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Leandro Vilar

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Barba roxa

Alguns de vocês já devem ter ouvido falar do famoso pirata Edward Teach (1680-1718), conhecido pelo cognome de Barba Negra (Blackbeard), considerado o mais temível dos piratas que já navegaram por estes Sete Mares. Ou do macabro aristocrata Barba Azul, protagonista do conto de fadas Barba Azul (La Barbe-Bleue), escrito pelo grande escritor francês Charles Perrault.


Barba Negra


Barba Azul
No entanto, além destes "barbas" houve o Barba roxa. Mas, este não fora um homem tão cruel como os outros dois, fora para uns a esperança cristã contra os muçulmanos durante a Terceira Cruzada. Aqui narrarei um pouco da história de um dos grandes imperadores do Sacro Império Romano-Germânico. Um homem que teve o sonho de retomar Jerusalém das mãos de Saladino, que desafiou o poder do papa.

Frederico I da Germânia, conhecido pelos cognomes de Barba roxa, Barba ruiva ou Barbarossa, nasceu em 1122 em Waiblingen e faleceu em 1190 em Cidno. Era filho de Frederico II da Suábia, Duque da Suábia, e sobrinho de Conrado III. Membro da poderosa família dos Hohenstaufen. Em 1152, o seu tio, o sacro-imperador Conrado III (1093-1152) nomeou Barbarossa com o título de rei dos romanos, no entanto o imperador veio a falecer no mesmo ano, e Barbarossa fora nomeado seu herdeiro direto. Barbarossa quando assumiu o poder, tivera como meta inicial apaziguar as divergências pelo império. O Sacro Império nunca fora um Estado homogêneo, ele na verdade era uma nação dividida em nações, se assim eu posso dizer. Havia a imagem do sacro-imperador, mas, muitos dos estados que compunham o império eram governados por soberanos locais, sendo estes vassalos do imperador. Deve-se ressalvar que ainda se encontrava-se em plena Idade Média nessa época. Sendo assim os reinos e impérios não eram totalmente unificados na Europa. Além deste fato, o antigo imperador arranjou alguns conflitos com famílias nobres que ameaçavam seu poder sobre o império.

"Querendo restaurar a autoridade imperial, adotou inicialmente uma política de acordos com os grandes senhores da Alemanha, com o intuito de poder agir livremente na Itália". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2563).

Em 1154, Barbarossa escolheu o nobre Henrique, o Leão (1125-1195) para liderar seus exércitos na luta contra os eslavos que ameaçav
am as fronteiras do norte do império, e para restituir a Suábia e a Baviera que haviam se separado do império. Henrique teria sucesso em suas campanhas militares, conseguindo derrotar os eslavos, reunificar outros estados, e fundar novas cidades. Com o despacho de Henrique pelas terras do império, o imperador decidiu partir para a Itália a pedido do papa Adriano IV. Nessa época o papado sofria com as ameaças do líder rebelde Arnaldo de Brescia, o qual tentou reformar a Igreja Católica, e por isso fora excomungado e perseguido. No entanto, Arnaldo conseguiu reunir muitos seguidores e ameaçava depor o papa. Com isso, Adriano IV convocara a ajuda de Barbarossa, o qual no ano de 1154 derrotou as forças de Arnaldo e o prendeu junto com seus seguidores. Arnaldo de Brescia fora enforcado e teve o corpo queimado.

Com a vitória de Frederico Barbarossa, o papa Adriano IV em 18 de junho de 1155 coroou oficialmente Frederico I como sacro-imperador. No entanto este breve momento de união iria se romper. O novo imperador não aceitaria se submeter as ordens do papa e acabaria entrando em guerra contra o papado e a Itália. Barbarossa além de assumir como sacro-imperador, assumiu com o nome de Frederico III duque da Suábia, e fora nomeado rei da Itália.


"Frederico I reforçou a autoridade imperial na Itália, mas as cidades do norte não aceitaram sua administração e a perda de suas liberdades. O imperador mandou arrasar Milão (1162)". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 

Como medida para lutar contra as exigências de Barbarossa, as cidades italianas do norte se uniram e formaram em 1 de dezembro de 1167 a Liga Lombarda, a qual contou com o apoio do papa Alexandre III, sucessor de Adriano IV, o qual se via ameaçado pelo constante aumento do poder de Barbarossa sobre a Itália. Anos depois de conflitos contra o imperador, finalmente em 29 de maio de 1176 na Batalha de Legnano, as forças imperiais foram derrotadas pelos exércitos da Liga. No ano seguinte o imperador assinou um acordo de paz, chamada a Paz de Veneza (1177), prometendo seis anos de trégua. No entanto em 1183 ele assinou um novo tratado, o Tratado de Constança, no qual as cidades italianas se tornariam fiéis ao império, porém manteriam sua autonomia política. Humilhado com as derrotas na Itália e as tréguas, Barbarossa decidiu focar seu governo sobre as campanhas de expansão de Henrique, o Leão.

"Apesar da crescente independência e da oposição de Henrique, o Leão, ampliou o domínio e a influência dos Hohenstaufen e reforçou a administração imperial na Alemanha". (
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 


Pintura medieval de Barba Roxa
Por mas, que Frederico I estivesse sem muita credibilidade com os italianos e com a Igreja, sua ajuda voltaria a ser solicitada. Em 1187, a sagrada cidade de Jerusalém fora conquistada pelo sultão e chefe militar dos curdos, Saladino (1138-1193). A igreja Católica viu isso como uma abominação por ter perdido a cidade de Jerusalém a qual depois de tantas batalhas realizadas durante as outras duas cruzadas, custou a pertencer aos cristãos, e agora mais uma vez os muçulmanos a tinha em mãos. Como medida, o então papa Gregório VIII, decretara oficialmente a Terceira Cruzada. Nessa cruzada dois poderosos soberanos da Europa, atrás de riqueza, poder e glória, partiram para a Terra Santa. O rei da Inglaterra, Ricardo Coração de Leão (Richard Lionheart) e o rei de França, Filipe Augusto (Philippe Auguste). Ambos concordaram em partir para recuperar Jerusalém. No entanto, o novo papa solicitou mais ajuda nesta batalha. Sendo assim ele recorreu a ajuda de Barbarossa, o qual acabou aceitando o pedido, Barbarossa visava recuperar seu prestigio perante a Igreja e seu povo, se tornando o libertador de Jerusalém.

Barbarossa reuniu seus exércitos e começou a longa viagem a
té Jerusalém. Antes e partir ele abdicou-se do trono, deixando seu filho Henrique no lugar. O ex-imperador marchou até a Terra Santa, ansioso em poder conquistar Jerusalém, no entanto em um fatídico dia, atravessando um rio na Cilícia (Armênia), o imperador acabou se afogando em suas águas. O fato fora algo tão de repente e de tão grande impacto, que seus súditos não sabiam o que fazer direito naquele momento. No fim eles resolveram por o corpo do rei dentro de um barril com vinagre e levar-lo até Jerusalém onde seria sepultado. Barbarossa acabou se tornando uma figura lendária entre o seu povo. Fora considerado um dos grandes imperadores da História do Sacro Império Romano-Germânico. Não somente por suas conquistas mas, também por seu governo.
"[...] a partir do século XVI, a figura mítica do imperador adormecido sob o monte Kyffhäuser, destinado a reaparecer com seu exército para concretizar as esperanças populares nacionais". (Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998, p. 2564). 

