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Leandro Vilar

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

200 anos da coroação de D. Pedro I do Brasil

Dando continuidade as postagens sobre o Bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022), o texto de hoje foi mais breve por conta de abordar a coroação de D. Pedro I, que desde 1820 atuava como príncipe-regente do país. Em janeiro de 1822 após o Dia do Fico (9 de janeiro), Dom Pedro iniciou com seus aliados o processo político para desvincular o Brasil do domínio de Portugal, no que resultaria meses depois na Proclamação de Independência, simbolicamente anunciada em 7 de setembro. Entretanto, desde meados de janeiro daquele ano, Dom Pedro já era tratado por seus apoiadores como um governante de fato, mesmo que formalmente não tenha sido coroado. Porém, a Proclamação da Independência e a coroação foram adiadas por conta das revoltas que ocorreram no Rio de Janeiro e na Bahia, que culminaram na Guerra de Independência (1822-1824), a qual se estendeu para outras províncias. 

D. Pedro I em traje imperial. Jean-Baptiste Debret. 

A aclamação do imperador (12 de outubro)

Embora a guerra pela independência somente terminaria dois anos depois, mas como a independência foi proclamada em setembro de 1822, os apoiadores do novo governo acharam de bom tom que o príncipe-regente fosse coroado, mas antes disso havia uma série de preparativos a serem feitos, além de apaziguar os ânimos entre os ministros e a maçonaria, pois Dom Pedro tinha se tornado recentemente maçom. 

Em 18 de setembro o príncipe-regente deu a ordem para se providenciar os símbolos nacionais: o brasão de armas, o tope nacional, os escudos dos ministérios, a insígnia real, os selos etc. O hino nacional e a bandeira só mais tarde foram feitos. No caso do tope nacional (insígnia em formato de roseta), o monarca ouvindo seu conselho, deliberou que as cores escolhidas seriam o verde, o amarelo e o azul, as cores da sua casa real, as quais foram mantidas e aproveitadas para a bandeira nacional. (SOUSA, 2015). 

Enquanto os símbolos nacionais eram confeccionados, Dom Pedro tratava de assuntos políticos, como anistias, os planos de guerra, organização dos ministérios, desentendimento com o José Bonifácio, as tentativas de D. João VI pedindo que o filho desistisse de prosseguir com a independência, entre outros assuntos. 

Os membros do governo decidiram aclamar Dom Pedro como imperador como forma de legitimar seu governo de transição, assim como, aquilo serviria para incentivar a população brasileira a aderir a guerra que se desenrolava principalmente na Bahia. Dessa forma, a data de aclamação foi escolhida para 12 de outubro, dia do aniversário do futuro imperador, que na ocasião completou 24 anos. 

A cerimônia de aclamação foi realizada na manhã do dia 12 de outubro, no Campo de Santana, no centro da cidade do Rio de Janeiro. Ali reuniu-se a 1a e 2a tropa de linha, as fortalezas fizeram uma salva de tiros e alguns navios de guerra na baía de Guanabara. Os membros do ministério e Conselho de Estado com suas esposas e alguns familiares estavam presentes. Autoridades políticas, militares e a população compareceram para ver a cerimônia. O Campo de Santana contava com um pavilhão e os brasões de armas, o tope nacional e outras insígnias, já apresentando as cores verde, amarelo e azul. (SOUSA, 2015). 

Aclamação de Dom Pedro I como imperador do Brasil. Na época, feita num palacete no Campo de Santana, no centro do Rio de Janeiro. Pintura de Jean-Baptiste Debret. 

Dom Pedro, sua esposa D. Leopoldina e a princesa Maria da Glória, com então três anos de idade, deixaram o Paço da Quinta da Boa Vista, e seguiram de carruagem até o Campo de Santana por volta das 10h da manhã. A carruagem real era conduzida pela guarda de honra, pelo caminho a população assistia e ovacionava à passagem dos futuros imperador e imperatriz do Brasil. 

“O cortejo chegou ao Campo de Santana. Descendo do carro, D. Pedro foi saudado com vivas repetidas, com estrepitosas manifestações de “amor e respeito” e logo subiu ao palacete, a cuja varanda se dirigiu. Lá estavam os ministros e altos dignitários, lá estava, com seu estandarte, o Senado da Câmara. Foi quando José Clemente Pereira leu um longo discurso, a que D. Pedro assim respondeu: ‘Aceito o título do imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil, porque, tendo ouvido o meu Conselho de Estado e de procuradores-gerais, e examinado as representações das Câmaras das diferentes províncias, estou intimamente convencido que tal a vontade geral de todas as outras, que só por falta de tempo não têm ainda chegado’”. (SOUSA, 2015, p. 424).

“Estrugiram os cento e um tiros da salva imperial, seguidos de três descargas de infantaria. Novos vivas ecoaram. Vivas à Religião, ao Imperador Constitucional do Brasil o Senhor D. Pedro I, à Augusta Imperatriz, à dinastia de Bragança, à Independência, à Assembléia Constituinte, ao povo constitucional do Brasil. Lenços brancos tremularam sacudidos por mãos de homens e mulheres em todas as casas próximas. Estava D. Pedro aclamado imperador em céu aberto, numa consagração popular como jamais se vira antes. E a tropa desfilou, colocando-se em alas desde o palacete até a Capela Imperial. A imperatriz e a princesa D. Maria da Glória retiraram-se de carruagem, mas D. Pedro I preferiu ir a pé, sem temer a chuva que ameaçava cair novamente. Seguiram-no uma guarda de cavalaria de milícias, um destacamento da guarda cívica e oficiais generais, magistrados, empregados públicos, num séquito numeroso e compacto”. (SOUSA, 2015, p. 425).

A cerimônia pública de aclamação encerrou-se após a missa solene na Capela Imperial ali perto do Campo de Santana. Cânticos foram entoados e novas salvas foram feitas, até que o imperador recém-aclamado voltou para seu palácio. As comemorações seguintes foram de ordem política e militar, reservadas a elite governamental e militar. 

Mas passado esse dia marcante em que se comemorou a aclamação de Dom Pedro e seu aniversário, as novas ordens reais começaram a serem baixadas. Agora Dom Pedro assinava os documentos oficiais como imperador do Brasil, não mais príncipe-regente e protetor do Brasil. Ao longo de outubro vários documentos administrativos foram sendo expedidos, por sua vez, novembro foi escolhido para se organizar os preparativos da coroação. 

A coroação do imperador (1 de dezembro)

O mês de novembro foi marcado por problemas políticos, que não vem ao caso aqui relatar, todavia, a coroação foi agendada para 1 de dezembro como uma homenagem a D. João IV, primeiro rei português após o término da União Ibérica (1580-1640). No caso, durante a União Ibérica, os reis espanhóis Filipe II, Filipe III e Filipe IV governaram também Portugal, o Brasil e as demais colônias portuguesas. Todavia, em 1 de dezembro de 1640, D. João IV foi aclamado rei de uma Portugal novamente independente. Sendo assim, os brasileiros optaram pelo mesmo sentido simbólico, como forma de mostrar a independência do Brasil. 

"O cerimonial da solenidade foi organizado por uma comissão composta de José Bonifácio, o barão de Santo Amaro, D. José Caetano da Silva Coutinho, bispo capelão-mor, monsenhor Fidalgo e fr. Antônio de Arrábida". (SOUSA, 2015, p. 448). 

"Às nove e meia da manhã, acompanhado pela Imperatriz, saiu D. Pedro da Quinta da Boa Vista para o paço da cidade, daí partindo em procissão até a Capela Imperial: “à guarda dos archeiros seguia a música de timbales e charamelas; vinham, após, muitas pessoas graduadas, vestidas de corte, e logo o rei de armas, arauto e passonante. Seguiam as insígnias imperiais, a espada, bastão, luvas, manto, cetro e coroa levados por diversos procuradores-gerais das províncias, acompanhados de moços fidalgos". (SOUSA, 2015, p. 448). 

Coroação de D. Pedro I. Pintura de Jean-Baptiste Debret. 

"Na Capela Imperial, a cerimônia desenrolou-se com o aparato litúrgico de tais atos. Depois do juramento sobre o Evangelho, ungido no braço direito, peito e espáduas, e tomando as vestes majestáticas – manto de veludo verde com forro amarelo, semeado de estrelas e bordado a ouro, e a murça de penas de papo de tucano –, ouviu o imperador a missa, até o penúltimo verso do gradual, no trono, de onde desceu para, ajoelhado, receber a espada – Accipe gladium – cingida pelo celebrante com as palavras – Ascingere gladio tuo, etc. Em seguida ergueu-se, “desembainhou a espada, fez com ela vários movimentos e correndo-a sobre o braço esquerdo, como quem a limpa, meteu-a na bainha e tornou a ajoelhar”. (SOUSA, 2015, p. 449). 

"À espada seguiu-se a coroa. Tirando-a do altar, ajudado pelos bispos assistentes, colocou-a o celebrante sobre a cabeça de D. Pedro, ao som de Accipe Coronam Imperii. Faltava o cetro – Accipe virgam virtutis, etc. Recebido este, voltou ao trono com todas as insígnias imperiais para o Te Deum e últimos hinos e orações. Estava coroado o primeiro imperador do Brasil".  (SOUSA, 2015, p. 450). 

Referência bibliográfica: 

SOUSA, Otávio Tarquínio de. História dos Fundadores do Brasil, vol. II: A Vida de D. Pedro I, tomo II. Brasília: Senado Federal, 2015. 3t

Links relacionados: 

200 anos do Dia do Fico (9 de janeiro de 1822)

200 anos da Independência do Brasil

Maria Quitéria e a Guerra de Independência do Brasil

As imperatrizes do Brasil

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