"A educação é a arma mais poderosa que você
pode usar para mudar o mundo".
Nelson Mandela (1918-2013)
A Biblioteca de Alexandria foi uma das mais importantes bibliotecas do mundo antigo, uma das mais importantes bibliotecas da História, e a mais famosa biblioteca da África, e talvez a sua mais importante. Por séculos essa biblioteca preservou conhecimentos de várias áreas e de distintos povos, dos quais muitos foram destruídos e perdidos devido a destruição dos seus acervos. Hoje só possuímos fragmentos ou o relato do que foi o acervo dessa biblioteca que chegou a possuir centenas de milhares de manuscritos, alguns sendo cópias únicas de obras que ficaram perdidas na História.
Em conjunto a biblioteca estava o Museu, o qual na época atuava como uma espécie de universidade onde reuniu alguns dos mais importantes célebres cientistas gregos antigos. Por alguns séculos, Alexandria foi a capital intelectual do Mediterrâneo. Neste texto procurei contar um pouco do papel não apenas da biblioteca e do museu, mas da cidade de Alexandria como um centro do desenvolvimento do conhecimento.
Fundação da cidade:
No século IV a.C, o glorioso império egípcio de outrora havia sido reduzido a uma província insubmissa do Império Persa Aquemênida, tendo sido conquistado pelo rei Cambises II no século anterior. No ano de 331 a.C, o jovem rei e general, Alexandre III da Macedônia (356-323 a.C) adentrava o país africano com seu poderoso e praticamente invicto exército. Alexandre tratou de retirar o sátrapa (governador de província) persa do poder e expurgar seus seguidores. O povo egípcio aclamou Alexandre como seu libertador, embora que ironicamente, Alexandre anexou o Egito ao seu próprio império, mas mesmo assim, os egípcios o ovacionaram e o coroam simbolicamente como novo faraó, em meio a um grande festejo celebrado em Mênfis, então capital do país.
Alexandre passou o inverno na costa mediterrânica do Egito, pelo começo da primavera no mês de março, ele chegou a acampar próximo a uma vila de pescadores chamada Racótis, localizada entre a Ilha de Faros e o Lago Mareótis.
“Era um lugar bem conhecido dos
marinheiros, especialmente dos piratas, que, às vezes, se abrigavam no pequeno
porém bem protegido porto da ilha, mas muito distante das rotas costumeiras
normalmente empregadas pelos navios no comércio com o Egito. Esses preferiam
enfrentar as águas muitas vezes ardilosas do Nilo até chegar ao porto fluvial
de Canopo a se arriscar nas fortes correntes e nos ventos do leste que varriam
a costa em frente a Racótis. Mas Alexandre, que queria um porto de mar
profundo, suficientemente grande para atender a uma armada agressiva e a uma
frota mercante em expansão, entendeu que o lugar seria ideal se fosse
construído um molhe por sobre as águas rasas entre a ilha e o continente”.
(FLOWER, 2010, p. 8).
Mapa retratando Alexandria entre os séculos I a.C e I d.C. Contudo, pode-se visualizar a Ilha de Faros e o Lago Mareótis. |
"Reza
a lenda que ele foi inspirado diretamente por Homero. Conta-se que o poeta
apareceu a ele em um sonho, recitando versos da Odisséia que tinham a
ver com Menelau refugiando-se nessa mesma ilha. Assim, segundo Plutarco,
Alexandre saltou da cama e imediatamente ordenou que se construísse uma cidade
atrás do que planejava que se tornaria o maior e mais seguro porto na costa
egípcia. É claro que há todo tipo de relatos míticos sobre a fundação de
Alexandria, e um deles tem um tom profético. Conta como os agrimensores reais ficaram
sem cal ao demarcar as muralhas da cidade. Na falta de algo melhor para
substituí-la, usaram farinha. Mal terminaram, porém, apareceram pássaros de
todos os tipos que devoraram tudo. Um bom presságio, asseguraram ao
supersticioso Alexandre, significando que a nova cidade seria abençoada com tal
abundância que para ela convergiria gente de todas as partes do mundo". (FLOWER,
2010, p. 8).
Independente do mito ou história de fundação, o que é fato, é a condição da cidade se encontrar em uma boa localização, estando próxima da entrada da foz do Nilo, e logo do delta; a cidade também possuía um grande e bom suprimento de água doce, advindo do lago; a ilha de Faros servia como um quebra-mar natural, embora que foi construído uma barreira para se fechar parte da baía, e assim tornar mais seguro o porto para a ancoragem. Além disso, o porto possuía águas profundas, era de fácil acesso e largo suficiente para receber grandes embarcações, algo que se mostraria em êxito posteriormente com o crescimento da cidade.
“A principal
vantagem da cidade esta no fato de ser o único lugar em todo o Egito igualmente
bem situado para o comercio marítimo, em virtude da excelência dos seus portos,
e para o comercio interno, pois o rio facilita o transporte de todas as mercadorias
e reúne‑as nesse lugar que se transformou no
maior mercado do mundo habitado”. (ESTRABÃO apud RIAD, 2010, p. 168).
Mas, tendo se decidido através de um sonho, de uma visão profética, ou por outro motivo, Alexandre decidiu fundar uma cidade naquele estreito. Ele ordenou que chamassem um de seus arquitetos de confiança, considerado um dos melhores em seu tempo, Deinócrates de Rodes (também escrito como Dinócrates ou Dimocrates).
Deinócrates anos antes havia proposto a Alexandre dois projetos ousados: construir uma cidade no Monte Atos, e também em uma das faces da montanha esculpir uma gigantesca estátua de Alexandre. Se tivesse sido concebida, seria a maior estátua do mundo em seu tempo, no entanto, o rei encarou como inviável a construção da cidade, por questões de logística de abastecimento, e no caso da estátua ser um projeto bastante dispendioso, todavia, ele foi firme quando se tratou em se fundar uma nova Alexandria, agora no Egito. Alexandre fundou ou renomeou cerca de 15 cidades com o nome de Alexandria, sendo que 14 ficavam na Ásia, contudo apenas a que foi erguida no Egito mantivera o nome de seu patrono. As outras foram renomeadas, destruídas ou abandonadas.
Localização do Monte Atos na Grécia. |
“A cidade dividia‑se em distritos. Filo de Alexandria (-30 a +45) diz terem existido cinco distritos, designados pelas cinco primeiras letras do alfabeto grego. Infelizmente pouco sabemos a respeito deles. O bairro real ocupava quase um terço da cidade, limitando‑se com o porto ocidental. Tratava‑se da parte mais atraente da cidade, com palácios reais rodeados por jardins, onde se encontravam fontes magnificas e jaulas com animais trazidos de todas as regiões conhecidas do mundo. O distrito abrigava ainda o famoso Museu, a Biblioteca e o cemitério real. Os habitantes da cidade viviam em comunidades. A parte oriental era habitada por gregos e estrangeiros, o distrito do Delta próximo ao bairro real, pelos judeus, e a parte ocidental, pelos egípcios nativos, no distrito de Rakoti. A totalidade da população era tida como instável, embora os diversos grupos étnicos e sociais diferissem acentuadamente uns dos outros”. (RAID, 2011, p. 169).
Uma malha de ruas paralelas,
parecida com a de Nova Iorque, cruzava a cidade, com canais subterrâneos anexos
para assegurar um sistema de drenagem eficiente, enquanto duas esplêndidas
avenidas com cerca de setenta metros de largura e decoradas com colunatas se
cruzavam no centro da cidade. (FLOWER, 2010, p. 10).
“Tencionando
ligar a ilha de Faros a terra firme, o arquiteto projetara um imenso quebra‑mar denominado
Heptastádion (porque possuía sete estádios ou, aproximadamente, 1200 m de
comprimento); essa construção esta hoje desaparecida sob os depósitos aluviais
que se acumularam de ambos os lados. A construção do Heptastádion resultou na formação
de dois portos: o do leste, o “Portus Magnus”, era maior e mais importante que
o do oeste, denominado “Portus Eunostos”, ou o porto do retorno seguro. Um
terceiro porto sobre o lago Mareótis destinava‑se ao comercio
interno. O planejamento da cidade seguiu o modelo das cidades gregas mais
modernas da época. Sua principal característica era o predomínio de linhas
retas. As ruas, em sua maioria, eram retilíneas e cruzavam‑se em ângulos retos”.
(RIAD, 2010, p. 169).
Enquanto as obras se iniciavam, ele viajou para o oeste, para o Oásis de Siwa, a fim de consultar um famoso oráculo erguido ao deus-sol Amon, o qual os grego-macedônios compararam a Zeus, daí o chamarem de Zeus-Amon. Após retornar de sua viagem pelo deserto, ele em 7 de abril de 331 a.C, firmou a pedra fundamental da cidade, em uma cerimônia para oficializar a criação da cidade. Alexandre tinha na época, apenas 23 anos e viveria mais 9, contudo, em menos de uma década ele conseguiu fundar um dos mais vastos impérios da História. Depois de algumas semanas passadas na nova cidade, ele partiu com seu exército, retornando para a Ásia, retomando suas campanhas militares contra o rei persa Dario III, para nunca mais voltar em vida ao Egito e a Alexandria.
Busto de Alexandre, o Grande. Gunnar Bach Pedersen, 2006. |
Fundação da biblioteca e do museu:
Alexandre, o Grande faleceu em 10 de junho de 323 a.C na Babilônia aos 32 anos. Vitimado por causas ainda incertas: talvez tenha sido envenenado, ou estava gravemente doente ou não aguentou os ferimentos sofridos na Índia. Todavia, quando o então mais poderoso homem do mundo morreu, o mesmo não designou um regente para seu império, pois Alexandre havia tido um filho com sua esposa, a rainha Roxana. Na ocasião da morte do imperador, Roxana ainda estava grávida, logo, seria necessário que alguém apoiasse ela e seu filho que estava por nascer, o qual foi chamado de Alexandre IV da Macedônia (323-309 a.C).
Todavia, os generais de Alexandre entraram em desavença para ver quem iria governar o vasto império como regente do pequeno príncipe. No fim, os generais acabaram optando por dividir o governo do império de forma mútua, onde cada um escolheu para si partes do império, alegando que governariam como "regentes" até a maioridade de Alexandre IV, contudo, isso não aconteceu. Um dos generais de Alexandre, Cassandro, anos depois ordenou o assassinato de Roxana e de Alexandre IV, e o império se dividiu definitivamente.
Ptolomeu I Sóter |
"Autocrático e
ambicioso, tendo como seu brasão pessoal uma águia, o que combinava bem com seu
nariz aquilino, ele não tinha nenhuma intenção de limitar seu poder apenas ao
Egito. Na tradição de certos faraós agressivos do passado, como Sesóstris III
(1.842-1.797 a.C.), [...]. Assim, ele se apropriou da vizinha Cirene, ocupou o
sul da Síria, conquistou Chipre, invadiu as Ilhas Egeias e colocou tropas até
mesmo na Grécia continental, indo mais longe do que qualquer faraó anterior no
desenvolvimento e na exploração da costa mediterrânea do Egito, e fez sentir
sua influência em lugares tão distantes como o Bósforo da Criméia". (FLOWER,
2010, p. 12).
Ptolomeu escolheu como capital do Egito, a cidade de Alexandria, e foi em seu governo que ele fundou a biblioteca e o museu.
“Afortunadamente
para a posteridade, Ptolomeu I não era apenas um tirano sedento de glória com
ilusões megalomaníacas de grandeza divina, mas um homem de letras com uma queda
por tudo que estivesse ligado ao intelecto. Podemos agradecer a ele por uma
história das campanhas de Alexandre, cuja maior parte ele vivenciou
pessoalmente, e, evidentemente, o mais importante, por ter alçado Alexandria a
uma posição de destaque cultural no Mediterrâneo, ao atrair para lá os melhores
cérebros do mundo grego. Entre esses, como veremos, estava um homem que sugeriu
pela primeira vez a criação de uma biblioteca real, um projeto que Ptolomeu I
apoiou com todos os seus recursos e que se tornou realidade cerca de doze anos
antes de sua morte, em 282 a.C”. (FLOWER, 2010, p. 13).
"Demétrio de Falero
aconselhara Ptolomeu Sóter a criar uma biblioteca que abrigasse toda a cultura contemporânea,
através da aquisição e cópia sistemática de manuscritos. Em pouco tempo,
coletaram‑se mais de 200 mil volumes. A administração
desse repositório cultural estava confiada a ilustres especialistas do mundo
grego contemporâneo". (RIAD, 2010, p. 172).
Embora Ptolomeu I tenha sido o idealizador da biblioteca, o responsável de fato pelo desenvolvimento desse centro de preservação e difusão do saber, foi seu filho Ptolomeu II Filadelfo (309-263 a.C), o qual transformou Alexandria em uma cidade cosmopolita e definitivamente a capital política, econômica, cultural do Egito, já que durante o governo de seu pai, Mênfis ainda era a capital oficial e a cidade de Alexandria ainda estava em construção. Se na época de seu pai, a cidade já era frequentada por cretenses, judeus, persas, sírios, cartagineses e gregos; em seu governo podia-se ver mercadores indianos e monges budistas, nômades do deserto do Saara, viajantes etíopes, romanos, entre outros povos.
Moeda de ouro com as efígies de Ptolomeu II Filadelfo e sua esposa e irmã Arsinoé II. |
Segundo Flower [2010] o acervo adquirido por Ptolomeu II ao longo dessas quatro décadas foi tão grande, que ele ordenou a construção de uma segunda biblioteca (hoje em dia prefere-se dizer anexo, embora se tratava de um outro prédio), obra essa que só foi concluída pelo seu filho Ptolomeu III Evérgeta (ca. 280-221 a.C) o qual ordenou a conclusão da nova biblioteca a qual era menor que a anterior, sendo essa anexada ao Serapeum o templo erguido por Ptolomeu I o qual era dedicado ao deus Serápis, o deus padroeiro de Alexandria.
Moeda de ouro com a efígie do rei Ptolomeu III Evérgeta. |
“Ptolomeu
III, conhecido como o Benfeitor (Evergeta), expandiu as fronteiras mais do que
qualquer faraó desde os dias gloriosos de Ramsés II, mil anos antes. Ao
desposar Berenice, filha do rei de Cirene, acrescentou toda a Cirenaica às suas
possessões, e, graças a uma série de brilhantes campanhas na Síria, tornou-se
soberano de uma parte da Ásia Menor que chegava até a Babilônia. Felizmente,
como seu pai e seu avô, também era um grande patrocinador das artes. Bibliófilo
apaixonado, comprava carregamentos inteiros de livros e se dispunha a gastar
fortunas para obter códices ou papiros raros”. (FLOWER, 2010, p. 15).