A Terceira Cruzada (1189-1192) terminou com a derrota de Ricardo Coração de Leão e o exércitos franceses perante as forças de Saladino. A campanha acabou com a assinatura de acordos de paz com Saladino e a retirada das tropas dos cruzados.

NOTA: Henrique, o Leão, acabou traindo o imperador Frederico Barbarossa, e isso levou sua destituição do comando de suas tropas e de seus títulos. Para não morrer, Henrique fugiu com sua família para a Inglaterra.
NOTA 2: O filho que sucedeu Barba roxa, Henrique, se tornou o sacro-imperador Henrique VI da Germânia.
NOTA 3: Arnaldo de Brescia anos depois fora considerado um mártir, e ainda passou a ter suas ideias seguidas e difundidas pelos arnoldistas.
NOTA 4: Dentre algumas cidades fundadas por Henrique, o Leão, estão Lubeck e Munique.
NOTA 5: A primeira aparição do conto do Barba Azul foi no livro Os contos da Mamãe Gansa em 1697 de autoria de Charles Perrault.
NOTA 6: Barba roxa também fora os cognomes de um pirata turco chamado de Arudj e de seu irmão Khair al-Din. Ambos foram os responsáveis pela fundação do Estado de Argel no século XVI.
NOTA 7: B
arba ruiva (Barbe-rouge) é o nome de uma história em quadrinhos belga, na qual o Barba ruiva é um pirata.
NOTA 8: No jogo Age of Empires II, existe uma campanha chamada de Barbarossa em referência a história do imperador.
NOTA 9: A Liga Lombarda contou com a participação de trinta cidades. Tendo esta permanecida mesmo após a morte de Barbarossa.
NOTA 10: O Sacro Império Romano-Germânico é conhecido também como o Primeiro Reich.
NOTA 11: Barbarossa foi o nome de uma operação nazista iniciada em 1941 com o intuito de se invadir a União Soviética.
NOTA 12: Os Sete mares são: Atlântico norte, Atlântico sul, Pacífico norte, Pacífico sul, Índico, Ártico e Antártico.

Referências Bibliográficas:
BASCHET, Jérome. A civilização feudal, Rio Grande do Sul, Globo, 2006.
HEERS, Jacques. História Medieval. São Paulo, DIFEL, 4 ed, 1985.
KOSMINSKY, E. A. História da Idade Média, Rio de Janeiro, Editorial Vitória, 1963.
Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo, Nova Cultural, 1998. 

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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nos deem comida: o povo tem fome

Quando se fala em problemas de abastecimento de alimentos, hoje em dia pensa-se logo que tal cenário seja algo simplesmente dos países pobres. Seja, na África, Ásia, América Latina e na Oceania. Entretanto, a fome, não é algo que abala somente os povos do século XX para cá. Desde os primórdios da humanidade, quando os homens dependiam da caça e da coleta para seu sustento, estes travavam todos os dias uma luta pela sobrevivência. Diferente no que vemos nos filmes, não era simplesmente sair andando, e logo você encontraria comida aqui ou ali. Não, a realidade era outra, e por mais que fosse dura, nossos antepassados conseguiram sobreviver.

Com o advento do sedentarismo, e da produção agrícola e pecuária, para se abastecer, vilas, cidades, Estados, pensou-se que os problemas da falta de comida estivessem acabado. Os homens plantariam e criariam os animais de seu sustento, não dependendo tanto mais da caça. No entanto isso não é totalmente verdade. Ao longo dos séculos de histórias de diferentes povos, nota-se problemas, crises, guerras por comida. Seja devido a questões climáticas que arruinavam as plantações, gerando seca ou excessiva chuva, seja por guerras, nas quais levavam a destruição dos campos, seja por pragas, por cobiça, inveja, etc. Estes e tantos outros fatores, levaram a muitas pessoas morrerem de fome, em diferente épocas.

Nas linhas a seguir, focarei um período especifico desta vasta história. Falarei um pouco da realidade da Inglaterra e da França no século XVIII. As duas nações mais ricas da Europa nesta época.

"A alimentação, na Europa de outrora, era desequilibrada por excesso de farináceos, insuficiente em vitaminas e proteínas, e marcada pela alternância sobre a frugalidade e a comilança, não chegando esta última (que era rara) a exorcizar em uma grande parte da população a obssesão por penuria". (DELUMEAU, 1989, p. 170).


"Aquele que retém o trigo, o povo o amaldiçoará: mas que a bênção recaia sobre a cabeça de quem o vende".
Provérbios, XI, 26.

Desde a Antiguidade, o pão era um dos alimentos mais importantes em diferentes sociedades da Europa, África e Ásia. Era uma forma rápida e fácil para se alimentar as camadas populares, mas, não apenas estas, mas, sim toda a sociedade. Desde o rei ao escravo, todos comiam pão. O pão não era simplesmente fornecido apenas como um alimento, mas, sim como forma de pagamento. Em algumas culturas que se desconheciam o dinheiro e até mesmo em algumas que o usavam, o pão era o pagamento dos operários, dos trabalhadores. O chamado pão de cada dia.

Sendo assim, tais características não mudaram muito ao longo de séculos, e se chegando na Inglaterra do século XVIII, alguns destes aspectos ainda se mantinham vivamente incrustados na cultura. O historiador inglês Edward Thompson, disse que o século XVIII fora marcado pelos "motins de fome". Motins estes que eclodiram em rebeliões, destruição, morte e caos. Tais movimentos eram iniciados pelas camadas mais baixas, as quais sofriam diretamente com o aumento do preço da farinha e consequentemente do pão. Enquanto o povo partia para as ruas para reivindicar a baixa nos preços ou até mesmo saquear padarias, armazéns e moinhos, os comerciantes em parte se intimidavam com tais acontecimentos, e por outra parte os ricos fazendeiros e comerciantes, ainda mantinham de forma escrupulosa a venda de farinha a alto preço e de má qualidade, como se tais protestos não abalassem sua cobiça por riqueza. Deve-se ressalvar que nesta época, as pessoas viviam em uma sociedade pré-capitalista, sendo assim, o lucro cada vez mais se tornava a principal importância do comércio.

Mas, antes de explicar como ocorria tais revoltas, devo citar algumas causas que geravam tais manifestações.

Grande parte da camadas populares dependiam do pão de cada dia para seu sustento, no entanto havia dois problemas antemão para a compra deste produto. Primeiro, a venda dos grãos pelos pequenos e grandes fazendeiros; segundo, a produção da farinha nos moinhos e finalmente a fabricação dos pães nas padarias, por fim para se chegar na mão dos consumidores. No entanto em meio a estas etapas muita coisa acontecia.

"Os trabalhadores do século XVIII não viviam apenas de pão, mais (como mostram os orçamentos coligidos por Eden e David Davies) muitos deles viviam sobretudo de pão". (THOMPSON, 1998, p. 153).

Se um agricultor tivesse uma colheita ruim, ele poderia vender seu produto a um preço alto devido a escassez do produto, e até mesmo, vender neste mesmo preço grãos de qualidade inferior. Quando estes grãos chegavam ao moleiro, este como deveria fazer a farinha, as vezes não dispunha de matéria-prima suficiente, então ele acrescentava na mistura outros gêneros para render mais. Isso acabava afetando a qualidade do produto, mesmo assim ele venderia pelo mesmo preço de um produto bom.

"Na década de 1750, um certo dr. Manning publicou um arrazoado declarando que o pão era adulterado, não só com alume, giz, greda branca e farinha de favas, mas também, com cal extinta e chumbo branco. Causou grande sensação a sua afirmação de que os moleiros misturavam na farinha "sacos de ossos velhos muídos": "os cemitérios dos mortos são revolvidos, para acrescentar sujeira ao alimento dos vivos", ou, como dizia outro folhetista, "a era presente [está] se banqueteando com os ossos do passado". (THOMPSON, 1998, pp. 166-167).

"Os bodes expiatórios eram os padeiros, os moleiros, assim como os comerciantes de cereais e os açambarcadores acusados de rarefazer artificialmente os grãos para aumentar sua circulação e, se necessário, vendê-los mais longe com maior lucro". (DELUMEAU, 1989, p. 173).

No entanto não era somente os moleiros que praticavam estes atos de desonestidade, os próprios padeiros também realizavam ao seu modo, suas artimanhas para burlar as Leis do Pão, e enganar os próprios consumidores. Uma das práticas utilizadas pelos padeiros era comprar a farinha fina, a qual era de melhor qualidade e mais cara, e fabricar seus pães para vender-los. Sendo assim, restava aos mercados a farinha grossa, que era de menor qualidade e mais barata. Neste caso, muitos diziam que o pão feito desta farinha causava náuseas, diarreia, cólicas, e possuía um gosto ruim. Isso forçava as pessoas a desistirem de fazer o "pão caseiro" e irem comprar nas padarias. E no entanto nem sempre o pão das padarias era de boa qualidade devido a origem de sua farinha.



"Vender pão branco ou farinha pura tinha vantagens para os padeiros e os moleiros, pois o lucro que podiam ganhar com essas vendas era em geral bem maior. (Ironicamente, esse fato provinha em parte da proteção paternalista ao consumidor, pois o Regulamento do Pão tinha por objetivo impedir que os padeiros lucrassem com a venda do pão aos pobres; por isso, era do interesse do padeiro fazer a menor quantidade de pão "caseiro" possível, e esse pouco ele ainda fazia mal". (THOMPSON, 1998, p. 154).

Tais problemas ocorriam porque não se havia uma inspenção da qualidade dos produtos. Os inspetores estavam preocupados em fiscalizar o preço da farinha e do pão, e não exatamente sua qualidade, e quem pagava por isso era o povo.

"A maioria dos londrinos suspeitava que todos os envolvidos na produção e comércio dos grãos, da farinha e do pão praticavam todo tipo de extorsão". (THOMPSON, 1998, p. 166).

"Em tempos de preços altos, mais da metade do orçamento semanal da família de um trabalhador poderia ser gasto em pão". (THOMPSON, 1998, p. 155).

Sem pão as pessoas não teriam o que comer, e logo a fome mataria a muitos, e a revolta tomaria a multidão. Para se evitar este futuro indesejado, o governo tomou várias medidas ao longo dos reinados. Desde a criação do Regulamento do Pão, que fixava o preço da venda de pão, farinha e de grãos a granel. Além de determinar a hora de abertura e fechamento do mercado
(Nesta época quando o mercado abria, primeiro os ricos e burgueses faziam suas compras, depois deles comprarem que queriam iam embora, e o mercado estava livre para o restante do povo). Além deste regulamento, outras leis foram criadas, como: A Lei do Pão do rei Carlos II e o Modelo de Smith, elaborado pelo economista Adam Smith.

Em si, leis do pão existem a muito tempo na Inglaterra e em outros países, porém devido a insuficiência destas, isso gerava constantemente revoltas e por consequência reelaborações nestas leis ou criação de leis novas. No entanto, por mais que na cidade, a fiscalização dos mercados crescesse, os fazendeiros ainda possuíam meios de burlar a lei.

"Os fazendeiros (reclamava) passaram a evitar o mercado e a negociar com intermediários e outros "atravessadores" na sua própria casa. Outros fazendeiros ainda levavam ao mercado uma única carga, "para manter as aparências no mercado e conseguir que o preço fosse estabelecido", mas, o comércio principal era feito por meio de "parcelas de cereais num saco ou pano, chamadas amostras". (THOMPSON, 1998, p. 157).

Sendo assim, os fazendeiros para evitarem o preço fixo da cidade, ou vendiam sua produção em suas terras, estipulando o valor que quisesse, ou armazenava o estoque, até haver uma baixa na disponibilidade de grãos, e com isso eles os venderia a preços maiores. Em outros casos, eles preferiam exportar sua mercadoria para outras cidades, devido ser um negócio mais lucrativo. Em alguns casos certos produtores formavam verdadeiros monopólios locais.

"Á medida que o século avançava, os procedimentos do mercado se tornavam menos transparentes, pois os cereais passavam pelas mãos de uma rede mais complexa de intermediários. Os fazendeiros não vendiam num mercado aberto competitivo (o que, num sentido local e regional, era um objetivo que pertencia mais ao modelo paternalista que ao modelo laissez-faire)". (THOMPSON, 1998, p. 163).

Como o governo não conseguiu dá um jeito nestes constantes atos de vigarice, as camadas mais baixas em muitos casos decidiram agir por conta própria. As pessoas saiam de suas casas, e formavam grupos, e algumas vezes estes grupos eram organizados para tais manifestações e em outras eles se formava ao longo do caminho. Esses grupos seguiam para os moinhos, padarias, armazéns, etc. Lá eles protestavam para que o preço do pão baixasse, e em alguns casos, depredavam os locais, os invadiam, saqueavam e lixavam seus donos. Houve um caso em que um grupo de mulheres invadiram um moinho e destruíram as máquinas destes e ameaçaram fazer o mesmo com o seu dono. Em outro caso, um grupo de mulheres saquearam um comboio de grãos. Nestes casos tanto homens e mulheres participavam destes movimentos.


Mas, deixando esta questão da Inglaterra por hora, falarei um pouco da realidade que se passava na França, uma realidade bem pior do que vista até agora. Enquanto na Inglaterra as pessoas ainda conseguiam arranjar comida, na França, grande parte da população nem tinha ao menos isso. E o pior de tudo era que enquanto o povo sofria com a fome e o frio dos castigantes invernos, a corte de Luís XVI e Maria Antonieta, vivia em soberba opulência entre os muros de Versalhes, capital do reino.

Durante o governo de Luís XVI (1774-1791) a França vivenciou seus piores invernos e crises de fome. Nesta época o país contava com a maior população da Europa, eram cerca de 26 milhões de pessoas, e grande parte dessa não tinha ao menos algo para se comer todos os dias.

"Os agricultores não podiam obter cereais em quantidade suficiente para alimentar grande número de animais e não tinham gado bastante para produzir o adubo capaz de fertilizar os campos e aumentar a colheita". (DARNTON, 1986, p. 42).

"A horta do quintal, muitas vezes, proporcionava a margem de sobrevivência para famílias que não tinham os vinte, trinta ou quarenta acres necessários para independência econômica. Tinham extrema necessidade de terra porque grande parte da colheita lhes era tirada por seus tributos senhoriais, dízimos, arrendamentos de terrenos e impostos". (DARNTON, 1986, p. 43).

"Para a maioria dos camponeses, a vida na aldeia era uma luta pela sobrevivência, e sobrevivência significava manter-se acima da linha que separava os pobres dos indigentes. [...]. Assim, uma sucessão de más colheitas podia polarizar a aldeia, levando as famílias marginais à indigências, enquanto os ricos ficavam mais ricos". (DARNTON, 1986, p. 45).

"Grandes massas humanas viviam num estado de subnutrição crônica, subsistindo sobretudo com uma papa feita de pão e água, eventualmente tendo misturadas algumas verduras de cultivo doméstico. Comiam carne apenas umas poucas vezes por ano, em dias de festa ou depois do abate de outono, que só ocorria quando não tinham silagem suficiente para alimentar o gado durante o inverno. Muitas vezes, não conseguiam o quilo diário de pão (2.000 calorias) de que necessitavam para se manterem com saúde e então tinham pouca proteção contra os efeitos conjugados da escassez de cereais e da doença". (DARNTON, 1986, p. 40).

"Embora severas nas cidades, as crises de cereais eram ainda mais duramente sentida nos campos, onde, como lembra P. Goubert, a maioria dos pequenos camponeses precisava comprar seu pão. Em certas províncias da França, 3/4 dos camponeses eram incapazes de alimentar a família com sua exploração agrícola". (DELUMEAU, 1989, p. 170).

Em alguns casos quando não se havia meios de sobreviver em suas pobres terras, as pessoas partiam para a marginalidade e a criminalidade. Se tornavam saltibancos, mendigos, punguistas, prostitutas, se passavam por falsos recrutas e falsos inválidos, etc.

No entanto a miséria não era algo que ficava restrita as vilas e ao campo, nas próprias cidades tal realidade era bem viva. Poucos anos antes da Revolução Francesa se deflagrar, os habitantes de Paris, maior cidade da França, viviam sob a ameaça de morte pela fome e pelas outras pessoas. Os pobres eram quem mais sofria com isso, e neste caso relatos da época dizem que as pessoas, roubavam umas as outras por um punhado de pão, invadiam armazéns e padarias para saqueá-las, invadiam outras casas; tumultos se geravam pelas ruas, brigas e até mesmo assassinatos. A cidade vivia em um verdadeiro caos. E sobre tais premissas, os aristocratas de Paris, decidiram agir e por fim a esta abominação. Com isso, em 14 de julho de 1789, o povo revoltado invadiu a Bastilha e deu inicio a Revolução Francesa.

"A situação alimentar e demográfica melhorou no decorrer do século XVIII em certo número de províncias francesas. Mas o medo de faltar pão tinha atrás de si um passado longo! Além disso, no próprio ano em que Turgot decidia imprudentemente pela liberdade do comércio dos cereais (setembro de 1774), a colheita foi má. Volta-se imediatamente aos piores terrores de antigamente e às condutas violentas, cujo rito as multidões haviam elaborado há muito tempo: despósitos de trigo e mercados pilhados ao redor de Paris, ataques a padarias em Paris e em Versalhes por bandos descontrolados". (DELUMEAU, 1989, p. 174).

Um ponto interessante que Darnton diz em seu livro, é o fato que a realidade social, fora de grande importância para o desenvolvimento dos contos de fada nesta época.

"Longe de ocultar sua mensagem com símbolos, os contadores de histórias do século XVIII, na França, retratavam um mundo de brutalidade nua e crua". (DARNTON, 1986, p.29).

"Comer até se encher, comer até a exaustão do apetite (manger à sa faim), era o principal prazer que tentava a imaginação dos camponeses e que eles raramente realizavam em suas vidas". (DARNTON, 1986, p. 53).

Muitos contos de fada populares da França, desconhecidos para nós das Américas, falam geralmente sobre comida e riqueza, principalmente sobre a aventura de um rapaz que parte de suas terras miseráveis ou é expulso pelos pais de casa, porque estes não tem comida para lhe dar. Então este jovem ou é ajudado por fadas ou anjos, para derrotar inimigos ou superar obstáculos para finalmente sair vitorioso.

Fica evidente que o problema da fome foi algo bem traiçoeiro e que teve em alguns momentos, forte importância para a mudança do governo nos Estados.

NOTA: Na Inglaterra, o principal tipo de pão consumido era o de farinha de trigo. No entanto também se consumia, pão negro, pão de cevada, pão de aveia e de outros tipos de cereais, dos quais em alguns casos causavam mal para aqueles que o comiam, devido aos fungos encontrados nestes alimentos.
NOTA 2: Reza a lenda que quando a rainha Maria Antonieta fora avisada de que o povo não tinha pão para comer, ela teria dito o seguinte: "Se eles não tem pão, então que comam bolo".
NOTA 3: A Bastilha foi inicialmente construída para ser um portão e depois fora ampliada, tornando-se uma fortaleza. Já durante o Antigo Regime (séc. XVI ao XVIII) ela passou a ser utilizada pelos reis de França como uma prisão estatal. A invasão da Bastilha, a libertação do povo e sua destruição marca o primeiro passo da Revolução Francesa. A fortaleza representava o poder absolutista dos reis do Antigo Regime.
NOTA 4: Um bom exemplo de conto de fada que ilustra as ideias citadas anteriormente, é o conto de João e Maria. No qual os dois irmãos perdidos em uma floresta, acabam encontrando uma casa feita de doces.
NOTA 5: Adam Smith (1723-1790) foi um ilustre economista e filósofo escocês do século XVIII, conhecido por ter escrito sua obra-prima, A Riqueza das Nações.
NOTA 6: Mesmo tendo sido escrita séculos antes desta época, as histórias de Robin Hood, já possuíam um caráter similar a este período. Em seus contos, o Príncipe dos Ladrões, roubava dos ricos para dá aos pobres.


Referências Bibliograficas:
THOMPSON
, E. P. Costumes em comum. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. (Capitulo 4: A economia moral da multidão inglesa no século XVIII, pp. 150-202).
DARNTON, Robert. O grande massacre de gatos: e outros episódios da história cultural francesa. Rio de Janeiro, Graal, 1986. (Capitulo 1: Histórias que os camponeses contam o significado de Mamãe Ganso, pp. 21-101).
DELUMEAU, Jean. História do Medo no Ocidente. São Paulo, Companhia das Letras, 1989. (Capítulo 4: Medos e Sedições (I): O temor de morrer de fome, pp. 170-174).


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O Antigo Regime

terça-feira, 13 de julho de 2010

Res publica

A república consistia em um governo formado pelo Senado, pelos magistrados e pelas assembleias. Cada um destes órgãos tinham funções definidas na administração tanto de Roma, como também de suas províncias. A palavra república se origina de duas palavras em latim, res publica o que significa “a coisa pública”. Essa “coisa pública”, não necessariamente fora de acesso para todos. Nos primeiros anos da república, somente os patrícios tinham o direito de serem membros do Senado, compor os magistrados e as assembleias, só posteriormente, após várias reivindicações da plebe, e que essa conseguiu ter o direito de participar do governo.

“O período da República caracterizou-se pelo fato de o Estado ser comandado por magistrados, eleitos por um ano. Para os romanos, dessa forma ficava garantida a “liberdade do cidadão”, pois formava-se uma civitas, uma comunidade de homens livres submetida a um conjunto de leis que limitavam a autoridade dos homens, estando portanto acima deles”.

Entre os republicanos, fora imposta uma forte oposição à figura do rei, para eles tal figura representaria o fim da democracia e da liberdade do povo. O rei seria visto como um tirano. Com este fato, o Senado assegurava sua legitimidade e sua integridade. Tão forte era este caráter, que a cidade era representada oficialmente como: Senatus Populesque Romanus (S. P. Q. R), o que significa o Senado e o Povo Romano.


Iniciais do Estado romano durante a época republicana.
Definida a estruturação da República, a questão seguinte é como ela se organizava politicamente.

Consulado: O consulado era formado por dois cônsules, os quais tinham o mandato de um ano. Estes eram os chefes supremos do Estado, tinham como função de coordenar e chefiar a política a administração e as campanhas militares. Alguns dos próprios cônsules iam para a guerra. Outro fator importante é a questão de que os cônsules detinham o poder do imperium, o qual lhes garantia suas funções, e a possibilidade de intervir em determinadas questões.

Pretura: A pretura era composta por 2, 4, 6 ou 8 pretores, os quais ficavam no cargo por um ano. Aos pretores era lhe atribuída às competências jurídicas, como também determinadas questões políticas e militares, além de também serem responsáveis pelo governo das províncias. Os pretores também dispunham do imperium. Mas estes eram subordinados aos cônsules.

Censura: Dois censores compunham a censura, a qual acontecia a cada cinco anos. Os censores tinham como dever o de elaborar as listas dos cidadãos, dos cavaleiros (eques) e do Senado (album). Além da elaboração destas listas os censores examinavam os costumes com sanções eventuais, como também o patrimônio e as finanças do Estado. A censura era um cargo alto, mas esta não detinha o direito do imperium. Da censura originou-se o termo censo.

Questura: Formada por 10, e depois 20 questores. Exerciam o cargo por um ano. Eram responsáveis por auxiliarem os magistrados superiores, lhe enviando relatórios sobre os gastos e a receita do Estado.

Edilidade: Durante um ano, 4 edis, tinham como função a de administrar e verificar os mercados, as vias públicas e a organização de eventos.

Tribunado da Plebe: Eram dois magistrados de origem plebeia, eleitos a cada ano. Estes eram os representantes da classe plebéia, os quais tinham o poder de vetar qualquer ato de um magistrado, e de si opor ao Senado. Eles também tinham o direito de propor plebiscitos. O Tribunado da Plebe, fora uma das conquistas que os plebeus conseguiram em sua luta contra a autonomia dos patrícios. Além do Tribunado, havia também uma assembleia da plebe, e posteriormente, os plebeus conseguiram o direito de que um dos cônsules fosse de origem plebeia, embora que na prática isso não fosse seguido a risca. 

Ditadura: A ditadura era um cargo, o qual ocorria em raras condições, e de caráter extremo. Quando Roma estava abalada por revoluções ou por uma grande guerra, o Senado elegia um ditador, o qual durante 6 meses teria plenos poderes, para os quais pudesse resolver tal crise. Este mandato nunca passava de 6 meses, fato este porque o Senado temia um golpe de Estado, o qual pudesse levar a ascensão de um tirano ou de um rei. Das diversas ditaduras que houveram em Roma, as que tiveram maior repercussão, foram a do cônsul Sula (81-79 a. C) e a de Júlio César de 48 a.C a 44 a.C, a qual acabou com seu assassinato.

Determinado os cargos dos magistrados em Roma, estes também podiam se reunir, para debater, eleger e votar. Estas reuniões aconteciam através das assembleias, as quais eram a Assembleia Curial, a Assembleia Centurial, a Assembleia das Tribos e a Assembleia da Plebe e também o próprio Senado.

Senado (Senatus): O Senado se formou durante a monarquia, e ainda continuou a existir durante o império. Contudo foi somente na República que ele alcançou seu status máximo, seu total poder. Até então o Senado não passava, de um conselho de anciões os quais, eram subordinados ao rei. Este elegia seus membros, e os consultava, contudo a última palavra era do rei. Durante a República, o Senado passou a exercer funções de grande importância para o Estado. O Senado passaria a ser o centro político e judicial de Roma. Todos os senadores eram membros vitalícios e de origem patrícia. Os senadores eram antes eleitos pelos cônsules, depois essa função passou para os censores. O Senado tinha a função de fiscalizar os cônsules, a ponto de até mesmo destituí-los do cargo, controlavam a justiça, as finanças, a religião, as campanhas militares, e a política externa, com suas províncias e seus aliados.

Assembleia Curial: Essa era formada por trinta cúrias, composta cada uma por 10 senadores, totalizando 300 senadores durante a época republicana. Tal número cresceu durante o início do império, chegando a passar do dobro de membros. Seu papel era o de confirmar o titulo de imperium, como também verificar e debater sobre a adoção de certos testamentos, a exemplo do testamento de César, deixado ao seu sobrinho Caio Otávio.

Assembleia Centurial: Essa assembleia era talvez a de maior importância para Roma no tempo da República. Ela era composta pelos militares, os quais se dividiam em 193 centúrias, as quais não necessariamente tinham cem homens cada uma. As centúrias se dividiam em dois grupos: Os iuniores, composto por cidadãos de 17 a 46 anos, e os seniores, dos 46 a 65 anos. Estes dois grupos eram representados pelos patrícios os quais compunham a maioria das centúrias, e pelos plebeus e cavaleiros. A assembleia tinha como função a de eleger os cônsules, pretores e os censores, como também de avaliar questões legislativas, tais como votar em leis, declarações de guerra, tratados de paz, e a conclusão de outros tratados. Por fim a assembleia também exercia o papel judiciário, no qual se julgava as acusações criminais. De todas as assembleias está era a única que acontecia fora da cidade, ocorrendo no Campo de Marte, fato esse devido, pelo motivo de todos portarem armas.

Assembleia das Tribos: Esta era composta pelas 35 tribos de Roma, sendo 4 pertencentes a cidade e as demais formadas pelas populações rurais. Essa assembleia, elegia os edis curuis, os questores e os tribunos militares. Ela também poderia participar da legislação geral, e de julgar crimes passivos ao Estado.

Assembleia da Plebe (Concilium plebis): Era composta pelas 35 tribos, porém era chefiada por um tribuno da plebe ou um dos edis. Tinha a função de eleger seus tribunos, e os edis, como também votar nos plebiscitos, e de julgar crimes contra o Estado, e de abuso de poder. Em geral os plebiscitos eram leis, as quais favoreciam a classe plebeia.

Toda essa vida e cotidiano político ocorriam no Fórum Romano. O fórum era a espinha do governo em Roma. Contudo este não era um simples lugar para se debater questões políticas, legais e judiciais, o fórum abrangia um grande complexo de construções, os quais formavam o centro da cidade. Ele começou a ser construído durante o período monárquico, e continuou a crescer até durante o período imperial.

Ruínas do Fórum Romano.
O Fórum Romano, era composto por vários templos, dedicado aos deuses, como o Templo de Saturno, de Vesta e Vênus, templos para heróis como Castor e Pólux, e até templos dedicados a figuras importantes da história romana, como César, e os imperadores Vespasiano e Tito.

Além dos templos, havia também basílicas (nesse caso, não se tratava de uma igreja cristã, mas sim de um local para reuniões e eventos), estátuas, arcos, praças, e até mesmo um mercado com várias lojas. No fórum também se encontrava a Curia Hostilia local no qual se reuniam os trezentos senadores, era a sede do Senado. O outro complexo importante era o Tabularium, local este onde ficavam os escritórios dos magistrados e dos funcionários públicos, como também o arquivo oficial da cidade.

Com a queda da monarquia, as famílias patrícias, as quais formavam o antigo Conselho dos Anciões, agora assumiram o poder do Estado romano. Os patrícios eram descendentes das antigas famílias de Roma, ricos proprietários de terra. Eles possuíam as melhores terras da cidade, e como também o próprio direito de serem cidadãos, direito este só conseguido pelos plebeus durante a República.

Ao assumirem o poder de Roma, os patrícios eram os únicos a poderem ser membros do Senado, como também exercer as funções dos magistrados, de organizar e sediar as assembleias e serem detentores da justiça e da religião em Roma. O fato de os patrícios poderem realizar suas próprias celebrações sem a necessidade de um sacerdote, já denotava, um grande privilegio, e domínio perante o resto da sociedade. Já que certas ocasiões eram se necessário consultar os deuses, e os patrícios detinham o direito dos auspícios, o qual permitia eles interpretarem a vontade divina sem a mediação de um sacerdote. Questão essa que os patrícios usavam para garantir a legitimidade de estarem no poder.

Além de possuírem grande fortuna, e serem detentores da política romana, os patrícios também possuíam o apoio dos “clientes”, os quais eram homens que não possuíam qualquer fortuna, os quais buscavam o apoio de um senhor (patres) o qual lhe concedia ajuda e proteção, em troca da obrigação de servi-lo. Tal população e organização de servidão ficou conhecida como clientela, e continuou a ser adotada mesmo após o fim do império e em certos aspectos possui características em comum com a servidão feudal. 

Ligando todos estes fatos, fica claro o fato, de que os patrícios tinham muito poder em Roma, mais tal poder seria abalado pelo descontentamento da plebe, levando a revoltas e a ameaças ao Estado. Tal motivo fizera eclodir a Luta das Ordens, a qual perdurou por vários anos. Nessa luta, os plebeus lutavam por justiça, melhores condições de vida, igualdade e segurança. Tal conflito levou ao fato de grande parte da população plebeia se retirar da cidade e se reunirem na colina do Aventino, as portas do templo da deusa Ceres, deusa associada à plebe. Lá eles ameaçaram fundar uma nova cidade, separada de Roma.

Contudo o perigo era bem maior, os plebeus se encontravam em maior número, e grande parte do exército romano era formado pela plebe, isso acabava por fornecer uma grande ameaça para os patrícios, e para a própria República, a qual poderia cair perante uma revolução. Porém os patrícios acabaram por aceitarem as propostas dos plebeus, então em 494 a.C, fora criado o cargo de Tribuno da Plebe, o qual permitiu a possibilidade da participação da plebe entre o governo, agora estes teriam seus próprios representantes. Outra conquista fora a criação da Assembleia da Plebe em 474 a.C, a qual permitiu os plebeus votarem e participarem da política do Estado.

Mesmo agora podendo usufruir destes novos direitos, os plebeus exigiram que as leis fossem escritas, permitindo o seu conhecimento para o povo. Até então as leis não eram escritas, e somente os patrícios detinham seu conhecimento, e estes as usavam severamente contra a plebe. Contudo a proposta fora aceita, em 451-450, fora elaborada a Lei das Doze Tábuas, as quais possibilitavam o conhecimento de algumas das leis do direito romano pelo seu povo. Além destas leis outras também foram criadas, para assegurarem os direitos dos plebeus, os quais agora passavam a serem reconhecidos como cidadãos romanos.

Lei das Doze Tábuas (Lex Duodecim Tabularum): Essas leis foram criadas mais para convencer os plebeus por seu pedido. Elas abrangiam somente alguns assuntos, de caráter privado, de procedimentos e de penalidades. Os assuntos abordados eram:
  • Tábuas I e II: Organização e procedimento judicial;
  • Tábua III - Normas contra os inadimplentes;
  • Tábua IV - Pátrio poder;
  • Tábua V - Sucessões e tutela;
  • Tábua VI - Propriedade;
  • Tábua VII - Servidões;
  • Tábua VIII - Dos delitos;
  • Tábua IX - Direito público;
  • Tábua X - Direito sagrado;
  • Tábuas XI e XII – Complementares
Lei Canuléia (Lex Canuleia): Essa lei fora elaborada em 445 a.C, pelo tribuno Canuleio, o qual se opunha a proibição de que um plebeu não pudesse se casar com um patricio. Essa lei permitiu que os plebeus ricos pudessem se casar com mulheres de origem patricia, ou ao contrário, que patricios pudessem se casar com mulheres plebeias ricas. De qual quer forma está lei beneficiava mais os patricios do que os proprios plebeus.

Lei Licínias-Séxtias (Lex Licinia Sextia): Elaborada em 367 a. C, pelos tribunos Licinio Estolão e Lúcio Séxtio, essa lei permitia legalmente que um dos cônsules teria que ser de origem plebeia. Fato este o qual fora inaugurado pelo próprio Lúcio Séxtio, o qual se tornou o primeiro cônsul vindo da plebe. A lei também pós o fim a escravidão por divida dos plebeus com os proprietários rurais. Contudo ela só valia para quem fosse cidadão romano, e muitas das provincias não detinham esse direito.

Lei Hortênsia (Lex Hortensia): Em 287 a.C, a lei Hortênsia garantia a legalidade dos plebiscitos, assegurando a autonomia da Assembleia da Plebe, sem necessitar da aprovação do Senado.

Em 300 a.C os plebeus haviam ganhado o acesso a todos os cargos da magistratura. Para muitos esse fora realmente o começo de uma democracia, mesmo assim as desigualdades sociais ainda perdurariam em Roma até o fim do império, e até mesmo nos dias atuais. Os plebeus conseguiram o acesso a muitos direitos, mas mesmo assim os patricios ainda detinham o controle do Estado. Alguns autores falam em um “Estado dentro de um Estado”. Contudo essas reivindicaçãoes asseguraram o dominio dos patricios, agora unidos aos plebeus ricos, e também como uma forma de amenizar as divergências entre as duas classes.

NOTA: Devido ao enriquecimento de alguns plebeus principalmente através do comércio, surgiu uma classe intermediária, chamada de equis (cavaleiros), que seria na visão de hoje uma espécie de classe média. Alguns equis e plebeus se casaram com patrícios originando os chamados nobilitas, patrícios de origem baixa.  
NOTA 2: Ainda hoje na Itália, alguns senadores possuem o cargo vitalício, legado dessa época. 
NOTA 3: Várias outras leis surgiriam até o fim da República em 27 a.C, no entanto grandes reformas legislativas só ocorreram de fato durante o período imperial, promovida por alguns imperadores. 

Referências Bibliográficas:
BALDSON, J. P. V. D. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar. 1968.
GRIMAL, Pierre. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70. 1988.
CARASSIN, Maria Luiza. Sociedade e política na Roma Antiga. São Paulo, Atual. 2001.

terça-feira, 6 de julho de 2010

As Guerras Púnicas

Neste texto procurei contar de forma breve a respeito das Guerras Púnicas, intensos conflitos divididos em três grandes guerras, travadas entre as potências mediterrânicas de duas repúblicas, Roma e Cartago, as quais se digladiaram para controlar territórios na Europa e África, além de rotas marítimas. Neste caso, as Guerras Púnicas são um marco para a história romana pois representaram seu primeiro grande passo para a criação de um exército nacional, o qual daria origem as legiões imperiais. 

Cartago foi uma antiga colônia fundada na África, pelos fenícios no século IX a. C, perto do lago Túnis, na atual TunísiaEm poucos anos Cartago se tornou uma potência mercantil, militar e naval, passou a controlar boa parte do comércio no mar Mediterrâneo, no que acabou levando ao confronto com Roma pelo domínio do mar Mediterrâneo e de suas terras. Cartago possuía colônias na Sicília, na Sardenha, na Córsegana Espanha, e na costa africana que hoje compreendem as costas do Marrocos, Tunísia e Líbia. Como este assunto é muito extenso, irei fazer um levantamento geral do que foram estes conflitos. 

Os domínios de Cartago antes da Primeira Guerra Púnica. 
A Primeira Guerra nica (264-241 a.C)

A primeira guerra púnica teve inicio em 264 a.C e perduraria até 241 a.C. Os motivos pelo inicio da guerra, fora o fato de que Roma se intrometeu nos conflitos entre os gregos da cidade de Siracusa (Sicília) contra os cartagineses. Nessa época a Sicília era muito cobiçada por suas excelentes terras para agricultura, o que garantiu a ela como um dos principais produtores de cereais da região. Como Roma havia conquistado a península Itálica, ela voltou seus olhos para Sicília. Então após alguns conflitos entre grupos de mercenários da Sicília, Roma acaba se tornando aliada dos gregos e declarando guerra a Cartago.

Nos primeiros anos da guerra, os romanos, e os cartagineses se confrontaram pelo domínio da Sicília, o que acabou levando a muitas batalhas e das quais os romanos saíram vitoriosos, a ponto de conseguirem que parte dos aliados de Cartago mudasse para seu lado. Cartago insatisfeita pelas derrotas em terra decide atacar por mar. Nesta época em 261 a.C após a Batalha de Agrigentum, os romanos já dominavam grande parte do território siciliano. Contudo suas forças e sua hegemonia eram ameaçadas pela marinha de Cartago. Assim os romanos deram inicio a construção de sua própria marinha. Até então Roma nunca havia participado de uma batalha naval. Eles tiveram a ajuda dos gregos para construir uma frota, mas devido a sua inexperiência foram derrotados várias vezes.

Mas após anos de conflitos, os romanos desenvolveram novas táticas de combate naval e foram ganhando experiência, a ponto de que em 256 a.C, com uma frota de 330 navios os romanos decidiram atacar o norte da África, contudo sua investida fora barrada pela frota cartaginês, a qual acabou sendo derrotada pelos romanos, na maior batalha naval da época. Roma conseguiu atacar as colônias na África, mas acabou por ter que recuar, quando os cartagineses pediram ajuda ao general espartano Xanthippus. Com está derrota eles voltaram para casa, e no caminho grande parte da frota fora destruída em uma tempestade.

Em 247 a.C o general Amilcar Barca assume o controle das frotas de Cartago, aproveitando a fraqueza do inimigo ele decide atacar à costa da península Itálica. Amilcar fundou uma base no território romano, e começou a atacar por terra. Nesta época tanto Roma e Cartago estavam abaladas economicamente, após vinte anos de guerra. Tal condição era tão precária, que o Senado não tinha recursos para construir uma nova frota, e teve que recorrer aos cidadãos ricos, os quais juntos puderam construir uma frota de 200 navios, o qual permitiu que os romanos atacassem a frota de suprimentos de Amilcar, o deixando desamparado.

Em 241 a.C, os romanos vencem os cartagineses na Batalha das ilhas Égadi. Com a derrota Cartago decide assinar um acordo de paz com Roma. Com a vitória de Roma está consegue o total domínio da Sicília, e de outras pequenas ilhas, como também uma indenização anual de 2200 talentos. Com isso Roma se tornara a nova potência naval do Mediterrâneo.

A Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C)

A segunda guerra se da como consequência da primeira, após a sua derrota Cartago ficara abalada financeiramente, e para contornar está situação ela decide explorar pesadamente as minas de prata na região da Hispânia. Nesta época Roma combatia os gauleses ao norte, e os cartagineses expandiam seu domínio pela África, assegurando a posse da Espanha e da Argélia. Contudo Cartago acabou por arranjar um novo confronto com Roma, quando está acabou por invadir a Córsega e a Sardenha, até então territórios de Cartago. Os cartagineses acabaram sendo derrotados pelos romanos.

Então decidiram intensificar o domínio sobre a Hispânia, com o general Amilcar. Amilcar morreu anos depois em 229 a.C em um confronto contra tribos locais, nesta época quase toda a Hispânia estava sobre o domínio cartaginês. Seu cunhado Asdrúbal, continuou a conquista, no que levou a fundação da Nova Cartago, a qual seria a capital da Hispânia. Após seu assassinato em 221 a.C. Cartago entrega o comando para o jovem filho de Amilcar, Aníbal Barca.

Aníbal Barca
Aos vinte e seis anos de idade Aníbal Barca, não somente decide dá continuidade as conquistas de seu pai, ele decide enfrentar Roma. Para isso ela acaba quebrando um dos tratados entre Roma e Cartago que assegurava as fronteiras do domínio romano com o domínio cartaginês na Hispânia. Com este ataque, o Senado romano pede para o governo de Cartago que envie Aníbal para julgamento em Roma, contudo o Conselho dos Cem (Órgão superior em Cartago) se recusa a tal pedido. Em 218 a. C os romanos declaram novamente guerra a Cartago. Aníbal não se pôs a esperar que os romanos atacassem a península Ibérica ou a África, ele decidiu agir primeiro. Em abril de 218 a.C Aníbal parte com cerca de 45 mil guerreiros rumo a Gália, ele pretendia contornar a Gália e atacar os romanos pelo norte. No caminho ele esperava ganhar o apoio das tribos gaulesas, mas isso não acabou por ocorrer inicialmente. Roma soube dos planos de Aníbal, e enviou o cônsul Cornélio Cipião para enfrentá-lo. Contudo Aníbal fizera algo inusitado, invés de avançar para o sul pelas margens do rio Ródano, Aníbal decidiu avançar através dos Alpes, um caminho mais longo e mais perigoso.

Contudo o plano dera certo, e com isso Aníbal conseguiu evitar que os romanos o seguissem pelos Alpes. Porém ele acabou por confrontar outras tribos gaulesas no caminho. Este momento fora um dos mais grandiosos da segunda guerra púnica. 45 mil guerreiros e 50 elefantes cruzavam os Alpes. Cinco meses depois, após uma dura jornada, Aníbal chega ao vale do Pó, com 26 mil guerreiros e 21 elefantes. Porém tal jornada acabara por fornecer os esperados aliados que Aníbal procurava. Após destruir as duas colônias romanas na Gália, ele acabara por conseguir o apoio de algumas das tribos gaulesas. Com a sua chegada a Itália, Roma passaria os próximos anos sendo atacada pelos exércitos cartagineses. Os romanos perderam inúmeras batalhas ao longo de mais de dez anos de conflito. Contudo mesmo o próprio Aníbal não conseguira conquistar Roma e nem a sua rendição. Em 2 de agosto de 216 a. C, os romanos e os cartagineses travaram a Batalha de Canas, a qual representou a maior derrota para os romanos, os quais chegaram a perderem 80 mil guerreiros. Isso permitiu que Aníbal avançasse pelo centro da Itália e ali pudesse se estabelecer. Após os romanos perderem milhares de soldados, várias legiões, cônsules, senadores, terras, recursos, aliados, colônias era chegada a hora de um ataque decisivo as forças de Aníbal.

Em 211 a.C o jovem general Públio Cornélius Cipião, toma a frente dos exércitos romanos na península Ibérica. A qual era a fonte de soldados e recursos das tropas de Aníbal. Lá ele passa os anos seguintes, confrontado o irmão de Aníbal, Asdrúbal Barca, o qual é morto em 207 a.C. Dois anos depois ele retorna para Roma, e é eleito cônsul. Neste momento Públio Cornélio Cipião, propõem um plano ousado, atacar diretamente a própria Cartago. Inicialmente o Senado se recusou a fazer tal ato. Porem eles acabaram por ceder o direito de Cipião ir para o ataque. Cipião reuniu duas legiões e partiu em 204 a.C para a África. Dispondo de poucos guerreiros e recursos, Cipião, o Africano, decidira atacar as cidades vizinhas a Cartago. 

Com suas vitórias ele acabou ganhando o apoio de Roma, a qual lhe enviou reforços. Mas acima de tudo ele conseguira que o próprio Aníbal viesse até ele. Após Cartago ter vários de sues aliados conquistados e derrotados, ela se sentira em perigo, e pediu ajuda a Aníbal, o qual em 202 a.C chegara à África. Cipião decidira não ficar próxima a Cartago e nem confrontar Aníbal de imediato, ao invés disso ele forçou a Aníbal a segui-lo pelo deserto para longe de Cartago e de qualquer outra cidade e fortaleza. Em tais condições Aníbal não teria a quem recorrer ajuda.

Em 19 de outubro de 202 a.C, na planície de Zama, se deu a batalha entre os dois exércitos. Cipíão prevendo que Aníbal usa-se seus elefantes de guerra ordenou que sua infantaria, carrega-se com sigo uma trompa. Ambos os exércitos postos para o ataque, a batalha tem inicio, Cipião envia sua infantaria na frente, e Aníbal envia seu exército de elefantes. Quando os elefantes se aproximaram os soldados começaram a soprar as trompas, o que acabou por assustar os elefantes, os quais se voltaram conta seu próprio exército. Os animais enfurecidos acabaram por atacar e arrasar a cavalaria de Aníbal. Com isso Cipião dera ordem para todo o exército atacar. Aníbal havia perdido seus elefantes, sua cavalaria, e não tinha a quem recorrer, a única solução fora a rendição.

Representação da Batalha de Zama em 202 a.C na Tunísia. 
Roma impôs serias cobranças a Cartago, exigindo que esta entregasse sua frota, suas terras conquistadas e pagasse uma pesada indenização. Aníbal ainda tentou organizar o Estado, porém muitos dos conselheiros, o acusaram pela derrota de Cartago, com isso ele deixou sua pátria e viajou para a Macedônia e depois para a Ásia Menor. Posteriormente se suicidou bebendo veneno. Cipião, o grande herói romano, fora traiçoeiramente enganado por seus inimigos. Ele acabou sendo acusado de corrupção em seu cargo público, para não ser punido por causa disso, ele fugiu e se exilou na Hispânia. Roma agora detinha parte da Gália, a Hispânia, e agora a supremacia do mar mediterrâneo a ponto de estes o chamarem de mare nostrum (nosso mar). Com a vitória romana, a aristocracia se consolidou como grupo dirigente, e o Senado passou a gozar de grande prestigio, por ter liderado com sucesso a guerra contra Cartago e Aníbal.

Após a gloriosa vitória romana na segunda guerra púnica, Roma passara os anos seguintes expandindo seu território para o oriente. Neste tempo Roma confrontava os macedônios nas guerras Macedônicas (211-148 a.C), no que acabou com a vitória romana sobre a Macedônia, a transformando em província romana, e a conquista da própria Grécia. A parti de então Roma continuou sua expansão para o Oriente. Conquistando a Ásia menor, e expandindo seus domínios para a Síria. Contudo nestes anos Cartago mesmo arrasada pela guerra, aos poucos fora se recuperando a ponto de voltar a levantar suspeitas ameaças para Roma. Porém Cartago fora proibida de atacar qualquer outro povo e de formar um exército. Contudo o destino de Cartago não era um dos melhores, em Roma. O censor Marco Pórcio Catão, defendia com unhas e dentes, para que Roma atacasse e destruísse de vez Cartago.

A Terceira Guerra Púnica (149-146 a.C)

Catão, o Censor
De acordo com a história Catão, o censor, um dos mais ilustres e respeitados políticos da época convenceu o Senado a declarar guerra a Cartago. Ele alegava que Cartago estava se recuperando muito rapidamente, e poderia voltar a ameaçar Roma. Então ele terminou seu discurso proferindo a seguinte frase Delenda Carthago” (Cartago deve ser destruída). Mas para que tal condição ocorresse o Senado teria que arranjar um pretexto. Já que Cartago fora proibida de lutar contra outros povos, o Senado ordenou que os Numidas atacassem os cartagineses até que após três anos de conflito, e Cartago implorando apoio a Roma, decidira resolver a situação por contra própria. Assim os cartagineses partem para guerra, desobedecendo ao tratado com Roma, a qual lhe declara guerra. Em 149 a.C as legiões romanas atacam Cartago, porem estáa não cederia facilmente, tal fato levou a guerra a se prolongar por três anos. Até que em 146 a. C, liderados por Cipião Emiliano (neto de Cipião, o Africano), os romanos conseguiram invadir a cidade.

Porém estes tiveram que lutar ferozmente com os cartagineses que defendiam sua cidade com todas as suas forças. Tal luta acabou por levar a pilhagem, a milhares de mortes, e a própria destruição da cidade. Os 50 mil prisioneiros partiram vendo a cidade ser engolida pelas chamas. Após a destruição da cidade, reza lenda que toda a terra ao redor fora salgada, para que nada mais ali crescesse. Roma declarou as terras de Cartago como sendo malditas. Assim a poderosa Cartago chegara ao fim. Contudo anos depois outra cidade de mesmo nome fora fundada, e esta passou a pertencer à província romana. Com o fim de Cartago, todos os seus domínios passaram a pertencer aos romanos. A vitória romana consolidava a supremacia dos romanos sobre o Mediterrâneo e sua gradativa expansão territorial até o fim da República e o inicio do seu glorioso Império.

NOTA: Anos mais tarde, o tribuno da plebe, Caio Graco (154-121 a.C) propôs que as terras de Cartago fossem recuperadas e utilizadas para o cultivo. Entretanto o Senado ignorou tal ideia, já que para o orgulho romano, aquelas terras eram malditas. E seria uma afronta utilizá-las. Caio fora o irmão mais novo de Tibério Graco. Ambos ficaram conhecidos por defenderem os direitos politicos da plebe durante a República Romana.
NOTA 2: De acordo com a Eneida, célebre poema de Virgílio; a cidade de Cartago teria sido fundada pela rainha Dido.
NOTA 3: O Conselho dos Cem em Cartago, é comparado ao Senado em Roma.
NOTA 4: O nome púnico, era como os romanos se referiam aos cartagineses. Púnico, se refere a descendente dos fenícios.
NOTA 5: A Fenícia era uma pequena região costeira, que compreendia os atuais territórios da Síria, Líbano e Israel. A Fenicia era dividida politicamente em várias cidades-estados. Na história eles ficaram lembrados como grandes navegadores, comerciantes e exploradores do Mediterrâneo.

Referências Bibliográficas:
BALDSON, J. P. V. D. 1968. O Mundo Romano. Rio de Janeiro, Zahar.
GRIMAL, Pierre. 1988. A Civilização Romana. Lisboa, Ed. 70.
CARASSIN, Maria Luiza. 2001. Sociedade e política na Roma Antiga. São Paulo, Atual.

Link relacionado: 
Aníbal Barca