Foi a segunda revolução inglesa ocorrida no século XVII, no entanto, se comparada a Revolução Puritana (1642-1649), a chamada Revolução Gloriosa, foi bem mais curta, simples e menos violenta, já que diferente da anterior que incorreu numa guerra civil que ceifou milhares de vidas, a segunda revolução não contou com a mesma violência da anterior. No entanto, a Revolução Gloriosa teve algo em comum com sua antecessora, ambas marcaram crises no governo monárquico e a troca de soberanos.
Antecedentes
No ano de 1660 o rei Carlos II (1630-1685) foi coroado soberano da Inglaterra, Escócia e Irlanda, assumindo o trono de direito, que lhe foi vetado desde 1649, quando seu pai Carlos I foi executado durante a Revolução Puritana (1642-1649), a qual terminou próximo ao final da Guerra Civil Inglesa (1642-1651), acarretando na suspensão da monarquia e instituição de uma república parlamentarista (1649-1660), que acabou sofrendo uma série de problemas, especialmente por conta da ditadura imposta por Oliver Cromwell entre 1653 e 1658, então Lorde Protetor do país. (JONES, 1988).
Após a morte de Oliver, seu filho Richard se tornou o segundo Lorde Protetor, mas a falta de experiência e apoio político, o levaram a pedir demissão do cargo em maio de 1660. O Parlamento testemunhando dez anos e uma república problemática e frágil, deliberou pelo retorno da monarquia, assim, o príncipe Carlos que estava exilado, foi convocado a assumir o trono naquele ano.
Carlos II diferente do seu pai, não abusou tanto do poder e governou ao lado do Parlamento quase de forma pacífica, embora tenha enfrentado crises na década de 1670, levando-o a suspender o parlamento entre 1680-1685, conseguindo ter um longo reinado de 25 anos. Todavia, ele não deixou nenhum herdeiro legítimo, pois não gerou filhos com a rainha Catarina de Bragança, apesar de ter tido vários filhos bastardos, isso gerou uma crise de sucessão, porém, o Parlamento que foi restituído em 1685 deliberou em passar o governo para o irmão de Carlos, Jaime II (1633-1701). (JONES, 1988).
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Retrato do rei Jaime II da Inglaterra. |
Por ter vivido muitos anos na França, Jaime II converteu-se ao catolicismo e sua nova esposa também era católica, no entanto, a Inglaterra desde o século XVI vivia uma crise de intolerância religiosa. A religião oficial do país era o Cristianismo Anglicano, inclusive a imposição do credo anglicano ao reino unido como proposto pelo rei Carlos I, foi motivo para a Guerra dos Bispos (1639-1641), que culminou na Guerra Civil Inglesa (1642-1651). De qualquer forma, para a nobreza, o parlamento e o povo, um monarca católico era malvisto, considerado uma quebra de tradição, uma falta de respeito. E nem todos estavam aptos a tolerar tal condição. (MILLER, 2000).
A Rebelião de Monmouth (1685)
Ainda no primeiro ano do reinado de Jaime II, o Duque de Monmouth, Jaime Scott (1649-1685), era um dos nobres que não concordavam que o rei e a rainha fossem católicos. No entanto, a decisão de fazer uma rebelião não era apenas por um motivo religioso, mas também havia um fator político e de ambição. Jaime Scott era filho bastardo do rei Carlos II, sendo sobrinho de Jaime II. Pela condição de ser bastardo, ele não tinha direito ao trono (apesar de ser um alto nobre). Assim, agindo de forma ambiciosa e traiçoeira, o Duque de Monmouth decidiu dar um golpe de estado contra seu tio. (JONES, 1988).
Monmouth aliando-se a outros nobres contrários ao novo rei, como o Conde de Argyll, começou a arquitetar um plano de ataque: iniciar focos de revolta na Escócia e sul da Inglaterra, áreas turbulentas do reino, depois reunir um exército e sitiar Londres, forçando a renúncia do rei.
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Jaime Scott, Duque de Monmouth. |
O Duque de Monmouth, entre outros nobres e aliados, foram capturados e declarados como traidores da nação. Monmouth foi decapitado em 15 de julho, os demais aliados foram sendo executados nas semanas seguintes. Os julgamentos se encerraram em fins de agosto. Dessa forma, Jaime II havia passado pelo seu primeiro teste de governo: uma traição familiar empreitada pelo seu sobrinho bastardo.
A contestação de Guilherme de Orange (1688)
No começo de seu reinado, Jaime II como não tinha filhos homens, decidiu declarar sua filha mais velha, Maria (1662-1694), como herdeira. A princesa era casada com o príncipe holandês Guilherme de Orange (1650-1702) desde 1677, havendo a expectativa de que o casal futuramente seriam os novos monarcas, e ambos eram protestantes. (MILLER, 2000).
Passada a Rebelião de Monmouth em 1685, Jaime II governou os anos seguintes sem grandes ameaças, já que ele decretou a criação de um exército fixo, mesmo em tempos de paz, um decreto determinado por seu irmão. Porém, as decisões mais problemáticas do rei vieram quando ele declarou liberdade de credo no país. A Inglaterra desde o século passado procurou banir católicos, judeus e até crentes de outras igrejas protestantes, tornando o Anglicanismo a única religião permitida no país. (MILLER, 2000).
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Retrato do rei Guilherme III da Inglaterra. |
Em 10 de junho de 1688 nasceu Jaime Francisco (1688-1766), o primeiro filho varão de Jaime II e Maria de Módena, o que o tornava o próximo na linha de sucessão. Isso causou novo rebuliço na corte. Até então a herdeira era Maria e seu marido Guilherme de Orange, mas com o nascimento de um príncipe, automaticamente ele passava na frente da irmã, mesmo ele sendo um bebê ainda. No entanto, a situação piorou quando o rei decidiu batizar a criança no catolicismo, o que atiçou a revolta dos conservadores religiosos. (MILLER, 2000).
O príncipe Guilherme de Orange era um anglicano conservador e não concordava com a política de seu sogro, então decidiu agir. Em outubro ele abriu uma petição no Parlamento, contestando a decisão de seu sogro de batizar o jovem príncipe no catolicismo, além de retirar da princesa Maria a prioridade na linha de sucessão. Guilherme alegava que até o príncipe Jaime Francisco alcançar a maioridade, isso demoraria muitos anos, logo, sua irmã deveria ser preterida a suceder o trono inglês. É evidente que Guilherme ambicionava se tornar rei.
Jaime II não gostou nada da petulância e ambição do seu genro e mandou rebater sua Declaração de Motivos, ainda em outubro. Guilherme que até então estava passando uma temporada na Holanda, decidiu em novembro voltar a Inglaterra para confrontar o sogro.
O rei tendo percebido a ambição do genro, tratou ainda em novembro de convocar o Parlamento para deliberar a nomeação do pequeno Jaime Francisco como herdeiro legítimo do trono, assim, barrando qualquer contestação de Guilherme. No entanto, o príncipe holandês não estava determinado a desistir de sua ambição, se fosse necessário, haveria guerra para isso. Assim, eclodiu a Revolução Gloriosa. (JONES, 1988).
Guilherme de Orange usando seus contatos e influência, conseguiu reunir uma pequena tropa e com ela invadiu a Inglaterra em novembro de 1688. Ali ele ganhou adesão de outros nobres e plebeus, os quais viam no príncipe um monarca mais honrado e comprometido com a nação. O rei ainda enviou o exército para confrontar a traição de seu genro, vindo a ocorrer a Batalha de Reading em 9 de dezembro, nos arredores de Berkshire. Entretanto, o exército invasor era superior e derrotou as tropas reais. (JONES, 1988).
Jaime II tomando conhecimento da derrota e de que mais reforços inimigos estavam a caminho, ele embarcou com a esposa e os filhos e fugiram para a França. O Parlamento considerou um grande ato de covardia de Jaime II, por outro lado, parte dos parlamentares também não apoiavam a traição de Guilherme contra o rei. Assim, ele foi convocado para se explicar.
Os novos soberanos
Guilherme passou o mês de janeiro de 1689 dando suas explicações de porque arquitetou um golpe de estado para derrubar seu sogro. Os parlamentares em maioria concordaram com os motivos, assim, ele e a esposa foram coroados novos monarcas da Inglaterra, Escócia e Irlanda em fevereiro, tornando-se Guilherme III e Maria II. (MILLER, 2000).
A partir da França, Jaime II manteve contato com seus apoiadores e tentou manobras e articulações políticas para invalidar a coroação do genro e da filha, alegando conspiração, traição, crime de lesa-majestade, golpe de estado etc. O embate se alastrou pelos meses de 1689, já que parte do parlamento (mesmo sendo a minoria), discordava da entronização de Guilherme III e Maria II, já que a transição foi ilegal.
Por sua vez, Guilherme procurou garantir seu governo, articulando seus apoiadores na nobreza e no parlamento, porém, ele também teve dificuldades, pois os parlamentares apresentaram um projeto de reforma das leis chamada Declaração dos Direitos, o qual restringia os poderes do monarca. Guilherme deliberou sobre a proposta e concordou com ela em dezembro de 1689, mesmo que não concordasse contudo aquilo, já que ela aumentava a autoridade parlamentar e lhe concedia proteção frente ao abuso de poder dos reis. Mas ele sabia que se fosse favorável ao Parlamento, isso asseguraria seu apoio e permanência no trono. (MILLER, 2000).
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Página da Declaração dos Direitos de 1689. |
Referências bibliográficas
JONES, J. R. The Revolution of 1688 in England. [s. l], Weidenfeld and Nicolson, 1988.
MILLER, John. James II. New Haven, Yale University Press, 2000.
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