Desde a Idade Média existe uma história que diz que a cidade de Lisboa teria sido fundada pelo herói grego Odisseu, ou Ulisses como era conhecido pelos romanos. Alguns poetas e escritores nos séculos XVI e XVII citaram tal mito e até escreveram poemas em homenagem a essa lendária fundação. Neste texto procurei contar um pouco de onde teria vindo essa relação com o mítico Odisseu e a fundação de Lisboa, adiantando que essa ideia de associar um herói como fundador de uma cidade era uma tradição vista entre os antigos gregos e romanos.
Odisseu: o sagaz e desafortunado
Antes de adentrar ao mito da visita de Odisseu as terras que hoje perfazem território português, é preciso apresentar um pouco de sua história para saber como ela se encaixaria nesse mito de fundação. No caso, Odisseu era filho do rei Laerte e da rainha Anticleia, os quais governavam a pequena ilha de Ítaca na costa ocidental do Peloponeso. Sendo ele filho único, herdou o trono do pai. Já moço, Odisseu foi um dos pretendentes de Helena, mas como tantos outros, acabou perdendo para Menelau, o qual se casou com ela, considerada a mais bela das mulheres. Por sua vez, Odisseu casou-se com Penélope, com quem teve um filho chamado Telêmaco.
Helena após decidir fugir com o príncipe Páris, para Troia, isso levou Menelau a pedir ajuda ao seu irmão mais velho Agamemnón, e assim iniciaram a Guerra de Troia. Como Odisseu havia juramentado em proteger Helena e possuía aliança com Menelau, decidiu ajudá-lo a reaver sua esposa infiel.
No caso, a história de Odisseu é narrada principalmente em dois poemas épicos, a Ilíada e a Odisseia, ambos atribuídos ao poeta Homero. No primeiro poema, ele aparece como personagem coadjuvante, sendo um dos generais gregos que participou dos longos dez anos de conflito para se conquistar Troia. Odisseu é lembrado por ter sido o autor do plano do cavalo de madeira gigante que foi usado como ardil para se enganar os troianos. Com êxito do plano do cavalo, o qual originou até mesmo a expressão "presente de grego", os gregos conseguiram invadir Troia, saqueando-a, destruindo-a e escravizando seu povo. Helena foi recuperada por Menelau, mas outros importantes heróis gregos e troianos pereceram durante a guerra ou na invasão. Todavia, Odisseu e seus homens sobreviveram e na jornada de volta para casa, Odisseu esnobou-se perante os deuses, gabando-se de sua sagacidade principalmente para Poseidon, o deus dos mares, o que o enfureceu e amaldiçoou ele, dizendo que este jamais retornaria para Ítaca.
A Odisseia narra a história do retorno de Odisseu, mas de forma não linear, já que em dados momentos ela se passa em Ítaca, acompanhando a rainha Penélope e seu jovem filho Telêmaco, os quais tem que lhe dar com os pretendentes que cobiçam casar com Penélope, tida como viúva, em outro momento a narrativa se passa no Reino dos Feácios, última parada de Odisseu, onde ele narra suas aventuras ao rei Alcínoo. A partir da conversa do herói com o rei feácio, vai se desenrolando a narrativa da jornada de dez anos que Odisseu levou para retornar para casa. Todavia, ele não passou estes dez anos perdido como as vezes se pensa, na verdade nos três primeiros anos ele navegou por vários lugares do Mediterrâneo, encontrando o ciclope Polifemo, os monstros Caríbdis e Cila, as sereias, a feiticeira Circe e outros personagens, porém, no quarto ano de sua jornada ele foi acolhido pela ninfa Calipso na ilha de Ogigia, onde viveu ali por sete anos. Após isso ele chegou ao reino dos Feácios, de onde conseguiu ajuda para retornar à Ítaca, lutar contra os senhores que cobiçavam seu reino e finalmente reencontrar sua esposa e filho.
O interessante de citar esse breve relato da Odisseia é que em meio a estes dez anos que Odisseu e parte de sua tripulação estiveram perdidos (essa esteve presente em cerca de quatro anos, pois Odisseu chegou sozinho a Ogigia), outros poetas inventaram novas narrativas apontando outros territórios pelos quais Odisseu teria visitado durante esse período. Tal prática não era incomum, até porque o Ciclo Troiano que consiste nos poemas que narram os acontecimentos da Guerra de Troia, não se limita apenas a Ilíada, mas existem outras narrativas que falam sobre seus antecedentes, conflitos paralelos e até o que aconteceu com outros personagens após essa guerra. Logo, dentre as narrativas de outras viagens que Odisseu teria realizado, encontra-se uma que ele teria fundado a cidade de Lisboa.
