Pesquisar neste blog

Comunicado

Comunico a todos que tiverem interesse de compartilhar meus artigos, textos, ensaios, monografias, etc., por favor, coloquem as devidas referências e a fonte de origem do material usado. Caso contrário, você estará cometendo plágio ou uso não autorizado de produção científica, o que consiste em crime de acordo com a Lei 9.610/98.

Desde já deixo esse alerta, pois embora o meu blog seja de acesso livre e gratuito, o material aqui postado pode ser compartilhado, copiado, impresso, etc., mas desde que seja devidamente dentro da lei.

Atenciosamente
Leandro Vilar

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

As imperatrizes do Brasil

O Império do Brasil (1822-1889) possuiu ao todo dois imperadores, mas três imperatrizes, pois D. Pedro I casou-se duas vezes. O presente texto procurou contar um pouco da história dessas três mulheres que atuaram como soberanas do país. Iniciando com Leopoldina que teve um papel importante na Independência do Brasil, passando por Amélia que é pouco lembrada e praticamente desconhecida, e terminando com Teresa Cristina, que foi a imperatriz mais longeva, amada como matrona, mas ainda pouco estudada. As imperatrizes não eram brasileiras, Leopoldina era austríaca, enquanto Amélia e Teresa eram italianas.

D. Maria Leopoldina: a mãe do império

Nascida Carolina Josefa Leopoldina de Habsburgo-Lorena, em 22 de janeiro de 1797, em Viena, capital austríaca, Leopoldina era a quinta filha do imperador Francisco II do Sacro Império (1768-1835) e da imperatriz Maria Teresa (1772-1807). O casal teve doze filhos. Ela como os irmãos, receberam uma boa educação para época, recordando que nem sempre as princesas tinham direito aos estudos mais avançados, tendo que se contentar em serem alfabetizadas, aprender a costurar e tocar algum instrumento musical. Mas no caso de Francisco e Maria Teresa, eles prezavam por uma boa educação aos filhos. A imperatriz mandou contratar vários professores e preceptores, um para cada matéria para lecionar seus filhos em história, geografia, literatura, música, dança, desenho, pintura, matemática e línguas. Os príncipes recebiam algumas lições diferentes, relativas a política e diplomacia. Além disso, ela e as irmãs foram educadas na etiqueta de corte, no catolicismo e na obediência aos pais, mais velhos e ao futuro marido. Leopoldina também aprendeu outros idiomas como o alemão, francês, italiano, inglês, grego e posteriormente o português por conta de seu futuro marido. (CASSOTI, 2015). 

"A arquiduquesa Leopoldina herdou também as características físicas tradicionais dos Habsburgo do ramo austríaco. Era loura, de pele muito branca, e tinha os olhos azuis, de uma beleza que jamais perderia. Durante a infância se parecia muito com a arquiduquesa Maria Clementina, que nasceu pouco depois de ela completar um ano, e que em família seria chamada simplesmente de Maria". (CASSOTI, 2015). 

Leopoldina em retrato de 1815

Na adolescência Leopoldina demonstrou interesse pela pintura, música, teatro e dança. Porém, ela gostava de jardinagem, criar animais, sobretudo cachorros, além de gostar de estudar botânica e mineralogia. Quando podia, a arquiduquesa ia a teatros, jardins botânicos, museus e fábricas. (REZZUTTI, 2017). 

Em 1810, uma das irmãs mais velhas de Leopoldina, a arquiduquesa Maria Luísa (1791-1847) foi dada em casamento a Napoleão Bonaparte (1769-1821). Na época, Luísa disse que não estava contente com isso, pois ainda naquele tempo, as princesas e até os príncipes não escolhiam seus cônjuges, os casamentos eram realizados pelos seus pais por interesses políticos. Logo, Francisco I que teve problemas com Napoleão no passado, o que o levou a perder o trono alemão, decidiu firmar nova aliança com o monarca mais poderoso da Europa, aceitando que uma de suas filhas fosse a nova esposa dele. O casamento foi realizado com grande pompa. (REZZUTTI, 2017). 

As outras irmãs de Leopoldina nos anos seguintes foram se casando, até que em 1816 uma oferta de casamento para ela foi feita. Para surpresa da jovem princesa, o pretendente era um homem chamado Pedro, o qual era um príncipe português, mas que vivia no distante Brasil. Naquele tempo desde 1808 a corte portuguesa havia trocado Lisboa pelo Rio de Janeiro por conta das guerras napoleônicas, onde D. João VI preferiu abandonar Portugal e refugiar-se em sua maior colônia, ao invés de se submeter as ordens de Napoleão. D. Pedro chegou ao Brasil na época com seus dez anos, tendo passado a adolescência e grande parte da vida ali. 

D. João VI que havia se tornando rei de Portugal, Brasil e Algarves, tinha pretensões de formar alianças políticas com famílias poderosas. Desde 1801 ele cogitava casar seus filhos com princesas alemãs, francesas ou russas. O embaixador da corte, Pedro José Joaquim Vito Meneses Coutinho, o sexto Marquês de Marialva, atuou por vários anos a encargo de distintos assuntos, entre os quais procurar esposas para os príncipes portugueses. Devido aos desentendimentos entre Portugal e França, e a expansão do império napoleônico sobre a Alemanha, Itália e Espanha, e a briga com os ingleses e russos, as pretendentes de Pedro e seu irmão Miguel, foram descartadas, o mesmo valeu para as princesas portuguesas, que também vieram a perder futuros pretendentes. Todavia, em 1816, a Áustria se mostrava um país em potencial para prover o príncipe herdeiro do trono português com uma esposa. (REZZUTTI, 2017). 

