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Leandro Vilar

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Momento: Expressões da História - parte VII

"Entre a cruz e a espada"

Tal expressão refere-se quando um indivíduo se encontra em meio a um grande dilema, e necessita fazer uma escolha, a qual poderá acarretar em grandes e/ou dramáticas mudanças. Todavia, a origem desta expressão, remonta há alguns séculos, mas, infelizmente não consegui descobrir de que época propriamente ela data. A respeito do período, alguns sugerem que a expressão date dos fins da Idade Média, ou da Idade Moderna, em ambos os casos remetendo a Inquisição, contudo, outros apontam o período das Cruzadas que abarca o final do século XI e vai até meados do século XIII. Aqui tentarei esboçar de forma simples o contexto desta expressão.

Basicamente as Cruzadas em sua essência representaram a tentativa da Igreja Católica em não apenas conseguir novos fiéis, mas reconquistar a Terra Santa e barrar o avanço muçulmano para a Europa. Nesse contexto, estar "entre a cruz e a espada" significava fazer a seguinte decisão: ou você aceitava se converter ao cristianismo e ser salvo, ou você manteria sua religião e seria morto, já que o mesmo seria considerado um herético.

No caso da Inquisição, o contexto é parecido, porém existe outros fatos que ponderam tal argumento. A Inquisição foi criada em 1183 por decreto do papa Lúcio III em resposta as acusações e crimes de heresia que se espalhavam pelo sul da França, todavia, a Inquisição será forte e exercerá uma grande influência em três nações, "Itália" (a Itália não era uma nação unificada), Espanha e Portugal. As chamadas inquisições episcopais e papais perduraram pelos séculos seguintes, até serem regulamentadas no século XV em Roma, dando origem a Inquisição Romana, a qual não apenas será a sede do Tribunal do Santo Ofício, mas designara a regulamentação dos tribunais nas cidades-Estados italianas. No caso da Espanha, a Inquisição Espanhola foi instaurada em 1478 e em Portugal, a Inquisição Portuguesa foi instaurada em 1536. Oficialmente as Inquisições, como deve ser corretamente designadas, foram abolidas apenas no século XIX. As Inquisições não agiram sobre toda a Europa, mas tiveram influência e ação sobre a América Latina, já que Portugal e Espanha levaram inquisidores e instalaram tribunais no Novo Mundo.

 No caso da expressão, primeiramente devemos ver a imagem abaixo.

Escudo da Inquisição Espanhola.
Basicamente cada uma das três inquisições, possuía seus próprios escudos, insígnias, símbolos, etc., porém, era comum que em todos fossem representados a espada e a cruz, já que o ramo de oliveira retratado neste escudo, as vezes era substituído por um livro (Evangelhos, a Bíblia, etc), ou pela palma do martírio, e até mesmo coroas, flores-de-lis, e outros símbolos da heráldica papal e monárquica espanhola e portuguesa.

No caso deste escudo espanhol, a cruz simboliza a Igreja, logo a Inquisição era um órgão submetido a autoridade da Igreja, e este tinha como função investigar, julgar e castigar os crimes de heresia, e ao mesmo tempo zelar pela ordem e pela palavra de Deus. Quanto a espada, esta simboliza a justiça, a força, e até mesmo o poder, porém tal simbolismo é bem mais antigo. Quanto ao ramo de oliveira, simboliza a reconciliação e o perdão aos arrependidos.

Assim, estar "entre a cruz e a espada", era estar diante do julgamento de suas heresias, de estar diante do tribunal inquisitorial, onde teria-se que confessar seus crimes, se fosse culpado pagaria por estes, se fosse inocente seria absolvido. Porém em alguns, casos a absolvição, significava a absolvição da alma e não do corpo, por isso que algumas pessoas foram queimadas na fogueira.