Lusitânia e Olisipo
Não se sabe exatamente quando a cidade de Olisipo foi fundada, porém, foram os romanos que deram este nome a ela, devido a condição de que aquela pequena urbes teria sido fundada pelo herói Odisseu. Além do nome Olisipo, a cidade também foi referida como Ulisipo ou Ulisseia. O ano de fundação da cidade como dito, é desconhecido, e quem teria sido seus fundadores também é algo não concreto; teorias sugerem que a cidade teria sido fundada pelos fenícios, cartagineses, turdúlos, célticos, lusitanos ou pelos próprios romanos.
A cidade situada a beira do rio Tejo, era conhecida pelos romanos desde o século II a.C, o que sugere que sua fundação tenha que ter sido anterior a isso. Os romanos começaram a invadir a Península Ibérica em retaliação aos cartagineses que controlavam parte daquelas terras e estavam a vários anos em guerra contra Roma. A medida que as tropas romanas iam progredindo pelo interior da península, chegaram até o território dos lusitanos, o qual corresponderia a região central da atual Portugal. Os lusitanos não aceitaram a dominação romana iniciando vários anos de guerra indo de 194 a.C a 138 a.C, nesse período houve algumas batalhas e tréguas, mas os intentos da República Romana de conquistar a península nunca foram abandonados. (GRIMAL, 1988).
Em 138 a.C o cônsul Décimo Júnio Bruto comandou legiões para conquistar os lusitanos e os galaicos que viviam mais ao norte, no que hoje é a Galiza na Espanha. Nessa época os habitantes de Olisipo aliaram-se aos romanos, principalmente pelo fato de que o grande líder lusitano, Viriato (181-139 a.C), havia falecido meses antes. Viriato dedicou a vida a assegurar a independência de seu povo, mas tendo sido assassinado, parte dos lusitanos optaram em se aliar aos vencedores. Após essa aliança em 138 a.C, o povo de Olisipo seguiu colaborando com os romanos nas décadas seguintes, inclusive recebendo benefícios políticos e legais por parte de Roma. (GUERRA; FABIÃO, 1992, p. 14-15).
A conquista da Lusitânia foi efetivada em 30 a.C, e no ano seguinte a região tornou-se a Província da Lusitânia, em referência aos lusos ou lusitanos, o povo mais expressivo daquela região. E dessa forma aquelas terras passaram a fazer parte do seu império, cuja capital daquela província ficava situada em Emerita Augusta (atual Mérida na Espanha). (GRIMAL, 1988).
Mapa do Império Romano com suas províncias em 117. Em amarelo a localização da província da Lusitânia.
Dessa forma Olisipo tornou-se parte dos domínios romanos recebendo elementos que caracterizavam urbanisticamente as cidades romanas naquele tempo, como um teatro, termas, aquedutos, cloacas, prédios públicos, fortificações etc. Mas se até aqui vimos um pouco da história de como Olisipo passou das mãos dos lusitanos para as dos romanos, os quais a renomearam com este nome, como citado anteriormente, de onde eles haviam tirado a ideia de que tal cidade havia sido fundada por Odisseu?
O mito de fundação de Olisipo
Como assinalado anteriormente, outros poetas escreveram sobre viagens que Odisseu teria realizado durante os dez anos que levou para retornar à Ítaca. Embora não se saiba exatamente quando surgiu a história sobre a fundação de Olisipo.
O famoso geógrafo grego Estrabão (64-24 a.C), autor da monumental obra intitulada Geografia, cita no volume I, cap. 2, est. II, que Odisseu teria viajado pela Ibéria. (FONSECA, 2014, p. 187). Posteriormente no volume III, cap. 3, ele descreve a Lusitânia e até mesmo a foz do rio Tejo, todavia, ele não cita a cidade de Olisipo. Embora essa já fosse conhecida dos romanos naquele tempo. Porém, existe um trecho incompleto no volume III, no capítulo 3, onde o autor diz que o cônsul Décimo Júnio Bruto havia recebido reforços de uma cidade situada no Tejo. Os geógrafos e historiadores interpretam isso como podendo ser uma referência a Olisipo. Porém, é interessante que nesse ponto, Estrabão não cite o nome da cidade e nem associe ela com Odisseu.
No século IV d.C. o escritor romano Caio Júlio Solino (?-400), autor de uma coletânea de vários assuntos, intitulada Do mundo maravilhoso (De mirabilus mundi), também chamada de Coletânea de Fatos Memoráveis (Collectanea rerum memorabilium) e de Polistória, cita no capítulo XXIV sobre a Hispânia, o mito de que Odisseu teria fundado Olisipo. (SOLINO, 1847, p. 186).