Marialva em missão diplomática na Áustria apresentou a carta do rei D. João VI solicitando uma das filhas do imperador Francisco I, em casamento. Após algumas semanas de tramites, foi acordado que sua quarta filha, Leopoldina, que na época tinha 19 anos, seria dada em casamento ao príncipe herdeiro, Pedro de Alcântara. Nesse mesmo ano, a arquiduquesa começou a estudar português e a ler sobre o Brasil. Em algumas cartas escritas as irmãs, ela mostrava uma opinião romântica sobre o Brasil, com base no que pouco leu, ouviu e viu em algumas gravuras e pinturas. Nessas mensagens, ela se mostrava otimista pelo casamento, embora algumas de suas primas disseram que seu noivo era feio e corcunda. (REZZUTTI, 2017). O casamento de Leopoldina e Pedro foi marcado para 1817.

“Em 17 de fevereiro de 1817 ocorreu a “entrada triunfal” do marquês de Marialva em Viena, primeira etapa dos esponsais de Leopoldina. E era um paradoxo que a principal interessada vivesse “uma das horas mais angustiantes”, segundo confiou a Luísa. “Tu não podes imaginar quantas ideias e sentimentos passam por minha cabeça, dividida entre a alegria por minha tão feliz aliança e a dor da separação de tudo que me é querido.” Porém, depois de o marquês de Marialva pedir formalmente sua mão para dom Pedro, ela respirou aliviada. Mas, de tão nervosa que estava, “fui obrigada a ler metade de meu discurso, apesar de sabê-lo magnificamente de cor”. Os cortesãos vienenses, em grande parte pertencentes a antigas e ricas linhagens da nobreza austríaca, boêmia, húngara e italiana, ficaram impressionados com os presentes que os delegados portugueses entregaram a Leopoldina e a seus parentes em nome dos Bragança, na maioria valiosas pedras preciosas engastadas que as arquiduquesas e suas irmãs ostentariam durante os dias seguintes ao comparecer às representações teatrais. A camareira-mor da arquiduquesa chegou a comentar, segundo Marialva, “que jamais se havia visto ali, ou imaginado, tamanha riqueza”. Entre os vários presentes enviados pela família de seu noivo que a arquiduquesa recebeu havia um retrato de dom Pedro “em forma de medalhão cercado de raros brilhantes”. No momento de recebê-lo, ela comentou com Marialva que as feições do noivo coincidiam “com a ideia que ela fazia das virtudes morais possuídas pelo augusto original delas”. Foi uma ostentação de lisonja diplomática, mas com uma base verdadeira, como se veria mais tarde”. (CASSOTTI, 2015). 

No dia 11 de maio, Leopoldina assinou o acordo de casamento, o qual era composto por doze cláusulas que inclusive determinavam que a arquiduquesa renunciava ser herdeira ao trono austríaco, assim como, renunciava a qualquer fortuna ou herança. Ela também trocava seu sobrenome, passando a adotar o da família do marido. O marquês de Marialva e outras cinquenta testemunhas assinaram o documento, sendo que a princesa foi a última assinar, escrevendo Maria Leopoldina, nome que adotou devido a tradição portuguesa de dar o nome Maria para as nobres. (REZZUTTI, 2017).

No dia 13 de maio de 1817, na Igreja de Santo Agostinho de Viena, ocorreu o casamento de Leopoldina, mas com o detalhe que o noivo não estava presente. A imponente igreja estava toda arrumada e lotada para a cerimônia, a corte, embaixadores estavam presentes. Mas o noivo por motivos de segurança, não viajou a Áustria. O marquês de Marialva atuou como procurador dele, e um dos tios da princesa, o arquiduque Carlos Luís fez o papel de noivo. Apesar de toda a pompa da cerimônia, Leopoldina escreveu em seu diário que ficou triste pela ausência de seu noivo, agora marido, embora somente o conhecesse a partir de um retrato. (CASSOTTI, 2015). 

Em junho ocorreu grande baile para celebrar o casamento de Maria Leopoldina, embora que trava-se mais de uma festa para ostentar a façanha dos portugueses em firmar uma aliança matrimonial com a corte austríaca. Após esse baile, ela decidiu visitar sua irmã Maria Luísa, que estava na Itália. A princesa do Brasil como já era referida sem nem mesmo ter visitado o lugar, viajou com seu séquito de damas de companhia e criadagem a Itália, na época governada pelos parentes de Napoleão, o marido de sua esposa. Ironicamente, D. Pedro e Napoleão haviam se tornado cunhados. Em visita a Itália, Leopoldina lamentou não ter podido ir à Veneza, mas gostou do passeio. A princesa passou quase dois meses em terras italianas de onde em 15 de agosto embarcou no navio D. João VI, rumo ao Brasil. Leopoldina trocava o luxo da cidade imperial de Viena, por uma pequena cidade tropical, chamada Rio de Janeiro. (CASSOTTI, 2015). 

A viagem ao Brasil foi bastante demorada, tendo levado quase três meses, apesar que o navio fez algumas paradas no caminho, incluindo a Ilha da Madeira, onde a princesa e suas damas de companhia puderam descansar em terra firme, antes de atravessar o Atlântico. No dia 5 de novembro o navio chegou a baía da Guanabara. Os sinos das igrejas da cidade do Rio de Janeiro badalaram várias vezes para celebrar a chegada da princesa do Brasil. A família real abordo de um pequeno navio abordaram a embarcação recém-chegada ainda em meio a baía. Ali, Leopoldina conheceu seus sogros: João IV que era obeso, e Carlota Joaquina, toda maquiada e com olhar altivo, apesar de ser magra e baixinha. A cunhada mais velha, Maria Teresa estava ali, bela e culta, acompanhada das irmãs caçulas, já que as irmãs mais velhas já eram casadas e viviam na Europa. Em seguida estava o príncipe Miguel, descrito como um rapazote de quinze anos, louro e charmoso. Por sua vez, Leopoldina conheceu seu marido, D. Pedro, um ano mais novo que ela, de cabelos pretos e cacheados, olhos escuros, e não se sabe se ele já usava bigode na ocasião. Pedro não era visto como um belo homem, e nem inteligente, embora dissessem que fosse um galanteador incorrigível. (REZZUTTI, 2017).

A chegada de Maria Leopoldina foi celebrada com festejos pela cidade ao longo de vários dias. Os jornais do reino noticiavam no Brasil e em Portugal a chegada da princesa Leopoldina, além de fornecer informações sobre sua procedência, educação, beleza, gentileza e sua viagem até o Rio de Janeiro. 

D. Pedro acompanhando sua esposa Maria Leopoldina para um passeio de carruagem até o palácio. Jean-Baptiste Debret, 1817. 

Tendo se fixado em seu novo lar, no Palácio de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista, a princesa teve que se adaptar aos modos da corte portuguesa no Brasil, pois embora conserva-se etiquetas que ela conhecia da Europa, a corte luso-brasileira já possuía outros costumes e práticas. Além disso, a culinária era algo diferente, o calor e os mosquitos também incomodaram a princesa, além da condição da escravidão, pois embora ela soubesse que os escravos eram considerados serviçais, mas os maus-tratos eram muitos. Leopoldina também estranhou a cidade, pois estava acostumada com o urbanismo vienense com seus palácios, museus, teatros, casas de ópera, lojas, bela arquitetura, mas o Rio era uma cidade ainda pequena e de poucas atrações culturais. (CASSOTTI, 2015). 

Leopoldina nos anos seguintes foi incumbida de ser a boa esposa, a dona da casa, a gerar herdeiros, sendo que ela teve sete filhos: Maria (1819-1853), Miguel (1820), João Carlos (1821-1822), Januária (1822-1901), Paula (1823-1833), Francisca (1824-1898), Pedro II (1825-1891). A pressão por um herdeiro varão foi grande entre 1820 e 1825, pois os dois meninos que ela teve, faleceram prematuros; Miguel nasceu natimorto, e João Carlos morreu antes de fazer um ano. Depois Leopoldina teve mais três meninas, até finalmente nascer o herdeiro varão, Pedro II, que também foi seu último filho. 

Maria Leopoldina com seus filhos. Em seu colo, ela segura Pedro II. 

Além da questão de gerar um herdeiro, Leopoldina também tratou de instalar em sua casa e na corte, novas modas, etiquetas e costumes, baseada no modelo austríaco e francês. Ela também manteve contato com embaixadores, diplomatas, artistas e estudiosos, convidando-os a corte para irem realizar suas pinturas ou estudos. A princesa também realizou obras beneficentes e patrocinou alguns estudos. E quando podia, ela lia sobre botânica e mineralogia. Leopoldina também tentou incentivar o marido aos estudos e a ter disciplina, mas falhou nisso, pois Pedro não gostava de estudar, era indisciplinado e embora fosse apaixonado pela esposa, nunca deixou de ter amantes. (CASSOTTI, 2015). 

Durante a época da Independência do Brasil (1822), Leopoldina teve um papel importante nesse acontecimento político. Embora ela questionasse as ideias progressistas e liberais do marido e da corte brasileira, ainda mais, após D. João VI, Carlota Joaquina e seus filhos retornarem a Lisboa em 1820, ainda no final de 1821, Leopoldina já se mostrava interessada na política brasileira para emancipar o Brasil de Portugal. 

“D. LEOPOLDINA havia se desdobrado até 1821 em diversas facetas, ou, por que não, personas. Para cada interlocutor, a princesa havia mostrado uma máscara. Temos a máscara da filha obediente com a qual ela se relacionava com o pai na Áustria; a de súdita fiel e nora grata, com a qual se apresentava perante d. João VI; à irmã Maria Luísa ela surgia mais na intimidade, mas não completamente. Queixava-se de seus problemas no Brasil, das ideias do marido, das quais daria futuramente amostras de se haver contaminado, mas não se revelaria integralmente. Com d. Pedro, como veremos futuramente, quando ele partiu para São Paulo, ela usaria a máscara da esposa obediente e apaixonada. Mas era aos vassalos, aos que lhe deviam obediência, sobretudo aos de origem germânica, como Schäffer e Flach, que d. Leopoldina mostrava a sua resoluta e destemida face. D. Leopoldina, em suas cartas de 1821, passou a fazer distinções entre os “brasileiros” e os “portugueses”. Sua tendência em pender para o lado do Brasil contra Portugal aparece ora nas entrelinhas, ora de forma explícita. Essa opinião dela era possível porque, nesse momento em que d. Pedro e ela se viram livres da corte de d. João VI e que o príncipe assumiu de fato o poder, este não caiu no erro do pai de afastar a esposa dos negócios”. (REZZUTTI, 2017).