Após a morte de Ptolomeu III os reinados de Ptolomeu IV até o Ptolomeu XVI não tiveram muito a contribuir diretamente para o desenvolvimento da biblioteca. Alguns destes reis chegaram a ordenar reformas, expansões, mas um crescimento tão acentuado como visto no governo dos três primeiros Ptolomeu não voltaria a ser visto, no entanto, isso não significa que Alexandria ficou estagnada, pelo contrário, se a iniciativa não veio do rei, ela adveio por parte dos estudiosos e homens interessados no conhecimento, os quais investiram recursos para a manutenção da produção intelectual.
A biblioteca e o museu:
Geralmente se fala muito sobre a biblioteca, contudo, pouco se fala sobre o museu o qual foi fundado também por Ptolomeu I e atuou em parceria a biblioteca como um centro de preservação do conhecimento e desenvolvimento deste, pois o Museu de Alexandria não se assemelhava-se em alguns aspectos aos museus atuais como um depósito para armazenar relíquias, objetos, artefatos e exibi-los ao público, como também realizar alguns estudos e pesquisas. O Museu era na verdade um templo as Musas, as nove deusas gregas das artes e das ciências, era um local onde textos eram copiados, onde ocorriam debates filosóficos, onde se realizam pesquisas e se dava aulas. De fato a biblioteca era um prédio em conjunto ao museu, ambos faziam parte de um complexo bem maior que posteriormente englobou praças, palácios, residências, salões, etc. O museu ficava próximo a biblioteca, embora não saibamos com exatidão a distância de um para o outro.
“Os
palácios reais também compreendem o Museu, que abrange um passeio, uma êxedra e
um vasto salão, no qual os filólogos se reúnem para as refeições. Existem também
recursos gerais para a manutenção do colégio; o responsável pela direção do Museu
e um sacerdote nomeado pelos reis, ou, em nossos dias, por Cesar”.
(RIAD, 2010, p. 172 apud ESTRABÃO,
1917, p. 17-18).
“O
Museu, com sua imensa biblioteca, foi sem duvida a mais importante realização
dos lágidas em Alexandria. Sua construção teve inicio por decisão de Ptolomeu I
Sóter, a conselho de um refugiado ateniense, Demétrio de Falero. A palavra museu
deriva de musas, entidades
cuja adoração simbolizava o espírito científico”. (RAID, 2012, p. 172).
Além dos palácios para usufruto da realeza e da nobreza alexandrina, as residências abrigavam desde funcionários palacianos, funcionários do Estado, como também abrigava os estudiosos que procuravam prestar seus serviços ao museu e a biblioteca sendo agraciados pelo monarca. Tais estudiosos se fossem aceitos, passavam a morar nestas residências e passavam a receber um salário para trabalhar em suas pesquisas e no ensino, embora o ensino não fosse algo obrigatório para alguns deles.
Os estudiosos que trabalhavam no museu e na biblioteca adentravam a um ciclo social privilegiado da sociedade alexandrina; onde passavam a desfrutar do conforto cedido pela nobreza, em especial quando o rei era um admirador do conhecimento, como foi o caso dos três primeiros Ptolomeus. Todavia, se algum estudioso fizesse algo que desagradasse o monarca, ele poderia ser demitido e banido da cidade, ou em casos mais ousados, até mesmo poderia ser preso ou executado por sua afronta. Alguns historiadores chegam a comparar o museu e a biblioteca com uma universidade antiga, embora esse conceito ainda não existisse na época.
Os estudiosos que trabalhavam no museu e na biblioteca adentravam a um ciclo social privilegiado da sociedade alexandrina; onde passavam a desfrutar do conforto cedido pela nobreza, em especial quando o rei era um admirador do conhecimento, como foi o caso dos três primeiros Ptolomeus. Todavia, se algum estudioso fizesse algo que desagradasse o monarca, ele poderia ser demitido e banido da cidade, ou em casos mais ousados, até mesmo poderia ser preso ou executado por sua afronta. Alguns historiadores chegam a comparar o museu e a biblioteca com uma universidade antiga, embora esse conceito ainda não existisse na época.
“O
Museu, concebido nos moldes do Liceu de Aristóteles, compreendia um passeio (peripatos),
uma galeria (exedera) e um santuário às Musas (mouseion), de
onde se supunha provir a inspiração artística, filosófica e mesmo científica.
Próximo a ele, existiria um edifício utilizado como refeitório pelos membros do
Museu, e mais tarde, quando a instituição cresceu e passaram a ser oferecidos
alojamento e refeições, os aposentos teriam sido disponibilizados em outro
edifício, e todo o conjunto era administrado por um sacerdote nomeado pelo rei.
Além desse sacerdote, que era o dirigente titular, o museu tinha também um
diretor (epistates), que cuidava das finanças e do funcionamento geral
do local, e que assegurava que os membros estivessem adequadamente alojados e
alimentados. Acomodações agradáveis, altos salários e isenção de impostos
faziam parte das vantagens de ser membro”. (FLOWER, 2010, p. 38).
Por séculos Alexandria foi a "meca dos filósofos", muitos nomes importantes da Antiguidade os quais serão mencionados mais adiante, ou se mudaram para Alexandria, vivendo até o fim da vida, ou pelo menos chegaram a visitá-la ou morar por algum tempo. É importante salientar que por mais que a cidade se encontre na África, no Egito, naquele tempo, a cidade era encarada como uma extensão da Grécia no continente africano.
Projeção virtual de como poderia ter sido a Biblioteca de Alexandria. |
“Por volta de 270 a.C., no reinado
de Ptolomeu II Filadelfo, entrou em cena um poeta e gramático cujo nome seria
ligado mais do que qualquer outro — exceto Demétrio Falereu — à grande
Biblioteca. Calímaco nasceu por volta de 305 a.C. em Cirene, a outra grande
colônia grega, situada a meio caminho entre Tobruk e Benghazi, na Líbia
moderna, que caíra sob o domínio de Ptolomeu I em 321 a.C. Seu pai era um nobre
chamado Bato (daí o nome Batíades que lhe foi dado por poetas latinos
posteriores), que afirmava descender do mítico Bato, considerado o fundador de
Cirene, enquanto seu avô fora um destacado estrategista. Tudo isso significava
que recebera uma excelente educação, como a maioria dos jovens herdeiros da
aristocracia local, e teve como tutor o gramático Emócrate de Iaso. Isso
explicaria sua inclinação por uma forma particular de cultura que, muito em
voga na época, tornou-se bastante útil quando sua família perdeu a fortuna e
ele foi forçado a ganhar a vida dando aulas em um subúrbio de Alexandria. Porém,
sendo inteligente em uma cidade que privilegiava o intelecto, não demorou muito
até que alguém no palácio ouvisse falar dele e Calímaco obtivesse um emprego na
Biblioteca”. (FLOWER, 2010, p. 34-35).
Outro fato interessante além desse levantamento catalográfico, Calímaco também organizou os textos por assuntos, os dividindo em cestas padronizadas e enumeradas, onde os rolos eram distribuídos em ordem alfabética pelo nome dos autores. Ele também pediu que se escrevesse uma minibiografia dos autores como uma espécie de prefácio, e fossem anexadas aos textos, além de também ter utilizado palavras-chave para localizar os textos. Não sabemos se isso foi feito para todo o acervo, mas consta em alguns dos rolos tais dados.
No que refere-se a distribuição por assuntos, Calímaco dividiu os assuntos nas seguintes áreas: retórica, direito, política, literatura (poesia, tragédia, comédia, epopeia, lirismo, etc.), história, medicina, matemática, astronomia, e "ciências naturais" (o que englobaria física, química, geografia, geologia, botânica, zoologia, etc.). A catalogação de Calímaco foi tão importante em seu tempo que por vários anos serviu de modelo para outras bibliotecas gregas e até romanas.
"Ainda que o Museu e a Biblioteca de Alexandria tivessem continuado
a funcionar após a conquista romana, a notável pesquisa original decaiu em
qualidade e quantidade; o ensino das várias disciplinas já não atraía maior
interesse, tanto pelo desprestígio da Ciência quanto da Escola. Inspirado no
Liceu de Aristóteles, o Museu de Alexandria era dotado de jardins botânico e
zoológico, observatório astronômico, salas para aulas e uma Biblioteca com mais
de 500 mil rolos de papiros; cerca de cem professores ensinavam, custeados pelo
Estado, nessa primeira Universidade do Mundo. O resultado final desse processo
perverso foi o declínio paulatino da cultura helênica, até o ponto de ser
perseguida pelas autoridades políticas e religiosas daqueles novos tempos".
(ROSA, 2012, p. 119).
Os saberes desenvolvidos no museu e na biblioteca:
Por mais que os períodos de estabilidade oscilaram durante o tempo que a biblioteca e o museu existiram, do século III a.C ao século I d.C, considera-se a "era de ouro" no que refere-se ao desenvolvimento intelectual da cidade, embora que nestes quatro séculos houve altos e baixos por parte de problemas políticos e bélicos, que chegou a ameaçar alguns dos estudiosos a ponto destes irem embora de Alexandria.
Tratar dos estudiosos que viveram ou passaram por Alexandria nesse tempo é assunto para se escrever um livro, no entanto, serei sintético e escolhi alguns nomes bem conhecidos que tiveram a contribuir em diferentes áreas do conhecimento estudadas naquele tempo.
1) Literatura
O campo da literatura naquele tempo era diferente de hoje em dia, pois além de se estudar os vários tipos de poemas (a literatura grega antiga era predominantemente de poesias, os romances são um estilo que se tornará recorrente na Idade Média), também se estudava retórica, gramática e história (a história naquele tempo era considerada um ramo da literatura, diferente de hoje, onde é vista como uma ciência).
Um dos nomes que se destacaram na poesia e na gramática foi o já mencionado Calímaco de Cirene. Calímaco em seu tempo chegou a dizer que escreveu 880 obras, embora muitos considerem que não passou de ego inflamado. Todavia, hoje só se conhece seis hinos e 63 epigramas. Dentre os trabalhos mais conhecidos de Calímaco na poesia se destacaram seus poemas em homenagem aos monarcas Ptolomeu II e Ptolomeu III; de certa maneira, foi uma forma do poeta ganhar as graças dos dois soberanos, e ficar bem quisto diante deles.
“Adulador nato, ele não perdeu tempo
em ganhar as boas graças do faraó, lisonjeando-o com poemas como Hino a Zeus
e Hino a Délio, que lhe valeram a nomeação como poeta oficial da
corte. Calímaco então consolidou os favores reais com uma elegia ao casamento
do rei com a irmã, seguido pelo famoso hino fúnebre quando Arsinoé II faleceu,
no qual a descreve sendo levada aos céus pelos Dioscuros, Castor e Pólux”.
(FLOWER, 2010, p. 35).
Provavelmente seu poema mais famoso foi o que escrevera para a rainha Berenice II, esposa de Ptolomeu III, em respeito de uma história na qual a rainha teria cortado uma mecha de cabelo e a ofertada em agradecimento a deusa Afrodite, por ter permitido que Ptolomeu III retornasse seguro da guerra que havia ido empreender na Síria. A tal mecha teria sumido misteriosamente do templo, e aproveitando tal fato, Calímaco escreveu seu poema dizendo que a deusa transformara aqueles fios de cabelo em uma constelação, a qual foi chamada de Cabeleira de Berenice (Coma Berenices), nome que até hoje conserva.
Mas, além desses poemas para bajular os monarcas egípcios, Calímaco foi um crítico da poesia épica, especialmente de Homero, o ator mais famoso da época e de ainda hoje. Contudo, pelo que parece, suas críticas não foram não mordazes ao ponto de isso ter lhe causado problemas, pois outros poetas que ousaram falar mal de Homero, foram demitidos e banidos da cidade, pois os três primeiros Ptolomeu eram admiradores dos poemas homéricos.
“Apesar das críticas de seus
contemporâneos de que era um "poeta de poucos versos sem o estofo para
compor um poema verdadeiro", sua poesia era estética e refinada, e alguns
de seus poemas de amor eram pequenas obras-primas. De fato, mais tarde foi
considerado o mais moderno dos poetas gregos por seu espírito, graça e ironia.
Sua aversão a poemas épicos longos foi provavelmente a razão pela qual se
especializou em um tipo curto novo conhecido como epilion, um gênero que
se tornaria muito popular entre os poetas latinos. As gerações posteriores considerariam
Calímaco o personagem central da poesia elegíaca, e sua Aitia (Causas),
uma coleção de poemas escritos em dísticos, é conhecida por ter influenciado
Ovídio e Propércio”. (FLOWER, 2010, p. 36-37).
Outro nome que se destacou em meio as poetas que passaram a residir em Alexandria, foi Teócrito (320-250 a.C) o qual depois de ter visitado algumas regiões da Magna Grécia (termo usado para se referir as colônias e cidades de cultura grega, espalhadas pelo Mediterrâneo), ele parou em Alexandria já possuindo maturidade como pessoa e como artista. Acredita-se que Teócrito quando chegou a cidade egípcia, já fosse um poeta relativamente conhecido. No que se refere ao seu trabalho, muitas das suas poesias falavam sobre o amor, mas acima de tudo, ele procurou abordar temas do cotidiano urbano e rural. De fato sua poesia rural (bucólica) chegou a ser referência para poetas romanos, no entanto, a poesia de Teócrito era nua e crua, ele não idealizava muito a natureza e a paisagem, ele a representava com realismo, algo marcante de sua arte.
Outro nome que se destacou em Alexandria foi Zenódoto de Éfeso (c. 333/323-260 a.C). Zenódoto mudou-se para Alexandria durante o reinado de Ptolomeu I, foi designado pelo monarca para se tornar tutor de seu herdeiro, Ptolomeu II, como também assumiu a direção da biblioteca. Zenódoto foi mais gramático do que poeta, fora um crítico e pesquisador dos poemas homéricos, tendo escrito anotações e comentários, e até mesmo organizado uma edição da Ilíada e da Odisseia, embora que posteriormente recebeu duras críticas pelas edições que organizou. Além desse trabalho com as obras homéricas, Zenódoto também realizou outros estudos gramaticais e escreveu alguns poemas de pouco destaque. No que refere-se a sua atividade como bibliotecário, ele teria sido o responsável por dá início a organização do acervo.
Outro nome que se destacou em meio as poetas que passaram a residir em Alexandria, foi Teócrito (320-250 a.C) o qual depois de ter visitado algumas regiões da Magna Grécia (termo usado para se referir as colônias e cidades de cultura grega, espalhadas pelo Mediterrâneo), ele parou em Alexandria já possuindo maturidade como pessoa e como artista. Acredita-se que Teócrito quando chegou a cidade egípcia, já fosse um poeta relativamente conhecido. No que se refere ao seu trabalho, muitas das suas poesias falavam sobre o amor, mas acima de tudo, ele procurou abordar temas do cotidiano urbano e rural. De fato sua poesia rural (bucólica) chegou a ser referência para poetas romanos, no entanto, a poesia de Teócrito era nua e crua, ele não idealizava muito a natureza e a paisagem, ele a representava com realismo, algo marcante de sua arte.
“A
principal contribuição de Teócrito à poesia foi a maneira como escreveu sobre
pessoas comuns em ambientes comuns, sobre donas de casas e suas tarefas, sobre
pastores simples nos campos rústicos, em contraste com cortesões abandonados pelas amantes, vagando por jardins imaculados de um palácio real. Um exemplo
notável desse estilo terra-a-terra encontra-se em seu Idílio N° 15, no
qual descreve a vida cotidiana em Alexandria — pouco diferente da atual, parece
— com tal realismo que se tem a impressão que ele está falando dos hábitos e
costumes das pessoas que vivem lá hoje. Sim, ele era um poeta de talento e
inovador; inventou a chamada "poesia pastoral"”. (FLOWER, 2010, p.
31).
“As obras de Teócrito podem ser
divididas em quatro categorias: Bucólicas e Mimos; Épicos; Líricos e
Epigramas. Mas assim como há opiniões variadas sobre quais poemas
atribuídos a ele são realmente dele, os estudiosos ainda debatem quais, de
fato, foram escritos em Alexandria. Uma certa confusão surgiu também porque ele
escreveu em diversos dialetos gregos. Por exemplo, os Líricos são em
eólico tradicional, seu Castor e Pólux em jônico, as Bucólicas e
os Mimos em dórico, enquanto os Épicos são escritos em uma
mistura de todos os três dialetos com uma ou outra pitada de homérico”. (FLOWER,
2010, p. 31).
Outro nome que se destacou em Alexandria foi Zenódoto de Éfeso (c. 333/323-260 a.C). Zenódoto mudou-se para Alexandria durante o reinado de Ptolomeu I, foi designado pelo monarca para se tornar tutor de seu herdeiro, Ptolomeu II, como também assumiu a direção da biblioteca. Zenódoto foi mais gramático do que poeta, fora um crítico e pesquisador dos poemas homéricos, tendo escrito anotações e comentários, e até mesmo organizado uma edição da Ilíada e da Odisseia, embora que posteriormente recebeu duras críticas pelas edições que organizou. Além desse trabalho com as obras homéricas, Zenódoto também realizou outros estudos gramaticais e escreveu alguns poemas de pouco destaque. No que refere-se a sua atividade como bibliotecário, ele teria sido o responsável por dá início a organização do acervo.
“A primeira coisa que aprendemos
sobre os faraós do Egito antigo é que pertenciam a dinastias, começando com a
Dinastia 0, aquela do legendário Mena (c. 3200 a.C.), que uniu o Alto e o Baixo
Egito e fundou Mênfis, até a última, a XXXI Dinastia, a ptolemaica, que se
extinguiu quando Cleópatra se suicidou em 30 a.C. O homem que primeiro listou
esses governantes do Egito antigo foi um sacerdote e historiador chamado
Maneton, que também fazia parte do séquito de Ptolemeu I. Nativo do Egito e
único elemento local dentro de um círculo social exclusivamente helênico, era
um estranho nesse ninho cultural, pois eram raros os homens letrados egípcios que
alcançavam altos postos na corte ou no Museu e Biblioteca durante os trezentos
anos de domínio ptolemaico”. (FLOWER, 2010, p. 26).
Mâneton nasceu no século IV a.C na cidade de Tjebnuter (Sebenitos), tornou-se sacerdote e posteriormente historiador. Acredita-se que pelo fato de ter sido um sacerdote renomado, isso facilitou o seu acesso aos arquivos dos templos egípcios, de onde pudera consultar as fontes para seu trabalho. Só se conhecem dois livros de Mâneton o Egipcíaca (Aegyptiaca) o qual tratava-se de um livro sobre a história do Egito, o qual hoje está perdido quase inteiramente, pois só se conhece alguns trechos os quais foram mencionados por outros historiadores, como o caso do historiador judeu Flávio Josefo; e o segundo livro trata-se da Lista dos Reis, obra essa na qual ele escreveu a cronologia de todos os faraós e dividiu seus reinados em dinastias, totalizando 30 dinastias.
“Felizmente,
embora os três livros que compõem a lista dos reis tenham sido perdidos, dois
cronógrafos cristãos os registraram. Um era o viajante inveterado Sexto Júlio
Africano que se refere a eles em uma história do mundo desde a Criação até
Cristo (5.499 anos no total, segundo ele), e cujos cálculos de datas
foram adotados pela maioria das igrejas orientais. O outro era um monge
bizantino chamado Giórgio Sincelo que, enclausurado em sua cela monástica na
virada do século IX, elaborou listas para uma écloga cronográfica na qual
delineou a história do mundo, desde Adão até o imperador Diocleciano. Devido às
Listas de Reis, Maneton era aclamado como o cronista por excelência da
civilização do Egito antigo quando Champollion decifrou a chave hieróglifa com
a ajuda da Pedra de Roseta. Todas as histórias dos faraós são baseadas na
cronologia dinástica desse sacerdote egípcio, e as Listas de Reis permanecem
até hoje como um elemento básico de egiptologia”. (FLOWER, 2010, p. 27).
Outro historiador que se destacou nesse tempo foi Hecateu de Abdera, o qual diferente de Mâneton que era egípcio e tivera acesso as fontes de seu país, Hecateu era grego e se mudou para Alexandria a convite de Ptolomeu I, o qual o incumbiu de escrever uma história do Egito. A obra de Hecateu também em grande parte perdida para nós, diferenciava do livro de Mâneton, por introduzir um discurso e uma narrativa mais romantizada e voltada para a visão dos gregos sobre os egípcios. Críticos posteriores atacaram seu trabalho por identificar inverdades e erros. No entanto, é preciso entender que o livro de Hecateu foi uma obra voltada mais para agradar o rei Ptolomeu e sua Corte e os gregos, do que ser uma obra com o intuito histórico como Mâneton parece ter feito.
“Em nenhuma outra parte do mundo helenístico veio a existir uma instituição da estatura do Museu de Alexandria. A única biblioteca capaz de concorrer com a de Alexandria situava‑se em Pérgamo. E, em grande medida, graças a Biblioteca de Alexandria que hoje conhecemos as tragédias de Ésquilo, as comedias de Aristófanes, as odes de Píndaro, Baquílides e as historias de Heródoto e de Tucídides. Recursos culturais dessa natureza não podiam deixar de atrair os sábios do mundo grego. Com efeito, muitos deles foram a Alexandria e fizeram no Museu algumas das mais importantes descobertas da Antiguidade”. (RIAD, 2010, p. 174).
2) Geografia
Na matemática os gregos já possuíam experiência nos campos da aritmética e da álgebra, todavia ainda não havia surgido nada de inovador no campo da geometria até o século III a.C. O matemático e escritor egípcio Euclides (ca. 325/300 a.C - ca. 275/265 a.C) foi o responsável por trazer algumas inovações ao campo da geometria, tornando-se um dos principais matemáticos de seu tempo. Euclides nasceu no Egito em local ainda não determinado, embora alguns historiadores assinalem que ele teria nascido em Alexandria. Todavia, o jovem Euclides mudou-se com a família para Atenas, onde veio a estudar na Academia Platônica. Vários anos depois, ele foi convidado pelo rei Ptolomeu I a retornar a Alexandria e a formar uma escola de matemática, a qual ficou conhecida como Escola de Matemática de Alexandria.
“Eratóstenes se destaca como o homem
mais brilhante no Museu e na Biblioteca durante o século III a.C., e
possivelmente de toda a história da erudição alexandrina. Poeta, filósofo,
filólogo, matemático, astrônomo, cientista, geógrafo, crítico literário,
gramático e inventor, ele comandou a cultura alexandrina durante quarenta anos
como bibliotecário-chefe, posto que assumiu em 245 a.C. com apenas 31 anos no
lugar de Apolônio de Rodes, o protegido de Calímaco”. (FLOWER, 2010, p. 45).
Suposta representação de Eratóstenes. |
Embora Eratóstenes (ca. 285-194 a.C) chamado de o pentatleta apelido esse ganhado pelo fato de ter sido um homem atuante em várias áreas do saber, um homem de muitos saberes, ter deixado contribuições nos campos da matemática, gramática, astronomias, etc., um de seus maiores legados foi na geografia, onde realizou um experimento simples, mas bastante significante ao ponto de ter conseguido calcular a circunferência do planeta. Numa época onde parte da população global pensava que o mundo fosse plano, Eratóstenes já possuía o pensamento de que o planeta fosse esférico e decidiu calcular sua circunferência.
“Erastóstenes, o pai
da geografia científica, nasceu em Cirene, por volta de -285. Em torno de -245,
Ptolomeu ofereceu‑lhe um posto de bibliotecário, que veio
a ocupar ate sua morte. Seu mais notável empreendimento consistiu na tentativa
de medição da circunferência da Terra, fundamentando seus cálculos na relação
entre a sombra projetada no solstício do verão no relógio de sol de Alexandria
e a ausência de sombra em Siena (Assua). Concluiu que a circunferência da Terra
era de 252 mil estádios (isto e, 46.695 km), que ultrapassa em um sétimo a circunferência
real da Terra (40.008 km). Erastóstenes também chegou a catalogar 675 estrelas”.
(RIAD, 2010, p. 174).
Representação do experimento de Eratóstenes. |
“Interessado em preparar uma carta do globo, elaborou Eratóstenes,
igualmente, um mapa do Mundo das Ilhas Britânicas até o Ceilão (Sri Lanka) e do mar Cáspio até a Etiópia, baseando-se em cálculos de
latitudes e longitudes. Escreveu, a este propósito, A Medição da Terra, no qual
trata da distância do trópico e dos círculos polares. Em sua Geografia (a
primeira obra escrita com este título), em três livros, apresentou o conhecimento
geográfico até sua época. Referência especial deve ser feita ao pioneirismo de
Eratóstenes, de atribuir à Lua a ocorrência de marés. Seu trabalho só seria
superado muito mais tarde por Hiparco”. (ROSA, 2012, p. 170).
O mapa-múndi segundo a concepção de Eratóstenes. |
Hiparco de Alexandria (190-120 a.C) foi um importante astrônomo, matemático, cartógrafo e inventor, e um dos primeiros grandes críticos dos trabalhos de Eratóstenes. Hiparco chegou a discordar tanto do trabalho do homem que não chegou a conhecer, que escreveu um livro em três volumes intitulado Contra Eratóstenes, onde ele apresentava argumentos que apontavam erros nas obras de Eratóstenes.
“A Geografia matemática alcançou novo patamar com Hiparco, defensor
intransigente da observação astronômica para a determinação geográfica de um
lugar na superfície terrestre. Nesse sentido, criticou o trabalho cartográfico
de Eratóstenes, aludindo à utilização de métodos não rigorosamente científicos,
como aceitação de relatos de viajantes e de militares sobre as distâncias e as
direções. Sua preocupação pela exatidão e pelo rigorismo metodológico na
determinação das coordenadas geográficas coloca Hiparco como pioneiro na
Cartografia matemática, inclusive por seu novo sistema de projeção da latitude
e da longitude. Para os gregos, cujos mapas eram circulares, com a cidade de
Delfos no centro, o Mundo era dividido em três regiões independentes: a Europa
(a maior), a Ásia Ocidental e o Norte da África; os limites eram, ao Norte, o Círculo
Polar Ártico, e ao Sul, o Equador”. (ROSA, 2012, p. 170).
No que refere-se a geografia espacial que não fazia referência ao uso da matemática e da astronomia, mas ao relato do espaço físico, um dos nomes que se destacaram foi do geógrafo, historiador e filósofo grego Estrabão (63 a.C - c. 24 d.C), o qual visitou e morou algum tempo em Alexandria tendo deixado relatos sobre a vida cotidiana da cidade, no entanto, seu grande trabalho foi sua volumosa obra em 17 volumes intitulada Geografia.
Estrabão como imaginado no séc. XVI |
“A Geografia descritiva grega teria, ainda, um autor muito conhecido
e citado: Estrabão (63-19) que escreveu um Tratado
de Geografia, em 17 volumes, mas que deu crédito total às
informações de Homero, em detrimento dos dados mais precisos de Heródoto. Sua
obra é a única Geografia da Antiguidade que sobreviveu até o dia de hoje.
Considerado um pioneiro no estudo das rochas petrificadas e das conchas
fossilizadas, ao cabo de longos estudos teria chegado à conclusão de que muitas
regiões, hoje terra firme, já estiveram cobertas pelas águas do oceano, e que
estas poderiam elevar-se ou baixar em relação ao nível do mar: “todos admitirão
que em muitas épocas uma grande porção do continente foi coberta e de novo
posta a nu pelo mar”. Estrabão aventou, ainda, a hipótese de as erupções
vulcânicas agirem como válvulas de segurança para a Terra, dando vazão aos
vapores subterrâneos comprimidos, e defendeu ser a superfície terrestre sujeita
a constantes transformações. Mesmo na Grécia Antiga, apesar desse enfoque
científico, não houve, contudo, uma pesquisa sistemática no campo geológico,
sendo as explicações fragmentárias, desconexas e especulativas”. (ROSA, 2012,
p. 168-169)
Embora um trabalho denso, sua obra possuía várias imprecisões que seriam corrigidas posteriormente, mesmo assim, isso não desmerece seu esforço de criar um trabalho geográfico que reunisse o conhecimento do mundo conhecido pelos gregos.
Por fim, um dos últimos geógrafos que merecem destaque aqui foi Cláudio Ptolomeu (90-168). Além de geógrafo, foi matemático, astrônomo e cartógrafo. Ptolomeu é lembrado principalmente por ter escrito duas importantes obras: a Geografia e o Almagisto, sendo esse segundo livro dedicado a astronomia, do qual voltarei a falar mais a frente. Sua obra geográfica se assemelha um pouco a de Estrabão, embora, Ptolomeu não se dedicou a falar de geologia em seu trabalho, mas a relatar o espaço geográfico e a comentar aspectos sociais de vários povos. De Heródoto, Estrabão e Ptolomeu advêm alguns dos mais antigos relatos estrangeiros sobre os egípcios e outros povos africanos, como também de povos asiáticos.
Ptolomeu como imaginado no séc. XVI |
“A Geografia descritiva grega teria, ainda, um autor muito conhecido
e citado: Estrabão (63-19) que escreveu um Tratado
de Geografia, em 17 volumes, mas que deu crédito total às
informações de Homero, em detrimento dos dados mais precisos de Heródoto. Sua
obra é a única Geografia da Antiguidade que sobreviveu até o dia de hoje.
Considerado um pioneiro no estudo das rochas petrificadas e das conchas
fossilizadas, ao cabo de longos estudos teria chegado à conclusão de que muitas
regiões, hoje terra firme, já estiveram cobertas pelas águas do oceano, e que
estas poderiam elevar-se ou baixar em relação ao nível do mar: “todos admitirão
que em muitas épocas uma grande porção do continente foi coberta e de novo
posta a nu pelo mar”. Estrabão aventou, ainda, a hipótese de as erupções
vulcânicas agirem como válvulas de segurança para a Terra, dando vazão aos
vapores subterrâneos comprimidos, e defendeu ser a superfície terrestre sujeita
a constantes transformações. Mesmo na Grécia Antiga, apesar desse enfoque
científico, não houve, contudo, uma pesquisa sistemática no campo geológico,
sendo as explicações fragmentárias, desconexas e especulativas”. (ROSA, 2012,
p. 168-169)
3) Matemática
3) Matemática
Estátua de Euclides em Oxford. |
“A fama duradoura de Euclides deriva
basicamente de seu Elementos, uma vasta obra de quinze volumes nos quais
ele incorporou tanto sua própria teoria quanto a de mestres anteriores, como
Hipócrates de Quio, que escreveu, por volta de 460 a.C., o primeiro livro sobre
os elementos da matemática, e Têudio, cujo manual teria conhecido na Academia
em Atenas, já que Aristóteles se baseara nele para as suas Ilustrações. Também
estavam incluídos os teoremas de Eudóxio de Cnido, amigo de Platão, que
descobrira que o ano solar era apenas seis horas mais longo que os 365 dias e
foi o primeiro homem a dar uma explicação científica para o deslocamento dos
planetas. Mas sua fonte principal foi Pitágoras, e os primeiros cinco livros
dos Elementos representam a essência da geometria pitagórica, a tal
ponto que houve dúvidas sobre quem foi realmente responsável pelo famoso
postulado número 5 sobre as paralelas. Mas dado que Aristóteles não o menciona
em seus trabalhos, agora, em geral, se aceita que foi Euclides”. (FLOWER, 2010,
p. 20-21).
Cópia em papiro da proposição 5 do Livro II de Os Elementos. Datado por volta do ano 100 d.C. |
“O Livro I apresenta 23 definições
(ponto, linha, reta, superfície, plano, ângulo, figura, diâmetro, círculo, centro,
perpendicular, paralelas), 5 postulados (admitidos sem demonstração – por dois
pontos passa uma e uma só reta; um segmento de reta pode ser prolongado
indefinidamente para construir uma reta; dados um ponto qualquer e uma distância
qualquer se pode construir um círculo de centro naquele ponto e com raio igual à
distância dada; todos os ângulos retos são iguais; e por um ponto fora de uma
reta passa uma e uma só paralela a ela); 5 axiomas (evidentes sem demonstração –
coisas iguais a uma terceira são iguais entre si; se iguais forem somados a
iguais, os resultados serão iguais; se iguais forem subtraídos de iguais, os
resultados serão iguais; coisas coincidentes são iguais entre si; e o todo é
maior do que a parte) e 48 proposições. O Livro II contém 14 proposições, o III
um total de 37 proposições, e o IV apresenta 16 proposições. Os primeiros 4
Livros tratam das proposições mais importantes da Geometria plana, referentes
aos triângulos, paralelogramos, equivalências, Teorema de Pitágoras,
circunferências, inscrição e circunscrição de polígonos regulares. Os Livros V
(25 proposições) e VI (33 proposições) estudam a proporcionalidade e a teoria
da semelhança dos polígonos e suas aplicações. Os três Livros seguintes se
referem à Aritmética e “se constituem no mais antigo tratado conservado da
teoria dos números e o mais rigoroso até o início do século XIX. Não se deve
procurar aí a Aritmética prática, mas um conjunto de estudos teóricos sobre a
natureza do número inteiro”100; do Livro VII constam 39 proposições; do VIII,
um total de 27 proposições; e do IX, 36 proposições, inclusive as equivalentes ao
teorema fundamental da Aritmética e à infinidade de número primos. O Livro X,
com 115 proposições, é o mais extenso; cuida dos irracionais quadráticos e bi
quadráticos, inclusive aplicados a problemas de álgebra geométrica do segundo
grau. Os três últimos Livros são dedicados à Geometria do espaço, sendo que
o XI (39 proposições) e os XII e XIII, cada um com 18 proposições, apresentam
propriedades de Geometria plana e do espaço, e, também, estudos sobre os cinco
poliedros regulares. Posteriormente, foram acrescentados dois Livros, o XIV,
com 8 proposições, de Hipsicles, e o XV, ambos sobre poliedros”. (ROSA, 2012,
p. 148-149). (grifos meus)
A matemática de Euclides foi tão importante que por mais de mil e quinhentos anos foi a referência para os matemáticos ocidentais, até que no século XVII e XVIII começou a ser contestada. Mesmo assim, ainda hoje nas escolas ocidentais a geometria euclidiana é ensinada. Outros de alguns dos trabalhos de Euclides foram: Os Dados (complemento dos Elementos), Óptica, Lugares de
Superfície, Pseudaria, Porismas e Os Fenômenos (sobre Astronomia).
Não menos importante, outro proeminente matemático que sucedeu Euclides e de certa forma tenha ficado até mais famoso, foi Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C), matemático, inventor, físico e astrônomo, considerado um dos maiores matemáticos da História, Arquimedes soube muito bem dá continuidade ao legado de Euclides, e foi ainda mais além.
Representação hipotética de Arquimedes de Siracusa, considerado um dos maiores matemáticos da História. |
“Cronologicamente, segue-se a
Euclides o genial Arquimedes (287- 212), considerado por muitos como o maior
cientista da Antiguidade. Além de pioneiro na Mecânica, na Estática e na
Hidrostática, foi matemático, geômetra e astrônomo. Homem versátil e prático
notabilizou-se, igualmente, como inventor (parafuso de Arquimedes). Morto por
um soldado romano quando da ocupação de Siracusa, seu epitáfio, a seu pedido,
foi “uma esfera inscrita em um cilindro”, em homenagem ao que julgava ser sua
maior descoberta: a relação entre os volumes dos dois sólidos”. (ROSA, 2012, p.
151).
O trabalho de Arquimedes no campo da matemática e da física foi vasto, mas enumerarei algumas das suas mais famosas obras:
- Sobre o equilíbrio dos planos - vol. I: trabalho no campo da mecânica, de onde consta seu famoso estudo sobre a Lei da Alavanca por Princípios Estáticos, onde Arquimedes dizia que poderia-se mover pesos grandes com pouco esforço, utilizando-se uma alavanca e um ponto de apoio onde essa ficaria. Foi daí que veio sua famosa frase: "Dei-me uma alavanca, e moverei o mundo".
- A quadratura da parábola: trabalho de geometria e também de mecânica.
- Sobre o equilíbrio dos planos - vol. II;
- Da Esfera e do Cilindro: obra da geometria, onde Arquimedes mostrou as diferenças entre esferas e cilindro, mas também demonstrou matematicamente que uma esfera possui uma área quatro vezes maior do que um círculo máximo.
- Das Espirais: nesse trabalho Arquimedes utilizou os princípios da geometria analítica e do cálculo infinitesimal para estudar problemas e as propriedades das espirais.
- Sobre os corpos flutuantes (2 vol): uma de suas obras mais conhecidas, onde enunciou a lei do empuxo ou Principio de Arquimedes que basicamente diz: “um corpo mergulhado em um fluido em repouso sofre uma impulsão de baixo para cima igual ao peso de igual volume do mesmo fluído”. Tal estudo foi um dos primeiros do campo da física hidrostática.
- Da Medida do Círculo: no qual se utilizou do método de exaustão, de Eudoxo, para demonstrar que a área de um círculo é igual à de um triângulo cuja base é o comprimento da circunferência e cuja altura é o raio do círculo.
- O Contador de Areia ou Arenário: consistiu no estudo de um problema matemático no qual o problema se questionava quantos grãos de areia seriam necessários para preencher totalmente o universo. É evidente que o tamanho no universo ainda hoje é desconhecido e naquele tempo ele era considerado bem menor, todavia, o cálculo matemático grego não possuía formas de resolver esse problema, para isso, Arquimedes criou um teorema para se trabalhar com números grandes.
- Carta a Eratóstenes: consiste num trabalho teórico onde Arquimedes explicava sua metodologia de estudo e pesquisa.
“Arquimedes é considerado o maior
matemático da Antiguidade e o mais genial cientista da Grécia Antiga. Abriu
caminhos na Geometria sólida, lançou as bases do Cálculo integral, criou um
sistema para representar os números grandes. Utilizando polígono de 92 lados, demonstrou
o valor de pi
(π) (ser menor que 3 1/7 e maior que 3 10/71). Seus
trabalhos pioneiros na Mecânica, na Estática e na Hidrostática o tornam, para
muitos, o verdadeiro pai da Física matemática”. (ROSA, 2012, p. 154).
Seguindo a chamada tríade dourada da geometria helênica, o terceiro entregante foi Apolônio de Perga (262-194 a.C), este não deve ser confundido com Apolônio de Rodes, o qual foi um poeta. Apolônio de Perga foi um notável matemático e astrônomo, infelizmente muito do seu trabalho não teve o mesmo destino das obras de Euclides e Arquimedes as quais conseguiram sobreviver a vários problemas ao longo do tempo, mesmo assim, o que conseguiu sobreviver a estes séculos garantiu a posição de Apolônio entre os grandes matemáticos de seu tempo, ao ponto de que alguns o chamaram de "O Grande Geômetra".
Seguindo a chamada tríade dourada da geometria helênica, o terceiro entregante foi Apolônio de Perga (262-194 a.C), este não deve ser confundido com Apolônio de Rodes, o qual foi um poeta. Apolônio de Perga foi um notável matemático e astrônomo, infelizmente muito do seu trabalho não teve o mesmo destino das obras de Euclides e Arquimedes as quais conseguiram sobreviver a vários problemas ao longo do tempo, mesmo assim, o que conseguiu sobreviver a estes séculos garantiu a posição de Apolônio entre os grandes matemáticos de seu tempo, ao ponto de que alguns o chamaram de "O Grande Geômetra".
“Chegaram a nossos dias apenas os sete primeiros Livros (de um
total de 8) de As Cônicas, estudo definitivo sobre os cones. Alguns matemáticos, antes
de Apolônio, trataram do assunto, como Eudoxo, Aristeu, Menecmo, Euclides e
Arquimedes. Menecmo (século IV) chegou, mesmo, a aplicar seus conhecimentos
sobre as curvas das secções do cone em seus estudos sobre a duplicação do cubo.
Foi Apolônio quem esgotou, com os recursos da época, a teoria dessas curvas,
com o estudo sobre as secções de cone (as de ângulos agudos no vértice são as
elipses, as de ângulos retos são as parábolas, e as de ângulos obtusos são as
hipérboles) e quem introduziu, na terminologia matemática, os termos elipse,
parábola e hipérbole, obtidas a partir de secções planas de um cone duplo. A
obra contém um total de 480 proposições rigorosamente demonstradas sobre a
elipse, a parábola e a hipérbole. Os estudos de Apolônio sobre essas curvas
viriam a ter aplicação no século XVII, com Kepler, ao substituir as órbitas
circulares dos planetas pela elíptica”. (ROSA, 2012, p. 152).
Alguns dos trabalhos conhecidos de Apolônio foram:
- As Cônicas: sua obra mais famosa;
- Cortar uma área;
- Sobre Secção Determinada;
- Tangências: livro no qual Apolônio analisou um problema envolvendo círculos e retas, de forma a descobrir suas tangentes aos mesmo tempo. Tal livro está perdido, seu conhecimento advém da menção de outros autores, logo, não se sabe qual a explicação dada por Apolônio, embora tal problema possa ser resolvido de várias formas.
- Inclinações;
- Resultados Rápidos;
- Dividir uma Razão;
- Lugares planos.
“O período áureo da Geometria helênica correspondeu aos trabalhos de
Euclides, de Arquimedes e de Apolônio, expoentes da chamada Geometria
euclidiana (plana e no espaço), consubstanciada no célebre livro Elementos, que
dominaria, de forma absoluta e incontestável, por dois mil anos, a Geometria,
até o surgimento da chamada Geometria não euclidiana, descoberta independentemente
por Lobatchesvki, Bolyai e Gauss, na segunda metade do século XIX. Alguns
historiadores da Matemática apresentam a evolução da Geometria grega por meio
de dois grandes sistemas: o pitagórico e o euclidiano”. (ROSA, 2012, p. 145).
Além destes três matemáticos que formaram a tríade dos geômetras, deve-se ressalvar o papel de Eratóstenes e Hiparco. Eratóstenes além de ter calculado a circunferência da Terra, também escreveu um livro intitulado Crivo, no qual ele apresentara um algoritmo e um método para se calcular números primos. O método é tão simples que ainda hoje é utilizado e até mesmo embasou a linguagem de programação.
“Hiparco, reputado como o maior astrônomo da Antiguidade, deve ser
citado num capítulo sobre Matemática pela aplicação que fez da Geometria em
seus estudos astronômicos; escreveu em doze livros um tratado sobre as cordas
do círculo, introduziu na Grécia a divisão do círculo em 360 graus divisíveis,
cada um em 60 minutos de 60 segundos e empregou proposições de Trigonometria
esférica para calcular arcos em Astronomia por outros arcos dados por meio de
tábuas”. (ROSA, 2012, p. 153).
Um último nome a ser mencionado foi Herão de Alexandria (65-125). Tendo vivido após a fase dourada dos estudos matemáticos alexandrinos, Herão é considerado por alguns como o último expoente significante da Escola de Matemática de Alexandria. Matemático, físico, escritor e inventor, Herão as vezes é mais lembrado por algumas das suas invenções, assunto esse que será abordado adiante, mas no que refere-se a matemática sua obra intitulada Geométricas, consistiu num trabalho no qual analisou o cálculo das formas de figuras geométricas de 3 a 12 lados, assim como também estudos círculos, parábolas e elipses, como também desenvolveu fórmulas para se calcular o volume de vários sólidos como prismas, pirâmides, cones, cilindros, etc. As Geométricas consistia num trabalho de estudo em geometria plana e espacial.
“Naturalmente, suas obras mais
numerosas foram sobre geometria, e a mais importante delas foi Métrica, descoberta
em 1896, escondida em um manuscrito em Istambul. Métrica descreve, entre
outros princípios extremamente eruditos, métodos gerais para a aproximação da
raiz cúbica de um número não cúbico, para o cálculo de triângulos, retângulos,
polígonos e círculos, bem como de que maneira chegar à capacidade de cubos,
pirâmides, esferas etc. Tudo isso mostra que ele era mais que um mestre nos
truques matemáticos de sua profissão, além de um meritório sucessor de Euclides
e Arquimedes”. (FLOWER, 2010, p. 63).
“É de Euclides a demonstração do
chamado Teorema Fundamental da Aritmética, segundo o qual todo número inteiro “n”
maior que 1 (um) pode ser representado de modo único como um produto de fatores
primos. Arquitas (Médias Aritmética e Geométrica), Eratóstenes (Crivo), Eudoxo (Teoria
das Proporções), Euclides (Elementos, Números Primos e Teorema Fundamental),
Arquimedes (Números Irracionais) e Apolônio (Cones), entre outros, deram
contribuições valiosas no campo da Aritmética”. (ROSA, 2012, p. 143).
4) Medicina
Na história da medicina grega antiga, Hipócrates de Cós (460-370 a.C) o chamado "Pai da Medicina" é o médico mais lembrado, todavia, durante a fase alexandrina surgiram outros médicos que se destacaram, embora em seu tempo tiveram que confrontar problemas sociais. Rosa [2012] comenta que tanto na época de Hipócrates como posteriormente, a dissecação de cadáveres humanos era algo mal visto. Tal fato dificultou o desenvolvimento da medicina grega, a qual teve que tomar da medicina egípcia certos conhecimentos, pois a prática da mumificação permitiu os egípcios de certa forma estudar a anatomia e a fisiologia do corpo humano.
No que diz respeito ao período alexandrino, Herófilo da Calcedônia (335-280 a.C) ao lado de Erasístrato (310/304-250? a.C) fundaram a Escola de Medicina de Alexandria, a qual se tornou referência para o mundo helênico.
Por mais que a dissecação de corpos humanos não fosse uma prática bem aceita até mesmo pelos médicos, Herófilo tivera a sorte de que no Egito tal prática era aceita, pois como foi dito, os egípcios a séculos vinham dissecando seus mortos para a mumificação. Logo, foi em Alexandria que Herófilo encontrou espaço para seus estudos anatômicos e também segundo alguns ganhou um rival, Erasístrato o qual posteriormente fundou sua própria escola de medicina.
5) Astronomia
Antes dos gregos se preocuparem e debater problemas cósmicos, a astronomia e a astrologia já eram estudadas milhares de anos antes. São conhecidos estudos e escritos astronômicos e astrológicos da Babilônia, Suméria, China e Índia datando de mais de três mil anos de idade. Mas o que se refere ao período alexandrino ptolomaico, um dos primeiros astrônomos que se destacaram foi Aristarco de Samos (310-230 a.C) o qual também era matemático.
Pouco se conhece do trabalho de Aristarco pelo fato de seus escritos terem se perdido, no entanto, o único livro seu conhecido chamava-se Sobre os Tamanhos e Distâncias do Sol e da Lua, onde através de observações a olho nu e cálculos matemáticos, Aristarco calculou a distância da Terra a Lua, da Terra ao Sol, e o comprimento dos dois astros.
4) Medicina
Na história da medicina grega antiga, Hipócrates de Cós (460-370 a.C) o chamado "Pai da Medicina" é o médico mais lembrado, todavia, durante a fase alexandrina surgiram outros médicos que se destacaram, embora em seu tempo tiveram que confrontar problemas sociais. Rosa [2012] comenta que tanto na época de Hipócrates como posteriormente, a dissecação de cadáveres humanos era algo mal visto. Tal fato dificultou o desenvolvimento da medicina grega, a qual teve que tomar da medicina egípcia certos conhecimentos, pois a prática da mumificação permitiu os egípcios de certa forma estudar a anatomia e a fisiologia do corpo humano.
“O estudo dos órgãos e de suas funções ficaria em um segundo
plano. A Medicina continuaria a se basear, durante muitos séculos, numa
Anatomia medíocre, cheia de erros, e numa Fisiologia arbitrária, devido,
principalmente, à ausência de dissecação”. (ROSA, 2012, p. 188).
No que diz respeito ao período alexandrino, Herófilo da Calcedônia (335-280 a.C) ao lado de Erasístrato (310/304-250? a.C) fundaram a Escola de Medicina de Alexandria, a qual se tornou referência para o mundo helênico.
“Herófilo era
originário da Calcedônia, uma antiga cidade marítima da Ásia Menor, mas
estudara medicina em Cós, a ilha onde Hipócrates fundara a primeira Escola de
Medicina Científica duzentos anos antes. Desconhece-se por que ou quando
partiu, pois quase não existem registros de sua juventude. Provavelmente foi
atraído para o Egito, como vários outros estudiosos, pelas vantagens
financeiras e científicas que a Alexandria ptolemaica oferecia. Tudo o que
sabemos é que na virada do século ele já havia estabelecido para si uma
reputação de primeira classe e era benquisto na corte”. (FLOWER, 2010, p. 23).
Por mais que a dissecação de corpos humanos não fosse uma prática bem aceita até mesmo pelos médicos, Herófilo tivera a sorte de que no Egito tal prática era aceita, pois como foi dito, os egípcios a séculos vinham dissecando seus mortos para a mumificação. Logo, foi em Alexandria que Herófilo encontrou espaço para seus estudos anatômicos e também segundo alguns ganhou um rival, Erasístrato o qual posteriormente fundou sua própria escola de medicina.
“Herófilo (335-280) é considerado como o fundador da Anatomia. Aluno
de Praxágoras (350-? – defensor da teoria humoral) e de Crisipos, investigou o
cérebro, o sistema nervoso, o sistema de veias e artérias, os órgãos genitais e
o olho. Seu trabalho foi perdido no incêndio da Biblioteca, no ano 48,
provocado pelas tropas de Júlio César, sendo que se conhece sua obra por
testemunho de Galeno, que a teria manuseado. Herófilo descreveu a anatomia do
cérebro e dos nervos, identificou o cérebro como o centro do sistema nervoso (e
não o coração), descobriu os nervos do cérebro até a coluna vertebral,
distinguiu as veias das artérias e os nervos dos tendões. Estudou as pulsações
arteriais, inclusive com o uso de clepsidra (relógio d’ água). Acompanhou o
nervo ótico do olho ao cérebro, se interessou pelo fígado, pelo baço e pelos
intestinos (deu o nome de duodeno à primeira divisão do intestino delgado) e
descreveu corretamente os órgãos genitais, inclusive o útero e o ovário.
Observou e deu nome à glândula prostática. Descobriu a chamada trompa de Falópio,
escreveu sobre dieta alimentar e recomendou a ginástica como um saudável exercício”.
(ROSA, 2012, 190).
Como dito, o seu trabalho escrito se perdeu em um dos incêndios da biblioteca, mas graças a Galeno e outros médicos seu conhecimento e pesquisa foi preservado e pôde chegar até os dias de hoje. A escola de Herófilo manteve-se em alta até pelo menos o século II d.C quando começou a declinar, assim como outras instituições em Alexandria. No entanto, seus trabalhos sobre a anatomia humana lhe renderam por parte de alguns o epíteto de o "Pai da Anatomia humana".
No que diz respeito a Erasístrato, este também estudou o corpo humano, mas ao invés de seguir pelo viés anatômico como feito pelo seu colega de profissão, Erasístrato dedicou-se ao estudo da fisiologia, e neste caso seus estudos sobre o cérebro e o coração foram um dos mais avançados em seu tempo. De certa forma Erasístrato teria sido um dos primeiros neurologistas e cardiologistas da História.
“Outro
anatomista grego, menos conhecido que Herófilo, que também se estabeleceu em
Alexandria naquela época, foi Erasístrato. Ele é lembrado por seus estudos
sobre o cérebro, cujo funcionamento conhecia melhor do que qualquer outro em
sua época, e por suas investigações sobre a bile, o fígado, o pâncreas e
coração humano. E também porque inventou um pequeno instrumento, um tanto
desconfortável, chamado cateter, um tubo delgado que os médicos às vezes ainda
utilizam para examinar as chamadas cavidades corporais ou, em termos mais
prosaicos, para retirar urina da bexiga”. (FLOWER, 2010, p. 25).
“Erasístrato avançou em relação às descobertas de Herófilo, sobre
o cérebro, dividindo-o em cérebro e cerebelo; comparou as circunvoluções do cérebro
humano com o de outros animais, concluindo que a complexidade das formações
anatômicas se relacionava diretamente com a inteligência. Interessou-se pelos
nervos, estabelecendo a distinção entre nervos motores e nervos sensoriais.
Rejeitou, enfaticamente, a teoria humoral (Empédocles e Hipócrates), que,
aceita por Galeno, seria predominante por quinze séculos. Estudou o coração e o
sistema vascular, em suas pesquisas sobre a Fisiologia da circulação,
reconhecendo o papel fundamental do coração na circulação do sangue pelas veias
(mas não nas artérias, que continham apenas ar) e as contrações do coração. Supôs,
corretamente, que as veias estivessem unidas às artérias por vasos extremamente
finos, razão pela qual, na ocorrência de uma abertura da artéria, o ar aí
contido expelia o sangue da veia mais próxima”.(ROSA, 2012, p. 191).
Erasístrato defendia o argumento que as doenças não eram causadas por causas sobrenaturais ou divinas, mas por fatores físicos. Um desses fatores seria o consumo de alimentos ruins e o acúmulo de substância nocivas no organismo. De certa forma ele não estava totalmente errado, embora tenha creditado algumas doenças sendo oriundas de tais fatores. Ele não foi o primeiro a sugerir isso, pois Herófilo e até mesmo Hipócrates haviam também assinalado que as doenças deveriam ser fruto de fatores naturais, e não motivadas pela vontade dos deuses ou por magia ou pragas. Por exemplo, Hipócrates salientava que o consumo de água de má qualidade poderia causar problemas estomacais, assim como, respirar-se um ar poluído causaria tosses, espirros, e outros problemas. Isso pode parecer banal para nós hoje em dia, mas naquele tempo era algo inovador.
No século I a.C, durante o reinado do rei Ptolomeu XII Neo Dioniso, o qual foi pai da famosa rainha do Egito, Cleopátra VII, viveu nessa época um dos últimos grandes médicos das escolas alexandrinas antes da era cristã. Seu nome era Héraclides de Taranto.
“Heráclides
tem o mérito de ter estabelecido a ponte entre eles, por um lado, exercitando a
anatomia humana e desenvolvendo novas técnicas cirúrgicas de acordo com a
doutrina herofiliana e, por outro, mantendo os métodos experimentais tão caros
aos empiricistas”. (FLOWER, 2010, p. 68).
Entre outros médicos que conviveram e vieram após Herófilo e Erasístrato o último que se destacou foi Cláudio Galeno (ca. 129/130 - ca. 217/220), o qual foi um importante médico grego durante o império romano chegando a ser médico pessoal do imperador Marco Aurélio (121-180). Galeno deixou vários escritos e estudos, se tornando depois de Hipócrates o mais conhecido médico da Antiguidade Clássica. Embora tenha escrito bastante, muito do que escreveu possuía imprecisões e erros motivados por enganos próprios ou pela limitação do conhecimento da época, mesmo assim, sua medicina serviu de referência para a medicina europeia por mais de mil anos, onde apenas no século XVI começou-se a contestar a medicina galeana.
Representação de Galeno imaginada no século XIX. |
“O mais ilustre representante da Escola eclética foi o célebre Galeno,
de Pérgamo (130 ? – 200 ?), que escreveu um grande número de obras, das quais
mais de 130 (em cinco rubricas: Introdução
à Medicina, Comentários
sobre Hipócrates, Anatomia e Fisiologia, Diagnóstico e Etiologia, e Higiene, Dieta, Farmacologia e
Terapêutica) foram preservadas. A autoridade de Galeno
manteve-se sem oposição e sem desafio por cerca de 1500 anos, até os trabalhos
de Vesálio, na Anatomia, e de Harvey, na Fisiologia”. (ROSA, 2012, p. 192).
“O sistema fisiológico de Galeno continha muitas imperfeições. Acreditava
que o sangue era produzido no fígado pelos alimentos ingeridos (e transformados
no estômago) e se distribuía pelo corpo através do sistema venoso. Descobriu a
presença de sangue nas artérias, que o conduziriam até o cérebro, que, por sua
vez, o transformaria em sopro animal ou psíquico, que seria distribuído pelos
nervos. O sistema circulatório de Galeno contemplava, assim, a interferência de
três órgãos (fígado, coração e cérebro), que injetavam, respectivamente, no
corpo diferentes sopros (natural, vital e animal) que fluíam pelo corpo através
dos canais venoso, arterial e nervoso, respectivamente. Defendeu, contudo, ser
o cérebro o centro da inteligência e do controle do corpo humano. (ROSA, 2012,
p. 191).
“Seus trabalhos em Anatomia foram executados tendo por base dissecações
em animais (cães, porcos, macacos e cabras), já que as de humanos estavam
proibidas. Estudou bastante bem os músculos, os nervos e os ossos, graças à sua
condição de médico da escola de gladiadores de Pérgamo. Descreveu corretamente
o fluxo urinário pelos ureteres até a bexiga e demonstrou extensão da paralisia
provocada por cortes da medula espinhal. Galeno localizou, ainda, várias
qualidades da alma em diferentes partes do corpo, e acreditava que os órgãos
haviam sido criados de forma perfeita; em consequência, sua obra seria aceita
pela Igreja e considerada infalível, tornando-se, praticamente, no único texto sobre
Anatomia médica na Europa”. (ROSA, 2012, p. 192).
5) Astronomia
Antes dos gregos se preocuparem e debater problemas cósmicos, a astronomia e a astrologia já eram estudadas milhares de anos antes. São conhecidos estudos e escritos astronômicos e astrológicos da Babilônia, Suméria, China e Índia datando de mais de três mil anos de idade. Mas o que se refere ao período alexandrino ptolomaico, um dos primeiros astrônomos que se destacaram foi Aristarco de Samos (310-230 a.C) o qual também era matemático.
Pouco se conhece do trabalho de Aristarco pelo fato de seus escritos terem se perdido, no entanto, o único livro seu conhecido chamava-se Sobre os Tamanhos e Distâncias do Sol e da Lua, onde através de observações a olho nu e cálculos matemáticos, Aristarco calculou a distância da Terra a Lua, da Terra ao Sol, e o comprimento dos dois astros.
“Aristarco utilizou cálculos geométricos e observação astronômica
para obter os tamanhos e distâncias relativas do Sol e da Lua: i) a distância entre
o Sol e a Terra é, aproximadamente, 19 vezes maior que a distância entre a
Terra e a Lua; o número correto (atual) é 388; ii) o diâmetro do Sol é,
aproximadamente, 6,8 vezes maior do que o diâmetro da Terra; o número correto é
109; iii) o diâmetro da Lua é, aproximadamente, 0,36 o diâmetro da Terra; o
número correto é 0,27. Os erros em i e ii acima não são matemáticos, mas devido
a dados astronômicos, cujas medidas eram feitas a olho nu”. (ROSA, 2012, p.
161).
Outro trabalho importante de Aristarco foi sua concepção de um modelo heliocêntrico, no qual defendia que a Terra e os demais planetas orbitavam o Sol. No entanto sua teoria recebeu fortes críticas e oposição, pois na época não havia como provar isso, além de que sua teoria ia de encontro a concepção de universo proposta por Aristóteles que até então era a principal referência dos astrônomos gregos. Foi apenas no século XVI que Nicolau Copérnico defendeu o modelo proposto por Aristarco, e no século seguinte foi a vez de Galileu Galilei defender Copérnico, algo que lhe rendeu duas acusações pela Inquisição Romana.
“Na
verdade, Aristarco fez mais do que simplesmente afirmar que a Terra girava em
torno do Sol. Ele descreveu sua rota, que seguia um círculo zodiacal oblíquo,
explicando assim as estações, e até forneceu novos cálculos para determinar a
duração do ano solar”. (FLOWER, 2010, p. 43).
Seguindo Aristarco, volta novamente a ser mencionado Apolônio de Perga o qual deixou uma significante contribuição na astronomia. Conta-se que ele recebeu o apelido de Epsilon (tal letra grega se parece com a lua crescente) por sua obsessão pela Lua. No que se refere a astronomia, Apolônio teria proposto um modelo geométrico no qual alegava que os planetas giravam em ciclos e epiciclos. Tal modelo influenciou o geógrafo Ptolomeu a embasar sua teoria geocêntrica.
Representação do modelo de ciclos e epiciclos proposto por Apolônio de Perga. |
Após Aristarco e Apolônio um astrônomo que se notabilizaria foi Hiparco de Niceia (190-120 a.C) anteriormente já mencionado. Hiparco foi um respeitável matemático, astrônomo, cartógrafo e inventor, embora seja mais conhecido por seus trabalhos na astronomia.
“Na evolução da Astronomia helênica, Hiparco de Niceia (190-126) é
considerado o luminar máximo, o maior astrônomo da Antiguidade, o grande
observador, o verdadeiro criador da ciência celeste, figura de importância
vital. Para Verdet, Hiparco inaugurou o grande período da Astronomia geométrica
grega. Pouco se sabe de sua biografia, e é a Ptolomeu que se deve o
conhecimento de seu trabalho. Suas notáveis realizações astronômicas nos campos
do movimento planetário, do comportamento estelar, da duração do ano e das
distâncias do Sol e da Lua só foram possíveis graças à invenção da Trigonometria,
que lhe permitiu progressos nos cálculos. Hiparco redigiu um tratado, em doze
livros, de cálculo das cordas com a elaboração de uma tabela necessária à
resolução numérica dos problemas astronômicos, vale dizer, dos triângulos
esféricos e planos correspondentes (ao invés da corda, usa-se, hoje, o seno e outras
linhas trigonométricas, como a tangente e a secante, que vieram enriquecer e
facilitar os cálculos trigonométricos)”. (ROSA, 2012, p. 161-162).
Hiparco também foi responsável por invetar sua versão do astrolábio, chamada astrolábio plano, instrumento utilizado para descobrir as coordenadas geográficas tendo como referência a posição de certas estrelas. Antes da bússola a qual foi inventada na China, chegar na Europa, o astrolábio ainda era utilizado, e mesmo com a chegada da bússola ele ainda continuou a ser empregado até o século XIX. É importante ressalvar que o astrolábio sofreu atualizações ao longo dos séculos.
Também é atribuído a Hiparco de acordo com o historiador romano Plínio, o Velho, a criação de um catálogo estelar no qual possuía a localização de pelo menos 850 estrelas. Mas, além de criar esse catálogo e localizar as estrelas. No entanto, o grande feito de Hiparco foi classificá-las com base em sua luminosidade a olho nu, no que foi chamado de luminosidade solar, onde as estrelas eram divididas em seis classes, da mais brilhante para a mais opaca. Ainda hoje sua classificação é utilizada na astronomia.
“A descoberta da precessão dos equinócios é considerada por muitos
como sua maior obra. Foi o primeiro a formular a hipótese de que todas as
estrelas fixas se movem em relação aos pontos equinociais (ponto da órbita da
Terra em que se registra igual duração do dia e da noite, o que ocorre nos dias
21 de março e 23 de setembro). Em virtude da saliência no equador, a Terra
oscila levemente na sua revolução em torno de seu eixo. O efeito dessa
oscilação é que o polo da Terra não está sempre na mesma posição, mas se move
em círculo, completando uma revolução em 26 mil anos. O efeito dessa oscilação
produz leve alteração na posição do Sol e dos planetas, quando vistos da Terra
de encontro ao fundo das estrelas fixas. Foi esta alteração que Hiparco notou”.
(ROSA, 2012, p. 162).
Após Hiparco o período dourado da astronomia em Alexandria caiu consideravelmente. Por mais que houve alguns outros astrônomos com trabalhos significativos, nada chegou próximo ao que Hiparco e seus antecessores fizeram. No entanto, vale fazer algumas menções aqui; a primeira diz respeito novamente a Cláudio Ptolomeu, importante geógrafo de seu tempo, mas que deixou um trabalho no campo da astronomia chamado pelos árabes de Almagesto (o título original é desconhecido, todavia, a obra é mais conhecida pelo seu título árabe, pois foi graças aos árabes que tal importante trabalho manteve-se intacto na História).
“O Almagesto, verdadeira suma da Astronomia antiga, data de 140, foi um
sucesso para salvar as aparências e foi reconhecido como tal, além de expor, de
forma clara e sistemática, um modelo matemático dos movimentos dos planetas. Trata-se
de um vasto compêndio do conhecimento astronômico grego até seus próprios dias,
com os resultados de seu trabalho sobre a teoria dos movimentos planetários, assim
como um catálogo das posições de 1.022 estrelas e uma nova e ampla tábua de
cordas (Trigonometria). O Almagesto é, na realidade, uma enciclopédia de aplicação da Geometria,
inclusive esférica, à Astronomia, obra que dominou, inconteste, todo o campo dessa
Ciência até Copérnico e Kepler. O sistema de Cláudio Ptolomeu consta de três
componentes: a Cosmologia, a Matemática (Geometria e Trigonometria) e uma
Astronomia, com um conjunto de medidas geométricas, de quadros de números e de regras
de cálculos, que permitiam localizar, num dado momento, os astros errantes
(planetas, Sol e Lua) sob as estrelas fixas. O trabalho de Ptolomeu foi
tributário de um grande cabedal de conhecimento astronômico e do pensamento
filosófico da Grécia: a Matemática de Pitágoras e de Apolônio, a Filosofia e a
Matemática (Geometria) de Platão, a Filosofia e a Física (Dinâmica) de
Aristóteles, e a Astronomia de Hiparco”. (ROSA, 2012, p. 165).
O Almagesto foi a principal referência astronômica e cosmológica na Europa até o século XVI quando Copérnico o contestou, e no século seguinte foi a vez de Kepler, Galileu, Newton entre outros. De fato, o chamado modelo ptolomaico ou modelo geocêntrico proposto por Ptolomeu, defendia que a Terra era imóvel e se encontrava no centro do sistema solar, sendo orbitada ela Lua, o Sol, e os demais planetas e estrelas. De fato sabe-se que isso não é verdade, mas em detrimento da teoria de Aristarco de Samos, a de Ptolomeu foi bem mais aceita e se foi propagada como a "verdade" por longos séculos na Europa e em partes da Ásia Menor e da África sob o domínio árabe.
O modelo geocêntrico de Ptolomeu em uma concepção do século XVI. |
Outros dois nomes a serem mencionados mas que não realizaram grandes descobertas advêm de pai e filha. Téon de Alexandria (335-395) e Hipácia de Alexandria (ca. 370-415). Téon foi um matemático e astrônomo, atuou como professor e chegou a ser diretor do museu, mas é principalmente lembrado por suas análises críticas e comentários do Almagesto de Ptolomeu, dos Elementos e Óptica de Euclides.
“Com
suas observações sobre os eclipses solares e lunares em 365, Teão encerrou o
capítulo dos observadores de estrelas alexandrinos, e depois disso pouca coisa
foi registrada até que os matemáticos árabes entrassem em campo mais de três
séculos depois. Mas talvez seu maior feito tenha sido a educação da filha. Em consequência
dela, a cultura alexandrina, que na época dava seus últimos suspiros, foi capaz
de respirar um pouco mais graças à liderança de Hipácia”. (FLOWER, 2010, p.
123).
No que refere-se a Hipácia ou Hipátia influenciada pelo pai, ela recebeu uma educação exemplar tornando-se uma das poucas mulheres estudiosas de seu tempo a participar da vida pública acadêmica. Hipácia estudou em Atenas com o filósofo neoplatônico Plutarco de Atenas (ca. 350-431 a.C) o qual se tornou seu principal mestre iniciando Hipácia na filosofia neoplatônica. Após concluir seus estudos ela retornou a Alexandria, e além da filosofia mostrou interesse por estudar matemática e astronomia, embora seja mais conhecida como filósofa e matemática.
Hipácia de Alexandria, Elbert Hubbard, 1908. |
Infelizmente seus trabalhos filosóficos, matemáticos e astronômicos se perderam na História, mas pelo pouco que se sabe dela, foi uma mulher bela (alguns contestam se isso teria sido verdade, ou invenção romanceada de sua pessoa), inteligente, gentil, forte e comunicativa. Hipácia chegou a ser professora e diretora do museu, sucedendo o seu pai. Talvez a única mulher a ter conseguido isso. De seus escritos sabe-se que ela cooperou com o pai nos comentários e críticas as obras de Ptolomeu e Euclides, como também teria atualizado o catálogo de estrelas no Almagesto.
6) Física
Arquimedes de Siracusa da mesma forma que foi um notável matemático também deixou suas contribuições na física, não em teoria mais em invenções e experimentos. Até hoje não conhecemos todas as suas invenções, mas sabemos que no que refere-se a teoria, sua lei do empuxo ou Princípio de Arquimedes, descoberta essa publicada em seu livro Sobre os corpos flutuantes. O seu princípio foi representado de forma lúdica no suposto experimento para se avaliar se a coroa de ouro do rei Hierão II de Siracusa era de ouro maciço. Alguns historiadores cogitam que isso seja uma lenda, já que não consta tal fato em seu livro.
Outros físicos que tiveram destaque menor, mas de importância, foram: Estratão de Lâmpsaco (340-270 a.C) o qual foi discípulo de Aristóteles e até mesmo chegou a ser diretor do Liceu de Atenas, escola fundada por Aristóteles. Estratão é lembrado por seus trabalhos na criação de armas de cerco e no uso do ar comprimido. Chegou a ser um dos tutores de Ptolomeu III. Ctesíbio (ca. 285-222 a.C), foi um matemático, físico e inventor que conviveu com Arquimedes, Estratão, Erastótenes e outros estudiosos na Alexandria do século III a.C.
O já mencionado Herão de Alexandria se na matemática dedicou-se ao estudo da geometria, na física estudou engenharia mecânica para invenção de máquinas de guerra, como também para pesquisas sobre a criação de máquinas que pudessem utilizar outras fontes de energia como o vento, vapor, água, fogo, etc. No campo da física quatro livros seus se destacam: Pneumática, onde estudou o emprego do ar para mover máquinas e aparelhos, dentre elas sua invenção chamada eolípila, uma máquina simples formada por uma esfera com dois orifícios, presa sobre uma base na qual seria aquecida água e o vapor sairia pelos orifícios da esfera, a fazendo girar.
Embora fosse uma máquina simples, foi considerada a primeira máquina a vapor da História, onde Herão foi até então o primeiro a assinalar o uso do vapor como fonte de energia. Além dessa invenção ele concebeu outras como uma espécie de órgão formado por vários sifões conectados a um pequeno cata-vento que ao se mover, sopraria ar nos sifões, os fazendo tocar. No caso dos seus três outros livros: Belopoeica abordava invenções bélica, e por sua vez o Automatopoietica trazia invenções para instrumentos e máquinas automáticas. Por fim, pode-se citar seu livro Mecânica, de cunho mais teórico.
Por mais que Herão tenha proposto a invenção de máquinas e instrumentos automáticos, tais invenções ficaram apenas reservadas para seu interesse, pois na época não havia interesse em se projetar tais máquinas ou continuar a investir em estudos para as mesmas. O motor a vapor só seria redescoberto no século XVIII na Europa.
“A mais conhecida, aquela que o
fizera pular da banheira e correr nu pelas ruas de Siracusa gritando "eureka"
ou, em termos mais prosaicos, "consegui", está relacionada à
coroa de Hierão, que o rei suspeitava não ser de ouro puro mas feita com uma
alta proporção de prata. Solicitado a determinar se esse era o caso, Arquimedes
ficou perplexo até que, ao entrar na banheira certo dia, notou que a água
transbordava. Isso o levou a deduzir que, colocando separadamente em uma
vasilha com água a coroa e pesos iguais de prata e ouro, e depois observando
cuidadosamente o transbordamento, podia medir o excesso de volume causado pela
liga presente na coroa”. (FLOWER, 2010, p. 50).
Representação do Princípio de Arquimedes ou lei do empuxo. |
“Quanto às suas invenções, variaram
de dispositivos mecânicos para levantar pesos enormes a máquinas bélicas a
serem usadas contra os romanos que estavam sitiando Siracusa, além de um enorme
espelho que podia incendiar os navios vindos de Roma. "Deem-me um ponto de
apoio e moverei a Terra", teria ele se gabado ao rei, e construiu um
mecanismo com o qual Hierão foi capaz de mover, usando apenas uma mão, um navio
carregado. E houve também seu famoso "parafuso d'água". Embora se
tenha dito que ele foi construído para remover água do porão de um dos navios
reais, é quase certo que sua invenção date dos dias que passou em Alexandria, e
que se destinasse a ser usado na agricultura”. (FLOWER, 2010, p. 50).
“Quanto às suas invenções, variaram
de dispositivos mecânicos para levantar pesos enormes a máquinas bélicas a
serem usadas contra os romanos que estavam sitiando Siracusa, além de um enorme
espelho que podia incendiar os navios vindos de Roma. "Deem-me um ponto de
apoio e moverei a Terra", teria ele se gabado ao rei, e construiu um
mecanismo com o qual Hierão foi capaz de mover, usando apenas uma mão, um navio
carregado. E houve também seu famoso "parafuso d'água". Embora se
tenha dito que ele foi construído para remover água do porão de um dos navios
reais, é quase certo que sua invenção date dos dias que passou em Alexandria, e
que se destinasse a ser usado na agricultura”. (FLOWER, 2010, p. 50).
Desenho representando o Parafuso de Arquimedes, máquina criada para se extrair água de um ponto mais baixo para um lugar mais alto. Ainda hoje tal máquina é utilizada. |
Sobre as invenções de Arquimedes existem alguns problemas: primeiro, cogita-se com base na falta de fontes seguras se realmente todas as invenções creditadas a ele foram de sua própria concepção, ou com o passar do tempo, espalhou-se boatos de que ele teria feito isso e aquilo, logo, existe dúvidas se realmente ele inventou tudo o que se diz sobre ele. Segundo, no que se refere a suas invenções existem poucas informações sobre a descrição e funcionamento das mesmas, acredita-se que nem todas chegaram a ser fabricadas ou experimentadas, mas permaneceram como hipóteses a serem testadas. Terceiro, todavia sabe-se que no campo teórico foi de Arquimedes a explicação da lei da alavanca, algo que ele demonstrou na prática com a sua invenção do parafuso, na invenção de um novo sistema para as catapultas e até na utilização de roldanas para içar as velas nos barcos.
Representação da lei da alavanca descrita por Arquimedes. Ele não foi o descobridor dessa lei, mas foi o responsável por ter sido o primeiro a teorizá-la e explicá-la. |
“Em sua obra Sobre o Equilíbrio dos
Planos ou sobre os Centros de Gravidade dos Planos, Arquimedes elaborou seu
princípio da alavanca, ao demonstrar que um pequeno peso situado a certa distância
do ponto de apoio da alavanca pode contrabalançar um peso maior situado mais
perto do centro, sendo, assim, peso e distância inversamente proporcionais; em
outras palavras, dois pesos ficam em equilíbrio se estiverem entre si em razão
inversa de suas distâncias ao ponto de apoio. O ilustre siracusano trabalhou
com as seguintes hipóteses: i) dois pesos iguais aplicados a distâncias iguais
do ponto de apoio ficarão em equilíbrio e ii) dois pesos iguais aplicados a distâncias
desiguais do ponto de equilíbrio não se equilibram, e o peso mais afastado
descerá”. (ROSA, 2012, p. 176).
“Engenheiro e inventor, Ctesíbio é considerado como o iniciador da tradição de Engenharia de Alexandria, que atingiria seu ponto máximo com Herão. Sua fama decorre de suas invenções: i) espelho ajustável, em qualquer posição, com um contrapeso de chumbo, movido por uma corda para que o mesmo pudesse ser abaixado e levantado dentro de um tubo, expelindo ar; ii) bomba de ar com válvulas, ligada a uma série de tubos de órgão, operados por um teclado. Essas duas invenções são testemunhos de suas investigações sobre o princípio pneumático aí envolvido, muito usado hoje em dia em mecanismos como a mola para fechar portas; iii) clepsidras dotadas de um fluxo constante de água que operava toda sorte de alavancas e peças automáticas, de sinos e bonecos movediços a pássaros canoros, precursores do relógio cuco; iv) bomba hidráulica; v) catapultas (para fins bélicos) operadas por molas de bronze e por ar comprimido. Seus inventos são conhecidos pelas referências de Vitrúvio, Filon de Bizâncio e Herão”. (ROSA, 2012, p. 178).
O órgão hidráulico de Ctesíbio. |
Réplica contemporânea de uma eolípila de Herão de Alexandria. |
“Para nós, evidentemente, o mais
fascinante aspecto de sua prodigiosa produção foram as invenções pelas quais
tornou-se conhecido através dos tempos. Como a "Fonte de Herão", que
se baseava em um sistema de sifões, um novo carro de bombeiro, um órgão a água,
as primeiras máquinas dispensadoras a moeda, sem esquecer as várias engenhocas
movidas a vapor e um dos primeiros instrumentos para medir e verificar níveis”.
(FLOWER, 2010, p. 63).
Por mais que Herão tenha proposto a invenção de máquinas e instrumentos automáticos, tais invenções ficaram apenas reservadas para seu interesse, pois na época não havia interesse em se projetar tais máquinas ou continuar a investir em estudos para as mesmas. O motor a vapor só seria redescoberto no século XVIII na Europa.
Perseguições, saques e incêndios - o fim da biblioteca:
Como já foi mencionado, após o governo dos três primeiro Ptolomeu, os governantes seguintes não deram a mesma atenção ao museu e a biblioteca. Ptolomeu IV, V e VI perderam partes do império, sendo derrotados sucessivamente ao ponto que Ptolomeu VI entrou em conflito contra seu irmão que se proclamou rei Ptolomeu VII; os dois lutaram pelo poder, ao mesmo tempo, que Ptolomeu VI foi buscar apoio de Roma por essa disputa dos tronos. Quando Ptolomeu VIII Evergeta II (182-116 a.C) assumiu o trono no século II a.C, o país se encontrava em crise. As possessões estrangeiras haviam sido perdidas, acordos foram desmanchados, a influência política e econômica caiu significativamente, e para completar, o rei que acabou ficando bastante gordo, só se importava com a gula e a luxúria.
Didracma de prata com a efígie de Ptolomeu VIII. |
“Infelizmente para a cultura
alexandrina, Fiscon, "Gorducho", como ele era apelidado, cuja forma
elefantina podia ser vista frequentemente gingando pelos jardins do palácio
enrolado apenas em uma gaze transparente, adquiriu uma aversão tão selvagem e
irracional aos intelectuais gregos do Museu e da Biblioteca que vários deles
sentiram suas vidas ameaçadas e fugiram, causando uma drenagem invertida de
cérebros, quando a fama de pertencer ao mais importante centro de erudição se
desgastou ao extremo e o patrocínio real não só deixou de existir como também
se tornou fonte de perigo pessoal. Isso não significou que os homens de
ciências e letras pararam de frequentar a Biblioteca. Continuaram a fazê-lo,
mas na Biblioteca Filha existente no Serapeum, na parte egípcia da cidade, onde
se sentiam menos ameaçados pelos perversos caprichos do monarca. E, embora o
auge tivesse passado, o grande centro do conhecimento continuou a influenciar a
cultura mundial por meio de meia dúzia de homens que, apesar das dificuldades,
mantiveram ardendo à chama do pensamento alexandrino”. (FLOWER, 2010, p. 62).
Os anos que se seguem do governo de Ptolomeu IX ao de Ptolomeu XV, foram "mornos" para o desenvolvimento do museu e da biblioteca. Alguns estudiosos importantes ainda continuaram a morar em Alexandria ou virem ali para estudar, todavia, o desenvolvimento intelectual caiu drasticamente em comparação ao século III a.C, o período áureo do museu e da biblioteca.
No ano de 48 a.C ocorreu o primeiro incêndio que afetou a biblioteca. Nessa época a rainha Cleópatra VII (69-30 a.C) que era casada com seu irmão o rei Ptolomeu XIII, havia sido afastada do poder por seu marido-irmão e enviada para o exílio. Mas por ser uma mulher ambiciosa e querendo recuperar sua antiga posição, Cleópatra decidiu apoiar os romanos, neste caso, entrou em contato com o general Caio Júlio César (100-44 a.C). Na época, César estava em guerra contra Cneu Pompeu Magno (106-48 a.C), seu antigo aliado e cunhado, e neste caso, Ptolomeu XIII havia dado apoio a Pompeu, logo, para contrariar o marido, Cleópatra aliou-se a César.
Pompeu acabou sendo derrotado na Batalha de Farsália na Grécia, então fugiu para o Egito em busca de apoio do rei egípcio, todavia, Ptolomeu XIII influenciado pelos seus conselheiros decidiu rever seu apoio aos romanos, e ordenou que Pompeu fosse morto. Quando César chegou a Alexandria descobriu a traição do rei para o general romano, e acabou conhecendo Cleópatra.
“Nesse momento,
conta a lenda, Cleópatra encenou seu famoso ato do tapete e penetrou às
escondidas no palácio. Usando simplesmente seus atrativos sexuais, conseguiu
então que o velho fauno de 52 anos a recolocasse no trono. E ela devia
realmente ter muitos atrativos, pois seria muito mais simples para Júlio ter
ficado do lado do jovem Ptolomeu XIII, que era apoiado pela elite dominante
egípcia, pelo exército e pela população; em outras palavras, praticamente por
todos”. (FLOWER, 2010, p. 72).
Pintura retratando o suposto primeiro encontro entre Cleópatra e Júlio César, na qual a rainha teria se escondido num tapete, para passar despercebida pelos guardas do palácio. |
Durante os meses que passou em Alexandria, Júlio César tomou Cleópatra como amante, e conseguiu que ela e o marido fizessem as pazes, no entanto, em outubro, o vizir do rei, Pôncio, o qual nunca foi afeito aos romanos persuadiu o monarca que de os romanos tramavam algo contra ele, então foi ordenado que o palácio onde César estava hospedado fosse atacado. Ao mesmo tempo, a saída mais rápida seria de navio, mas o porto estava bastante vigiado pelos navios egípcios, então Júlio César ordenou que seus homens ateassem fogo nas embarcações, a fim de abrir caminho para a sua fuga. Se o incêndio ocasionado pelos romanos era apenas para destruir os navios alexandrinos, mas para azar de todos, as chamas se espalharam pelo porto e adentraram a cidade.
“Foi
uma brilhante manobra tática, que lhe valeu a guerra, mas um desastre para a
ciência, pois o fogo não destruiu apenas os barcos, espalhou-se pelos
estaleiros e armazéns onde estavam guardados muitos dos preciosos códices e
papiros, e de lá aparentemente se alastrou para a região do Bruquíon, com seu
Museu e Biblioteca, queimando grande parte do que constituía a herança do
grande centro cultural. Ninguém sabe exatamente quantas obras se perderam, e os
relatos são contraditórios. Sêneca fala de 40 mil, enquanto o autor latino Aulo
Gélio (130-180 d.C.) e Amânio Marcelino, historiador do século IV, falam do
assombroso número de 700 mil. Mas independentemente de quem tenha razão, foi
uma perda trágica para a cultura e marcou a primeira de uma série de
calamidades que a biblioteca alexandrina original sofreria. Felizmente a
Biblioteca Filha no Serapeum não foi atingida, tornando-se o ponto focai da
ciência da cidade”. (FLOWER, 2010, p. 73).
No ano 30 a.C, Otávio (63 a.C - 14 d.C) venceu a armada de Marco Antônio (83-30 a.C) e Cleópatra, o que levou a ambos cometerem suicídio. Otávio ainda no mesmo ano visitou Alexandria e ordenou que o rei Ptolomeu XV (o qual era filho de Cleópatra com César) fosse assassinado. Com a morte do último rei Ptolomeu, o Egito foi anexado como província romana. Anos depois sob o governo do Império Romano a cidade voltaria a prosperar por quase dois séculos, embora seus estudiosos não foram tão brilhantes como antes, mas foram nomes que se destacaram, entre os quais mencionei alguns no tópico anterior.
“Quando Otávio conquistou a cidade,
a maioria dos alexandrinos suava frio, temendo um saque em larga escala. Mas o
futuro Augusto, magnânimo, poupou-a "devido a seu grande tamanho e beleza,
porque Alexandre foi seu fundador e para agradar meu companheiro Ário". O
Ário Dídimo em questão era um filósofo alexandrino que emigrara para Roma e se
tornara o guia espiritual do jovem Otávio. Assim, a filosofia, que não tinha
sido levada muito em conta na Alexandria ptolemaica, ajudou a cidade em um
momento crucial de sua história”. (FLOWER, 2010, p. 82).
“Durante
os 250 anos seguintes, isto é, do fim do século II até o início do século V,
Alexandria se tornaria um campo de batalha de conceitos e crenças religiosas
conflitantes, e não só em termos acadêmicos. Os bons e velhos tempos de
altercações pedantes sobre o significado de uma palavra e a cadência de um
verso, ou de controvérsia cáustica sobre uma descoberta científica ou médica,
foram esquecidos quando os alexandrinos sucumbiram a uma onda de fanatismo e
tornaram-se tanto os instigadores quanto as vítimas de perseguições, violência
das massas e, em pelo menos três ocasiões, de ocupações militares, com os
inevitáveis assassinatos e pilhagens. Porém, a maioria dos protagonistas dessa
nova inclinação da cultura alexandrina eram pessoas de ideais elevados, cujo
objetivo na vida era a melhora moral do ser humano. Eram chamados
neo-platônicos, gnósticos e cristãos, e aqueles que exerceriam os efeitos mais
poderosos e duradouros sobre o pensamento, os costumes e as instituições
ocidentais eram os principais cristãos alexandrinos, conhecidos como "os
primeiros padres da Igreja"”. (FLOWER, 2010, p. 95-96).
Os filósofos neoplatônicos acabaram entrando em discordância com os cristãos gnósticos, pois embora houve-se algo os aproximava no que dizia respeito a elevação do espírito humano, a questão da alma, mas também neste ponto, isso os separava. Os neoplatônicos na maioria eram pagãos e buscavam a elevação do espírito através dos estudos, por sua vez, o gnosticismo o qual era influenciado tanto pelo cristianismo, judaísmo e outras religiões, procurava esse elevação através de revelações divinas. Por um tempo, tais posicionamentos conviveram quase em tranquilidade, mas foi a partir do século III que a situação começou a se complicar.
No século III uma onda de perseguições aos cristãos promovida pelo governo romano tornou a cidade um local perigoso de se viver. Por esse tempo o número de cristãos havia aumentado consideravelmente, o que tornou a cidade um reduto africano para o cristianismo.
“No
século III d.C., Alexandria ingressou em um período de cem anos de
perseguições, revoltas e massacres que assinalou o fim do centro de cultura
original na área do Bruquíon e a emergência da Biblioteca Filha no Serapeum
como o bastião do conhecimento na cidade. Ele começou com as perseguições de
202, nas quais o pai de Orígenes perdeu a vida, e terminou com a de 298, a pior
de todas, detonada pela política obstinada do imperador Diocleciano de
atormentar os cristãos. E no meio tempo aconteceram: uma revolta seguida de um
massacre em 215, a perseguição aos cristãos em 250, batalhas dentro das
muralhas da cidade em 265 e 273, seguidas de outra rebelião em 297”. (FLOWER,
2010, p. 110-11).
No ano de 215 o imperador romano Caracala, filho de Sétimo Severo o qual em 202 proibiu que os súditos do império se convertessem ao cristianismo, visitou a Alexandria. Caracala estava passando férias na cidade egípcia quando ocorreu uma rebelião em protesto a sua presença e ao édito feito pelo seu pai, isso irritou profundamente o imperador que ordenou que os manifestantes fossem massacrados. Não foi apenas os cristãos a serem perseguidos e mortos, os nãos cristãos também sofreram com a retaliação. Para completar, Caracala suspeitou que os intelectuais da cidade fossem os responsáveis por essa rebelião, então ordenou a suspensão dos investimentos dado ao museu e a biblioteca, e ordenou que todos os funcionários estrangeiros deixassem imediatamente a cidade. Além disso, ele suspendeu o direito moradia e alimentação dos funcionários os quais não pagavam por isso.
A cidade recuperou-se anos depois, mas como assinalado, até o final do século novas rebeliões eclodiram o que forçou os imperadores romanos a enviar tropas punitivas. Com essa insegurança gerada, os intelectuais, mercadores e outros cidadãos começaram a deixar a cidade, indo para Roma, Atenas, Pérgamo, Palmira, Antioquia, etc. Alexandria ao longo de cem anos tornou-se uma cidade conturbada e vitimada por revoltas e massacres. Esse período tumultuado só teria fim em 313 quando os imperadores romanos Constantino, o Grande e Licínio assinaram o Édito de Milão, pondo fim a perseguição as outras religiões vigentes no império. Ao mesmo tempo que isso foi feito, a cidade voltou a prosperar e no caso do cristianismo, os seus santos foram fontes de inspiração para conseguir novos devotos.
A ascensão do cristianismo em Alexandria no século IV, marcou no fim deste século e começo do seguinte um novo problema para o museu e a biblioteca, se antes os intelectuais cristãos sofreram com a perseguição, agora era a vez dos intelectuais pagãos serem os perseguidos. Em 385 o bispo de Alexandria, Teófilo (?-412) um homem fanático havia se tornado o novo bispo da cidade, sobre seu governo ocorreu um dos piores crimes contra a vida intelectual da cidade, o saque e depredação do Serapeum.
No ano de 391, o imperador romano Teodósio, o Grande decretou que o cristianismo seria a única religião tolerada no império, tornando-se a religião nacional. Ao mesmo tempo, compondo essa sua política religiosa, Teodósio decretou que os locais pagãos fossem fechados e práticas pagãs fossem abolidas. O bispo Teófilo aproveitando o decreto do imperador, reuniu tropas e uma multidão enraivecida, e partiram ainda naquele ano para invadir o Serapeum, o templo dedicado ao deus egípcio Serápis, e também local do anexo da biblioteca alexandrina.
Fotografia de um pedaço de papiro retratando o bispo São Teófilo de Alexandria, durante o ataque ao Serapeum em 391. |
“Imediatamente, Teófilo, apoiado por
tropas imperiais, levou uma multidão de cristãos exaltados ao Serapeum e
desferiu pessoalmente o primeiro golpe na estátua de Serápis. Seus seguidores
entenderam isso como um sinal para saquear e destruir tudo que estivesse ao
alcance da mão e não se limitaram ao templo. Prosseguiram com a destruição
também da Biblioteca Filha, que havia sido o cerne da sabedoria alexandrina por
uns bons quatro séculos. O que restou do templo de Serápis foi então consagrado
como uma igreja, enquanto a Biblioteca praticamente cessou de existir como
centro de estudo. Podemos apenas imaginar quantos de seus preciosos manuscritos
foram salvos, mas provavelmente um grande número dos mais importantes códices
foi ocultado em esconderijos por toda a cidade, ou levado para lugares seguros
em outras partes do Egito”. (FLOWER, 2010, p. 128).
Sabe-se que os funcionários e escravos conseguiram levar consigo parte dos rolos e livros, mas muita coisa foi deixada para trás e se perdeu, vindo a serem rasgados ou queimados. O fato da biblioteca ter sido alvo desse fanatismo religioso, se devia a questão de os fanáticos alegavam que aquele conhecimento era pagão e não era compatível com as verdades bíblicas, logo, eram heréticos.Gravura retratando o ataque ao Serapeum em 391. |
São Cirilo de Alexandria |
Para completar essas desavenças no ano de 415 uma turba revoltosa de cristãos fanáticos perseguiu Hipácia pelas ruas, a encurralando em uma igreja e a matando. Alguns relatos falam que ela foi apedrejada e depois seu corpo foi esquartejado. Não sabemos com certeza se o bispo ordenou a morte de sua professora ou foi um efeito colateral das ordens que dera. Após as revoltas cessarem, Cirilo decretou que as escolas seriam proibidas de ensinar o que se chamava de "conhecimento pagão".
“Toda
instrução estava agora centrada na Escola Catequética e se baseava inteiramente
nos ensinamentos cristãos, enquanto qualquer coisa que tivesse relação com o
Museu e as duas Bibliotecas desapareceu em um buraco negro de intolerância para
nunca mais ser mencionado”. (FLOWER, 2010, p. 130).
Nos dois séculos seguintes, Alexandria voltou a se reerguer como um centro cultura e do saber, mas agora do saber cristão e eclesiástico. O conhecimento antigo não foi totalmente abolido, alguns bispos permitiram que certos saberes considerados "não heréticos" fossem ensinados, no entanto, as escolas tiveram um caráter mais doutrinário e seminarista, e voltadas mais para o estudo da religião do que das ciências e das artes.
A história do museu e da biblioteca encerrou-se definitivamente no século VII, no ano de 642, após 14 meses de cerco a cidade, o general árabe Amr Ibn al-As (ca. 573-663) adentrou a cidade em triunfo. Todavia os historiadores hoje contestam a veracidade desse relato. Segundo foi contado pelo historiador árabe Ibn al-Quifti, autor de a História dos Sábios, dissera que pelo menos 4 mil manuscritos foram queimados, tendo sido utilizados para aquecer os banhos da cidade. Alguns relatos falam que a ordem foi dada pelo general, mas no caso de Ibn al-Quifti esse dissera que foi o califa Omar Ibn al-Khattab (ca. 586-644).
Alguns dos problemas levantados para esse relato são: primeiro, o acervo principal já havia sido destruído em 48 a.C, e nos séculos seguintes houve furtos e em 391 o anexo no Serapeum foi saqueado, e ainda durante o governo de Teófilo e Cirilo, ordenou-se o confisco e destruição de obras "pagãs", logo, dizer que quatro mil manuscritos foram encontrados e deliberadamente queimados é suspeito. Segundo, os críticos de Ibn al-Quifti assinalam que seus escritos não eram totalmente verdadeiros, havia certos falseamentos por parte do autor, além de imprecisões, algo comum na época. Terceiro, o general Amr era conhecido por ser um homem intelectual, o mesmo chegou a comprar a coleção de obras de Aristóteles, pelo qual possuía admiração, dizer que ele teria mandado queimar milhares de obras, algo vindo de um homem que admirava o saber grego, também é problemático.
"Certos
historiadores sustentam que a maioria dos livros foi destruída ou escondida
muito antes daquele ano fatídico de 642. Eles relembram os incêndios que
devastaram a Biblioteca na época da batalha naval de César em 48 a.C., os danos
e a devastação geral causada pelas sucessivas revoltas, insurreições e
perseguições durante o século III d.C., a devastação da Biblioteca Filha no
Serapeum em 391 e a destruição de obras que cheirassem a paganismo ou heresia
por bispos como Teófilo e Cirilo". (FLOWER, 2010, p. 135).
Se realmente houve a tal queima de papiros e livros, deve ter sido de material originário de outras fontes, e possivelmente até mesmo tratando-se de documentos produzidos pelos clérigos cristãos, já que o acervo originário estava destruído, e o que conseguiu-se salvar, foi levado embora.
"Entretanto, o ano de 642 assinalou o fim de uma época na história de Alexandria, e nos 1.150 anos que se seguiram, a orgulhosa e bela cidade praticamente morreu. As paredes que Alexandre Magno desenhara foram derrubadas e os palácios e parques da cidade foram abandonados depois que a sede do governo egípcio foi transferida para a nova capital às margens do Nilo, em frente a Mênfis". (FLOWER, 2010, p. 136).
A destruição dos acervos da biblioteca marcaram uma grande perda para a História, perda essa que está além de nossa imaginação, pois embora algumas obras se salvaram, não se pode calcular quantas outras milhares se perderam, dentre algumas sendo manuscritos raros e cópias únicas. Quantos saberes produtivos e reveladores poderiam ter sido salvos, e hoje poderíamos dispor de obras de poesia, geografia, história, matemática, astronomia, física, química, medicina, filosofia, etc., as quais poderiam nos levar a repensar o que sabemos.
"A glória da Biblioteca de Alexandria é agora apenas uma vaga recordação. Tudo aquilo que dela restava foi destruído logo a seguir à morte de Hipácia. Foi como se a civilização inteira tivesse efetuado uma lobotomia a si mesma, e grande parte dos seus laços com o passado, das suas descobertas, das suas ideias e das suas paixões extinguiram-se para sempre. A perda foi incalculável. Em alguns casos, apenas conhecemos os aliciantes títulos das obras então destruídas, mas, na sua maioria, não conhecemos nem os títulos nem os autores. Sabemos que das 123 peças de teatro de Sófocles existentes na biblioteca, só sete sobreviveram. Uma delas é o Édipo Rei. Os mesmos números aplicam-se às obras de Ésquilo e Eurípedes. É um pouco como se os únicos trabalhos sobreviventes de um homem chamado William Shakespeare fossem Coriolano e O Conto de Inverno, mas sabendo nós que ele escrevera outras peças, hoje desconhecidas embora aparentemente apreciadas na época, obras chamadas Hamlet, Macbeth, Júlio César, Rei Lear, Romeu e Julieta…". (SAGAN, 2001, p. 336).
NOTA: Hipácia de Alexandria foi retratada de forma romanceada no filme Ágora (Agora) de 2009. No filme também mostra a invasão ao Serapeum.
NOTA 2: Os bispos Teófilo e Cirilo foram posteriormente canonizados, sendo lembrados como grandes defensores e perpetuadores da cristandade.
NOTA 3: Entre os séculos III a.C e I a.C, o Antigo Testamento foi traduzido do hebraico para o grego, por judeus em Alexandria. Tal tradução a primeira do tipo, ficou conhecida como Septuaginta.
NOTA 4: O famoso historiador Eric Hosbbawm (1917-2012) nasceu em Alexandria, e posteriormente foi naturalizado britânico.
NOTA 5: Alexandria também foi famosa pelo seu farol, um dos maiores da Antiguidade, considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
NOTA 6: Parte da cidade antiga de Alexandria foi engolida pelo mar devido a um maremoto. De fato o palácio de Cleópatra e outras construções, se encontram hoje sob as águas do Mediterrâneo.
NOTA 7: Ao longo da História outras bibliotecas foram saqueadas, incendiadas e destruídas, a Biblioteca de Alexandria é o caso infeliz mais conhecido.
NOTA 8: Em 2002 foi inaugurado uma nova biblioteca, chamada Biblioteca Alexandrina, na tentativa de resgatar a memória de sua predecessora.
NOTA 9: Alguns relatos antigos sugerem que Alexandre, o Grande teria sido enterrado em Alexandria por ordem de Ptolomeu I, contudo, não há provas concretas que confirme isso. Muitos historiadores e arqueólogos assinalam que o suposto túmulo do imperador fosse um cenotáfio, um túmulo simbólico, mas não o local de conservação do corpo.
Referências bibliográficas:
CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo, Moderna, 1994. (Capítulo 3).
FLOWER, Derek Adie. A Biblioteca de Alexandria: as histórias da maior biblioteca da Antiguidade. Tradução de Otacílio Nunes e Valter Ponte. São Paulo, Nova Alexandria, 2010.
RIAD, H. O Egito na época helenística. In: MOKHTAR, Gamal (editor). História geral da África, II: África Antiga. 2a ed, Brasília, UNESCO, 2010.
ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da Ciência: da Antiguidade ao Renascimento Científico. 2a ed, Brasília, FUNAG, 2012.
SAGAN, Carl. Biblioteca de Alexandria. In: Cosmos. Lisboa, Gradiva, 2001.
Um comentário:
Excelente artigo. Muito bem embasado. Ótimas referências e o fluidez dos temas transcorre suave e pausada. Parabéns pelo árduo trabalho de pesquisa e pelo elaborado texto narrativo.
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