"Bode expiatório"

O bode expiatório refere-se a uma prática antiga judaica que remonta a mais de dois mil anos. Durante a celebração do Yom Kipur (Dia da Expiação), os antigos judeus realizam entre várias celebrações e rezas o sacrifício de animais, no caso, participava-se da celebração um touro e dois bodes, onde o touro e um dos bodes eram sacrificados e queimados para Iavé (Deus), e o outro bode serviria de expiação para os pecados do povo de Israel. O sacerdote, contaria os pecados do seu povo com a mão estendida sobre a cabeça do bode, e após a confissão e as preces, o bode era solto, levando consigo os pecados e preces do povo israelita.

O bode expiatório, pintura de William Holman Hunt.
Nesse caso, a crucificação de Jesus Cristo é uma alusão a esta prática, onde Cristo morre para expiar os pecados da humanidade.

"Tal como o sacrifício de um só do bodes era um preço suficiente (porque aceitável) para o resgate de todo Israel, assim também a morte do Messias é um preço suficiente para pagar os pecados de todo o gênero humano, pois nada mais foi exigido. Os sofrimentos de Cristo nosso Salvador parecem estar aqui figurados, tão claramente como na oblação de Israel, ou em qualquer de seus outros simbolos no Antigo Testamento. Ele foi ao mesmo tempo o bode sacrificado e o bode expiatório. Ele foi oprimido, e ele foi afligido (Is 53, 7); ele não abriu a boca; foi levado como um cordeiro para a matança, e assim como um cordeiro fica diante do tosquiador, assim também ele não abriu a boca. Aqui ele é o bode sacrificado. Ele suportou nosos agravos, e levou nossas aflições (vers. 4). E também (vers. 6): O Senhor carregou com si as iniquidades de nós todos. Aqui ele é o bode expiatório. (HOBBES, 1979, pp. 285-286).

Referências Bibliográficas:
BETHENCOURT, Francisco. História das Inquisições: Portugal e Itália: séculos XV-XIX. São Paulo, Companhia das Letras, 2000. (Capitulo 3: a emblemática).
HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. 2a ed, São Paulo, Abril Cultural, 1979. (Coleção: Os pensadores) (Livro III: Capitulo XLI: Da missão de nosso abençoado Salvador, pp. 285-286).

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domingo, 12 de junho de 2011

A Itália de Maquiavel

Esse texto procura elucidar alguns aspectos da Itália durante a época de Maquiavel, entre os séculos XV e XVI em pleno período renascentista, uma época do florescimento artístico e intelectual; a Itália vivenciava um período conturbado, marcado por guerras, conspirações, traições e assassinatos. E fora nesse conturbado mais genioso período que Maquiavel viveu e trabalhou, e de fato este tivera participação direta nestes conflitos que se acirraram por mais de trinta anos.

Vida e Obra

Nicolau de Bernardo Maquiavel (Niccolò di Bernardo Machiavelli), historiador, diplomata, filósofo, artista, assumiu vários cargos públicos e também é considerado um dos primeiros cientistas políticos modernos. Nasceu em 3 de maio de 1469 na cidade de Florença. Filho de Bernardo Maquiavel, um legislador, desde cedo Nicolau tivera contanto com a vida pública e política da República Florentina, a qual pelos anos seguintes seria governada por Lourenço de Médici, alcunhado o, Magnífico. Maquiavel entrou para a vida política em 1498, sendo nomeado Segundo Secretário da Senhoria, ainda no mesmo ano assumiu o cargo de Chefe da Segunda Chancelaria e posteriormente se tornou Secretário dos Dez, importante cargo do Estado. Em 1499 escreveu Discursos sobre negócios em Pisa, no mesmo ano realizou duas missões diplomáticas.

Entre junho e julho de 1500, Maquiavel se encontrava em meio ao cerco francês a cidade de Pisa, lá ele passou a defender os direitos dos soldados contratados como mercenários pelo Rei de França, Luís XII. Viajou para a França para defender os direitos destes soldados. Em 1501 participou de novas missões diplomáticas. Maquiavel entrou em meio ao jogo político dos Bórgia, liderado especialmente por Cesare Bórgia (1475-1507), homem de grande ambição e filho do papa Alexandre VI. Maquiavel tentou ganhar a libertação das cidades italianas que se rebelaram contra a conquista francesa, contudo em outubro, fora enviado pelo governo florentino para prestar seus serviços a Cesare Bórgia até o começo do ano seguinte. Em 1503, escreveu mais dois livros e continuou com suas missões diplomáticas. Em 22 de fevereiro fora enviado pela República de Florença para a França, retornando em março. Os florentinos se tornaram aliados dos franceses. Em outubro começou a escrever o Decenal, narração da história florentina desde 1494 em tercetos. Em 1505, fora enviado em missões diplomáticas a fim de conseguir aliados para a causa florentina, em 1506 cansado de não conseguir recrutar tropas mercenárias, decidiu formar uma milícia florentina, escreveu posteriormente acerca disso.

Entre agosto e outubro de 1506, Maquiavel passou a trabalhar com o papa Júlio II o acompanhando em suas viagens e missões. No mesmo ano, ele decretou a criação dos Nove da Ordem e da Milícia onde assumiu o cargo de chefia. Em 1508, regressou para Florença, onde escreveu Relatos sobre os Fatos na Alemanha e continuou com a campanha de recrutamento pelos dois anos seguintes. Em 1510, escreveu após retornar de mais uma viagem a França, Retrato das coisas da França. Fora incumbido pelo Estado florentino de convocar uma cavalaria, prosseguiu com as convocações pelo ano seguinte.


Em 1512 os Médicis retornaram para Florença e tomaram o poder, abolindo a Constituição republicana. Nicolau Maquiavel teve seu mandato cassado e fora preso. Na prisão fora torturado a fim de que confessa-se supostas conspirações nas quais estava envolvido.

Em 1513, fora libertado de sua prisão e se refugiou em sua casa de campo em Sant’Andrea-in-Percussina, de onde passou a manter em segredo correspondência com seu amigo Vettori, Embaixador de Florença em Roma. Nesse período começou a escrever Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio e o Príncipe.


Em 1518 escreveu A Mandrágora. Ainda afastado de suas atividades diplomáticas e políticas, mas dispunha de certa liberdade. No ano seguinte começou a escrever a Arte da Guerra. Em 1520 começou a escrever novos livros, inclusive a História de Florença. Cinco anos depois ele concluiu o livro e o apresentou ao papa Clemente VII. Voltou a atuar como diplomata, tendo viajado para Veneza a fim de defender algumas causas de mercadores florentinos. Nesse tempo continuou a escrever ao papa a fim de despertá-lo para ameaças de uma nova guerra, acabou convencendo o papa de criar uma Comissão de Fortificações, sendo nomeado chanceler da comissão. Os anos que se seguem, a Itália se encontrava em conflitos contra os espanhóis os quais tentavam conquistar terras na península.


Em 6 de maio de 1527 Roma fora tomada e saqueada, Maquiavel em viagem decidiu retornar à Florença, no caminho recebeu a noticia de um possível golpe de Estado em Florença. Acabou morrendo em 27 de junho aos 58 anos, deixando sua esposa Marietta Corsini e mais quatro filhos. Seu corpo fora sepultado na Basílica de Santa Cruz de Jerusalém. Sua obra mais famosa o Príncipe fora publicada em 1532.

Fachada da Basílica de Santa Cruz de Jerusálém, Itália. Local do sepulcro de Nicolau Maquiavel.

As Itálias da Itália

A Itália por vários séculos fora uma nação de pequenos Estados. Com a queda do Império Romano em 476, a península Itálica passou a ser governada pelos seus invasores bárbaros, os chamados Reis Bárbaros governaram por algumas décadas, mesmo assim o domínio destes povos não garantiu uma identidade unificada a Itália. Se antes os habitantes da Itália se viam como romanos, eles passaram a se ver como romanos, florentinos, milaneses, genoveses, lombardos, venezianos, sicilianos, napolitanos, etc.