No fatídico ano de 1822, enquanto seu esposo estava visitando sua amante em Santos, a Marquesa de Santos (1797-1867), na capital, a princesa e o conselheiro José Bonifácio (1763-1838), tratavam de arquitetar a declaração de independência do país. A princesa e o conselheiro redigiram cartas, as quais Leopoldina dava ordens e as assinava como regente do vindouro país. Leopoldina também tratou de deixar claro que ela e o marido estavam do lado do povo brasileiro, temendo que esse os vissem como usurpadores ou aproveitadores e pudesse gerar uma onda de revoltas (embora que revoltas realmente ocorreram em algumas das províncias). Tendo tudo sido planejado para a independência, a princesa escreveu uma carta ao marido pedindo que ele voltasse imediatamente ao Rio de Janeiro, pois tinha papel político a ser comprido, a corte precisava dele mais do que nunca. 

A princesa-regente Maria Leopoldina e o Conselho de Ministros, em 2 de setembro de 1822, planejando a declaração de independência do Brasil. 

Leopoldina assegurou para si um futuro reino, que viria a se tornar império, além de assegurar legado, herança e direito aos filhos, a conseguir evitar que o marido se desse mal durante esse problema que acometia Portugal e poderia vir ao Brasil, onde as cortes manipulavam D. João VI. Além disso, a princesa que era considerada uma mulher tímida, revelou-se ter pulso firme para tomar decisões que contribuíram para o Brasil conquistar sua independência. Após a declaração da independência simbolicamente feita em 7 de setembro, Leopoldina, Bonifácio e outros dos ministros envolvidos no processo, começaram a escrever cartas para serem enviadas as províncias e outras nações. No dia 1 de dezembro, Leopoldina e Pedro eram coroados imperatriz e imperador do Brasil. (REZZUTTI, 2017).

Nos anos seguintes como imperatriz, D. Maria Leopoldina continuou cuidando da educação dos filhos e tentando gerar um herdeiro varão, embora somente conseguiu isso em 1825. Nesse tempo, ela também seguiu atuante no governo, assinando decretos, escrevendo cartas e despachando ordens. Enquanto D. Pedro I viajava a campanha para conter as revoltas em algumas províncias, ou aproveitava para encontrar as amantes, Leopoldina administrava o recente país na medida do possível, apesar que grande parte disso era feita pelos ministros e senadores, cabendo a imperatriz ter que assinar documentos e as vezes opinar sobre algo. (REZZUTTI, 2017).

A imperatriz também passou por problemas no casamento, quando descobriu o caso de seu marido com a Marquesa de Santos. Embora ela já soubesse que Pedro era infiel, o caso tornou-se público e isso afetou a imperatriz, abalando sua saúde. Em cartas para sua irmã Maria Luísa, que era sua predileta e confidente, ela relata seu desgosto pelo casamento e a impetuosidade da marquesa em afrontá-la. Em maio 1826 o ápice da afronta ocorreu quando Domitila que era marquesa, conseguiu convencer o imperador a reconhecer sua filha bastarda, Isabel Maria Brasileira (1824-1898), com dois anos, como legítima herdeira. E se não bastasse o reconhecimento, Pedro I concedeu o título de duquesa de Goiás para a filha e realizou uma festa para isso. E a festa foi celebrada na casa de Domitila, que ficava próximo do palácio, onde Leopoldina se encontrava com os filhos. Os historiadores e biógrafos concordam que após isso, a saúde da imperatriz piorou bastante. (CASSOTTI, 2015). 

Nos meses seguintes tomada possivelmente de uma depressão, Leopoldina foi perdendo peso e enfraquecendo-se até falecer de causas incertas em 11 de dezembro de 1826, aos 29 anos. Na ocasião da sua morte, seu marido estava em campanha no Rio Grande do Sul, participando da Guerra da Cisplatina (1825-1828). Por ser muito querida pelo povo, sua morte gerou comoção na capital e em outras províncias. Os jornais do império noticiavam com grande pesar que a jovem imperatriz que ajudou o Brasil a ganhar sua independência falecia antes dos 30 anos, deixando cinco filhos, sendo que o príncipe herdeiro possuía menos de dois anos. A causa da morte de Maria Leopoldina ainda é inconclusiva. Boatos chegaram apontar que ela teria sido envenenada a mando da Marquesa de Santos, outros dizem que D. Pedro I teria espancado ela num acesso de fúria a la Nero. Apesar da hipótese do espancamento e do envenenamento terem sido descartadas, a marquesa foi alvo de insultos e ataques, tendo a casa apedrejada e um de seus irmãos foi assassinado. (CASSOTTI, 2015). 

D. Amélia de Leuchtenberg: a bela

Após a morte de Leopoldina, D. Pedro I entrou em luto e manteve a viúves, embora continuasse a encontrar suas amantes, em especial a Marquesa de Santos. Boatos chegaram a dizer que ele tomaria a marquesa como nova esposa, mas como ela vista de forma negativa no país, isso seria considerado uma grande polêmica, inclusive poderia afetar sua imagem no país, que não eram tão boa assim. Logo, o imperador pediu que uma nova esposa fosse providenciada para ele. Os requisitos era ser bela, educada, culta e de família importante. 

Porém, havia o lado negativo, pois o imperador brasileiro era conhecido por manter uma amante publicamente, além de ser mulherengo e inculto. Além disso, a nova esposa também teria que aceitar essa infidelidade publicamente e cuidar de cinco enteados. Para completar, o ex-sogro de D. Pedro I, estava desgostoso com ele, e negou qualquer sobrinha ou parente em ser oferecida em casamento. O Marquês de Barbacena tornou-se procurador para o casamento, tendo negociado com oito princesas, mas fracassado no intento. O processo durou mais de dois anos. Finalmente em 1829, uma candidata foi escolhida, tratava-se de Amélia de Leuchtenberg, a qual das imperatrizes do Brasil, é a menos conhecida e influente. (SOUSA, 2015). 

Amélia era a quarta filha do general Eugênio de Beauhernais (1781-1824), enteado de Napoleão Bonaparte, e da princesa Augusta da Baviera (1788-1851). Os Beauhernais não eram uma casa influente na Europa, como os Habsburgo. Porém, possuíam um ducado, influência na França e na Itália, inclusive Amélia nasceu em Milão, pois seu pai governava na época como Vice-Rei da Itália. A jovem duquesa de 17 anos era descrita como sendo bela, educada e simpática. 

Amélia em retrato de 1830

O nome de Amélia chegou até a Barbacena, através do Visconde de Pedra Branca, que atuava em Paris na época, e disse ter conhecimento de uma bela princesa que possuía ligação com a família Bonaparte. Barbacena interessado, pediu que Pedra Branca fizesse as apresentações e depois enviou uma carta a D. Pedro I apresentando Amélia. Esse enviou o Marquês de Resende para comprovar que Amélia era a candidata ideal, e o marquês corroborou isso. Logo, o acordo nupcial foi assinado em 30 de junho, em Munique, pela mãe de Amélia. O casamento foi marcado as pressas, ocorrendo em 2 de agosto de 1829, numa cerimônia simples e para poucos convidados, e novamente o noivo não esteve presente. Barbacena representou o imperador na cerimônia. (SOUSA, 2015). 

Em outubro de 15 de outubro de 1829, a bordo da fragata Imperatriz, saída da Bélgica, Amélia chegou ao Rio de Janeiro, sendo recebida com pompa, mas em menor condição do que haviam feito com Leopoldina vários anos antes. Amélia chegava ao Rio sem falar português direito, tampouco conhecia a respeito do Brasil. Na corte ela tratou de atualizar os costumes à moda francesa, inclusive falava abertamente em francês com seus convidados. A imperatriz também ditou novas modas de etiqueta e comportamento, pois achava que na ausência de uma figura feminina a etiqueta da corte foi perdida desde o falecimento de Leopoldina. Além disso, Amélia também se dava bem com seus enteados. Ela também era conhecida por se vestir de forma elegante e sempre manter uma boa aparência. Amélia também conheceu as filhas bastardas do marido, embora não conheceu Domitila, pelo que parece. (SOUSA, 2015). 

Pintura de Debret mostrando D. Pedro I trocando alianças com Amélia, já no Brasil. 

Amélia foi imperatriz do Brasil por pouco tempo, já que em 1831, seu marido abdicou do trono brasileiro para assegurar o trono português. Anos antes, em 1826 D. João VI faleceu, e Pedro assumiu como rei de Portugal, sendo chamado de Pedro IV. Todavia, o monarca governava a partir do Rio de Janeiro, o que não agradou as cortes portuguesas que exigiram que seu rei viesse para Lisboa. Para contornar esse problema, Pedro I nomeou sua filha mais velha, Maria II como regente de Portugal. Maria II governou sob ordem do pai, de 1826 a 1828, quando seu tio, Miguel convenceu as cortes que o país deveria ser governado por um homem, não uma mulher, tampouco por seu irmão que se encontrava do outro lado do Atlântico. Miguel pouco a pouco foi ganhando influência e usurpando sorrateiramente a autoridade da sobrinha, isso inclusive gerou uma crise entre os partidos Conservador e Liberal de Portugal e do Brasil, onde os liberais queriam o fim da monarquia ou pelo menos uma reforma constitucional. Em 1828, Miguel praticamente governava Portugal, mesmo que oficialmente a rainha fosse Maria II, porém, a situação piorou em 1831, levando D. Pedro I a abdicar do trono brasileiro e ir confrontar o irmão. (SOUSA, 2015). 

D. Pedro I escreveu uma carta de abdicação e nomeou Pedro II, na época com cinco anos, como seu sucessor. Ao alcançar a maioridade, ele deveria ser empossado imperador, enquanto isso, uma regência governaria o país. Amélia por sua vez, não interferiu na decisão do marido, e esse decidindo voltar à Europa, levou a esposa consigo, a qual viajou grávida. Eles aportaram nos Açores e depois seguiram para Cherburgo na França, onde Maria II aguardava o pai e a madrasta. Pedro I e Amélia passaram algumas semanas lá, mas ele enviou a esposa junto a filha para morarem em Paris, onde vivia outra de suas filhas, Isabel Maria, que estava estudando na época. De Cherburgo, Pedro I seguiu para Londres, pois tinha negócios a tratar e precisava de apoio político e militar para tirar o irmão do trono português, devido a Guerra Civil Portuguesa (1831-1834). (SOUSA, 2015). 

Amélia seguiu morando em Paris por mais de dois anos, tendo sua filha Maria Amélia (1831-1853), nascido lá. No tempo que esteve residindo na capital francesa, a ex-imperatriz do Brasil, cuidava de sua filha recém-nascida, como convivia com suas enteadas Maria e Isabel. Enquanto isso, Pedro I viajava para reunir apoio para confrontar Miguel, além de fazer novas amantes pelo caminho. Finalmente em 1833, Miguel I foi rendido e forçado ao exílio. (SOUSA, 2015). 

Amélia e sua filha Maria Amélia, por volta de 1840. 

Logo, ainda em 1833, Pedro I mudou-se para Lisboa e mandou que sua esposa e filha pequena se mudassem para lá. Todavia, Miguel I e seus aliados se refugiaram no Porto e cercanias, o que obrigou Pedro I a acompanhar seu exército para seguir confrontando os apoiadores de seu irmão. Durante sua estada no acampamento militar, inclusive tendo convivido com doentes, ele contraiu tuberculose em 1834. Devido a doença, ele retornou para Lisboa, para o Palácio de Queluz, onde permaneceu ao lado de sua família até sua morte em 24 de setembro(SOUSA, 2015). 

Amélia tornou-se viúva após cinco anos de casada, tendo deixado o Palácio de Queluz e mudando-se para ao Palácio das Janelas Verdes. Ela dedicou-se a cuidar da filha e a fazer caridade. Não voltou a casar novamente. Amélia acabou perdendo regalias e direitos tanto no Brasil, quanto em Portugal. Somente em 1841 é que D. Pedro II, lhe concedeu reconhecimento como parte da família real brasileira, a fim de ajudar a madrasta e a irmã. Além de Pedro II, Amélia contou com o apoio de Maria II e Isabel. Em 1853, Maria Amélia contraiu tuberculose e foi tratá-la na Madeira, mas acabou falecendo da mesma doença que o pai. Amélia viveu até 1873, morrendo aos 60 anos. Sua herança foi deixada para sua irmã Josefina, que e rainha da Suécia e Noruega

D. Teresa Cristina: a mãe dos brasileiros

Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, nasceu em 14 de março de 1822, em Nápoles, na Itália. Era a décima filha do rei Francisco I das Duas Sicílias (1777-1830) e da rainha Maria Isabel de Bourbon (1789-1848). Teresa diferente de Amélia, vinha de uma linhagem renomada, a Casa de Bourbon, tanto pelo ramo italiano, quanto pelo ramo espanhol. Além disso, ela era parente distante do rei Luís XVI da França, o que curiosamente é interessante, pois Leopoldina era sobrinha-neta da esposa de Luís. Pouco se sabe sobre sua infância e juventude, se desconhecendo como foram seus estudos. Porém, era descrita como uma mulher baixa, feia e tímida. 

Em 1842 o diplomata brasileiro, Bento Silva Lisboa, o 2o Barão de Cairu, estava em visita em Viena, com a missão de encontrar uma esposa para o jovem imperador brasileiro, D. Pedro II. Em Viena, Cairu conheceu Vincenzo Ramírez, embaixador das Duas Sicílias, o qual lhe falou sobre as princesas de seu rei. Na época, Cairu não teve sorte em procurar uma noiva cujo pai aceitasse casá-la com o imperador brasileiro, pois corria má fama que D. Pedro I era um canalha e mulherengo, e boatos maldosos diziam que seu filho era igual (embora que Pedro II tenha tido amantes, não chegou ao nível do pai). O Barão de Cairu ficou interessado na fala de Ramírez e decidiu saber mais a respeito, lhe sendo mostrado um retrato da princesa Teresa, que na época tinha 21 anos. O barão gostou do retrato e enviou-o para D. Pedro II conferi-lo e dar uma resposta. (REZZUTTI, 2019). 

Teresa Cristina por volta de 1843, em retrato enviado ao seu noivo. Na verdade a princesa não era assim. O retrato foi alterado para deixá-la mais bela. Embora há quem diga que essa fosse outra mulher. O vulcão ao fundo é o Vesúvio.

Os trâmites duraram alguns meses devido ao tempo de viagem da Itália ao Brasil, onde o jovem Pedro II com seus 16 anos admirou o retrato enviado, achando a princesa bela. E disse que tinha interesse. Mandaram a resposta de volta e 30 de maio de 1843, o casamento foi realizado em Nápoles. O noivo não estava presente, mas foi representado pelo irmão da noiva, príncipe Leopoldo. Além dele, Cairu e outros diplomatas brasileiros estavam presentes para entregar o dote, presentes e assinar a papelada. Teresa recebeu um anel de rubi e ametistas, barras de ouro etc. Ela também recebeu um retrato do marido, um adolescente de cabelos louros escuros e olhos azuis. A viagem de Teresa Cristina ao Brasil demorou semanas devido ao atraso do navio brasileiro enviado para buscá-la. Um dos motivos da demora foi que a tripulação teria que ser totalmente branca, pois manter escravos negros era mal visto em alguns lugares da Europa. (SCHWARZC, 1998).

Em 3 de setembro de 1843, a fragata Constituição chegava no Rio de Janeiro, trazendo a nova imperatriz do Brasil. A cerimônia de recebimento da imperatriz foi planejada para ser bastante bela. D. Pedro II seguiria num cortejo de barcos pela baía de Guanabara, trajado com uniforme de almirante, para ir buscar sua esposa na fragata e depois levá-la a terra firme, onde seguiriam de carruagem pelas ruas da capital imperial, passando por paróquias e praças, até chegarem ao Palácio de São Cristóvão onde haveria um baile à noite. Tais detalhes foram escritos e apresentados como instruções para que o dia acontecesse perfeito, porém, quando Pedro II avistou sua esposa no navio, dizem que ele ficou triste, pois sentiu-se enganado. A mulher a sua frente não parecia com a que viu no retrato. Teresa Cristina era baixa, gorducha, feia e coxa. (SCHWARZC, 1998).

“D. Pedro foi duplamente enganado, e isso resultaria, segundo a princesa d. Isabel, em futuras precauções na busca de noivos para as filhas. Em entrevista ao historiador Tobias Monteiro em 1920, d. Isabel se recordaria que duas das damas de sua mãe, presentes ao primeiro encontro do casal, lhe informaram que o jovem monarca não gostou do que vira. Uma delas era Elisa Carneiro Leão, esposa do plenipotenciário brasileiro encarregado de trazer d. Teresa Cristina de Nápoles ao Rio de Janeiro. Elisa, que serviu de dama à imperatriz, disse a d. Isabel que, quando d. Pedro se retirou do navio, d. Teresa voltou a sua cabine e, jogando-se nos braços da embaixatriz, disse aos prantos: ‘Elisa, o imperador não gostou de mim’.”. (REZZUTTI, 2019).

Como o casamento já havia sido firmado e o divórcio não podia ser realizado, seguiu-se a cerimônia de boas-vindas a imperatriz, e no dia seguinte uma nova cerimônia de casamento ocorreu na Capela Real, onde os cônjuges trocaram alianças e votos. Todavia, os cortesões mais próximos do jovem imperador disseram que por semanas ele se mostrou triste pelo casamento, pois sentira-se iludido. Porém, neste mesmo ano, suas duas irmãs solteiras, Francisca e Januária se casaram. Francisca foi despojada por um príncipe francês e Januária casou-se com o irmão de Teresa, que havia acompanhado a irmã já com pretensões de casar-se no Brasil. (REZZUTTI, 2019).

O primeiro filho do casal nasceu dois anos depois, chamado Afonso Pedro (1845-1847), a chegada do menino foi tomada de grande alegria na corte, pois de primeira, a imperatriz teve um varão. Na época, Pedro II ficou muito contente com o nascimento do filho o que contribuiu para aumentar seu afeto com a esposa, pois diziam que ambos não se gostavam. No ano seguinte nasceu Isabel (1846-1921), a vinda da primeira filha também animou o imperador. E em 1847, Teresa encontrava-se grávida novamente, aguardando o nascimento de Leopoldina (1847-1871), mas um mês antes da menina nascer, o pequeno Afonso foi tomado de um ataque epiléptico e faleceu. Aquilo afetou bastante o casal e quase complicou a gestação de Teresa, que estava no oitavo mês. A morte do príncipe herdeiro repercutiu no país, sendo vista como uma péssima notícia. Porém, ainda no mesmo ano, Teresa engravidou novamente e deu a luz a Pedro Afonso (1848-1850), o último filho do casal. Porém, o novo herdeiro também não teve sorte, vindo falecer dois anos depois de febre. (REZZUTTI, 2019).

D. Pedro II com o tempo desistiu de ter mais filhos com sua esposa, aceitando suas duas filhas como herdeiras: Isabel e Leopoldina. Porém, com essa frustração em ter perdido seus filhos Afonso e Pedro, isso afetou seu relacionamento com a esposa. Por mais que ele gostasse dela, no palácio diziam que não havia paixão entre o casal. Condição essa que quando suas filhas iam crescendo, uma tutora foi contratada para ensinar as pequenas princesas, sendo essa Luísa Margarida de Barros Portugal (1816-1891), que é considerada a primeira amante do imperador. Luísa posteriormente mudou-se para a França, onde casou-se com o Conde de Barral. Mas no tempo que permaneceu a serviço da família real brasileira, ela manteve um relacionamento extraconjugal com o imperador. Inclusive não se sabe ao certo se Teresa sabia disso na época ou pelo menos desconfiava. (SCHWARZC, 1998).

A imperatriz Teresa Cristina era descrita tendo uma vida reservada, evitando aparecimentos públicos desnecessários ou se envolver com política e guerra. Vestia-se de forma simples, diferente de Amélia. No caso, Teresa compartilhava com o esposo a tendência de não se enfeitar tanto e ostentar as insignias reais. Pedro II e Teresa quando iam a outros países, vestiam-se de forma comum para os padrões da época, que nem parecia que fossem monarcas. A imperatriz. Centrava-se em cuidar da educação das filhas, em organizar o palácio, gostava de música, ópera, teatro, literatura, de bordar e desenvolveu o interesse pela arqueologia, algo também apreciado pelo marido, condição essa que ambos viajaram ao Egito. Devido ao seu interesse em arqueologia, Teresa montou um acervo arqueológico, inclusive solicitando o envio de artefatos de outros países, sobretudo, da Itália e Egito para sua coleção. A imperatriz também comparecia a inaugurações, cerimônias religiosas, feriados cívicos, realizou obras de caridade e entrou em contato com estudiosos e artistas para irem ao Brasil. Como era de origem italiana, incentivou seus conterrâneos a migrarem para o país. 

A imperatriz Teresa Cristina em retrato de 1851

A imperatriz Teresa Cristina ao longo de sua vida não foi afeita a política, como Leopoldina, apesar que no caso dela, o interesse pela política surgiu devido ao contexto político da época da independência e a indisciplina do marido. Pedro II teve interesse em política, isso quando ele queria, pois as vezes preferia passar mais tempo em seu gabinete, estudando, lendo, traduzindo, passeando ou viajando. E viajar era algo que o imperador gostava, tendo realizado três anos de várias viagens, levando sua esposa, alguns ministros, uma das amantes e criados. (SCHWARZC, 1998).

Em 1864, Pedro II e Teresa decidiram firmar o casamento das filhas; Isabel contava com 16 anos e Leopoldina tinha 15 anos. O imperador basicamente tratou sozinho do casamento, embora que sua esposa tenha dado opinião acerca dos candidatos. Após passarem meses deliberando, decidiram escolher dois príncipes que eram netos do imperador Luís Filipe da França. O primeiro era o príncipe francês Luís Filipe Gastão, que era Conde d'Eu (1842-1922), e seu primo, o príncipe alemão Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota (1845-1907). Ambos viajaram ao Rio de Janeiro para se casarem, e curiosamente Gastão foi prometido para Leopoldina, mas Isabel achou ele mais interessante e "trocou" de noivo com a irmã. As duas casaram-se no mesmo dia, sendo que Leopoldina mudou-se com o marido para a Europa, mas Isabel e Gastão permaneceram no Brasil. (SCHWARZC, 1998).

D. Pedro II e D. Teresa Cristina, em companhia de suas filhas e genros. De branco Isabel, enquanto olha para Gastão, ao lado Leopoldina e Luís Augusto.

Leopoldina e Luís Augusto tiveram quatro filhos: Pedro, Augusto, José e Luís. Se Pedro II sentia falta de um herdeiro masculino para o trono brasileiro, sua filha caçula o agraciou com quatro netos. Porém, em 1871, a princesa  contraiu febre tifoide e faleceu com apenas 23 anos. A morte da filha caçula abalou Pedro e Teresa. O imperador enviou a esposa para visitar o genro e os netos, e em 1872, solicitou que o príncipe Luís Augusto autorizasse que seus filhos mais velhos, Pedro e Augusto fossem enviados ao Rio, para serem educados sob direção da avó, pois eles eram herdeiros do trono, já que Isabel e Gastão não tinham filhos ainda. (REZZUTTI, 2019).

Em 1874, Isabel e Gastão tiveram uma menina, chamada Luísa Vitória, mas que nasceu natimorta. Mas no ano seguinte nasceu Pedro de Alcântara (1875-1940), o qual teria sido D. Pedro III, se o império tivesse se mantido. Isabel e Gastão ainda tiveram mais dois filhos: Luís e Antônio. Dessa forma, Pedro II e Teresa Cristina possuíam sete netos homens, os quais poderiam herdar o trono, embora que a preferência fosse dada aos filhos de Isabel, por ela ser a mais velha. 

Na década de 1880, Pedro II e Teresa seguiram com seus afazeres e até mesmo viajaram entre 1886 e 1887, deixando Isabel como regente. Porém, nesse período, o movimento republicano cresceu consideravelmente, ganhando apoio de alas liberais do Exército e da Marinha, além da burguesia e funcionários liberais. E em 15 de novembro de 1889, a República foi proclamada. A família real ainda recebeu o direito de poder partir para exílio, levando parte de seus pertences. Na época a imperatriz estava com 66 anos, e encontrava-se doente, com problemas de asma e pressão alta. No dia 7 de dezembro eles chegaram em Lisboa, mas não foram bem recebidos pelo então rei Carlos I, com isso, ela e o marido seguiram para o Porto, enquanto sua filha, genro e netos foram para a Espanha. Teresa Cristina teve uma parada cardiorrespiratória em 28 de dezembro de 1889, no Porto, lamentando ter sido exilada e ter abandonado o Brasil, pois ela dizia que esperava falecer no país no qual atuou como imperatriz por mais de quarenta anos. (REZZUTTI, 2019).

A morte da última imperatriz do Brasil, repercutiu em Portugal, Brasil e em outros países. Entre os brasileiros ela era chamada em alguns jornais como a "Mãe dos Brasileiros", título já lhe dado em vida e exaltado no fim. Pedro II mudou-se para Paris e morreu dois anos depois, aos 66 anos, vítima de pneumonia. Muitos anos depois, os seus restos mortais e de sua esposa foram transladados para Petrópolis, cidade que ele adorava e todo ano visitava. 

NOTA: Francisco foi o último imperador do Sacro Império Romano-Germânico, assumindo com o nome de Francisco II, tendo abdicado do trono em 1805, após se derrotado por Napoleão Bonaparte. Em 1806 como Francisco I, foi coroado imperador da Áustria. Todavia, ele também era rei da Hungria, Croácia e Boêmia, além de ter sido presidente da Confederação Germânica

NOTA 2: A rainha da França, Maria Antonieta (1755-1793), que era casada com Luís XVI, era tia-avó de Leopoldina. 

NOTA 3: D. Pedro I teve oito irmãos, sendo dois homens e cinco mulheres. 

NOTA 4: D. Pedro I teve mais de vinte filhos, sete com Leopoldina, quatro com Domitila, um com Amélia, e mais outros com outras amantes.

NOTA 5: A Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense (1959) recebeu esse nome da Estrada de Ferro Leopoldina, fundada em 1874, em homenagem a imperatriz. 

NOTA 6: A cidade de Teresópolis foi fundada em 1891, embora o local já fosse povoado anteriormente por indígenas e depois por portugueses e brasileiros, mas as fazendas e casas ali faziam parte de Magé. Em 1891 aquelas terras foram emancipadas e se tornaram Teresópolis. O nome foi dado em homenagem a imperatriz Teresa. 

NOTA 7: Os filhos de Leopoldina e Luís Augusto chegaram a fase adulta. Excetuando-se José que não casou e morreu aos trinta e poucos anos, seus irmãos faleceram já velhos, tendo deixado filhos. 

NOTA 8: Teresa como o marido, simpatizavam pela abolição da escravatura, mas não se posicionaram publicamente para pôr um fim na escravidão. 

CASSOTTI, Marsilio. A biografia íntima de Leopoldina. Tradução de Sandra Martha Dolinsky. São Paulo, Planeta, 2015. 

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. 

SOUSA, Otávio Tarquínio de. História dos Fundadores do Império do Brasil: volume II: A vida de D. Pedro I, tomo III. Brasília, Senado Federal, 2015. 

REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina: a história não contada: a mulher que arquitetou a independência do Brasil. Rio de Janeiro, LeYa, 2017. 

REZZUTTI, Paulo. D. Pedro II, a história não contada. Rio de Janeiro, LeYa, 2019. 


Nenhum comentário: