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Leandro Vilar

segunda-feira, 8 de junho de 2020

As cidades portuguesas de além-mar

Durante a Era das Grandes Navegações, Portugal fundou cidades na América do Sul, África e Ásia. Algumas dessas cidades se tornaram bem famosas e hoje são cidades grandes e prósperas. No presente texto conheceremos algumas cidades portuguesas fundadas em outras terras, no caso, sublinha-se que optei em dividir as seções sobre Brasil e Índia, devido a quantidade de cidades portuguesas ali estabelecidas, embora não tenha abordada todas, e apenas citei algumas. 

Cidades no Brasil

Das colônias portuguesas o Brasil é a que possui a maior quantidade de cidades fundadas, até porque os povos indígenas que habitavam aquelas terras, não viviam em cidades, mas em aldeias. Logo, diferente de outros lugares na África e Ásia, onde os portugueses conquistaram vilas e cidades, no caso do Brasil, eles tiveram que iniciar cidades a partir do nada, em vários casos. E como a lista é longa, foquei em algumas mais significativas. 

Embora a exploração do Brasil tenha se iniciado em 1500, somente na década de 1530 é que as primeiras vilas e fazendas começaram a serem feitas. Antes disso havia feitorias (armazéns) e acampamentos temporários. A primeira vila a ser fundada no Brasil foi a Vila de São Vicente na ilha homônima, hoje situada no estado de São Paulo. Sua fundação deveu-se a Martim Afonso de Sousa, seu primeiro capitão donatário. Ali também se plantou o primeiro canavial e ergueu-se o primeiro engenho. Dois anos depois foi a vez da fundação da Vila de Olinda e Vila de Igarassu, na Capitania de Pernambuco, por Duarte Coelho. Posteriormente em 1535 tivemos a fundação de Vila Velha na Capitania do Espírito Santo e da Vila de Santos na Capitania de São Vicente, e em 1537 a comunidade pesqueira de Olinda separou-se e virou Recife. E assim na década de 1530 e 1540 seguiu-se a fundação de algumas vilas em cada uma das capitanias hereditárias. 

Todavia, somente em 1549 é que foi fundada a primeira cidade do Brasil, que foi a cidade de Salvador na Bahia. No caso, o que torna Salvador importante não foi o título de cidade, mas a condição de ser a capital da colônia do Brasil, algo que inexistia até então. A construção de Salvador foi incumbida a Tomé de Sousa, nomeado para ser o primeiro governador-geral do Brasil.  

"Além de Tomé de Sousa, vieram também uma outra grande quantidade de pessoas, desde prisioneiros, soldados, jesuítas, trabalhadores, etc. Mas também posso citar, Pero Borges, primeiro ouvidor-geral do novo governo; o mestre de obras, Luís Dias, responsável pela construção de Salvador e Gonçalo Pereira, como tesoureiro das rendas. No entanto, não vou me abster a contar como se transcorrera o governo de Tomé de Sousa. Este governou de 1549-1553, quando acabou o seu mandato. Então retornou para Portugal, e foi sucedido por Duarte da Costa". (VILAR, 2010). 

"Em 8 de setembro de 1553, o lugar-tenente Antonio de Oliveira e Brás Cubas, ordenados por Martim Afonso de Sousa, conseguiram com sua entrada, subir a Serra do Mar e alcançaram o planalto de Piratininga, fundando a Vila de Santo André da Borda do Campo. A vila fora fundada a partir da localização do povoado que João Ramalho havia erigido anos antes. Com a fundação da vila, Antonio de Oliveira, mudou-se para lá com sua esposa D. Genebra Leitão e o restante da família, além de levarem consigo, outras famílias vindas das vilas de São Vicente e Santos. . E no ano seguinte os jesuítas padre Manuel da Nóbrega e o irmão José de Anchieta, junto com outros jesuítas, bandeirantes e o apoio do cacique Tibiriça, fundaram o Colégio de São Paulo do Campo do Piratininga a 25 de janeiro de 1554". (VILAR, 2013). 

"'Como se sabe, o núcleo inicial da cidade de São Paulo foi o Colégio fundado pelo jesuítas, em 1554, uma paupérrima e estreita casinha, tendo 14 passos de comprimento e 10 de largura, feita de barro e coberta de palha...', no dizer de Manuel da Nóbrega". (DAVIDOFF, 1984, p. 16).

Outra cidade importante fundada, foi São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada em 1 de março de 1565 por Estácio de Sá, como forma de consolidar a ocupação da Baía de Guanabara, abandonada desde 1502, data de sua descoberta. Falta de interesse dos portugueses em ocupar aquelas terras permitiu incursões francesas por vários anos e até o estabelecimento de uma colônia francesa, chamada França Antártica, o que levou os portugueses a entrarem em guerra com os franceses para expulsá-los de seus domínios. 

"A expedição desembarcou no istmo situado entre o Pão de Açúcar e o Morro da Cara de Cão, começando logo a construir uma trincheira de defesa, as primeiras casas, abrindo um poço ou cacimba, levantando as paredes da primeira igreja, consagrada a São Sebastião e em que oficiava o Padre Gonçalo de Oliveira que, com o Irmão José de Anchieta, por ordem de Nóbrega, acompanhara o Fundador. Ali nasceu a cidade". (COARACY, 1988, p. 313).

Dois anos depois, Estácio de Sá trocou a cidade de localização, transferindo-a do istmo do Pão de Açúcar para mais ao oeste, onde hoje é o centro histórico do Rio de Janeiro, aos pés do Morro do Castelo, nome devido ao forte ali erguido para proteger a cidade. Depois disso a colonização estendeu-se para a ilha do Governador, onde Estácio de Sá recebeu terras para iniciar fazendas e canaviais. Posteriormente o Rio de Janeiro tornou-se a segunda capital do Brasil, sendo a capital sul da colônia, até que no século XVIII, sucedeu Salvador como capital oficial. (VILAR, 2015). 

Após a fundação do Rio de Janeiro, outras cidades e vilas foram sendo fundadas nas décadas seguintes, mas como a lista é grande, optamos em não abordá-las aqui neste texto. 


Cidades na Índia

Os portugueses chegaram à Índia por via marítima, no ano de 1498 na expedição de Vasco da Gama. Nos séculos seguintes sua presença em algumas áreas do subcontinente foi recorrente, resultando na fundação de algumas cidades ou na conquista de outras, as quais formaram o Estado Português da Índia, como era chamado sua colônia. Os portugueses ao longo de duzentos anos se apossaram de várias cidades como se pode ver no mapa abaixo. 

As principais cidades indianas sob controle dos portugueses. Não necessariamente eles as tenham fundado, mas passaram a controlá-las, e expandi-las. 

Apesar da presença portuguesa na Índia remontar o final do século XV, somente anos depois é que os intuitos de conquista de territórios tiveram início. A primeira conquista significativa, e provavelmente a mais importante, foi a cidade de Goa, que na época fazia parte do Sultanato de Bahmani (1347-1518). Como a cidade tinha uma excelente localização e um porto largo e seguro, os portugueses cobiçaram aquele ponto estratégico, iniciando guerra em 1510 e obtendo vitória no ano seguinte. Dessa forma Goa tornou-se uma cidade portuguesa, não no sentido de ter sido fundada, mas colonizada. Inclusive a cidade esteve sob domínio de Portugal até o século XX. 

Com a conquista de Goa, Portugal nas décadas seguintes foi se apossando dos territórios vizinhos para criar o Estado de Goa. No ano de 1534 após algumas batalhas, a cidade de Baçaim foi conquistada, tornando-se posteriormente uma cidade fortificada aos moldes europeus. Nesse ponto, o caso de Baçaim é similar ao de Goa, pois ambas cidades já existiam, apesar de pequenas, cabendo aos portugueses ampliar seus territórios e construir defesas. (SANTOS, 2015, p. 552). 
A cidade fortificada e Baçaim, segundo o Livro das plantas de todas as fortalezas (1635). 

Com a conquista de Baçaim, Portugal abriu as portas para o norte de Goa. Já em 1535, a cidade de Diu foi conquistada, apesar que desde 1509 os portugueses cobiçassem aquela localidade devido a sua posição estratégica próxima ao Golfo Pérsico. Em 1543 foram fundadas as cidades de Vasco da Gama e Mapuçá, que ainda existem, embora sejam cidades pequenas. Na década de 1550 as regiões de Damão e Diu, que estavam sob domínio islâmico, também foram conquistadas.  (SANTOS, 2015, p. 552). 

No século XIX, os portugueses transformaram a vila de Taleigão, na nova capital de sua colônia. A vila já fazia parte dos domínios lusos a muitas décadas, mas somente chamou atenção na segunda metade do século XVIII, quando o vice-rei da Índia, Manuel de Saldanha de Albuquerque e Castro, para lá se mudou em 1759. Com a mudança do vice-rei, a vila foi renomeada para Pangim, outro nome nativo. Sob seu governo, reformas e ampliações foram feitas para conceder a Pangim uma aparência mais portuguesa. Em 1843 Pangim passou a ser chamada de Nova Goa, tornando-se a capital oficial da colônia. (ROSSA, 1997). 

Ceuta (1415), Marrocos

Ceuta era uma pequena cidade ou praça-forte, como também era referida, encrustada em uma pequena península no Marrocos, entretanto era um local estratégico já que ficava bem próxima do Estreito de Gibraltar, rota de passagem entre o Atlântico e o Mediterrâneo, e um dos pontos de partida para a Ibéria. Atualmente, Ceuta pertence a Espanha. Não obstante, ao longo da história, a região de Ceuta foi habitada por vários povos, mas no século XV estava sob o domínio dos mouros do Marrocos. Portugal já cogitava algum tempo tomar a cidade, já que era comum partirem de lá expedições para atacar os domínios portugueses no Algarves e abastecer as tropas mouras em Granada e Córdova na Hispânia. Além disso, havia outros motivos: como a questão econômica, onde Ceuta era um mercado no qual chegavam mercadorias comercializadas pelo Saara, Sudão e algumas vindas do Egito e de mais longe. Não obstante, na região também havia muitas terras cultiváveis, algo desejado pelos portugueses devido a limitação de seu território; somando-se a isso havia também a questão religiosa, já que para o ataque à Ceuta ser realizado, o rei D. João I pediu autorização ao papa para reconhecer sua iniciativa como uma "guerra justa". E tal fato ocorreu em 20 de março de 1411, onde o antipapa João XXIII assinou a bula Eximie deucionis, autorizando a cruzada contra Ceuta. (VILAR, 2012). 

A vitória portuguesa somente ocorreu anos depois, em 25 de agosto de 1415, quando os portugueses liderados pelos príncipes Henrique, Fernando e Pedro, conseguiram derrotar os mouros de Ceuta e conquistaram a cidade. Dando início a expansão portuguesa pelo Magreb ou Berberia, como o Marrocos era conhecido naquele tempo. 

"O feito ganhou auréola na história europeia, ficando aquela cidade como o símbolo do poderio cristão implantado em Marrocos. Como 'Jornada de África' ficaria também conhecido o empreendimento de D. João I, que representava o início de Portugal marroquino de há muito desejado pela coroa de Avis e que para muitos historiadores representa a abertura dos tempos modernos". (SERRÃO, 1994, p. 65).

Ceuta a muito custo foi mantida sob domínio português por mais de duzentos anos, permitindo que Portugal conquistasse outras cidades no Marrocos como Tânger (1471) e Mazagão (1486). Todavia, a pretensão de colonizar o Marrocos e evangelizá-lo, fracassaram. 


Funchal (1424), Ilha da Madeira

O arquipélago da Madeira foi oficialmente descoberto em 1418, onde os navegadores João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira descobriram a Ilha de Porto Santo. No ano seguinte Zarco e Bartolomeu Perestelo descobriram a ilha da Madeira, a maior do arquipélago. Anos depois iniciou-se a colonização da Madeira, fundando-se um povoado que deu origem ao Funchal, o qual tornou-se o primeiro núcleo urbano do arquipélago. (SERRÃO, 1994, p. 71). 

Nas décadas de 1440 e 1450 o rei D. João I dividiu o arquipélago em capitanias donatárias, criando as capitanias Machico (1440), Porto Santo (1446) e Funchal (1450). Os descobridores daquelas ilhas, Zarco, Teixeira e Perestelo se tornaram capitães donatários. No caso do Funchal, em 1451 ou 1452 ele recebeu título de vila, mas somente em 1508 foi reconhecido como uma cidade. (SERRÃO, 1994, p. 71). 

Ponta Delgada (1449), Açores

A descoberta do arquipélago dos Açores ainda é envolta em controvérsia quanto a data da qual a primeira ilha teria sido realmente descoberta. Normalmente sugere-se que o arquipélago teria sido descoberto entre 1425 e 1427, pois em 1433 já consta em relatórios, a presença de colonos em algumas das ilhas.Ainda assim, as últimas duas ilhas do arquipélago, Flores e Corvo, somente foram descobertas em 1450 e 1452. A povoação dos Açores é envolta em lacunas, pois os documentos da época em geral não citam nomes dos povoados, ou quantas pessoas estariam envolvidas, no máximo citam algum capitão ou navegador que descobriu as ilhas ou ajudou na povoação. Diante disso é difícil definir qual teria sido a primeira vila desse arquipélago. (VILAR, 2012). 

Todavia, a atual capital que fica situada na Ilha de São Miguel, teria sido fundada por volta de 1449, tornando-se um século depois reconhecida como cidade e possuindo o porto mais importante do arquipélago. Fato esse que atualmente Ponta Delgada é capital dos Açores. Além disso, a fundação de Ponta Delgada também acompanhou a chegada de colonos flamengos (oriundos de Flandres, hoje na Bélgica) ao arquipélago, os quais vieram em considerável leva. (SERRÃO, 1994, p. 73-74). 

"Os Açores serviram de terreno experimental para a cultura de cereais, o que permitiu um maior abastecimento da Metrópole e das praças marroquinas, que se viam om frequência desprovidas de trigo, cevada e aveia. O clima úmido das ilhas também permitiu que nelas se incentivasse a criação de gado vacum e ovícula, o que juntamente com o pescado favorecia o sustento dos habitantes. Não resultaram as tentativas para fomentar a cultura sacarina nos Açores, pois a produção obtida em várias ilhas foi sempre diminuta. A urzela e o pastel, colhidos em São Jorge e São Miguel, representaram um benefício para a economia do arquipélago, por serem plantas tintureiras de excelente qualidade". (SERRÃO, 1994, p. 76). 


Ribeira Grande (1462), Cabo Verde

O arquipélago do Cabo Verde foi o quarto arquipélago a ser colonizado pelos portugueses no Atlântico. Embora existam controvérsias quando as primeiras ilhas foram documentadas por exploradores portugueses e até exploradores de origem espanhola, genovesa e veneziana, todavia, entre 1460 e 1462, todas as ilhas que compõem esse arquipélago já haviam sido oficialmente registradas. O clima quente das ilhas era propício para o cultivo de várias plantas tropicais como a cana de açúcar, laranjas, limões, melões, sorgo etc. (VILAR, 2012). 

A primeira ilha a ser colonizada foi a ilha de Santiago, onde fundou-se a povoação de Ribeira Grande de Santiago, pelo navegador Antônio Noli, o qual era de origem genovesa, mas estava a serviço dos portugueses. Noli ficou com a porção sul da ilha, enquanto Diogo Gomes com a outra metade. Embora Noli não fosse português, ele trouxe colonos do sul de Portugal para construir uma vila ali, iniciar as plantações e currais. Posteriormente as outras ilhas do arquipélago foram gradativamente sendo ocupadas, e divididas no sistema de capitanias donatárias, como já era aplicado na Madeira e nos Açores. O uso de mão-de-obra escravizada para o trabalho nos canaviais foi sendo bastante desenvolvido e aperfeiçoado em Cabo Verde, ainda no século XV. 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário em Ribeira Grande, atual Cidade Velha. Foi fundada em 1495, sendo a mais antiga igreja em Cabo Verde, em funcionamento. 

Ribeira Grande foi a principal cidade de Cabo Verde e sua capital até 1769, quando perdeu o status de capital, o qual foi transferido para a cidade de Praia, que é a atual capital do país. Com essa mudança, Ribeira Grande passou a ser chamada de Cidade Velha

São Jorge da Mina (1482), Gana

Na onda dos "descobrimentos portugueses", por volta de 1471, os navegadores João de Santarém e Pêro Escobar viajaram para além da Costa das Malaguetas (atual litoral de Serra Leoa), chegando a uma região onde encontraram muitos artigos de ouro. Posteriormente ficaram sabendo que no interior havia minas desse precioso metal, com isso, os portugueses começaram a se referir aquela região como Costo da Mina ou Costa do Ouro. Apesar da presença desse nobre metal, o então rei Afonso V estava mais preocupado em assegurar suas posições no Marrocos, com isso não enviou nenhuma expedição para firmar melhor acordo com os nativos, apenas com seu sucessor, o rei D. João II isso aconteceu. 

Em 1481 o rei D. João II enviou uma grande expedição com centenas de homens, incluindo pedreiros e carpinteiros para construir uma fortaleza, uma povoação e feitoria na Costa da Mina, no intuito de assegurar aquelas terras para os domínios portugueses, pois naquele tempo os espanhóis também estava de olho naquelas terras. A frota liderada por Diogo de Azambuja chegou ainda em 1481, erguendo a Vila de Duas Partes, depois rebatizada para São Sebastião e depois agregada a Vila de São Jorge da Mina, nome advindo da Fortaleza de São Jorge da Mina, inaugurada em ainda em 1482. 

A Fortaleza de São Jorge da Mina, em Gana. Foto tirada por Rui Pires, em 2013. 

A fortaleza de São Jorge foi o início dominação portuguesa da Costa da Mina, que foi sendo expandida para a chamada Costa dos Escravos, e sendo também nomeada de Costa da Guiné (os portugueses faziam uso de vários nomes para as mesmas regiões devido a algumas particularidades). Portugal manteve controle sobre essa região até quase metade do século XVII, quando os holandeses lhe tomaram suas fortalezas e vilas. 

São Tomé (1485), São Tomé e Príncipe

"As ilhas de São Tomé e Príncipe formavam o quarto arquipélago que Portugal encontrou no roteiro atlântico. A sua distância da Metrópole não permitia estabelecer um plano imediato de colonização, devido à falta de mão-de-obra para desenvolver as suas potencialidades. A construção de São Jorge da Mina contribuiu para atrasar um projecto da coroa nesse sentido. Mas uma década passada sobre o descobrimento, já D. João II podia, em 14 de setembro de 1485, isentar os primeiros colonos de pagar tributo pelos bens que possuíam na Metrópole". (SERRÃO, 1994, p. 85).

Essas duas ilhas foram descobertas por Santarém e Escobar, os mesmos navegadores que descobriram a Costa da Mina. No caso, eles avistaram as ilhas entre 1471 e 1472. Todavia, somente mais de dez anos depois é que a colonização começou propriamente por volta de 1485, com a fundação da Vila de São Tomé, na ilha homônima. Na época a vila teve dificuldades de arranhar moradores, pois muitos colonos portugueses optavam em ir para a Madeira, Açores, Cabo Verde e a Costa da Mina, alguns poucos seguiam para aquelas duas ilhas. Com isso a coroa incentivou o envio de colonos, com suspensão de tributos, além de enviar degredados e alguns judeus também para lá. Com a falta de mão de obra, passou-se a usar escravos oriundos da Guiné e do Congo, para cultivar os canaviais que iam se espalhando pelas ilhas. (VILAR, 2012). 

As ilhas de São Tomé e Príncipe chegaram a serem ocupadas brevemente pelos espanhóis no final do século XVI, e no século seguinte pelos holandeses, os quais se apossaram dos canaviais e portos do tráfico negreiro. 

Ilha de Moçambique (1507), Moçambique

Os portugueses chegaram ao que hoje é Moçambique em 1498 na expedição de Vasco da Gama para às Índias. Todavia, somente anos depois é que tiveram interesse de fundar uma feitoria naquelas terras, principalmente após saberem dos comerciantes muçulmanos no litoral, que no interior havia minas de ouro, exploradas pelo Império Monomotapa. Assim, no ano de 1505 o navegador Pêro de Anaia (?-1506) comandou uma expedição de seis naus até a costa oriental africana, fixando-se em Sofala, onde fundou uma feitoria e as bases de um forte. Assegurado aquela posição, dois anos depois os portugueses investiram contra os mercadores sualís e árabes que tinham feitorias na Ilha de Moçambique e conquistaram aquela localidade. (VILAR, 2012). 

Ali fundaram a primitiva Torre de São Gabriel, para defesa do local. Sem muitas ameaças recorrentes, os portugueses passaram a assentar a Vila de Moçambique desenvolvendo-a nas décadas seguintes, além do fato que a ilha ao lado de Sofala eram os dois principais entrepostos mercantis dos portugueses na África Oriental, ponto de parada obrigatório para os navios que seguiam pelo Caminho das Índias, além de negociar com o Monomotapa, ouro, madeira, marfim, escravos e outras mercadorias. A medida que a vila foi se tornando mais próspera e importante, Portugal decidiu construir uma fortaleza para melhor protegê-la de vindouros ataques dos árabes e outros povos, e assim começou a ser construída a Fortaleza de São Sebastião de Moçambique. (SERRÃO, 1994). 

Vista aérea da Ilha de Moçambique

No século XVII essa pequena vila, foi alvo da investida dos franceses, holandeses e ingleses devido ao sua localização estratégica, mas retornou as mãos portuguesas. No século XVIII a vila de Moçambique tornou-se capital do Estado Português de Moçambique, voltando a prosperar e somente em 1818 recebeu o título de cidade. Atualmente ela não é mais a capital de Moçambique, apesar de conservar sua importância histórica para o país. 

Mascate (1507), Omã

A cidade de Mascate não foi fundada pelos portugueses, mas colonizada por esses por mais de um século. Atualmente a cidade é a capital de Omã. Tal cidade já era referida como um porto mercante, pelos antigos gregos e romanos, que diziam que ali comercializava-se incenso e outros artigos exóticos da Ásia. A posição da cidade na entrada do Golfo Pérsico, além de ser um local entre o norte da África e a Índia, interessava estrategicamente os portugueses, por isso em 1507 o governador da Índia Portuguesa, Afonso de Albuquerque declarou guerra para se conquistar a cidade. (LOPES; CORREIA, 2018, p. 69). 

Os fortes Almirani e Aljalili construídos pelos portugueses na década de 1580 para proteger a entrada do porto de Mascate. 

Os portugueses não tiveram problemas para conquistar aquela cidade e expulsar seu líder muçulmano. Embora tenha se tornado um porto comercial significativo, naquela época Mascate não era um dos principais portos da região. Assim, Portugal passou a controlá-la pelas décadas seguintes, apesar que teve problemas com os turcos que se interessaram pelo crescimento econômico da cidade, graças ao comércio português com a Índia e a costa oriental africana. Com isso, em duas ocasiões os turcos invadiram Mascate e a ocuparam por alguns meses. Mas os portugueses a retomaram, somente perdendo seu controle depois de 1650, quando os turcos a conquistaram de vez. (LOPES; CORREIA, 2018, p. 69). 

Malaca (1511), Malásia

A cidade de Malaca não foi fundada pelos portugueses, mas foi colonizada por eles por mais de um século. A partir do estabelecimento de negócios na costa ocidental indiana, os portugueses seguiram viagem pelo Índico, chegando ao que hoje é a Malásia em 1509 com a expedição de Diogo Lopes de Siqueira. Na época que os portugueses ali chegaram, a região era governada por um sultão no denominado Sultanato de Malaca (1400-1511), o qual dominava o atual território malaio e algumas terras na ilha de Sumatra. Tratava-se de uma região estratégica a qual interessou os portugueses. (VILAR, 2012). 

Malaca possuía uma produção de especiarias, arroz, e abundava em madeiras que interessavam os portugueses para a tinturaria e medicina. Além disso, aquele reino recebia mercadorias vindas de outras ilhas do oriente e da China. Sem contar que navios que passavam pelo Estreito de Malaca por um tempo tinham que pagar pedágio para cruzar aquelas águas. Portugal interessada em controlar aqueles portos decidiu investir em campanhas militares. Assim, 1511 o então governador da Índia Portuguesa, Afonso de Albuquerque partiu com um exército de 1.200 homens para se conquistar o sultanato de Malaca. Na ocasião o alvo foi a capital Malaca. O sultão Mahmud Xá temendo o poderio bélico das armas de fogo e canhões portugueses abandonou a capital e refugiou-se no interior, passando os anos seguintes tentando de forma infrutífera, reaver seu reino. (SERRÃO, 1994, p. 267). 

Fábrica da cidade de Malaca em 1604, por Manuel Godinho de Erédia. Na imagem nota-se que a cidade era fortificada e ver seus baluartes com canhões. 

Com a expulsão do sultão da capital e a execução de seus apoiadores e exército, Afonso de Albuquerque ordenou a ocupação da cidade e a construção de uma fortificação, que veio a ser a Fortaleza de Malaca, da qual hoje somente resta o portão chamado A Formosa. Nas décadas seguintes a cidade de Malaca prosperou e tornou-se um centro mercante e de suporte importante para as expedições comerciais, militares e religiosas dos portugueses no o Extremo Oriente, tornando-se ponto de parada praticamente obrigatório para quem adentrava a Indonésia, seguia para Tailândia, China, Japão e Filipinas. Dessa forma a cidade ficou sob domínio português por mais de um século até ser perdida para os holandeses em 1641. (SERRÃO, 1994, p. 268). 

Ormuz (1515), Irã

Ormuz era uma antiga cidade persa (atual Irã), situada na ilha de Gerum, no Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico. Sendo local importante para o escoamento de mercadorias vindas de Baçorá e Alepo, as quais de lá eram carregadas para serem levadas à Índia, Sri Lanka, sul da península arábica e para África. Os portugueses tendo conhecimento desse importante porto, decidiram tentar uma investida. O primeiro ataque ocorreu em 1507 por ordem de D. Afonso de Albuquerque, então governador da Índia Portuguesa. As fracas defesas persas foram derrotadas e um forte começou a ser erguido, mas em 1508 devido a um motim, sua construção foi abandonada e a posição perdida. (COUTO; LOUREIRO, 2007). 

A cidade de Ormuz segundo o Civitates Orbis Terrarum, 1572.

Somente em 1515 uma nova expedição regressou a ilha e a reconquistou, concluindo as obras do Forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz, dando início a colonização portuguesa da ilha, que contava com uma pequena cidade na época, descrita como bela e rica em especiarias e mercadorias exóticas vindas da Pérsia, Arábias e Índia. A cidade de Ormuz ficou sob domínio português até 1622 quando foi reconquistada pelos persas. (COUTO; LOUREIRO, 2007). 

Colombo (1517), Sri Lanka

Atualmente a cidade de Colombo é a maior cidade do Sri Lanka, além de ser sua capital. Mas o que pouca gente sabe, é que essa cidade foi uma colônia portuguesa. A ilha do Sri Lanka possui o peculiar formato de lágrima e fica situada ao sul da Índia. Essa ilha já era conhecida dos europeus desde os tempos antigos, principalmente pelos gregos e romanos, sendo chamada pelo nome de Taprobana. Por sua vez, os persas e árabes já mantinham relações mercantes com a ilha. Os portugueses quando aportaram no Sri Lanka por volta de 1505, sob comando de D. Lourenço de Almeida, a conheciam pelo nome de Ceilão, o qual era baseado no nome Sihala que é traduzido como "terra dos leões", sendo uma questão simbólica, já que não havia leões nativos na ilha. (VILAR, 2012).

A medida que os portugueses seguiam visitando a Índia, eventualmente alguns navios se deslocavam de lá até o Ceilão. Os portugueses vendo que na época a ilha era dividida em pequenos reinos, tiraram proveito dessas disputas políticas e militares, fornecendo apoio a um dos monarcas que se mostrou amistoso a presença lusa ali, sendo o rei Parakramabahu VIII (r. 1484-1508), que governava o Reino de Cota. No entanto, os árabes se mostraram concorrentes ao comércio português, gerando conflito entre ambos. Portugal para assegurar sua presença na ilha, conseguiu através de acordos com Parakramabahu, que terras fossem cedidas para a construção de uma fortificação, que veio a ser a Fortaleza de Santa Bárbara, ou mais conhecida como Fortaleza de Colombo

A fortaleza de Colombo, no Ceilão, em desenho de 1524, feito por Gaspar Correia. 

No caso, sublinha-se que inicialmente havia apenas a fortaleza de Colombo, que recebeu esse nome não em referência ao navegante Cristóvão Colombo, mas sim de um aportuguesamento de um nome cingalês, a língua falada na ilha, embora não haja um consenso qual seria exatamente esse nome, havendo algumas hipóteses para isso. A fortaleza foi erguida ainda em 1517 e resistiu aos ataques dos árabes e outros cingaleses até 1524, quando foi parcialmente destruída, o que implicou em quase total abandono dos portugueses. Somente décadas depois, em 1554 ela foi reconstruída e dessa vez uma cidade foi erguida junta, já que antes havia apenas um povoado surgido com a fortaleza. 

A cidade de Colombo perdurou por um século, de 1554 a 1656, nas mãos dos portugueses, resistindo aos ataques dos cingaleses e árabes, até ser parcialmente destruída pelos holandeses durante sua conquista, vindo a ser reconstruída depois. Com isso a Companhia Holandesa das Índias Orientais passou a controlar Colombo até 1796, quando a perdeu a cidade para a Companhia Inglesa das Índias Orientais

Macau (1554/1557), China

A península de Macau já era povoada pelos chineses muito tempo antes dos portugueses chegarem. Mas lá somente havia uma pequena aldeia de pescadores e agricultores. Os portugueses chegaram à China ainda em 1513, fazendo expedições ao império chinês para negociar mercadorias e conseguir montar feitorias naquelas terras. Isso chegou a se realizar, mas desentendimentos entre chineses e portugueses levaram a tais feitorias e acampamentos serem destruídos. Entre 1553 e 1554, um navio português atracou em Macau para fazer faxina (limpeza), secar algumas mercadorias e realizar reabastecimento. Não se sabe ao certo como ocorreu o início do assentamento português naquela península, mas por volta de 1557, uma comunidade de mercadores portugueses já estava fixada, passando a habitar a Cidade do Santo Nome de Deus de Macau. (VILAR, 2012). 

Nos anos seguintes uma pequena colônia foi ali estabelecida, vindo a se tornar uma vila e depois uma cidade. Em 1563 a Companhia de Jesus chegou à Macau, na presença dos padres Francisco Peres e Manuel Teixeira, e o irmão André Pinto, os quais foram os primeiros jesuítas a se estabelecerem ali. Nos anos seguintes Macau tornou-se um ponto de partida para missões pela província do Cantão na China, além de enviar missionários ao Japão e Filipinas. Macau se tornou tão importante que recebeu uma diocese em 1576, e era o local de suporte para missões portuguesas ao Japão e as Filipinas. Fato esse que os bispos do Japão impedidos de adentrarem o país, ficavam situados em Macau. (SEABRA, 2011, p. 418). 

Ruínas da Igreja de São Paulo, em Macau. 

Macau até o final do século XVI havia se tornado uma vila importante para questões comerciais e religiosas, possuindo seminários jesuítas e escolas para as crianças, tanto para os portugueses quanto para os chineses, alfabetizando os chineses na língua portuguesa. No século XVII a vila tornou-se uma cidade e passou as ser alvo de investidas dos holandeses e no XIX foi a vez dos ingleses tentarem controlá-la. (SEABRA, 2011, p. 419). 

Lifau (1556), Timor Leste

A história de Lifau é pouco documentada. A ilha do Timor foi a primeira vez relatada em documentos portugueses no ano de 1512, embora não se saiba quando exatamente os portugueses chegaram até essa ilha, que na época era povoada por povos que viviam em sociedade tribal. Por décadas Portugal não deu atenção a ilha, indo apenas alguns navios lá para negociar especiarias. Em 1556 um grupo de missionários dominicanos decidiu estabelecer uma missão na ilha e fundaram Lifau. (TAVARES, 2019, p. 16-17). 

A história dessa vila é pouco conhecida, vindo a se destacar apenas em 1702, quando foi declarada capital do Timor, sendo enviado o governador Antônio Guerreiro Coelho para assumir aquela nova colônia, principalmente devido aos problemas que os portugueses vinham tendo com os holandeses, os quais haviam ocupado a ilha vizinha de Java e tentavam expandir seus domínios para outras ilhas que hoje compreendem a Indonésia. Neste caso, os holandeses tiveram interesse no Timor devido as dimensões da ilha e terras férteis para se cultivar principalmente café, a principal planta que eles cultivavam em Java. Tal fato gerou um conflito político entre os dois países, que durou mais de um século. Apesar disso, Lifau perdeu importância em 1767, quando deixou de ser capital da colônia portuguesa do Timor, sendo trocada por Dili, atual capital do país. (TAVARES, 2019, p. 30). 

Nagasaki (1571), Japão

A cidade Nagasaki situada no sul do Japão é principalmente lembrada por ter sido ao lado de Hiroshima, bombardeada pelo uso de uma ogiva nuclear durante o final da II Guerra Mundial (1939-1945). Embora a cidade tenha conseguido se reconstruir e ser repovoada, a cidade séculos antes dessa abominável tragédia bélica, foi fundada pelos portugueses. 

Os primeiros portugueses a chegarem ao Japão foram Antônio da Mota, Francisco Zaimoto e Antônio Peixoto, que chegaram no ano de 1543, abordo de um navio chinês partido de Macau, para fazer negócios na ilha de Tanegashima. Os portugueses já sabiam da existência do Japão vários anos antes, mas nunca haviam enviado uma expedição para lá, somente depois desse primeiro contato informal foi que Portugal se interessou em negociar com os japoneses, e os jesuítas também se interessaram em evangelizar aquelas ilhas. Assim com base no comércio e na fé, Portugal passou as décadas seguintes visitando o Japão. (YAMASHIRO, 1964, p. 90). 

A evangelização do país sofreu muita resistência por parte dos samurais e do clero budista. Embora que a corte, na época situada em Quioto, estivesse longe de tais assuntos e poucos nobres se interessaram pela fé cristã. No entanto, muitos japoneses, desde camponeses até samurais, no sul do país demonstraram interesse pelo Cristianismo, mesmo que fosse tomando-o como uma escola budista ou para fins políticos e comerciais, para agradar os estrangeiros. 

Portugueses representados numa pintura do estilo nanban, entre 1593 e 1600. 