Enquanto a Europa adentrava a época feudal por volta do século IX, à Itália vivenciava uma disparidade a respeito de que tipo de governo adotaria. O feudalismo diferente do que alguns pensam, não fora algo que ocorreu por toda a Europa, algumas nações na Europa Oriental e no norte do continente não vivenciara este sistema, no caso da Itália, mesmo em pleno período medieval existiam repúblicas (claro que a república daquela época possuía uma identidade própria, contudo era baseada na república romana e em parte na democracia grega). Assim, cidades como Florença, Pisa e Veneza era repúblicas, enquanto, Nápoles era um reino e Milão um ducado, que de certa forma adotavam o feudalismo. Contudo além de haver repúblicas e ducados na Itália, existiam os chamados Estados Papais, os quais eram cidades e terras governadas e administradas diretamente pela Igreja, e o papa possuía autoridade direta sobre tais regiões.

Ao longo da Idade Média, as nações italianas vivenciaram a influência e em alguns períodos a autoridade do Império Bizantino, além de vivenciar conflitos com os franceses, sérvios, húngaros, bizantinos, turcos, árabes, espanhóis, etc. Até chegarmos ao século XV quando ocorrerá o fim do período medieval e o inicio do Renascimento na Itália, algumas nações europeias não viviam sob a condição de uma pátria unida. Dentre as principais nações europeias, a Inglaterra e Portugal já eram estados unificados, a França criaria uma identidade “francesa” após o fim da Guerra dos Cem anos em 1453. A Alemanha era na realidade o Sacro Império Romano-Germânico, o qual consistia na realidade, um aglomerado de pequenos Estados. A Rússia também vivenciava um período feudal e se estruturava em Estados, a região central da Europa vivenciava as lutas de pequenos reinos, e o outrora Império Bizantino havia caído nas mãos dos turcos-otomanos, os quais expandiam seus domínios para o interior do continente. A Grécia era província otomana. Sendo assim, a Itália não representava uma singularidade neste período.


Como fora visto anteriormente acerca do resumo sobre a vida e obra de Maquiavel, nota-se que este passou vários anos de sua vida em viagens diplomáticas a fim de apaziguar os conflitos que corroíam os Estados italianos. Uma das criticas que Maquiavel faz em o Príncipe é essa falta de união e hegemonia política, algo que enfraquecia a Itália como um todo, e isso a deixou fraca as ameaças estrangeiras, como vieram a ser a dos franceses e espanhóis, além de vivenciar conflitos internos. Por isso, que Maquiavel em o Príncipe falará acerca das melhores formas que um príncipe deve governar e também apontará os caminhos que ele deve evitar para não cair na ruína.

Mapa da Itália em 1494.
Antes de Maquiavel entrar na vida política em 1498, em 1492 a Ibéria, se encontrava antes dividida em pequenos reinos que digladiavam entre si e ao mesmo tempo lutavam para expulsar de suas terras os mouros, que já residiam ali há alguns séculos. Em 1492 o último reduto mouro, a cidade de Granada caíra perante os exércitos dos chamados Reis Católicos, referência ao casal Fernando de Aragão e Isabel de Castela, os quais unificaram os estados ibéricos (com exceção de Portugal que já era unificada) e formaram a Espanha. No mesmo ano, os Reis Católicos enviaram Cristóvão Colombo em sua ousada jornada para descobrir uma nova rota para as Índias. Colombo retornaria ano seguinte com a noticia de ter descoberto de fato novas terras.


Rodrigo Bórgia/Papa Alexandre VI
Na Itália, o papa Inocêncio III havia falecido e fora eleito para sucedê-lo Rodrigo Bórgia, homem de uma respeitada e influente família espanhola. Os Bórgia já possuíam ligação e influência com o papado desde a época de Afonso Bórgia o qual havia sido o papa Calisto III (1455-1458). Assim, em 1492 Rodrigo Bórgia, passou a adotar o nome de Alexandre e se torna o papa Alexandre VI. Será com sua autoridade a frente do pontificado que seu filho Cesare Bórgia deterá grande autoridade e prestigio afim de poder realizar suas ambições. Cesare Bórgia pretendia expandir seus domínios, e usaria a ligação com Roma para conseguir isso. Em 1494, o rei de França, Carlos VIII declarou guerra ao Reino de Nápoles, suas tropas atravessaram os Alpes em setembro. A declaração de guerra dada pelo rei francês daria inicio ao período histórico chamado de Guerras Italianas ou Guerras Itálicas, um período de constantes conflitos que vai de 1494 a 1559.

No caminho, o exército francês destruiu, pilhou e massacrou a população da cidade de Lucca e libertou a cidade de Pisa do domínio florentino. Ainda no mesmo ano os Médicis, então família governante de Florença foram perseguidos e expulsos pelo monge franciscano Jerônimo de Savonarola (1452-1498), o qual governou a cidade de 1494 a 1498. Savonarola, ordenou a queima pública de livros, pinturas, mobílias, e outros objetos considerados como ostentadores da soberba e do paganismo (já que muitas obras de arte da época eram baseadas em figuras mitológicas greco-romanas). Ao mesmo tempo, ele profetizava a vinda do Apocalipse, defendia a abolição do uso do dinheiro, alegando que os banqueiro de Florença enriqueceram através da usura, além de atacar a própria corrupção no Vaticano. Acabou sendo excomungado pelo papa Alexandre VI, destituído de seu "governo", considerado como uma usurpação e heresia, e fora queimado vivo na fogueira.  


Jerônimo de Savonarola
Em 1495, Carlos VIII, embora tenha conquistado o Reino de Nápoles e  se proclamado rei do mesmo, acabou abandonando a campanha em Nápoles, depois de encontrar a cidade infestada pela peste e ter contraído a "nova doença" sífilis. Então retornou para a França sendo atacado pelos exércitos  de alguns Estados italianos no caminho. Com a retirada dos franceses de Nápoles, os espanhóis posteriormente aproveitariam para atacar o reino napolitano.

Cesare Bórgia
Em 8 de abril de 1498, Carlos VIII morreu e fora sucedido por Luís XII, o qual demonstrou interesse em se aproximar do papado, e formar aliança com os Bórgia. No mesmo ano, Savonarola fora executado em 23 de maio em Florença pelos seus crimes. O papa Alexandre VI concedeu a anulação do casamento de Luís XII e enviou seu filho Cesare Bórgia como representante seu na futura aliança com os franceses. Luís XII em 13 de agosto nomeiou Cesare Bórgia, Duque de Valência, Cesare ainda no mesmo ano renunciou ao cargo de cardeal e seus votos. No ano seguinte, Luis XII iniciou suas campanhas militares na Itália, entre agosto e outubro os franceses conquistaram o Ducado de Milão, então governado por Ludovico Sforza. Leonardo da Vinci, o qual na época morava em Milão, sendo protegido dos Sforza, abandonou a cidade e passou a viajar por outras cidades até voltar a se estabelecer em Florença, anos depois. No final do ano, Cesare conquistou Ímola e Forli, derrotando as tropas da duquesa Catarina Sforza, senhora de ambas as cidades

Em 1500, Pisa passou a ser atacada, Maquiavel fora enviado para resolver os problemas diplomáticos, posteriormente viajou a França. Cesare Bórgia conquistou Pesaro e Rimini. Em 11 de novembro, Luis XII firmou um acordo secreto com o rei de Espanha, o acordo propunha a divisão das terras do Reino de Nápoles se os espanhóis cooperassem para a sua conquista.

Em 25 de abril de 1501, Cesare conquistou Faenza, e fora proclamado Duque da Romanha pelo seu pai. No mesmo ano, pretendeu atacar a Bolonha, mas Luis XII o proibiu. Em junho, Cesare e os franceses adentraram Nápoles, Maquiavel fora enviado afim de conversar com os senhores derrotados por Cesare, na tentativa de ganhar apoio destes num contra-golpe.


Vitellozzo Vitelli, trabalhando para os Bórgia suscitou revoltas nos domínios de Florença, os florentinos tentaram pedir ajuda aos franceses, os quais eram seus aliados. Ainda no ano de 1502, o acordo entre franceses e espanhóis pelos domínios em Nápoles ficou mais tenso, tropas de ambos os lados começaram a entrar em conflito, Cesare aproveitou e conquistou Urbino. Em 24 de junho o bispo Francesco Soderini e Maquiavel chegaram a Urbino afim de negociar questões diplomáticas, contudo Maquiavel teve que retornar as pressas para Florença sob um possível ataque das tropas de Cesare. Em 5 de outubro, Cesare solicitou de Florença que lhe enviassem um emissário, Maquiavel fora o escolhido, este ficou trabalhando com Cesare até janeiro do ano seguinte.


Ainda em outubro, os senhores dominados por Cesare se rebelaram, Orsini atacou suas tropas, Cesare recorreu a ajuda dos franceses. Em dezembro ele atacou os traidores e ordenou a execução de vários destes. Em janeiro de 1503, Cesare conquistou Cittá di Castello, Perúgia e Siena. Os domínios dos Bórgia, englobavam quase toda a região central da península, se limitando ao sul com o Reino de Nápoles e ao Norte com Florença, Milão, Veneza e Gênova. 

Maquiavel fora enviado posteriormente a Siena para resolver alguns assuntos. Em 18 de agosto o papa Alexandre VI morreu, este fora sucedido por Pio III o qual governaria por menos de um mês, quando veio também a falecer. Em outubro e dezembro, Maquiavel viajou á Roma para realizar novos acordos diplomáticos, lá ele se encontrou a última vez com Cesare Bórgia.

Papa Júlio II
Em 1 de novembro Juliano Della Novere com o apoio de Cesare Bórgia fora eleito papa, se tornando o papa Júlio II. No final do ano, os franceses perderam a Batalha de Garigliano e deixaram Nápoles. Os florentinos preocupados com a retirada dos franceses, enviaram Maquiavel para a Corte francesa em janeiro de 1504, lá ele assinou um novo acordo de aliança. No mesmo ano, França e Espanha fizeram uma trégua. Ao longo de 1505, Florença participou de conflitos para evitar perder seus territórios e reconquistar o domínio sobre Pisa, ao final do ano, Maquiavel decidiu não mais recrutar mercenários e passou a formar uma milícia. Ele passou o ano seguinte recrutando membros para a milícia e viajou a serviço fazendo parte da comitiva do papa Júlio II o qual fora visitar as regiões em conflito. Em 1507, Maximiliano, imperador do Sacro Império, demonstrou interesse nos conflitos italianos, ele se aproximou dos florentinos e lhe ofereceu dinheiro. 

Em 1504, traído por seus subordinados, Cesare fora capturado e preso por ordem do papa Júlio II. Fora enviado para o Castelo de La Mota, na Espanha, onde ficou preso até 1506, quando conseguiu fugir com a ajuda de seus cúmplices. Nessa época, derrotado e sem recursos, Cesare Bórgia fora morto em uma emboscada em Viana em 1507 aos trinta e um anos. 

Em 10 de dezembro de 1508, Maximiliano se uniu aos franceses e espanhóis, formando a Liga de Cambria afim de enfrentar os venezianos. No ano seguinte, o papa Júlio II se tornou membro da liga e enviou tropas para o campo de batalha, a República de Veneza sofreu duras perdas militares e territoriais. Maximiliano enviou recursos para ajudar os florentinos a reconquistar Pisa, Maquiavel fora incumbido de supervisionar tudo.

Em 24 de fevereiro de 1510, o papa assinou um tratado de paz com os venezianos. Em março, os suíços declararam apoio ao papa (Júlio II criou posteriormente a Guarda Suíça). Por volta de outubro do mesmo ano, boatos sugerem desavenças entre o papa e o rei de França, Florença teme que as tropas papais ataquem seus domínios, então o Estado enviou novamente Maquiavel para a corte francesa afim de solicitar ajuda.


No ano seguinte ficou praticamente declarado a guerra entre o rei Luis XII e o papa Júlio II, contudo para se evitar um conflito imediato, o clero francês solicitou em 1 de março de 1511 um Concilio Geral para debater tal assunto. Júlio II, fora um dos poucos papas dos quais fora ao campo de batalha supervisionar as tropas e marcar presença, o próprio fazia questão de montar seu cavalo e vesti-se com armadura. Os franceses suspeitavam que o papa pretendia expandir seus domínios sobre as terras conquistadas a partir da Liga de Cambria.


O concilio fora marcado para 1 de setembro, mas em maio houvera ataques das milícias papais aos domínios florentinos, em junho o papa convocou o Concilio de Latrão, ameaçando de realizar um Interdito e confiscar todos os bens dos mercadores de Florença. Os florentinos temendo que o papa piora-se após o Concilio Geral, enviaram Maquiavel afim de persuadir os franceses em adiar o concilio. Ainda no mesmo ano em 4 de outubro, o papa firmou acordo com o rei de Espanha e os venezianos, formando a “Santa Aliança”, afim de declarar guerra à França. No final do ano, Maquiavel redige seu testamento, temendo que uma guerra não tardasse a ocorrer e ele próprio viesse a ser assassinado.


Em 11 de abril de 1512 ocorreu a Batalha de Ravena, os franceses são duramente derrotados pelos suíços. O exército francês retirou-se da luta. Maquiavel fora incumbido de organizar uma cavalaria. Júlio II vendo que os florentinos representavam um forte obstáculo decidiu tomar uma medida mais engenhosa, ele enviou o cardeal Giovanni de Médici afim de que recupera-se o controle sobre a república, algo que sua família já fizera. Em 16 de setembro, os partidários dos Médicis invadiram o Palácio da Senhoria realizando um golpe de Estado, a república fora tomada. Maquiavel em novembro fora destituído de seu cargo, tivera o mandato cassado e fora preso. Em 21 de fevereiro, Júlio II morreu e fora sucedido por Giovanni de Médici, o qual se tornou o papa Leão X. Maquiavel passou a residir em exílio, mas manteve correspondência com um amigo em Roma.

Lourenço II de Médici
Em 1 de janeiro de 1515 o rei de França, Luis XII morreu e fora sucedido por Francisco I. Em 1516 o rei de Espanha, Fernando II de Aragão morreu e fora sucedido por Carlos V. O papa Leão X nomeiou seu sobrinho Lourenço II de Médici, “Capitão Geral“ de Florença e posteriormente Duque de Urbino. Maquiavel dedicaria o Príncipe a Lourenço II, neto de Lourenço, o Magnífico.  Em 12 de janeiro de 1519 o sacro imperador Maximiliano morreu. Em 4 de maio, Lourenço II veio a falecer e fora sucedido por Júlio de Médici o qual passou a governar Florença. Em junho, Carlos V, rei de Espanha e neto de Maximiliano se tornou imperador do Sacro Império. Maquiavel voltou a trabalhar como diplomata em 1520. Em 1522 o papa Leão X morreu e fora sucedido por Adriano VI. Em 1523, as tropas francesas são derrotadas, e os franceses perdem os territórios em Gênova e Milão. Em 14 de setembro, Adriano VI faleceu, Júlio de Médici então governante de Florença é eleito papa, tornando-se Clemente VII.

Na Batalha de Pávia em 24 de fevereiro de 1525, o rei francês Francisco I fora feito prisioneiro pelo exército espanhol. Em 1 de abril, o papa firmou um acordo com o vice-rei de Nápoles, o qual será retificado por Carlos V. O nome de Maquiavel fora cogitado para participar da missão diplomática em Madrid, mas no fim o papa suspendeu a autorização de Maquiavel.

Em 14 de janeiro de 1526 fora assinado o Tratado de Madrid, Carlos V libertou Francisco I, em troca de algumas solicitações, entre estas a entrega dos domínios franceses na Borgonha. Maquiavel tentou solicitar ao papa algumas questões de ordem política, o papa recusou todas. Contudo, o papa acabou aceitando criar a Comissão de Fortificações a pedido de Maquiavel. Em maio fora assinado o Tratado de Cognac entre Francisco I, o papa, Florença e Veneza.

Em setembro a situação se complicou, o papa havia firmado uma trégua com os espanhóis em Nápoles e Colonna, porém os espanhóis quebram a trégua e atacaram as tropas papai, fazendo prisioneiros e exigindo a retirada das tropas da Lombardia. Maquiavel participou de missões diplomáticas afim de impedir que uma nova guerra se alastra-se pela Itália. No ano seguinte, em maio Roma é fora cercada e tomada, sendo saqueada. Maquiavel retornou para Florença, mas acabou morrendo em 21 de junho.

Os confrontos ainda perdurariam até 1530, passando posteriormente por um período de trégua, contudo as guerras perdurariam até 1599. O sonho de Maquiavel de ver uma Itália unificada só iria se concretizar quatro séculos depois.

NOTA: Leonardo da Vinci trabalhou por algum tempo para Cesare Bórgia, e este testemunhou a sua violência. Leonardo tivera um amigo que fora assassinado a mando de Cesare.
NOTA 2: Leonardo chegou a trabalhar com Nicolau Maquiavel por algum tempo, a fim de projetar um canal que liga-se o rio Arno a cidade de Florença, permitindo que assim Florença tivesse acesso direto ao rio, no intuito de permitir a passagem de navios cargueiros, pois o Arno deságua no mar. Todavia, o alto custo e a ameaça da guerra, levou Maquiavel abandonar a parceria com Leonardo e cancelar a construção do canal. 
NOTA 3: Cesare Bórgia é o principal vilão no jogo Assassin’s Creed: Brotherhood.
NOTA 4: O retrato do papa Júlio II que pode ser visto neste texto, fora pintando por Rafael Sanzio, um dos maiores artistas da Renascença.
NOTA 5: Michelangelo pintou o teto da Capela Sistina a encargo do papa Júlio II, entre os anos de 1508 e 1512.
NOTA 6: O titulo original do Príncipe era De principatus (Dos principados). Contudo, quando os editores Blado e Giunta foram publicar a obra em 1532, preferiram mudar o titulo para ll Principe.
NOTA 7: O nome Maquiavel originou a palavra maquiavélico que significa: astuto, velhaco, ardiloso, sagaz, referência ao maquiavelismo.
NOTA 8: Maquiavel é retratado nos jogos Assassin's Creed II e Assassin's Creed: Brotherhood. Além dele, outras personagens históricas que aparecem nos jogos são: Da Vinci, Lourenço, o Magnifico, Savonarola, Caterina Sforza, Rodrigo Bórgia, Lucrécia Bórgia, dentre outros. 
NOTA 9: De 1494 com o inicio da invasão francesa de Carlos VIII até a morte de Maquiavel em 1526, houveram seis papas. 
NOTA 10: Nessa época a Itália fora invadida por um surto de sífilis, chamada na época de "nova doença" ou "doença francesa", devido ao fato de ter se espalhado entre os exércitos franceses em Nápoles. Dentre algumas pessoas infectadas por sífilis na época, estiveram: os papas Alexandre VI e Júlio II e Cesare Bórgia. 
NOTA 11: Roma nessa época era uma cidade com cerca de 40 mil habitantes, em grande parte decadente e em ruínas. Com exceção dos bairros ricos, as demais ruas eram cheias de prostitutas, ladrões, agiotas, mendigos, doentes, ratos, etc. 
NOTA 12: Antes de o cardeal Juliano Della Rovere se tornar o papa Júlio II, ele fora inimigo dos Bórgia e até mesmo tentou realizar um golpe de Estado para derrubar Alexandre VI. Mas após a morte de Alexandre VI e Pio III, acabou aceitando a proposta de Cesare o qual o apoiou para que se torna-se papa. Júlio II aceitou a ajuda de Cesare para chegar ao poder, depois disso o condenou a prisão.  
NOTA 13: Cesare Bórgia foi o mais jovem cardeal eleito na história do Vaticano, tendo sido eleito em 1492 aos 17 anos. No entanto, além de ter sido o mais jovem cardeal, também fora o primeiro cardeal a renunciar ao cargo, tendo o feito por volta de 1498, deixando a vida de clérigo para se dedicar a política e ao exército.
NOTA 14: Maquiavel, os Bórgias, o Cardeal Della Rovere, o rei Carlos VIII entre outros, são retratados na série Os Bórgias (The Borgias), criada por Neil Jordan em 2011.

Referência Bibliográfica:
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução de Antonino Caruccio-Caporale, Porto Alegre, LPM, 2009. p. 156-172.

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