Outro escritor romano, dessa vez Marciano Capela (IV-V), escreveu um livro emblemático por misturar prosa, poesia, sátira, mitologia e intuitos didáticos. Seu livro foi chamado Núpcias de Mercúrio e de Filologia, mas também é conhecido como As Sete Artes Liberais, por ele propor algumas disciplinas que deveriam ser ensinadas para se ter uma boa formação, e também foi chamado de Satiricon, evidentemente por seu teor satírico. De qualquer forma, neste longo livro, Capela cita que Lisboa teria sido fundada também por Odisseu. (CAPELA, 1836, 308).
No século VII o doutor da Igreja e bispo, São Isidoro de Sevilha (c. 560-636), escreveu sua coletânea enciclopédica intitulada Etimologias. No volume XV, item 70, onde ele se propôs a falar do nome de algumas cidades e lugares e sua ligação com os romanos e gregos, ele cita que Lisboa teria sido fundada por Odisseu. (ISIDORO, 2006, p. 306).
Observa-se nos relatos de Solino, Capela e Isidoro a condição que ambos citam o mito de fundação de Lisboa, tendo a cidade de Olisipo recebido esse nome em homenagem ao seu fundador, o herói grego Odisseu. Porém, nenhum destes autores comentam tal mito. Nem o próprio Estrabão que séculos antes deles, citou que Odisseu teria passado pela Ibéria, também comenta tal história. Logo, não se sabe como teria sido essa narrativa da visita de Odisseu a Lusitânia, se é que haveria alguma narrativa, ou apenas seria um dado sem uma narrativa que a embasa-se.
De qualquer forma, essa história da mítica fundação de Olisipo que veio a ser Lisboa, manteve-se. No século XII um suposto cruzado inglês de nome Raul, escreveu para Osberto de Baldresia, informando que Lisboa teria sido fundada pelo herói Odisseu há muitos séculos. Outros cruzados de nome Vinando, Duodequino e Arnulfo, que foram auxiliar na conquista de Lisboa pelos portugueses, pois a cidade estava em mãos dos mouros, relataram também ter ouvido que a cidade teria sido fundada por Odisseu. Puga (2011, p. 152) sugere que a menção a essa lenda por tais cruzados de origem inglesa, normanda e franca, possivelmente tenha se difundindo não por coincidência, mas como parte de uma "propaganda política" promovida para exaltar a conquista de Lisboa ocorrida em 1147. A cidade estava nas mãos dos mouros já a séculos, e os portugueses não apenas tomaram aquela cidade que alegavam pertencer aos seus antepassados lusitanos, mas também contribuíram com a expulsão dos muçulmanos da região (embora que ainda hoje existam mesquitas em Lisboa e uma comunidade islâmica).
Ainda no medievo outros autores citararam o mito de Odisseu e Olisipo. Como na Crônica Geral de Espanha de 1344, onde Puga (2011, p. 153) comenta que nessa obra temos mais informações sobre como Odisseu chegou as antigas terras que um dia seriam Portugal, inclusive menciona-se que ele teria tido uma filha chamada Boa (uma associação com Lisboa) e um neto chamado Odisseu também. Além disso, nessa crônica diz que o herói chegou a costa lusa, após ser arrastado ali por uma tempestade. Inclusive essa ideia de tempestade é vista em outras versões do mito.
Porém, a partir do século XVI essa narrativa começou a se destacar principalmente devido ao momento dos Descobrimentos Portugueses, e vários autores se reportaram a esse mito e inclusive até mesmo acrescentando novas histórias e criando suas próprias versões. Puga (2011, p. 152-154) enumerou alguns dos autores entre os séculos XVI e XIX, que escreveram sobre o mito de Odisseu e a fundação de Lisboa.
- Partida de Évora (1572) de Diogo Mendes de Vasconcelos
- Os Lusíadas (1572) de Luís Vaz de Camões
- De Rebus Hispaniea (1592) de Juan de Mariana
- Monarquia Lusitana (1597) de Frei Bernardo de Brito
- Ulisseia ou Lisboa Unificada (1636) de Gabriel Pereira de Castro
- Ulyssipo: poema heroico (1640) de Antônio de Sousa Macedo
- Primeira Parte da Fundação, Antiguidades e Grandeza da insigne cidade de Lisboa e seus Varões Ilustres (1652) de Luís Marinho de Azevedo
- Notícias de Portugal (1655) de Manuel Severim de Fari
- História de Santarém Unificada (1740) de Inácio de Piedade e Vasconcelos
- Emília e Leonildo, ou, os Amantes Suevos: o poema (1836) de José Maria da Costa e Silva
- Os Portugueses Perante o Mundo (1856) de Alexandre de Morais
- História Insulana das Ilhas sujeitas a Portugal no Oceano Ocidental (1866) de Antônio Cordeiro
Das obras citadas acima, algumas se destacam como o poema Ulisseia ou Lisboa Unificada, que segundo Fonseca (2015, p. 188) tal obra inspirou-se bastante na estrutura da Odisseia, e nesse ponto, seu autor, Gabriel Pereira de Castro teve pretensões de criar uma versão de uma "Odisseia à la portuguesa". De fato, a obra que conta com mais de 400 páginas no original, consiste num longo poema que reimagina toda a trajetória e aventuras de Odisseu em uma Portugal mítica.
O livro Os Portugueses Perante o Mundo (1856), obra que consiste numa tentativa de escrever a história não apenas de Portugal, mas de outras localidades europeias, associando-as ao período mitológico da Grécia Antiga e da Roma Antiga. Nesse sentido o livro procurou conceder cronologicamente datas para acontecimentos que são míticos, nesse caso, o autor Alexandre de Morais, sugeriu que Odisseu teria chegado a costa lusitana antes de 1081 a.C. Ali ele adentrou pelas águas do Tejo e fundou a cidade de Olisipo, erguendo um templo para Atena e depois casou-se com uma princesa chamada Calipso (aqui nota-se que a ninfa Calipso agora era filha de um rei local). (MORAIS, 2013, p. 22).
Morais (2013, p. 23-24) também salienta que outros marujos da tripulação de Odisseu vieram com ele, e estes fundaram outras cidades e regiões, indo povoar o Minho e o Entre-Douro, inclusive descendentes desses gregos fundaram a cidade de Porto. Por sua vez, Odisseu regressou para Ítaca e deixou seu filho Abidis no comando, o qual fundou a cidade de Santarém e outras localidades. Morais assinala que foi o rei Abidis que civilizou aqueles bárbaros, dando origem aos lusitanos e hispânicos. Nota-se aqui a ideia do herói civilizador, sendo esse herói fruto direto da cultura grega, considerada a primeira grande civilização europeia. De qualquer forma, a obra de Morais é interessante, pois embora conte pouco sobre a presença de Odisseu em Portugal, ele salienta que não foi apenas Lisboa a ser fundada, mas outras cidades também como Porto e Santarém. Percebe-se aqui uma ampliação desse antigo mito.
Breve consideração final
Não se sabe quando o mito de que Odisseu teria fundado Olisipo (atual Lisboa) surgiu. Talvez possa ter sido uma invenção dos romanos e não necessariamente dos gregos. Em um dos relatos mais antigos que se conhece sobre a Lusitânia, como a Geografia de Estrabão, não menciona a fundação dessa cidade pelo herói, embora que diga que ele teria estado na península Ibérica. Por outro lado, nos séculos IV e V, nas obras de Solino e Capela já encontramos menções a tal mito, embora não haja descrições de sua narrativa.
Somente na Baixa Idade Média (XI-XV) é que aparecem algumas crônicas comentando passagens da presença de Odisseu na antiga Lusitânia, embora que tecnicamente a Lusitânia nem existiria na época que o herói teria passado por ali, mas isso consistia numa construção mítica da Lusitânia, como forma de endossar eles como sendo os ancestrais do povo português, algo que o próprio Camões reafirma em seu poema-mor.
Todavia, é somente no século XVII em diante que surgem os grandes poemas que recontam a história de como Odisseu chegou a antiga Portugal, fundou Olisipo e até outras localidades. Cada um desses poemas incluem ou removem personagens, alteram personagens citados na Odisseia, dando novas versões para essa história. E por fim, resta ainda a falta de informações de quando realmente Lisboa teria sido fundada.
Referências bibliográficas:
CAPELLA, Martiano. De nuptiis, philologiae, et Mercurii, et de septem artibus liberalibus libri novem. Frankfurt, Moenum Varremtrep, 1836.
FONSECA, Rui Carlos. Da queda de Troia à fundação de Lisboa ou de como Gabriel Pereira de Castro espera "cantar de Ulisses, imitando a Homero". In: MORÃO, Paulo; PIMENTEL, Cristina (coords.). Matrizes Clássicas da Literatura Portuguesa: uma (re)visão da literatura portuguesa das origens à contemporaneidade. Lisboa, Campo de Comunicação, 2015.
GRIMAL, Pierre. A civilização romana. Lisboa, Ed. 70, 1988.
GUERRA, Amílcar; FABIÃO, Carlos. Viriato: genealogia de um mito. Penélope, n. 2, 1992, p. 9-23.
ISIDORE of Seville. The
Etymologies. Translated, introduction and notes by Stephen A. Barney [et.
al]. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
MORAIS, Alexandre J. de Melo. Os Portugueses Perante o Mundo. 2013. Versão online: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/portuguesesmundo.pdf.
PUGA, Rogério Miguel. A odisseia de um mito: diálogos em torno da fundação de Lisboa por Ulisses nas literaturas anglófonas. Ágora, n. 13, 2011, p. 145-175.
SOLINO, Caius Julius. Polyhistor. Edição bilíngue em latim e francês. Paris, C. L. F. Panckoucke, 1847.
LINKS: