Alguns de vocês já devem ter ouvido falar do famoso pirata Edward Teach (1680-1718), conhecido pelo cognome de Barba Negra (Blackbeard), considerado o mais temível dos piratas que já navegaram por estes Sete Mares. Ou do macabro aristocrata Barba Azul, protagonista do conto de fadas Barba Azul (La Barbe-Bleue), escrito pelo grande escritor francês Charles Perrault.
No entanto, além destes "barbas" houve o Barba roxa. Mas, este não fora um homem tão cruel como os outros dois, fora para uns a esperança cristã contra os muçulmanos durante a Terceira Cruzada. Aqui narrarei um pouco da história de um dos grandes imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Um homem que teve o sonho de retomar Jerusalém das mãos de Saladino, que desafiou o poder do papa.
Frederico I da Germânia, conhecido pelos cognomes de Barba roxa, Barba ruiva ou Barbarossa, nasceu em 1122 em Waiblingen e faleceu em 1190 em Cidno. Era filho de Frederico II da Suábia, Duque da Suábia, e sobrinho de Conrado III. Membro da poderosa família dos Hohenstaufen. Em 1152, o seu tio, o sacro-imperador Conrado III (1093-1152) nomeou Barbarossa com o título de rei dos romanos, no entanto o imperador veio a falecer no mesmo ano, e Barbarossa fora nomeado seu herdeiro direto. Barbarossa quando assumiu o poder, tivera como meta inicial apaziguar as divergências pelo império. O Sacro Império nunca fora um Estado homogêneo, ele na verdade era uma nação dividida em nações, se assim eu posso dizer. Havia a imagem do sacro-imperador, mas, muitos dos estados que compunham o império eram governados por soberanos locais, sendo estes vassalos do imperador. Deve-se ressalvar que ainda se encontrava-se em plena Idade Média nessa época. Sendo assim os reinos e impérios não eram totalmente unificados na Europa. Além deste fato, o antigo imperador arranjou alguns conflitos com famílias nobres que ameaçavam seu poder sobre o império.
"Querendo restaurar a autoridade imperial, adotou inicialmente uma política de acordos com os grandes senhores da Alemanha, com o intuito de poder agir livremente na Itália". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2563).
Em 1154, Barbarossa escolheu o nobre Henrique, o Leão (1125-1195) para liderar seus exércitos na luta contra os eslavos que ameaçavam as fronteiras do norte do império, e para restituir a Suábia e a Baviera que haviam se separado do império. Henrique teria sucesso em suas campanhas militares, conseguindo derrotar os eslavos, reunificar outros estados, e fundar novas cidades. Com o despacho de Henrique pelas terras do império, o imperador decidiu partir para a Itália a pedido do papa Adriano IV. Nessa época o papado sofria com as ameaças do líder rebelde Arnaldo de Brescia, o qual tentou reformar a Igreja Católica, e por isso fora excomungado e perseguido. No entanto, Arnaldo conseguiu reunir muitos seguidores e ameaçava depor o papa. Com isso, Adriano IV convocara a ajuda de Barbarossa, o qual no ano de 1154 derrotou as forças de Arnaldo e o prendeu junto com seus seguidores. Arnaldo de Brescia fora enforcado e teve o corpo queimado.
Com a vitória de Frederico Barbarossa, o papa Adriano IV em 18 de junho de 1155 coroou oficialmente Frederico I como sacro-imperador. No entanto este breve momento de união iria se romper. O novo imperador não aceitaria se submeter as ordens do papa e acabaria entrando em guerra contra o papado e a Itália. Barbarossa além de assumir como sacro-imperador, assumiu com o nome de Frederico III duque da Suábia, e fora nomeado rei da Itália.
"Frederico I reforçou a autoridade imperial na Itália, mas as cidades do norte não aceitaram sua administração e a perda de suas liberdades. O imperador mandou arrasar Milão (1162)". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564).
Como medida para lutar contra as exigências de Barbarossa, as cidades italianas do norte se uniram e formaram em 1 de dezembro de 1167 a Liga Lombarda, a qual contou com o apoio do papa Alexandre III, sucessor de Adriano IV, o qual se via ameaçado pelo constante aumento do poder de Barbarossa sobre a Itália. Anos depois de conflitos contra o imperador, finalmente em 29 de maio de 1176 na Batalha de Legnano, as forças imperiais foram derrotadas pelos exércitos da Liga. No ano seguinte o imperador assinou um acordo de paz, chamada a Paz de Veneza (1177), prometendo seis anos de trégua. No entanto em 1183 ele assinou um novo tratado, o Tratado de Constança, no qual as cidades italianas se tornariam fiéis ao império, porém manteriam sua autonomia política. Humilhado com as derrotas na Itália e as tréguas, Barbarossa decidiu focar seu governo sobre as campanhas de expansão de Henrique, o Leão.
"Apesar da crescente independência e da oposição de Henrique, o Leão, ampliou o domínio e a influência dos Hohenstaufen e reforçou a administração imperial na Alemanha". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564).
Pintura medieval de Barba Roxa |
Barbarossa reuniu seus exércitos e começou a longa viagem até Jerusalém. Antes e partir ele abdicou-se do trono, deixando seu filho Henrique no lugar. O ex-imperador marchou até a Terra Santa, ansioso em poder conquistar Jerusalém, no entanto em um fatídico dia, atravessando um rio na Cilícia (Armênia), o imperador acabou se afogando em suas águas. O fato fora algo tão de repente e de tão grande impacto, que seus súditos não sabiam o que fazer direito naquele momento. No fim eles resolveram por o corpo do rei dentro de um barril com vinagre e levar-lo até Jerusalém onde seria sepultado. Barbarossa acabou se tornando uma figura lendária entre o seu povo. Fora considerado um dos grandes imperadores da História do Sacro Império Romano-Germânico. Não somente por suas conquistas mas, também por seu governo.
"[...] a partir do século XVI, a figura mítica do imperador adormecido sob o monte Kyffhäuser, destinado a reaparecer com seu exército para concretizar as esperanças populares nacionais". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564).
A Terceira Cruzada (1189-1192) terminou com a derrota de Ricardo Coração de Leão e o exércitos franceses perante as forças de Saladino. A campanha acabou com a assinatura de acordos de paz com Saladino e a retirada das tropas dos cruzados.
NOTA: Henrique, o Leão, acabou traindo o imperador Frederico Barbarossa, e isso levou sua destituição do comando de suas tropas e de seus títulos. Para não morrer, Henrique fugiu com sua família para a Inglaterra.
NOTA 2: O filho que sucedeu Barba roxa, Henrique, se tornou o sacro-imperador Henrique VI da Germânia.
NOTA 3: Arnaldo de Brescia anos depois fora considerado um mártir, e ainda passou a ter suas ideias seguidas e difundidas pelos arnoldistas.
NOTA 4: Dentre algumas cidades fundadas por Henrique, o Leão, estão Lubeck e Munique.
NOTA 5: A primeira aparição do conto do Barba Azul foi no livro Os contos da Mamãe Gansa em 1697 de autoria de Charles Perrault.
NOTA 6: Barba roxa também fora os cognomes de um pirata turco chamado de Arudj e de seu irmão Khair al-Din. Ambos foram os responsáveis pela fundação do Estado de Argel no século XVI.
NOTA 7: Barba ruiva (Barbe-rouge) é o nome de uma história em quadrinhos belga, na qual o Barba ruiva é um pirata.
NOTA 8: No jogo Age of Empires II, existe uma campanha chamada de Barbarossa em referência a história do imperador.
NOTA 9: A Liga Lombarda contou com a participação de trinta cidades. Tendo esta permanecida mesmo após a morte de Barbarossa.
NOTA 10: O Sacro Império Romano-Germânico é conhecido também como o Primeiro Reich.
NOTA 11: Barbarossa foi o nome de uma operação nazista iniciada em 1941 com o intuito de se invadir a União Soviética.
NOTA 12: Os Sete mares são: Atlântico norte, Atlântico sul, Pacífico norte, Pacífico sul, Índico, Ártico e Antártico.
Referências Bibliográficas:
BASCHET, Jérome. A civilização feudal, Rio Grande do Sul, Globo, 2006.
HEERS, Jacques. História Medieval. São Paulo, DIFEL, 4 ed, 1985.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998.
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