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Leandro Vilar

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Coolies: os "escravos" asiáticos no XIX

O termo coolie surgiu com os britânicos no século XVIII, mas passando a se normalizar no XIX e começo do XX para designar imigrantes asiáticos oriundos da China, Índia e Sudeste Asiático, que eram levados para trabalhar na América do Norte e América Central, sob a promessa de melhorarem de vida. O problema é que eles acabavam sendo marginalizados além de viverem em condições análogas à escravidão, embora a escravidão tenha sido abolida em alguns países onde trabalhavam. 

Os coolies

Palavra inglesa coolie, também grafada como cooly, culi, kuli, é uma variação gráfica da palavra hindi quli, usada para se referir a trabalhadores braçais. Como os ingleses começaram a acentuar seu contato com os indianos e mais tarde colonizaram a Índia, o termo coolie acabou se tornando comum no vocabulário deles, sendo encontrado em outros países como China, Myanmar, Bangladesh e Paquistão. Nações nas quais os ingleses mantinham contato entre os séculos XVIII e XX. 

Assim, a palavra coolie antes do XIX designava os trabalhadores braçais, os quais realizavam tarefas árduas, de baixa remuneração e até insalubres. Em algumas localidades os coolies eram tratados como serviçais, embora eles exercessem atividades diversas como carregadores, lenhadores, pedreiros, mineradores, agricultores etc. No caso das mulheres, elas realizavam mais trabalhadores domésticos como cozinhar, faxinar, lavar roupas, serem babás etc. 

Os ingleses se acostumaram a fazer uso do trabalho barato dos coolies, principalmente na Índia e em partes da China, como Hong Kong. Dessa forma, com a expansão do império britânico houve demanda por mão de obra barata. Assim, esses homens e mulheres pobres eram recrutados pelos colonizadores para servirem em seus países nativos ou enviados para as colônias inglesas.

Coolies indianos na ilha de Trinidad em 1897, na época, ainda colônia inglesa.
 
Os coolies e a semiescravidão

Se desconhece quantos coolies foram enviados para as colônias inglesas pelo mundo, mas as estimativas sugerem centenas de milhares deles, os quais foram enviados para o Sri Lanka, Austrália, África do Sul, Caribe e outras ilhas. Os coolies eram na maioria provenientes da Índia e da China, as vezes advinham dos países o Sudeste Asiático. Eram pessoas pobres e iletradas, costumadas ao trabalho braçal e/ou servil que atraídas com promessas de melhorias de vida nas colônias, eram enganadas e levadas para lá. 

Oficialmente a Inglaterra aboliu a escravidão em seu território e colônias em 1807, embora o tráfico negreiro ainda perdurou ilegalmente por alguns anos. Porém, após ele ser definitivamente interrompido, as colônias necessitavam de mão de obra barata. Uma alternativa aos africanos e indígenas foi trazer trabalhadores asiáticos. Dessa forma, ao longo do século XIX, milhares de coolies foram transportados pelo mundo para as colônias inglesas.

Mas a realidade para muitos deles era a servidão ou condições análogas à escravidão. Os coolies que migravam para as colônias, as mulheres tornavam-se empregadas domésticas e até prostitutas também; já os homens exerciam atividades mais diversas, no entanto, muitos iam trabalhar na agricultura, construção civil, minas, construção de ferroviais e ofícios portuários. Por volta da segunda metade do XIX o termo coolie deixou de designar apenas esses trabalhadores asiáticos, mas passou a ser um termo pejorativo e racista também. Asiáticos como indianos e chineses que migravam para as Américas por conta própria, passaram a serem chamados de coolies. 

Coolies indonésios numa plantação holandesa em Java, na Indonésia. 

Nos Estados Unidos, no qual ocorreu a migração chinesa no XIX, muitos chineses eram designados como coolies. Boa parte deles migrou para a Costa Oeste, indo trabalhar nas minas e ferrovias. Já a França levou coolies da Indochina (região que compreende países como Vietnã, Camboja e Laos), os quais eram levados para colônias na África e no Caribe. 

Os coolies nos Estados Unidos, Caribe, África do Sul, Sri Lanka, entre outros territórios, além da descriminação racial, também eram vítimas de maus-tratos, recebendo castigos e até abusos sexuais. Essas práticas desumanas perduraram por décadas entrando em declínio no final do XIX e sendo abandonada no começo do século seguinte. 

NOTA: Outros povos asiáticos também foram feitos coolies como coreanos, japoneses, filipinos, malaios, tailandeses, birmaneses, indonésios etc. No caso, o termo na segunda metade do XIX era usado de forma genérica para tratar qualquer asiático da Índia e do Extremo Oriente. 

Referência bibliográfica: 

VARMA, Nitin. Coolies of Capitalism: Assam Tea and the Making of Coolie Labour. De Gruyter, Oldenbourg, 2016.