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Leandro Vilar

sábado, 29 de outubro de 2011

A República das Letras

"República das Letras" (Reppublica Litterati) não foi uma entidade ou instituição organizada e com bases concretas, na realidade foi a forma pela qual os homens cultos da Idade Moderna passaram a referir-se entre si. Eles diziam que eram cidadãos da República das Letras, uma espécie de sociedade informal de estudiosos, professores, bibliotecários, jornalistas, inventores, historiadores, artistas, em suma, tais homens se diziam serem homus litterati "homem de letras" (nesse caso, a palavra litterati não fazia referência a literatura, mas sim a letras no sentido de conhecimento). 

O termo surgiu durante o século XV em pleno Renascimento Cultural italiano, contudo só a partir do século XVII é que os homens letrados ou cultos, como eram comumente referidos pela sociedade, passaram a adotar esta referência simbólica a esta "sociedade". De qualquer forma, o termo caiu em desuso no começo do XIX. 

Neste texto procurei contar um pouco da ideologia desta República das Letras, quem foram alguns de seus membros, como era o papel das universidades e academias neste período, os embates entre a ciência e a fé, o desenvolvimento do comércio literário, a educação, etc. Em si, o termo cientista foi cunhado no século XIX, logo chamar tais homens de cientistas seria um pouco contraditório, embora a palavra ciência já fosse utilizada.

Brilho nas Trevas

Antes de ingressarmos no Renascimento, devemos primeiro voltar a Idade Média, a fim de compreender alguns fatos que deram origem a algumas questões, ideologias e tendências modernas. Após a queda do Império Romano em 476, iniciou-se o período que ficou conhecido como Idade Média, ou Antiguidade Tardia, o qual compreendeu os séculos V ao X, e dos séculos X ao XV, seria o período medieval. Mas, deixando esta questão de nomenclaturas temporais, no quesito do conhecimento, este ao longo da Idade Média na Europa, ficou vários séculos sob a tutela da Igreja Católica. 

O Império Romano havia caído e junto a ele suas instituições, contudo a Igreja fora a maior instituição que sobreviveu ao fim do império, assim, enquanto em parte da Europa Oriental, o Império Bizantino se desenvolvia entorno de Constantinopla, na Europa centro-oeste, o sistema feudal prevalecia, e o conhecimento estava restrito as bibliotecas dos mosteiros, guardados sob a mão e os olhos da Igreja. 

Para os habitantes do sistema feudal, não havia interesse das massas saberem ler e escrever, no máximo saber realizar as contas básicas (adição, subtração, divisão e multiplicação), não obstante, tirando os clérigos, os quais eram letrados, apenas poucos nobres e alguns funcionários do Estado, é que sabiam ler e escrever. 90% da sociedade europeia ocidental era analfabeta, e até mesmo grande parte da nobreza estava incluída nesta porcentagem, caso este que alguns reis e senhores feudais na época, nãos sabiam escrever nem o próprio nome.

Assim, o conhecimento dos antigos gregos, romanos, árabes, persas, hebreus, etc, estava guardado nas empoeiradas estantes das bibliotecas nos mosteiros, onde monges copistas realizavam suas traduções para o latim e faziam algumas cópias a pedido da Igreja ou de algum nobre. Além do mais, naquela época, fazer um livro era algo bem dispendioso, não existia papel ainda na Europa (o papel fora introduzido a partir da Itália, por mercadores venezianos que o compravam de mercadores bizantinos, árabes e posteriormente turcos), logo os livros eram feitos de pergaminhos de peles de animais (geralmente de bezerros ou carneiros), e somando-se a isso, havia o tempo para ser transcrito, contudo isso, comprar um livro era um artigo de luxo, e isso só iria mudar com a introdução da prensa móvel no continente.

Mas se por um lado, o conhecimento era controlado pela Igreja, e a população comum era renegada a alfabetização e a educação, tais tendências começaram a mudar no final do século XI e começo do século XII, a partir das reformas estruturais, politicas e educacionais realizadas pelo imperador Carlos Magno (747-814).
Imperador Carlos Magno
No natal de 800, o rei dos francos, Carlos Magno fora coroado pelo papa Leão III, recebendo o titulo de imperador romano. Embora o Império Romano já estivesse se extinguido a quase quatro séculos, o papa lhe concedeu este titulo, então o novo imperador renomeou o seu império, o chamando de Sacro Império Romano-Germânico, o qual compreendia praticamente todo o território central da Europa, desde o sul da Dinamarca ao norte da Itália, englobando os atuais territórios da Alemanha, França, Países Baixos, Bélgica, Suíça, parte da Áustria e da Polônia. O imperador decidiu como forma de garantir a coezão de seu império fundamentado sobre um sistema feudal, realizar uma reforma educacional. O Sacro Império se erguia sobre três colunas: o legado histórico, ideológico e cultural romano, cristão e germânico (definição dada aos ditos povos bárbaros que habitavam os territórios do norte da França e da Alemanha). Assim, havia profundas disparidades entre a comunicação das pessoas que viviam neste império e o isolamento nos feudos contribuía para aumentar as distâncias.

Com isso, a reforma efetuada pelo imperador consistiu na construção de  novas escolas e mosteiros e contratou novos professores, incumbiu o monge inglês São Alcuíno de York (735-804) de reformular a estrutura educacional do império, assim Alcuíno baseado no conhecimento greco-romano, dividiu as disciplinas em dois grupos, o trivium (gramática, retórica e lógica) e o quadrivium (aritimética, geometria, astronomia e música), tais disciplinas formavam as ditas sete artes liberais, vistas como essenciais na formação da época, formação esta relegada apenas aos clérigos e aos nobres. 


Ilustração simbolizando as Sete Artes Liberais
(gramática, retórica, lógica, aritmética, geometria, astronomia e música)
Tais medidas anos depois acarretaram no surgimento das universidades medievais. No ano de 1088 fora fundada na cidade de Bolonha (Bologna em italiano) na Itália, a primeira universidade da Europa, até então já existiam escolas de ensino superior em países muçulmanos, na Índia, na China e em outros locais. De qualquer forma a universidade ampliou a oportunidade de reunir os conhecimentos da época em um único lugar, já que a proposta da universidade era esta até então. Assim, no século XI, as principais disciplinas ensinadas eram medicinadireitoteologiafilosofia, e as sete artes liberais. As chamadas ciências exatas só viriam ter relativo espaço nas universidades a partir do século XVII.  

"Os letrados incluíam um grupo de estudiosos leigos cultos, em geral médicos e advogados. Direito e medicina eram as duas profissões seculares cultas, com lugar assegurado dentro da universidade medieval e com status no mundo fora dela. (BURKE, 2003, p. 27).


Brasão da Universidade de Bologna, Itália. Fundada em 1088.