Em 1571 o dáimio Omura Sumitada, havia se convertido ao cristianismo e decidiu ajudar os jesuítas e mercadores portugueses. Sumitada que adotou o nome português de Dom Bartolomeu, doou algumas terras onde ficava uma aldeia de pescadores. Ali os jesuítas iniciaram a criação de uma missão que expandiu-se tornando-se uma vila e depois uma cidade. A maioria dos jesuítas no Japão, eram de origem portuguesa, mas havia jesuítas espanhóis e italianos também. Mas como Portugal naquele período dominava o comércio com os japoneses, eles tomaram a frente para ampliar Nagasaki com sendo uma colônia portuguesa no Japão. A cidade esteve sob controle dos jesuítas até 1586, quando dáimios anticristãos tomaram a cidade. (COSTA, 1993, p. 39). 

Todavia, Nagasaki continuou a crescer nas décadas seguintes, tornando-se uma cidade grande para os padrões japoneses. A cidade foi erguida seguindo o modelo urbanístico português, onde em geral concentrava-se no centro, a igreja da sé, a câmara ou prefeitura, uma prisão, um quartel, e em torno iam se construindo as casas e lojas. Várias casas de Nagasaki nas primeiras décadas eram baseadas em modelo português, depois que os portugueses perderam o controle administrativo da cidade, a arquitetura japonesa predominou. Atualmente praticamente nada restou da arquitetura portuguesa na cidade, diferente do que se ver em Macau. Mas embora Portugal tivesse perdido o controle de Nagasaki, o país continuou a frequentar seu porto e outras localidades do Japão até 1640. (COSTA, 1993, p. 40). 

Luanda (1576), Angola

Na década de 1480 os primeiros navios portugueses pelo que se conhece da história, avistaram a atual costa de Angola. No caso, é creditado a Diogo Cão a descoberta do Congo e de Angola entre 1482 e 1485. Naquela época a atual região angolana era dividida entre os Reinos de Ndonga e Matumba, e naquele momento Portugal não tinha interesse ainda naquele território, inclusive o interesse pelo Congo veio primeiro, o que manteve os portugueses mais ocupados com os congolenses. (VILAR, 2012).

A relação entre Portugal e os reinos de Ndonga e Matumba foi inconstante por décadas, o que dificultou os portugueses de estabelecerem feitorias e vilas no território daqueles reinos. Além disso, aquele território não chamou a atenção dos portugueses por muitos anos, os quais em geral iam comprar escravos para levar para suas plantações nas ilhas ou para o Brasil, apesar que a Costa dos Escravos fosse um dos seus principais fornecedores para o tráfico negreiro. Todavia, no final da década de 1550, algumas missões religiosas e diplomáticas foram enviadas para Ndonga, reino que se tornou dominante na época, mas tais expedições não surtiram efeito desejado. E ainda levou-se mais de vinte anos para acontecer. 

O navegador Paulo Dias de Novais que anteriormente havia tido problemas com a missão de 1557 e 1560, retornava mais de duas décadas depois, determinado a fundar uma povoação naquelas terras com o intuito mercantilista e evangelista. Novais levou consigo sete navios e mais de setecentos tripulantes, incluindo missionários, construtores e colonos. Eles aportaram na Ilha de Luanda em 1575, tendo inicialmente o plano de iniciar a colônia ali, mas como a localidade não era boa, decidiram ir para o continente, onde em 1576, Novais fundou a Vila de São Paulo de Loanda, em 25 de janeiro. (JACOB, 2011, p. 16).

Planta de 1665 da cidade de São Paulo de Loanda, em Angola. 

O novo local era mais seguro e favorável, pois tinha uma boa baía, fonte de água potável, morros em volta que asseguravam a defesa, inclusive fortificações e parte da vila foram erguidas nos morros, criando a parte alta e baixa da vila. Nas décadas seguintes Loanda foi crescendo consideravelmente, ainda mais quando tornou-se referência para o fornecimento de escravos e outros produtos locais, e ponto de partida para missões religiosas e políticas ao interior do continente. E com o tempo o reino de Ndonga foi subjugado ao domínio português. (JACOB, 2011, p. 17).

Colônia do Sacramento (1680), Uruguai

Situada ao sul do atual Uruguai, essa pequena cidade surgiu como forma de assegurar a presença portuguesa no Rio da Prata, território então dominado pela Espanha. O Uruguai ainda inexistia naquele tempo, sendo suas terras disputadas entre portugueses e espanhóis. A cidade de Colônia do Sacramento foi fundada em 1680 pelo capitão-mor do Rio de Janeiro, Manuel Lobo, para fins políticos e militar. Historicamente o Rio da Prata não era uma região rica, porém, era através dele que parte da produção de prata do Peru e da Bolívia era escoada para a Espanha, logo, dominar aquela posição geográfica possibilitaria na teoria, abordar as naus de prata espanholas. (POSSAMAI, 2010).

A vila de Colônia foi erguida junto a Fortaleza do Santíssimo Sacramento, mas após oito meses de existência, os espanhóis oriundos principalmente de Buenos Aires, atacaram a povoação e expulsaram os portugueses. Isso gerou um impasse político entre Portugal e Espanha, no que resultou numa trégua em 1681, onde a Espanha comprometeu-se em devolver Colônia, desde que Portugal não mantivesse objetivos militares na região. Atendendo isso, Portugal retomou o controle da cidade, mas perdendo-a novamente para a Espanha em 1705, recuperando-a em 1715, apesar que em 1735 novo conflito entre Colônia do Sacramento e Buenos Aires teve início, durando pouco tempo. Entre 1730 e 1750 a cidade prosperou, mas entrou em crise nos anos seguintes. Colônia trocou de donos mais algumas vezes e até chegou a pertencer ao Brasil temporariamente durante o reinado de D. Pedro I, até ser entregue aos uruguaios. (POSSAMAI, 2010). 

Lista em ordem cronológica de algumas cidades portuguesas fundadas ou conquistadas no além-mar:
  1. Ceuta (1415), Marrocos
  2. Funchal (1424), Ilha da Madeira
  3. Ponta Delgada (1449), Açores
  4. Ribeira Grande/Cidade Velha (1462), Cabo Verde
  5. São Jorge da Mina/Elmina (1482), Gana
  6. São Tomé (1485), São Tomé e Príncipe
  7. Mazagão (1486), Marrocos
  8. Ilha de Moçambique (1507), Moçambique
  9. Mascate (1507), Omã
  10. Goa (1511), Índia
  11. Malaca (1511), Malásia
  12. Ormuz (1515), Irã 
  13. Colombo (1517), Sri Lanka
  14. São Vicente (1532), Brasil
  15. Bachaim (1534), Índia
  16. Olinda (1534), Brasil
  17. Vilha Velha (1535), Brasil
  18. Santos (1535), Brasil
  19. Diu (1535), Índia
  20. Recife (1537), Brasil
  21. Vasco da Gama (1543), Índia
  22. Salvador (1549), Brasil
  23. Vila Nova do Espírito Santo/Vitória (1551), Brasil
  24. São Paulo de Piratininga (1554), Brasil
  25. Macau (1554 ou 1557), China
  26. Lifau (1556), Timor Leste
  27. São Sebastião do Rio de Janeiro (1565), Brasil
  28. Nagasaki (1571), Japão
  29. São Paulo de Loanda/Luanda (1576), Angola
  30. Nossa Senhora das Neves/João Pessoa (1585), Brasil
  31. Natal (1599), Brasil
  32. Belém do Pará (1616), Brasil
  33. Colônia do Sacramento (1680), Uruguai
  34. Manaus (1669), Brasil
  35. Nova Goa/Pangim (1834), Índia

NOTA 1: O famoso poeta Luís de Camões (1525-1580) chegou a lutar em uma das batalhas em Ceuta, onde ficou cego de um dos olhos. 
NOTA 2: A Costa da Mina atualmente engloba os litorais de Gana, Togo, Benin e Nigéria. Já a Costa dos Escravos englobava tais territórios também, exceto o de Gana. 
NOTA 3: Luís de Camões durante seu longo exílio na Ásia, viveu entre cerca de 1556 e 1557 em Macau. A suposta gruta que ele usava para escrever o Lusíadas (1572), hoje fica situada no Jardim Luís de Camões
NOTA 5: Os europeus ao chegarem ao Japão, foram chamados de nanban, que significa bárbaros do sul, pois eles vieram navegando pelo sul e seus costumes e forma de se vestir era considerados as vistas dos japoneses, como costumes bárbaros. 
NOTA 6: Portugal visitou várias terras nas quais não estabeleceu cidades ou vilas, mas no máximo fundou feitorias, algumas inclusive iniciadas por intuitos de particulares, dentre esses territórios estavam: Mauritânia, Serra Leoa, Congo, Tanzânia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Omã, Iêmen, Etiópia, Eritreia, Bangladesh, Myanmar, Tailândia, Filipinas, etc. 

Referências bibliográficas:
COARACY, Vivaldo. Memórias da Cidade do Rio de Janeiro. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 1988.  
COSTA, João Paulo Oliveira e. Portugal and the Japan: the Namban century. Lisboa, Portuguese State Mint, 1993. 
COUTO, Dejanirah; LOUREIRO, Rui. Ormuz, 1507 a 1622: conquista e perda. Lisboa, Tribuna da História, 2007. 
DAVIDOFF, Carlos Henrique. Bandeirantismo: verso e reverso. 2a edição, São Paulo, Brasiliense, 1984.
JACOB, Berta Maria Oliveira. A toponímia de Luanda: das memórias coloniais às pós-coloniais. Dissertação de Mestrado em Estudos de Patrimônio, Universidade Aberta de Lisboa, 2011. 
LOPES, Ana; CORREIA, Jorge. Mascate, cidade ou território: para uma interpretação da sua defesa ao tempo português. Revista de História da Arte, n. 13, 2018, p. 69-89. 
POSSAMAI, Paulo César. De núcleo de povoamento à praça de guerra: a Colônia do Sacramento de 1735 a 1777. Revista Topoi, v. 11, n. 21, jul-dez, 2010, p. 23-36.
ROSSA, Walter. Cidades indo-portuguesas. Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1997. 
SANTOS, Joaquim Rodrigues dos. O Melhor Patrimônio do Estado: Representações Não-Portuguesas das Cidades da Província do Norte do Estado da Índia (Séculos XVI-XIX). in: OLIVEIRA, Francisco Roque de (org.), Cartógrafos para Toda a Terra - Produção e Circulação do Saber Cartográfico Ibero-Americano: Agentes e Contextos, Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 2015, p. 551-559. 
SEABRA, Leonor Diaz de. Macau e os Jesuítas na China (séculos XVI e XVII). História Unisinos, vol. 15, n. 3, setembro-dezembro de 2011, p. 417-424. 
SERRÃO, Joaquim Veríssimo. Portugal e o Mundo: Nos século XII a XVI. Editorial Verbo, Lisboa/São Paulo, 1994.
TAVARES, José Augusto Vilas Boas. A governação de Timor no século XVIII: Lifau 1702-1769. Lisboa, Academia da Marinha, 2019. 
YAMASHIRO, José. Pequena história do Japão. 2a ed. São Paulo, Editora Herder, 1964. 

Referências da internet:
VILAR, Leandro. 450 anos do Rio de Janeiro (2015). Disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2015/03/450-anos-da-cidade-do-rio-de-janeiro.html.
VILAR, Leandro. Os Bandeirantes (2013). Disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/search?q=bandeirantes.
VILAR, Leandro. Portugal e a Era dos Descobrimentos (2012). Disponível em: http://seguindopassoshistoria.blogspot.com/2012/08/portugal-e-era-dos-descobrimentos.html


2 comentários:

Lorenzo disse...

Parabéns pelas exaustivas explicações!

Leandro Vilar disse...

Obrigado, meu amigo.