de primeira geração são os primeiros a serem inseridos no texto
normativo constitucional, garantindo os direitos civis e políticos, tendo por
titular as pessoas e sendo oponíveis ao Estado, “enfim, são direitos de
resistência ou de oposição perante o Estado”.28 Além disso, a base teórica da
Revolução Francesa consagra a soberania e a formação da nação29, embasada no
liberalismo de que “todos são iguais”.
O
princípio da liberdade demonstrou na sociedade uma posição antagônica, pois, a
partira da Revolução Francesa, se de um lado todos passaram a ser considerados
iguais pela lei, por outro esta liberdade gerou o individualismo30, típico do
sistema liberal, com reflexos legais e econômicos.
Esta
liberalidade, aliada a legalidade, consolidou a formação do Estado burguês,
pois permitiu que a classe social ascendente, que detinha o capital e os meios
de produção, tivesse condições de proteger os seus direitos, notadamente os
direitos de propriedade.
Sobre
o princípio da legalidade e as suas conseqüências, assevera Eros Roberto Grau:
"A
legalidade, ainda, por outro lado, enquanto garantidora das liberdades do
indivíduo (liberdades formais), prospera não apenas no sentido de prover a sua
defesa contra o arbítrio do Estado, mas instrumenta também a defesa de cada
indivíduo titular de propriedade contra a ação dos não-proprietários. Sobre
tais pressupostos é erigido o Estado burguês de direito, ao qual incumbe
tutelar as instituições básicas do comércio jurídico burguês, especialmente o
contrato e a propriedade".31
Diante
do período histórico que compreende o final da Idade Média e ao longo de toda a
Idade Moderna, foram sendo realizadas profundas mudanças nos campos social,
político e econômico em todo o continente europeu, culminando com o
liberalismo, político e econômico, ou seja, com a formação dos Estados
nacionais e consolidação do capitalismo como forma do sistema econômico
preponderante.
4
A Revolução Industrial e o Liberalismo Econômico
O
processo de industrialização na Europa não era nenhuma novidade em meados do
século XVIII, contudo, a indústria e a produção eram limitados por questões
tecnológicas, posto que a força motriz dos meios de produção eram
essencialmente humana ou animal. No momento em que o intelecto humano consegue
conceber máquinas não necessitem de força humana ou animal, as máquinas a
vapor, a história estava sendo escrita e uma nova revolução “explodia”, a
chamada Revolução Industrial.
Sobre
este momento, Eric J. Hobsbawn narra:
"O
que significa a frase ‘a revolução industrial explodiu’? Significa que a certa
altura do década de 1780, e pela primeira vez na história da humanidade, foram
retirados os grilhões do poder produtivo das sociedades humanas, que daí em
diante se tornaram capazes da multiplicação rápida, constante, e até o presente
ilimitada, de homens, mercadorias e serviços. Este fato é hoje tecnicamente
conhecido pelos economistas como a ‘partida para o crescimento
autosustentável’. Nenhuma sociedade anterior tinha sido capaz de transpor o
teto que a estrutura social pré-industrial, uma tecnologia e uma ciência
deficientes, e conseqüentemente o colapso, a fome e a morte periódicas,
impunham à produção. A ‘partida’ não foi logicamente um desses fenômenos que,
como os terremotos e os cometas, assaltam o mundo não-técnico de surpresa. Sua
préhistória na Europa pode ser traçada, dependendo do gosto do historiador e do
seu particular interesse, até do ano 1000 de nossa era, se não antes, e
tentativas anteriores de alçar vôo, desajeitadas como as primeiras experiências
dos patinhos, foram exaltadas com o nome de ‘revolução industrial’ – no século
XIII, no XVI e nas últimas décadas do XVII. A partir da metade do século XVIII,
o processo de acumulação de velocidade para partida é tão nítido que
historiadores mais velhos tenderam a datar a revolução industrial de 1760. Mas
uma investigação cuidadosa levou a maioria dos estudiosos a localizar como
decisiva a década de 1780 e não a de 1760, pois foi então que, até onde se pode
distinguir, todos os índices estatísticos relevantes deram uma guinada
repentina, brusca e quase vertical para a ‘partida’. A economia, por assim
dizer, voava".32
É
certo que a Revolução Industrial desenvolveu-se primeiramente na Grã-Bretanha,
onde foram desenvolvidas as primeiras máquinas a vapor e, consequentemente, as
primeiras fábricas que iniciaram a produção em massa de bens de consumo. Desta
forma, o capitalismo e a produção industrial em massa foram implementados e
desenvolvidos na Grã-Bretanha e, logo depois, em alguns outros países europeus
e nos Estados Unidos da América, de uma forma avassaladora. Com o
desenvolvimento do capitalismo, o conceito de riqueza também é modificado;
antes, o nível de riqueza de uma nação era medido pela acumulação de metais preciosos
ligados ao comércio exterior; após, prosperam as teses de Adam Smith, que ligam
a riqueza a objetos úteis que podem ser produzidos por uma determinada
sociedade, referindo-se a qualidades físicas ou concretas dos objetos,
tornando-os necessários as atividades humanas, sendo que para a teoria
econômica clássica, a forma de obtenção da riqueza dá-se pelo trabalho, ou
seja, pelo esforço humano para obter tais objetos. 33
A
produção em massa do período da Revolução Industrial em seguida, encerra o antigo
modelo de produção fundado na vinculação do produto à terra, o sistema
econômico feudal, que persistiu até então. Com a criação das grandes indústrias
e da larga produção, a forma de produzir e comercializar é alterada, cidades
produzem um tipo de objeto, outras cidades produzem outros objetos e, assim, há
a necessidade do incessante comércio entre locais diferentes e, muitas vezes,
longínquos uns dos outros, surgindo então a figura do atravessador34 . Além
disso, os centros urbanos industrializados passaram a concentrar a oferta de
postos trabalho, uma vez que os detentores do capital – burgueses – que
investiam na construção das fábricas, acabavam por escolher determinadas
regiões em função dos fatores de produção35 .
Estes
fatos são preponderantes para a consolidação do liberalismo econômico, em que
todos os meios de produção – inclusive o trabalho humano – são colocados a
serviço da produção em massa e da acumulação do capital, independentemente de
qualquer outro fator.
Respaldado
pelo liberalismo político e pelo princípio da legalidade consubstanciado na
criação normativa que protegia a propriedade e os contratos, o liberalismo
econômico desenvolve-se, e, assim como o liberalismo político, gera um reflexo
negativo na sociedade, que é o individualismo.36 Desta maneira, o liberalismo
econômico e o liberalismo político complementam-se37, auxiliando-se mutuamente
na formação e sedimentação da sociedade urbana industrial européia e
norte-americana, que se desenvolveram desde então, sem cessar, após a Revolução
Industrial, com imensos avanços tecnológicos e produtivos demonstrados nos
últimos dois séculos, com reflexos mundiais.
5
O Surgimento do Proletariado e a Subordinação nas Relações de Trabalho
No
século XIX o mundo havia mudado radicalmente, como nunca antes na história da
humanidade. Os fatores de produção haviam mudado, a produção em massa era o
padrão e os países europeus que se industrializaram primeiramente, assim como
os Estados Unidos da América, detinham a grande produção industrial de produtos
úteis ao homem, ou seja, conseguiam produzir objetos que tinham valor em si
mesmos, dadas as suas características.
Da
mesma forma, o trabalho havia mudado. Antes da revolução industrial, a produção
estava ligada a terra e a maioria das pessoas viviam como servos no campo. Mas,
com as mudanças socais e a urbanização crescente das cidades em virtude da
industrialização, uma nova categoria de pessoas surgiram, os proletários. Estes
viviam nas cidades e se sujeitavam a trabalhar nas fábricas porque precisavam
dos salários para sobreviver. É certo que o contingente humano aumentava nas
cidades, posto que no campo, as novas tecnologias de produção bem como a
divisão das terras, haviam acabado de vez com o modelo de produção feudal. Nas
cidades, as máquinas substituíam muitos homens na produção38, uma vez que eram
extremamente eficientes e velozes em comparação ao trabalho humano, e, em
função deste fato, os proletários deveriam ter longas jornadas de trabalho em
condições que, atualmente, seriam consideradas degradantes.39
Diante
da industrialização e do capitalismo ascendente, os homens que detinham o
capital, passaram a explorar os homens que não o detinham, podendo estes vender
apenas a sua força de trabalho física. Assim, o proletário de difere do servo,
e até mesmo do escravo, como descreve Friedrich Engels:
"O
escravo é vendido de uma vez para sempre; o proletário é forçado a venderse
diariamente, de hora em hora. Todo escravo, individualmente, propriedade de um
só dono, tem assegurada a sua existência, por mais miserável que esta seja,
pelo próprio interesse do amo. O proletário, por seu turno, é propriedade da
classe burguesa; assim, não tem assegurada a sua existência – seu trabalho só é
comprado quando alguém tem necessidade dele. A existência só é assegurada à
classe operária, não ao operário tomado individualmente. O escravo está à
margem da concorrência; o proletário está imerso nela e sofre todas as suas
flutuações. O escravo conta como uma coisa, não é membro da sociedade civil; o
proletário é reconhecido como pessoa, componente dessa sociedade.
Consequentemente, embora o escravo possa ter uma existência melhor, o
proletário pertence a uma etapa superior de desenvolvimento social e situa-se,
ele próprio, a um nível social mais alto que o escravo. Este se liberta,
quando, de todas as relações da propriedade privada, suprime apenas uma, a
escravatura, com o que, então, torna-se um proletário; em troca, o proletário
só pode libertar-se suprimindo a propriedade privada em geral".40
Deve-se
salientar que, durante o sistema feudal, o servo que vivia nas terras do
senhor, permanecia vinculado a terra independentemente de quem fosse o titular
do feudo, como também lhe era permitido cultivar uma determinada quantia que
seria sua. Portanto, o servo possuía certa liberdade, inclusive, obtendo algum
lucro quando se vendia a colheita da sua faixa de terra, logo, não havia
subordinação em uma relação de emprego, pois a relação era entre senhor e
servo.
Esta
lógica hierárquica fora completamente modificada pelo capitalismo industrial. A
introdução das máquinas de produção em massa no sistema produtivo, acabou com
todas as relações humanas que existiam nas relações de trabalho anteriores,
pois a máquina “deixou de ser o apêndice do homem para submetê-lo à sua fria,
implacável e despótica dominação”.41 O Homem passou a ser mero operador, pouco
importando as suas característicos ou o seu conhecimento, pois, afinal de
contas, que fazia o “trabalho” era a máquina, uma vez que a divisão do trabalho
simplificou tornou rotineira a produção. Portanto, o homem e a sua força de
trabalho física, passaram a ser consideradas como mero fator de produção,
podendo ser substituída a qualquer momento, levando, desta maneira, a
subordinação total e absoluta do proletário ao capitalista sem questionamentos,
para o acumulo de capital destes, aprofundando cada vez mais as diferenças
sociais42 .
Além
disto, em vista da divisão do trabalho e da sua operação rotineira, além dos
baixíssimos salários pagos aos homens, as mulheres e crianças passaram a
ingressar no mercado de trabalho industrial; pois elas conseguiam executar o
serviço junto as máquinas como operadoras e, também, se sujeitavam a receber
salários ainda mais baixos que os homens, aumentando os lucros do senhores do
capital. Esta situação gerou enormes problemas sociais, uma vez que as famílias
dos proletários começaram a ser desmembradas, pois todos estavam trabalhando.43
Um
reflexo sombrio da rápida urbanização e da crescente industrialização,
principalmente na Inglaterra do século XIX, foi o aumento da pobreza das
cidades. É de se destacar o seguinte comentário:
"A
rápida industrialização que acompanhou o processo de industrialização
capitalista, exerceu também uma influência considerável sobre o padrão de vida
da classe operária. Em 1750, somente em duas cidades na Inglaterra a população
alcançava 50.000 habitantes. Em 1850, 29 cidades com a mesma população. Em
meados do século XIX, aproximadamente de cada três pessoas, uma vivia numa
cidade com mais de 50.000 habitantes. As condições de vida nas cidades desta
época eram terríveis. (...) A violenta destruição do modo de vida tradicional
dos trabalhadores, a dura disciplina implantada sob o novo sistema fabril
combinada às condições deploráveis de vida nas cidades geraram muita
inquietação política, econômica e social".44
No
mesmo sentido:
"Quem
diz cidade de meados do século XIX diz ‘superpovoamento’ e ‘cortiço’ e, quanto
mais rápido a cidade crescesse, pior era em superpopulação. Apesar da reforma
sanitária e do pequeno planejamento que ali havia, o problema da superpopulação
talvez tenha crescido nesse período sem que a saúde ou a taxa de mortalidade
tenham melhorado, se é que não pioraram de fato. (...) As cidades ainda
devoravam suas populações, embora as cidades inglesas, na qualidade de mais
antigas da era industrial, estivessem próximas de se reproduzirem a si mesmas,
isto é, crescer sem a constante e maciça transfusão de sangue representada pela
imigração".45
As
condições de vida nas cidades eram terríveis. O trabalho, por assim dizer,
passou a ser desumanizado. Os proletários, como afirmara Engels, não eram
resguardados de nenhuma forma, não tinham direito algum, sequer eram “cuidados”
como os escravos. Os proletários estavam destinados a uma vida miserável46, a
obedecer e a aceitar a subordinação sem discussões. Contudo, o liberalismo
econômico e a exploração descontrolada do trabalho dos proletários por parte dos
capitalistas liberais burgueses, sofreria um questionamento, que iria modificar
as estruturas das relações de trabalho, bem como sociais e políticas do mundo
inteiro.
6
Lutas Sociais e a Ideologia Marxista
Na
primeira metade do século XIX reinou a exploração do trabalho proletário pelo
capitalismo liberal, conforme já descrito. Diante dos abusos cometidos, da
miséria em que os proletários estavam inseridos, várias vozes se rebelaram
contra esta situação, ou seja, iniciou-se um conflito entre o liberalismo e os
desejos de mudanças sociais, de um lado os capitalistas liberais e, em
antagonismo, os defensores favoráveis as reivindicações dos proletários. Era
certo que as tão proclamadas liberdade e igualdade apregoadas pela Revolução
Francesa não se concretizaram, não passaram de meras palavras sem sentido para
a maioria da população47 . Dentre os opositores ao capitalismo, o principal
expoente que se destaca é, sem dúvida, Karl Marx48, que em conjunto com
Friedrich Engels, elaboraram e publicaram, em fevereiro de 1848 em Londres, o
Manifesto do Partido Comunista49, oferecendo à sociedade a criação de um novo
sistema político e econômico para, em tese, substituir o capitalismo, a partir
da tomada do poder pelo proletariado organizado em um partido político
comunista.
Marx
e Engels afirmam que:
"Os
comunistas se distinguem dos outros partidos operários somente em dois pontos:
1) Nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os
interesses comuns do proletariado, independentemente da nacionalidade; 2) Nas
diferentes fases de desenvolvimento por que passa a luta entre proletários e
burgueses, representam, sempre e em toda parte, os interesses do movimento em
seu conjunto. Na prática, os comunistas constituem a fração mais resoluta dos
partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais;
teoricamente tem sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão
nítida das condições, do curso e dos fins gerais do movimento proletário. O
objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos
proletários: a constituição do proletariado em classe, derrubada da supremacia
burguesa, conquista do poder político pelo proletariado".50
Assim,
o Manifesto desenvolve o raciocínio da criação de um movimento político
eminentemente proletário, o partido comunista, para a defesa dos seus
interesses frente à exploração dos burgueses, que visam tão-somente o lucro e a
exploração humana. Salientam que a única forma de libertação dos “grilhões”
será a revolução proletária comunista, derrubando de forma violenta a ordem
social vigente, e implementando uma nova ordem política e econômica, o
socialismo e a nova sociedade proletária sem distinção de classes e despojada
de toda propriedade privada, derrubando desta maneira os capitalistas e as
classes dominantes.
Como
origem do comunismo, Marx identifica a evolução dos sistemas econômicos, que
eram bem distintos, sendo identificáveis quatro modos de produção: i) comunismo
primitivo; ii) escravismo; iii) feudalismo; iv) capitalismo.51 Ao definir estas
posições, Marx demonstrou que sempre houvera lutas de classes entre as minorias
que detinham os meios de produção (riqueza) e, de outro lado, uma maioria
explorada, sendo que o capitalismo seria o último destes sistemas econômicos,
pois doravante os proletários unidos estavam em condições de derrubar o sistema
econômico e instaurar uma sociedade desprovida de propriedades privadas e,
portanto, uma sociedade sem lutas de classes. Pela continuidade histórica dos
sistemas econômicos, o socialismo seria, então, a evolução natural pela qual a
humanidade passaria, afinal de contas, os proletários constituíam a maior
parcela da população e, doravante no seu tempo de vida, estariam instruídos
suficientemente para unirem-se e tomarem o poder.
O
ideal marxista elabora um conceito de que a vida humana em uma sociedade
capitalista seria insuportável, sendo que em determinado momento, os
proletários se revoltariam e criariam o novo sistema econômico e social. Para
tanto, Marx defendia a politização dos proletários, para o fortalecimento do
partido comunista, único realmente representante dos anseios proletários
desvinculado de toda a organização política em vigor até então. Defendia,
conseqüente, a ruptura do sistema político-social-econômico pela luta armada
revolucionária, como única forma de modificação do modelo liberal capitalista.
Tais
teses estão descritas na obra “O Capital”, redigida por Karl Marx e que merece
a seguinte transcrição:
"Com
efeito, para uma classe que não deverá a sua emancipação senão ao seu próprio
esforço, o primeiro passo para consegui-la é a sua formação em partido
conscientemente hostil aos seus opressores. Organização, independentemente de
todos os partidos burgueses, qualquer que seja a divisa destes, de todos os
condenados ao salário; de todos os que vêem a sua atividade subordinada no seu
exercício a um capital monopolizado pela minoria burguesa; organização da força
interessada em acabar com a sociedade capitalista; separação de classes em
todos os terrenos e guerra de classes para chegar à sua supressão; tal é a
razão de ser do partido operário".52
Percebe-se
que as teses que Marx desenvolveu, são um reflexo do momento histórico em que
ele estava imerso, dadas as condições sociais e econômicas as quais os
proletários estavam sujeitos, posto que não tinham, até então, nenhum direito
reconhecido pelo Estado. Diante do quadro social da primeira metade do século
XIX, as lutas de classes haveriam de existir invariavelmente, dadas as
terríveis condições de trabalho e de vida em que a maioria da população estava
submetida na Europa industrializada, bem como nos Estados Unidos da América. As
lutas ocorreram, os proletários de rebelaram, fizeram piquetes, greves e,
enfim, se sindicalizaram53, sempre buscando melhores condições de trabalho e de
vida. Inegavelmente, os ideais marxistas ajudaram a fomentar as lutas por
direitos sociais e políticos, oferecendo uma esperança de mudança para os
proletários.
7
Conquistas Sociais, Positivação dos Direitos do Trabalho e Dignidade Humana
O
século XIX fora marcado pela legislação (positivação) dos direitos liberais54, fruto
dos ideais da Revolução Francesa, como também pelo assentamento e consolidação
do modo capitalista industrial de produção. O liberalismo, político, social e
econômico que vigorou na época, suscitou rebeliões das massas proletárias, que
rogavam por direitos sociais.
Ainda
no século XIX, as sociedades exigiam uma evolução, pois é certo que as
liberdades individuais seriam para todos, mas a crítica que os socialistas
faziam era que tais liberdades proclamadas não tinham sentido, não adiantavam
da nada, uma vez que a maioria da população não tinha meios de exercê-la.55 O
primeiro direito social e econômico fora o do acesso ao trabalho, reconhecido
na Constituição Francesa de 1848, sendo, contudo, um direito ainda muito tímido
frente às necessidades dos proletários.
Os
direitos sociais e econômicos acabaram por ser positivados no século XX, em
decorrência de mais de um século de exploração e lutas sociais. As lutas dos
trabalhadores das indústrias, nos países industrializados, tornaram-se cada vez
mais organizadas e violentas, tanto por parte dos proletários, como por parte
das forças dos Estados, ao tentarem coibir as manifestações. Das lutas sociais
do século XIX, destacam-se a redução da jornada de trabalho, melhores condições
de trabalho e salários dignos, sendo que o momento histórico marcante das
reivindicações trabalhistas é o dia 1º de maio de 1886, quando os trabalhadores
de Chicago, EUA, que realizavam uma greve solicitando melhores condições de
trabalho, entraram em choque com a polícia e, durante o conflito, uma bomba
explodiu matando quatro manifestantes e três policiais.56
Diante
de todas estas lutas proletárias, os direitos sociais ganham força e contorno
ao longo do século XIX e, a partir do século XX, serão positivados, obrigando o
Estado a intervir como forma de proteger os desprotegidos economicamente.57
O
século XX marca a utilização da expressão “ordenamento jurídico”, como forma de
“dar unidade a um conjunto de normas jurídicas fragmentárias, que constituíam
um risco permanente de incerteza e de arbítrio”.58 O pensamento de Hans Kelsen,
ao teorizar o ordenamento jurídico, oferece as características essenciais do
que seja um ordenamento, como também hierarquiza as normas jurídicas de um
determinado Estado.
Uma
vez que os direitos sociais e econômicos acabam por serem positivados
taxativamente tão-somente no início do século XX, momento em que muitos Estados
passam por um período de constitucionalização dos seus direitos – em função de
término de guerras, de modificações de regimes de governo ou independência –
estes direitos passam a ingressar, também, o corpo do texto constitucional como
forma de garantia que tais direitos serão observados em sociedade. Deste
período, destacam-se os direitos sociais inseridos na Constituição Mexicana de
1917 e, principalmente, na Constituição de Weimar, na Alemanha, de 1919,59
sendo que, a partir de então, foi identificável um novo ramo do direito, o
Direito do Trabalho.60
No
Brasil, os direitos sociais e econômicos passam a ser positivados de forma
germinal, a partir da Lei que permite a organização sindical de 1903. A partir
de então, alguns direitos sociais passam a ser garantidos no país, sendo que o
primeiro momento marcante destes direitos está marcado na Constituição
Brasileira de 1934, que criou o primeiro grande instituto de seguro social,
como também instituiu as Juntas de Conciliação e Julgamento das relações de
trabalho. Várias normas esparsas foram sendo editadas versando sobre direitos
trabalhistas, o que levou o governo brasileiro, no dia 1º de maio de 1943,
aprovar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Todos estes direitos
trabalhistas e os demais que foram sendo reconhecidos ao longo do tempo,
aliados a todos os outros direitos sociais e econômicos, foram, por fim,
elevados à norma constitucional quando da promulgação da Constituição
brasileira no dia 5 de outubro de 1988.
8
Conclusão
Pelo
exposto ao longo do presente estudo, pretendeu-se demonstrar a mudança do
sistema econômico ocorrido nas sociedades, ocorrido a partir da Revolução
Industrial. Da mesma forma, verificou-se que ao mesmo tempo que os meios de
produção alteravam-se rapidamente, a Revolução Francesa forneceu a base teórica
de modificação política. Aliadas, ambas as Revoluções, modificaram
primeiramente a Europa e, depois, o mundo, fornecendo o que chamou-se de
liberalismo, político e econômico. Mostrou-se que, diante dos reflexos
negativos das sociedades liberais, surgiram os proletários e as lutas sociais,
dadas as brutais diferenças de vida e oportunidade demonstradas entre os que
detinham os meios de produção e os desvalidos de capital.
Por
fim, mostramos que o desenvolvimento dos direitos sociais e econômicos e, particularmente,
a positivação do Direito do Trabalho, ocorreu em virtude das lutas sociais e
dos anseios de mudança e segurança das pessoas que vivem em sociedade.
NOTAS:
2
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir Dutra. 20ª. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 15.
3
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir Dutra. 20ª. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 19.
4
Cláudio de Cicco defende a tese de que as Cruzadas não tinham interesse
econômico, uma vez que os europeus que se aventuravam na Terra Prometida,
deixavam seu lar com certa segurança e seguiam em direção a uma terra
longínqua, em um deserto tórrido embarcados em pequenos barcos que navegavam em
mares que se achava, na época, que acabaria de repente; o que os motivava
realmente era uma guerra de defesa contra os turcos que dominaram os países
árabes e ameaçavam Constantinopla e a própria Europa. DE CICCO, Cláudio.
História do pensamento jurídico e da filosofia do direito. 3ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2006, p. 73. Por outro enfoque, Leo Hubermann, defende a tese
econômica para as Cruzadas, apontando quatro aspectos relevantes se destacam
neste cenário histórico: i) a Igreja vislumbrou a possibilidade de transferir o
ímpeto guerreiro dos nobres europeus para longe do continente, criando um
inimigo comum a todos os europeus; ii) A Igreja poderia ampliar o seu poder em
novas terras e, para o Império Bizantino, com a sua capital em Constantinopla,
poderia ser a salvação da ameaça de ocupação pelos muçulmanos; iii) os nobres
europeus vislumbraram a chance de adquirir novas terras, para os jovens
herdeiros, dada a constante divisão de terras dos senhores aos seus
descendentes; iv) o crescente comércio capitaneado pelas cidades de Veneza,
Gênova e Pisa. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir
Dutra. 20ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 28.
5
DE CICCO, Cláudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito.
3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 75.
6
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir Dutra. 20ª. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 54.
7
MARTINS, Fran. Títulos de crédito. Letra de câmbio e nota promissória. 12. ed.
Rio de Janeiro, Forense, 1997. v. 1. p. 29.
8
As origens da Letra de Câmbio remontam o século XII antes de Cristo, que já era
utilizada pelos assírios, podendo ter sido utilizadas, inclusive, na Índia,
Grécia e Roma. Contudo, é na Idade Média que a letra de câmbio começa a ser
utilizada e difundida no comércio, sendo aperfeiçoada ao longo do tempo,
existindo três escolas que influenciaram o desenvolvimento deste documento de
crédito: a escola italiana que a utilizava na função de troca de moedas, a
escola francesa que a utilizava como forma de pagamento, e, a escola germânica
que a utilizava como verdadeiro título de crédito. GAMA, Ricardo Rodrigues.
Letra de câmbio e nota promissória. Leme: De Direito, 1999, p. 43.
9
Em junho de 1930, em Genebra, na Suiça, realizou-se uma convenção internacional
que adotou uma legislação uniforme para a letra de câmbio e a nota promissória,
sendo que o Brasil aderiu a esta convenção, com ressalvas, em agosto de 1942.
Desta forma, vigoram no país a Lei Uniforme de Genebra e, nas lacunas em função
das ressalvas, aplica-se o Decreto nº 2.044, de 1908, e também, em caráter
supletivo, o Código Civil. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial.
Direito de empresa. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 241.
10
HOBSON, John Atkinson. A evolução do capitalismo moderno. Tradução de Benedicto
de Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 9.
11
HOBSON, John Atkinson. A evolução do capitalismo moderno. Tradução de Benedicto
de Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 9.
12 HOBSON, John Atkinson. A evolução do
capitalismo moderno. Tradução de Benedicto de Carvalho. São Paulo: Abril
Cultural, 1983, p. 9.
13
“Capital designa os materiais necessários para a produção e comércio de
mercadorias. As ferramentas, os equipamentos, as instalações das fábricas, as
matérias-primas e os bens que participam do processo produtivo, assim como os
meios de transporte dos bens e o dinheiro – tudo isso é capital.” HUNT, E. K.;
SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Tradução de Jaime Larry
Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 34.
14
HOBSON, John Atkinson. A evolução do capitalismo moderno. Tradução de Benedicto
de Carvalho. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 12.
15
“Houve guerra, e finalmente Cortez, que havia perdido Tenochtitán, a
reconquistou em 1521. ‘E já não tínhamos escudos, já não tínhamos bordunas, e
nada tínhamos de que comer, já nada comíamos’. A cidade, devastada, incendiada
e coberta de cadáveres, caiu. ‘Com os escudos foi seu resguardo, mas nem com
escudos pode ser sustentada sua solidão’. Fernão Cortez havia-se horrorizado
ante os sacrifícios dos indígenas de Veracruz, que queimavam entranhas dos meninos
para oferecer a fumaça aos deuses; todavia, não houve limites para sua própria
crueldade na cidade reconquistada. ‘E toda a noite choveu sobre nós’. Mas a
forca e o tormento não foram suficientes: os tesouros arrebatados não
preenchiam nunca as exigências da imaginação, e durante muitos anos escavaram
os espanhóis o fundo do lago do México em busca do ouro e dos objetos preciosos
que os índios teriam escondido”. GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América
Latina. Tradução de Galeno de Freitas. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979, p. 31
16
“Recentes estudos precisaram que no século XV o número de inventos foi maior
que no século XVII. O uso da artilharia obrigou a impulsionar a produção do
metal. O primeiro alto forno data do século XV. A difusão do pensamento humano,
com a invenção da imprensa, o progresso da navegação, desempenharam um papel
não menos importante. Pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas de
comunicação ultrapassaram a técnica agrícola. É o começo de um processo que colocará
a indústria no primeiro plano do progresso. Na agricultura, a horticultura
(Itália, vale do Loire) e talvez na viticultura, conhecem algumas melhorias.
Mas o rendimento dos grãos não irá sentir um progresso antes do século XVIII, e
as colheitas continuarão a ser irregulares, com carestias periódicas. Em
contrapartida, o apelo comercial da industria têxtil faz com que a Inglaterra e
em Castela a criação de carneiros concorra com a agricultura e despovoe os
campos. É uma especialização que vai no sentido do capitalismo (produção para o
grande comércio, êxodo rural com vantagem para a as cidades, proletarização do
campesinato), mas que contribui para a diminuição da massa de alimentos para a
população.” VILAR, Pierre. A transição do feudalismo ao capitalismo. In: Do
feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. Theo Santiago (org.).
Tradução de Theo Santiago. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1988, p. 40.
17
HOBSBAWN, Eric J. A crise geral da economia européia no século XVII. In: Do
feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. Theo Santiago (org.).
Tradução de Celina Whately. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1988, p. 86.
18
Eric J. Hobsbawn nos informa que a produção de bens para o mercado de luxo já
ocorria desde o período da baixa Idade Média e persistiu desde então, pois os
senhores feudais e nobres consumiam tais produtos, que geravam muito lucro para
aqueles que produziam tais produtos, porém, o mercado era pequeno e restrito, o
que não possibilitaria a produção em massa e a consolidação do capitalismo.
HOBSBAWN, Eric J. A crise geral da economia européia no século XVII. In: Do
feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. Theo Santiago (org.).
Tradução de Celina Whately. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1988, p. 87.
19
“A produção capitalista, portanto, tinha que encontrar as formas de criar seus
próprios mercados de expansão. Exceto em casos raros e localizados, isso é
exatamente o que ela não podia fazer dentro de uma estrutura geralmente feudal.
Num sentido mais amplo, ela alcançou seus fins através da transformação da
estrutura social. O mesmo processo que reorganizou a divisão social do
trabalho, aumentou a proporção de trabalhadores não-agrícolas, diferenciou o
campesinato e gerou classes de trabalhadores assalariados, criou também homens
que dependiam, para satisfazer suas necessidades, de compras à vista – ou seja,
criou clientes para os produtos.” HOBSBAWN, Eric J. A crise geral da economia
européia no século XVII. In: Do feudalismo ao capitalismo: uma discussão
histórica. Theo Santiago (org.). Tradução de Celina Whately. 3. ed. São Paulo:
Contexto, 1988, p. 109.
20
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir Dutra. 20ª. ed.
Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 79.
21
DE CICCO, Cláudio. História do pensamento jurídico e da filosofia do direito.
3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 109.
22
Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg foi um inventou e gráfico alemão
que, por volta de 1439, criou e introduziu a imprensa mecânica, permitindo a
impressão por tipos móveis, produzindo cópias muito mais rápidas de livros, que
até então, eram copiados manualmente. Desta forma, os livros e jornais se
tornaram mais baratos e disponíveis em grandes quantidades, proporcionando que
um maior número de pessoas tivessem ao seu alcance informação e cultura.
Disponível em:
http://www.museutec.org.br/linhadotempo/inventores/johann_gutemberg.htm ;
acesso em 03 de maio de 2011.
23
“Não foi tarefa pequena reduzir os privilégios monopolistas de cidades
poderosas. Nos países em que elas eram realmente fortes, como na Alemanha e
Itália, somente séculos depois se estabelecia uma autoridade central com poder
bastante para controlar tais monopólios. É essa uma das razões pelas quais as
comunidades mais poderosas e ricas da Idade Média foram as últimas a atingir a
unificação necessária às novas condições econômicas. Em outros territórios,
embora algumas cidades resistissem a essa limitação de seu poderio, indo ao
ponto de lutarem, o ciúme e o ódio impediram que se unissem contra as forças
nacionais reunidas – e, felizmente para elas, foram derrotadas. Na Inglaterra,
França, Holanda e Espanha, o Estado substituiu a cidade como unidade de vida
econômica.” HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Tradução Waltensir
Dutra. 20ª. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1984, p. 84.
24 “(...) Portugal procurou conciliar o ideal
religioso herdado da Idade Média com a ‘razão de Estado’ trazida por Maquiavel
e o Renascimento, através da idéia de uma comunidade nacional coesa, em que a
religião cristã entrava como um dos fatores preponderantes, à qual se
subordinavam os interesses do Estado.” DE CICCO, Cláudio. História do
pensamento jurídico e da filosofia do direito. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006,
p. 96.
25
HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Tradução de Maria
Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007, p. 28.
26
HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Tradução de Maria
Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007, p. 86.
27
“A Revolução Francesa não foi feita ou liderado por um partido político ou
movimento organizado, no sentido moderno, nem por homens que estivessem tentar
levar a cabo um programa estruturado. Nem mesmo chegou a ter ‘líderes’ do tipo
que as revoluções do século XX nos tem apresentado, até o surgimento da figura
pós-revolucionária de Napoleão. Não obstante, um surpreendente consenso de idéias
gerais entre um grupo social bastante coerente deu ao movimento revolucionário
uma unidade efetiva. O grupo era a ‘burguesia’; suas idéias eram do liberalismo
clássico, conforme formuladas pelos ‘filósofos’ e ‘economistas’ e difundidas
pela maçonaria e associações informais. Até este ponto os ‘filósofos’ podem
ser, com justiça, considerados responsáveis pela Revolução. Ela teria ocorrido
sem eles; mas eles provavelmente constituíram a diferença entre um simples
colapso de um velho regime e a sua substituição rápida e efetiva por um novo”.
HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Tradução de Maria
Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. 21. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007, p. 90.
28
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 23. ed. São Paulo:
Malheiros, 2008, p. 563.
29
“A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em seu art. 3º,
proclamava: ‘O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação’. A
soberania, a efetividade da força pela qual as determinações de autoridade são
observadas e tornadas de observação incontornável mesmo por meio de coação, não
estando sujeitas a determinações de outros centros normativos, residira, nos
séculos anteriores, no senhor territorial ou no rei. Essa forma bastante concreta
e personalíssima de simbolizar o centro único de normatividade assinalava uma
operacionalidade bastante limitada na organização do poder político. Ora, a
substituição do rei pela nação, conceito mais abstrato e, portanto, mais
maleável, permitiria a manutenção do caráter uno, indivisível, inalienável e
imprescritível da soberania (Constituição francesa de 1791) em perfeito acordo
com o princípio da divisão dos poderes que, por sua vez, daria origem a uma
concepção do poder judiciário com caracteres próprios e autônomos (‘O poder
judiciário não pode em nenhum caso ser exercido pelo corpo legislativo, nem
pelo rei’ – art. 1º, cap. V) e com possibilidade de atuação limitada (‘Os
tribunais não podem se imiscuir no exercício do poder legislativo, nem suspender
a execução das leis – art. 3º, cap. V).” FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio.
Introdução ao estudo do direito. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 72.
30
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 27. ed. São
Paulo: Saraiva, 2001, p. 284.
31
GRAU, Eros Roberto. O direito posto e o direito pressuposto. 2ª ed. São Paulo:
Malheiros, 1998. p. 84.
32
HOBSBAWN, Eric J. A Era das revoluções: Europa 1789-1848. 21. ed. Tradução
Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2007, p. 50.
33
SANTOS, Raul Cristovão dos. De Smith a Marx: a economia política e a marxista. In: GREMAUD, Amaury Patrick (et al). Manual de economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2004, p. 68.
34
“Produzir mercadorias para um mercado pequeno e estável, onde o produtor
fabrica o artigo para o freguês que vem ao seu local de trabalho e lhe faz uma
encomenda, é uma coisa. Mas produzir para um mercado que ultrapassou os limites
de uma cidade, adquirindo um alcance nacional, ou mais, é outra coisa inteiramente
diferente. A estrutura das corporações destinava-se ao mercado local; quando
este se tornou nacional e internacional, a corporação deixou de ter utilidade.
Os artesãos locais podiam entender e realizar o comércio de uma cidade, mas o
comércio mundial era uma coisa totalmente diversa. A ampliação do mercado criou
o intermediário, que chamou a si a tarefa de fazer com que as mercadorias
produzidas pelos trabalhadores chegassem ao consumidor, que podia estar a
milhares de quilômetros de distância.” HUBERMAN, Leo. História da riqueza do
homem. 20ª ed. Tradução Waltensir Dutra. Rio de Janeiro, Zahar, 1984. p. 119.
35
Os suprimentos de mão-de-obra não são uma consideração decisiva na localização
das empresas produtivas. Outros fatores na produção (matérias-primas, energia,
capital) variam em importância para a localização, conforme o tipo de produção
e as condições tecnológicas e de transporte e, normalmente, pesam mais na
decisão do que a disponibilidade de mão-de-obra, que se supõe ser razoavelmente
indiscutível – os trabalhadores em potencial simplesmente respondem às
oportunidades de emprego, surgindo onde se fazem necessários. Além disso, pelo
menos num sistema de livre empresa, o trabalho é o fator na produção que não é
reunido a expensas do empregador. Por conseguinte, a migração em resposta a
diferenças em atividades e oportunidades econômicas é uma característica quase
universal da industrialização.” MOORE, Wilbert E. O impacto da indústria.
Tradução de Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar, 1968, p. 98.
36
“A preocupação fundamental dos primeiros economistas do tempo de Adam Smith era
a noção do interesse individual como força motriz da economia. A partir daqui,
formulava-se o conceito geral de um sistema econômico impelido por uma energia
que lhe era própria, e estimulavam-se os seus movimentos, modelados por leis
econômicas que a economia política clássica revelou e estabeleceu numa obra sem
paralelo. Tal como na conhecida frase de Hegel, ‘das ações dos homens resulta
algo diferente daquilo que eles conscientemente quiseram e pretenderam’”. DOBB,
Maurice. Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith. Tradução de Álvaro
de Figueiredo. Lisboa: Presença, 1973, p. 55.
37 “Se a economia do mundo do século XIX foi
formada principalmente sob a influência da revolução industrial britânica, sua
política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. A
Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferrovias e fábricas, o explosivo
econômico que rompeu com as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo
não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções e a elas deu suas idéias,
a ponto de bandeiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o
emblema de praticamente todas as nações emergentes, e a política européia (ou
mesmo mundial) entre 1789 e 1917 foi em grande parte a luta a favor e contra os
princípios de 1789, ou ainda mais incendiários de 1793. A França forneceu o
vocabulário e os temas da política liberal e radical-democrática para a maior
parte do mundo. A França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o
vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códigos legais, o modelo de
organização técnica e científica e o sistema métrico par a maioria dos países.
A ideologia de um mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até
então resistido as idéias européias inicialmente através da influência
francesa. Esta foi a obra da Revolução Francesa.” HOBSBAWN, Eric J. A Era das
revoluções: Europa 1789-1848. 21. ed. Tradução Maria Tereza Lopes Teixeira e
Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007, p. 83.
38
“O sistema fabril recém-instaurado, destruiu totalmente o modo de vida
tradicional dos trabalhadores, lançando-os abruptamente num pesadelo para o
qual estavam completamente despreparados. Perderam o orgulho que tinham, quando
artesãos, por sua arte e foram privados das relações estreitas e pessoais que
vigoravam nas indústrias artesanais. Sob o novo sistema, a relação que
mantinham com o empregador adquiriu um caráter impessoal: entre ambos
interpôs-se o mercado, o vínculo monetário. Foram privados do acesso direto aos
meios de produção e reduzidos à mera condição de vendedores de força de
trabalho, passando a depender, exclusivamente, para sobreviver, das condições
de mercado”. HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico.
Tradução de Jaime Larry Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 72.
39
“O que acontecia aos homens que, reduzidos ao estado de fome absoluta, já não
podiam lutar contra a máquina, e finalmente iam buscar emprego na fábrica?
Quais eram as condições de trabalho nessas primeiras fábricas? As máquinas, que
podiam ter tornado mais leve o trabalho, na realidade o fizeram pior. Eram tão
eficientes que tinham de fazer sua mágica durante o maior tempo possível. Para
seus donos, representavam tamanho capital que não podiam parar – tinham de
trabalhar, trabalhar sempre. Além disso, o proprietário inteligente sabia que
arrancar tudo da máquina, o mais depressa possível, era essencial porque, com
as novas inovações, elas podiam tornar-se logo obsoletas. Por isso os dias de
trabalho eram longos, de 16 horas. Quando conquistaram o direito de trabalhar
em dois turnos de 12 horas, os trabalhadores consideraram tal modificação como
uma benção.” HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. 20ª ed. Tradução
Waltensir Dutra. Rio de Janeiro, Zahar, 1984. p. 189.
40
ENGELS, Friedrich. Política. Organizador da coletânea José Paulo Neto. Tradução
José Paulo Neto et al. São Paulo: Ática, 1981, p. 86.
41
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Tradução de
Jaime Larry Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 73.
42
“A época em que a Baronesa de Rothschild usou um milhão e meio de francos em
jóias no baile de máscaras do Duque de Orleans, em 1842, era a mesma em que
John Bright assim descreveu as mulheres de Rochdale: ‘2 mil mulheres e moças
passaram pelas ruas cantando hinos – um espetáculo surpreendente e singular –
chegando às raias do sublime. Assustadoramente famintas, devoraram uma bisnaga
de pão com indescritível sofreguidão, e se o pedaço de pão estivesse totalmente
coberto de lama seria igualmente devorado com avidez’”. HOBSBAWN, Eric J. A Era
das revoluções: Europa 1789-1848. 21. ed. Tradução Maria Tereza Lopes Teixeira
e Marcos Penchel. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007, p. 287.
43
“As crianças estavam submetidas à mais cruel das servidões. Isoladas daqueles a
quem poderiam inspirar compaixão, ficavam à mercê dos capitalistas e de seus
empresários cuja única preocupação era vencer a concorrência movida por outras
fábricas. As crianças trabalhavam de 14 a 18 horas por dia, até caírem
exaustas. O pagamento dos capatazes variava em função do que as crianças
produzissem, o que os incentivava a serem impiedosos e a exigirem o máximo
delas. (...) O tratamento dispensado às mulheres em nada ficava a dever ao que
recebiam as crianças. Para elas também, o trabalho na fábrica era longo, árduo
e monótono, e a disciplina extremamente severa. Muitas vezes, o preço do
emprego era a submissão à cupidez dos empregadores ou dos capatazes.” HUNT, E.
K.; SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Tradução de Jaime
Larry Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 74.
44
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Tradução de
Jaime Larry Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 74.
45
HOBSBAWN, Eric J. A era do capital. 1848-1875. Tradução de Luciano Costa Neto.
5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 295.
46
“Ao mesmo tempo que a produção crescia velozmente, beneficiando os capitalistas,
a miséria e a exploração colhiam os que, juridicamente livres e iguais em
direitos aos donos das máquinas, deviam alugar-se aos mesmos para ter o pão de
que viver. As máquinas, por fazerem o serviço anterior de muitas pessoas,
aumentavam os braços disponíveis para um mercado de trabalho que crescia menos
rapidamente que o das disponibilidades. A concorrência pelo emprego forçava o
desempregado a aceitar salários ínfimos para tempo de serviço longo. Forçava a
dissolução da família, obrigando a esposa a empregar-se, bem como os filhos,
embora crianças, para que houvesse alimento para todos. Assim, o enriquecimento
global redundava na prosperidade acrescida, e muito, de alguns e na miséria
também acrescida, e muito, da maioria.” FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso
de direito constitucional. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 285.
47
“No ápice desta evolução (confronto entre liberalismo e lutas sociais),
coloca-se o manifesto comunista, resultado das reflexões e propósitos
apresentados por Engels e Marx, em fevereiro de 1848, e que assim resumidamente
se exprime: na sociedade, sempre se mostrou ativa a luta de classes, o homem
livre e seu escravo, o patrício o e plebeu, o barão feudal e o servo da gleba,
o opressor de um lado, o oprimido de outro. Banidas as estruturas desgastadas
do antigo regime, sucumbido pela ‘ignorância, esquecimento e desprezo dos
direitos do homem’, diz o intróito da Declaração aprovada pela Assembléia
Nacional Francesa em 1789, a soberania passaria a residir na nação, e tão só
nela, guardiã de todos os ‘membros de seu corpo social’. Mas a igualdade
proclamada não prosperou, viu-se apenas substituída por novas formas de
opressão, prosseguindo o enfrentamento, agora entre a burguesia e o
proletariado. A primeira gerando forças produtivas cada vez maiores, atuando em
todos os setores da atividade humana, servindo-se da segunda da maneira que
melhor convém aos seus interesses, tudo para o fim de obter a expansão do
mercado e a oferta de seus produtos.” AZEVEDO, Luiz Carlos de. Introdução à
história do direito. 3. ed. São Paulo: RT, 2010, p. 255.
48
“Karl Marx (1818-1883) foi o mais influente de todos os socialistas. Suas obras
exerceram, e exercem ainda profundo impacto não apenas sobre o pensamento
socialista, como também sobre as decisões de natureza política que regem os
destinos de uma grande parcela da humanidade. Sem pretender subestimar o valor
da contribuição de Friedrich Engels (1825-1895), com quem Marx trabalhou em
estreita colaboração, (...) não resta dúvida que Marx foi o líder intelectual
na concepção da nova economia política.” HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J.
História do pensamento econômico. Tradução de Jaime Larry Benchimol. 20. ed.
Petrópolis: Vozes, 2001, p. 91.
49
“No início de 1848, o eminente pensador político francês Alexis de Tocqueville
ergueu-se na Câmara dos Deputados para expressar sentimentos que muitos
europeus partilhavam: ‘Estamos dormindo sobre um vulcão... Os senhores não
percebem que a terra treme mais uma vez? Sopra o vento das revoluções, a tempestade
está no horizonte’. Mais ou menos no mesmo momento, dois exilados alemães, Karl
Marx, com trinta anos, e Friedrich Engels, com vinte e oito, divulgaram os
princípios da revolução proletária contra a qual Tocqueville alertava seus
colegas, no programa que ambos tinham traçado algumas semanas antes para a Liga
Comunista Alemã e que havia sido publicado anonimamente em Londres, em 24 de
fevereiro de 1848, sob o título (alemão) de Manifesto do Partido Comunista,
‘para ser publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e
dinamarquês’. Em poucas semanas, ou, no caso do Manifesto, em poucas horas, as
esperanças e os temores dos profetas pareceram estar na iminência da
realização”. HOBSBAWN, Eric J. A era do capital. 1848-1875. Tradução de Luciano
Costa Neto. 5. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, p. 27.
50
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto comunista. Com ensaios de Antonio
Labriola, Jean Jaurès, Leon Trotsky, Harold Laski, Lcien Martin, James Petras.
Osvaldo Coggiola (org.). Tradução de Álvaro Pina. São Paulo: Boitempo, 1998, p.
51.
51
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Tradução de
Jaime Larry Benchimol. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 93.
52
MARX, Karl. O capital. 2ª ed. Tradução e condensação Gabriel Deville. Bauru:
Edipro, 2003. p. 28.
53
“Na análise de Marx, as influências da indústria e da mecanização em grande
escala combinam-se para favorecer o crescimento de associações de sindicatos, e
essas são realmente o foco principal do aguçamento a acentuação da consciência
de classes. Marx não ofereceu nenhum tipo de exame sistemático das origens da
sindicalização entre classe operária, mas pode-se argumentar que há duas fontes
potenciais de tal sindicalização na sociedade capitalista: (1) os sindicatos podem
representar tentativas de compensar, tanto quanto possível, a falta de
equilíbrio de poder de mercado na barganha entre o operário e o empregador; (2)
os sindicatos podem representar tentativas de compensar, tanto quanto possível,
a posição subordinada de controle do trabalhador na empresa em relação ao
desempenho de sua tarefa na divisão do trabalho.” GIDDENS, Anthony. A estrutura
de classes das sociedades avançadas. Tradução de Márcia Bandeira de Melo Leite
Nunes. Rio de Janeiro: Zahar, 1975, p. 251.
54
A codificação do direito não foi um movimento comum em todo o continente
europeu. A positivação do direito foi muito forte e relevante na França e nos
países alinhados à sua política, tendo foco de resistência à codificação na
Alemanha, fruto da sua história política e, também, por influência de Savigny,
que combatia o impulso da legislação universal. BOBBIO, Norberto. O positivismo
jurídico. Lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone, 1995, p. 121.
55
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 27. ed. São
Paulo: Saraiva, 2001, p. 285.
56
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p.
7.
57 “Deixava-se de considerar o homo economicus
isolado, para se focalizar o ‘homem histórico e social, que vive não só do
pensamento, mas também da ação; o homem cujo verdadeiro estado na natureza é o
estado em sociedade, de maneira que a mesma pessoa se desenvolve individual e
socialmente e, enquanto tem de um lado a tendência a desenvolver sua própria personalidade,
sente-se, por um lado, chamada a exercer, também, sua personalidade coletiva na
função correspondente a suas aptidões e suas capacidades’. Assegurar-se isto
era, exatamente, impedir-se que os mais aquinhoados economicamente se opusessem
a que os menos favorecidos desenvolvessem suas faculdade e aptidões. E era o
Estado, força suprema, acima de grupos e interesses, que teria de caber essa
intermediação de equilíbrio, opondo-se à ação de um grupo de indivíduos contra
outro ou outros grupos. Como órgão supremo do direito, o Estado deveria, na
nova concepção, tornar-se o instrumento da justiça – da justiça da sociedade –,
intervindo como representante dos interesses coletivos para conter e reprimir
os interesses individuais privados e manter o equilibro entre os diversos
fatores da produção e, portanto, uma melhor repartição das riquezas, base do
bem-estar social.” SÜSSEKIND, Arnaldo (et al). Instituições de direito do
trabalho. 20. ed. Atualizado por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira
Filho. São Paulo: LTr, 2002, p. 39.
58
BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico. Lições de filosofia do direito. São
Paulo: Ícone, 1995, p. 198.
59
“A primeira grande guerra mundial (1914-1918) levou às trincheiras milhões de
trabalhadores e, pondo-os lado a lado com soldados vindos de outras camadas
sociais, fê-los compreender que, para lutar e morrer, os homens eram todos
iguais, e que deveriam, portanto, ser iguais para o direito de viver. Os
governos, tangidos pela necessidade de manter a tranqüilidade nas retaguardas,
faziam concessões à medida que as reivindicações eram apresentadas e
reconheciam a importância do trabalho operário para o êxito da luta que se
travava nas trincheiras. Na Inglaterra, em 1915, Lloyd George confessava aos
trabalhadores: ‘O Governo pode perder a guerra sem o vosso auxílio, mas sem ele
não a pode ganhar’.” SÜSSEKIND, Arnaldo (et al). Instituições de direito do
trabalho. 20. ed. Atualizado por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira
Filho. São Paulo: LTr, 2002, p. 43.
60
“O Direito do Trabalho é, pois, produto cultural do século XIX e das
transformações econômico-sociais e políticas ali vivenciadas. Transformações
todas que colocam a relação de trabalho subordinado como núcleo motor do
processo produtivo característico daquela sociedade. Em fins do século XVIII e
durante o curso do século XIX é que se maturam, na Europa e Estados Unidos,
todas as condições fundamentais de formação do trabalho livre mas subordinado e
de concentração proletária, que proporcionam a emergência do Direito do
Trabalho”. DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 6. ed. São
Paulo: LTr, 2007, p. 85.
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