A Universidade de Bologna é atualmente a universidade mais antiga no mundo em funcionamento, embora haja discordâncias a respeito deste fato. Mas de qualquer forma, após ela, outras universidades começaram a surgir pela Itália. Na França, fora fundada em 1090 a Universidade de Paris, e na Inglaterra em 1096, a Universidade de Oxford, todas em funcionamento nos dias de hoje. A partir do século XIII, ocorreu o primeiro surto de universidades no continente, foram fundadas várias universidades pela Itália, França, surgiram universidades em Portugal (Coimbra em 1290), na Espanha não unificada em Salamanca (1218), na Alemanha, e posteriormente na Áustria, Croácia, Polônia, Holanda, etc. 

O All Schools Hall (tradução livre "Salão de todas as Escolas") na Universidade de Oxford, Inglaterra. As estruturas na imagem datam dos séculos XVII e XVIII.
Mas uma grande questão rondava as universidades medievais, e tal questão não dizia necessariamente a respeito de se conceder acesso ao restante da população, já que na época isso não era algo do interesse dos governantes, mas a questão era que as universidades eram controladas pela Igreja. De fato, os seus professores ou doutores como em muitos casos eram chamados, eram todos clérigos, logo o ensino destas universidades era totalmente voltado para os interesses da Igreja, e tal tendência permaneceu por alguns séculos, fato este que será melhor debatido mais a frente. 

"Na Idade Média, porém, a maioria dos professores e alunos das universidades eram constituídas por membros do clero, muitas vezes membros das ordens religiosas, principalmente dominicanos, que contavam com o mais famoso dos professores medievais, Tomás de Aquino". (BURKE, 2003, p. 28). 

São Tomás de Aquino (1225-1274), conhecido como Doutor Angélico. Considerado um dos maiores professores da Idade Média e um dos grandes doutores da Igreja Católica. 
Naquela época o titulo de doutor, era concedido aos homens letrados das universidades que chegavam ao grau final de sua formação. Embora tal fato ainda se conserve no modelo universitário de hoje, é comum se referir a indivíduos de outras profissões (advogado, delegado, chefe executivo, etc) pelo termo doutor, como forma de respeito. Todavia, os homens deste período referiam-se a si como viri litterati (homem de letras), clérigos (cleria) e mestres (magistri). Nessa época, ser professor universitário era uma profissão de respeito e de status. Numa época em que a população era predominantemente analfabeta e desprovida do conhecimento, estar na universidade era um diferencial marcante. 

Reunião de doutores da Universidade de Paris.
Não obstante, com o surgimento das universidades medievais, também começou  surgir a formação de colegiados de professores, de alunos, de funcionários; passou a se ter maior comunicação com outras universidades, diminuindo as barreiras da distância e da reclusão feudal; as mulheres também passaram a estudar nas universidades (principalmente algumas freiras e abadessas). E um caso marcante deste fato diz respeito a relação ilícita entre o filósofo e teólogo Pedro Abelardo (1079-1142) e a freira, escritora e abadessa Heloísa (1101-1164). Os dois se conheceram na universidade de Paris, Heloísa se tornou aluna de Abelardo, e com o passar do tempo os dois se apaixonaram, mas ambos eram religiosos e haviam feito seus votos, mesmo assim, acabaram iniciando um relacionamento secreto. De qualquer forma, tal história nos fornece o fato de que as mulheres passaram a deter o direito de frequentarem os mesmos lugares do que os homens e de terem a oportunidade ao ensino superior.

Humanismo

No século XIV uma nova filosofia moral surgia, era o Humanismo, o qual tendia a por o homem no "centro de tudo", em oposição ao Teocentrismo ("Deus no centro de tudo") que predominou durante a Idade Média até então. Embora o humanismo posteriormente deu origem a várias correntes de pensamento e estudo, na essência, ele procurava evidenciar a importância do estudo do ser humano e de suas criações, como forma de compreender o mundo e a sociedade, não se atrelando mais apenas aos desígnios da religião e de que tudo era responsabilidade da vontade de Deus. Um dos primeiros grandes humanistas fora o escritor, poeta, editor, tradutor, filólogo e intelectual italiano, Francesco Petrarca (1304-1374) considerado por alguns como o criador desta filosofia. 

Francesco Petrarca, considerado o "Pai do Humanismo".
Petrarca como editor e tradutor, traduziu vários trabalhos filosóficos, literários, historiográficos, etc, de autores gregos e romanos, tal fato contribuiu para a recuperação do conhecimento dos antigos, fator determinante para o desenvolvimento do pensamento no Renascimento. Alguns historiadores, consideraram Petrarca e outros homens de sua época, como Dante Alighieri (1265-13210 e Giovanni Boccaccio (1313-1374) como pré-renascentistasO humanismo se exprimiu de forma bem artística, psicológica e filosófica nas obras literárias destes autores, e no caso dos dois últimos, respectivamente a Divina Comédia e o Decamerão. Ambas obras com grande impacto na sociedade da época e que ainda hoje são fonte de estudo para distintas "ciências humanas".

"Os professores desse novo currículo eram apelidados de "humanistas" (humanistae) e o termo se espalhou, primeiro na Itália e, depois, em outras partes da Europa. Esses humanistas eram um novo tipo de letrados. Alguns estavam nas ordens religiosas, mais muitos eram leigos, e ensinavam em escolas ou universidades, ou atuavam como professores privados, ou, ainda, dependiam da liberalidade de patronos ou mecenas". (BURKE, 2003, p. 28).

Nessa época entre os séculos XIV ao XVI a situação do ensino havia mudado, embora houve a fundação de novas universidades e escolas, e o crescimento da população educada, o oficio de professor já não gozava do mesmo status de antes, a não ser por algumas exceções. Em suma, ser professor era uma alternativa de ganhar a vida, mas não era um trabalho fácil e bem remunerado, como ainda hoje é em grande parte do mundo.

Mas se por um lado havia o percalço da falta de reconhecimento ao oficio do professor, já durante a Idade Moderna e o período renascentista, as universidades, escolas e outros locais se tornariam o palco de embates entre os ditos humanistas e os escolásticos (termo criado pelos modernos para se referir aos filósofos e intelectuais da Idade Média). De fato o termo Idade Média é uma concepção moderna, assim os modernos criaram este termo para se referir ao período cronológico e histórico que os separavam da Idade Antiga, período das civilizações romana, grega, egípcia, persa, hebraica, cartaginesa, fenícia, cretense etc. Não obstante, além de se referirem a período que sucedeu a idade dos antigos pela palavra "média", uns também se referiam a aquele período de "Idade das Trevas" como forma pejorativa, que implicava na escuridão que pairava sobre a mente dos homens e mulheres daquela época, tal tendência e reforçada pelo termo escolástico (vem de escola), referente ao fato de que até mesmo os ditos homens cultos medievais, estavam atrelados a submissão das instituição de seu tempo. 

"Na verdade, no inicio do período moderno, as universidades medievais eram mais criticadas pelas disputas do que pelo consenso". (BURKE, 2003, p. 39).

De inicio a maioria dos humanistas eram de origem italiana, contudo outros importantes humanistas durante o século XV, foram: François Rabelais (1494-1553), padre, escritor e médico francês; São Tomás Moro (1478-1535), estadista, político, diplomata, escritor, jurista e advogado, inglês. Fora Lord Chanceller do rei Henrique VIII e autor da Utopia, seu livro mais conhecido. Outro nome, fora o do holandês, Eramos de Roterdão (1466-1536), padre, teólogo, escritor e filósofo, conhecido pela sua mais famosa e polêmica obra, Elogio da Loucura

Erasmo de Roterdão
Erasmo concebeu sua obra-prima enquanto seguia viagem para visitar o seu grande amigo, Tomás Moro. Durante os dias que passou hospedado em sua casa, escreveu o livro e o dedicou a Moro. De qualquer forma, a história de Erasmo é curiosa em alguns aspectos. Embora fosse um padre, ele era contra muito dos dogmas impostos pela Igreja, fato este que o levou a seguir uma tendência humanista, não obstante, ele também passou alguns anos morando em vários lugares, devido ao fato de ser contratado a prestar seus serviços. Erasmo chegou na época, a visitar algumas universidades, a participar de palestras e eventos, ele até mesmo por pouco tempo fora professor de inglês na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mas recusou a trabalhar nesta, primeiro, porque possuía melhores propostas de emprego, e segundo, ele dizia que nas universidades o pensamento estava obstruído, limitado pelas paredes desta. Tais tendências podem ser vistas em sua obra Elogio da Loucura (1511), onde através de uma apologia a dita divindade da "Loucura", Erasmo fizera uma série de criticas a sociedade de seu tempo. Ele criticou a política, a religião, a cultura, a educação, a sociedade, etc. De fato, a proposta de seu livro era ser impactante, em parte ele conseguiu gerar tal impacto em alguns, em outra, apenas conseguiu risadas de deboche, mas de qualquer forma, seu livro ainda é bem polêmico em debates nos dias de hoje. 

Mas se o seu intuito era promover reformas na sociedade, tais reformas logo vieram a acontecer. Anos depois, um monge agostiniano alemão, chamado Martinho Lutero (1483-1546), desencadeou a Reforma Protestante, a qual acarretou num cisma do pensamento cristão europeu, o qual mudou de forma significativa a sociedade europeia.

Gutenberg e a prensa móvel

Johannes Gutenberg
Uma das grandes reviravoltas da história europeia fora a chamada revolução literária desencadeada pela criação da prensa móvel ou a sua introdução, como aponta alguns estudiosos, já que a prensa móvel já seria utilizada na China. De fato, a prensa proporcionou a possibilidade de se fabricar livros de forma mais rápida e barata. O papel passou a ser produzido e utilizado, impressas e posteriormente editoras e jornais se espalharam pela Europa, o acesso aos livros se tornou mais fácil, logo mais pessoas estavam lendo e aprendiam a ler, o conhecimento passaria a ganhar um novo e importante veiculo de difusão, embora que já existisse livros a bastante tempo, mas nunca de uma forma vista como na época. Um dos grandes nomes para tal revolução foi o alemão Johannes Gutenberg (1399-1468). De início, Gutenberg passou alguns anos trabalhando como joalheiro e depois como fabricador e vendedor de vidro e espelhos, mas por volta de 1438, ele começou a trabalhar num projeto secreto, Gutenberg passou a cogitar a possibilidade de aperfeiçoar o sistema de prensa o qual ficou sabendo que existia na China, e que os indianos e árabes já utilizavam. Ele passou alguns anos trabalhando na fabricação de caracteres móveis. Gutenberg passou alguns anos trabalhando em seu projeto enquanto vivia em Estrasburgo, mas por volta de 1448, quando havia concluído tudo, retornou para Mainz, sua cidade natal. Lá ele se tornou parceiro e sócio de Johann Fust, ambos abriram a primeira tipografia de Mainz e passaram a imprimir livros. A primeira obra impressa em massa foi a Bíblia Sagrada. Impressa em latim, em duas colunas de 42 linhas por páginas, perfazendo mais de mil páginas, a chamada Bíblia de Gutenberg como ficou conhecida, se tornou o primeiro livro mais vendido do mundo, e de fato, a Bíblia ainda continua sendo o livro mais vendido no mundo. 

Uma das cópias da Bíblia de Gutenberg. Berlim, Alemanha.
Gutenberg passou cinco anos trabalhando com Fust, mas desentendimentos levaram os dois a brigarem e porem um fim na parceria. Fust ganhou na justiça o direito de continuar utilizando a invenção de Gutenberg. Dez anos depois, em 1465, o arcebispo de Mainz, Adolfo II de Nassau convocou Johannes Gutenberg e lhe deu recursos para criar uma tipografia e uma editora na cidade, Gutenberg retomou o seu trabalho e o continuou até o fim da vida. Sua invenção redirecionou a História. Embora, o maior crédito ainda deva ser dado aos chineses por terem inventado o papel e a prensa. 

"Uma das principais consequências da invenção da prensa tipográfica foi ampliar as oportunidades de carreira abertas aos letrados. Alguns deles se tornaram letrados-impressores, como Aldo Manutius em Veneza. Outros trabalhavam para impressores, por exemplo corrigindo provas, fazendo índices, traduzindo ou mesmo escrevendo por encomenda de editores-impressores. Ficou mais fácil, embora ainda fosse difícil, seguir a carreira de "homem de letras". (BURKE, 2003, p. 28-29).

"Em Veneza particularmente, um grupo de escritores com educação humanista conseguia sustentar-se com suas penas em meados do século XVI, escrevendo tanto e sobre tal variedade de assuntos que vieram a ser conhecidos como poligraphi. Figuras semelhantes podiam ser encontradas em Paris, Londres e outras cidades no final do século XVI, produzindo, entre outras publicações, cronologias, cosmografias, dicionários e outros guias para o conhecimento". (BURKE, 2003, p. 29). 

O Renascimento e o homem universal

Ao longo do Renascimento (fins do século XIV a meados do século XVI), as universidades se desenvolveriam e continuariam a proliferar. A filosofia escolástica seria cada vez mais renegada ao passado medieval e o humanismo tomaria distintos caminhos e formas. Não apenas seriam os clérigos e os nobres que passariam a ensinar nas universidades e a ter acesso a estas, a burguesia que começava a se desenvolver, passaria a entrar neste mundo do conhecimento, mesmo assim, as universidades ainda seriam fortemente influenciadas pelos desígnios da Igreja Católica, e ao mesmo tempo, mesmo estando sob as diretrizes de reitores humanistas, a rigidez e a conduta universitária levava algumas pessoas não procurarem seus serviços a fim de não ficarem atreladas a normalizações.

"Nessa época, admitia-se como indiscutível que as universidades deviam concentrar-se na transmissão do conhecimento e não em sua descoberta". (BURKE, 2003, p. 38).

"A maioria dos humanistas estudara nas universidades que criticava. E é notável que alguns dos mais criativos entre eles tenham passado grande parte de suas vidas fora do sistema. Petrarca, por exemplo, era um homem de letras itinerante. Lorenzo Valla deixou a Universidade de Pavia e meio à poeira levantada por sua crítica às "autoridades" intelectuais, e entrou para o serviço do rei de Nápoles e, mais tarde, do papa. Leonardo Bruni era chanceler de Florença, e escrevia em defesa da República. Marcílio Ficino era médico a serviço dos Medici. Mais criativo e mais marginal ainda foi Leonardo da Vinci, que fora treinado como pintor e se tornou um autodidata universal". (BURKE, 2003, p. 40).

Leonardo nunca chegou a estudar em uma universidade, desenvolveu todo o seu conhecimento por conta própria, não obstante, se ele tivesse ido a universidade, provavelmente muito de suas pesquisas não teriam sido feitas, já que havia restrições para isso, assim ele preferiu ficar fora do sistema e trabalhar por conta própria. Todavia, se Leonardo fizera isso ele não fora o único. No Renascimento, em meio a pujança da redescoberta do conhecimento clássico dos antigos gregos e romanos, surgiu a concepção de que o homem não deveria ficar atrelado a ignorância ou apenas a uma área do conhecimento, ele deveria saber fazer muitas coisas, assim surgiu o ideal do homo universalitis.

Leonardo da Vinci. Tido como a personificação do homem da renascença.
O homem universal ou homem da renascença como também ficou conhecido, é o termo que designava o indivíduo hábil e conhecedor de várias áreas do conhecimento, nesse caso um indivíduo polímata. Leonardo é considerado o maior exemplo de tal indivíduo da renascença, mas ele não foi o único, outros nomes como, Michelangelo (1475-1564) foi pintor, escultor, poeta e arquiteto; Nicolau Maquiavel (1469-1527), fora político, estadista, diplomata, soldado, escritor, poeta, historiador e filósofo; Lorenzo Valla (1407-1457) fora escritor, filósofo, retórico, professor e educador; Nicolau Copérnico (1473-1543), fora astrônomo, matemático, astrólogo, médico, jurista, administrador, governador, etc. Em si, a concepção de homo universalitis seria mantida até o século XVIII com o Iluminismo. 

As academias

As academias começaram a surgir ainda no século XV, inicialmente consistiam em grupos de homens de letra, que se reuniam para debater sobre ciência, filosofia, arte, teologia, etc, tais grupos informais passaram com o tempo a se formalizarem, criarem sedes, nomes, horários, normas, até que deram origem as academias, instituições de ensino superior como as universidades, mas embasadas em preceitos humanistas, e "livres" do dogmatismo da Igreja e do pensamento escolástico, em teoria.

"Os humanistas desenvolviam suas idéias na discussão, mas seus debates tinham lugar fora do ambiente das universidades, onde grupos estabelecidos há mais tempo tendiam a ser hostis às novas idéias, numa nova espécie de instituição que criaram para si mesmos, a "academia". Inspirada em Platão, a academia estava mais próxima do antigo simpósio ou banquete (inclusive na bebida) que do moderno seminário. Mais formal e duradoura que um círculo (os discípulos de Petrarca, por exemplo), mas menos formal que um departamento universitário, a academia era a forma social ideal para explorar a inovação". (BURKE, 2003, p. 40).

Escola de Atenas, Rafael Sanzio (1506-1510). Ao centro pode-se ver a esquerda Platão e a direita deste Aristóteles. 
Rafael Sanzio (1483-1520), um dos grandes artistas do Renascimento, concebeu o quadro Escola de Atenas, como uma referência a Academia, fundada por volta de 387 a.C pelo filósofo grego Platão (428-348 a.C), nos arredores da cidade de Atenas. Platão na época concebeu a criação de tal local, como forma de reunir seus discípulos e outros filósofos e intelectuais para se debater sobre a história, a sociedade, filosofia, artes, conhecimento, religião, política, etc. Baseado nesta concepção, outros filósofos e estudiosos da antiguidade como Ptolomeu, criaram suas próprias academias, e até mesmo a Biblioteca de Alexandria, fundada por Alexandre, o Grande, era um local de pesquisa e desenvolvimento do conhecimento. Com isso, durante o Renascimento, neste revigoramento pelo conhecimento dos antigos, a Academia Platônica serviu de base para a criação das academias modernas.

Academia Francesa, Paris. Fundada em 1635 pelo primeiro-ministro Richelieu, durante o reinado do rei Luís XIII, o Justo.
Aos poucos as academias iriam proliferar por toda a Europa, logo tais locais serviriam como referência para uma tendência que surgiria durante os fins do século XV, a chamada República das Letras. Tal sociedade, permitia, que intelectuais e os ditos homens de letras, fossem eles oriundos das universidades, das escolas, das academias ou de fora destes sistemas de ensino, pudessem se reunir, para debater, para opinar, para apresentar suas ideias, projetos e pesquisas, de forma democrática. Assim surgia a chamada República das Letras.

Não obstante, ligado ao desenvolvimento das academias, novas áreas do conhecimento também passaram a proliferar nestes centros. Em 1492, Cristóvão Colombo (1451-1506) havia atravessado o Mar Tenebroso, assim como chamavam o Oceano Atlântico, e "descobriu" terras além-mar. Colombo acreditava que havia chegado as Índias, mas de qualquer forma, havia descoberto um Novo Mundo, as Américas. Colombo realizou mais três expedições ao Novo Mundo, além dele, outros navegadores, cartógrafos e geógrafos também participaram de várias outras expedições, dentre estes estava o italiano Américo Vespúcio (1454-1512), o qual viajou de norte a sul pela costa das Américas, continentes homenageados com o seu nome. 

Com a descoberta do Novo Mundo, os homens sentiram a necessidade de rever os mapas e repensar os limites do planeta, assim escolas marítimas, escolas de navegantes, como a Casa da Índia em Lisboa e a Casa de Contratación em Sevilha, eram responsáveis por difundirem o conhecimento sobre a Ásia, África e as Américas além de administrar o comércio, as viagens, e a exploração e colonização destas terras. Assim, posteriormente nas academias e nas universidades, disciplinas antes renegadas como a geografia, cartografia e a história, passaram a serem adotadas e estudadas. Mas devo ressalvar que a História e a Geografia não eram vistas como ciências nessa época, e em alguns casos nem eram cátedras oficiais. 

Em 1600, existiam cerca de 400 academias só na Itália, e as mesmas se espalhavam por Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Alemanha, Polônia, Áustria, Holanda e Bélgica. Em muitos casos, as academias eram formadas pelo investimento de nobres ou até mesmo do Estado, como fora o caso da Academia Francesa e o Collège des Lecteurs Royaux, concebido a pedidos dos humanistas ao rei Francisco I. Outras academias na Inglaterra, Alemanha, Áustria, Itália, etc, foram fundadas e formadas a partir do investimento de nobres ou dos próprios monarcas, o mesmo também se deu com algumas universidades.

"O apoio real também era importante para os humanistas quando encontravam oposição em certos círculos intelectuais". (BURKE, 2003, p. 41). 

A "Nova Filosofia"

"A chamada "nova filosofia", "filosofia natural" ou "filosofia mecânica" do século XVII foi um processo ainda mais autoconsciente de inovação intelectual do que o Renascimento, pois envolvia a rejeição tanto da tradição clássica quanto da medieval, inclusive de uma visão de mundo baseada nas idéias de Aristóteles e Ptolomeu. As novas idéias estavam associadas a um movimento em geral conhecido (a despeito de dúvidas crescentes sobre a propriedade do rótulo) como Revolução Cientifica. Assim como os humanistas, mas em escala mais grandiosa, os adeptos do novo movimento tentaram incorporar conhecimentos alternativos aos saber estabelecido. A química, por exemplo, devia muito à tradição artesanal da metalurgia. A botânica se desenvolveu a partir do conhecimento dos jardineiros e curandeiros populares". (BURKE, 2003, p. 42-43).

Embora a "ciência moderna" ou filosofia natural, como era mais conhecida no período, viesse a reformular as bases do conhecimento moderno, isso não significava que todo mundo era receptível as pesquisas destes pensadores. Embora houvessem rixas e dissidências entre os membros da República das Letras, o maior oponente deles ainda era a Igreja, a Inquisição agia com vigor e de forma poderosa nessa época, porém não fora um controle hegemônico.

Diferente do que geralmente o senso comum acredita que a Inquisição fora um produto medieval e existiu apenas durante este período, na realidade a Inquisição de fato se originou na Idade Média, de inicio no sul da França para se combater alguns pagãos no século XIII, contudo, como instituição formalizada e oficial, isso ocorreu durante a Idade Moderna. Nesse caso, alguns historiadores preferem falar em Inquisições, já que na prática só houveram três grandes Inquisições, e estas não agiram por toda a Europa, mas agiram além das fronteiras deste continente. As inquisições foram: a Inquisição Romana (1542-1800), a qual atuava sobre os Estados italianos; a Inquisição Espanhola (1478-1834), a qual atuou sobre o reino e as colônias; e a Inquisição Portuguesa (1536-1821), a qual atuou sobre o reino e as colônias. Dessa forma, do século XV ao XIX, a Inquisição coordenou as diretrizes educacionais, sociais, religiosas e culturais destas nações durante quase quatro séculos.

Tal fato é bem evidente, no caso do astrônomo, matemático, escritor, filósofo natural italiano Galileu Galilei (1564-1642). Galileu por duas vezes fora convocado a depor no Tribunal Inquisitorial em Roma, sob acusações de heresia, devido ao simples fato de defender a hipótese de Nicolau Copérnico a respeito do modelo Heliocêntrico, o qual dizia que o Sol e não a Terra era que ficava no centro do "universo", e os planetas giravam em torno deste. Galileu, conseguiu se salvar duas vezes, mas outros não tiveram a mesma sorte. E esse fora o caso do filósofo, teólogo, escritor e frade dominicano italiano Giordano Bruno (1548-1600).

Giordano Bruno

Giordano viajou por várias cidades das Europa, fazendo contato com membros da elite, com intelectuais de ciclos literários, sociedades, academias, universidades, etc, mas foram os seus livros que lhe renderam suas acusações de heresia. Giordano era um humanista, ele defendia em seus trabalhos uma reinterpretação do ser humano e de sua essência e condição, ao mesmo tempo criticava a educação, os dogmas da Igreja, a sociedade e a cultura, e em alguns de seus trabalhos, ele agia de forma desdenhosa atacando o poder secular católico, e isso lhe rendeu a própria vida. Giordano Bruno fora preso pela Inquisição Romana, torturado até confessar seus crimes, e por fim fora queimado vivo na fogueira. Ora, se numa época em que bruxas, vampiros e lobisomens ainda eram queimados nas fogueiras, intelectuais não estariam a salvos dessa sentença. 

Mas embora as Inquisições agissem dessa forma opressora em alguns casos nestas nações, em outros lugares da Europa, tal ameaça não existia, assim os homens de letra tinham uma maior segurança em realizar seus trabalhos, embora que procurassem manter cautela sobre o que falavam e o que escreviam. 

Nas nações que não contavam com o perigo da Inquisição os rondando, havia outros entraves para o desenvolvimento das ciências, as próprias instituições. Alguns estudiosos, apontaram que no século XVII ainda existia um certo anseio em as universidades aceitarem a "nova filosofia" como parte de sua grade curricular, de fato, o progresso cientifico ou aconteceu por iniciativa própria de certos indivíduos ou através das academias, as quais foram bem mais receptivas. Até então, o estudo das humanidades fundamentava os currículos universitários e acadêmicos, a matemática, geometria e astronomia eram as "ciências da natureza" que ainda possuíam certo espaço nestas instituições, mas isso começou a mudar com a introdução da filosofia natural (física, química, biologia, botânica, zoologia, farmacêutica, alquimia, etc). 

"O argumento segundo, ainda que a hostilidade das universidades à nova filosofia levou à criação das "sociedades cientificas" como referencial alternativo foi formulado por Martha Ornstein, num livro publicado em 1913. Segundo Orstein, "à exceção das escolas médicas, as universidades pouco contribuíram para o avanço da ciência" no século XVII. A afirmação foi reiterada com frequência. No caso da Inglaterra, por exemplo, os historiadores associaram a fundação da Royal Society às criticas a Oxford e a Cambridge feitas em meados do século XVII por William Dell, John Webster e outros. Webster, por exemplo, que atuava como cirurgião e alquimista e também como clérigo, criticou as universidades em seu Examination of Academies (1654) como redutos da filosofia escolástica ocupada com "especulações inúteis e estéreis", e sugeriu que os estudantes dedicassem mais tempo ao estudo da natureza e "sujassem as mãos nos carvões e nas fornalhas". Frequentemente se observa que não existiu cátedra de matemática em Cambridge até 1663". (BURKE, 2003, p. 43).

Assim, os ingleses criaram em 1660 a Royal Society, uma das instituições mais cultuadas no mundo, ainda em funcionamento. Se por um lado, as universidades tardaram a realizar mudanças para inserir nos currículos os estudos das filosofia natural, algumas academias e outras instituições realizaram isso primeiramente. 

Gravura do Observatório Uranienborg na Dinamarca, construído no século XVI.
Uranienborg "Castelo de Urânia" referência a musa grega da astronomia, Urânia, fora concebido pelo renomado astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601) a pedido do rei Francisco II. Quando fora concebido, tornou-se o primeiro observatório moderno da Europa e do mundo, contendo os equipamentos mais avançados para época, o que não incluía o telescópio o qual ainda não havia sido inventado. Brahe fora considerado o último grande astrônomo a olho nu. Da Terra, dependendo da localização e da luminosidade, pode-se enxergar mais de cinco mil estrelas, incluindo cinco planetas. O observatório acabou sendo destruído alguns anos depois. 

Jardim das Plantas de Paris (antigo Jardim do Rei), fundado no século XVII.
A medida que o interesse pela botânica, zoologia, farmácia, medicina e pela própria natureza crescia, em algumas universidades e academias passaram a criarem jardins botânicos para tais fins, por outro lado, jardins reais, acabaram sendo expandidos com a criação de prédios, para se realizar tais estudos, este fora o caso do Jardim do Rei, iniciado no reinado de Luís XIII o qual governou de 1610 e 1643. O jardim continuou a crescer sob os reinados seguintes até os dias de hoje. A partir da década de 1640 passou a ser aberto ao público, onde passou a contar com palestras, sobre anatomia, botânica e química. Posteriormente passou a deter uma escola de botânica e farmácia, e no século XVIII um pequeno zoológico. Atualmente todo o complexo do jardim faz parte do Museu Nacional de História Natural

"Algumas delas foram fundadas dentro das próprias universidades, por exemplo, jardins botânicos, anfiteatros de anatomia, laboratórios e observatórios - todos ilhas de inovação dentro de estruturas mais tradicionais. A nova Universidade de Leiden possuía um jardim botânico em 1587, um anfiteatro de anatomia em 1597, um observatório em 1633 e um laboratório em 1669". (BURKE, 2003, p. 44).

Francis Bacon
Se por um lado a "nova filosofia" aos poucos iam ganhando novos adeptos entre os intelectuais da República das Letras, termo que passou a ser mais utilizado já no século XVII, na teoria a "nova filosofia" se desenvolvera bem mais rapidamente. E um dos seus principais precursores fora o inglês Francis Bacon (1561-1626), político, estadista, advogado, filósofo, escritor, historiador, nobre, considerado o "Pai da Ciência Moderna". Bacon ficou conhecido através de seus vários trabalhos por ter desenvolvido o conceito moderno do Empirismo e do método empírico e o próprio conceito de método cientifico"Bacon propôs (...) um método investigativo fundamentado em observação, descrição, classificação, comparação, eliminação e, só então, dedução das possíveis causas de um fenômeno. Em síntese, tratava-se do empirismo". (SERJEANTSON, 2009, p. 72).

Suas principais obras que fundamentaram o desenvolvimento e redirecionaram as vertentes de como o mundo deveria ser enxergado, como deveria-se trabalhar a fim de desvendar os mistérios da natureza, foram escritos em obras como: Novum Organum, Instauratio Magna e Advancement of Learning. Todas trazem o pensamento e a própria concepção de classificação do conhecimento, o qual ele o dividia entre o conhecimento divino e o conhecimento humano. Para Bacon, ciência e religião não estavam distantes um do outro, diferente do que a ciência atual demonstra.

Instauratio Magna, Francis Bacon, 1620.
Se por um lado Bacon tendia desenvolver o conhecimento a partir da filosofia do empirismo, defendo a necessidade da experiência, da pesquisa, da repetição, da observação, análise, etc, outra corrente oposta de pensamento defendia que o conhecimento era inato, que os homens já o possuíam, e este era a razão. Tal filosofia ficou conhecida como o Racionalismo, especialmente desenvolvida pelo filósofo e matemático francês René Descartes (1596-1650). Enquanto, Bacon desenvolvia a "ciência moderna", Descartes é considerado o "Pai da Filosofia Moderna". Obras como Princípios da Filosofia, o Discurso sobre o Método e Regras para direção do Espirito, são seus principais trabalhos que contribuíram para moldar o pensamento filosófico moderno. Descartes também chegou a ser professor da Universidade de Leiden, a mais importantes universidade da Holanda. Além dele, outros importantes homens de letra que atuaram na universidade fora o filósofo, teólogo e artesão  holandês, Bento de Espinoza (1632-1677), e o filósofo, jurista, dramaturgo e poeta holandês, Hugo Grócio (1583-1645).

René Descartes
Mas, além destes nomes, outros nomes que devem ser citados neste período são: John Locke, Thomas Hobbes, Robert Boyle, Gottfried Leibniz (professor de matemática na Universidade de Altdorf), Blaise Pascal, Johannes Kepler, Robert Hooke (descobridor da célula e inventor do microscópio composto), Nicolas Malebranche, Evangelista Torricelli, Giambattista Vico (autor de Scienza Nuova) entre outros. Contudo, dentre tais nomes, Isaac Newton (1643-1724) provavelmente seja o mais conhecido e lembrado deste período, considerado um dos grandes "cientistas" do século XVII e XVIII. Newton, fora matemático, físico, filósofo natural, astrônomo, alquimista e teólogo, fora responsável pela descoberta e teorização da Lei da Gravidade, da formulação das Três Leis de Newton, o Teorema Binomial, etc. Foi professor da Universidade de Cambridge e membro da Royal Society. Newton revolucionou a mecânica clássica, de uma forma sem precedentes. 

Isaac Newton um dos grandes nomes da ciência moderna.
O interesse pela filosofia natural e outras artes e saberes, levaram a proliferação de academias e "bases do conhecimento" assim como referia-se Francis Bacon, por toda a Europa. Especialmente a nobreza e a aristocracia gostavam de participar de palestras e eventos em universidades, academias e outras instituições, isso era um indicativo de prestigio e status social, de fato nos ciclos da alta burguesia, da aristocracia e da nobreza, rondavam intelectuais das mais diversas áreas do conhecimento, fato este que muitos estudiosos eram secretários de governadores, de reis, de condes, de duques, funcionários do Estado, historiadores reais, doutores, professores etc., destas instituições. 

Já que monarcas como Luís XIII, Luís XIV, Frederico II, Rodolfo II, Elizabeth I, Isabel da Boêmia e outros, eram admiradores do conhecimento, as vezes mais por curiosidade do que por interesse. Com isso, as pessoas nessa época nos bailes e nas festas falavam sobre arte, história, filosofia, política, ciência, sobre curiosidades do mundo, bem diferente dos dias de hoje. A proliferação de antiquáriosbibliotecas e museus cresceu ao longo do século XVII, as pessoas passaram a ter maior curiosidade pela história de povos e civilizações das Américas, África e da Ásia, tais mundos mesmo estando longe, estavam agora próximos através de gravuras, pinturas, objetos, etc. 

Frontispício do "gabinete das curiosidades" no Museu Wormianum, Dinamarca, século XVII. Fundado pelo médico e antiquário Worm Ole (1588-1655).


Os antiquários agiam mais como curiosos e meros colecionadores de "relíquias", contudo, alguns destes passaram a despertar interesse pelos objetos e os lugares de onde estes vinham e quem os produziam, assim alguns destes antiquários se tornaram historiadores, passaram a estudar geografia, línguas estrangeiras, desenvolveram a numismática (ciência que estuda as moedas e as medalhas), a iconografia e o a simbologia (estudo de signos e imagens), a epigrafia, a heráldica (estudo dos brasões). Alguns antiquários foram precursores da arqueologia, da paleontologia e da museologia, ciências que surgiriam no século XIX e XX. 

O Século das Luzes
O século XVIII ficaria conhecido pelo movimento do Iluminismo ou Ilustração que gerou-lhe o epiteto de o Século das Luzes. Fora o rumo final da República das Letras, a qual caiu no anonimato, mas ainda com grande esplendor. O Iluminismo como é mais conhecido fora um movimento ideológico, cultural e revolucionário que abarcou os fins do século XVII e todo o século XVIII, sendo que o seu último grande expoente fora o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804). O Iluminismo visava à reformulação dos ideários políticos, culturais, sociológicos, artísticos, científicos, além de influenciar a crítica, o deísmo e a laicização da sociedade européia no final do Antigo Regime. Os iluministas queriam através da razão e das ciências promoverem uma revolução intelectual na sociedade. E tais influências podem ser vistas na Revolução Americana em 1776 e na Revolução Francesa em 1789.

"De um ponto de vista institucional, o século XVII marca um ponto de inflexão na história do conhecimento europeu em diversos aspectos. Em primeiro lugar, o monopólio virtual da educação superior desfrutado pelas universidades foi posto à prova nesse momento. Em segundo lugar, assistimos ao surgimento do instituto de pesquisas, do pesquisador profissional e, de fato, da própria idéia de "pesquisa". Em terceiro lugar, os letrados, especialmente na França, estavam mais profundamente envolvidos que nunca com projetos de reforma econômica, social e política, em outras palavras, com o Iluminismo". (BURKE, 2003, p. 47).

O século XVIII conheceu uma nova profusão de academias, e outros centros de conhecimento, e alguns destes eram menos formais do que as universidades e algumas academias. Os currículos eram variados, ensinavam-se disciplinas antes não vistas em algumas outras instituições, como política, economia, história moderna, engenharia, silvicultura, mineralogia, etc. As aulas eram dadas nas línguas nacionais, ao invés do tradicional latim, o qual era utilizado desde as universidades medievais, já que o latim era considerado uma língua erudita e dos homens cultos, fato este que nas universidades e algumas academias, os professores davam aulas em latim, e os trabalhos acadêmicos eram publicados também em latim, tal tendência se mantivera até o inicio do século XIX.

"Foram  fundadas academias de artes em Bruxelas (1711), Madri (1744), Veneza (1756) e Londres (1768). Novas academias nobres foram fundadas em Berlim (1705) e em muitas outras cidades. Entre 1663 e 1750 foram fundadas em Londres e cidades provinciais como Warrington, em Lancashire (onde um dos professores era o filósofo natural Joseph Priestley), quase sessenta academias para "dissidentes" da Igreja da Inglaterra, excluídos de Oxford e Cambridge". (BURKE, 2003, p. 49).

Foram fundadas também várias outras academias pela Alemanha, Suécia, Dinamarca, Noruega, Áustria, Hungria, Polônia, Rússia e algumas nas Américas. Dessa forma membros de outros cantos do mundo poderiam se corresponderem e até mesmo viajarem para estudar em alguma destas instituições, assim a República das Letras não ficava mais retida apenas ao continente europeu, mas ganhava adeptos de várias outras partes do mundo, até mesmo os estudiosos itinerantes, costumavam se corresponder com suas instituições que patrocinavam ou onde possuíam conhecidos e interesses. Os bolsistas (pensionnaires, como se dizia na França), já existia a bastante tempo, e era uma forma de se incentivar os estudiosos ao ato da pesquisa, o qual passou a se regularizar e se tornar mais comum a partir do século XVIII, o que daria origem ao cientista que conhecemos hoje, a partir do século XIX.

"O século XVIII foi uma época importante para associações voluntárias de muitas espécies, muitas delas devotadas à troca de informações e idéias, muitas vezes a serviço da reforma. Três exemplos das Ilhas Britânicas servem para demonstrar o crescente interesse pelo conhecimento útil: a Dublin Society for the Improvement of Husbandry (1731); a London Society of Arts (1754), fundada para incentivar o comércio e a manufatura; e a Lunar Society of Birmingham (1775), que fazia o intercâmbio de informações técnicas e cientificas. O surgimento de lojas maçônicas em Londres, Paris e outras cidades no início do século XVIII ilustra essa nova tendência e também a tradição mais antiga do conhecimento secreto". (BURKE, 2003, p. 50).

Reunião de membros da Sociedade Lunar de Birmingham, Inglaterra no século XVIII. Autoria anônima.
Se por um lado houve a proliferação de academias por toda a Europa e em outros cantos do mundo colonial europeu, não era apenas em salas de aula, auditórios, palestras, seminários, etc, que os homens de letras se reuniam para debater sobre ciência, filosofia, história, politica, arte, economia, etc, eles se reuniam em locais menos formais, como salões de dança e cafés. 

"Organizações ainda menos formais, como o salão e o café, desempenharam um papel na comunicação de idéias durante o Iluminismo". (BURKE, 2003, p. 50). 

Fachada do Café Le Procope, Paris. Fundado em 1686. 
Os cafés surgiram na Europa ainda no século XVII, embora o café já fosse conhecido já há alguns séculos. Os cafés se espalharam de inicio pela Itália, depois pela França, Inglaterra (antes de serem conhecidos como bebedores de chá, os ingleses eram grandes consumidores de café), Alemanha, Áustria, Hungria, Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal, etc. Não obstante, desde o século X nos países árabes do Oriente Médio e no Norte da África, já possuíam o costume de se reunirem para beber café ou chá, jogar, cantar, tocar música e conversar.

Tal legado fora absorvido pelos europeus e posteriormente nas colônias americanas no século XIX. Nos cafés, homens e mulheres poderiam participar de conversas sobre desde o cotidiano até sobre questões politicas e revolucionárias como fora o caso da França. No caso de Paris entre suas centenas de cafés, um dos mais famosos era e ainda é o Le Procope, fundado em 1686 pelo siciliano Francesco Procopio dei Coltelli. No século XVIII o café se tornou local de encontro de importantes pensadores e nomes do iluminismo na França, intelectuais como Turgot, Montesquieu, Voltaire, Rousseau, Diderot, d'Alembert, Condorcet, La Harpe, Robespierre, Danton e até mesmo o próprio futuro imperador de França, Napoleão Bonaparte, frequentaram o café. No Le Procope, Diderot e d'Alembert, editores da famosa Encyclopédie, se reuniam para discutir, debater e até mesmo escrever artigos que compunham a enciclopédia. Até mesmo ideias e ações para a futura Revolução Francesa foram debatidas no Le Procope e outros cafés da cidade. 

"Os donos dos cafés frequentemente exibiam jornais e revistas como modo de atrair clientes, encorajando assim a discussão das notícias e o surgimento do que muitas vezes é chamado de "opinião pública" ou "esfera pública". Essas instituições facilitavam encontros entre idéias e indivíduos". (BURKE, 2003, p. 50-51).

Denis Diderot (1713-1784), filósofo e escritor francês, editor-chefe por vários anos da Encyclopédie.
A Encyclopédie consistiu na primeira enciclopédia de grande tiragem na História, já que até então não havia a tradição de se formular enciclopédias como veículos que reunissem conhecimentos de diversas áreas do saber. A Enciclopédia fora publicada de 1751-1772 e contou com volumes extras entre 1776-1780, contando com um total de 35 volumes, mais de 3 mil ilustrações, 75 mil artigos escritos por 150 colaboradores.

Capa da Encyclopédie, 1751.
Se por um lado, enciclopédias, dicionários, almanaques, etc começaram a serem impressos em massa no século XVIII, o século XVIII também fora o século da proliferação de jornais e revistas, como forma de levar o conhecimento de forma menos formal do que nas outras obras, e como forma de informar os cidadãos sobre a realidade de suas nações. 

"A imprensa, especialmente a periódica, também pode ser considerada uma instituição que incentivou de maneira crescente a vida intelectual no século XVIII, contribuindo para a difusão, coesão e poder da comunidade imaginada da República das Letras. Não menos que 1.267 periódicos em francês foram criados entre 1600 e 1789, 176 deles entre 1600 e 1699 e o restante a partir de então". (BURKE, 2003, p. 51).

No século XIX, os intelectuais já não mais usavam o termo "homem de letras", mas passaram a usar o termo "cientista". Embora, as universidades, academias, sociedades cientificas etc, ainda se mantiveram e algumas se mantêm até hoje, a ideologia de uma República das Letras se perdera, os ciclos científicos e acadêmicos se tornaram mais restritos, formando um muro entre a sociedade culta e a sociedade leiga, de fato, hoje em dia você não vê mais as pessoas se reunindo em cafés, restaurantes, bares para conversar sobre ciência, filosofia, artes, história, politica, economia, etc, tais debates ficaram relegados as instituições superiores, isso quando vem a ocorrerem, e de forma devida, não apenas meras discussões de perda de tempo ou confrontos de egos. A República das Letras fora substituída pela chamada Comunidade Cientifica. 

O ensino superior no mundo moderno

Antes da formação das universidades medievais, nos países islâmicos existiam escolas chamadas madrasas, escolas de ensino comum e superior, onde os estudantes aprendiam desde a ler e a escrever, a recitar o Alcorão (escolas corânicas), aprendiam sobre as leis proferidas pelo profeta Maomé, estudavam geografia, história, matemática, alquimia, astronomia, política, medicina etc. Contudo o problema das madrasas era, o fato de não possuírem uma grade curricular fixa, normatizada, os currículos variavam de tempos em tempos, devido a gestão das escolas ou por ordens dos governantes, tal fato também se deu com as universidades europeias modernas, como já fora visto.  A madrasa mais antiga ainda em funcionamento fora fundada em 859 no Marrocos, hoje é a Universidade de Al-Karaouine desde 1947. 

Interior da madrasa Al-Azhar em 1869. Fundada em 970 no Cairo, Egito. Atualmente é a Universidade Al-Azhar desde  1961.


"A medrese (forma turca da palavra madrasa) seguia padrão semelhante. A mesquita que o sultão Mehmed II fundou em Istambul logo depois de conquistar a cidade tinha oito escolas anexas. No século XVII havia noventa e cinco escolas na cidade, que chegaram a duzentas no século XVIII. As palestras eram abertas, mas para os estudantes que desejavam alcançar altas funções na ulemá como juiz, conselheiro ou professor (müderris), o apoio de um mestre particular era essencial, Por volta de 1550, ter estudado em certas escolas de prestigio, o assim chamado grupo "de dentro", era um pré-requisito virtual para postos elevados. Diplomas e exames foram introduzidos, sinal de que o sistema tornava mais formal". (BURKE, 2003, p. 52).
A cidade de Tombuctu durante o século XVI, era a cidade mais próspera e um poderoso e influente centro econômico, político e cultural do Império Songhai e do norte do continente africano. Hoje Tombuctu é a capital do estado homônimo, pertencendo ao Mali. Mas, no século XVI sua universidade era a mais prestigiada de toda a parte norte do continente, por quase um século, pessoas de vários cantos da África e do Oriente Médio viajaram por savanas, desertos e florestas para estudar em Tombuctu. A cidade possuía nesta época, cerca de 80 mil habitantes e 124 escolas corânicas, além de três grandes mesquitas e a universidade em si. Na universidade, se ensinava, matemática, geografia, história, astronomia, direito, arquitetura, engenharia, medicina, etc. Milhares de alunos passaram pela cidade durante este século. Hoje em dia, Tombuctu já não detêm mais a glória que tivera no passado.

No caso das Américas, as universidades surgiram com a colonização. A primeira universidade a ser fundada no Novo Mundo, fora a Universidade Nacional de San Marcos, fundada 1551 em Lima no Vice-Reino do Peru. Contudo, em 1538, houve a tentativa de se fundar a Universidade Autônoma de Santo Domingo na Capitania de Santo Domingo, mas a Coroa Espanhola vetou a tentativa.  Atualmente a Universidade Nacional de San Marcos, continua em funcionamento e é a principal universidade do Peru. 


Brasão da Universidade Nacional de San Marcos, Peru. Fundada em 1558. É a universidade mais antiga das Américas.


Depois dos espanhóis foram os ingleses que fundaram novas instituições de ensino superior nas Américas. Contudo, as universidades na América do Norte, só iriam surgir de fato após a independência dos Estados Unidos da América em 1776. Em 1636 na colônia de Massachusetts, na região da Nova Inglaterra, fora fundado por um grupo de calvinistas uma instituição privada, o Harvard College, nome dado em homenagem a um dos principais patrocinadores, John Harvard (1607-1638). A partir do século XVIII, surgiu a Universidade de Harvard, uma das instituições mais prestigiadas dos Estados Unidos e do mundo, embora seja uma entidade privada. 


Gravura do Harvard College, fundado em 1636. O colégio deu origem a atual Universidade de Harvard.



No caso do Brasil, as primeiras faculdades, academias e escolas de belas-artes sugiram apenas o século XIX, após a Família Real ter se instalado com a corte na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1808. Nas reformas promovidas por D. João VI, estiveram a fundação de faculdades de direito, escolas de medicina, escolas militares, algumas academias, a Biblioteca Real (atualmente Biblioteca Nacional), a Imprensa Régia, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Mauricio de Nassau já havia construído um jardim botânico em Recife no século XVII). Contudo, as universidades brasileiras só foram fundadas no século XX. A Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fora a primeira universidade do país, fundada em 1920. Algumas das faculdades e escolas criadas no século XIX, foram anexadas aos campi das universidades. 

Brasão da Universidade do Brasil (atualmente Universidade do Rio de Janeiro), fundada em 1920, como a primeira universidade do país.

NOTA: A Academia Brasileira de Letras fora fundada em 1897, por alguns nomes ilustres da história brasileira, como Machado de Assis, Olavo Bilac, Graça Aranha, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, entre outros. 
NOTA 2: Galileu Galilei era membro da Academia Nacional de Lince em Roma. 
NOTA 3: Eramus Darwin, avô de Charles Darwin era membro da Sociedade Lunar de Birmingham. 

Referências Bibliográficas:
BURKE, Peter. Uma História Social do Conhecimento: De Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003.
BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália: Séculos XV-XIX. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
SERJEANTSON, Richard. Um novo pensar. BBC Revista História, São Paulo, v. 12, p. 72-74, 2009.
CISSOKO, Sékéné Mody. Os Songhai do século XII ao XVI. História Geral da África – vol. IV: África do século XII ao XVI. Editado por Djibril Tamsir Niane. 2ª edição, Brasília, UNESCO, 2010. (Capitulo 8).

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